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CÓD: SL-101JH-22

7908433222811

PM-ES
POLÍCIA MILITAR DO ESPÍRITO SANTO

Soldado Combatente (QPMP-C)


EDITAL Nº 01/2022 – CFSD/2022, DE 07 DE JUNHO DE 2022
DICA

Como passar em um concurso público?


Todos nós sabemos que é um grande desafio ser aprovado em concurso público, dessa maneira é muito importante o concurseiro
estar focado e determinado em seus estudos e na sua preparação.
É verdade que não existe uma fórmula mágica ou uma regra de como estudar para concursos públicos, é importante cada pessoa
encontrar a melhor maneira para estar otimizando sua preparação.
Algumas dicas podem sempre ajudar a elevar o nível dos estudos, criando uma motivação para estudar. Pensando nisso, a Solução
preparou este artigo com algumas dicas que irão fazer toda a diferença na sua preparação.

Então mãos à obra!

• Esteja focado em seu objetivo: É de extrema importância você estar focado em seu objetivo: a aprovação no concurso. Você vai ter
que colocar em sua mente que sua prioridade é dedicar-se para a realização de seu sonho.
• Não saia atirando para todos os lados: Procure dar atenção a um concurso de cada vez, a dificuldade é muito maior quando você
tenta focar em vários certames, pois as matérias das diversas áreas são diferentes. Desta forma, é importante que você defina uma
área e especializando-se nela. Se for possível realize todos os concursos que saírem que englobe a mesma área.
• Defina um local, dias e horários para estudar: Uma maneira de organizar seus estudos é transformando isso em um hábito,
determinado um local, os horários e dias específicos para estudar cada disciplina que irá compor o concurso. O local de estudo não
pode ter uma distração com interrupções constantes, é preciso ter concentração total.
• Organização: Como dissemos anteriormente, é preciso evitar qualquer distração, suas horas de estudos são inegociáveis. É
praticamente impossível passar em um concurso público se você não for uma pessoa organizada, é importante ter uma planilha
contendo sua rotina diária de atividades definindo o melhor horário de estudo.
• Método de estudo: Um grande aliado para facilitar seus estudos, são os resumos. Isso irá te ajudar na hora da revisão sobre o assunto
estudado. É fundamental que você inicie seus estudos antes mesmo de sair o edital, buscando editais de concursos anteriores. Busque
refazer a provas dos concursos anteriores, isso irá te ajudar na preparação.
• Invista nos materiais: É essencial que você tenha um bom material voltado para concursos públicos, completo e atualizado. Esses
materiais devem trazer toda a teoria do edital de uma forma didática e esquematizada, contendo exercícios para praticar. Quanto mais
exercícios você realizar, melhor será sua preparação para realizar a prova do certame.
• Cuide de sua preparação: Não são só os estudos que são importantes na sua preparação, evite perder sono, isso te deixará com uma
menor energia e um cérebro cansado. É preciso que você tenha uma boa noite de sono. Outro fator importante na sua preparação, é
tirar ao menos 1 (um) dia na semana para descanso e lazer, renovando as energias e evitando o estresse.

Se prepare para o concurso público


O concurseiro preparado não é aquele que passa o dia todo estudando, mas está com a cabeça nas nuvens, e sim aquele que se
planeja pesquisando sobre o concurso de interesse, conferindo editais e provas anteriores, participando de grupos com enquetes sobre
seu interesse, conversando com pessoas que já foram aprovadas, absorvendo dicas e experiências, e analisando a banca examinadora do
certame.
O Plano de Estudos é essencial na otimização dos estudos, ele deve ser simples, com fácil compreensão e personalizado com sua
rotina, vai ser seu triunfo para aprovação, sendo responsável pelo seu crescimento contínuo.
Além do plano de estudos, é importante ter um Plano de Revisão, ele que irá te ajudar na memorização dos conteúdos estudados até
o dia da prova, evitando a correria para fazer uma revisão de última hora.
Está em dúvida por qual matéria começar a estudar? Vai mais uma dica: comece por Língua Portuguesa, é a matéria com maior
requisição nos concursos, a base para uma boa interpretação, indo bem aqui você estará com um passo dado para ir melhor nas outras
disciplinas.

Vida Social
Sabemos que faz parte algumas abdicações na vida de quem estuda para concursos públicos, mas sempre que possível é importante
conciliar os estudos com os momentos de lazer e bem-estar. A vida de concurseiro é temporária, quem determina o tempo é você,
através da sua dedicação e empenho. Você terá que fazer um esforço para deixar de lado um pouco a vida social intensa, é importante
compreender que quando for aprovado verá que todo o esforço valeu a pena para realização do seu sonho.
Uma boa dica, é fazer exercícios físicos, uma simples corrida por exemplo é capaz de melhorar o funcionamento do Sistema Nervoso
Central, um dos fatores que são chaves para produção de neurônios nas regiões associadas à aprendizagem e memória.
DICA

Motivação
A motivação é a chave do sucesso na vida dos concurseiros. Compreendemos que nem sempre é fácil, e às vezes bate aquele desânimo
com vários fatores ao nosso redor. Porém tenha garra ao focar na sua aprovação no concurso público dos seus sonhos.
Caso você não seja aprovado de primeira, é primordial que você PERSISTA, com o tempo você irá adquirir conhecimento e experiência.
Então é preciso se motivar diariamente para seguir a busca da aprovação, algumas orientações importantes para conseguir motivação:
• Procure ler frases motivacionais, são ótimas para lembrar dos seus propósitos;
• Leia sempre os depoimentos dos candidatos aprovados nos concursos públicos;
• Procure estar sempre entrando em contato com os aprovados;
• Escreva o porquê que você deseja ser aprovado no concurso. Quando você sabe seus motivos, isso te da um ânimo maior para seguir
focado, tornando o processo mais prazeroso;
• Saiba o que realmente te impulsiona, o que te motiva. Dessa maneira será mais fácil vencer as adversidades que irão aparecer.
• Procure imaginar você exercendo a função da vaga pleiteada, sentir a emoção da aprovação e ver as pessoas que você gosta felizes
com seu sucesso.

Como dissemos no começo, não existe uma fórmula mágica, um método infalível. O que realmente existe é a sua garra, sua dedicação
e motivação para realizar o seu grande sonho de ser aprovado no concurso público. Acredite em você e no seu potencial.
A Solução tem ajudado, há mais de 36 anos, quem quer vencer a batalha do concurso público. Se você quer aumentar as suas chances
de passar, conheça os nossos materiais, acessando o nosso site: www.apostilasolucao.com.br

Vamos juntos!
ÍNDICE

Língua Portuguesa
1. Compreensão, Interpretação E Inferências De Textos. Tipologia E Gêneros Textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
2. Variação Linguística . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
3. O Processo De Comunicação E As Funções Da Linguagem . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
4. Relações Semântico-Lexicais, Como Metáfora, Metonímia, Antonímia, Sinonímia, Hiperonímia, Hiponímia, Reiteração, Comparação,
Redundância E Outras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
5. Norma Ortográfica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26
6. Morfossintaxe Das Classes De Palavras: Substantivo, Adjetivo, Artigo, Pronome, Advérbio, Preposição, Conjunção, Interjeição, Nu-
merais E Os Seus Respectivos Empregos. Verbo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
7. Concordância Verbal E Nominal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
8. Regência Nominal E Verbal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
9. Coesão E Coerência Textuais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
10. Sintaxe: Relações Sintático-Semânticas Estabelecidas Entre Orações, Períodos Ou Parágrafos (Período Simples E Período Composto Por
Coordenação E Subordinação) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
11. Pontuação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
12. Funções Do “Que” E Do “Se” . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
13. Fonética E Fonologia: Som E Fonema, Encontros Vocálicos E Consonantais E Dígrafos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
14. Formação De Palavras . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
15. Uso Da Crase . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

Raciocínio Lógico E Matemático


1. Estruturas Lógicas. Lógica De Argumentação.diagramas Lógicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2. Teoria De Conjuntos: Conjuntos Numéricos, Números Naturais, Inteiros, Racionais E Reais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3. Relações, Equações De 1º E 2º Graus, Sistemas. 6. Inequações Do 1º E Do 2º Grau. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
4. Funções Do 1º Grau E Do 2º Grau E Sua Representação Gráfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5. Matrizes E Determinantes. Sistemas Lineares. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
6. Análise Combinatória. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
7. Geometria Espacial. Geometria De Sólidos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

Geografia Geral, Brasil E Do Espírito Santo


1. A relação entre movimentos da Terra e a organização do espaço geográfico..Continentes e oceanos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
2. As paisagens mundiais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3. A dinâmica da Litosfera. Relevo terrestre. Minerais e rochas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4. Solos: práticas de manejo e conservação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
5. Regiões brasileiras, marcas do Brasil em todos os cantos. A dinâmica relação entre os componentes das regiões. Critérios de delimi-
tação de regiões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 110
6. Regiões do Espírito Santo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
7. Regiões mundiais: geopolíticas, econômicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
8. Biomas e domínios morfoclimáticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
9. A dinâmica da atmosfera: elementos e fatores, classificação e tipos de clima. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
10. Fenômenos da natureza: alterações antrópicas e implicações em sua dinâmica global-local e local-global. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
11. A dinâmica da hidrosfera: água no planeta. Bacias hidrográficas, rios, lagos. Águas oceânicas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 130

História Do Brasil E Do Espírito Santo


1. A sociedade colonial: economia, cultura, trabalho escravo, os bandeirantes e os jesuítas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 141
2. A independência e o nascimento do Estado brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146
3. A organização do Estado monárquico. A vida intelectual, política e artística no século XIX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
4. A organização política e econômica do Estado republicano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5. A Primeira Guerra Mundial e seus efeitos no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
6. A revolução de 1930. 8. O Período Vargas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
7. A Segunda Guerra Mundial e os seus efeitos no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167
8. Os governos democráticos, os governos militares e a Nova República. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 171
9. A cultura do Brasil Republicano: arte e literatura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
10. História do Estado do Espírito Santo: colonização, povoamento, sociedade e indústrias. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 181
LÍNGUA PORTUGUESA

• Linguagem não-verbal é aquela que utiliza somente imagens,


COMPREENSÃO, INTERPRETAÇÃO E INFERÊNCIAS DE fotos, gestos... não há presença de nenhuma palavra.
TEXTOS. TIPOLOGIA E GÊNEROS TEXTUAIS

Compreensão e interpretação de textos


Chegamos, agora, em um ponto muito importante para todo o
seu estudo: a interpretação de textos. Desenvolver essa habilidade
é essencial e pode ser um diferencial para a realização de uma boa
prova de qualquer área do conhecimento.
Mas você sabe a diferença entre compreensão e interpretação?
A compreensão é quando você entende o que o texto diz de
forma explícita, aquilo que está na superfície do texto.
Quando Jorge fumava, ele era infeliz.
Por meio dessa frase, podemos entender que houve um tempo
que Jorge era infeliz, devido ao cigarro.
A interpretação é quando você entende o que está implícito,
nas entrelinhas, aquilo que está de modo mais profundo no texto
ou que faça com que você realize inferências. • Linguagem Mista (ou híbrida) é aquele que utiliza tanto as
Quando Jorge fumava, ele era infeliz. palavras quanto as imagens. Ou seja, é a junção da linguagem
Já compreendemos que Jorge era infeliz quando fumava, mas verbal com a não-verbal.
podemos interpretar que Jorge parou de fumar e que agora é feliz.
Percebeu a diferença?

Tipos de Linguagem
Existem três tipos de linguagem que precisamos saber para que
facilite a interpretação de textos.
• Linguagem Verbal é aquela que utiliza somente palavras. Ela
pode ser escrita ou oral.

Além de saber desses conceitos, é importante sabermos


identificar quando um texto é baseado em outro. O nome que
damos a este processo é intertextualidade.

Interpretação de Texto
Interpretar um texto quer dizer dar sentido, inferir, chegar
a uma conclusão do que se lê. A interpretação é muito ligada ao
subentendido. Sendo assim, ela trabalha com o que se pode deduzir
de um texto.
A interpretação implica a mobilização dos conhecimentos
prévios que cada pessoa possui antes da leitura de um determinado
texto, pressupõe que a aquisição do novo conteúdo lido estabeleça
uma relação com a informação já possuída, o que leva ao
crescimento do conhecimento do leitor, e espera que haja uma
apreciação pessoal e crítica sobre a análise do novo conteúdo lido,
afetando de alguma forma o leitor.

7
LÍNGUA PORTUGUESA
Sendo assim, podemos dizer que existem diferentes tipos de IDENTIFICANDO O TEMA DE UM TEXTO
leitura: uma leitura prévia, uma leitura seletiva, uma leitura analítica O tema é a ideia principal do texto. É com base nessa ideia
e, por fim, uma leitura interpretativa. principal que o texto será desenvolvido. Para que você consiga
identificar o tema de um texto, é necessário relacionar as diferen-
É muito importante que você: tes informações de forma a construir o seu sentido global, ou seja,
- Assista os mais diferenciados jornais sobre a sua cidade, você precisa relacionar as múltiplas partes que compõem um todo
estado, país e mundo; significativo, que é o texto.
- Se possível, procure por jornais escritos para saber de notícias Em muitas situações, por exemplo, você foi estimulado a ler um
(e também da estrutura das palavras para dar opiniões); texto por sentir-se atraído pela temática resumida no título. Pois o
- Leia livros sobre diversos temas para sugar informações título cumpre uma função importante: antecipar informações sobre
ortográficas, gramaticais e interpretativas; o assunto que será tratado no texto.
- Procure estar sempre informado sobre os assuntos mais Em outras situações, você pode ter abandonado a leitura por-
polêmicos; que achou o título pouco atraente ou, ao contrário, sentiu-se atraí-
- Procure debater ou conversar com diversas pessoas sobre do pelo título de um livro ou de um filme, por exemplo. É muito
qualquer tema para presenciar opiniões diversas das suas. comum as pessoas se interessarem por temáticas diferentes, de-
pendendo do sexo, da idade, escolaridade, profissão, preferências
Dicas para interpretar um texto: pessoais e experiência de mundo, entre outros fatores.
– Leia lentamente o texto todo. Mas, sobre que tema você gosta de ler? Esportes, namoro, se-
No primeiro contato com o texto, o mais importante é tentar xualidade, tecnologia, ciências, jogos, novelas, moda, cuidados com
compreender o sentido global do texto e identificar o seu objetivo. o corpo? Perceba, portanto, que as temáticas são praticamente in-
finitas e saber reconhecer o tema de um texto é condição essen-
– Releia o texto quantas vezes forem necessárias. cial para se tornar um leitor hábil. Vamos, então, começar nossos
Assim, será mais fácil identificar as ideias principais de cada estudos?
parágrafo e compreender o desenvolvimento do texto. Propomos, inicialmente, que você acompanhe um exercício
bem simples, que, intuitivamente, todo leitor faz ao ler um texto:
– Sublinhe as ideias mais importantes. reconhecer o seu tema. Vamos ler o texto a seguir?
Sublinhar apenas quando já se tiver uma boa noção da ideia
principal e das ideias secundárias do texto. CACHORROS
– Separe fatos de opiniões. Os zoólogos acreditam que o cachorro se originou de uma
O leitor precisa separar o que é um fato (verdadeiro, objetivo espécie de lobo que vivia na Ásia. Depois os cães se juntaram aos
e comprovável) do que é uma opinião (pessoal, tendenciosa e seres humanos e se espalharam por quase todo o mundo. Essa ami-
mutável). zade começou há uns 12 mil anos, no tempo em que as pessoas
– Retorne ao texto sempre que necessário. precisavam caçar para se alimentar. Os cachorros perceberam que,
Além disso, é importante entender com cuidado e atenção os se não atacassem os humanos, podiam ficar perto deles e comer a
enunciados das questões. comida que sobrava. Já os homens descobriram que os cachorros
podiam ajudar a caçar, a cuidar de rebanhos e a tomar conta da
– Reescreva o conteúdo lido. casa, além de serem ótimos companheiros. Um colaborava com o
Para uma melhor compreensão, podem ser feitos resumos, outro e a parceria deu certo.
tópicos ou esquemas.
Ao ler apenas o título “Cachorros”, você deduziu sobre o pos-
Além dessas dicas importantes, você também pode grifar sível assunto abordado no texto. Embora você imagine que o tex-
palavras novas, e procurar seu significado para aumentar seu to vai falar sobre cães, você ainda não sabia exatamente o que ele
vocabulário, fazer atividades como caça-palavras, ou cruzadinhas falaria sobre cães. Repare que temos várias informações ao longo
são uma distração, mas também um aprendizado. do texto: a hipótese dos zoólogos sobre a origem dos cães, a asso-
Não se esqueça, além da prática da leitura aprimorar a ciação entre eles e os seres humanos, a disseminação dos cães pelo
compreensão do texto e ajudar a aprovação, ela também estimula mundo, as vantagens da convivência entre cães e homens.
nossa imaginação, distrai, relaxa, informa, educa, atualiza, melhora As informações que se relacionam com o tema chamamos de
nosso foco, cria perspectivas, nos torna reflexivos, pensantes, além subtemas (ou ideias secundárias). Essas informações se integram,
de melhorar nossa habilidade de fala, de escrita e de memória. ou seja, todas elas caminham no sentido de estabelecer uma unida-
Um texto para ser compreendido deve apresentar ideias de de sentido. Portanto, pense: sobre o que exatamente esse texto
seletas e organizadas, através dos parágrafos que é composto pela fala? Qual seu assunto, qual seu tema? Certamente você chegou à
ideia central, argumentação e/ou desenvolvimento e a conclusão conclusão de que o texto fala sobre a relação entre homens e cães.
do texto. Se foi isso que você pensou, parabéns! Isso significa que você foi
O primeiro objetivo de uma interpretação de um texto é capaz de identificar o tema do texto!
a identificação de sua ideia principal. A partir daí, localizam-se
as ideias secundárias, ou fundamentações, as argumentações, Fonte: https://portuguesrapido.com/tema-ideia-central-e-ideias-se-
ou explicações, que levem ao esclarecimento das questões cundarias/
apresentadas na prova.
Compreendido tudo isso, interpretar significa extrair um IDENTIFICAÇÃO DE EFEITOS DE IRONIA OU HUMOR EM
significado. Ou seja, a ideia está lá, às vezes escondida, e por isso TEXTOS VARIADOS
o candidato só precisa entendê-la – e não a complementar com Ironia
algum valor individual. Portanto, apegue-se tão somente ao texto, e Ironia é o recurso pelo qual o emissor diz o contrário do que
nunca extrapole a visão dele. está pensando ou sentindo (ou por pudor em relação a si próprio ou
com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem).

8
LÍNGUA PORTUGUESA
A ironia consiste na utilização de determinada palavra ou ex- Exemplo: Em livros com narrador onisciente, que sabe tudo o
pressão que, em um outro contexto diferente do usual, ganha um que se passa na história com todas as personagens, é mais fácil apa-
novo sentido, gerando um efeito de humor. recer esse tipo de ironia. A peça como Romeu e Julieta, por exem-
Exemplo: plo, se inicia com a fala que relata que os protagonistas da história
irão morrer em decorrência do seu amor. As personagens agem ao
longo da peça esperando conseguir atingir seus objetivos, mas a
plateia já sabe que eles não serão bem-sucedidos.

Humor
Nesse caso, é muito comum a utilização de situações que pare-
çam cômicas ou surpreendentes para provocar o efeito de humor.
Situações cômicas ou potencialmente humorísticas comparti-
lham da característica do efeito surpresa. O humor reside em ocor-
rer algo fora do esperado numa situação.
Há diversas situações em que o humor pode aparecer. Há as ti-
rinhas e charges, que aliam texto e imagem para criar efeito cômico;
há anedotas ou pequenos contos; e há as crônicas, frequentemente
acessadas como forma de gerar o riso.
Os textos com finalidade humorística podem ser divididos em
quatro categorias: anedotas, cartuns, tiras e charges.

Exemplo:

Na construção de um texto, ela pode aparecer em três mo-


dos: ironia verbal, ironia de situação e ironia dramática (ou satírica).

Ironia verbal
Ocorre quando se diz algo pretendendo expressar outro sig- ANÁLISE E A INTERPRETAÇÃO DO TEXTO SEGUNDO O GÊ-
nificado, normalmente oposto ao sentido literal. A expressão e a NERO EM QUE SE INSCREVE
intenção são diferentes. Compreender um texto trata da análise e decodificação do que
Exemplo: Você foi tão bem na prova! Tirou um zero incrível! de fato está escrito, seja das frases ou das ideias presentes. Inter-
pretar um texto, está ligado às conclusões que se pode chegar ao
Ironia de situação conectar as ideias do texto com a realidade. Interpretação trabalha
A intenção e resultado da ação não estão alinhados, ou seja, o com a subjetividade, com o que se entendeu sobre o texto.
resultado é contrário ao que se espera ou que se planeja. Interpretar um texto permite a compreensão de todo e qual-
Exemplo: Quando num texto literário uma personagem planeja quer texto ou discurso e se amplia no entendimento da sua ideia
uma ação, mas os resultados não saem como o esperado. No li- principal. Compreender relações semânticas é uma competência
vro “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, de Machado de Assis, a imprescindível no mercado de trabalho e nos estudos.
personagem título tem obsessão por ficar conhecida. Ao longo da Quando não se sabe interpretar corretamente um texto pode-
vida, tenta de muitas maneiras alcançar a notoriedade sem suces- -se criar vários problemas, afetando não só o desenvolvimento pro-
so. Após a morte, a personagem se torna conhecida. A ironia é que fissional, mas também o desenvolvimento pessoal.
planejou ficar famoso antes de morrer e se tornou famoso após a
morte. Busca de sentidos
Ironia dramática (ou satírica) Para a busca de sentidos do texto, pode-se retirar do mesmo
A ironia dramática é um efeito de sentido que ocorre nos textos os tópicos frasais presentes em cada parágrafo. Isso auxiliará na
literários quando o leitor, a audiência, tem mais informações do que apreensão do conteúdo exposto.
tem um personagem sobre os eventos da narrativa e sobre inten- Isso porque é ali que se fazem necessários, estabelecem uma
ções de outros personagens. É um recurso usado para aprofundar relação hierárquica do pensamento defendido, retomando ideias já
os significados ocultos em diálogos e ações e que, quando captado citadas ou apresentando novos conceitos.
pelo leitor, gera um clima de suspense, tragédia ou mesmo comé- Por fim, concentre-se nas ideias que realmente foram explici-
dia, visto que um personagem é posto em situações que geram con- tadas pelo autor. Textos argumentativos não costumam conceder
flitos e mal-entendidos porque ele mesmo não tem ciência do todo espaço para divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas
da narrativa. entrelinhas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Deve-se ater às ideias do autor, o que não quer dizer que o leitor Poesia: apresenta um trabalho voltado para o estudo da lin-
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que guagem, fazendo-o de maneira particular, refletindo o momento,
não sejam criadas suposições vagas e inespecíficas. a vida dos homens através de figuras que possibilitam a criação de
imagens.
Importância da interpretação
A prática da leitura, seja por prazer, para estudar ou para se Editorial: texto dissertativo argumentativo onde expressa a
informar, aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e a inter- opinião do editor através de argumentos e fatos sobre um assunto
pretação. A leitura, além de favorecer o aprendizado de conteúdos que está sendo muito comentado (polêmico). Sua intenção é con-
específicos, aprimora a escrita. vencer o leitor a concordar com ele.
Uma interpretação de texto assertiva depende de inúmeros fa-
tores. Muitas vezes, apressados, descuidamo-nos dos detalhes pre- Entrevista: texto expositivo e é marcado pela conversa de um
sentes em um texto, achamos que apenas uma leitura já se faz sufi- entrevistador e um entrevistado para a obtenção de informações.
ciente. Interpretar exige paciência e, por isso, sempre releia o texto, Tem como principal característica transmitir a opinião de pessoas
pois a segunda leitura pode apresentar aspectos surpreendentes de destaque sobre algum assunto de interesse.
que não foram observados previamente. Para auxiliar na busca de
sentidos do texto, pode-se também retirar dele os tópicos frasais Cantiga de roda: gênero empírico, que na escola se materiali-
presentes em cada parágrafo, isso certamente auxiliará na apreen- za em uma concretude da realidade. A cantiga de roda permite as
são do conteúdo exposto. Lembre-se de que os parágrafos não es- crianças terem mais sentido em relação a leitura e escrita, ajudando
tão organizados, pelo menos em um bom texto, de maneira aleató- os professores a identificar o nível de alfabetização delas.
ria, se estão no lugar que estão, é porque ali se fazem necessários,
estabelecendo uma relação hierárquica do pensamento defendido,
retomando ideias já citadas ou apresentando novos conceitos. Receita: texto instrucional e injuntivo que tem como objetivo
Concentre-se nas ideias que de fato foram explicitadas pelo au- de informar, aconselhar, ou seja, recomendam dando uma certa li-
tor: os textos argumentativos não costumam conceder espaço para berdade para quem recebe a informação.
divagações ou hipóteses, supostamente contidas nas entrelinhas.
Devemos nos ater às ideias do autor, isso não quer dizer que você DISTINÇÃO DE FATO E OPINIÃO SOBRE ESSE FATO
precise ficar preso na superfície do texto, mas é fundamental que Fato
não criemos, à revelia do autor, suposições vagas e inespecíficas. O fato é algo que aconteceu ou está acontecendo. A existência
Ler com atenção é um exercício que deve ser praticado à exaustão, do fato pode ser constatada de modo indiscutível. O fato pode é
assim como uma técnica, que fará de nós leitores proficientes. uma coisa que aconteceu e pode ser comprovado de alguma manei-
ra, através de algum documento, números, vídeo ou registro.
Diferença entre compreensão e interpretação Exemplo de fato:
A compreensão de um texto é fazer uma análise objetiva do A mãe foi viajar.
texto e verificar o que realmente está escrito nele. Já a interpreta-
ção imagina o que as ideias do texto têm a ver com a realidade. O Interpretação
leitor tira conclusões subjetivas do texto. É o ato de dar sentido ao fato, de entendê-lo. Interpretamos
quando relacionamos fatos, os comparamos, buscamos suas cau-
Gêneros Discursivos sas, previmos suas consequências.
Romance: descrição longa de ações e sentimentos de perso- Entre o fato e sua interpretação há uma relação lógica: se apon-
nagens fictícios, podendo ser de comparação com a realidade ou tamos uma causa ou consequência, é necessário que seja plausível.
totalmente irreal. A diferença principal entre um romance e uma Se comparamos fatos, é preciso que suas semelhanças ou diferen-
novela é a extensão do texto, ou seja, o romance é mais longo. No ças sejam detectáveis.
romance nós temos uma história central e várias histórias secun-
dárias. Exemplos de interpretação:
A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
tro país.
Conto: obra de ficção onde é criado seres e locais totalmente
A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
imaginário. Com linguagem linear e curta, envolve poucas perso-
do que com a filha.
nagens, que geralmente se movimentam em torno de uma única
ação, dada em um só espaço, eixo temático e conflito. Suas ações
Opinião
encaminham-se diretamente para um desfecho.
A opinião é a avaliação que se faz de um fato considerando um
juízo de valor. É um julgamento que tem como base a interpretação
Novela: muito parecida com o conto e o romance, diferencia- que fazemos do fato.
do por sua extensão. Ela fica entre o conto e o romance, e tem a Nossas opiniões costumam ser avaliadas pelo grau de coerên-
história principal, mas também tem várias histórias secundárias. O cia que mantêm com a interpretação do fato. É uma interpretação
tempo na novela é baseada no calendário. O tempo e local são de- do fato, ou seja, um modo particular de olhar o fato. Esta opinião
finidos pelas histórias dos personagens. A história (enredo) tem um pode alterar de pessoa para pessoa devido a fatores socioculturais.
ritmo mais acelerado do que a do romance por ter um texto mais
curto. Exemplos de opiniões que podem decorrer das interpretações
anteriores:
Crônica: texto que narra o cotidiano das pessoas, situações que A mãe foi viajar porque considerou importante estudar em ou-
nós mesmos já vivemos e normalmente é utilizado a ironia para tro país. Ela tomou uma decisão acertada.
mostrar um outro lado da mesma história. Na crônica o tempo não
é relevante e quando é citado, geralmente são pequenos intervalos A mãe foi viajar porque se preocupava mais com sua profissão
como horas ou mesmo minutos. do que com a filha. Ela foi egoísta.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Muitas vezes, a interpretação já traz implícita uma opinião. Sem os conectores (pronomes relativos, conjunções, advér-
Por exemplo, quando se mencionam com ênfase consequên- bios, preposições, palavras denotativas) as ideias não fluem, muitas
cias negativas que podem advir de um fato, se enaltecem previsões vezes o pensamento não se completa, e o texto torna-se obscuro,
positivas ou se faz um comentário irônico na interpretação, já esta- sem coerência.
mos expressando nosso julgamento. Esta estrutura é uma das mais utilizadas em textos argumenta-
É muito importante saber a diferença entre o fato e opinião, tivos, e por conta disso é mais fácil para os leitores.
principalmente quando debatemos um tema polêmico ou quando Existem diversas formas de se estruturar cada etapa dessa es-
analisamos um texto dissertativo. trutura de texto, entretanto, apenas segui-la já leva ao pensamento
mais direto.
Exemplo:
A mãe viajou e deixou a filha só. Nem deve estar se importando NÍVEIS DE LINGUAGEM
com o sofrimento da filha. Definição de linguagem
Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
ESTRUTURAÇÃO DO TEXTO E DOS PARÁGRAFOS ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráficos,
Uma boa redação é dividida em ideias relacionadas entre si gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia dependendo
ajustadas a uma ideia central que norteia todo o pensamento do da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira de arti-
texto. Um dos maiores problemas nas redações é estruturar as cular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina nossa
ideias para fazer com que o leitor entenda o que foi dito no texto. linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
Fazer uma estrutura no texto para poder guiar o seu pensamento As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam, com
e o do leitor. o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que só as
incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o grupo
Parágrafo social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam na língua
O parágrafo organizado em torno de uma ideia-núcleo, que é e caem em desuso.
desenvolvida por ideias secundárias. O parágrafo pode ser forma- Língua escrita e língua falada
do por uma ou mais frases, sendo seu tamanho variável. No texto A língua escrita não é a simples reprodução gráfica da língua
dissertativo-argumentativo, os parágrafos devem estar todos rela- falada, por que os sinais gráficos não conseguem registrar grande
cionados com a tese ou ideia principal do texto, geralmente apre- parte dos elementos da fala, como o timbre da voz, a entonação, e
sentada na introdução. ainda os gestos e a expressão facial. Na realidade a língua falada é
mais descontraída, espontânea e informal, porque se manifesta na
Embora existam diferentes formas de organização de parágra- conversação diária, na sensibilidade e na liberdade de expressão
fos, os textos dissertativo-argumentativos e alguns gêneros jornalís- do falante. Nessas situações informais, muitas regras determinadas
ticos apresentam uma estrutura-padrão. Essa estrutura consiste em pela língua padrão são quebradas em nome da naturalidade, da li-
três partes: a ideia-núcleo, as ideias secundárias (que desenvolvem berdade de expressão e da sensibilidade estilística do falante.
a ideia-núcleo) e a conclusão (que reafirma a ideia-básica). Em pa-
rágrafos curtos, é raro haver conclusão. Linguagem popular e linguagem culta
Podem valer-se tanto da linguagem popular quanto da lingua-
Introdução: faz uma rápida apresentação do assunto e já traz gem culta. Obviamente a linguagem popular é mais usada na fala,
uma ideia da sua posição no texto, é normalmente aqui que você nas expressões orais cotidianas. Porém, nada impede que ela esteja
irá identificar qual o problema do texto, o porque ele está sendo presente em poesias (o Movimento Modernista Brasileiro procurou
escrito. Normalmente o tema e o problema são dados pela própria valorizar a linguagem popular), contos, crônicas e romances em que
prova. o diálogo é usado para representar a língua falada.

Desenvolvimento: elabora melhor o tema com argumentos e Linguagem Popular ou Coloquial


ideias que apoiem o seu posicionamento sobre o assunto. É possí- Usada espontânea e fluentemente pelo povo. Mostra-se quase
vel usar argumentos de várias formas, desde dados estatísticos até sempre rebelde à norma gramatical e é carregada de vícios de lin-
citações de pessoas que tenham autoridade no assunto. guagem (solecismo – erros de regência e concordância; barbarismo
– erros de pronúncia, grafia e flexão; ambiguidade; cacofonia; pleo-
Conclusão: faz uma retomada breve de tudo que foi abordado nasmo), expressões vulgares, gírias e preferência pela coordenação,
e conclui o texto. Esta última parte pode ser feita de várias maneiras que ressalta o caráter oral e popular da língua. A linguagem popular
diferentes, é possível deixar o assunto ainda aberto criando uma está presente nas conversas familiares ou entre amigos, anedotas,
pergunta reflexiva, ou concluir o assunto com as suas próprias con- irradiação de esportes, programas de TV e auditório, novelas, na
clusões a partir das ideias e argumentos do desenvolvimento. expressão dos esta dos emocionais etc.

Outro aspecto que merece especial atenção são os conecto- A Linguagem Culta ou Padrão
res. São responsáveis pela coesão do texto e tornam a leitura mais É a ensinada nas escolas e serve de veículo às ciências em que
fluente, visando estabelecer um encadeamento lógico entre as se apresenta com terminologia especial. É usada pelas pessoas ins-
ideias e servem de ligação entre o parágrafo, ou no interior do pe- truídas das diferentes classes sociais e caracteriza-se pela obediên-
ríodo, e o tópico que o antecede. cia às normas gramaticais. Mais comumente usada na linguagem
Saber usá-los com precisão, tanto no interior da frase, quanto escrita e literária, reflete prestígio social e cultural. É mais artificial,
ao passar de um enunciado para outro, é uma exigência também mais estável, menos sujeita a variações. Está presente nas aulas,
para a clareza do texto. conferências, sermões, discursos políticos, comunicações científi-
cas, noticiários de TV, programas culturais etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Gíria Exemplo:
A gíria relaciona-se ao cotidiano de certos grupos sociais como Era uma casa muito engraçada
arma de defesa contra as classes dominantes. Esses grupos utilizam Não tinha teto, não tinha nada
a gíria como meio de expressão do cotidiano, para que as mensa- Ninguém podia entrar nela, não
gens sejam decodificadas apenas por eles mesmos. Porque na casa não tinha chão
Assim a gíria é criada por determinados grupos que divulgam Ninguém podia dormir na rede
o palavreado para outros grupos até chegar à mídia. Os meios de Porque na casa não tinha parede
comunicação de massa, como a televisão e o rádio, propagam os Ninguém podia fazer pipi
novos vocábulos, às vezes, também inventam alguns. A gíria pode Porque penico não tinha ali
acabar incorporada pela língua oficial, permanecer no vocabulário Mas era feita com muito esmero
de pequenos grupos ou cair em desuso. Na rua dos bobos, número zero
Ex.: “chutar o pau da barraca”, “viajar na maionese”, “galera”, (Vinícius de Moraes)
“mina”, “tipo assim”.
TIPO TEXTUAL INJUNTIVO
Linguagem vulgar A injunção indica como realizar uma ação, aconselha, impõe,
Existe uma linguagem vulgar relacionada aos que têm pouco instrui o interlocutor. Chamado também de texto instrucional, o
ou nenhum contato com centros civilizados. Na linguagem vulgar tipo de texto injuntivo é utilizado para predizer acontecimentos e
há estruturas com “nóis vai, lá”, “eu di um beijo”, “Ponhei sal na comportamentos, nas leis jurídicas.
comida”.
Características principais:
Linguagem regional • Normalmente apresenta frases curtas e objetivas, com ver-
Regionalismos são variações geográficas do uso da língua pa- bos de comando, com tom imperativo; há também o uso do futuro
drão, quanto às construções gramaticais e empregos de certas pala- do presente (10 mandamentos bíblicos e leis diversas).
vras e expressões. Há, no Brasil, por exemplo, os falares amazônico, • Marcas de interlocução: vocativo, verbos e pronomes de 2ª
nordestino, baiano, fluminense, mineiro, sulino. pessoa ou 1ª pessoa do plural, perguntas reflexivas etc.
Tipos e genêros textuais
Os tipos textuais configuram-se como modelos fixos e abran- Exemplo:
gentes que objetivam a distinção e definição da estrutura, bem Impedidos do Alistamento Eleitoral (art. 5º do Código Eleito-
como aspectos linguísticos de narração, dissertação, descrição e ral) – Não podem alistar-se eleitores: os que não saibam exprimir-se
explicação. Eles apresentam estrutura definida e tratam da forma na língua nacional, e os que estejam privados, temporária ou defi-
como um texto se apresenta e se organiza. Existem cinco tipos clás- nitivamente dos direitos políticos. Os militares são alistáveis, desde
sicos que aparecem em provas: descritivo, injuntivo, expositivo (ou que oficiais, aspirantes a oficiais, guardas-marinha, subtenentes ou
dissertativo-expositivo) dissertativo e narrativo. Vejamos alguns suboficiais, sargentos ou alunos das escolas militares de ensino su-
exemplos e as principais características de cada um deles. perior para formação de oficiais.
Tipo textual descritivo
A descrição é uma modalidade de composição textual cujo Tipo textual expositivo
objetivo é fazer um retrato por escrito (ou não) de um lugar, uma A dissertação é o ato de apresentar ideias, desenvolver racio-
pessoa, um animal, um pensamento, um sentimento, um objeto, cínio, analisar contextos, dados e fatos, por meio de exposição,
um movimento etc. discussão, argumentação e defesa do que pensamos. A dissertação
Características principais: pode ser expositiva ou argumentativa.
• Os recursos formais mais encontrados são os de valor adje- A dissertação-expositiva é caracterizada por esclarecer um as-
tivo (adjetivo, locução adjetiva e oração adjetiva), por sua função sunto de maneira atemporal, com o objetivo de explicá-lo de ma-
caracterizadora. neira clara, sem intenção de convencer o leitor ou criar debate.
• Há descrição objetiva e subjetiva, normalmente numa enu-
meração. Características principais:
• A noção temporal é normalmente estática. • Apresenta introdução, desenvolvimento e conclusão.
• Normalmente usam-se verbos de ligação para abrir a defini- • O objetivo não é persuadir, mas meramente explicar, infor-
ção. mar.
• Normalmente aparece dentro de um texto narrativo. • Normalmente a marca da dissertação é o verbo no presente.
• Os gêneros descritivos mais comuns são estes: manual, anún- • Amplia-se a ideia central, mas sem subjetividade ou defesa
cio, propaganda, relatórios, biografia, tutorial. de ponto de vista.
• Apresenta linguagem clara e imparcial.

Exemplo:
O texto dissertativo consiste na ampliação, na discussão, no
questionamento, na reflexão, na polemização, no debate, na ex-
pressão de um ponto de vista, na explicação a respeito de um de-
terminado tema.
Existem dois tipos de dissertação bem conhecidos: a disserta-
ção expositiva (ou informativa) e a argumentativa (ou opinativa).
Portanto, pode-se dissertar simplesmente explicando um as-
sunto, imparcialmente, ou discutindo-o, parcialmente.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipo textual dissertativo-argumentativo GÊNEROS TEXTUAIS
Este tipo de texto — muito frequente nas provas de concur- Já os gêneros textuais (ou discursivos) são formas diferentes
sos — apresenta posicionamentos pessoais e exposição de ideias de expressão comunicativa. As muitas formas de elaboração de um
apresentadas de forma lógica. Com razoável grau de objetividade, texto se tornam gêneros, de acordo com a intenção do seu pro-
clareza, respeito pelo registro formal da língua e coerência, seu in- dutor. Logo, os gêneros apresentam maior diversidade e exercem
tuito é a defesa de um ponto de vista que convença o interlocutor funções sociais específicas, próprias do dia a dia. Ademais, são
(leitor ou ouvinte). passíveis de modificações ao longo do tempo, mesmo que preser-
vando características preponderantes. Vejamos, agora, uma tabela
Características principais: que apresenta alguns gêneros textuais classificados com os tipos
• Presença de estrutura básica (introdução, desenvolvimento textuais que neles predominam.
e conclusão): ideia principal do texto (tese); argumentos (estraté-
gias argumentativas: causa-efeito, dados estatísticos, testemunho Tipo Textual Gêneros Textuais
de autoridade, citações, confronto, comparação, fato, exemplo, Predominante
enumeração...); conclusão (síntese dos pontos principais com su-
gestão/solução). Descritivo Diário
• Utiliza verbos na 1ª pessoa (normalmente nas argumentações Relatos (viagens, históricos,
informais) e na 3ª pessoa do presente do indicativo (normalmente etc.)
nas argumentações formais) para imprimir uma atemporalidade e Biografia e autobiografia
um caráter de verdade ao que está sendo dito. Notícia
• Privilegiam-se as estruturas impessoais, com certas modali- Currículo
zações discursivas (indicando noções de possibilidade, certeza ou Lista de compras
probabilidade) em vez de juízos de valor ou sentimentos exaltados. Cardápio
• Há um cuidado com a progressão temática, isto é, com o Anúncios de classificados
desenvolvimento coerente da ideia principal, evitando-se ro- Injuntivo Receita culinária
deios. Bula de remédio
Manual de instruções
Exemplo: Regulamento
A maioria dos problemas existentes em um país em desenvol- Textos prescritivos
vimento, como o nosso, podem ser resolvidos com uma eficiente
administração política (tese), porque a força governamental certa- Expositivo Seminários
mente se sobrepõe a poderes paralelos, os quais – por negligência Palestras
de nossos representantes – vêm aterrorizando as grandes metró- Conferências
poles. Isso ficou claro no confronto entre a força militar do RJ e os Entrevistas
traficantes, o que comprovou uma verdade simples: se for do desejo Trabalhos acadêmicos
dos políticos uma mudança radical visando o bem-estar da popula- Enciclopédia
ção, isso é plenamente possível (estratégia argumentativa: fato- Verbetes de dicionários
-exemplo). É importante salientar, portanto, que não devemos ficar Dissertativo- Editorial Jornalístico
de mãos atadas à espera de uma atitude do governo só quando o argumentativo Carta de opinião
caos se estabelece; o povo tem e sempre terá de colaborar com uma Resenha
cobrança efetiva (conclusão). Artigo
Ensaio
Tipo textual narrativo Monografia, dissertação de
O texto narrativo é uma modalidade textual em que se conta mestrado e tese de doutorado
um fato, fictício ou não, que ocorreu num determinado tempo e lu-
Narrativo Romance
gar, envolvendo certos personagens. Toda narração tem um enredo,
Novela
personagens, tempo, espaço e narrador (ou foco narrativo).
Crônica
Características principais:
Contos de Fada
• O tempo verbal predominante é o passado.
Fábula
• Foco narrativo com narrador de 1ª pessoa (participa da his-
Lendas
tória – onipresente) ou de 3ª pessoa (não participa da história –
onisciente).
• Normalmente, nos concursos públicos, o texto aparece em Sintetizando: os tipos textuais são fixos, finitos e tratam da for-
prosa, não em verso. ma como o texto se apresenta. Os gêneros textuais são fluidos, infi-
nitos e mudam de acordo com a demanda social.
Exemplo:
Solidão INTERTEXTUALIDADE
João era solteiro, vivia só e era feliz. Na verdade, a solidão era A intertextualidade é um recurso realizado entre textos, ou
o que o tornava assim. Conheceu Maria, também solteira, só e fe- seja, é a influência e relação que um estabelece sobre o outro. As-
liz. Tão iguais, a afinidade logo se transforma em paixão. Casam-se. sim, determina o fenômeno relacionado ao processo de produção
Dura poucas semanas. Não havia mesmo como dar certo: ao se uni- de textos que faz referência (explícita ou implícita) aos elementos
rem, um tirou do outro a essência da felicidade. existentes em outro texto, seja a nível de conteúdo, forma ou de
ambos: forma e conteúdo.
Nelson S. Oliveira
Fonte: https://www.recantodasletras.com.br/contossurreais/4835684

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LÍNGUA PORTUGUESA
Grosso modo, a intertextualidade é o diálogo entre textos, de cisamos argumentar sobre qual das duas é mais desejável. O argu-
forma que essa relação pode ser estabelecida entre as produções mento pode então ser definido como qualquer recurso que torna
textuais que apresentem diversas linguagens (visual, auditiva, escri- uma coisa mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no
ta), sendo expressa nas artes (literatura, pintura, escultura, música, domínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor crer
dança, cinema), propagandas publicitárias, programas televisivos, que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, mais pos-
provérbios, charges, dentre outros. sível que a outra, mais desejável que a outra, é preferível à outra.
O objetivo da argumentação não é demonstrar a verdade de
Tipos de Intertextualidade um fato, mas levar o ouvinte a admitir como verdadeiro o que o
• Paródia: perversão do texto anterior que aparece geralmen- enunciador está propondo.
te, em forma de crítica irônica de caráter humorístico. Do grego (paro- Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argumentação.
dès), a palavra “paródia” é formada pelos termos “para” (semelhante) O primeiro opera no domínio do necessário, ou seja, pretende
e “odes” (canto), ou seja, “um canto (poesia) semelhante a outro”. Esse demonstrar que uma conclusão deriva necessariamente das pre-
recurso é muito utilizado pelos programas humorísticos. missas propostas, que se deduz obrigatoriamente dos postulados
• Paráfrase: recriação de um texto já existente mantendo a admitidos. No raciocínio lógico, as conclusões não dependem de
mesma ideia contida no texto original, entretanto, com a utilização crenças, de uma maneira de ver o mundo, mas apenas do encadea-
de outras palavras. O vocábulo “paráfrase”, do grego (paraphrasis), mento de premissas e conclusões.
significa a “repetição de uma sentença”. Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte encadeamento:
• Epígrafe: recurso bastante utilizado em obras e textos cientí- A é igual a B.
ficos. Consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha A é igual a C.
alguma relação com o que será discutido no texto. Do grego, o ter- Então: C é igual a A.
mo “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior)
e “graphé” (escrita). Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigatoriamente,
• Citação: Acréscimo de partes de outras obras numa produção que C é igual a A.
textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem expressa Outro exemplo:
entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro autor. Todo ruminante é um mamífero.
Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação sem re- A vaca é um ruminante.
lacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o termo Logo, a vaca é um mamífero.
“citação” (citare) significa convocar.
• Alusão: Faz referência aos elementos presentes em outros Admitidas como verdadeiras as duas premissas, a conclusão
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois também será verdadeira.
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar). No domínio da argumentação, as coisas são diferentes. Nele,
• Outras formas de intertextualidade menos discutidas são a conclusão não é necessária, não é obrigatória. Por isso, deve-se
o pastiche, o sample, a tradução e a bricolagem. mostrar que ela é a mais desejável, a mais provável, a mais plau-
sível. Se o Banco do Brasil fizer uma propaganda dizendo-se mais
ARGUMENTAÇÃO confiável do que os concorrentes porque existe desde a chegada
O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma informa- da família real portuguesa ao Brasil, ele estará dizendo-nos que um
ção a alguém. Quem comunica pretende criar uma imagem positiva banco com quase dois séculos de existência é sólido e, por isso, con-
de si mesmo (por exemplo, a de um sujeito educado, ou inteligente, fiável. Embora não haja relação necessária entre a solidez de uma
ou culto), quer ser aceito, deseja que o que diz seja admitido como instituição bancária e sua antiguidade, esta tem peso argumentati-
verdadeiro. Em síntese, tem a intenção de convencer, ou seja, tem vo na afirmação da confiabilidade de um banco. Portanto é provável
o desejo de que o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele que se creia que um banco mais antigo seja mais confiável do que
propõe. outro fundado há dois ou três anos.
Se essa é a finalidade última de todo ato de comunicação, todo Enumerar todos os tipos de argumentos é uma tarefa quase
texto contém um componente argumentativo. A argumentação é o impossível, tantas são as formas de que nos valemos para fazer as
conjunto de recursos de natureza linguística destinados a persuadir pessoas preferirem uma coisa a outra. Por isso, é importante enten-
a pessoa a quem a comunicação se destina. Está presente em todo der bem como eles funcionam.
tipo de texto e visa a promover adesão às teses e aos pontos de Já vimos diversas características dos argumentos. É preciso
vista defendidos. acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor, o auditó-
As pessoas costumam pensar que o argumento seja apenas rio, que pode ser individual ou coletivo, será tanto mais fácil quanto
uma prova de verdade ou uma razão indiscutível para comprovar a mais os argumentos estiverem de acordo com suas crenças, suas
veracidade de um fato. O argumento é mais que isso: como se disse expectativas, seus valores. Não se pode convencer um auditório
acima, é um recurso de linguagem utilizado para levar o interlocu- pertencente a uma dada cultura enfatizando coisas que ele abomi-
tor a crer naquilo que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o na. Será mais fácil convencê-lo valorizando coisas que ele considera
que está sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio positivas. No Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência
da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de recur- associada ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos,
sos de linguagem. essa associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
Para compreender claramente o que é um argumento, é bom não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder persuasivo
voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do século IV a.C., numa de um argumento está vinculado ao que é valorizado ou desvalori-
obra intitulada “Tópicos: os argumentos são úteis quando se tem de zado numa dada cultura.
escolher entre duas ou mais coisas”.
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e uma des- Tipos de Argumento
vantajosa, como a saúde e a doença, não precisamos argumentar. Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado
Suponhamos, no entanto, que tenhamos de escolher entre duas a fazer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é um
coisas igualmente vantajosas, a riqueza e a saúde. Nesse caso, pre- argumento. Exemplo:

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LÍNGUA PORTUGUESA
Argumento de Autoridade lógicos, eles não pretendem estabelecer relações necessárias
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhecidas entre os elementos, mas sim instituir relações prováveis, possíveis,
pelo auditório como autoridades em certo domínio do saber, plausíveis. Por exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a
para servir de apoio àquilo que o enunciador está propondo. Esse C”, “então A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade
recurso produz dois efeitos distintos: revela o conhecimento do lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu é meu
produtor do texto a respeito do assunto de que está tratando; dá ao amigo” não se institui uma identidade lógica, mas uma identidade
texto a garantia do autor citado. É preciso, no entanto, não fazer do provável.
texto um amontoado de citações. A citação precisa ser pertinente e Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais facilmente
verdadeira. Exemplo: aceito do que um texto incoerente. Vários são os defeitos que
“A imaginação é mais importante do que o conhecimento.” concorrem para desqualificar o texto do ponto de vista lógico: fugir
do tema proposto, cair em contradição, tirar conclusões que não se
Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein. Para fundamentam nos dados apresentados, ilustrar afirmações gerais
ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não há com fatos inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações
conhecimento. Nunca o inverso. indevidas.
Alex José Periscinoto.
In: Folha de S. Paulo, 30/8/1993, p. 5-2 Argumento do Atributo
É aquele que considera melhor o que tem propriedades típicas
A tese defendida nesse texto é que a imaginação é mais daquilo que é mais valorizado socialmente, por exemplo, o mais
importante do que o conhecimento. Para levar o auditório a aderir raro é melhor que o comum, o que é mais refinado é melhor que o
a ela, o enunciador cita um dos mais célebres cientistas do mundo. que é mais grosseiro, etc.
Se um físico de renome mundial disse isso, então as pessoas devem Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequência,
acreditar que é verdade. celebridades recomendando prédios residenciais, produtos de
beleza, alimentos estéticos, etc., com base no fato de que o
Argumento de Quantidade consumidor tende a associar o produto anunciado com atributos
É aquele que valoriza mais o que é apreciado pelo maior da celebridade.
número de pessoas, o que existe em maior número, o que tem maior Uma variante do argumento de atributo é o argumento da
duração, o que tem maior número de adeptos, etc. O fundamento competência linguística. A utilização da variante culta e formal
desse tipo de argumento é que mais = melhor. A publicidade faz da língua que o produtor do texto conhece a norma linguística
largo uso do argumento de quantidade. socialmente mais valorizada e, por conseguinte, deve produzir um
texto em que se pode confiar. Nesse sentido é que se diz que o
Argumento do Consenso modo de dizer dá confiabilidade ao que se diz.
É uma variante do argumento de quantidade. Fundamenta-se Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado de
em afirmações que, numa determinada época, são aceitas como saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazê-lo das duas
verdadeiras e, portanto, dispensam comprovações, a menos que maneiras indicadas abaixo, mas a primeira seria infinitamente mais
o objetivo do texto seja comprovar alguma delas. Parte da ideia adequada para a persuasão do que a segunda, pois esta produziria
de que o consenso, mesmo que equivocado, corresponde ao certa estranheza e não criaria uma imagem de competência do
indiscutível, ao verdadeiro e, portanto, é melhor do que aquilo que médico:
não desfruta dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, - Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e levando em
as afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido e de conta o caráter invasivo de alguns exames, a equipe médica houve
que as condições de vida são piores nos países subdesenvolvidos. por bem determinar o internamento do governador pelo período
Ao confiar no consenso, porém, corre-se o risco de passar dos de três dias, a partir de hoje, 4 de fevereiro de 2001.
argumentos válidos para os lugares comuns, os preconceitos e as - Para conseguir fazer exames com mais cuidado e porque
frases carentes de qualquer base científica. alguns deles são barrapesada, a gente botou o governador no
hospital por três dias.
Argumento de Existência
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil aceitar Como dissemos antes, todo texto tem uma função
aquilo que comprovadamente existe do que aquilo que é apenas argumentativa, porque ninguém fala para não ser levado a sério,
provável, que é apenas possível. A sabedoria popular enuncia o para ser ridicularizado, para ser desmentido: em todo ato de
argumento de existência no provérbio “Mais vale um pássaro na comunicação deseja-se influenciar alguém. Por mais neutro que
mão do que dois voando”. pretenda ser, um texto tem sempre uma orientação argumentativa.
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas documentais A orientação argumentativa é uma certa direção que o falante
(fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.) ou provas traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista, ao falar de um
concretas, que tornam mais aceitável uma afirmação genérica. homem público, pode ter a intenção de criticá-lo, de ridicularizá-lo
Durante a invasão do Iraque, por exemplo, os jornais diziam que o ou, ao contrário, de mostrar sua grandeza.
exército americano era muito mais poderoso do que o iraquiano. O enunciador cria a orientação argumentativa de seu texto
Essa afirmação, sem ser acompanhada de provas concretas, poderia dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo certos
ser vista como propagandística. No entanto, quando documentada episódios e revelando outros, escolhendo determinadas palavras e
pela comparação do número de canhões, de carros de combate, de não outras, etc. Veja:
navios, etc., ganhava credibilidade. “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras
trocavam abraços afetuosos.”
Argumento quase lógico
É aquele que opera com base nas relações lógicas, como causa
e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. Esses raciocínios
são chamados quase lógicos porque, diversamente dos raciocínios

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LÍNGUA PORTUGUESA
O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que noras debate, questionamento, o que implica a liberdade de pensamento,
e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria escolhido esse a possibilidade de discordar ou concordar parcialmente. A liberdade
fato para ilustrar o clima da festa nem teria utilizado o termo até, de questionar é fundamental,
que serve para incluir no argumento alguma coisa inesperada.
Além dos defeitos de argumentação mencionados quando mas não é suficiente para organizar um texto dissertativo. É
tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos citar outros: necessária também a exposição dos fundamentos, os motivos, os
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sentido tão porquês da defesa de um ponto de vista.
amplo, que serve de argumento para um ponto de vista e seu Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitude
contrário. São noções confusas, como paz, que, paradoxalmente, argumentativa. A argumentação está presente em qualquer tipo de
pode ser usada pelo agressor e pelo agredido. Essas palavras discurso, porém, é no texto dissertativo que ela melhor se evidencia.
podem ter valor positivo (paz, justiça, honestidade, democracia) Para discutir um tema, para confrontar argumentos e posições,
ou vir carregadas de valor negativo (autoritarismo, degradação do é necessária a capacidade de conhecer outros pontos de vista e
meio ambiente, injustiça, corrupção). seus respectivos argumentos. Uma discussão impõe, muitas vezes,
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derrubadas por a análise de argumentos opostos, antagônicos. Como sempre,
um único contra exemplo. Quando se diz “Todos os políticos são essa capacidade aprende-se com a prática. Um bom exercício
ladrões”, basta um único exemplo de político honesto para destruir para aprender a argumentar e contra-argumentar consiste em
o argumento. desenvolver as seguintes habilidades:
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, fora do - argumentação: anotar todos os argumentos a favor de
contexto adequado, sem o significado apropriado, vulgarizando-as e uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a posição
atribuindo-lhes uma significação subjetiva e grosseira. É o caso, por totalmente contrária;
exemplo, da frase “O imperialismo de certas indústrias não permite - contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate e quais os
que outras crescam”, em que o termo imperialismo é descabido, argumentos que essa pessoa imaginária possivelmente apresentaria
uma vez que, a rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir contra a argumentação proposta;
outros à sua dependência política e econômica”. - refutação: argumentos e razões contra a argumentação
oposta.
A boa argumentação é aquela que está de acordo com a situação
concreta do texto, que leva em conta os componentes envolvidos A argumentação tem a finalidade de persuadir, portanto,
na discussão (o tipo de pessoa a quem se dirige a comunicação, o argumentar consiste em estabelecer relações para tirar conclusões
assunto, etc). válidas, como se procede no método dialético. O método dialético
Convém ainda alertar que não se convence ninguém com não envolve apenas questões ideológicas, geradoras de polêmicas.
manifestações de sinceridade do autor (como eu, que não costumo Trata-se de um método de investigação da realidade pelo estudo
mentir...) ou com declarações de certeza expressas em fórmulas de sua ação recíproca, da contradição inerente ao fenômeno
feitas (como estou certo, creio firmemente, é claro, é óbvio, é em questão e da mudança dialética que ocorre na natureza e na
evidente, afirmo com toda a certeza, etc). Em vez de prometer, sociedade.
em seu texto, sinceridade e certeza, autenticidade e verdade, o Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês, criou
enunciador deve construir um texto que revele isso. Em outros o método de raciocínio silogístico, baseado na dedução, que
termos, essas qualidades não se prometem, manifestam-se na ação. parte do simples para o complexo. Para ele, verdade e evidência
A argumentação é a exploração de recursos para fazer parecer são a mesma coisa, e pelo raciocínio torna-se possível chegar a
verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, levar a pessoa a conclusões verdadeiras, desde que o assunto seja pesquisado em
que texto é endereçado a crer naquilo que ele diz. partes, começando-se pelas proposições mais simples até alcançar,
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e expressa um por meio de deduções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio
ponto de vista, acompanhado de certa fundamentação, que inclui cartesiana, é fundamental determinar o problema, dividi-lo em
a argumentação, questionamento, com o objetivo de persuadir. partes, ordenar os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os
Argumentar é o processo pelo qual se estabelecem relações seus elementos e determinar o lugar de cada um no conjunto da
para chegar à conclusão, com base em premissas. Persuadir é dedução.
um processo de convencimento, por meio da argumentação, no A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental para a
qual procura-se convencer os outros, de modo a influenciar seu argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes propôs quatro
pensamento e seu comportamento. regras básicas que constituem um conjunto de reflexos vitais, uma
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persuasão série de movimentos sucessivos e contínuos do espírito em busca
válida, expõem-se com clareza os fundamentos de uma ideia da verdade:
ou proposição, e o interlocutor pode questionar cada passo - evidência;
do raciocínio empregado na argumentação. A persuasão não - divisão ou análise;
válida apoia-se em argumentos subjetivos, apelos subliminares, - ordem ou dedução;
chantagens sentimentais, com o emprego de “apelações”, como a - enumeração.
inflexão de voz, a mímica e até o choro.
Alguns autores classificam a dissertação em duas modalidades, A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a omissão
expositiva e argumentativa. Esta, exige argumentação, razões a favor e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração pode quebrar o
e contra uma ideia, ao passo que a outra é informativa, apresenta encadeamento das ideias, indispensável para o processo dedutivo.
dados sem a intenção de convencer. Na verdade, a escolha dos A forma de argumentação mais empregada na redação
dados levantados, a maneira de expô-los no texto já revelam uma acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras cartesianas,
“tomada de posição”, a adoção de um ponto de vista na dissertação, que contém três proposições: duas premissas, maior e menor, e a
ainda que sem a apresentação explícita de argumentos. Desse conclusão. As três proposições são encadeadas de tal forma,
ponto de vista, a dissertação pode ser definida como discussão,

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LÍNGUA PORTUGUESA
que a conclusão é deduzida da maior por intermédio da menor. A “simples inspeção” é a ausência de análise ou análise superficial
premissa maior deve ser universal, emprega todo, nenhum, pois dos fatos, que leva a pronunciamentos subjetivos, baseados nos
alguns não caracteriza a universalidade. sentimentos não ditados pela razão.
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedução Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não
(silogística), que parte do geral para o particular, e a indução, que vai fundamentais, que contribuem para a descoberta ou comprovação
do particular para o geral. A expressão formal do método dedutivo da verdade: análise, síntese, classificação e definição. Além desses,
é o silogismo. A dedução é o caminho das consequências, baseia-se existem outros métodos particulares de algumas ciências, que
em uma conexão descendente (do geral para o particular) que leva adaptam os processos de dedução e indução à natureza de uma
à conclusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias gerais, realidade particular. Pode-se afirmar que cada ciência tem seu
de verdades universais, pode-se chegar à previsão ou determinação método próprio demonstrativo, comparativo, histórico etc. A
de fenômenos particulares. O percurso do raciocínio vai da causa análise, a síntese, a classificação a definição são chamadas métodos
para o efeito. Exemplo: sistemáticos, porque pela organização e ordenação das ideias visam
sistematizar a pesquisa.
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, universal) Análise e síntese são dois processos opostos, mas interligados;
Fulano é homem (premissa menor = particular) a análise parte do todo para as partes, a síntese, das partes para
Logo, Fulano é mortal (conclusão) o todo. A análise precede a síntese, porém, de certo modo, uma
depende da outra. A análise decompõe o todo em partes, enquanto
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, baseiase a síntese recompõe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém,
em uma conexão ascendente, do particular para o geral. Nesse caso, que o todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
as constatações particulares levam às leis gerais, ou seja, parte de reunisse todas as peças de um relógio, não significa que reconstruiu
fatos particulares conhecidos para os fatos gerais, desconhecidos. O o relógio, pois fez apenas um amontoado de partes. Só reconstruiria
percurso do raciocínio se faz do efeito para a causa. Exemplo: todo se as partes estivessem organizadas, devidamente combinadas,
O calor dilata o ferro (particular) seguida uma ordem de relações necessárias, funcionais, então, o
O calor dilata o bronze (particular) relógio estaria reconstruído.
O calor dilata o cobre (particular) Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do todo
O ferro, o bronze, o cobre são metais por meio da integração das partes, reunidas e relacionadas num
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) conjunto. Toda síntese, por ser uma reconstrução, pressupõe a
análise, que é a decomposição. A análise, no entanto, exige uma
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser válido decomposição organizada, é preciso saber como dividir o todo em
e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas premissas partes. As operações que se realizam na análise e na síntese podem
também o forem. Se há erro ou equívoco na apreciação dos ser assim relacionadas:
fatos, pode-se partir de premissas verdadeiras para chegar a uma Análise: penetrar, decompor, separar, dividir.
conclusão falsa. Tem-se, desse modo, o sofisma. Uma definição Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir.
inexata, uma divisão incompleta, a ignorância da causa, a falsa
analogia são algumas causas do sofisma. O sofisma pressupõe A análise tem importância vital no processo de coleta de ideias
má fé, intenção deliberada de enganar ou levar ao erro; quando o a respeito do tema proposto, de seu desdobramento e da criação de
sofisma não tem essas intenções propositais, costuma-se chamar abordagens possíveis. A síntese também é importante na escolha
esse processo de argumentação de paralogismo. Encontra-se um dos elementos que farão parte do texto.
exemplo simples de sofisma no seguinte diálogo: Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal ou
- Você concorda que possui uma coisa que não perdeu? informal. A análise formal pode ser científica ou experimental;
- Lógico, concordo. é característica das ciências matemáticas, físico-naturais e
- Você perdeu um brilhante de 40 quilates? experimentais. A análise informal é racional ou total, consiste
- Claro que não! em “discernir” por vários atos distintos da atenção os elementos
- Então você possui um brilhante de 40 quilates... constitutivos de um todo, os diferentes caracteres de um objeto ou
fenômeno.
Exemplos de sofismas: A análise decompõe o todo em partes, a classificação estabelece
Dedução as necessárias relações de dependência e hierarquia entre as
Todo professor tem um diploma (geral, universal) partes. Análise e classificação ligam-se intimamente, a ponto de se
Fulano tem um diploma (particular) confundir uma com a outra, contudo são procedimentos diversos:
Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa) análise é decomposição e classificação é hierarquisação.
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e fenômenos
Indução por suas diferenças e semelhanças; fora das ciências naturais, a
O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor. classificação pode-se efetuar por meio de um processo mais ou
(particular) menos arbitrário, em que os caracteres comuns e diferenciadores
Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor. (particular) são empregados de modo mais ou menos convencional. A
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades. classificação, no reino animal, em ramos, classes, ordens, subordens,
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Redentor. (geral gêneros e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas
– conclusão falsa) características comuns e diferenciadoras. A classificação dos
variados itens integrantes de uma lista mais ou menos caótica é
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a conclusão artificial.
pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diploma são
professores; nem todas as cidades têm uma estátua do Cristo Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, caminhão,
Redentor. Comete-se erro quando se faz generalizações apressadas canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo, queijo, relógio,
ou infundadas. A sabiá, torradeira.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em verdade,
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. definição, quando se diz que o “triângulo não é um prisma”;
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torradeira. - deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não constitui
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um homem”
não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem);
Os elementos desta lista foram classificados por ordem - deve ser breve (contida num só período). Quando a definição,
alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabelecer ou o que se pretenda como tal, é muito longa (séries de períodos
critérios de classificação das ideias e argumentos, pela ordem ou de parágrafos), chama-se explicação, e também definição
de importância, é uma habilidade indispensável para elaborar expandida;d
o desenvolvimento de uma redação. Tanto faz que a ordem seja - deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o termo) +
crescente, do fato mais importante para o menos importante, ou cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) + adjuntos (as
decrescente, primeiro o menos importante e, no final, o impacto diferenças).
do mais importante; é indispensável que haja uma lógica na
classificação. A elaboração do plano compreende a classificação As definições dos dicionários de língua são feitas por meio
das partes e subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação metalinguística
obedecer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302304.) que consiste em estabelecer uma relação de equivalência entre a
Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo na palavra e seus significados.
introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois, para A força do texto dissertativo está em sua fundamentação.
expressar um questionamento, deve-se, de antemão, expor clara Sempre é fundamental procurar um porquê, uma razão verdadeira
e racionalmente as posições assumidas e os argumentos que as e necessária. A verdade de um ponto de vista deve ser demonstrada
justificam. É muito importante deixar claro o campo da discussão e com argumentos válidos. O ponto de vista mais lógico e racional
a posição adotada, isto é, esclarecer não só o assunto, mas também do mundo não tem valor, se não estiver acompanhado de uma
os pontos de vista sobre ele. fundamentação coerente e adequada.
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a lógica
linguagem e consiste na enumeração das qualidades próprias clássica, que foram abordados anteriormente, auxiliam o
de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o elemento julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a argumentação é
conforme a espécie a que pertence, demonstra: a característica que clara e pode reconhecer-se facilmente seus elementos e suas
o diferencia dos outros elementos dessa mesma espécie. relações; outras vezes, as premissas e as conclusões organizam-se
Entre os vários processos de exposição de ideias, a definição de modo livre, misturando-se na estrutura do argumento. Por isso,
é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito das ciências. é preciso aprender a reconhecer os elementos que constituem um
A definição científica ou didática é denotativa, ou seja, atribui às argumento: premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar
palavras seu sentido usual ou consensual, enquanto a conotativa ou se tais elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar
metafórica emprega palavras de sentido figurado. Segundo a lógica se o argumento está expresso corretamente; se há coerência e
tradicional aristotélica, a definição consta de três elementos: adequação entre seus elementos, ou se há contradição. Para isso
- o termo a ser definido; é que se aprende os processos de raciocínio por dedução e por
- o gênero ou espécie; indução. Admitindo-se que raciocinar é relacionar, conclui-se que
- a diferença específica. o argumento é um tipo específico de relação entre as premissas e
a conclusão.
O que distingue o termo definido de outros elementos da Procedimentos Argumentativos: Constituem os procedimentos
mesma espécie. Exemplo: argumentativos mais empregados para comprovar uma afirmação:
exemplificação, explicitação, enumeração, comparação.
Na frase: O homem é um animal racional classifica-se: Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista por meio
de exemplos, hierarquizar afirmações. São expressões comuns
nesse tipo de procedimento: mais importante que, superior a, de
maior relevância que. Empregam-se também dados estatísticos,
acompanhados de expressões: considerando os dados; conforme
Elemento especie diferença os dados apresentados. Faz-se a exemplificação, ainda, pela
a ser definido específica apresentação de causas e consequências, usando-se comumente as
expressões: porque, porquanto, pois que, uma vez que, visto que,
É muito comum formular definições de maneira defeituosa, por causa de, em virtude de, em vista de, por motivo de.
por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o todo em Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo é explicar
partes. Esse tipo de definição é gramaticalmente incorreto; quando ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Pode-se alcançar
é advérbio de tempo, não representa o gênero, a espécie, a gente é esse objetivo pela definição, pelo testemunho e pela interpretação.
forma coloquial não adequada à redação acadêmica. Tão importante Na explicitação por definição, empregamse expressões como: quer
é saber formular uma definição, que se recorre a Garcia (1973, dizer, denomina-se, chama-se, na verdade, isto é, haja vista, ou
p.306), para determinar os “requisitos da definição denotativa”. melhor; nos testemunhos são comuns as expressões: conforme,
Para ser exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos: segundo, na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no
- o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe em entender de, no pensamento de. A explicitação se faz também pela
que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que ‘mesa’ está interpretação, em que são comuns as seguintes expressões: parece,
realmente incluída) e não “mesa é um instrumento ou ferramenta assim, desse ponto de vista.
ou instalação”; Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma sequência de
- o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir todos os elementos que comprovam uma opinião, tais como a enumeração
exemplos específicos da coisa definida, e suficientemente restrito de pormenores, de fatos, em uma sequência de tempo, em que são
para que a diferença possa ser percebida sem dificuldade; frequentes as expressões: primeiro, segundo, por último, antes,

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LÍNGUA PORTUGUESA
depois, ainda, em seguida, então, presentemente, antigamente, Ataque ao argumento pelo testemunho de autoridade:
depois de, antes de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, consiste em refutar um argumento empregando os testemunhos de
respectivamente. autoridade que contrariam a afirmação apresentada;
Na enumeração de fatos em uma sequência de espaço,
empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, acolá, ali, aí, além, Desqualificar dados concretos apresentados: consiste em
adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal, na capital, no interior, desautorizar dados reais, demonstrando que o enunciador
nas grandes cidades, no sul, no leste... baseou-se em dados corretos, mas tirou conclusões falsas ou
Comparação: Analogia e contraste são as duas maneiras inconsequentes. Por exemplo, se na argumentação afirmou-se, por
de se estabelecer a comparação, com a finalidade de comprovar meio de dados estatísticos, que “o controle demográfico produz o
uma ideia ou opinião. Na analogia, são comuns as expressões: da desenvolvimento”, afirma-se que a conclusão é inconsequente, pois
mesma forma, tal como, tanto quanto, assim como, igualmente. baseia-se em uma relação de causa-feito difícil de ser comprovada.
Para estabelecer contraste, empregam-se as expressões: mais que, Para contraargumentar, propõese uma relação inversa: “o
menos que, melhor que, pior que. desenvolvimento é que gera o controle demográfico”.
Entre outros tipos de argumentos empregados para aumentar Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possíveis para
o poder de persuasão de um texto dissertativo encontram-se: desenvolver um tema, que podem ser analisadas e adaptadas
Argumento de autoridade: O saber notório de uma autoridade ao desenvolvimento de outros temas. Elege-se um tema, e, em
reconhecida em certa área do conhecimento dá apoio a uma seguida, sugerem-se os procedimentos que devem ser adotados
afirmação. Dessa maneira, procura-se trazer para o enunciado a para a elaboração de um Plano de Redação.
credibilidade da autoridade citada. Lembre-se que as citações literais Tema: O homem e a máquina: necessidade e riscos da evolução
no corpo de um texto constituem argumentos de autoridade. Ao tecnológica
fazer uma citação, o enunciador situa os enunciados nela contidos - Questionar o tema, transformá-lo em interrogação, responder
na linha de raciocínio que ele considera mais adequada para a interrogação (assumir um ponto de vista); dar o porquê da
explicar ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de argumento resposta, justificar, criando um argumento básico;
tem mais caráter confirmatório que comprobatório. - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento básico e
Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispensam construir uma contra-argumentação; pensar a forma de refutação
explicação ou comprovação, pois seu conteúdo é aceito como válido que poderia ser feita ao argumento básico e tentar desqualificá-la
por consenso, pelo menos em determinado espaço sociocultural. (rever tipos de argumentação);
Nesse caso, incluem-se - Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de ideias
- A declaração que expressa uma verdade universal (o homem, que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema (as ideias
mortal, aspira à imortalidade); podem ser listadas livremente ou organizadas como causa e
- A declaração que é evidente por si mesma (caso dos consequência);
postulados e axiomas); - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e com o
- Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de argumento básico;
natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que a própria - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhendo as que
razão desconhece); implica apreciação de ordem estética (gosto poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias transformam-se
não se discute); diz respeito a fé religiosa, aos dogmas (creio, ainda em argumentos auxiliares, que explicam e corroboram a ideia do
que parece absurdo). argumento básico;
- Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando uma
Comprovação pela experiência ou observação: A verdade de sequência na apresentação das ideias selecionadas, obedecendo
um fato ou afirmação pode ser comprovada por meio de dados às partes principais da estrutura do texto, que poderia ser mais ou
concretos, estatísticos ou documentais. menos a seguinte:
Comprovação pela fundamentação lógica: A comprovação
se realiza por meio de argumentos racionais, baseados na lógica: Introdução
causa/efeito; consequência/causa; condição/ocorrência. - função social da ciência e da tecnologia;
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As declarações, - definições de ciência e tecnologia;
julgamento, pronunciamentos, apreciações que expressam opiniões - indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
pessoais (não subjetivas) devem ter sua validade comprovada,
e só os fatos provam. Em resumo toda afirmação ou juízo que Desenvolvimento
expresse uma opinião pessoal só terá validade se fundamentada na - apresentação de aspectos positivos e negativos do
evidência dos fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade desenvolvimento tecnológico;
dos argumentos, porém, pode ser contestada por meio da contra- - como o desenvolvimento científico-tecnológico modificou as
argumentação ou refutação. São vários os processos de contra- condições de vida no mundo atual;
argumentação: - a tecnocracia: oposição entre uma sociedade
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação tecnologicamente desenvolvida e a dependência tecnológica dos
demonstrando o absurdo da consequência. Exemplo clássico é a países subdesenvolvidos;
contraargumentação do cordeiro, na conhecida fábula “O lobo e o - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento social;
cordeiro”; - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida do
Refutação por exclusão: consiste em propor várias hipóteses passado; apontar semelhanças e diferenças;
para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela que se julga - analisar as condições atuais de vida nos grandes centros
verdadeira; urbanos;
Desqualificação do argumento: atribui-se o argumento - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para humanizar
à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restringindo-se a mais a sociedade.
universalidade da afirmação;

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LÍNGUA PORTUGUESA
Conclusão é retomada para transformar seu sentido, leva o leitor a uma
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/ reflexão crítica de suas verdades incontestadas anteriormente, com
consequências maléficas; esse processo há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos
- síntese interpretativa dos argumentos e contra-argumentos e uma busca pela verdade real, concebida através do raciocínio e
apresentados. da crítica. Os programas humorísticos fazem uso contínuo dessa
Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano de arte, frequentemente os discursos de políticos são abordados
redação: é um dos possíveis. de maneira cômica e contestadora, provocando risos e também
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece reflexão a respeito da demagogia praticada pela classe dominante.
entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos
criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualidade científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que
como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já consiste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma
existente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem relação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo
funções diferentes que dependem muito dos textos/contextos em “epígrafhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e
que ela é inserida. “graphé” (escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento, Patrimônio Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322
não se restringindo única e exclusivamente a textos literários. a.C.): “A cultura é o melhor conforto para a velhice”.
Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa
cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura, produção textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem
escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois expressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro
textos caracterizada por um citar o outro. autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação
A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o
um texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, termo “citação” (citare) significa convocar.
se utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos
– a fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros
ou de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
diferentes. Assim, como você constatou, uma história em termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
quadrinhos pode utilizar algo de um texto científico, assim como
um poema pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de Pastiche é uma recorrência a um gênero.
opinião pode mencionar um provérbio conhecido.
Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com a recriação de um texto.
outras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao
tomá-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao
ironizá-lo ou ao compará-lo com outros. “conhecimento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja,
Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum comum ao produtor e ao receptor de textos.
grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito
desenhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos amplo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de
expressamos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos,
já foram formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função
ou mesmo contradizê-los. Em outras palavras, não há textos daquela citação ou alusão em questão.
absolutamente originais, pois eles sempre – de maneira explícita ou
implícita – mantêm alguma relação com algo que foi visto, ouvido Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
ou lido. A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
Tipos de Intertextualidade ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
A intertextualidade acontece quando há uma referência
explícita ou implícita de um texto em outro. Também pode A intertextualidade explícita:
ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, – é facilmente identificada pelos leitores;
novela etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
intertextualidade. – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – não exige que haja dedução por parte do leitor;
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um – apenas apela à compreensão do conteúdos.
diálogo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando
as mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. A intertextualidade implícita:
– não é facilmente identificada pelos leitores;
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do – não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
texto é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, – não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
reafirmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer – exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por
com outras palavras o que já foi dito. parte dos leitores;
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
textos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso a compreensão do conteúdo.
é objeto de interesse para os estudiosos da língua e das artes.
Ocorre, aqui, um choque de interpretação, a voz do texto original

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LÍNGUA PORTUGUESA
PONTO DE VISTA Coesão
O modo como o autor narra suas histórias provoca diferentes É um conjunto de elementos posicionados ao longo do texto,
sentidos ao leitor em relação à uma obra. Existem três pontos numa linha de sequência e com os quais se estabelece um vínculo
de vista diferentes. É considerado o elemento da narração que ou conexão sequencial.
compreende a perspectiva através da qual se conta a história.
Trata-se da posição da qual o narrador articula a narrativa. Apesar Se o vínculo coesivo se faz via gramática, fala-se em coesão grama-
de existir diferentes possibilidades de Ponto de Vista em uma tical. Se se faz por meio do vocabulário, tem-se a coesão lexical.
narrativa, considera-se dois pontos de vista como fundamentais: O A coesão textual é a ligação, a relação, a conexão entre pala-
narrador-observador e o narrador-personagem. vras, expressões ou frases do texto. Ela manifesta-se por elementos
gramaticais, que servem para estabelecer vínculos entre os compo-
Primeira pessoa nentes do texto.
Um personagem narra a história a partir de seu próprio ponto Existem, em Língua Portuguesa, dois tipos de coesão: a lexical,
de vista, ou seja, o escritor usa a primeira pessoa. Nesse caso, lemos que é obtida pelas relações de sinônimos, hiperônimos, nomes ge-
o livro com a sensação de termos a visão do personagem podendo néricos e formas elididas, e a gramatical, que é conseguida a partir
também saber quais são seus pensamentos, o que causa uma do emprego adequado de artigo, pronome, adjetivo, determinados
leitura mais íntima. Da mesma maneira que acontece nas nossas advérbios e expressões adverbiais, conjunções e numerais.
vidas, existem algumas coisas das quais não temos conhecimento e A coesão:
só descobrimos ao decorrer da história. - assenta-se no plano gramatical e no nível frasal;
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial;
Segunda pessoa - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
O autor costuma falar diretamente com o leitor, como um componentes do texto;
diálogo. Trata-se de um caso mais raro e faz com que o leitor se - Estabelece relações entre os vocábulos no interior das frases.
sinta quase como outro personagem que participa da história.
Intertextualidade é o nome dado à relação que se estabelece
Terceira pessoa entre dois textos, quando um texto já criado exerce influência na
Coloca o leitor numa posição externa, como se apenas criação de um novo texto. Pode-se definir, então, a intertextualida-
observasse a ação acontecer. Os diálogos não são como na narrativa de como sendo a criação de um texto a partir de outro texto já exis-
em primeira pessoa, já que nesse caso o autor relata as frases como tente. Dependendo da situação, a intertextualidade tem funções
alguém que estivesse apenas contando o que cada personagem diferentes que dependem muito dos textos/contextos em que ela
disse. é inserida.
O diálogo pode ocorrer em diversas áreas do conhecimento,
Sendo assim, o autor deve definir se sua narrativa será não se restringindo única e exclusivamente a textos literários.
transmitida ao leitor por um ou vários personagens. Se a história Em alguns casos pode-se dizer que a intertextualidade assume
é contada por mais de um ser fictício, a transição do ponto de a função de não só persuadir o leitor como também de difundir a
vista de um para outro deve ser bem clara, para que quem estiver cultura, uma vez que se trata de uma relação com a arte (pintura,
acompanhando a leitura não fique confuso. escultura, literatura etc). Intertextualidade é a relação entre dois
textos caracterizada por um citar o outro.
Coerência A intertextualidade é o diálogo entre textos. Ocorre quando um
É uma rede de sintonia entre as partes e o todo de um texto. texto (oral, escrito, verbal ou não verbal), de alguma maneira, se
Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada relação se- utiliza de outro na elaboração de sua mensagem. Os dois textos – a
mântica, que se manifesta na compatibilidade entre as ideias. (Na fonte e o que dialoga com ela – podem ser do mesmo gênero ou
linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma coisa bate com de gêneros distintos, terem a mesma finalidade ou propósitos di-
outra”). ferentes. Assim, como você constatou, uma história em quadrinhos
Coerência é a unidade de sentido resultante da relação que se pode utilizar algo de um texto científico, assim como um poema
estabelece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreen- pode valer-se de uma letra de música ou um artigo de opinião pode
der a outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma mencionar um provérbio conhecido.
das partes ganha sentido. Coerência é a ligação em conjunto dos Há várias maneiras de um texto manter intertextualidade com
elementos formativos de um texto. outro, entre elas, ao citá-lo, ao resumi-lo, ao reproduzi-lo com ou-
A coerência não é apenas uma marca textual, mas diz respeito tras palavras, ao traduzi-lo para outro idioma, ao ampliá-lo, ao to-
aos conceitos e às relações semânticas que permitem a união dos má-lo como ponto de partida, ao defendê-lo, ao criticá-lo, ao ironi-
elementos textuais. zá-lo ou ao compará-lo com outros.
A coerência de um texto é facilmente deduzida por um falante Os estudiosos afirmam que em todos os textos ocorre algum
de uma língua, quando não encontra sentido lógico entre as propo- grau de intertextualidade, pois quando falamos, escrevemos, de-
sições de um enunciado oral ou escrito. É a competência linguística, senhamos, pintamos, moldamos, ou seja, sempre que nos expres-
tomada em sentido lato, que permite a esse falante reconhecer de samos, estamos nos valendo de ideias e conceitos que já foram
imediato a coerência de um discurso. formulados por outros para reafirmá-los, ampliá-los ou mesmo con-
tradizê-los. Em outras palavras, não há textos absolutamente origi-
A coerência: nais, pois eles sempre – de maneira explícita ou implícita – mantêm
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; alguma relação com algo que foi visto, ouvido ou lido.
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão concei-
tual;
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo, com
o aspecto global do texto;
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Tipos de Intertextualidade Intertextualidade explícita e intertextualidade implícita
A intertextualidade acontece quando há uma referência ex- A intertextualidade pode ser caracterizada como explícita ou
plícita ou implícita de um texto em outro. Também pode ocorrer implícita, de acordo com a relação estabelecida com o texto fonte,
com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela etc. ou seja, se mais direta ou se mais subentendida.
Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextuali-
dade. A intertextualidade explícita:
Por isso é importante para o leitor o conhecimento de mundo, – é facilmente identificada pelos leitores;
um saber prévio, para reconhecer e identificar quando há um diá- – estabelece uma relação direta com o texto fonte;
logo entre os textos. A intertextualidade pode ocorrer afirmando as – apresenta elementos que identificam o texto fonte;
mesmas ideias da obra citada ou contestando-as. – não exige que haja dedução por parte do leitor;
– apenas apela à compreensão do conteúdos.
Na paráfrase as palavras são mudadas, porém a ideia do texto
é confirmada pelo novo texto, a alusão ocorre para atualizar, rea- A intertextualidade implícita:
firmar os sentidos ou alguns sentidos do texto citado. É dizer com – não é facilmente identificada pelos leitores;
outras palavras o que já foi dito. – não estabelece uma relação direta com o texto fonte;
– não apresenta elementos que identificam o texto fonte;
A paródia é uma forma de contestar ou ridicularizar outros tex- – exige que haja dedução, inferência, atenção e análise por par-
tos, há uma ruptura com as ideologias impostas e por isso é objeto te dos leitores;
de interesse para os estudiosos da língua e das artes. Ocorre, aqui, – exige que os leitores recorram a conhecimentos prévios para
um choque de interpretação, a voz do texto original é retomada a compreensão do conteúdo.
para transformar seu sentido, leva o leitor a uma reflexão crítica
de suas verdades incontestadas anteriormente, com esse proces- VARIAÇÃO LINGUÍSTICA
so há uma indagação sobre os dogmas estabelecidos e uma busca
pela verdade real, concebida através do raciocínio e da crítica. Os
programas humorísticos fazem uso contínuo dessa arte, frequente- É possível encontrar no Brasil diversas variações linguísticas,
mente os discursos de políticos são abordados de maneira cômica como na linguagem regional. Elas reúnem as variantes da língua
e contestadora, provocando risos e também reflexão a respeito da que foram criadas pelos homens e são reinventadas a cada dia.
demagogia praticada pela classe dominante. Delas surgem as variações que envolvem vários aspectos his-
tóricos, sociais, culturais, geográficos, entre outros.
A Epígrafe é um recurso bastante utilizado em obras, textos Nenhuma língua é usada de maneira uniforme por todos os
científicos, desde artigos, resenhas, monografias, uma vez que con- seus falantes em todos os lugares e em qualquer situação. Sabe-
siste no acréscimo de uma frase ou parágrafo que tenha alguma re- -se que, numa mesma língua, há formas distintas para traduzir o
lação com o que será discutido no texto. Do grego, o termo “epígra- mesmo significado dentro de um mesmo contexto.
fhe” é formado pelos vocábulos “epi” (posição superior) e “graphé” As variações que distinguem uma variante de outra se mani-
(escrita). Como exemplo podemos citar um artigo sobre Patrimônio festam em quatro planos distintos, a saber: fônico, morfológico,
Cultural e a epígrafe do filósofo Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.): “A sintático e lexical.
cultura é o melhor conforto para a velhice”.
Variações Morfológicas
A Citação é o Acréscimo de partes de outras obras numa pro- Ocorrem nas formas constituintes da palavra. As diferenças
dução textual, de forma que dialoga com ele; geralmente vem ex- entre as variantes não são tantas quanto as de natureza fônica,
pressa entre aspas e itálico, já que se trata da enunciação de outro mas não são desprezíveis. Como exemplos, podemos citar:
autor. Esse recurso é importante haja vista que sua apresentação – uso de substantivos masculinos como femininos ou vice-
sem relacionar a fonte utilizada é considerado “plágio”. Do Latim, o -versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a champanha (o
termo “citação” (citare) significa convocar.
champanha), tive muita dó dela (muito dó), mistura do cal (da
cal).
A Alusão faz referência aos elementos presentes em outros
– a omissão do “s” como marca de plural de substantivos e
textos. Do Latim, o vocábulo “alusão” (alludere) é formado por dois
adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as amiga, os
termos: “ad” (a, para) e “ludere” (brincar).
livro indicado, as noite fria, os caso mais comum.
– o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Espero que
Pastiche é uma recorrência a um gênero.
o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas últimas elei-
ções; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava acontecer; Não é
A Tradução está no campo da intertextualidade porque implica
a recriação de um texto. possível que ele esforçou (tenha se esforçado) mais que eu.
– o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para criar
Evidentemente, a intertextualidade está ligada ao “conheci- o superlativo de adjetivos, recurso muito característico da lingua-
mento de mundo”, que deve ser compartilhado, ou seja, comum ao gem jovem urbana: um cara hiper-humano (em vez de humaníssi-
produtor e ao receptor de textos. mo), uma prova hiperdifícil (em vez de dificílima), um carro hiper-
A intertextualidade pressupõe um universo cultural muito am- possante (em vez de possantíssimo).
plo e complexo, pois implica a identificação / o reconhecimento de – a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos regu-
remissões a obras ou a textos / trechos mais, ou menos conhecidos, lares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), se ele ver
além de exigir do interlocutor a capacidade de interpretar a função (vir) o recado, quando ele repor (repuser).
daquela citação ou alusão em questão. – a conjugação de verbos regulares pelo modelo de irregula-
res: vareia (varia), negoceia (negocia).

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LÍNGUA PORTUGUESA
Variações Fônicas – a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito para
Ocorrem no modo de pronunciar os sons constituintes da pa- formar o grau superlativo dos adjetivos, características da lingua-
lavra. Entre esses casos, podemos citar: gem jovem de alguns centros urbanos: maior legal; maior difícil;
Esse amigo é um carinha maior esforçado.
– a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis (Petró-
polis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas formas típicas de Designações das Variantes Lexicais:
pessoas de baixa condição social. – Arcaísmo: palavras que já caíram de uso. Por exemplo, um
– A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria das bobalhão era chamado de coió ou bocó; em vez de refrigerante
regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do Rio Grande usava-se gasosa; algo muito bom, de qualidade excelente, era su-
do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na linguagem caipi- pimpa.
ra): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, pastel; faróu, farór, – Neologismo: contrário do arcaísmo. São palavras recém-
farol. -criadas, muitas das quais mal ou nem entraram para os dicio-
– deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato, pregun- nários. A na computação tem vários exemplos, como escanear,
tar, estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa condição so- deletar, printar.
cial. – Estrangeirismo: emprego de palavras emprestadas de ou-
– a queda do “r” final dos verbos, muito comum na linguagem tra língua, que ainda não foram aportuguesadas, preservando a
oral no português: falá, vendê, curti (em vez de curtir), compô. forma de origem. Nesse caso, há muitas expressões latinas, sobre-
– o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu me tudo da linguagem jurídica, tais como: habeas-corpus (literalmen-
alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem clássica, te, “tenhas o corpo” ou, mais livremente, “estejas em liberdade”),
hoje frequentes na fala caipira. ipso facto (“pelo próprio fato de”, “por isso mesmo.
– a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, ma-
relo (amarelo), margoso (amargoso), características na linguagem As palavras de origem inglesas são várias: feeling (“sensibili-
oral coloquial. dade”, capacidade de percepção), briefing (conjunto de informa-
ções básicas).
– Jargão: vocabulário típico de um campo profissional como
Variações Sintáticas
a medicina, a engenharia, a publicidade, o jornalismo. Furo é no-
Correlação entre as palavras da frase. No domínio da sintaxe,
tícia dada em primeira mão. Quando o furo se revela falso, foi
como no da morfologia, não são tantas as diferenças entre uma
uma barriga.
variante e outra. Como exemplo, podemos citar:
– Gíria: vocabulário especial de um grupo que não deseja ser
– a substituição do pronome relativo “cujo” pelo pronome
entendido por outros grupos ou que pretende marcar sua iden-
“que” no início da frase mais a combinação da preposição “de”
tidade por meio da linguagem. Por exemplo, levar um lero (con-
com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já conhecia a
versar).
família dele (em vez de cuja família eu já conhecia).
– Preciosismo: é um léxico excessivamente erudito, muito
– a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo quando raro: procrastinar (em vez de adiar); cinesíforo (em vez de mo-
se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero falar com torista).
você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em vez de tua) – Vulgarismo: o contrário do preciosismo, por exemplo, de
voz me irrita. saco cheio (em vez de aborrecido), se ferrou (em vez de se deu
– ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles che- mal, arruinou-se).
gou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou naquela
semana muitos alunos; Comentou-se os episódios. Tipos de Variação
– o uso de pronomes do caso reto com outra função que não As variações mais importantes, são as seguintes:
a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua; não irão – Sociocultural: Esse tipo de variação pode ser percebido
sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu (em vez de com certa facilidade.
ti) e ele. – Geográfica: é, no Brasil, bastante grande. Ao conjunto das
– o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em vez características da pronúncia de uma determinada região dá-se o
de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem. nome de sotaque: sotaque mineiro, sotaque nordestino, sotaque
– a ausência da preposição adequada antes do pronome relati- gaúcho etc.
vo em função de complemento verbal: são pessoas que (em vez de: – De Situação: são provocadas pelas alterações das circuns-
de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que (em vez de a que) tâncias em que se desenrola o ato de comunicação. Um modo
eu assisti; você é a pessoa que (em vez de em que) eu mais confio. de falar compatível com determinada situação é incompatível
com outra
Variações Léxicas – Histórica: as línguas se alteram com o passar do tempo e
Conjunto de palavras de uma língua. As variantes do plano com o uso. Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia
do léxico, como as do plano fônico, são muito numerosas e carac- e o sentido delas. Essas alterações recebem o nome de variações
terizam com nitidez uma variante em confronto com outra. São históricas.
exemplos possíveis de citar:
– as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas e, às
vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada de lado
a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca aquilo que no
Brasil chamamos de calcinha; o que chamamos de fila no Brasil,
em Portugal chamam de bicha; café da manhã em Portugal se
diz pequeno almoço; camisola em Portugal traduz o mesmo que
chamamos de suéter, malha, camiseta.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Se podemos facilitar porque complicar? O custo de uma co-
O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO municação deficiente, não se revela apenas nas relações organ-
E AS FUNÇÕES DA LINGUAGEM izacionais, causa profundo mal-estar e sérios conflitos pessoais.
Uma das alternativas para tornar a comunicação com quali-
Comunicação constitui uma das mais importantes ferramen- dade é entendermos como o processo de comunicação se realiza.
tas que as pessoas têm à sua disposição para desempenhar as Não se trata de analisarmos cada diferente tipo de comunicação,
suas funções de influência. A comunicação é frequentemente mas de identificar certos pontos em comuns entre elas. A forma
definida como a troca de informações entre um transmissor e como se relacionam e se processam nos mais diferentes ambi-
um receptor, e a inferência (percepção) do significado entre os entes e situações.
indivíduos envolvidos. Um modelo de processo de comunicação, entre tantos out-
O processo de comunicação ocorre quando o emissor (ou ros, elaborado por Berlo, em 1963, apresenta alguns elementos
codificador) emite uma mensagem (ou sinal) ao receptor (ou comuns:
decodificador), através de um canal (ou meio). O receptor inter- – emissor: é a pessoa que tem algo, uma ideia, uma men-
pretará a mensagem que pode ter chegado até ele com algum sagem, para transmitir, ou que deseja comunicar;
tipo de barreira (ruído, bloqueio, filtragem) e, a partir daí, dará o – codificador: o tipo, ou a forma que o emissor irá exteriorizar;
feedback ou resposta, completando o processo de comunicação. – mensagem: é a expressão da ideia que o emissor deseja
comunicar;
Elementos do Processo de Comunicação – canal: é o meio pelo qual a mensagem seja conduzida;
Para a comunicação1 atingir os objetivos devemos considerar – decodificador: é o mecanismo responsável pela decifração
alguns cuidados, com eles diminuímos o risco de estabelecer ruí- da mensagem pelo receptor; e
dos ou barreiras à comunicação. – receptor: o destinatário final da mensagem, ideia etc.
Para Transmissão Definição de linguagem
- Seja o mais objetivo possível. Linguagem é qualquer meio sistemático de comunicar ideias
- Tenha paciência. Fale pausadamente. Observe o ritmo do ou sentimentos através de signos convencionais, sonoros, gráfi-
outro e siga-o. cos, gestuais etc. A linguagem é individual e flexível e varia depen-
- Estude primeiro o que vai falar. Cuide para ter um objetivo dendo da idade, cultura, posição social, profissão etc. A maneira
claro.
de articular as palavras, organizá-las na frase, no texto, determina
- Procure adaptar sua linguagem a da pessoa. Não use pa-
nossa linguagem, nosso estilo (forma de expressão pessoal).
lavras difíceis, gírias ou palavras típicas de regiões que possam
As inovações linguísticas, criadas pelo falante, provocam,
prejudicar a comunicação.
com o decorrer do tempo, mudanças na estrutura da língua, que
- Observe a linguagem verbal e a não-verbal. Os gestos, as
só as incorpora muito lentamente, depois de aceitas por todo o
expressões faciais, a postura, são fundamentais para nós.
grupo social. Muitas novidades criadas na linguagem não vingam
na língua e caem em desuso.
Para Recepção
- Esteja sempre presente na situação, não “voe”, não se dis-
traia. FUNÇÕES DA LINGUAGEM
- Não pense na resposta antes do outro terminar a men- Funções da linguagem são recursos da comunicação que, de
sagem. Escute, reflita e após, exponha o seu ponto de vista. acordo com o objetivo do emissor, dão ênfase à mensagem trans-
- Anote pontos básicos se necessário. mitida, em função do contexto em que o ato comunicativo ocorre.
- Evite expressar não-verbalmente cansaço, desinteresse ou São seis as funções da linguagem, que se encontram direta-
falta de atenção. mente relacionadas com os elementos da comunicação.
- Respeite as colocações do outro. Mesmo que discorde, mos-
tre que aceita o pensamento dele. Não somos donos da verdade. Funções da Linguagem Elementos da
Comunicação
Um dos maiores vícios2 é que percebendo que temos desen-
Função referencial ou denotativa contexto
voltura para expressão, verbal, escrita ou outra, achamos que so-
mos bons comunicadores. Entretanto existe uma diferença funda- Função emotiva ou expressiva emissor
mental entre informação e comunicação. Função apelativa ou conativa receptor
Função poética mensagem
Informar é um ato unilateral, que apenas envolve a pessoa
que tem uma informação a dar. Comunicação é tornar algo co- Função fática canal
mum. Fazer-se entender, provocar no outro reações. Função metalinguística código
Outro vício, não menos importante, é nossa incapacidade de
ouvir. Precisamos saber falar, escrever, demonstrar sentimentos Função Referencial
e emoções, mas igualmente importante no processo é estarmos A função referencial tem como objetivo principal informar,
preparados para ouvir. Observe que muitas vezes numa conversa referenciar algo. Esse tipo de texto, que é voltado para o contexto
é fácil identificar que as pessoas estão muito mais preocupadas da comunicação, é escrito na terceira pessoa do singular ou do
com a maneira que irão responder. Numa análise mais fria não plural, o que enfatiza sua impessoalidade.
estão ouvindo. Para exemplificar a linguagem referencial, podemos citar os
materiais didáticos, textos jornalísticos e científicos. Todos eles,
1 https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/administracao/o-pro- por meio de uma linguagem denotativa, informam a respeito de
cesso-de-comunicacao/36775 algo, sem envolver aspectos subjetivos ou emotivos à linguagem.
2 https://www.portalcmc.com.br/o-processo-de-comunicacao/

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LÍNGUA PORTUGUESA
Exemplo de uma notícia: Exemplo:
O resultado do terceiro levantamento feito pela Aliança Glo- “Basta-me um pequeno gesto,
bal para Atividade Física de Crianças — entidade internacional feito de longe e de leve,
dedicada ao estímulo da adoção de hábitos saudáveis pelos jo- para que venhas comigo
vens — foi decepcionante. Realizado em 49 países de seis conti- e eu para sempre te leve...”
nentes com o objetivo de aferir o quanto crianças e adolescentes (Cecília Meireles)
estão fazendo exercícios físicos, o estudo mostrou que elas estão
muito sedentárias. Em 75% das nações participantes, o nível de Função Fática
atividade física praticado por essa faixa etária está muito abaixo A função fática tem como principal objetivo estabelecer um
do recomendado para garantir um crescimento saudável e um en- canal de comunicação entre o emissor e o receptor, quer para ini-
velhecimento de qualidade — com bom condicionamento físico, ciar a transmissão da mensagem, quer para assegurar a sua conti-
músculos e esqueletos fortes e funções cognitivas preservadas. De nuação. A ênfase dada ao canal comunicativo.
“A” a “F”, a maioria dos países tirou nota “D”. Esse tipo de função é muito utilizado nos diálogos, por exem-
plo, nas expressões de cumprimento, saudações, discursos ao te-
Função Emotiva lefone, etc.
Caracterizada pela subjetividade com o objetivo de emocio- Exemplo:
nar. É centrada no emissor, ou seja, quem envia a mensagem. A -- Calor, não é!?
mensagem não precisa ser clara ou de fácil entendimento. -- Sim! Li na previsão que iria chover.
Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz -- Pois é...
que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não
raro inconscientemente. Função Metalinguística
Emprega-se a expressão função emotiva para designar a uti- É caracterizada pelo uso da metalinguagem, ou seja, a lingua-
lização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto é, gem que se refere a ela mesma. Dessa forma, o emissor explica
daquele que fala. um código utilizando o próprio código.
Nessa categoria, os textos metalinguísticos que merecem
Exemplo: Nós te amamos! destaque são as gramáticas e os dicionários.
Um texto que descreva sobre a linguagem textual ou um do-
Função Conativa cumentário cinematográfico que fala sobre a linguagem do cine-
A função conativa ou apelativa é caracterizada por uma lin- ma são alguns exemplos.
guagem persuasiva com a finalidade de convencer o leitor. Por Exemplo:
isso, o grande foco é no receptor da mensagem. Amizade s.f.: 1. sentimento de grande afeição, simpatia, apre-
Trata-se de uma função muito utilizada nas propagandas, pu- ço entre pessoas ou entidades. “sentia-se feliz com a amizade do
blicidades e discursos políticos, a fim de influenciar o receptor por seu mestre”
meio da mensagem transmitida. 2. POR METONÍMIA: quem é amigo, companheiro, camarada.
Esse tipo de texto costuma se apresentar na segunda ou na “é uma de suas amizades fiéis”
terceira pessoa com a presença de verbos no imperativo e o uso
do vocativo.
Não se interfere no comportamento das pessoas apenas com RELAÇÕES SEMÂNTICO-LEXICAIS, COMO METÁFORA,
a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam de METONÍMIA, ANTONÍMIA, SINONÍMIA, HIPERONÍ-
maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como os anún- MIA, HIPONÍMIA, REITERAÇÃO, COMPARAÇÃO, RE-
cios publicitários que nos dizem como seremos bem-sucedidos, DUNDÂNCIA E OUTRAS
atraentes e charmosos se usarmos determinadas marcas, se con-
sumirmos certos produtos.
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos, Significação de palavras
que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto esperta- As palavras podem ter diversos sentidos em uma comunicação.
lhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos atemoriza- E isso também é estudado pela Gramática Normativa: quem cuida
dos, que se deixam conduzir sem questionar. dessa parte é a Semântica, que se preocupa, justamente, com os
Exemplos: Só amanhã, não perca! significados das palavras. Veremos, então, cada um dos conteúdos
Vote em mim! que compõem este estudo.

Função Poética Antônimo e Sinônimo


Esta função é característica das obras literárias que possui Começaremos por esses dois, que já são famosos.
como marca a utilização do sentido conotativo das palavras.
Nela, o emissor preocupa-se de que maneira a mensagem O Antônimo são palavras que têm sentidos opostos a outras.
Por exemplo, felicidade é o antônimo de tristeza, porque o signi-
será transmitida por meio da escolha das palavras, das expres-
ficado de uma é o oposto da outra. Da mesma forma ocorre com
sões, das figuras de linguagem. Por isso, aqui o principal elemento
homem que é antônimo de mulher.
comunicativo é a mensagem.
A função poética não pertence somente aos textos literários.
Já o sinônimo são palavras que têm sentidos aproximados e
Podemos encontrar a função poética também na publicidade ou que podem, inclusive, substituir a outra. O uso de sinônimos é mui-
nas expressões cotidianas em que há o uso frequente de metáfo- to importante para produções textuais, porque evita que você fi-
ras (provérbios, anedotas, trocadilhos, músicas). que repetindo a mesma palavra várias vezes. Utilizando os mesmos
exemplos, para ficar claro: felicidade é sinônimo de alegria/conten-
tamento e homem é sinônimo de macho/varão.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Hipônimos e Hiperônimos
Estes conceitos são simples de entender: o hipônimo designa uma palavra de sentido mais específico, enquanto que o hiperônimo
designa uma palavra de sentido mais genérico. Por exemplo, cachorro e gato são hipônimos, pois têm sentido específico. E animais domés-
ticos é uma expressão hiperônima, pois indica um sentido mais genérico de animais. Atenção: não confunda hiperônimo com substantivo
coletivo. Hiperônimos estão no ramo dos sentidos das palavras, beleza?!?!

Outros conceitos que agem diretamente no sentido das palavras são os seguintes:

Conotação e Denotação
Observe as frases:
Amo pepino na salada.
Tenho um pepino para resolver.

As duas frases têm uma palavra em comum: pepino. Mas essa palavra tem o mesmo sentido nos dois enunciados? Isso mesmo, não!
Na primeira frase, pepino está no sentido denotativo, ou seja, a palavra está sendo usada no sentido próprio, comum, dicionarizado.
Já na segunda frase, a mesma palavra está no sentindo conotativo, pois ela está sendo usada no sentido figurado e depende do con-
texto para ser entendida.
Para facilitar: denotativo começa com D de dicionário e conotativo começa com C de contexto.

Por fim, vamos tratar de um recurso muito usado em propagandas:

Ambiguidade
Observe a propaganda abaixo:

https://redacaonocafe.wordpress.com/2012/05/22/ambiguidade-na-propaganda/

Perceba que há uma duplicidade de sentido nesta construção. Podemos interpretar que os móveis não durarão no estoque da loja, por
estarem com preço baixo; ou que por estarem muito barato, não têm qualidade e, por isso, terão vida útil curta.
Essa duplicidade acontece por causa da ambiguidade, que é justamente a duplicidade de sentidos que podem haver em uma palavra,
frase ou textos inteiros.

NORMA ORTOGRÁFICA

ORTOGRAFIA OFICIAL
• Mudanças no alfabeto: O alfabeto tem 26 letras. Foram reintroduzidas as letras k, w e y.
O alfabeto completo é o seguinte: A B C D E F G H I J K L M N O P Q R S T U V W X Y Z
• Trema: Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra u para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos gue, gui,
que, qui.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Regras de acentuação 2. Prefixo terminado em consoante:
– Não se usa mais o acento dos ditongos abertos éi e ói das – Com hífen diante de mesma consoante: inter-regional, sub-
palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na penúlti- -bibliotecário.
ma sílaba) – Sem hífen diante de consoante diferente: intermunicipal,
supersônico.
Como era Como fica – Sem hífen diante de vogal: interestadual, superinteressante.

alcatéia alcateia Observações:


apóia apoia • Com o prefixo sub, usa-se o hífen também diante de palavra
iniciada por r: sub-região, sub-raça. Palavras iniciadas por h per-
apóio apoio dem essa letra e juntam-se sem hífen: subumano, subumanidade.
• Com os prefixos circum e pan, usa-se o hífen diante de pala-
Atenção: essa regra só vale para as paroxítonas. As oxítonas vra iniciada por m, n e vogal: circum-navegação, pan-americano.
continuam com acento: Ex.: papéis, herói, heróis, troféu, troféus. • O prefixo co aglutina-se, em geral, com o segundo elemen-
to, mesmo quando este se inicia por o: coobrigação, coordenar,
Nas palavras paroxítonas, não se usa mais o acento no i e no cooperar, cooperação, cooptar, coocupante.
u tônicos quando vierem depois de um ditongo. • Com o prefixo vice, usa-se sempre o hífen: vice-rei, vice-al-
mirante.
Como era Como fica • Não se deve usar o hífen em certas palavras que perderam a
noção de composição, como girassol, madressilva, mandachuva,
baiúca baiuca
pontapé, paraquedas, paraquedista.
bocaiúva bocaiuva • Com os prefixos ex, sem, além, aquém, recém, pós, pré,
pró, usa-se sempre o hífen: ex-aluno, sem-terra, além-mar,
Atenção: se a palavra for oxítona e o i ou o u estiverem em aquém-mar, recém-casado, pós-graduação, pré-vestibular, pró-
posição final (ou seguidos de s), o acento permanece. Exemplos: -europeu.
tuiuiú, tuiuiús, Piauí.
Viu? Tudo muito tranquilo. Certeza que você já está dominan-
– Não se usa mais o acento das palavras terminadas em êem do muita coisa. Mas não podemos parar, não é mesmo?!?! Por
e ôo(s). isso vamos passar para mais um ponto importante.

Como era Como fica Acentuação gráfica


Acentuação é o modo de proferir um som ou grupo de sons
abençôo abençoo com mais relevo do que outros. Os sinais diacríticos servem para
crêem creem indicar, dentre outros aspectos, a pronúncia correta das palavras.
Vejamos um por um:
– Não se usa mais o acento que diferenciava os pares pára/
para, péla(s)/ pela(s), pêlo(s)/pelo(s), pólo(s)/polo(s) e pêra/pera. Acento agudo: marca a posição da sílaba tônica e o timbre
aberto.
Atenção: Já cursei a Faculdade de História.
• Permanece o acento diferencial em pôde/pode. Acento circunflexo: marca a posição da sílaba tônica e o tim-
• Permanece o acento diferencial em pôr/por. bre fechado.
• Permanecem os acentos que diferenciam o singular do plu- Meu avô e meus três tios ainda são vivos.
ral dos verbos ter e vir, assim como de seus derivados (manter, Acento grave: marca o fenômeno da crase (estudaremos este
deter, reter, conter, convir, intervir, advir etc.). caso afundo mais à frente).
• É facultativo o uso do acento circunflexo para diferenciar as Sou leal à mulher da minha vida.
palavras forma/fôrma.
As palavras podem ser:
Uso de hífen – Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-
Regra básica: -cu-já, ra-paz, u-ru-bu...)
Sempre se usa o hífen diante de h: anti-higiênico, super-ho- – Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
mem. sa-bo-ne-te, ré-gua...)
Outros casos – Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
1. Prefixo terminado em vogal: (sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
– Sem hífen diante de vogal diferente: autoescola, antiaéreo.
– Sem hífen diante de consoante diferente de r e s: antepro- As regras de acentuação das palavras são simples. Vejamos:
jeto, semicírculo. • São acentuadas todas as palavras proparoxítonas (médico,
– Sem hífen diante de r e s. Dobram-se essas letras: antirracis- íamos, Ângela, sânscrito, fôssemos...)
mo, antissocial, ultrassom. • São acentuadas as palavras paroxítonas terminadas em L,
– Com hífen diante de mesma vogal: contra-ataque, micro- N, R, X, I(S), US, UM, UNS, OS, ÃO(S), Ã(S), EI(S) (amável, elétron,
-ondas. éter, fênix, júri, oásis, ônus, fórum, órfão...)
• São acentuadas as palavras oxítonas terminadas em A(S),
E(S), O(S), EM, ENS, ÉU(S), ÉI(S), ÓI(S) (xarás, convéns, robô, Jô,
céu, dói, coronéis...)

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LÍNGUA PORTUGUESA
• São acentuados os hiatos I e U, quando precedidos de vo- SUBSTANTIVOS Elenco (de atores)/
gais (aí, faísca, baú, juízo, Luísa...) COLETIVOS: referem-se a um acervo (de obras
conjunto de seres da mesma artísticas)/buquê (de flores)
Viu que não é nenhum bicho de sete cabeças? Agora é só trei- espécie, mesmo quando
nar e fixar as regras. empregado no singular e
constituem um substantivo
MORFOSSINTAXE DAS CLASSES DE PALAVRAS: SUBS- comum.
TANTIVO, ADJETIVO, ARTIGO, PRONOME, ADVÉRBIO, NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS
PREPOSIÇÃO, CONJUNÇÃO, INTERJEIÇÃO, NUMERAIS PALAVRAS QUE NÃO ESTÃO AQUI!
E OS SEUS RESPECTIVOS EMPREGOS. VERBO
Flexão dos Substantivos
CLASSES DE PALAVRAS • Gênero: Os gêneros em português podem ser dois: masculi-
Substantivo no e feminino. E no caso dos substantivos podem ser biformes ou
São as palavras que atribuem nomes aos seres reais ou imagi- uniformes
nários (pessoas, animais, objetos), lugares, qualidades, ações e sen- – Biformes: as palavras tem duas formas, ou seja, apresenta
timentos, ou seja, que tem existência concreta ou abstrata. uma forma para o masculino e uma para o feminino: tigre/tigresa, o
presidente/a presidenta, o maestro/a maestrina
Classificação dos substantivos – Uniformes: as palavras tem uma só forma, ou seja, uma única
forma para o masculino e o feminino. Os uniformes dividem-se em
epicenos, sobrecomuns e comuns de dois gêneros.
SUBSTANTIVO SIMPLES: Olhos/água/ a) Epicenos: designam alguns animais e plantas e são invariá-
apresentam um só radical em muro/quintal/caderno/ veis: onça macho/onça fêmea, pulga macho/pulga fêmea, palmeira
sua estrutura. macaco/sabão macho/palmeira fêmea.
SUBSTANTIVOS Macacos-prego/ b) Sobrecomuns: referem-se a seres humanos; é pelo contexto
COMPOSTOS: são formados porta-voz/ que aparecem que se determina o gênero: a criança (o criança), a
por mais de um radical em sua pé-de-moleque testemunha (o testemunha), o individuo (a individua).
estrutura. c) Comuns de dois gêneros: a palavra tem a mesma forma tanto
para o masculino quanto para o feminino: o/a turista, o/a agente,
SUBSTANTIVOS Casa/ o/a estudante, o/a colega.
PRIMITIVOS: são os que dão mundo/
origem a outras palavras, ou população • Número: Podem flexionar em singular (1) e plural (mais de 1).
seja, ela é a primeira. /formiga – Singular: anzol, tórax, próton, casa.
SUBSTANTIVOS Caseiro/mundano/ – Plural: anzóis, os tórax, prótons, casas.
DERIVADOS: são formados populacional/formigueiro
por outros radicais da língua. • Grau: Podem apresentar-se no grau aumentativo e no grau
SUBSTANTIVOS Rodrigo diminutivo.
PRÓPRIOS: designa /Brasil – Grau aumentativo sintético: casarão, bocarra.
determinado ser entre outros /Belo Horizonte/Estátua – Grau aumentativo analítico: casa grande, boca enorme.
da mesma espécie. São da Liberdade – Grau diminutivo sintético: casinha, boquinha
sempre iniciados por letra – Grau diminutivo analítico: casa pequena, boca minúscula.
maiúscula.
Adjetivo
SUBSTANTIVOS COMUNS: biscoitos/ruídos/estrelas/ É a palavra variável que especifica e caracteriza o substantivo:
referem-se qualquer ser de cachorro/prima imprensa livre, favela ocupada. Locução adjetiva é expressão com-
uma mesma espécie. posta por substantivo (ou advérbio) ligado a outro substantivo por
SUBSTANTIVOS Leão/corrente preposição com o mesmo valor e a mesma função que um adjetivo:
CONCRETOS: nomeiam seres /estrelas/fadas golpe de mestre (golpe magistral), jornal da tarde (jornal vesper-
com existência própria. Esses /lobisomem tino).
seres podem ser animadoso /saci-pererê
ou inanimados, reais ou Flexão do Adjetivos
imaginários. • Gênero:
– Uniformes: apresentam uma só para o masculino e o femini-
SUBSTANTIVOS Mistério/ no: homem feliz, mulher feliz.
ABSTRATOS: nomeiam bondade/ – Biformes: apresentam uma forma para o masculino e outra
ações, estados, qualidades confiança/ para o feminino: juiz sábio/ juíza sábia, bairro japonês/ indústria
e sentimentos que não tem lembrança/ japonesa, aluno chorão/ aluna chorona.
existência própria, ou seja, só amor/
existem em função de um ser. alegria • Número:
– Os adjetivos simples seguem as mesmas regras de flexão de
número que os substantivos: sábio/ sábios, namorador/ namorado-
res, japonês/ japoneses.
– Os adjetivos compostos têm algumas peculiaridades: luvas
branco-gelo, garrafas amarelo-claras, cintos da cor de chumbo.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Grau:
– Grau Comparativo de Superioridade: Meu time é mais vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Inferioridade: Meu time é menos vitorioso (do) que o seu.
– Grau Comparativo de Igualdade: Meu time é tão vitorioso quanto o seu.
– Grau Superlativo Absoluto Sintético: Meu time é famosíssimo.
– Grau Superlativo Absoluto Analítico: Meu time é muito famoso.
– Grau Superlativo Relativo de Superioridade: Meu time é o mais famoso de todos.
– Grau Superlativo Relativo de Inferioridade; Meu time é menos famoso de todos.

Artigo
É uma palavra variável em gênero e número que antecede o substantivo, determinando de modo particular ou genérico.
• Classificação e Flexão do Artigos
– Artigos Definidos: o, a, os, as.
O menino carregava o brinquedo em suas costas.
As meninas brincavam com as bonecas.
– Artigos Indefinidos: um, uma, uns, umas.
Um menino carregava um brinquedo.
Umas meninas brincavam com umas bonecas.

Numeral
É a palavra que indica uma quantidade definida de pessoas ou coisas, ou o lugar (posição) que elas ocupam numa série.
• Classificação dos Numerais
– Cardinais: indicam número ou quantidade:
Trezentos e vinte moradores.
– Ordinais: indicam ordem ou posição numa sequência:
Quinto ano. Primeiro lugar.
– Multiplicativos: indicam o número de vezes pelo qual uma quantidade é multiplicada:
O quíntuplo do preço.
– Fracionários: indicam a parte de um todo:
Dois terços dos alunos foram embora.

Pronome
É a palavra que substitui os substantivos ou os determinam, indicando a pessoa do discurso.
• Pronomes pessoais vão designar diretamente as pessoas em uma conversa. Eles indicam as três pessoas do discurso.

Pronomes Retos Pronomes Oblíquos


Pessoas do Discurso
Função Subjetiva Função Objetiva
1º pessoa do singular Eu Me, mim, comigo
2º pessoa do singular Tu Te, ti, contigo
3º pessoa do singular Ele, ela, Se, si, consigo, lhe, o, a
1º pessoa do plural Nós Nos, conosco
2º pessoa do plural Vós Vos, convosco
3º pessoa do plural Eles, elas Se, si, consigo, lhes, os, as

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes de Tratamento são usados no trato com as pessoas, normalmente, em situações formais de comunicação.

Pronomes de Tratamento Emprego


Você Utilizado em situações informais.
Senhor (es) e Senhora (s) Tratamento para pessoas mais velhas.
Vossa Excelência Usados para pessoas com alta autoridade
Vossa Magnificência Usados para os reitores das Universidades.
Empregado nas correspondências e textos
Vossa Senhoria
escritos.
Vossa Majestade Utilizado para Reis e Rainhas
Vossa Alteza Utilizado para príncipes, princesas, duques.
Vossa Santidade Utilizado para o Papa
Vossa Eminência Usado para Cardeais.
Vossa Reverendíssima Utilizado para sacerdotes e religiosos em geral.

• Pronomes Possessivos referem-se às pessoas do discurso, atribuindo-lhes a posse de alguma coisa.

Pessoa do Discurso Pronome Possessivo


1º pessoa do singular Meu, minha, meus, minhas
2º pessoa do singular teu, tua, teus, tuas
3º pessoa do singular seu, sua, seus, suas
1º pessoa do plural Nosso, nossa, nossos, nossas
2º pessoa do plural Vosso, vossa, vossos, vossas
3º pessoa do plural Seu, sua, seus, suas

• Pronomes Demonstrativos são utilizados para indicar a posição de algum elemento em relação à pessoa seja no discurso, no tempo
ou no espaço.

Pronomes Demonstrativos Singular Plural


Feminino esta, essa, aquela estas, essas, aquelas
Masculino este, esse, aquele estes, esses, aqueles

• Pronomes Indefinidos referem-se à 3º pessoa do discurso, designando-a de modo vago, impreciso, indeterminado. Os pronomes
indefinidos podem ser variáveis (varia em gênero e número) e invariáveis (não variam em gênero e número).

Classificação Pronomes Indefinidos


algum, alguma, alguns, algumas, nenhum, nenhuma, nenhuns, nenhumas, muito, muita, muitos, muitas,
pouco, pouca, poucos, poucas, todo, toda, todos, todas, outro, outra, outros, outras, certo, certa, certos, certas,
Variáveis
vário, vária, vários, várias, tanto, tanta, tantos, tantas, quanto, quanta, quantos, quantas, qualquer, quaisquer,
qual, quais, um, uma, uns, umas.
Invariáveis quem, alguém, ninguém, tudo, nada, outrem, algo, cada.

• Pronomes Interrogativos são palavras variáveis e invariáveis utilizadas para formular perguntas diretas e indiretas.

Classificação Pronomes Interrogativos


Variáveis qual, quais, quanto, quantos, quanta, quantas.
Invariáveis quem, que.

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LÍNGUA PORTUGUESA
• Pronomes Relativos referem-se a um termo já dito anteriormente na oração, evitando sua repetição. Eles também podem ser
variáveis e invariáveis.

Classificação Pronomes Relativos


Variáveis o qual, a qual, os quais, as quais, cujo, cuja, cujos, cujas, quanto, quanta, quantos, quantas.
Invariáveis quem, que, onde.

Verbos
São as palavras que exprimem ação, estado, fenômenos meteorológicos, sempre em relação ao um determinado tempo.

• Flexão verbal
Os verbos podem ser flexionados de algumas formas.
– Modo: É a maneira, a forma como o verbo se apresenta na frase para indicar uma atitude da pessoa que o usou. O modo é dividido
em três: indicativo (certeza, fato), subjuntivo (incerteza, subjetividade) e imperativo (ordem, pedido).
– Tempo: O tempo indica o momento em que se dá o fato expresso pelo verbo. Existem três tempos no modo indicativo: presente,
passado (pretérito perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito) e futuro (do presente e do pretérito). No subjuntivo, são três: presente, pre-
térito imperfeito e futuro.
– Número: Este é fácil: singular e plural.
– Pessoa: Fácil também: 1ª pessoa (eu amei, nós amamos); 2º pessoa (tu amaste, vós amastes); 3ª pessoa (ele amou, eles amaram).

• Formas nominais do verbo


Os verbos têm três formas nominais, ou seja, formas que exercem a função de nomes (normalmente, substantivos). São elas infinitivo
(terminado em -R), gerúndio (terminado em –NDO) e particípio (terminado em –DA/DO).
• Voz verbal
É a forma como o verbo se encontra para indicar sua relação com o sujeito. Ela pode ser ativa, passiva ou reflexiva.
– Voz ativa: Segundo a gramática tradicional, ocorre voz ativa quando o verbo (ou locução verbal) indica uma ação praticada pelo
sujeito. Veja:
João pulou da cama atrasado
– Voz passiva: O sujeito é paciente e, assim, não pratica, mas recebe a ação. A voz passiva pode ser analítica ou sintética. A voz passiva
analítica é formada por:
Sujeito paciente + verbo auxiliar (ser, estar, ficar, entre outros) + verbo principal da ação conjugado no particípio + preposição por/
pelo/de + agente da passiva.
A casa foi aspirada pelos rapazes

A voz passiva sintética, também chamada de voz passiva pronominal (devido ao uso do pronome se) é formada por:
Verbo conjugado na 3.ª pessoa (no singular ou no plural) + pronome apassivador «se» + sujeito paciente.
Aluga-se apartamento.

Advérbio
É a palavra invariável que modifica o verbo, adjetivo, outro advérbio ou a oração inteira, expressando uma determinada circunstância.
As circunstâncias dos advérbios podem ser:
– Tempo: ainda, cedo, hoje, agora, antes, depois, logo, já, amanhã, tarde, sempre, nunca, quando, jamais, ontem, anteontem, breve-
mente, atualmente, à noite, no meio da noite, antes do meio-dia, à tarde, de manhã, às vezes, de repente, hoje em dia, de vez em quando,
em nenhum momento, etc.
– Lugar: Aí, aqui, acima, abaixo, ali, cá, lá, acolá, além, aquém, perto, longe, dentro, fora, adiante, defronte, detrás, de cima, em cima,
à direita, à esquerda, de fora, de dentro, por fora, etc.
– Modo: assim, melhor, pior, bem, mal, devagar, depressa, rapidamente, lentamente, apressadamente, felizmente, às pressas, às
ocultas, frente a frente, com calma, em silêncio, etc.
– Afirmação: sim, deveras, decerto, certamente, seguramente, efetivamente, realmente, sem dúvida, com certeza, por certo, etc.
– Negação: não, absolutamente, tampouco, nem, de modo algum, de jeito nenhum, de forma alguma, etc.
– Intensidade: muito, pouco, mais, menos, meio, bastante, assaz, demais, bem, mal, tanto, tão, quase, apenas, quanto, de pouco, de
todo, etc.
– Dúvida: talvez, acaso, possivelmente, eventualmente, porventura, etc.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Preposição
É a palavra que liga dois termos, de modo que o segundo complete o sentido do primeiro. As preposições são as seguintes:

Conjunção
É palavra que liga dois elementos da mesma natureza ou uma oração a outra. As conjunções podem ser coordenativas (que ligam
orações sintaticamente independentes) ou subordinativas (que ligam orações com uma relação hierárquica, na qual um elemento é de-
terminante e o outro é determinado).
• Conjunções Coordenativas
Tipos Conjunções Coordenativas
Aditivas e, mas ainda, mas também, nem...
Adversa-
contudo, entretanto, mas, não obstante, no entanto, porém, todavia...
tivas
Alterna-
já…, já…, ou, ou…, ou…, ora…, ora…, quer…, quer…
tivas
Conclu- assim, então, logo, pois (depois do verbo), por conseguinte, por isso, portan-
sivas to...
Explicativas pois (antes do verbo), porquanto, porque, que...

• Conjunções Subordinativas

Tipos Conjunções Subordinativas


Causais Porque, pois, porquanto, como, etc.
Concessivas Embora, conquanto, ainda que, mesmo que, posto que, etc.
Condicionais Se, caso, quando, conquanto que, salvo se, sem que, etc.
Conforme, como (no sentido de conforme), segundo, consoante,
Conformativas
etc.
Finais Para que, a fim de que, porque (no sentido de que), que, etc.
Proporcionais À medida que, ao passo que, à proporção que, etc.
Temporais Quando, antes que, depois que, até que, logo que, etc.
Que, do que (usado depois de mais, menos, maior, menor, melhor,
Comparativas
etc.
Que (precedido de tão, tal, tanto), de modo que, De maneira que,
Consecutivas
etc.
Integrantes Que, se.

Interjeição
É a palavra invariável que exprime ações, sensações, emoções, apelos, sentimentos e estados de espírito, traduzindo as reações das
pessoas.
• Principais Interjeições
Oh! Caramba! Viva! Oba! Alô! Psiu! Droga! Tomara! Hum!

Dez classes de palavras foram estudadas agora. O estudo delas é muito importante, pois se você tem bem construído o que é e a fun-
ção de cada classe de palavras, não terá dificuldades para entender o estudo da Sintaxe.

32
LÍNGUA PORTUGUESA

CONCORDÂNCIA VERBAL E NOMINAL REGÊNCIA NOMINAL E VERBAL

Concordância Nominal • Regência Nominal


Os adjetivos, os pronomes adjetivos, os numerais e os artigos A regência nominal estuda os casos em que nomes (subs-
concordam em gênero e número com os substantivos aos quais tantivos, adjetivos e advérbios) exigem outra palavra para com-
se referem. pletar-lhes o sentido. Em geral a relação entre um nome e o seu
Os nossos primeiros contatos começaram de maneira amis- complemento é estabelecida por uma preposição.
tosa.
• Regência Verbal
Casos Especiais de Concordância Nominal A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre o
• Menos e alerta são invariáveis na função de advérbio: verbo (termo regente) e seu complemento (termo regido).
Colocou menos roupas na mala./ Os seguranças continuam Isto pertence a todos.
alerta.
Regência de algumas palavras
• Pseudo e todo são invariáveis quando empregados na for-
mação de palavras compostas:
Cuidado com os pseudoamigos./ Ele é o chefe todo-poderoso. Esta palavra combina com Esta preposição
Acessível a
• Mesmo, próprio, anexo, incluso, quite e obrigado variam
de acordo com o substantivo a que se referem: Apto a, para
Elas mesmas cozinhavam./ Guardou as cópias anexas. Atencioso com, para com
Coerente com
• Muito, pouco, bastante, meio, caro e barato variam quan-
do pronomes indefinidos adjetivos e numerais e são invariáveis Conforme a, com
quando advérbios: Dúvida acerca de, de, em, sobre
Muitas vezes comemos muito./ Chegou meio atrasada./ Usou
Empenho de, em, por
meia dúzia de ovos.
Fácil a, de, para,
• Só varia quando adjetivo e não varia quando advérbio: Junto a, de
Os dois andavam sós./ A respostas só eles sabem.
• É bom, é necessário, é preciso, é proibido variam quando o Pendente de
substantivo estiver determinado por artigo: Preferível a
É permitida a coleta de dados./ É permitido coleta de dados.
Próximo a, de
Concordância Verbal Respeito a, com, de, para com, por
O verbo concorda com seu sujeito em número e pessoa: Situado a, em, entre
O público aplaudiu o ator de pé./ A sala e quarto eram enor-
mes. Ajudar (a fazer algo) a
Aludir (referir-se) a
Concordância ideológica ou silepse
Aspirar (desejar, pretender) a
• Silepse de gênero trata-se da concordância feita com o gê-
nero gramatical (masculino ou feminino) que está subentendido Assistir (dar assistência) Não usa preposição
no contexto. Deparar (encontrar) com
Vossa Excelência parece satisfeito com as pesquisas.
Blumenau estava repleta de turistas. Implicar (consequência) Não usa preposição
• Silepse de número trata-se da concordância feita com o nú- Lembrar Não usa preposição
mero gramatical (singular ou plural) que está subentendido no
Pagar (pagar a alguém) a
contexto.
O elenco voltou ao palco e [os atores] agradeceram os aplau- Precisar (necessitar) de
sos. Proceder (realizar) a
• Silepse de pessoa trata-se da concordância feita com a pes-
soa gramatical que está subentendida no contexto. Responder a
O povo temos memória curta em relação às promessas dos Visar ( ter como objetivo a
políticos. pretender)
NÃO DEIXE DE PESQUISAR A REGÊNCIA DE OUTRAS PALAVRAS
QUE NÃO ESTÃO AQUI!

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LÍNGUA PORTUGUESA

COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAIS

Prezado candidato(a) o tema supracitado já foi abordado em tópicos anteriores.

SINTAXE: RELAÇÕES SINTÁTICO-SEMÂNTICAS ESTABELECIDAS ENTRE ORAÇÕES, PERÍODOS OU PARÁGRAFOS (PERÍO-


DO SIMPLES E PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO)

Agora chegamos no assunto que causa mais temor em muitos estudantes. Mas eu tenho uma boa notícia para te dar: o estudo
da sintaxe é mais fácil do que parece e você vai ver que sabe muita coisa que nem imagina. Para começar, precisamos de classificar
algumas questões importantes:

• Frase: Enunciado que estabelece uma comunicação de sentido completo.


Os jornais publicaram a notícia.
Silêncio!

• Oração: Enunciado que se forma com um verbo ou com uma locução verbal.
Este filme causou grande impacto entre o público.
A inflação deve continuar sob controle.

• Período Simples: formado por uma única oração.


O clima se alterou muito nos últimos dias.

• Período Composto: formado por mais de uma oração.


O governo prometeu/ que serão criados novos empregos.

Bom, já está a clara a diferença entre frase, oração e período. Vamos, então, classificar os elementos que compõem uma oração:

• Sujeito: Termo da oração do qual se declara alguma coisa.


O problema da violência preocupa os cidadãos.
• Predicado: Tudo que se declara sobre o sujeito.
A tecnologia permitiu o resgate dos operários.

• Objeto Direto: Complemento que se liga ao verbo transitivo direto ou ao verbo transitivo direto e indireto sem o auxílio da pre-
posição.
A tecnologia tem possibilitado avanços notáveis.
Os pais oferecem ajuda financeira ao filho.

• Objeto Indireto: Complemento que se liga ao verbo transitivo indireto ou ao verbo transitivo direto e indireto por meio de pre-
posição.
Os Estados Unidos resistem ao grave momento.
João gosta de beterraba.

• Adjunto Adverbial: Termo modificador do verbo que exprime determinada circunstância (tempo, lugar, modo etc.) ou intensifica
um verbo, adjetivo ou advérbio.
O ônibus saiu à noite quase cheio, com destino a Salvador.
Vamos sair do mar.

• Agente da Passiva: Termo da oração que exprime quem pratica a ação verbal quando o verbo está na voz passiva.
Raquel foi pedida em casamento por seu melhor amigo.
• Adjunto Adnominal: Termo da oração que modifica um substantivo, caracterizando-o ou determinando-o sem a intermediação
de um verbo.
Um casal de médicos eram os novos moradores do meu prédio.

• Complemento Nominal: Termo da oração que completa nomes, isto é, substantivos, adjetivos e advérbios, e vem preposicionado.
A realização do torneio teve a aprovação de todos.

• Predicativo do Sujeito: Termo que atribui característica ao sujeito da oração.


A especulação imobiliária me parece um problema.
• Predicativo do Objeto: Termo que atribui características ao objeto direto ou indireto da oração.
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LÍNGUA PORTUGUESA
O médico considerou o paciente hipertenso.
• Aposto: Termo da oração que explica, esclarece, resume ou identifica o nome ao qual se refere (substantivo, pronome ou equi-
valentes). O aposto sempre está entre virgulas ou após dois-pontos.
A praia do Forte, lugar paradisíaco, atrai muitos turistas.

• Vocativo: Termo da oração que se refere a um interlocutor a quem se dirige a palavra.


Senhora, peço aguardar mais um pouco.

Tipos de orações
As partes de uma oração já está fresquinha aí na sua cabeça, não é?!?! Estudar os tipos de orações que existem será moleza, mo-
leza. Vamos comigo!!!
Temos dois tipos de orações: as coordenadas, cuja as orações de um período são independentes (não dependem uma da outra
para construir sentido completo); e as subordinadas, cuja as orações de um período são dependentes (dependem uma da outra para
construir sentido completo).
As orações coordenadas podem ser sindéticas (conectadas uma a outra por uma conjunção) e assindéticas (que não precisam da
conjunção para estar conectadas. O serviço é feito pela vírgula).

Tipos de orações coordenadas

Orações Coordenadas Sindéticas Orações Coordenadas Assindéticas

Aditivas Fomos para a escola e fizemos o exame final. • Lena estava triste, cansada, decepcionada.
Adversativas Pedro Henrique estuda muito, porém não passa •
no vestibular. • Ao chegar à escola conversamos, estudamos,
lanchamos.
Alternativas Manuela ora quer comer hambúrguer, ora quer
comer pizza. Alfredo está chateado, pensando em se mudar.
Conclusivas Não gostamos do restaurante, portanto não
iremos mais lá. Precisamos estar com cabelos arrumados, unhas feitas.

Explicativas Marina não queria falar, ou seja, ela estava de João Carlos e Maria estão radiantes, alegria que dá inveja.
mau humor.

Tipos de orações subordinadas


As orações subordinadas podem ser substantivas, adjetivas e adverbiais. Cada uma delas tem suas subclassificações, que veremos
agora por meio do quadro seguinte.

Orações Subordinadas
Subjetivas É certo que ele trará os a sobremesa do
Exercem a função de sujeito jantar.
Completivas Nominal Estou convencida de que ele é solteiro.
Exercem a função de complemento nominal
Predicativas O problema é que ele não entregou a
Orações Subordinadas Exercem a função de predicativo refeição no lugar.
Substantivas Apositivas Eu lhe disse apenas isso: que não se
Exercem a função de aposto aborrecesse com ela.
Objetivas Direta Lembrou-se da dívida que tem com ele.
Exercem a função de objeto direto
Objetivas Indireta Espero que você seja feliz.
Exercem a função de objeto indireto

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LÍNGUA PORTUGUESA

Explicativas Os alunos, que foram mal na prova de


Explicam um termo dito anteriormente. SEMPRE serão quinta, terão aula de reforço.
Orações Subordinadas acompanhadas por vírgula.
Adjetivas Restritivas Os alunos que foram mal na prova de quinta
Restringem o sentido de um termo dito anteriormente. terão aula de reforço.
NUNCA serão acompanhadas por vírgula.

Causais Estou vestida assim porque vou sair.


Assumem a função de advérbio de causa
Consecutivas Falou tanto que ficou rouca o resto do dia.
Assumem a função de advérbio de consequência
Comparativas A menina comia como um adulto come.
Assumem a função de advérbio de comparação
Condicionais Desde que ele participe, poderá entrar na
Assumem a função de advérbio de condição reunião.
Orações Subordinadas Conformativas O shopping fechou, conforme havíamos
Adverbiais Assumem a função de advérbio de conformidade previsto.
Concessivas Embora eu esteja triste, irei à festa mais
Assumem a função de advérbio de concessão tarde.
Finais Vamos direcionar os esforços para que todos
Assumem a função de advérbio de finalidade tenham acesso aos benefícios.
Proporcionais Quanto mais eu dormia, mais sono tinha.
Assumem a função de advérbio de proporção
Temporais Quando a noite chega, os morcegos saem de
Assumem a função de advérbio de tempo suas casas.

Olha como esse quadro facilita a vida, não é?! Por meio dele, conseguimos ter uma visão geral das classificações e subclassificações
das orações, o que nos deixa mais tranquilos para estudá-las.

PONTUAÇÃO
Pontuação
Com Nina Catach, entendemos por pontuação um “sistema de reforço da escrita, constituído de sinais sintáticos, destinados a
organizar as relações e a proporção das partes do discurso e das pausas orais e escritas. Estes sinais também participam de todas as
funções da sintaxe, gramaticais, entonacionais e semânticas”. (BECHARA, 2009, p. 514)
A partir da definição citada por Bechara podemos perceber a importância dos sinais de pontuação, que é constituída por alguns
sinais gráficos assim distribuídos: os separadores (vírgula [ , ], ponto e vírgula [ ; ], ponto final [ . ], ponto de exclamação [ ! ], reti-
cências [ ... ]), e os de comunicação ou “mensagem” (dois pontos [ : ], aspas simples [‘ ’], aspas duplas [ “ ” ], travessão simples [ – ],
travessão duplo [ — ], parênteses [ ( ) ], colchetes ou parênteses retos [ [ ] ], chave aberta [ { ], e chave fechada [ } ]).

Ponto ( . )
O ponto simples final, que é dos sinais o que denota maior pausa, serve para encerrar períodos que terminem por qualquer tipo
de oração que não seja a interrogativa direta, a exclamativa e as reticências.
Estaremos presentes na festa.

Ponto de interrogação ( ? )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação interrogativa ou de incerteza, real ou fingida, também chamada retórica.
Você vai à festa?

Ponto de exclamação ( ! )
Põe-se no fim da oração enunciada com entonação exclamativa.
Ex: Que bela festa!

Reticências ( ... )
Denotam interrupção ou incompletude do pensamento (ou porque se quer deixar em suspenso, ou porque os fatos se dão com
breve espaço de tempo intervalar, ou porque o nosso interlocutor nos toma a palavra), ou hesitação em enunciá-lo.
Ex: Essa festa... não sei não, viu.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Dois-pontos ( : ) Perceba que, na frase acima, não há o uso de vírgula. Isso
Marcam uma supressão de voz em frase ainda não concluí- ocorre por alguns motivos:
da. Em termos práticos, este sinal é usado para: Introduzir uma 1) NÃO se separa com vírgula o sujeito de seu predicado.
citação (discurso direto) e introduzir um aposto explicativo, enu- 2) NÃO se separa com vírgula o verbo e seus complementos.
merativo, distributivo ou uma oração subordinada substantiva 3) Não é aconselhável usar vírgula entre o complemento do
apositiva. verbo e o adjunto.
Ex: Uma bela festa: cheia de alegria e comida boa.
Podemos estabelecer, então, que se a frase estiver na ordem
Ponto e vírgula ( ; ) comum (SVOAdj), não usaremos vírgula. Caso contrário, a vírgula
Representa uma pausa mais forte que a vírgula e menos que é necessária:
o ponto, e é empregado num trecho longo, onde já existam vírgu- Ontem, Maria foi à padaria.
las, para enunciar pausa mais forte, separar vários itens de uma Maria, ontem, foi à padaria.
enumeração (frequente em leis), etc. À padaria, Maria foi ontem.
Ex: Vi na festa os deputados, senadores e governador; vi tam-
bém uma linda decoração e bebidas caras. Além disso, há outros casos em que o uso de vírgulas é ne-
cessário:
Travessão ( — ) • Separa termos de mesma função sintática, numa enume-
Não confundir o travessão com o traço de união ou hífen e ração.
com o traço de divisão empregado na partição de sílabas (ab-so- Simplicidade, clareza, objetividade, concisão são qualidades a
-lu-ta-men-te) e de palavras no fim de linha. O travessão pode serem observadas na redação oficial.
substituir vírgulas, parênteses, colchetes, para assinalar uma ex- • Separa aposto.
pressão intercalada e pode indicar a mudança de interlocutor, na Aristóteles, o grande filósofo, foi o criador da Lógica.
transcrição de um diálogo, com ou sem aspas. • Separa vocativo.
Ex: Estamos — eu e meu esposo — repletos de gratidão. Brasileiros, é chegada a hora de votar.
• Separa termos repetidos.
Parênteses e colchetes ( ) – [ ] Aquele aluno era esforçado, esforçado.
Os parênteses assinalam um isolamento sintático e semântico
mais completo dentro do enunciado, além de estabelecer maior • Separa certas expressões explicativas, retificativas, exempli-
intimidade entre o autor e o seu leitor. Em geral, a inserção do ficativas, como: isto é, ou seja, ademais, a saber, melhor dizendo,
parêntese é assinalada por uma entonação especial. Intimamente ou melhor, quer dizer, por exemplo, além disso, aliás, antes, com
ligados aos parênteses pela sua função discursiva, os colchetes efeito, digo.
são utilizados quando já se acham empregados os parênteses, O político, a meu ver, deve sempre usar uma linguagem clara,
para introduzirem uma nova inserção. ou seja, de fácil compreensão.
Ex: Vamos estar presentes na festa (aquela organizada pelo
governador) • Marca a elipse de um verbo (às vezes, de seus complemen-
tos).
Aspas ( “ ” ) O decreto regulamenta os casos gerais; a portaria, os particu-
As aspas são empregadas para dar a certa expressão sentido lares. (= ... a portaria regulamenta os casos particulares)
particular (na linguagem falada é em geral proferida com entoa-
ção especial) para ressaltar uma expressão dentro do contexto ou • Separa orações coordenadas assindéticas.
para apontar uma palavra como estrangeirismo ou gíria. É utiliza- Levantava-me de manhã, entrava no chuveiro, organizava as
da, ainda, para marcar o discurso direto e a citação breve. ideias na cabeça...
Ex: O “coffe break” da festa estava ótimo.
• Isola o nome do lugar nas datas.
Vírgula Rio de Janeiro, 21 de julho de 2006.
São várias as regras que norteiam o uso das vírgulas. Eviden-
ciaremos, aqui, os principais usos desse sinal de pontuação. Antes • Isolar conectivos, tais como: portanto, contudo, assim,
disso, vamos desmistificar três coisas que ouvimos em relação à dessa forma, entretanto, entre outras. E para isolar, também, ex-
vírgula: pressões conectivas, como: em primeiro lugar, como supracitado,
1º – A vírgula não é usada por inferência. Ou seja: não “senti- essas informações comprovam, etc.
mos” o momento certo de fazer uso dela. Fica claro, portanto, que ações devem ser tomadas para ame-
2º – A vírgula não é usada quando paramos para respirar. Em nizar o problema.
alguns contextos, quando, na leitura de um texto, há uma vírgula,
o leitor pode, sim, fazer uma pausa, mas isso não é uma regra. FUNÇÕES DO “QUE” E DO “SE”
Afinal, cada um tem seu tempo de respiração, não é mesmo?!?!
3º – A vírgula tem sim grande importância na produção de
textos escritos. Não caia na conversa de algumas pessoas de que As palavras “que” e “se” podem exercer inúmeros papéis em
ela é menos importante e que pode ser colocada depois. uma frase, como conjunção, pronome, partícula expletiva ou de
Agora, precisamos saber que a língua portuguesa tem uma realce etc.
ordem comum de construção de suas frases, que é Sujeito > Ver-
bo > Objeto > Adjunto, ou seja, (SVOAdj). Funções do “QUE”
Maria foi à padaria ontem. Funções morfológicas: A palavra “que” pode pertencer às se-
Sujeito Verbo Objeto Adjunto guintes classes gramaticais:

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LÍNGUA PORTUGUESA
– Substantivo Não saiam, que vai chover.
Precedido de artigo ou outro termo que funcione como ad-
junto adnominal, e recebe acento. c) Adversativa: dá ideia de oposição. Pode ser substituída por
“mas”, “porém”, “contudo”.
Percebi um quê de mistério. Ele tem uma coragem que eu não.

– Pronome d) Alternativa: denota alternância entre ideias.


interrogativo: Que deixem, que não deixem, farei o que quero.
Que livros você leu? (= quais)
De que eles estavam reclamando? (= que coisa) Funções sintáticas: O pronome “que” pode desempenhar as
seguintes funções sintáticas:
indefinido: é precedido por substantivo. Equivale a
QUANTO(A). – Sujeito
Veja que horas o ônibus sai. (= quantas) Há muros que impedem a felicidade.

c) relativo: inicia a oração subordinada adjetiva, e pode ser – Objeto direto


substituído por: o qual, a qual, os quais, as quais. Os carros que vimos são interessantes.
Os móveis que me restam são de doações.
– Objeto indireto
– Preposição A mulher a que me referi, partiu.
Equivalente à preposição de.
Você tem que ir à festa. – Predicativo
“Não conheço que fui no que hoje sou.”
– Advérbio de intensidade
Aparece antes de adjetivos, e equivale a QUÃO. – Adjunto adnominal
Que difícil foi o trabalho! (=quão) Que horas são?

– Interjeição – Complemento nominal


Representa surpresa, e recebe acento. É usado com ponto de O partido a que sou afiliado é este.
exclamação.
Quê! Todos sumiram! – Adjunto adverbial
Esta é a empresa em que trabalho.
– Partícula expletiva (ou de realce)
É uma expressão dispensável no ponto de sintático. – Agente da passiva
Quase que ela tropeçou. Encontrou-se a arma por que ele foi alvejado.

– Conjunção subordinativa Funções do “SE”


a) Integrante: inicia a oração subordinada substantiva. Pode
ser trocada pelo termo “isso”. Funções morfológicas
É certo que ele seja reconhecido.
– Conjunção subordinativa
b) Causal: carrega em si a relação de causa e efeito. Pode ser a) Integrante:
substituída por “porque”. Não sei se vocês já foram à Londres.
Faça tudo certo, que se sua mãe chega e vê vira uma fera!
b) Condicional:
c) Comparativa: Se você prefere ser feliz, arrisque-se.
Os homens são mais lentos que as mulheres.
c) Concessiva:
d)Temporal: Se não traçou o próprio destino, ficou à mercê da sorte.
“Já são oito anos passados que nos separamos.”

e) Consecutiva: d) Causal:
Estudou tanto, que caiu no sono. Se ele sabe o que quer da vida, sabe que precisa tratar bem
f) Concessiva: uma mulher.
Jovem que é, não gosta de esporte.
– Conjunção coordenativa alternativa
– Conjunção coordenativa Se há lágrimas, se há risos, a felicidade habita em seu cora-
ção.
a) Aditiva: dá ideia de adição, e pode ser trocada pela con- – Pronome (ou partícula) apassivador
junção “e”. Vendem-se ovos.
“Dize-me com quem andas, que te direi quem és.”
– Partícula (ou índice) de indeterminação do sujeito
b) Explicativa: equivale a “porque”, “pois”. Vive-se bem.

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LÍNGUA PORTUGUESA
– Parte integrante de verbo Fonema: os fonemas são as menores unidades sonoras da fala.
Ele se arrependeu de tê-la deixado. Atenção: estamos falando de menores unidades de som, não de sí-
labas. Observe a diferença: na palavra pato a primeira sílaba é pa-.
– Partícula expletiva ou de realce (junto a verbos intransi- Porém, o primeiro som é pê (P) e o segundo som é a (A).
tivos) Letra: as letras são as menores unidades gráfica de uma pa-
Passam-se as horas. lavra.

– Pronome Sintetizando: na palavra pato, pa- é a primeira sílaba; pê é o


a) Reflexivo: primeiro som; e P é a primeira letra.
Ele feriu-se com a faca. Agora que já sabemos todas essas diferenciações, vamos en-
tender melhor o que é e como se compõe uma sílaba.
b) Recíproco:
Mãe e filho deram-se as mãos. Sílaba: A sílaba é um fonema ou conjunto de fonemas que emi-
tido em um só impulso de voz e que tem como base uma vogal.
Funções sintáticas: Como pronome, o se pode exercer as se- A sílabas são classificadas de dois modos:
guintes funções sintáticas:
Classificação quanto ao número de sílabas:
– Objeto direto As palavras podem ser:
Marina se apressou em pedir perdão. – Monossílabas: as que têm uma só sílaba (pé, pá, mão, boi,
luz, é...)
– Objeto indireto – Dissílabas: as que têm duas sílabas (café, leite, noites, caí,
O réu reservou-se no direito de permanecer calado. bota, água...)
– Trissílabas: as que têm três sílabas (caneta, cabeça, saúde,
– Sujeito (de uma oração infinitiva) circuito, boneca...)
– Polissílabas: as que têm quatro ou mais sílabas (casamento,
Marcus deixou-se estar à espera dela.”
jesuíta, irresponsabilidade, paralelepípedo...)

FONÉTICA E FONOLOGIA: SOM E FONEMA, ENCONTROS Classificação quanto à tonicidade


VOCÁLICOS E CONSONANTAIS E DÍGRAFOS As palavras podem ser:
– Oxítonas: quando a sílaba tônica é a última (ca-fé, ma-ra-cu-
-já, ra-paz, u-ru-bu...)
Muitas pessoas acham que fonética e fonologia são sinônimos.
– Paroxítonas: quando a sílaba tônica é a penúltima (me-sa,
Mas, embora as duas pertençam a uma mesma área de estudo, elas
sa-bo-ne-te, ré-gua...)
são diferentes.
– Proparoxítonas: quando a sílaba tônica é a antepenúltima
(sá-ba-do, tô-ni-ca, his-tó-ri-co…)
Fonética
Segundo o dicionário Houaiss, fonética “é o estudo dos sons da
Lembre-se que:
fala de uma língua”. O que isso significa? A fonética é um ramo da
Tônica: a sílaba mais forte da palavra, que tem autonomia fo-
Linguística que se dedica a analisar os sons de modo físico-articula-
nética.
dor. Ou seja, ela se preocupa com o movimento dos lábios, a vibra-
Átona: a sílaba mais fraca da palavra, que não tem autonomia
ção das cordas vocais, a articulação e outros movimentos físicos,
fonética.
mas não tem interesse em saber do conteúdo daquilo que é falado.
Na palavra telefone: te-, le-, ne- são sílabas átonas, pois são
A fonética utiliza o Alfabeto Fonético Internacional para representar
mais fracas, enquanto que fo- é a sílaba tônica, já que é a pronun-
cada som.
ciada com mais força.
Sintetizando: a fonética estuda o movimento físico (da boca,
Agora que já sabemos essas classificações básicas, precisamos
lábios...) que cada som faz, desconsiderando o significado desses
entender melhor como se dá a divisão silábica das palavras.
sons.

Fonologia
A fonologia também é um ramo de estudo da Linguística, mas
ela se preocupa em analisar a organização e a classificação dos
Divisão silábica
sons, separando-os em unidades significativas. É responsabilidade
A divisão silábica é feita pela silabação das palavras, ou seja,
da fonologia, também, cuidar de aspectos relativos à divisão silábi-
pela pronúncia. Sempre que for escrever, use o hífen para separar
ca, à acentuação de palavras, à ortografia e à pronúncia.
uma sílaba da outra. Algumas regras devem ser seguidas neste pro-
cesso:
Sintetizando: a fonologia estuda os sons, preocupando-se com
Não se separa:
o significado de cada um e não só com sua estrutura física.
• Ditongo: encontro de uma vogal e uma semivogal na mesma
sílaba (cau-le, gai-o-la, ba-lei-a...)
Bom, agora que sabemos que fonética e fonologia são coisas
• Tritongo: encontro de uma semivogal, uma vogal e uma semi-
diferentes, precisamos de entender o que é fonema e letra.
vogal na mesma sílaba (Pa-ra-guai, quais-quer, a-ve-ri-guou...)
• Dígrafo: quando duas letras emitem um único som na pala-
vra. Não separamos os dígrafos ch, lh, nh, gu e qu (fa-cha-da, co-
-lhei-ta, fro-nha, pe-guei...)

39
LÍNGUA PORTUGUESA
• Encontros consonantais inseparáveis: re-cla-mar, psi-có-lo- tosse, engasgar > engasgo, telefonar > telefone
-go, pa-trão...) • Imprópria (conversão): Você tem aracnofobia? (radical) /
Eu tenho muitas fobias. (substantivo)
Deve-se separar: • Ocorre Composição quando uma palavra é constituída por
• Hiatos: vogais que se encontram, mas estão é sílabas vizinhas dois ou mais radicais. Há dois tipos de composição: por justaposi-
(sa-ú-de, Sa-a-ra, ví-a-mos...) ção e por aglutinação. Vejamos!
• Os dígrafos rr, ss, sc, e xc (car-ro, pás-sa-ro, pis-ci-na, ex-ce- • Composição por justaposição: pontapé (ponta + pé), vai-
-ção...) vém (vai + vem), passatempo (passa + tempo)
• Encontros consonantais separáveis: in-fec-ção, mag-nó-lia, • Composição por aglutinação: boquiaberto (boca + aberta),
rit-mo...) mundividência (mundo + vidência),fidalgo (filho de algo)

FORMAÇÃO DE PALAVRAS Outros processos de formação de palavras:


• Onomatopeia: bangue-bangue, zum-zum-zum, blá-blá-blá.
Antes de estudarmos os processos de formação de palavras, • Abreviação: televisão > tevê, motocicleta > moto, fotografia
precisamos relembrar alguns conceitos de estrutura das palavras > foto
que irão nos ajudar bastante. A parte de Estrutura das Palavras • Siglonimização: UFMG (Universidade Federal de Minas Ge-
trata dos conceitos de radical, prefixo, sufixo e desinência. Veja- rais), PT (Partido dos Trabalhadores), Petrobras (Petróleo do Bra-
mos, rapidamente, cada uma delas. sil S/A)
Radical é a base da palavra, é a parte responsável pela signi- • Hibridismo: socio/logia (latim e grego), auto/móvel (grego e
ficação principal dela, assim como pela formação de novas. Sem latim), tele/visão (grego e latim)
radical não há palavra(s). • Palavra-valise: sofrer + professor > sofressor, aborrecer +
amargo, amargor, amargura, amargurar, amargurado adolescente > aborrecente

Os afixos são morfemas derivacionais ligados ao radical e ca-


USO DA CRASE
pazes de modificar o seu significado, formando palavras novas.
Existem dois tipos: os prefixos e os sufixos.
O Prefixo vem antes do radical para ampliar sua significação e A crase é a fusão de duas vogais idênticas. A primeira vogal a
formar nova palavra. é uma preposição, a segunda vogal a é um artigo ou um pronome
ateu, analfabeto, anestesia demonstrativo.
a (preposição) + a(s) (artigo) = à(s)
O Sufixo vem depois do radical para ampliar seu sentido e
formar nova palavra. • Devemos usar crase:
pançudo, maçudo – Antes palavras femininas:
Iremos à festa amanhã
Desinências são morfemas flexionais colocados após os ra- Mediante à situação.
dicais. Apenas indicam, no caso dos nomes, o gênero e o número O Governo visa à resolução do problema.
das palavras; no caso dos verbos, indicam o modo, o tempo, o nú-
mero e a pessoa. Tais morfemas não formam novas palavras, mas – Locução prepositiva implícita “à moda de, à maneira de”
flexionam, variam, mudam levemente a forma da mesma palavra, Devido à regra, o acento grave é obrigatoriamente usado nas
indicando certos aspectos. Portanto, não confunda desinência locuções prepositivas com núcleo feminino iniciadas por a:
com sufixo! Os frangos eram feitos à moda da casa imperial.
Elas podem ser nominais (gênero e número) ou verbais (mo- Às vezes, porém, a locução vem implícita antes de substan-
do-temporais e número-pessoais). tivos masculinos, o que pode fazer você pensar que não rola a
aluna, aluno, alunas, alunos, estávamos (pretérito imperfeito crase. Mas... há crase, sim!
do modo indicativo/ 1º pessoa do plural) Depois da indigestão, farei uma poesia à Drummond, vestir-
-me-ei à Versace e entregá-la-ei à tímida aniversariante.
Agora sim! Já sabemos um pouco da base que nos ajudará a
entender melhor os processos de formação de palavras. – Expressões fixas
Existem algumas maneiras para a formação de novos vocábu- Existem algumas expressões em que sempre haverá o uso de
los na língua, logo esta parte trata justamente dos diversos modos crase:
como as palavras se formam. Os principais processos são estes: à vela, à lenha, à toa, à vista, à la carte, à queima-roupa, à
derivação, composição, onomatopeia (reduplicação), abreviação vontade, à venda, à mão armada, à beça, à noite, à tarde, às ve-
(redução), siglonimização, hibridismo, palavra-valise (combina- zes, às pressas, à primeira vista, à hora certa, àquela hora, à es-
ção). querda, à direita, à vontade, às avessas, às claras, às escuras, à
mão, às escondidas, à medida que, à proporção que.
A Derivação é um processo de multiplicação e reaproveita- • NUNCA devemos usar crase:
mento de um vocábulo pelo acréscimo de sufixos e prefixos. Ela – Antes de substantivos masculinos:
pode ser prefixal, sufixal, parassintética, regressiva e imprópria. Andou a cavalo pela cidadezinha, mas preferiria ter andado
• Derivação sufixal: livraria, livrinho, livresco. a pé.
• Derivação prefixal: reter, deter, conter.
• Parassintética: envelhecer (en + velho + ecer), aterrar (a + – Antes de substantivo (masculino ou feminino, singular ou
terra + ar), abençoar (a + bênção + ar). plural) usado em sentido generalizador:
• Regressiva: atrasar > atraso, demorar > demora, tossir > Depois do trauma, nunca mais foi a festas.

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LÍNGUA PORTUGUESA
Não foi feita menção a mulher, nem a criança, tampouco a Assinale a alternativa em que, com a mudança da posição do
homem. pronome em relação ao verbo, conforme indicado nos parênte-
ses, a redação permanece em conformidade com a norma-padrão
– Antes de artigo indefinido “uma” de colocação dos pronomes.
Iremos a uma reunião muito importante no domingo. (A) ... há melhora nas escolas quando se incluem alunos com
deficiência. (incluem-se)
– Antes de pronomes (B) ... em educação especial inclusiva, contam-se não muito
Obs.: A crase antes de pronomes possessivos é facultativa. mais que 100 mil deles no país. (se contam)
(C) Não se concebe que possa haver um especialista em cada
Fizemos referência a Vossa Excelência, não a ela. sala de aula. (concebe-se)
A quem vocês se reportaram no Plenário? (D) Aí, ao menos um profissional preparado se encarrega de
Assisto a toda peça de teatro no RJ, afinal, sou um crítico. receber o aluno... (encarrega-se)
(E) ... que não se confunde com incapacidade, como felizmente
– Antes de verbos no infinitivo já vamos aprendendo. (confunde-se)
A partir de hoje serei um pai melhor, pois voltei a trabalhar.
2. (Prefeitura de Caranaíba - MG - Agente Comunitário de
Saúde - FCM - 2019)
EXERCÍCIOS
Dieta salvadora
1. (Prefeitura de Piracicaba - SP - Professor - Educação Infan- A ciência descobre um micróbio adepto de um
til - VUNESP - 2020) alimento abundante: o lixo plástico no mar.

Escola inclusiva O ser humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar


o câncer e produzir um “Dom Quixote”. Só não consegue dar um
É alvissareira a constatação de que 86% dos brasileiros con- destino razoável ao lixo que produz. E não se contenta em brin-
cordam que há melhora nas escolas quando se incluem alunos dar os mares, rios e lagoas com seus próprios dejetos. Intoxica-os
com deficiência. também com garrafas plásticas, pneus, computadores, sofás e até
Uma década atrás, quando o país aderiu à Convenção sobre carcaças de automóveis. Tudo que perde o uso é atirado num cur-
os Direitos das Pessoas com Deficiência e assumiu o dever de uma so d’água, subterrâneo ou a céu aberto, que se encaminha inevi-
educação inclusiva, era comum ouvir previsões negativas para tal tavelmente para o mar. O resultado está nas ilhas de lixo que se
perspectiva generosa. Apesar das dificuldades óbvias, ela se tor- formam, da Guanabara ao Pacífico.
nou lei em 2015 e criou raízes no tecido social. De repente, uma boa notícia. Cientistas da Grécia, Suíça, Itá-
A rede pública carece de profissionais satisfatoriamente qua- lia, China e dos Emirados Árabes descobriram em duas ilhas gre-
lificados até para o mais básico, como o ensino de ciências; o que gas um micróbio marinho que se alimenta do carbono contido no
dizer então de alunos com gama tão variada de dificuldades. plástico jogado ao mar. Parece que, depois de algum tempo ao sol
Os empecilhos vão desde o acesso físico à escola, como o e atacado pelo sal, o plástico, seja mole, como o das sacolas, ou
enfrentado por cadeirantes, a problemas de aprendizado criados duro, como o das embalagens, fica quebradiço – no ponto para
por limitações sensoriais – surdez, por exemplo – e intelectuais. que os micróbios, de guardanapo ao pescoço, o decomponham
Bastaram alguns anos de convívio em sala, entretanto, para e façam a festa. Os cientistas estão agora criando réplicas desses
minorar preconceitos. A maioria dos entrevistados (59%), hoje, micróbios, para que eles ajudem os micróbios nativos a devorar o
discorda de que crianças com deficiência devam aprender só na lixo. Haja estômago.
companhia de colegas na mesma condição. Em “A Guerra das Salamandras”, romance de 1936 do tcheco
Tal receptividade decerto não elimina o imperativo de contar Karel Čapek (pronuncia-se tchá-pek), um explorador descobre na
com pessoal capacitado, em cada estabelecimento, para lidar com costa de Sumatra uma raça de lagartos gigantes, hábeis em colher
necessidades específicas de cada aluno. O censo escolar indica 1,2 pérolas e construir diques submarinos. Em troca das pérolas que as
milhão de alunos assim categorizados. Embora tenha triplicado o salamandras lhe entregam, ele lhes fornece facas para se defende-
número de professores com alguma formação em educação es- rem dos tubarões. O resto, você adivinhou: as salamandras se re-
pecial inclusiva, contam-se não muito mais que 100 mil deles no produzem, tornam-se milhões, ocupam os litorais, aprendem a fa-
país. Não se concebe que possa haver um especialista em cada lar e inundam os continentes. São agora bilhões e tomam o mundo.
sala de aula. Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem
As experiências mais bem-sucedidas criaram na escola uma se tornar as salamandras de Čapek. É que, no livro, as salaman-
estrutura para o atendimento inclusivo, as salas de recursos. Aí, dras aprendem a gerir o mundo melhor do que nós. Com os mi-
ao menos um profissional preparado se encarrega de receber o cróbios no comando, nossos mares, pelo menos, estarão a salvo.
aluno e sua família para definir atividades e de auxiliar os docen- Ruy Castro, jornalista, biógrafo e escritor brasileiro. Folha de
tes do período regular nas técnicas pedagógicas. S. Paulo. Caderno Opinião, p. A2, 20 mai. 2019.
Não faltam casos exemplares na rede oficial de ensino. Com-
pete ao Estado disseminar essas iniciativas exitosas por seus es- Os pronomes pessoais oblíquos átonos, em relação ao verbo,
tabelecimentos. Assim se combate a tendência ainda existente a possuem três posições: próclise (antes do verbo), mesóclise (no
segregar em salas especiais os estudantes com deficiência – que meio do verbo) e ênclise (depois do verbo).
não se confunde com incapacidade, como felizmente já vamos Avalie as afirmações sobre o emprego dos pronomes oblíquos
aprendendo. nos trechos a seguir.
(Editorial. Folha de S.Paulo, 16.10.2019. Adaptado) I – A próclise se justifica pela presença da palavra negativa:
“E não se contenta em brindar os mares, rios e lagoas com seus

41
LÍNGUA PORTUGUESA
próprios dejetos.” gência e colocação.
II – A ênclise ocorre por se tratar de oração iniciada por ver- Uma nuvem de problematização supostamente filosófica
bo: “Intoxica-os também com garrafas plásticas, pneus, computa- também rondaria a discussão. / Alguma ingenuidade conceitual
dores, sofás e até carcaças de automóveis.” poderia marcar o ambientalismo apologético.
III – A próclise é sempre empregada quando há locução ver- (A) ... lhe rondaria ... o poderia marcar
bal: “Não quero dizer que os micróbios comedores de lixo podem (B) ... rondá-la-ia ... poderia marcar ele
se tornar as salamandras de Čapek.” (C) ... rondaria-a ... podê-lo-ia marcar
IV – O sujeito expresso exige o emprego da ênclise: “O ser (D) ... rondaria-lhe ... poderia o marcar
humano revelou-se capaz de dividir o átomo, derrotar o câncer e (E) ... a rondaria ... poderia marcá-lo
produzir um ‘Dom Quixote’”.
4. (Prefeitura de Cabo de Santo Agostinho - PE - Técnico em
Está correto apenas o que se afirma em Saneamento - IBFC - 2019)
(A) I e II.
(B) I e III. Vou-me embora pra Pasárgada,
(C) II e IV. lá sou amigo do Rei”.
(D) III e IV. (M.Bandeira)

3. (Prefeitura de Birigui - SP - Educador de Creche - VUNESP Quanto à regra de colocação pronominal utilizada, assinale a
- 2019) alternativa correta.
(A) Ênclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
Certo discurso ambientalista tradicional recorrentemente bus- pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto
ca indícios de que o problema ambiental seja universal (e de fato é), ao verbo.
atemporal (nem tanto) e generalizado (o que é desejável). Alguma (B) Próclise: em orações iniciadas com verbos no presente ou
ingenuidade conceitual poderia marcar o ambientalismo apologéti- pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto
co; haveria dilemas ambientais em todos os lugares, tempos, cultu- ao verbo.
ras. É a bambificação(*) da natureza. Necessária, no entanto, como (C) Mesóclise: em orações iniciadas com verbos no presente
condição de sobrevivência. Há quem tenha encontrado normas ou pretérito afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado pos-
ambientais na Bíblia, no Direito grego, e até no Direito romano. São posto ao verbo.
Francisco de Assis, nessa linha, prosaica, seria o santo padroeiro (E) Próclise: em orações iniciadas com verbos no imperativo
das causas ambientais; falava com plantas e animais. afirmativo, o pronome oblíquo deve ser usado posposto ao verbo.
A proteção do meio ambiente seria, nesse contexto, instin-
tiva, predeterminando objeto e objetivo. Por outro lado, e este 5. (Prefeitura de Peruíbe - SP - Inspetor de Alunos - VUNESP
é o meu argumento, quando muito, e agora utilizo uma catego- - 2019)
ria freudiana, a pretensão de proteção ambiental seria pulsional,
dado que resiste a uma pressão contínua, variável na intensidade. Pelo fim das fronteiras
Assim, numa dimensão qualitativa, e não quantitativa, é que se
deveria enfrentar a questão, que também é cultural. E que cultu- Imigração é um fenômeno estranho. Do ponto de vista pu-
ralmente pode ser abordada. ramente racional, ela é a solução para vários problemas globais.
O problema, no entanto, é substancialmente econômico. O Mas, como o mundo é um lugar menos racional do que deveria,
dilema ambiental só se revela como tal quando o meio ambiente pessoas que buscam refúgio em outros países costumam ser rece-
passa a ser limite para o avanço da atividade econômica. É nesse bidas com desconfiança quando não com violência, o que diminui
sentido que a chamada internalização da externalidade negativa o valor da imigração como remédio multiuso.
exige justificativa para uma atuação contra-fática. No plano econômico, a plena mobilidade da mão de obra se-
Uma nuvem de problematização supostamente filosófica ria muito bem-vinda. Segundo algumas estimativas, ela faria o PIB
também rondaria a discussão. Antropocêntricos acreditam que a mundial aumentar em até 50%. Mesmo que esses cálculos este-
proteção ambiental seria narcisística, centrada e referenciada no jam inflados, só uma fração de 10% já significaria um incremento
próprio homem. Os geocêntricos piamente entendem que a natu- da ordem de US$ 10 trilhões (uns cinco Brasis).
reza deva ser protegida por próprios e intrínsecos fundamentos e Uma das principais razões para o mundo ser mais pobre do
características. Posições se radicalizam. que poderia é que enormes contingentes de humanos vivem sob
A linha de argumento do ambientalista ingênuo lembra-nos sistemas que os impedem de ser produtivos. Um estudo de 2016
o “salto do tigre” enunciado pelo filósofo da cultura Walter Ben- de Clemens, Montenegro e Pritchett estimou que só tirar um tra-
jamin, em uma de suas teses sobre a filosofia da história. Qual balhador macho sem qualificação de seu país pobre de origem e
um tigre mergulhamos no passado, e apenas apreendemos o que transportá-lo para os EUA elevaria sua renda anual em US$ 14 mil.
interessa para nossa argumentação. É o que se faz, a todo tempo. A imigração se torna ainda mais tentadora quando se con-
(Arnaldo Sampaio de Moraes Godoy. Disponível em: https:// sidera que é a resposta perfeita para países desenvolvidos que
www.conjur.com.br/2011. Acesso em: 10.08.2019. Adaptado) enfrentam o problema do envelhecimento populacional.
Não obstante tantas virtudes, imigrantes podem ser mal-
(*) Referência ao personagem Bambi, filhote de cervo conhe- tratados e até perseguidos quando cruzam a fronteira, especial-
cido como “Príncipe da Floresta”, em sua saga pela sobrevivência mente se vêm em grandes números. Isso está acontecendo até
na natureza. no Brasil, que não tinha histórico de xenofobia. Desconfio de que
estão em operação aqui vieses da Idade da Pedra, tempo em que
Assinale a alternativa que reescreve os trechos destacados membros de outras tribos eram muito mais uma ameaça do que
empregando pronomes, de acordo com a norma-padrão de re- uma solução.

42
LÍNGUA PORTUGUESA
De todo modo, caberia às autoridades incentivar a imigração, (C) preposição
tomando cuidado para evitar que a chegada dos estrangeiros dê (D) advérbio
pretexto para cenas de barbárie. Isso exigiria recebê-los com inte- (E) substantivo
ligência, minimizando choques culturais e distribuindo as famílias
por regiões e cidades em que podem ser mais úteis. É tudo o que 8. (Prefeitura de Blumenau - SC - Professor - Português – Ma-
não estamos fazendo. tutino - FURB – 2019)
(Hélio Schwartsman. Disponível em: https://www1.folha.uol.
com.br/colunas/.28.08.2018. Adaptado) Determinado, batalhador, estudioso, dedicado e inquieto.
Considere as frases: Muitos são os adjetivos que encontramos nos livros de história
• países desenvolvidos que enfrentam o problema do enve- para definir Hermann Blumenau. Desde os primeiros anos da co-
lhecimento populacional. (4º parágrafo) lônia, esteve determinado a construir uma casa melhor para viver
• ... minimizando choques culturais e distribuindo as famílias com sua família, talvez em um terreno que lhe pertencia no mor-
por regiões e cidades em que podem ser mais ro do aipim. Infelizmente, nunca concretizou este sonho, porém,
úteis. (6º parágrafo) nunca deixou de zelar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.[...]
Disponível em: <https://www.blumenau.sc.gov.br/secreta-
A substituição das expressões em destaque por pronomes rias/fundacao-cultural/fcblu/memaoria-digital-ao-comemoraa-
está de acordo com a norma-padrão de emprego e colocação em: caao-200-anos-dr-blumenau85>. Acesso em: 05 set. 2019. [adap-
(A) enfrentam-no; distribuindo-lhes. tado]
(B) o enfrentam; lhes distribuindo.
(C) o enfrentam; distribuindo-as. Sobre a colocação dos pronomes átonos nos excertos: “...tal-
(D) enfrentam-no; lhes distribuindo. vez em um terreno que lhe pertencia no morro do aipim.” e “...ze-
(E) lhe enfrentam; distribuindo-as. lar por tudo aquilo que lhe dizia respeito.”, podemos afirmar que
ambas as próclises estão corretas, pois o verbo está precedido
6. (Prefeitura de Peruíbe - SP – Secretário de escola - VU- de palavras que atraem o pronome para antes do verbo. Assinale
NESP - 2019) a alternativa que identifica essas palavras atrativas dos excertos:
Considere a frase a seguir. Como as crianças são naturalmen- (A) palavras de sentido negativo
te agitadas, cabe aos adultos impor às crianças limites que garan- (B) advérbios
tam às crianças um desenvolvimento saudável. Para eliminar as (C) conjunções subordinativas
repetições da frase, as expressões destacadas devem ser substi- (D) pronomes demonstrativos
tuídas, em conformidade com a norma-padrão da língua, respec- (E) pronomes relativos
tivamente, por
(A) impor-nas ... lhes garantam 9. (FEMPERJ – VALEC – JORNALISTA – 2012) Intertextualida-
(B) impor-lhes ... as garantam de é a presença de um texto em outro; o pensamento abaixo que
(C) impô-las ... lhes garantam NÃO se fundamenta em intertextualidade é:
(D) impô-las ... as garantam (A) “Se tudo o que é bom dura pouco, eu já deveria ter morrido
(E) impor-lhes ... lhes garantam há muito tempo.”
(B) “Nariz é essa parte do corpo que brilha, espirra, coça e se
7. (Prefeitura de Blumenau - SC - Professor - Geografia – Ma- mete onde não é chamada.”
tutino- FURB – 2019) (C) “Une-te aos bons e será um deles. Ou fica aqui com a gente
mesmo!”
O tradicional desfile do aniversário de Blumenau, que com- (D) “Vamos fazer o feijão com arroz. Se puder botar um ovo,
pleta 169 anos de fundação nesta segunda-feira, teve outra data tudo bem.”
especial para comemorar: os 200 anos de nascimento do Doutor (E) “O Neymar é invendável, inegociável e imprestável.”
Hermann Blumenau. __________ 15 mil pessoas que estiveram
na Rua XV de Novembro nesta manhã acompanhando o desfile, 10. (FDC – PROFESSOR DE PORTUGUÊS II – 2005) Marque a
de acordo com estimativa da Fundação Cultural, conheceram um série em que o hífen está corretamente empregado nas cinco pa-
pouco mais da vida do fundador do município. [...] O desfile tam- lavras:
bém apresentou aspectos da colonização alemã no Vale do Itajaí. (A) pré-nupcial, ante-diluviano, anti-Cristo, ultra-violeta, infra-
Dessa forma, as bandeiras e moradores das 42 cidades do territó- -vermelho.
rio original de Blumenau, que foi fundado por Hermann, também (B) vice-almirante, ex-diretor, super-intendente, extrafino, in-
estiveram representadas na Rua XV de Novembro. [...] fra-assinado.
Disponível em: <https://www.nsctotal.com.br/noticias/desfi- (C) anti-alérgico, anti-rábico, ab-rupto, sub-rogar, antihigiênico.
le-em-blumenau-comemora-o-aniversario-da-cidade-e-os-200-a- (D) extraoficial, antessala, contrassenso, ultrarrealismo, con-
nos-do-fundador>.Acesso em: 02 set. 2019.[adaptado] trarregra.
(E) co-seno, contra-cenar, sobre-comum, sub-humano, infra-
No mesmo excerto “Dessa forma, as bandeiras e moradores -mencionado.
das 42 cidades do território original de Blumenau, que foi fun-
dado por Hermann, também estiveram representadas na Rua XV
de Novembro.”, a palavra destacada pertence à classe gramatical:
(A) conjunção
(B) pronome

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LÍNGUA PORTUGUESA
11. (ESAF – SRF – AUDITOR-FISCAL DA RECEITA FEDERAL – pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes, de peque-
2003) Indique o item em que todas as palavras estão corretamen- nas providências que, tomadas por figurantes aparentemente
te empregadas e grafadas. sem importância, ditam o rumo de toda a história.
(A) A pirâmide carcerária assegura um contexto em que o po- (B) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
der de infringir punições legais a cidadãos aparece livre de pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes, de pequenas
qualquer excesso e violência. providências que tomadas por figurantes, aparentemente sem
(B) Nos presídios, os chefes e subchefes não devem ser exata- importância, ditam o rumo de toda a história.
mente nem juízes, nem professores, nem contramestres, nem (C) Os personagens principais de uma história, responsáveis
suboficiais, nem “pais”, porém avocam a si um pouco de tudo pelo sentido maior dela dependem muitas vezes de pequenas
isso, num modo de intervenção específico. providências, que, tomadas por figurantes aparentemente,
(C) O carcerário, ao homogeinizar o poder legal de punir e o sem importância, ditam o rumo de toda a história.
poder técnico de disciplinar, ilide o que possa haver de violento (D) Os personagens principais, de uma história, responsáveis
em um e de arbitrário no outro, atenuando os efeitos de revol- pelo sentido maior dela, dependem, muitas vezes de pequenas
ta que ambos possam suscitar. providências, que tomadas por figurantes aparentemente sem
(D) No singular poder de punir, nada mais lembra o antigo po- importância, ditam o rumo de toda a história.
der do soberano iminente que vingava sua autoridade sobre o (E) Os personagens principais de uma história, responsáveis,
corpo dos supliciados. pelo sentido maior dela, dependem muitas vezes de peque-
(E) A existência de uma proibição legal cria em torno dela um nas providências, que tomadas por figurantes, aparentemente,
campo de práticas ilegais, sob o qual se chega a exercer con- sem importância, ditam o rumo de toda a história.
trole e aferir lucro ilícito, mas que se torna manejável por sua
organização em delinqüência. 16. (CESGRANRIO – BNDES – ADVOGADO – 2004) No título
do artigo “A tal da demanda social”, a classe de palavra de “tal” é:
12. (FCC – METRÔ/SP – ASSISTENTE ADMINISTRATIVO JÚ- (A) pronome;
NIOR – 2012) A frase que apresenta INCORREÇÕES quanto à or- (B) adjetivo;
tografia é: (C) advérbio;
(A) Quando jovem, o compositor demonstrava uma capacidade (D) substantivo;
extraordinária de imitar vários estilos musicais. (E) preposição.
(B) Dizem que o músico era avesso à ideia de expressar senti-
mentos pessoais por meio de sua música. 17. Assinale a alternativa que apresenta a correta classifica-
(C) Poucos estudiosos se despõem a discutir o empacto das com- ção morfológica do pronome “alguém” (l. 44).
posições do músico na cultura ocidental. (A) Pronome demonstrativo.
(D) Salvo algumas exceções, a maioria das óperas do compositor (B) Pronome relativo.
termina em uma cena de reconciliação entre os personagens. (C) Pronome possessivo.
(E) Alguns acreditam que o valor da obra do compositor se deve (D) Pronome pessoal.
mais à árdua dedicação do que a arroubos de inspiração. (E) Pronome indefinido.

13. (CESGRANRIO – FINEP – TÉCNICO – 2011) A vírgula pode


ser retirada sem prejuízo para o significado e mantendo a norma
padrão na seguinte sentença:
(A) Mário, vem falar comigo depois do expediente.
(B) Amanhã, apresentaremos a proposta de trabalho.
(C) Telefonei para o Tavares, meu antigo chefe.
(D) Encomendei canetas, blocos e crachás para a reunião.
(E) Entrou na sala, cumprimentou a todos e iniciou o discurso.

14. (CESGRANRIO – PETROBRAS – TÉCNICO DE ENFERMA-


GEM DO TRABALHO – 2011) Há ERRO quanto ao emprego dos 18. Em relação à classe e ao emprego de palavras no texto,
sinais de pontuação em: na oração “A abordagem social constitui-se em um processo de
(A) Ao dizer tais palavras, levantou-se, despediu-se dos convi- trabalho planejado de aproximação” (linhas 1 e 2), os vocábulos
dados e retirou-se da sala: era o final da reunião. sublinhados classificam-se, respectivamente, em
(B) Quem disse que, hoje, enquanto eu dormia, ela saiu sorra- (A) preposição, pronome, artigo, adjetivo e substantivo.
teiramente pela porta? (B) pronome, preposição, artigo, substantivo e adjetivo.
(C) Na infância, era levada e teimosa; na juventude, tornou-se (C) conjunção, preposição, numeral, substantivo e pronome.
tímida e arredia; na velhice, estava sempre alheia a tudo. (D) pronome, conjunção, artigo, adjetivo e adjetivo.
(D) Perdida no tempo, vinham-lhe à lembrança a imagem mui- (E) conjunção, conjunção, numeral, substantivo e advérbio.
to branca da mãe, as brincadeiras no quintal, à tarde, com os
irmãos e o mundo mágico dos brinquedos.
(E) Estava sempre dizendo coisas de que mais tarde se arrepen-
deria. Prometia a si própria que da próxima vez, tomaria cuida-
do com as palavras, o que entretanto, não acontecia.

15. (FCC – INFRAERO – ADMINISTRADOR – 2011) Está inteira-


mente correta a pontuação do seguinte período:
(A) Os personagens principais de uma história, responsáveis

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LÍNGUA PORTUGUESA
19. (VUNESP – TJ/SP – ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2011) Assinale a alternativa em que a concordância verbal está correta.
(A) Haviam cooperativas de catadores na cidade de São Paulo.
(B) O lixo de casas e condomínios vão para aterros.
(C) O tratamento e a destinação corretos do lixo evitaria que 35% deles fosse despejado em aterros.
(D) Fazem dois anos que a prefeitura adia a questão do lixo.
(E) Somos nós quem paga a conta pelo descaso com a coleta de lixo.

20. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2012) Assinale a opção que fornece a correta justificativa para as rela-
ções de concordância no texto abaixo.
O bom desempenho do lado real da economia proporcionou um período de vigoroso crescimento da arrecadação. A maior lucrati-
vidade das empresas foi decisiva para os resultados fiscais favoráveis. Elevaram-se, de forma significativa e em valores reais, deflacio-
nados pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), as receitas do Imposto de Renda Pessoa Jurídica (IRPJ), a Contribuição Social
sobre o Lucro Líquido (CSLL), e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins). O crescimento da massa de salários
fez aumentar a arrecadação do Imposto de Renda Pessoa Física (IRPF) e a receita de tributação sobre a folha da previdência social. Não
menos relevantes foram os elevados ganhos de capital, responsáveis pelo aumento da arrecadação do IRPF.
(A) O uso do plural em “valores” é responsável pela flexão de plural em “deflacionados”.
(B) O plural em “resultados” é responsável pela flexão de plural em “Elevaram-se”.
(C) Emprega-se o singular em “proporcionou” para respeitar as regras de concordância com “economia”.
(D) O singular em “a arrecadação” é responsável pela flexão de singular em “fez aumentar”.
(E) A flexão de plural em “foram” justifica-se pela concordância com “relevantes”.

21. (FCC – TRE/MG – TÉCNICO JUDICIÁRIO – 2005) As liberdades ...... se refere o autor dizem respeito a direitos ...... se ocupa a
nossa Constituição. Preenchem de modo correto as lacunas da frase acima, na ordem dada, as expressões:
(A) a que – de que;
(B) de que – com que;
(C) a cujas – de cujos;
(D) à que – em que;
(E) em que – aos quais.

22. (ESAF – CGU – ANALISTA DE FINANÇAS E CONTROLE – 2008) Assinale o trecho que apresenta erro de regência.
(A) Depois de um longo período em que apresentou taxas de crescimento econômico que não iam além dos 3%, o Brasil fecha o ano
de 2007 com uma expansão de 5,3%, certamente a maior taxa registrada na última década.
(B) Os dados ainda não são definitivos, mas tudo sugere que serão confirmados. A entidade responsável pelo estudo foi a conhecida
Comissão Econômica para a América Latina (CEPAL).
(C) Não há dúvida de que os números são bons, num momento em que atingimos um bom superávit em conta-corrente, em que se revela
queda no desemprego e até se anuncia a ampliação de nossas reservas monetárias, além da descoberta de novas fontes de petróleo.
(D) Mesmo assim, olhando-se para os vizinhos de continente, percebe-se que nossa performance é inferior a que foi atribuída a Argen-
tina (8,6%) e a alguns outros países com participação menor no conjunto dos bens produzidos pela América Latina.
(E) Nem é preciso olhar os exemplos da China, Índia e Rússia, com crescimento acima desses patamares. Ao conjunto inteiro da Amé-
rica Latina, o organismo internacional está atribuindo um crescimento médio, em 2007, de 5,6%, um pouco maior do que o do Brasil.
23. (FGV – SENADO FEDERAL – POLICIAL LEGISLATIVO FEDERAL – 2008) Assinale a alternativa em que se tenha optado correta-
mente por utilizar ou não o acento grave indicativo de crase.
(A) Vou à Brasília dos meus sonhos.
(B) Nosso expediente é de segunda à sexta.
(C) Pretendo viajar a Paraíba.
(D) Ele gosta de bife à cavalo.

24. (FDC – MAPA – ANALISTA DE SISTEMAS – 2010) Na oração “Eles nos deixaram À VONTADE” e no trecho “inviabilizando o ata-
que, que, naturalmente, deveria ser feito À DISTÂNCIA”, observa-se a ocorrência da crase nas locuções adverbiais em caixa-alta. Nas
locuções das frases abaixo também ocorre a crase, que deve ser marcada com o acento, EXCETO em:
(A) Todos estavam à espera de uma solução para o problema.
(B) À proporção que o tempo passava, maior era a angústia do eleitorado pelo resultado final.
(C) Um problema à toa emperrou o funcionamento do sistema.
(D) Os técnicos estavam face à face com um problema insolúvel.
(E) O Tribunal ficou à mercê dos hackers que invadiram o sistema.

25. Levando-se em consideração os conceitos de frase, oração e período, é correto afirmar que o trecho abaixo é considerado um
(a):
“A expectativa é que o México, pressionado pelas mudanças americanas, entre na fila.”
(A) Frase, uma vez que é composta por orações coordenadas e subordinadas.
(B) Período, composto por três orações.
(C) Oração, pois possui sentido completo.
(D) Período, pois é composto por frases e orações.

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LÍNGUA PORTUGUESA
26. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – MECÂNICO DE VEÍCULOS 31. (ACEP – PREF. QUIXADÁ/CE – PSICÓLOGO – 2010) No pe-
– 2007) Leia a seguinte sentença: Joana tomou um sonífero e não ríodo “O essencial é o seguinte: //nunca antes neste país houve
dormiu. Assinale a alternativa que classifica corretamente a se- um governo tão imbuído da ideia // de que veio // para recomeçar
gunda oração. a história.”, a oração sublinhada é classificada como:
(A) Oração coordenada assindética aditiva. (A) coordenada assindética;
(B) Oração coordenada sindética aditiva. (B) subordinada substantiva completiva nominal;
(C) Oração coordenada sindética adversativa. (C) subordinada substantiva objetiva indireta;
(D) Oração coordenada sindética explicativa. (D) subordinada substantiva apositiva.
(E) Oração coordenada sindética alternativa.
32. (CESGRANRIO – SEPLAG/BA – PROFESSOR PORTUGUÊS
27. (AOCP – PREF. DE CATU/BA – BIBLIOTECÁRIO – 2007) – 2010) Estabelece relação de hiperonímia/hiponímia, nessa or-
Leia a seguinte sentença: Não precisaremos voltar ao médico nem dem, o seguinte par de palavras:
fazer exames. Assinale a alternativa que classifica corretamente (A) estrondo – ruído;
as duas orações. (B) pescador – trabalhador;
(A) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver- (C) pista – aeroporto;
sativa. (D) piloto – comissário;
(B) Oração principal e oração coordenada sindética aditiva. (E) aeronave – jatinho.
(C) Oração coordenada assindética e oração coordenada aditiva.
(D) Oração principal e oração subordinada adverbial consecutiva. 33. (VUNESP – SEAP/SP – AGENTE DE ESCOLTA E VIGILÂNCIA
(E) Oração coordenada assindética e oração coordenada adver-
PENITENCIÁRIA – 2012) No trecho – Para especialistas, fica uma
bial consecutiva.
questão: até que ponto essa exuberância econômica no Brasil é
sustentável ou é apenas mais uma bolha? – o termo em destaque
28. (EMPASIAL – TJ/SP – ESCREVENTE JUDICIÁRIO – 1999)
tem como antônimo:
Analise sintaticamente a oração em destaque:
(A) fortuna;
“Bem-aventurados os que ficam, porque eles serão recom-
(B) opulência;
pensados” (Machado de Assis).
(C) riqueza;
(A) oração subordinada substantiva completiva nominal.
(D) escassez;
(B) oração subordinada adverbial causal.
(E) abundância.
(C) oração subordinada adverbial temporal desenvolvida.
(D) oração coordenada sindética conclusiva.
Leia o texto abaixo para responder a questão.
(E) oração coordenada sindética explicativa.
A lama que ainda suja o Brasil
29. (FGV – SENADO FEDERAL – TÉCNICO LEGISLATIVO – AD-
Fabíola Perez(fabiola.perez@istoe.com.br)
MINISTRAÇÃO – 2008) “Mas o fato é que transparência deixou de
ser um processo de observação cristalina para assumir um discur-
A maior tragédia ambiental da história do País escancarou um
so de políticas de averiguação de custos engessadas que pouco ou
dos principais gargalos da conjuntura política e econômica brasi-
quase nada retratam as necessidades de populações distintas.”.
leira: a negligência do setor privado e dos órgãos públicos diante
A oração grifada no trecho acima classifica-se como:
de um desastre de repercussão mundial. Confirmada a morte do
(A) subordinada substantiva predicativa;
Rio Doce, o governo federal ainda não apresentou um plano de
(B) subordinada adjetiva restritiva;
recuperação efetivo para a área (apenas uma carta de intenções).
(C) subordinada substantiva subjetiva;
Tampouco a mineradora Samarco, controlada pela brasileira Vale
(D) subordinada substantiva objetiva direta;
e pela anglo-australiana BHP Billiton. A única medida concreta foi
(E) subordinada adjetiva explicativa.
a aplicação da multa de R$ 250 milhões – sendo que não há ga-
rantias de que ela será usada no local. “O leito do rio se perdeu
30. (FUNCAB – PREF. PORTO VELHO/RO – MÉDICO – 2009)
e a calha profunda e larga se transformou num córrego raso”, diz
No trecho abaixo, as orações introduzidas pelos termos grifados
Malu Ribeiro, coordenadora da rede de águas da Fundação SOS
são classificadas, em relação às imediatamente anteriores, como:
Mata Atlântica, sobre o desastre em Mariana, Minas Gerais. “O
“Não há dúvida de que precisaremos curtir mais o dia a dia,
volume de rejeitos se tornou uma bomba relógio na região.”
mas nunca à custa de nossos filhos...”
Para agravar a tragédia, a empresa declarou que existem ris-
(A) subordinada substantiva objetiva indireta e coordenada sin-
cos de rompimento nas barragens de Germano e de Santarém. Se-
dética adversativa;
(B) subordinada adjetiva restritiva e coordenada sindética expli- gundo o Departamento Nacional de Produção Mineral, pelo menos
cativa; 16 barragens de mineração em todo o País apresentam condições
(C) subordinada adverbial conformativa e subordinada adverbial de insegurança. “O governo perdeu sua capacidade de aparelhar
concessiva; órgãos técnicos para fiscalização”, diz Malu. Na direção oposta
(D) subordinada substantiva completiva nominal e coordenada Ao caminho da segurança, está o projeto de lei 654/2015, do
sindética adversativa; senador Romero Jucá (PMDB-RR) que prevê licença única em um
(E) subordinada adjetiva restritiva e subordinada adverbial con- tempo exíguo para obras consideradas estratégicas. O novo marco
cessiva. regulatório da mineração, por sua vez, também concede prioridade à
ação de mineradoras. “Ocorrerá um aumento dos conflitos judiciais,
o que não será interessante para o setor empresarial”, diz Maurício
Guetta, advogado do Instituto Sócio Ambiental (ISA). Com o avanço
dessa legislação outros danos irreversíveis podem ocorrer.
FONTE: http://www.istoe.com.br/reportagens/441106_A+LA MA+QUE+AIN-
DA+SUJA+O+BRASIL

46
LÍNGUA PORTUGUESA
34. Observe as assertivas relacionadas ao texto lido: balterno, indo adiante; vai só mostrando o caminho, vai fazendo o
I. O texto é predominantemente narrativo, já que narra um trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo, ligo, ajunto…
fato. Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da barone-
II. O texto é predominantemente expositivo, já que pertence sa. Não sei se disse que isto se passava em casa de uma baronesa,
ao gênero textual editorial. que tinha a modista ao pé de si, para não andar atrás dela. Chegou
III. O texto é apresenta partes narrativas e partes expositivas, a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da linha, en-
já que se trata de uma reportagem. fiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando
IV. O texto apresenta partes narrativas e partes expositivas, já orgulhosas, pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre
se trata de um editorial. os dedos da costureira, ágeis como os galgos de Diana — para dar
a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
Analise as assertivas e responda: — Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não
(A) Somente a I é correta. repara que esta distinta costureira só se importa comigo; eu é que vou
(B) Somente a II é incorreta. aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando abaixo e acima…
(C) Somente a III é correta A linha não respondia nada; ia andando. Buraco aberto pela
(D) A III e IV são corretas. agulha era logo enchido por ela, silenciosa e ativa, como quem sabe
o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A agulha vendo que
35. Observe as assertivas relacionadas ao texto “A lama que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
ainda suja o Brasil”: tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-pli-
I- O texto é coeso, mas não é coerente, já que tem problemas c-plic-plic da agulha no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a
no desenvolvimento do assunto. costura, para o dia seguinte; continuou ainda nesse e no outro, até
II- O texto é coerente, mas não é coeso, já que apresenta pro- que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
blemas no uso de conjunções e preposições. Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira,
III- O texto é coeso e coerente, graças ao bom uso das classes que a ajudou a vestir-se, levava a agulha espetada no corpinho,
de palavras e da ordem sintática. para dar algum ponto necessário. E enquanto compunha o vestido
IV- O texto é coeso e coerente, já que apresenta progressão da bela dama, e puxava a um lado ou outro, arregaçava daqui ou
temática e bom uso dos recursos coesivos. dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha, para mofar da
agulha, perguntou-lhe:
Analise as assertivas e responda:
(A) Somente a I é correta. — Ora agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da
(B) Somente a II é incorreta. baronesa, fazendo parte do vestido e da elegância? Quem é que
(C) Somente a III é correta. vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto você volta para
(D) Somente a IV é correta. a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Leia o texto abaixo para responder as questões. Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de ca-
UM APÓLOGO beça grande e não menor experiência, murmurou à pobre agulha:
Machado de Assis. — Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela
é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura.
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha: Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. Onde me
— Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enro- espetam, fico.
lada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo? Contei esta história a um professor de melancolia, que me
— Deixe-me, senhora. disse, abanando a cabeça: — Também eu tenho servido de agulha
— Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que a muita linha ordinária!
está com um ar insuportável? Repito que sim, e falarei sempre
que me der na cabeça. 36. De acordo com o texto “Um Apólogo” de Machado de
— Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Assis e com a ilustração abaixo, e levando em consideração as
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar? Cada qual personagens presentes nas narrativas tanto verbal quanto visual,
tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida e deixe a indique a opção em que a fala não é compatível com a associação
dos outros. entre os elementos dos textos:
— Mas você é orgulhosa.
— Decerto que sou.
— Mas por quê?
— É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?
— Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você igno-
ra que quem os cose sou eu, e muito eu?
— Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um
pedaço ao outro, dou feição aos babados…
— Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante,
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço e
mando…
— Também os batedores vão adiante do imperador.
— Você é imperador?
— Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel su-

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LÍNGUA PORTUGUESA
(A) “- Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda en- 40. (CÂMARA DE PIRACICABA - SP – JORNALISTA – VUNESP
rolada, para fingir que vale alguma coisa neste mundo?” (L.02) – 2019)
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha.
Agulha não tem cabeça. Que lhe importa o meu ar?” (L.06) Na frase – Tem coisa que não pode cancelar. –, o vocábulo
(C) “- Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, destacado é um pronome relativo, retomando o substantivo
puxando por você, que vem atrás, obedecendo ao que eu faço “coisa”. Assinale a alternativa em que o vocábulo em destaque
e mando...” (L.14-15) também exerce função pronominal, retomando um substantivo.
(D) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? (A) Ela tem uma sapucaia, que produz um ouriço usado no
Não repara que esta distinta costureira só se importa comigo; cultivo de algumas espécies.
eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles, furando (B) Dona Terezinha, eu vi que a senhora tem uma sapucaia.
abaixo e acima.” (L.25-26) (C) Mas quando é que vou poder colher o ouriço?
(E) “- Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela (D) No final da vida, depois de tanta filosofia, escreveu que o
e ela é que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de mais importante era rir.
costura. Faze como eu, que não abro caminho para ninguém. (E) – Com o rompimento da barragem, tivemos que reduzir
Onde me espetam, fico.” (L.40-41) custos.

37. O diminutivo, em Língua Portuguesa, pode expressar ou- 41. (UFPB – TODOS OS CARGOS- UFPB – 2012)
tros valores semânticos além da noção de dimensão, como afeti-
vidade, pejoratividade e intensidade. Nesse sentido, pode-se afir- “Nesse sentido, deve-se destacar que a ANS incluiu no rol de
mar que os valores semânticos utilizados nas formas diminutivas procedimentos as diretrizes que balizam e orientam a utilização
“unidinha”(L.26) e “corpinho”(L.32), são, respectivamente, de: das novas técnicas.” (linhas 30 -31 - 32)
(A) dimensão e pejoratividade;
(B) afetividade e intensidade; Considerando os mecanismos de coesão textual e as relações
(C) afetividade e dimensão; sintático-semânticas dos termos destacados nesse fragmento, jul-
(D) intensidade e dimensão; gue a assertiva abaixo.
(E) pejoratividade e afetividade.
Os termos “se” e “que”, nas duas ocorrências, são formas
38. Em um texto narrativo como “Um Apólogo”, é muito co- pronominais.
mum uso de linguagem denotativa e conotativa. Assinale a alter- ( ) Certo
nativa cujo trecho retirado do texto é uma demonstração da ex- ( ) Errado
pressividade dos termos “linha” e “agulha” em sentido figurado.
(A) “- É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa
ama, quem é que os cose, senão eu?” (L.11) 42. ( ADEPARÁ - Fiscal Estadual Agropecuário - Medicina Ve-
(B) “- Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. terinária – INSTITUTO AOCP – 2018)
Agulha não tem cabeça.” (L.06)
(C) “- Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um A vida é muito curta para ser pequena
pedaço ao outro, dou feição aos babados...” (L.13) Por Mario Sergio Cortella
(D) “- Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordi-
nária!” (L.43) Cuidado, a vida é muito curta para ser pequena. É preciso
(E) “- Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco?” engrandecê-la. E, para isso, é preciso tomar cuidado com duas
(L.25)
coisas: a primeira é que tem muita gente que cuida demais do
urgente e deixa de lado o importante. Cuida da carreira, do di-
39. De acordo com a temática geral tratada no texto e, de
nheiro, do patrimônio, mas deixa o importante de lado. Depois
modo metafórico, considerando as relações existentes em um
não dá tempo.
ambiente de trabalho, aponte a opção que NÃO corresponde a
A segunda grande questão é gente que se preocupa muito
uma ideia presente no texto:
com o fundamental e deixa o essencial de lado. O essencial é tudo
(A) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
aquilo que não pode não ser: amizade, fraternidade, solidarieda-
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
de, sexualidade, religiosidade, lealdade, integridade, liberdade,
(B) O texto sinaliza que, normalmente, não há uma relação
felicidade. Isso é essencial. Fundamental é tudo aquilo que te aju-
equânime em ambientes coletivos de trabalho;
da a chegar ao essencial. Fundamental é a tua ferramenta, como
(C) O texto indica que, em um ambiente coletivo de trabalho,
uma escada.
cada sujeito possui atribuições próprias.
Uma escada é algo que me ajuda a chegar a algum lugar. Nin-
(D) O texto sugere que o reconhecimento no ambiente
guém tem uma escada para ficar nela. Dinheiro não é essencial.
coletivo de trabalho parte efetivamente das próprias atitudes
Dinheiro é fundamental. Sem ele, você tem problema, mas ele,
do sujeito.
em si, não resolve. Emprego é fundamental, carreira é fundamen-
(E) O texto revela que, em um ambiente coletivo de trabalho,
tal. O essencial é o que não pode não ser. Essencial é aquilo que
frequentemente é difícil lidar com as vaidades individuais.
faz com que a vida não se apequene. Que faz com que a gente
seja capaz de transbordar. Repartir vida. Repartir o essencial, a
amizade, a amorosidade, a fraternidade, a lealdade. Repartir a ca-
pacidade de ter esperança e, para isso, ter coragem. Coragem não
é a ausência de medo.
Coragem é a capacidade de enfrentar o medo. O medo, assim
como a dor, é um mecanismo de proteção que a natureza coloca

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LÍNGUA PORTUGUESA
para nós. Se você e eu não tivermos medo nem dor, ficamos muito Existe uma velha que vive num lugar oculto de que todos sa-
vulneráveis. Porque a dor é um alerta e a dor nos prepara. É preci- bem, mas que poucos já viram. Como nos contos de fadas da Eu-
so coragem para que a nossa obra não se apequene. E, para isso, ropa oriental, ela parece esperar que cheguem até ali pessoas que
precisamos ter esperança. se perderam, que estão vagueando ou à procura de algo.
E, como dizia o grande Paulo Freire, “tem de ser esperança Ela é circunspecta, quase sempre cabeluda e invariavelmen-
do verbo esperançar”. Tem gente que tem esperança do verbo te gorda, e demonstra especialmente querer evitar a maioria das
esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. pessoas. Ela sabe crocitar e cacarejar, apresentando geralmente
“Ah, eu espero que dê certo, espero que resolva, espero que fun- mais sons animais do que humanos. (...)
cione.” Isso não é esperança. Esperançar é ir atrás, é se juntar, é O único trabalho de La Loba é o de recolher ossos. Sabe-se
não desistir. Esperançar é achar, de fato, que a vida é muito curta que ela recolhe e conserva especialmente o que corre o risco de
para ser pequena. E precisamos pensar se estamos nos dedicando se perder para o mundo. Sua caverna é cheia dos ossos de todos
ao importante em vez de ao urgente. Tem gente que diz: “Ah, mas os tipos de criaturas do deserto: o veado, a cascavel, o corvo. Di-
eu não tenho tempo”. Atenção: tempo é uma questão de priori- zem, porém, que sua especialidade reside nos lobos.
dade, de escolha. Ela se arrasta sorrateira e esquadrinha as montanhas (...), lei-
Quando eu digo que não tenho tempo para isso, estou dizen- tos secos de rios, à procura de ossos de lobos e, quando consegue
do que isso não é importante para mim. Cuidado, você já viu infar- reunir um esqueleto inteiro, quando o último osso está no lugar e
tado que não tem tempo? Se ele sobreviver, ele arruma um tem- a bela escultura branca da criatura está disposta à sua frente, ela
po. O médico dizia “você não pode fazer isso, tem de andar todos senta junto ao fogo e pensa na canção que irá cantar.
os dias”. Se ele infartar e sobreviver, no outro dia você vai vê-lo, Quando se decide, ela se levanta e aproxima-se da criatura,
às 6 horas da manhã, andando. Se ele tinha tempo, que ele teve ergue seus braços sobre o esqueleto e começa a cantar. É aí que
de arrumar agora, por que não fez isso antes? Você tem tempo? os ossos das costelas e das pernas do lobo começam a se forrar de
Se não tem, crie. Talvez precisemos rever as nossas prioridades. carne, e que a criatura começa a se cobrir de pelos. La Loba canta
Será que estamos cuidando do urgente e deixando o importante um pouco mais, e uma proporção maior da criatura ganha vida.
de lado? Será que não estamos atrás do fundamental, em vez de ir Seu rabo forma uma curva para cima, forte e desgrenhado.
em busca do essencial? E assim, contribuir com meu verso! La Loba canta mais, e a criatura-lobo começa a respirar. E La
Disponível em:<https://www.asomadetodosafetos. Loba ainda canta, com tanta intensidade que o chão do deserto
com/2016/07/a-vida-e-muito-curta-para-ser-pequena-mario-ser- estremece, e enquanto canta, o lobo abre os olhos, dá um salto e
gio-cor.html> . Acesso em: 20 set. 2018. sai correndo pelo desfiladeiro.
Em algum ponto da corrida, quer pela velocidade, por atra-
Sobre a função dos vocábulos “que” e “se”, assinale a alter- vessar um rio respingando água, quer pela incidência de um raio
nativa correta. de sol ou de luar sobre seu flanco, o lobo de repente é transfor-
(A) Em “O medo, assim como a dor, é um mecanismo de pro- mado numa mulher que ri e corre livre na direção do horizonte.
teção que a natureza coloca para nós.”, o termo destacado Por isso, diz-se que, se você estiver perambulando pelo de-
funciona como uma conjunção subordinativa integrante. serto, por volta do pôr-do-sol, e quem sabe esteja um pouco per-
(B) Em “Se não tem, crie.”, a palavra destacada tem a função dido, cansado, sem dúvida você tem sorte, porque La Loba pode
de partícula apassivadora. simpatizar com você e lhe ensinar algo — algo da alma.
(C) Em “[...] tem muita gente que cuida demais do urgente e (Fonte: ESTÉS, Clarissa Pinkola. Mulheres que correm com os
deixa de lado o importante.”, o vocábulo em destaque é um lobos. Mitos e histórias do arquétipo da mulher selvagem. Tra-
pronome relativo. dução Waldéa Barcellos. Rio de Janeiro: Editora Rocco, 1994, pg.
(D) Em “[...] eu espero que dê certo [...]”, o termo destacado 43-44.)
é um pronome relativo.
(E) Em “O essencial é o que não pode não ser [...]”, a palavra De acordo com o texto e a Norma Culta da Língua Portuguesa,
em destaque é uma conjunção subordinativa integrante. assinale a alternativa correta:
(A) No trecho “e a bela escultura branca da criatura está dis-
43.(PREFEITURA DE JOAÇABA - SC- ASSISTENTE SOCIAL – posta à sua frente”, o acento grave é facultativo no termo
APRENDER-SC- 2016) destacado.
Analise a função sintática das palavras QUE e SE, respecti- (B) No trecho “Por isso, diz-se que, se você estiver
vamente, destacadas no período abaixo: “O grupo vai revisar a perambulando pelo deserto”, as palavras destacadas
situação a partir das evidências novas que surgiram e o resul- desempenham mesma função sintática”
tado de novas pesquisas para avaliar se precisam adotar novas (C) Nos trechos “quando o último osso”, “quer pela incidên-
recomendações” cia” e “um rio respingando água”, as palavras destacadas re-
(A) ambas exercem função de conjunção integrante. cebem acento gráfico devido à mesma regra gramatical.
(B) ambas são pronomes relativos (D) No trecho “Sabe-se que ela recolhe e conserva
(C) Que é conjunção explicativa e Se partícula apassivadora especialmente o que corre o risco de se perder para o
(D) Que é pronome relativo e SE é conjunção condicional. mundo”, as palavras destacadas têm a mesma classificação
morfológica.
44. (IBFC – TÉCNICO DE NÍVEL SUPERIOR – ANALISTA DE RE-
DES – IBFC – 2019)
Leia com atenção a história mítica “La Loba” escrita por Cla-
rissa Pinkola Estés, com tradução de Waldéa Barcellos, para res-
ponder a questão.
La Loba (Adaptado)

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LÍNGUA PORTUGUESA

GABARITO 43 D
44 A
1 D
2 A
3 E ANOTAÇÕES
4 A ______________________________________________________
5 C ______________________________________________________
6 E
______________________________________________________
7 B
8 E ______________________________________________________
9 E ______________________________________________________
10 D
______________________________________________________
11 B
______________________________________________________
12 C
13 B ______________________________________________________
14 E ______________________________________________________
15 A
______________________________________________________
16 A
17 E ______________________________________________________
18 B ______________________________________________________
19 E
______________________________________________________
20 A
______________________________________________________
21 A
22 D ______________________________________________________
23 A ______________________________________________________
24 D
______________________________________________________
25 B
26 C ______________________________________________________

27 C ______________________________________________________
28 E
______________________________________________________
29 A
______________________________________________________
30 D
31 B ______________________________________________________
32 E ______________________________________________________
33 D
_____________________________________________________
34 C
35 D _____________________________________________________

36 E ______________________________________________________
37 D ______________________________________________________
38 D
______________________________________________________
39 D
40 A ______________________________________________________
41 B ______________________________________________________
42 C
______________________________________________________

50
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

C – Impossível dizer (Impossível determinar se a afirmação é


ESTRUTURAS LÓGICAS. LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO. verdadeira ou falsa sem mais informações)
DIAGRAMAS LÓGICOS
ESTRUTURAS LÓGICAS
RACIOCÍNIO LÓGICO MATEMÁTICO Precisamos antes de tudo compreender o que são proposições.
Chama-se proposição toda sentença declarativa à qual podemos
Este tipo de raciocínio testa sua habilidade de resolver proble- atribuir um dos valores lógicos: verdadeiro ou falso, nunca ambos.
mas matemáticos, e é uma forma de medir seu domínio das dife- Trata-se, portanto, de uma sentença fechada.
rentes áreas do estudo da Matemática: Aritmética, Álgebra, leitura
de tabelas e gráficos, Probabilidade e Geometria etc. Essa parte Elas podem ser:
consiste nos seguintes conteúdos: • Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógi-
- Operação com conjuntos. co verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto,
- Cálculos com porcentagens. não é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Raciocínio lógico envolvendo problemas aritméticos, geomé- - Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem?
tricos e matriciais. – Fez Sol ontem?
- Geometria básica. - Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Álgebra básica e sistemas lineares. - Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a
- Calendários. televisão.
- Numeração. - Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, am-
- Razões Especiais. bíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro
- Análise Combinatória e Probabilidade. do meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1
- Progressões Aritmética e Geométrica.
• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO
RACIOCÍNIO LÓGICO DEDUTIVO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será conside-
rada uma frase, proposição ou sentença lógica.
Este tipo de raciocínio está relacionado ao conteúdo Lógica de
Argumentação. Proposições simples e compostas
• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém
ORIENTAÇÕES ESPACIAL E TEMPORAL nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas
O raciocínio lógico espacial ou orientação espacial envolvem p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
figuras, dados e palitos. O raciocínio lógico temporal ou orientação
temporal envolve datas, calendário, ou seja, envolve o tempo. • Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógi-
O mais importante é praticar o máximo de questões que envol- cas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
vam os conteúdos: simples. As proposições compostas são designadas pelas letras lati-
- Lógica sequencial nas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
- Calendários
ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas
RACIOCÍNIO VERBAL por duas proposições simples.

Avalia a capacidade de interpretar informação escrita e tirar


conclusões lógicas.
Uma avaliação de raciocínio verbal é um tipo de análise de ha-
bilidade ou aptidão, que pode ser aplicada ao se candidatar a uma
vaga. Raciocínio verbal é parte da capacidade cognitiva ou inteli-
gência geral; é a percepção, aquisição, organização e aplicação do
conhecimento por meio da linguagem.
Nos testes de raciocínio verbal, geralmente você recebe um
trecho com informações e precisa avaliar um conjunto de afirma-
ções, selecionando uma das possíveis respostas:
A – Verdadeiro (A afirmação é uma consequência lógica das in-
formações ou opiniões contidas no trecho)
B – Falso (A afirmação é logicamente falsa, consideradas as in-
formações ou opiniões contidas no trecho)

51
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Proposições Compostas – Conectivos
As proposições compostas são formadas por proposições simples ligadas por conectivos, aos quais formam um valor lógico, que po-
demos vê na tabela a seguir:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Em síntese temos a tabela verdade das proposições que facilitará na resolução de diversas questões

Exemplo:
(MEC – CONHECIMENTOS BÁSICOS PARA OS POSTOS 9,10,11 E 16 – CESPE)

A figura acima apresenta as colunas iniciais de uma tabela-verdade, em que P, Q e R representam proposições lógicas, e V e F corres-
pondem, respectivamente, aos valores lógicos verdadeiro e falso.
Com base nessas informações e utilizando os conectivos lógicos usuais, julgue o item subsecutivo.
A última coluna da tabela-verdade referente à proposição lógica P v (Q↔R) quando representada na posição horizontal é igual a

( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
P v (Q↔R), montando a tabela verdade temos:

R Q P [P v (Q ↔ R) ]
V V V V V V V V
V V F F V V V V
V F V V V F F V
V F F F F F F V
F V V V V V F F
F V F F F V F F
F F V V V F V F
F F F F V F V F

Resposta: Certo

53
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Proposição
Conjunto de palavras ou símbolos que expressam um pensamento ou uma ideia de sentido completo. Elas transmitem pensamentos,
isto é, afirmam fatos ou exprimem juízos que formamos a respeito de determinados conceitos ou entes.

Valores lógicos
São os valores atribuídos as proposições, podendo ser uma verdade, se a proposição é verdadeira (V), e uma falsidade, se a proposição
é falsa (F). Designamos as letras V e F para abreviarmos os valores lógicos verdade e falsidade respectivamente.
Com isso temos alguns aximos da lógica:
– PRINCÍPIO DA NÃO CONTRADIÇÃO: uma proposição não pode ser verdadeira E falsa ao mesmo tempo.
– PRINCÍPIO DO TERCEIRO EXCLUÍDO: toda proposição OU é verdadeira OU é falsa, verificamos sempre um desses casos, NUNCA
existindo um terceiro caso.

“Toda proposição tem um, e somente um, dos valores, que são: V ou F.”

Classificação de uma proposição


Elas podem ser:
• Sentença aberta: quando não se pode atribuir um valor lógico verdadeiro ou falso para ela (ou valorar a proposição!), portanto, não
é considerada frase lógica. São consideradas sentenças abertas:
- Frases interrogativas: Quando será prova? - Estudou ontem? – Fez Sol ontem?
- Frases exclamativas: Gol! – Que maravilhoso!
- Frase imperativas: Estude e leia com atenção. – Desligue a televisão.
- Frases sem sentido lógico (expressões vagas, paradoxais, ambíguas, ...): “esta frase é falsa” (expressão paradoxal) – O cachorro do
meu vizinho morreu (expressão ambígua) – 2 + 5+ 1

• Sentença fechada: quando a proposição admitir um ÚNICO valor lógico, seja ele verdadeiro ou falso, nesse caso, será considerada
uma frase, proposição ou sentença lógica.

Proposições simples e compostas


• Proposições simples (ou atômicas): aquela que NÃO contém nenhuma outra proposição como parte integrante de si mesma. As
proposições simples são designadas pelas letras latinas minúsculas p,q,r, s..., chamadas letras proposicionais.
Exemplos
r: Thiago é careca.
s: Pedro é professor.

• Proposições compostas (ou moleculares ou estruturas lógicas): aquela formada pela combinação de duas ou mais proposições
simples. As proposições compostas são designadas pelas letras latinas maiúsculas P,Q,R, R..., também chamadas letras proposicionais.
Exemplo
P: Thiago é careca e Pedro é professor.

ATENÇÃO: TODAS as proposições compostas são formadas por duas proposições simples.

Exemplos:
1. (CESPE/UNB) Na lista de frases apresentadas a seguir:
– “A frase dentro destas aspas é uma mentira.”
– A expressão x + y é positiva.
– O valor de √4 + 3 = 7.
– Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira.
– O que é isto?

Há exatamente:
(A) uma proposição;
(B) duas proposições;
(C) três proposições;
(D) quatro proposições;
(E) todas são proposições.
Resolução:
Analisemos cada alternativa:
(A) “A frase dentro destas aspas é uma mentira”, não podemos atribuir valores lógicos a ela, logo não é uma sentença lógica.
(B) A expressão x + y é positiva, não temos como atribuir valores lógicos, logo não é sentença lógica.
(C) O valor de √4 + 3 = 7; é uma sentença lógica pois podemos atribuir valores lógicos, independente do resultado que tenhamos
(D) Pelé marcou dez gols para a seleção brasileira, também podemos atribuir valores lógicos (não estamos considerando a quantidade
certa de gols, apenas se podemos atribuir um valor de V ou F a sentença).
(E) O que é isto? - como vemos não podemos atribuir valores lógicos por se tratar de uma frase interrogativa.
Resposta: B.

54
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Conectivos (conectores lógicos)
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos. São eles:

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA TABELA VERDADE

Negação ~ Não p

Conjunção ^ peq

Disjunção Inclusiva v p ou q

Disjunção Exclusiva v Ou p ou q

Condicional → Se p então q

Bicondicional ↔ p se e somente se q

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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
2. (PC/SP - Delegado de Polícia - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q

Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B.

Tabela Verdade
Quando trabalhamos com as proposições compostas, determinamos o seu valor lógico partindo das proposições simples que a com-
põe. O valor lógico de qualquer proposição composta depende UNICAMENTE dos valores lógicos das proposições simples componentes,
ficando por eles UNIVOCAMENTE determinados.

• Número de linhas de uma Tabela Verdade: depende do número de proposições simples que a integram, sendo dado pelo seguinte
teorema:
“A tabela verdade de uma proposição composta com n* proposições simples componentes contém 2n linhas.”

Exemplo:
3. (CESPE/UNB) Se “A”, “B”, “C” e “D” forem proposições simples e distintas, então o número de linhas da tabela-verdade da propo-
sição (A → B) ↔ (C → D) será igual a:
(A) 2;
(B) 4;
(C) 8;
(D) 16;
(E) 32.

Resolução:
Veja que podemos aplicar a mesma linha do raciocínio acima, então teremos:
Número de linhas = 2n = 24 = 16 linhas.
Resposta D.

Conceitos de Tautologia , Contradição e Contigência


• Tautologia: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), V (verdades).
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma tautologia, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma tautologia, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contradição: possui todos os valores lógicos, da tabela verdade (última coluna), F (falsidades). A contradição é a negação da Tauto-
logia e vice versa.
Princípio da substituição: Seja P (p, q, r, ...) é uma contradição, então P (P0; Q0; R0; ...) também é uma contradição, quaisquer que sejam
as proposições P0, Q0, R0, ...

• Contingência: possui valores lógicos V e F ,da tabela verdade (última coluna). Em outros termos a contingência é uma proposição
composta que não é tautologia e nem contradição.

Exemplos:
4. (DPU – ANALISTA – CESPE) Um estudante de direito, com o objetivo de sistematizar o seu estudo, criou sua própria legenda, na qual
identificava, por letras, algumas afirmações relevantes quanto à disciplina estudada e as vinculava por meio de sentenças (proposições).
No seu vocabulário particular constava, por exemplo:
P: Cometeu o crime A.
Q: Cometeu o crime B.
R: Será punido, obrigatoriamente, com a pena de reclusão no regime fechado.
S: Poderá optar pelo pagamento de fiança.

56
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Ao revisar seus escritos, o estudante, apesar de não recordar qual era o crime B, lembrou que ele era inafiançável.
Tendo como referência essa situação hipotética, julgue o item que se segue.
A sentença (P→Q)↔((~Q)→(~P)) será sempre verdadeira, independentemente das valorações de P e Q como verdadeiras ou falsas.
( ) Certo
( ) Errado

Resolução:
Considerando P e Q como V.
(V→V) ↔ ((F)→(F))
(V) ↔ (V) = V
Considerando P e Q como F
(F→F) ↔ ((V)→(V))
(V) ↔ (V) = V
Então concluímos que a afirmação é verdadeira.
Resposta: Certo.

Equivalência
Duas ou mais proposições compostas são equivalentes, quando mesmo possuindo estruturas lógicas diferentes, apresentam a mesma
solução em suas respectivas tabelas verdade.
Se as proposições P(p,q,r,...) e Q(p,q,r,...) são ambas TAUTOLOGIAS, ou então, são CONTRADIÇÕES, então são EQUIVALENTES.

Exemplo:
5. (VUNESP/TJSP) Uma negação lógica para a afirmação “João é rico, ou Maria é pobre” é:
(A) Se João é rico, então Maria é pobre.
(B) João não é rico, e Maria não é pobre.
(C) João é rico, e Maria não é pobre.
(D) Se João não é rico, então Maria não é pobre.
(E) João não é rico, ou Maria não é pobre.

Resolução:
Nesta questão, a proposição a ser negada trata-se da disjunção de duas proposições lógicas simples. Para tal, trocamos o conectivo
por “e” e negamos as proposições “João é rico” e “Maria é pobre”. Vejam como fica:

Resposta: B.

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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Leis de Morgan
Com elas:
– Negamos que duas dadas proposições são ao mesmo tempo verdadeiras equivalendo a afirmar que pelo menos uma é falsa
– Negamos que uma pelo menos de duas proposições é verdadeira equivalendo a afirmar que ambas são falsas.

ATENÇÃO
As Leis de Morgan exprimem que NEGAÇÃO CONJUNÇÃO em DISJUNÇÃO
transforma: DISJUNÇÃO em CONJUNÇÃO

CONECTIVOS
Para compôr novas proposições, definidas como composta, a partir de outras proposições simples, usam-se os conectivos.

OPERAÇÃO CONECTIVO ESTRUTURA LÓGICA EXEMPLOS


Negação ~ Não p A cadeira não é azul.
Conjunção ^ peq Fernando é médico e Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Inclusiva v p ou q Fernando é médico ou Nicolas é Engenheiro.
Disjunção Exclusiva v Ou p ou q Ou Fernando é médico ou João é Engenheiro.
Condicional → Se p então q Se Fernando é médico então Nicolas é Engenheiro.
Bicondicional ↔ p se e somente se q Fernando é médico se e somente se Nicolas é Engenheiro.

Conectivo “não” (~)


Chamamos de negação de uma proposição representada por “não p” cujo valor lógico é verdade (V) quando p é falsa e falsidade (F)
quando p é verdadeira. Assim “não p” tem valor lógico oposto daquele de p. Pela tabela verdade temos:

Conectivo “e” (˄)


Se p e q são duas proposições, a proposição p ˄ q será chamada de conjunção. Para a conjunção, tem-se a seguinte tabela-verdade:

ATENÇÃO: Sentenças interligadas pelo conectivo “e” possuirão o valor verdadeiro somente quando todas as sentenças, ou argumen-
tos lógicos, tiverem valores verdadeiros.

Conectivo “ou” (v)


Este inclusivo: Elisabete é bonita ou Elisabete é inteligente. (Nada impede que Elisabete seja bonita e inteligente).

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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Conectivo “ou” (v)
Este exclusivo: Elisabete é paulista ou Elisabete é carioca. (Se Elisabete é paulista, não será carioca e vice-versa).

• Mais sobre o Conectivo “ou”


– “inclusivo”(considera os dois casos)
– “exclusivo”(considera apenas um dos casos)

Exemplos:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa
No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeira

Ele pode ser “inclusivo”(considera os dois casos) ou “exclusivo”(considera apenas um dos casos)
Exemplo:
R: Paulo é professor ou administrador
S: Maria é jovem ou idosa

No primeiro caso, o “ou” é inclusivo,pois pelo menos uma das proposições é verdadeira, podendo ser ambas.
No caso da segunda, o “ou” é exclusivo, pois somente uma das proposições poderá ser verdadeiro

Conectivo “Se... então” (→)


Se p e q são duas proposições, a proposição p→q é chamada subjunção ou condicional. Considere a seguinte subjunção: “Se fizer sol,
então irei à praia”.
1. Podem ocorrer as situações:
2. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
3. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade)
5. Não fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade, pois eu não disse o que faria se não fizesse sol. Assim, poderia ir ou não ir à praia).
Temos então sua tabela verdade:

Observe que uma subjunção p→q somente será falsa quando a primeira proposição, p, for verdadeira e a segunda, q, for falsa.
Conectivo “Se e somente se” (↔)
Se p e q são duas proposições, a proposição p↔q1 é chamada bijunção ou bicondicional, que também pode ser lida como: “p é con-
dição necessária e suficiente para q” ou, ainda, “q é condição necessária e suficiente para p”.
Considere, agora, a seguinte bijunção: “Irei à praia se e somente se fizer sol”. Podem ocorrer as situações:
1. Fez sol e fui à praia. (Eu disse a verdade)
2. Fez sol e não fui à praia. (Eu menti)
3. Não fez sol e fui à praia. (Eu menti)
4. Não fez sol e não fui à praia. (Eu disse a verdade). Sua tabela verdade:

59
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

Observe que uma bicondicional só é verdadeira quando as proposições formadoras são ambas falsas ou ambas verdadeiras.

ATENÇÃO: O importante sobre os conectivos é ter em mente a tabela de cada um deles, para que assim você possa resolver qualquer
questão referente ao assunto.

Ordem de precedência dos conectivos:


O critério que especifica a ordem de avaliação dos conectivos ou operadores lógicos de uma expressão qualquer. A lógica matemática
prioriza as operações de acordo com a ordem listadas:

Em resumo:

Exemplo:
(PC/SP - DELEGADO DE POLÍCIA - VUNESP) Os conectivos ou operadores lógicos são palavras (da linguagem comum) ou símbolos (da
linguagem formal) utilizados para conectar proposições de acordo com regras formais preestabelecidas. Assinale a alternativa que apre-
senta exemplos de conjunção, negação e implicação, respectivamente.
(A) ¬ p, p v q, p ∧ q
(B) p ∧ q, ¬ p, p -> q
(C) p -> q, p v q, ¬ p
(D) p v p, p -> q, ¬ q
(E) p v q, ¬ q, p v q
Resolução:
A conjunção é um tipo de proposição composta e apresenta o conectivo “e”, e é representada pelo símbolo ∧. A negação é repre-
sentada pelo símbolo ~ou cantoneira (¬) e pode negar uma proposição simples (por exemplo: ¬ p ) ou composta. Já a implicação é uma
proposição composta do tipo condicional (Se, então) é representada pelo símbolo (→).
Resposta: B

CONTRADIÇÕES
São proposições compostas formadas por duas ou mais proposições onde seu valor lógico é sempre FALSO, independentemente do
valor lógico das proposições simples que a compõem. Vejamos:
A proposição: p ^ ~p é uma contradição, conforme mostra a sua tabela-verdade:

Exemplo:
(PEC-FAZ) Conforme a teoria da lógica proposicional, a proposição ~P ∧ P é:
(A) uma tautologia.
(B) equivalente à proposição ~p ∨ p.
(C) uma contradição.
(D) uma contingência.
(E) uma disjunção.

60
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução: • Transitiva:
Montando a tabela teremos que: – Se P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...) e
Q(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...), então
P ~p ~p ^p P(p,q,r,...) ⇒ R(p,q,r,...)
– Se P ⇒ Q e Q ⇒ R, então P ⇒ R
V F F
V F F Regras de Inferência
• Inferência é o ato ou processo de derivar conclusões lógicas
F V F
de proposições conhecidas ou decididamente verdadeiras. Em ou-
F V F tras palavras: é a obtenção de novas proposições a partir de propo-
sições verdadeiras já existentes.
Como todos os valores são Falsidades (F) logo estamos diante
de uma CONTRADIÇÃO. Regras de Inferência obtidas da implicação lógica
Resposta: C

A proposição P(p,q,r,...) implica logicamente a proposição Q(p,-


q,r,...) quando Q é verdadeira todas as vezes que P é verdadeira.
Representamos a implicação com o símbolo “⇒”, simbolicamente
temos:

P(p,q,r,...) ⇒ Q(p,q,r,...).
• Silogismo Disjuntivo
ATENÇÃO: Os símbolos “→” e “⇒” são completamente distin-
tos. O primeiro (“→”) representa a condicional, que é um conec-
tivo. O segundo (“⇒”) representa a relação de implicação lógica
que pode ou não existir entre duas proposições.

Exemplo:

• Modus Ponens

Observe:
- Toda proposição implica uma Tautologia:

• Modus Tollens

- Somente uma contradição implica uma contradição:

Propriedades
• Reflexiva:
– P(p,q,r,...) ⇒ P(p,q,r,...)
– Uma proposição complexa implica ela mesma.

61
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Tautologias e Implicação Lógica
• Teorema
P(p,q,r,..) ⇒ Q(p,q,r,...) se e somente se P(p,q,r,...) → Q(p,q,r,...)

Entre elas existem tipos e relações de acordo com a qualidade


e a extensão, classificam-se em quatro tipos, representados pelas
letras A, E, I e O.

• Universal afirmativa (Tipo A) – “TODO A é B”


Teremos duas possibilidades.

Observe que:
→ indica uma operação lógica entre as proposições. Ex.: das
proposições p e q, dá-se a nova proposição p → q.
⇒ indica uma relação. Ex.: estabelece que a condicional P →
Q é tautológica.

Inferências
• Regra do Silogismo Hipotético
Tais proposições afirmam que o conjunto “A” está contido no
conjunto “B”, ou seja, que todo e qualquer elemento de “A” é tam-
bém elemento de “B”. Observe que “Toda A é B” é diferente de
“Todo B é A”.

• Universal negativa (Tipo E) – “NENHUM A é B”


Princípio da inconsistência Tais proposições afirmam que não há elementos em comum
– Como “p ^ ~p → q” é tautológica, subsiste a implicação lógica entre os conjuntos “A” e “B”. Observe que “nenhum A é B” é o mes-
p ^ ~p ⇒ q mo que dizer “nenhum B é A”.
– Assim, de uma contradição p ^ ~p se deduz qualquer propo- Podemos representar esta universal negativa pelo seguinte dia-
sição q. grama (A ∩ B = ø):

A proposição “(p ↔ q) ^ p” implica a proposição “q”, pois a


condicional “(p ↔ q) ^ p → q” é tautológica.

Lógica de primeira ordem


Existem alguns tipos de argumentos que apresentam proposi-
ções com quantificadores. Numa proposição categórica, é impor-
tante que o sujeito se relacionar com o predicado de forma coeren-
te e que a proposição faça sentido, não importando se é verdadeira • Particular afirmativa (Tipo I) - “ALGUM A é B”
ou falsa. Podemos ter 4 diferentes situações para representar esta pro-
posição:
Vejamos algumas formas:
- Todo A é B.
- Nenhum A é B.
- Algum A é B.
- Algum A não é B.
Onde temos que A e B são os termos ou características dessas
proposições categóricas.

• Classificação de uma proposição categórica de acordo com


o tipo e a relação
Elas podem ser classificadas de acordo com dois critérios fun-
damentais: qualidade e extensão ou quantidade.

– Qualidade: O critério de qualidade classifica uma proposição


categórica em afirmativa ou negativa.
– Extensão: O critério de extensão ou quantidade classifica
uma proposição categórica em universal ou particular. A classifica-
ção dependerá do quantificador que é utilizado na proposição.

62
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Essas proposições Algum A é B estabelecem que o conjunto “A” Exemplos:
tem pelo menos um elemento em comum com o conjunto “B”. Con- (DESENVOLVE/SP - CONTADOR - VUNESP) Alguns gatos não
tudo, quando dizemos que Algum A é B, presumimos que nem todo são pardos, e aqueles que não são pardos miam alto.
A é B. Observe “Algum A é B” é o mesmo que “Algum B é A”. Uma afirmação que corresponde a uma negação lógica da afir-
mação anterior é:
• Particular negativa (Tipo O) - “ALGUM A não é B” (A) Os gatos pardos miam alto ou todos os gatos não são par-
Se a proposição Algum A não é B é verdadeira, temos as três dos.
representações possíveis: (B) Nenhum gato mia alto e todos os gatos são pardos.
(C) Todos os gatos são pardos ou os gatos que não são pardos
não miam alto.
(D) Todos os gatos que miam alto são pardos.
(E) Qualquer animal que mia alto é gato e quase sempre ele é
pardo.

Resolução:
Temos um quantificador particular (alguns) e uma proposição
do tipo conjunção (conectivo “e”). Pede-se a sua negação.
O quantificador existencial “alguns” pode ser negado, seguindo
o esquema, pelos quantificadores universais (todos ou nenhum).
Logo, podemos descartar as alternativas A e E.
A negação de uma conjunção se faz através de uma disjunção,
em que trocaremos o conectivo “e” pelo conectivo “ou”. Descarta-
Proposições nessa forma: Algum A não é B estabelecem que o mos a alternativa B.
conjunto “A” tem pelo menos um elemento que não pertence ao Vamos, então, fazer a negação da frase, não esquecendo de
conjunto “B”. Observe que: Algum A não é B não significa o mesmo que a relação que existe é: Algum A é B, deve ser trocado por: Todo
que Algum B não é A. A é não B.
Todos os gatos que são pardos ou os gatos (aqueles) que não
• Negação das Proposições Categóricas são pardos NÃO miam alto.
Ao negarmos uma proposição categórica, devemos observar as Resposta: C
seguintes convenções de equivalência:
– Ao negarmos uma proposição categórica universal geramos (CBM/RJ - CABO TÉCNICO EM ENFERMAGEM - ND) Dizer que a
uma proposição categórica particular. afirmação “todos os professores é psicólogos” e falsa, do ponto de
– Pela recíproca de uma negação, ao negarmos uma proposição vista lógico, equivale a dizer que a seguinte afirmação é verdadeira
categórica particular geramos uma proposição categórica universal. (A) Todos os não psicólogos são professores.
– Negando uma proposição de natureza afirmativa geramos, (B) Nenhum professor é psicólogo.
sempre, uma proposição de natureza negativa; e, pela recíproca, (C) Nenhum psicólogo é professor.
negando uma proposição de natureza negativa geramos, sempre, (D) Pelo menos um psicólogo não é professor.
uma proposição de natureza afirmativa. (E) Pelo menos um professor não é psicólogo.
Em síntese:
Resolução:
Se a afirmação é falsa a negação será verdadeira. Logo, a nega-
ção de um quantificador universal categórico afirmativo se faz atra-
vés de um quantificador existencial negativo. Logo teremos: Pelo
menos um professor não é psicólogo.
Resposta: E

• Equivalência entre as proposições


Basta usar o triângulo a seguir e economizar um bom tempo na
resolução de questões.

63
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
(PC/PI - ESCRIVÃO DE POLÍCIA CIVIL - UESPI) Qual a negação
lógica da sentença “Todo número natural é maior do que ou igual
a cinco”?
(A) Todo número natural é menor do que cinco.
(B) Nenhum número natural é menor do que cinco. NENHUM
E
(C) Todo número natural é diferente de cinco. AéB
(D) Existe um número natural que é menor do que cinco.
(E) Existe um número natural que é diferente de cinco. Existe pelo menos um elemento que
Resolução: pertence a A, então não pertence a B, e
Do enunciado temos um quantificador universal (Todo) e pede- vice-versa.
-se a sua negação.
O quantificador universal todos pode ser negado, seguindo o
esquema abaixo, pelo quantificador algum, pelo menos um, existe
ao menos um, etc. Não se nega um quantificador universal com To-
dos e Nenhum, que também são universais.

Existe pelo menos um elemento co-


mum aos conjuntos A e B.
Podemos ainda representar das seguin-
tes formas:
ALGUM
I
AéB

Portanto, já podemos descartar as alternativas que trazem


quantificadores universais (todo e nenhum). Descartamos as alter-
nativas A, B e C.
Seguindo, devemos negar o termo: “maior do que ou igual a
cinco”. Negaremos usando o termo “MENOR do que cinco”.
Obs.: maior ou igual a cinco (compreende o 5, 6, 7...) ao ser
negado passa a ser menor do que cinco (4, 3, 2,...).
Resposta: D

Diagramas lógicos
Os diagramas lógicos são usados na resolução de vários proble-
mas. É uma ferramenta para resolvermos problemas que envolvam
argumentos dedutivos, as quais as premissas deste argumento po-
dem ser formadas por proposições categóricas.

ATENÇÃO: É bom ter um conhecimento sobre conjuntos para


conseguir resolver questões que envolvam os diagramas lógicos.

Vejamos a tabela abaixo as proposições categóricas:

TIPO PREPOSIÇÃO DIAGRAMAS ALGUM


O
A NÃO é B

TODO
A Perceba-se que, nesta sentença, a aten-
AéB
ção está sobre o(s) elemento (s) de A que
Se um elemento pertence ao conjunto A, não são B (enquanto que, no “Algum A é
então pertence também a B. B”, a atenção estava sobre os que eram B,
ou seja, na intercessão).
Temos também no segundo caso, a dife-
rença entre conjuntos, que forma o con-
junto A - B

64
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo: Visto que na primeira chegamos à conclusão que C = CC
(GDF–ANALISTA DE ATIVIDADES CULTURAIS ADMINISTRAÇÃO Segundo as afirmativas temos:
– IADES) Considere as proposições: “todo cinema é uma casa de (A) existem cinemas que não são teatros- Observando o último
cultura”, “existem teatros que não são cinemas” e “algum teatro é diagrama vimos que não é uma verdade, pois temos que existe
casa de cultura”. Logo, é correto afirmar que pelo menos um dos cinemas é considerado teatro.
(A) existem cinemas que não são teatros.
(B) existe teatro que não é casa de cultura.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro.
(D) existe casa de cultura que não é cinema.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema.

Resolução:
Vamos chamar de:
Cinema = C
Casa de Cultura = CC
Teatro = T
Analisando as proposições temos:
- Todo cinema é uma casa de cultura
(B) existe teatro que não é casa de cultura. – Errado, pelo mes-
mo princípio acima.
(C) alguma casa de cultura que não é cinema é teatro. – Errado,
a primeira proposição já nos afirma o contrário. O diagrama
nos afirma isso

- Existem teatros que não são cinemas

(D) existe casa de cultura que não é cinema. – Errado, a justifi-


cativa é observada no diagrama da alternativa anterior.
(E) todo teatro que não é casa de cultura não é cinema. – Cor-
reta, que podemos observar no diagrama abaixo, uma vez que
todo cinema é casa de cultura. Se o teatro não é casa de cultura
também não é cinema.

- Algum teatro é casa de cultura

Resposta: E

65
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
LÓGICA DE ARGUMENTAÇÃO
Chama-se argumento a afirmação de que um grupo de propo-
sições iniciais redunda em outra proposição final, que será conse-
quência das primeiras. Ou seja, argumento é a relação que associa
um conjunto de proposições P1, P2,... Pn , chamadas premissas do
argumento, a uma proposição Q, chamada de conclusão do argu-
mento.

Observem que todos os elementos do conjunto menor (ho-


mens) estão incluídos, ou seja, pertencem ao conjunto maior (dos
pássaros). E será sempre essa a representação gráfica da frase
“Todo A é B”. Dois círculos, um dentro do outro, estando o círculo
menor a representar o grupo de quem se segue à palavra TODO.
Exemplo: Na frase: “Nenhum pássaro é animal”. Observemos que a pa-
P1: Todos os cientistas são loucos. lavra-chave desta sentença é NENHUM. E a ideia que ela exprime é
P2: Martiniano é louco. de uma total dissociação entre os dois conjuntos.
Q: Martiniano é um cientista.

O exemplo dado pode ser chamado de Silogismo (argumento


formado por duas premissas e a conclusão).
A respeito dos argumentos lógicos, estamos interessados em
verificar se eles são válidos ou inválidos! Então, passemos a enten-
der o que significa um argumento válido e um argumento inválido.

Argumentos Válidos
Dizemos que um argumento é válido (ou ainda legítimo ou bem
construído), quando a sua conclusão é uma consequência obrigató-
ria do seu conjunto de premissas. Será sempre assim a representação gráfica de uma sentença
“Nenhum A é B”: dois conjuntos separados, sem nenhum ponto em
Exemplo: comum.
O silogismo... Tomemos agora as representações gráficas das duas premissas
P1: Todos os homens são pássaros. vistas acima e as analisemos em conjunto. Teremos:
P2: Nenhum pássaro é animal.
Q: Portanto, nenhum homem é animal.

... está perfeitamente bem construído, sendo, portanto, um


argumento válido, muito embora a veracidade das premissas e da
conclusão sejam totalmente questionáveis.

ATENÇÃO: O que vale é a CONSTRUÇÃO, E NÃO O SEU CONTE-


ÚDO! Se a construção está perfeita, então o argumento é válido,
independentemente do conteúdo das premissas ou da conclusão!

• Como saber se um determinado argumento é mesmo váli-


do?
Para se comprovar a validade de um argumento é utilizando Comparando a conclusão do nosso argumento, temos:
diagramas de conjuntos (diagramas de Venn). Trata-se de um mé- NENHUM homem é animal – com o desenho das premissas
todo muito útil e que será usado com frequência em questões que será que podemos dizer que esta conclusão é uma consequência
pedem a verificação da validade de um argumento. Vejamos como necessária das premissas? Claro que sim! Observemos que o con-
funciona, usando o exemplo acima. Quando se afirma, na premissa junto dos homens está totalmente separado (total dissociação!) do
P1, que “todos os homens são pássaros”, poderemos representar conjunto dos animais. Resultado: este é um argumento válido!
essa frase da seguinte maneira:
Argumentos Inválidos
Dizemos que um argumento é inválido – também denominado
ilegítimo, mal construído, falacioso ou sofisma – quando a verdade
das premissas não é suficiente para garantir a verdade da conclu-
são.

66
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo: Métodos para validação de um argumento
P1: Todas as crianças gostam de chocolate. Aprenderemos a seguir alguns diferentes métodos que nos
P2: Patrícia não é criança. possibilitarão afirmar se um argumento é válido ou não!
Q: Portanto, Patrícia não gosta de chocolate. 1º) Utilizando diagramas de conjuntos: esta forma é indicada
quando nas premissas do argumento aparecem as palavras TODO,
Este é um argumento inválido, falacioso, mal construído, pois ALGUM E NENHUM, ou os seus sinônimos: cada, existe um etc.
as premissas não garantem (não obrigam) a verdade da conclusão. 2º) Utilizando tabela-verdade: esta forma é mais indicada
Patrícia pode gostar de chocolate mesmo que não seja criança, pois quando não for possível resolver pelo primeiro método, o que ocor-
a primeira premissa não afirmou que somente as crianças gostam re quando nas premissas não aparecem as palavras todo, algum e
de chocolate. nenhum, mas sim, os conectivos “ou” , “e”, “” e “↔”. Baseia-se
Utilizando os diagramas de conjuntos para provar a validade na construção da tabela-verdade, destacando-se uma coluna para
do argumento anterior, provaremos, utilizando-nos do mesmo arti- cada premissa e outra para a conclusão. Este método tem a des-
fício, que o argumento em análise é inválido. Comecemos pela pri- vantagem de ser mais trabalhoso, principalmente quando envolve
meira premissa: “Todas as crianças gostam de chocolate”. várias proposições simples.
3º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos e consi-
derando as premissas verdadeiras.
Por este método, fácil e rapidamente demonstraremos a vali-
dade de um argumento. Porém, só devemos utilizá-lo na impossibi-
lidade do primeiro método.
Iniciaremos aqui considerando as premissas como verdades.
Daí, por meio das operações lógicas com os conectivos, descobri-
remos o valor lógico da conclusão, que deverá resultar também em
verdade, para que o argumento seja considerado válido.

4º) Utilizando as operações lógicas com os conectivos, conside-


rando premissas verdadeiras e conclusão falsa.
É indicado este caminho quando notarmos que a aplicação do
terceiro método não possibilitará a descoberta do valor lógico da
Analisemos agora o que diz a segunda premissa: “Patrícia não é conclusão de maneira direta, mas somente por meio de análises
criança”. O que temos que fazer aqui é pegar o diagrama acima (da mais complicadas.
primeira premissa) e nele indicar onde poderá estar localizada a Pa-
trícia, obedecendo ao que consta nesta segunda premissa. Vemos Em síntese:
facilmente que a Patrícia só não poderá estar dentro do círculo das
crianças. É a única restrição que faz a segunda premissa! Isto posto,
concluímos que Patrícia poderá estar em dois lugares distintos do
diagrama:
1º) Fora do conjunto maior;
2º) Dentro do conjunto maior. Vejamos:

Finalmente, passemos à análise da conclusão: “Patrícia não


gosta de chocolate”. Ora, o que nos resta para sabermos se este ar-
gumento é válido ou não, é justamente confirmar se esse resultado
(se esta conclusão) é necessariamente verdadeiro!
- É necessariamente verdadeiro que Patrícia não gosta de cho- Exemplo:
colate? Olhando para o desenho acima, respondemos que não! Diga se o argumento abaixo é válido ou inválido:
Pode ser que ela não goste de chocolate (caso esteja fora do círcu-
lo), mas também pode ser que goste (caso esteja dentro do círculo)! (p ∧ q) → r
Enfim, o argumento é inválido, pois as premissas não garantiram a _____~r_______
veracidade da conclusão! ~p ∨ ~q

67
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução: Se Maria foi ao cinema, então Fernando estava estudando.
-1ª Pergunta) O argumento apresenta as palavras todo, algum ( ) Certo
ou nenhum? ( ) Errado
A resposta é não! Logo, descartamos o 1º método e passamos
à pergunta seguinte. Resolução:
A questão trata-se de lógica de argumentação, dadas as pre-
- 2ª Pergunta) O argumento contém no máximo duas proposi- missas chegamos a uma conclusão. Enumerando as premissas:
ções simples? A = Chove
A resposta também é não! Portanto, descartamos também o B = Maria vai ao cinema
2º método. C = Cláudio fica em casa
- 3ª Pergunta) Há alguma das premissas que seja uma proposi- D = Faz frio
ção simples ou uma conjunção? E = Fernando está estudando
A resposta é sim! A segunda proposição é (~r). Podemos optar F = É noite
então pelo 3º método? Sim, perfeitamente! Mas caso queiramos A argumentação parte que a conclusão deve ser (V)
seguir adiante com uma próxima pergunta, teríamos: Lembramos a tabela verdade da condicional:
- 4ª Pergunta) A conclusão tem a forma de uma proposição
simples ou de uma disjunção ou de uma condicional? A resposta
também é sim! Nossa conclusão é uma disjunção! Ou seja, caso
queiramos, poderemos utilizar, opcionalmente, o 4º método!
Vamos seguir os dois caminhos: resolveremos a questão pelo
3º e pelo 4º métodos.

Resolução pelo 3º Método


Considerando as premissas verdadeiras e testando a conclusão
verdadeira. Teremos:
- 2ª Premissa) ~r é verdade. Logo: r é falsa! A condicional só será F quando a 1ª for verdadeira e a 2ª falsa,
- 1ª Premissa) (p ∧ q)r é verdade. Sabendo que r é falsa, utilizando isso temos:
concluímos que (p ∧ q) tem que ser também falsa. E quando uma O que se quer saber é: Se Maria foi ao cinema, então Fernando
conjunção (e) é falsa? Quando uma das premissas for falsa ou am- estava estudando. // B → ~E
bas forem falsas. Logo, não é possível determinamos os valores Iniciando temos:
lógicos de p e q. Apesar de inicialmente o 3º método se mostrar 4º - Quando chove (F), Maria não vai ao cinema. (F) // A → ~B
adequado, por meio do mesmo, não poderemos determinar se o = V – para que o argumento seja válido temos que Quando chove
argumento é ou NÃO VÁLIDO. tem que ser F.
3º - Quando Cláudio fica em casa (V), Maria vai ao cinema (V).
Resolução pelo 4º Método // C → B = V - para que o argumento seja válido temos que Maria
Considerando a conclusão falsa e premissas verdadeiras. Tere- vai ao cinema tem que ser V.
mos: 2º - Quando Cláudio sai de casa(F), não faz frio (F). // ~C → ~D
- Conclusão) ~p v ~q é falso. Logo: p é verdadeiro e q é verda- = V - para que o argumento seja válido temos que Quando Cláudio
deiro! sai de casa tem que ser F.
Agora, passamos a testar as premissas, que são consideradas 5º - Quando Fernando está estudando (V ou F), não chove (V).
verdadeiras! Teremos: // E → ~A = V. – neste caso Quando Fernando está estudando pode
- 1ª Premissa) (p∧q)r é verdade. Sabendo que p e q são ver- ser V ou F.
dadeiros, então a primeira parte da condicional acima também é 1º- Durante a noite(V), faz frio (V). // F → D = V
verdadeira. Daí resta que a segunda parte não pode ser falsa. Logo:
r é verdadeiro. Logo nada podemos afirmar sobre a afirmação: Se Maria foi ao
- 2ª Premissa) Sabendo que r é verdadeiro, teremos que ~r é cinema (V), então Fernando estava estudando (V ou F); pois temos
falso! Opa! A premissa deveria ser verdadeira, e não foi! dois valores lógicos para chegarmos à conclusão (V ou F).
Resposta: Errado
Neste caso, precisaríamos nos lembrar de que o teste, aqui no
4º método, é diferente do teste do 3º: não havendo a existência si- (PETROBRAS – TÉCNICO (A) DE EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO
multânea da conclusão falsa e premissas verdadeiras, teremos que JÚNIOR – INFORMÁTICA – CESGRANRIO) Se Esmeralda é uma fada,
o argumento é válido! Conclusão: o argumento é válido! então Bongrado é um elfo. Se Bongrado é um elfo, então Monarca
é um centauro. Se Monarca é um centauro, então Tristeza é uma
Exemplos: bruxa.
(DPU – AGENTE ADMINISTRATIVO – CESPE) Considere que as Ora, sabe-se que Tristeza não é uma bruxa, logo
seguintes proposições sejam verdadeiras. (A) Esmeralda é uma fada, e Bongrado não é um elfo.
• Quando chove, Maria não vai ao cinema. (B) Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
• Quando Cláudio fica em casa, Maria vai ao cinema. (C) Bongrado é um elfo, e Monarca é um centauro.
• Quando Cláudio sai de casa, não faz frio. (D) Bongrado é um elfo, e Esmeralda é uma fada
• Quando Fernando está estudando, não chove. (E) Monarca é um centauro, e Bongrado não é um elfo.
• Durante a noite, faz frio.

Tendo como referência as proposições apresentadas, julgue o


item subsecutivo.

68
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução:
Vamos analisar cada frase partindo da afirmativa Trizteza não é bruxa, considerando ela como (V), precisamos ter como conclusão o
valor lógico (V), então:
(4) Se Esmeralda é uma fada(F), então Bongrado é um elfo (F) → V

(3) Se Bongrado é um elfo (F), então Monarca é um centauro (F) → V


(2) Se Monarca é um centauro(F), então Tristeza é uma bruxa(F) → V
(1) Tristeza não é uma bruxa (V)

Logo:
Temos que:
Esmeralda não é fada(V)
Bongrado não é elfo (V)
Monarca não é um centauro (V)

Como a conclusão parte da conjunção, o mesmo só será verdadeiro quando todas as afirmativas forem verdadeiras, logo, a única que
contém esse valor lógico é:
Esmeralda não é uma fada, e Monarca não é um centauro.
Resposta: B

LÓGICA MATEMÁTICA QUALITATIVA


Aqui veremos questões que envolvem correlação de elementos, pessoas e objetos fictícios, através de dados fornecidos. Vejamos o
passo a passo:

01. Três homens, Luís, Carlos e Paulo, são casados com Lúcia, Patrícia e Maria, mas não sabemos quem ê casado com quem. Eles tra-
balham com Engenharia, Advocacia e Medicina, mas também não sabemos quem faz o quê. Com base nas dicas abaixo, tente descobrir o
nome de cada marido, a profissão de cada um e o nome de suas esposas.
a) O médico é casado com Maria.
b) Paulo é advogado.
c) Patrícia não é casada com Paulo.
d) Carlos não é médico.

Vamos montar o passo a passo para que você possa compreender como chegar a conclusão da questão.
1º passo – vamos montar uma tabela para facilitar a visualização da resolução, a mesma deve conter as informações prestadas no
enunciado, nas quais podem ser divididas em três grupos: homens, esposas e profissões.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia
Patrícia
Maria

Também criamos abaixo do nome dos homens, o nome das esposas.

2º passo – construir a tabela gabarito.


Essa tabela não servirá apenas como gabarito, mas em alguns casos ela é fundamental para que você enxergue informações que ficam
meio escondidas na tabela principal. Uma tabela complementa a outra, podendo até mesmo que você chegue a conclusões acerca dos
grupos e elementos.

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos
Luís
Paulo

3º passo preenchimento de nossa tabela, com as informações mais óbvias do problema, aquelas que não deixam margem a nenhuma
dúvida. Em nosso exemplo:
- O médico é casado com Maria: marque um “S” na tabela principal na célula comum a “Médico” e “Maria”, e um “N” nas demais
células referentes a esse “S”.

69
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos
Luís
Paulo
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

ATENÇÃO: se o médico é casado com Maria, ele NÃO PODE ser casado com Lúcia e Patrícia, então colocamos “N” no cruzamento
de Medicina e elas. E se Maria é casada com o médico, logo ela NÃO PODE ser casada com o engenheiro e nem com o advogado (logo
colocamos “N” no cruzamento do nome de Maria com essas profissões).
– Paulo é advogado: Vamos preencher as duas tabelas (tabela gabarito e tabela principal) agora.
– Patrícia não é casada com Paulo: Vamos preencher com “N” na tabela principal
– Carlos não é médico: preenchemos com um “N” na tabela principal a célula comum a Carlos e “médico”.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

Notamos aqui que Luís então é o médico, pois foi a célula que ficou em branco. Podemos também completar a tabela gabarito.
Novamente observamos uma célula vazia no cruzamento de Carlos com Engenharia. Marcamos um “S” nesta célula. E preenchemos
sua tabela gabarito.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N
Patrícia N
Maria S N N

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro
Luís Médico
Paulo Advogado

4º passo – após as anotações feitas na tabela principal e na tabela gabarito, vamos procurar informações que levem a novas conclu-
sões, que serão marcadas nessas tabelas.
Observe que Maria é esposa do médico, que se descobriu ser Luís, fato que poderia ser registrado na tabela-gabarito. Mas não vamos
fazer agora, pois essa conclusão só foi facilmente encontrada porque o problema que está sendo analisado é muito simples. Vamos con-
tinuar o raciocínio e fazer as marcações mais tarde. Além disso, sabemos que Patrícia não é casada com Paulo. Como Paulo é o advogado,
podemos concluir que Patrícia não é casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N

70
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

Patrícia N N
Maria S N N

Verificamos, na tabela acima, que Patrícia tem de ser casada com o engenheiro, e Lúcia tem de ser casada com o advogado.

Medicina Engenharia Advocacia Lúcia Patrícia Maria


Carlos N S N
Luís S N N
Paulo N N S N
Lúcia N N S
Patrícia N S N
Maria S N N

Concluímos, então, que Lúcia é casada com o advogado (que é Paulo), Patrícia é casada com o engenheiro (que e Carlos) e Maria é
casada com o médico (que é Luís).
Preenchendo a tabela-gabarito, vemos que o problema está resolvido:

HOMENS PROFISSÕES ESPOSAS


Carlos Engenheiro Patrícia
Luís Médico Maria
Paulo Advogado Lúcia

Exemplo:
(TRT-9ª REGIÃO/PR – TÉCNICO JUDICIÁRIO – ÁREA ADMINISTRATIVA – FCC) Luiz, Arnaldo, Mariana e Paulo viajaram em janeiro, todos
para diferentes cidades, que foram Fortaleza, Goiânia, Curitiba e Salvador. Com relação às cidades para onde eles viajaram, sabe-se que:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;
− Mariana viajou para Curitiba;
− Paulo não viajou para Goiânia;
− Luiz não viajou para Fortaleza.

É correto concluir que, em janeiro,


(A) Paulo viajou para Fortaleza.
(B) Luiz viajou para Goiânia.
(C) Arnaldo viajou para Goiânia.
(D) Mariana viajou para Salvador.
(E) Luiz viajou para Curitiba.

Resolução:
Vamos preencher a tabela:
− Luiz e Arnaldo não viajaram para Salvador;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N
Arnaldo N
Mariana
Paulo

− Mariana viajou para Curitiba;

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N N
Arnaldo N N
Mariana N N S N
Paulo N

71
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
− Paulo não viajou para Goiânia; ATENÇÃO: Todo homem é mortal, mas nem todo mortal é ho-
mem.
Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador A frase “todo homem é mortal” possui as seguintes conclusões:
1ª) Algum mortal é homem ou algum homem é mortal.
Luiz N N 2ª) Se José é homem, então José é mortal.
Arnaldo N N
A forma “Todo A é B” pode ser escrita na forma: Se A então B.
Mariana N N S N
A forma simbólica da expressão “Todo A é B” é a expressão (∀
Paulo N N (x) (A (x) → B).
Observe que a palavra todo representa uma relação de inclusão
− Luiz não viajou para Fortaleza. de conjuntos, por isso está associada ao operador da condicional.

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador Aplicando temos:


x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Agora, se escrevermos da for-
Luiz N N N ma ∀ (x) ∈ N / x + 2 = 5 ( lê-se: para todo pertencente a N temos x
Arnaldo N N + 2 = 5), atribuindo qualquer valor a x a sentença será verdadeira?
A resposta é NÃO, pois depois de colocarmos o quantificador,
Mariana N N S N
a frase passa a possuir sujeito e predicado definidos e podemos jul-
Paulo N N gar, logo, é uma proposição lógica.

Agora, completando o restante: • Quantificador existencial (∃)


Paulo viajou para Salvador, pois a nenhum dos três viajou. En- O símbolo ∃ pode ser lido das seguintes formas:
tão, Arnaldo viajou para Fortaleza e Luiz para Goiânia

Fortaleza Goiânia Curitiba Salvador


Luiz N S N N
Arnaldo S N N N
Mariana N N S N
Exemplo:
Paulo N N N S “Algum matemático é filósofo.” O diagrama lógico dessa frase
é:
Resposta: B

Quantificador
É um termo utilizado para quantificar uma expressão. Os quan-
tificadores são utilizados para transformar uma sentença aberta ou
proposição aberta em uma proposição lógica.

QUANTIFICADOR + SENTENÇA ABERTA = SENTENÇA FECHADA


O quantificador existencial tem a função de elemento comum.
Tipos de quantificadores A palavra algum, do ponto de vista lógico, representa termos co-
muns, por isso “Algum A é B” possui a seguinte forma simbólica: (∃
• Quantificador universal (∀) (x)) (A (x) ∧ B).
O símbolo ∀ pode ser lido das seguintes formas:
Aplicando temos:
x + 2 = 5 é uma sentença aberta. Escrevendo da forma (∃ x) ∈
N / x + 2 = 5 (lê-se: existe pelo menos um x pertencente a N tal que x
+ 2 = 5), atribuindo um valor que, colocado no lugar de x, a sentença
será verdadeira?
A resposta é SIM, pois depois de colocarmos o quantificador,
Exemplo: a frase passou a possuir sujeito e predicado definidos e podemos
Todo homem é mortal. julgar, logo, é uma proposição lógica.
A conclusão dessa afirmação é: se você é homem, então será
mortal. ATENÇÃO:
Na representação do diagrama lógico, seria: – A palavra todo não permite inversão dos termos: “Todo A é B”
é diferente de “Todo B é A”.
– A palavra algum permite a inversão dos termos: “Algum A é
B” é a mesma coisa que “Algum B é A”.

Forma simbólica dos quantificadores


Todo A é B = (∀ (x) (A (x) → B).
Algum A é B = (∃ (x)) (A (x) ∧ B).
Nenhum A é B = (~ ∃ (x)) (A (x) ∧ B).

72
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Algum A não é B= (∃ (x)) (A (x) ∧ ~ B). Representação Decimal das Frações
Temos 2 possíveis casos para transformar frações em decimais
Exemplos: 1º) Decimais exatos: quando dividirmos a fração, o número de-
Todo cavalo é um animal. Logo, cimal terá um número finito de algarismos após a vírgula.
(A) Toda cabeça de animal é cabeça de cavalo.
(B) Toda cabeça de cavalo é cabeça de animal.
(C) Todo animal é cavalo.
(D) Nenhum animal é cavalo.

Resolução:
A frase “Todo cavalo é um animal” possui as seguintes conclu-
sões:
– Algum animal é cavalo ou Algum cavalo é um animal.
– Se é cavalo, então é um animal.
Nesse caso, nossa resposta é toda cabeça de cavalo é cabeça 2º) Terá um número infinito de algarismos após a vírgula, mas
de animal, pois mantém a relação de “está contido” (segunda forma lembrando que a dízima deve ser periódica para ser número racio-
de conclusão). nal
Resposta: B OBS: período da dízima são os números que se repetem, se
não repetir não é dízima periódica e assim números irracionais, que
(CESPE) Se R é o conjunto dos números reais, então a proposi- trataremos mais a frente.
ção (∀ x) (x ∈ R) (∃ y) (y ∈ R) (x + y = x) é valorada como V.

Resolução:
Lemos: para todo x pertencente ao conjunto dos números reais
(R) existe um y pertencente ao conjunto dos números dos reais (R)
tal que x + y = x.
– 1º passo: observar os quantificadores.
X está relacionado com o quantificador universal, logo, todos
os valores de x devem satisfazer a propriedade.
Y está relacionado com o quantificador existencial, logo, é ne-
cessário pelo menos um valor de x para satisfazer a propriedade. Representação Fracionária dos Números Decimais
– 2º passo: observar os conjuntos dos números dos elementos 1ºcaso) Se for exato, conseguimos sempre transformar com o
x e y. denominador seguido de zeros.
O elemento x pertence ao conjunto dos números reais. O número de zeros depende da casa decimal. Para uma casa,
O elemento y pertence ao conjunto os números reais. um zero (10) para duas casas, dois zeros(100) e assim por diante.
– 3º passo: resolver a propriedade (x+ y = x).
A pergunta: existe algum valor real para y tal que x + y = x?
Existe sim! y = 0.
X + 0 = X.
Como existe pelo menos um valor para y e qualquer valor de
x somado a 0 será igual a x, podemos concluir que o item está cor-
reto.
Resposta: CERTO

TEORIA DE CONJUNTOS: CONJUNTOS NUMÉRICOS,


NÚMEROS NATURAIS, INTEIROS, RACIONAIS E REAIS

Números Racionais 2ºcaso) Se dízima periódica é um número racional, então como


Chama-se de número racional a todo número que pode ser ex- podemos transformar em fração?
presso na forma , onde a e b são inteiros quaisquer, com b≠0
São exemplos de números racionais: Exemplo 1
Transforme a dízima 0, 333... .em fração
-12/51 Sempre que precisar transformar, vamos chamar a dízima dada
-3 de x, ou seja
X=0,333...
-(-3)
-2,333... Se o período da dízima é de um algarismo, multiplicamos por
10.
As dízimas periódicas podem ser representadas por fração, 10x=3,333...
portanto são consideradas números racionais.
Como representar esses números? E então subtraímos:
10x-x=3,333...-0,333...
9x=3

73
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
X=3/9 Representação na reta
X=1/3
Agora, vamos fazer um exemplo com 2 algarismos de período.

Exemplo 2
Seja a dízima 1,1212...
Façamos x = 1,1212...
100x = 112,1212... .

Subtraindo: Intervalos limitados


100x-x=112,1212...-1,1212... Intervalo fechado – Números reais maiores do que a ou iguais a
99x=111 e menores do que b ou iguais a b.
X=111/99

Números Irracionais
Identificação de números irracionais
– Todas as dízimas periódicas são números racionais. Intervalo:[a,b]
– Todos os números inteiros são racionais. Conjunto: {x ϵ R|a≤x≤b}
– Todas as frações ordinárias são números racionais.
– Todas as dízimas não periódicas são números irracionais. Intervalo aberto – números reais maiores que a e menores que
– Todas as raízes inexatas são números irracionais. b.
– A soma de um número racional com um número irracional é
sempre um número irracional.
– A diferença de dois números irracionais, pode ser um número
racional. Intervalo:]a,b[
– Os números irracionais não podem ser expressos na forma , Conjunto:{xϵR|a<x<b}
com a e b inteiros e b≠0.
Intervalo fechado à esquerda – números reais maiores que a ou
iguais a A e menores do que B.
Exemplo: - = 0 e 0 é um número racional.

– O quociente de dois números irracionais, pode ser um núme-


ro racional.

Exemplo: : = = 2 e 2 é um número racional. Intervalo:{a,b[


Conjunto {x ϵ R|a≤x<b}
– O produto de dois números irracionais, pode ser um número
racional. Intervalo fechado à direita – números reais maiores que a e
menores ou iguais a b.
Exemplo: . = = 7 é um número racional.

Exemplo: radicais( a raiz quadrada de um número na-


tural, se não inteira, é irracional.
Intervalo:]a,b]
Números Reais Conjunto:{x ϵ R|a<x≤b}

Intervalos Ilimitados
Semirreta esquerda, fechada de origem b- números reais me-
nores ou iguais a b.

Intervalo:]-∞,b]
Conjunto:{x ϵ R|x≤b}

Semirreta esquerda, aberta de origem b – números reais me-


nores que b.

Fonte: www.estudokids.com.br
Intervalo:]-∞,b[
Conjunto:{x ϵ R|x<b}

74
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Semirreta direita, fechada de origem a – números reais maiores 6) Toda vez que a base for igual a zero, não importa o valor do
ou iguais a A. expoente, o resultado será igual a zero.

Intervalo:[a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x≥a} Propriedades
1) (am . an = am+n) Em uma multiplicação de potências de mesma
Semirreta direita, aberta, de origem a – números reais maiores base, repete-se a base e soma os expoentes.
que a.
Exemplos:
24 . 23 = 24+3= 27
(2.2.2.2) .( 2.2.2)= 2.2.2. 2.2.2.2= 27

Intervalo:]a,+ ∞[
Conjunto:{x ϵ R|x>a}

Potenciação 2) (am: an = am-n). Em uma divisão de potência de mesma base.


Multiplicação de fatores iguais Conserva-se a base e subtraem os expoentes.

2³=2.2.2=8 Exemplos:
96 : 92 = 96-2 = 94
Casos
1) Todo número elevado ao expoente 0 resulta em 1.

3) (am)n Potência de potência. Repete-se a base e multiplica-se


os expoentes.
2) Todo número elevado ao expoente 1 é o próprio número.
Exemplos:
(52)3 = 52.3 = 56

3) Todo número negativo, elevado ao expoente par, resulta em


um número positivo.
4) E uma multiplicação de dois ou mais fatores elevados a um
expoente, podemos elevar cada um a esse mesmo expoente.
(4.3)²=4².3²

5) Na divisão de dois fatores elevados a um expoente, podemos


4) Todo número negativo, elevado ao expoente ímpar, resulta elevar separados.
em um número negativo.

Radiciação
5) Se o sinal do expoente for negativo, devemos passar o sinal Radiciação é a operação inversa a potenciação
para positivo e inverter o número que está na base.

75
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Técnica de Cálculo Operações
A determinação da raiz quadrada de um número torna-se
mais fácil quando o algarismo se encontra fatorado em números
primos. Veja:
64 2
32 2 Operações
16 2
8 2 Multiplicação
4 2
2 2 Exemplo
1

64=2.2.2.2.2.2=26
Divisão
Como é raiz quadrada a cada dois números iguais “tira-se” um
e multiplica.

Exemplo

Observe:
Adição e subtração
1 1 1
3.5 = (3.5) 2 = 3 .5 = 3. 5
2 2
Para fazer esse cálculo, devemos fatorar o 8 e o 20.

De modo geral, se 8 2 20 2
4 2 10 2
a ∈ R+ , b ∈ R+ , n ∈ N * , 2 2 5 5
1 1
Então:

n
a.b = n a .n b
Caso tenha:
O radical de índice inteiro e positivo de um produto indicado é
igual ao produto dos radicais de mesmo índice dos fatores do radi- Não dá para somar, as raízes devem ficar desse modo.
cando.
Racionalização de Denominadores
Raiz quadrada de frações ordinárias Normalmente não se apresentam números irracionais com
radicais no denominador. Ao processo que leva à eliminação dos
1 1 radicais do denominador chama-se racionalização do denominador.
2  2 2 22 2 1º Caso: Denominador composto por uma só parcela
Observe: =  = 1 =
3 3 3
32
a na
* *
De modo geral, se a ∈ R+ , b ∈ R , n ∈ N , então: n =
+
b nb
O radical de índice inteiro e positivo de um quociente indicado
é igual ao quociente dos radicais de mesmo índice dos termos do
radicando. 2º Caso: Denominador composto por duas parcelas.

Raiz quadrada números decimais

Devemos multiplicar de forma que obtenha uma diferença de


quadrados no denominador:

76
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
A idade de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das
RELAÇÕES, EQUAÇÕES DE 1º E 2º GRAUS, SISTEMAS. idades de seus dois filhos,
INEQUAÇÕES DO 1º E DO 2º GRAU Pe=2(Pi+Pa)
Pe=2Pi+2Pa

Equação 1º grau Lembrando que:


Equação é toda sentença matemática aberta representada por Pi=Pa+3
uma igualdade, em que exista uma ou mais letras que represen-
tam números desconhecidos. Substituindo em Pe
Equação do 1º grau, na incógnita x, é toda equação redutível Pe=2(Pa+3)+2Pa
à forma ax+b=0, em que a e b são números reais, chamados coefi- Pe=2Pa+6+2Pa
cientes, com a≠0. Pe=4Pa+6

Uma raiz da equação ax+b =0(a≠0) é um valor numérico de x


que, substituindo no 1º membro da equação, torna-se igual ao 2º
membro.
Pa+3+10=2Pa+3
Nada mais é que pensarmos em uma balança. Pa=10
Pi=Pa+3
Pi=10+3=13
Pe=40+6=46
Soma das idades: 10+13+46=69
Resposta: B.

Equação 2º grau

A equação do segundo grau é representada pela fórmula geral:


A balança deixa os dois lados iguais para equilibrar, a equação
também. ax2+bx+c=0
No exemplo temos:
3x+300 Onde a, b e c são números reais, a≠0.
Outro lado: x+1000+500
E o equilíbrio? Discussão das Raízes
3x+300=x+1500

Quando passamos de um lado para o outro invertemos o sinal


3x-x=1500-300
2x=1200
X=600

Exemplo Se for negativo, não há solução no conjunto dos números


(PREF. DE NITERÓI/RJ – Fiscal de Posturas – FGV/2015) A ida- reais.
de de Pedro hoje, em anos, é igual ao dobro da soma das idades
de seus dois filhos, Paulo e Pierre. Pierre é três anos mais velho do Se for positivo, a equação tem duas soluções:
que Paulo. Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da
idade que Pedro tem hoje.
A soma das idades que Pedro, Paulo e Pierre têm hoje é:
(A) 72;
(B) 69;
(C) 66; Exemplo
(D) 63;
(E) 60.

Resolução
A ideia de resolver as equações é literalmente colocar na lin-
guagem matemática o que está no texto.
“Pierre é três anos mais velho do que Paulo”
Pi=Pa+3 , portanto não há solução real.

“Daqui a dez anos, a idade de Pierre será a metade da idade


que Pedro tem hoje.”

77
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo
(IMA – Analista Administrativo Jr – SHDIAS/2015) A soma das
idades de Ana e Júlia é igual a 44 anos, e, quando somamos os qua-
drados dessas idades, obtemos 1000. A mais velha das duas tem:
(A) 24 anos
(B) 26 anos
(C) 31 anos
(D) 33 anos

Resolução
A+J=44
A²+J²=1000
A=44-J
(44-J)²+J²=1000
1936-88J+J²+J²=1000
2J²-88J+936=0
Se ∆ < 0 não há solução, pois não existe raiz quadrada real de Dividindo por2:
um número negativo. J²-44J+468=0
∆=(-44)²-4.1.468
Se ∆ = 0, há duas soluções iguais: ∆=1936-1872=64

Se ∆ > 0, há soluções reais diferentes:

Relações entre Coeficientes e Raízes


Substituindo em A
Dada as duas raízes: A=44-26=18
Ou A=44-18=26
Resposta: B.

Inequação
Uma inequação é uma sentença matemática expressa por uma
Soma das Raízes ou mais incógnitas, que ao contrário da equação que utiliza um sinal
de igualdade, apresenta sinais de desigualdade. Veja os sinais de
desigualdade:
>: maior
<: menor
Produto das Raízes ≥: maior ou igual
≤: menor ou igual

O princípio resolutivo de uma inequação é o mesmo da equa-


ção, onde temos que organizar os termos semelhantes em cada
Composição de uma equação do 2ºgrau, conhecidas as raízes membro, realizando as operações indicadas. No caso das inequa-
ções, ao realizarmos uma multiplicação de seus elementos por
Podemos escrever a equação da seguinte maneira: –1com o intuito de deixar a parte da incógnita positiva, invertemos
o sinal representativo da desigualdade.
x²-Sx+P=0
Exemplo 1
Exemplo 4x + 12 > 2x – 2
Dada as raízes -2 e 7. Componha a equação do 2º grau. 4x – 2x > – 2 – 12
2x > – 14
Solução x > –14/2
S=x1+x2=-2+7=5 x>–7
P=x1.x2=-2.7=-14
Então a equação é: x²-5x-14=0

78
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Inequação - Produto Vamos achar a solução de cada inequação.
Quando se trata de inequações - produto, teremos uma desi- 4x + 4 ≤ 0
gualdade que envolve o produto de duas ou mais funções. Portanto, 4x ≤ - 4
surge a necessidade de realizar o estudo da desigualdade em cada x≤-4:4
função e obter a resposta final realizando a intersecção do conjunto x≤-1
resposta das funções.
Exemplo

a)(-x+2)(2x-3)<0
S1 = {x ϵ R | x ≤ - 1}

Fazendo o cálculo da segunda inequação temos:


x+1≤0
x≤-1

A “bolinha” é fechada, pois o sinal da inequação é igual.

S2 = { x ϵ R | x ≤ - 1}
Inequação -Quociente
Na inequação- quociente, tem-se uma desigualdade de funções Calculando agora o CONJUNTO SOLUÇÃO da inequação
fracionárias, ou ainda, de duas funções na qual uma está dividindo Temos:
a outra. Diante disso, deveremos nos atentar ao domínio da função S = S1 ∩ S2
que se encontra no denominador, pois não existe divisão por zero.
Com isso, a função que estiver no denominador da inequação deve-
rá ser diferente de zero.
O método de resolução se assemelha muito à resolução de
uma inequação - produto, de modo que devemos analisar o sinal
das funções e realizar a intersecção do sinal dessas funções.

Exemplo
Resolva a inequação a seguir: Portanto:

S = { x ϵ R | x ≤ - 1} ou S = ] - ∞ ; -1]

x-2≠0 Inequação 2º grau


x≠2 Chama-se inequação do 2º grau, toda inequação que pode ser
escrita numa das seguintes formas:
ax²+bx+c>0
ax²+bx+c≥0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c<0
ax²+bx+c≤0
ax²+bx+c≠0

Exemplo
Vamos resolver a inequação3x² + 10x + 7 < 0.

Resolvendo Inequações
Resolver uma inequação significa determinar os valores reais
SISTEMA DE INEQUAÇÃO DO 1º GRAU de x que satisfazem a inequação dada.
Assim, no exemplo, devemos obter os valores reais de x que
Um sistema de inequação do 1º grau é formado por duas ou tornem a expressão 3x² + 10x +7negativa.
mais inequações, cada uma delas tem apenas uma variável sendo
que essa deve ser a mesma em todas as outras inequações envol-
vidas.
Veja alguns exemplos de sistema de inequação do 1º grau:

79
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Como, em geral, trabalhamos com funções numéricas, o domí-
nio e a imagem são conjuntos numéricos, e podemos definir com
mais rigor o que é uma função matemática utilizando a linguagem
da teoria dos conjuntos.

Definição: Sejam A e B dois conjuntos não vazios e f uma rela-


ção de A em B.
Essa relação f é uma função de A em B quando a cada elemen-
to x do conjunto A está associado um e apenas um elemento y do
conjunto B.

Notação: f: A→B (lê-se função f de A em B)

Domínio, contradomínio, imagem


O domínio é constituído por todos os valores que podem ser
atribuídos à variável independente. Já a imagem da função é forma-
da por todos os valores correspondentes da variável dependente.

O conjunto A é denominado domínio da função, indicada por D.


O domínio serve para definir em que conjunto estamos trabalhan-
do, isto é, os valores possíveis para a variável x.
O conjunto B é denominado contradomínio, CD.
S = {x ϵ R / –7/3 < x < –1} Cada elemento x do domínio tem um correspondente y no con-
tradomínio. A esse valor de y damos o nome de imagem de x pela
função f. O conjunto de todos os valores de y que são imagens de
valores de x forma o conjunto imagem da função, que indicaremos
FUNÇÕES DO 1º GRAU E DO 2º GRAU E SUA REPRE- por Im.
SENTAÇÃO GRÁFICA
Exemplo
Com os conjuntos A={1, 4, 7} e B={1, 4, 6, 7, 8, 9, 12}criamos
Diagrama de Flechas a função f: A→B. definida por f(x) = x + 5 que também pode ser
representada por y = x + 5. A representação, utilizando conjuntos,
desta função, é:

Gráfico Cartesiano

No nosso exemplo, o domínio é D = {1, 4, 7}, o contradomínio é


= {1, 4, 6, 7, 8, 9, 12} e o conjunto imagem é Im = {6, 9, 12}

Classificação das funções


Injetora: Quando para ela elementos distintos do domínio
apresentam imagens também distintas no contradomínio.

Muitas vezes nos deparamos com situações que envolvem uma


relação entre grandezas. Assim, o valor a ser pago na conta de luz Sobrejetora: Quando todos os elementos do contradomínio fo-
depende do consumo medido no período; o tempo de uma viagem rem imagens de pelo menos um elemento do domínio.
de automóvel depende da velocidade no trajeto.

80
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Função Decrescente: a < 0
Nesse caso, os valores de y, caem.

Bijetora: Quando apresentar as características de função inje-


tora e ao mesmo tempo, de sobrejetora, ou seja, elementos dis-
tintos têm sempre imagens distintas e todos os elementos do con-
tradomínio são imagens de pelo menos um elemento do domínio.

Raiz da função
Calcular o valor da raiz da função é determinar o valor em que a
reta cruza o eixo x, para isso consideremos o valor de y igual a zero,
pois no momento em que a reta intersecta o eixo x, y = 0. Observe a
representação gráfica a seguir:

Função 1º grau
A função do 1° grau relacionará os valores numéricos obtidos
de expressões algébricas do tipo (ax + b), constituindo, assim, a fun-
ção f(x) = ax + b.

Estudo dos Sinais


Definimos função como relação entre duas grandezas repre-
sentadas por x e y. No caso de uma função do 1º grau, sua lei de Podemos estabelecer uma formação geral para o cálculo da raiz
formação possui a seguinte característica: y = ax + b ou f(x) = ax + de uma função do 1º grau, basta criar uma generalização com base
b, onde os coeficientes a e b pertencem aos reais e diferem de zero. na própria lei de formação da função, considerando y = 0 e isolando
Esse modelo de função possui como representação gráfica a figura o valor de x (raiz da função).
de uma reta, portanto, as relações entre os valores do domínio e da X=-b/a
imagem crescem ou decrescem de acordo com o valor do coeficien-
te a. Se o coeficiente possui sinal positivo, a função é crescente, e Dependendo do caso, teremos que fazer um sistema com duas
caso ele tenha sinal negativo, a função é decrescente. equações para acharmos o valor de a e b.

Função Crescente: a > 0 Exemplo:


De uma maneira bem simples, podemos olhar no gráfico que os Dado que f(x)=ax+b e f(1)=3 e f(3)=5, ache a função.
valores de y vão crescendo.
F(1)=1a+b
3=a+b
F(3)=3a+b
5=3a+b

Isolando a em I
a=3-b
Substituindo em II

3(3-b)+b=5
9-3b+b=5
-2b=-4
b=2

Portanto,
a=3-b
a=3-2=1

81
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Assim, f(x)=x+2 Raízes

Função Quadrática ou Função do 2º grau


Em geral, uma função quadrática ou polinomial do segundo
grau tem a seguinte forma:
f(x)=ax²+bx+c, onde a≠0
f(x)=a(x-x1)(x-x2)

É essencial que apareça ax² para ser uma função quadrática e


deve ser o maior termo.

Concavidade
A concavidade da parábola é para cima se a>0 e para baixo se
a<0

Vértices e Estudo do Sinal


Quando a > 0, a parábola tem concavidade voltada para cima e
um ponto de mínimo V; quando a < 0, a parábola tem concavidade
voltada para baixo e um ponto de máximo V.

Em qualquer caso, as coordenadas de V são .

Veja os gráficos:
Discriminante(∆)
∆ = b²-4ac
∆>0

A parábola y=ax²+bx+c intercepta o eixo x em dois pontos dis-


tintos, (x1,0) e (x2,0), onde x1 e x2 são raízes da equação ax²+bx+c=0

∆=0

Quando ∆=0 , a parábola y=ax²+bx+c é tangente ao eixo x, no


ponto

Repare que, quando tivermos o discriminante ∆ = 0, as duas


raízes da equação ax²+bx+c=0 são iguais
∆<0
A função não tem raízes reais

82
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Equação Exponencial Função decrescente
É toda equação cuja incógnita se apresenta no expoente de
uma ou mais potências de bases positivas e diferentes de 1. Se 0 < a < 1 temos uma função exponencial decrescente em
todo o domínio da função.
Exemplo Neste outro gráfico podemos observar que à medida que x au-
Resolva a equação no universo dos números reais. menta, y diminui. Graficamente observamos que a curva da função
é decrescente.

Solução

A Constante de Euler
É definida por :
e = exp(1)

O número e é um número irracional e positivo e em função da


definição da função exponencial, temos que:
Ln(e) = 1

Este número é denotado por e em homenagem ao matemático


Função exponencial suíço Leonhard Euler (1707-1783), um dos primeiros a estudar as
A expressão matemática que define a função exponencial é propriedades desse número.
uma potência. Nesta potência, a base é um número real positivo e
diferente de 1 e o expoente é uma variável. O valor deste número expresso com 10 dígitos decimais, é:
e = 2,7182818284
Função crescente
Se a > 1 temos uma função exponencial crescente, qualquer Se x é um número real, a função exponencial exp(.) pode ser
que seja o valor real de x. escrita como a potência de base e com expoente x, isto é:
No gráfico da função ao lado podemos observar que à medida ex = exp(x)
que x aumenta, também aumenta f(x) ou y. Graficamente vemos
que a curva da função é crescente. Propriedades dos expoentes
Se a, x e y são dois números reais quaisquer e k é um número
racional, então:
- ax ay= ax + y
- ax / ay= ax - y
- (ax) y= ax.y
- (a b)x = ax bx
- (a / b)x = ax / bx
- a-x = 1 / ax
Logaritmo
Considerando-se dois números N e a reais e positivos, com a
≠1, existe um número c tal que:

A esse expoente c damos o nome de logaritmo de N na base a

Ainda com base na definição podemos estabelecer condições


de existência:

83
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo Solução
a) Log 6=log 2⋅3=log2+log3=0,3010+0,4771=0,7781

Função Logarítmica

Uma função dada por , em que a constante


a é positiva e diferente de 1, denomina-se função logarítmica.

Consequências da Definição

Propriedades
MATRIZES E DETERMINANTES. SISTEMAS LINEARES

Matriz
Uma matriz é uma tabela de números reais dispostos segundo
linhas horizontais e colunas verticais.
O conjunto ordenado dos números que formam a tabela, é de-
nominado matriz, e cada número pertencente a ela é chamado de
elemento da matriz.

Tipo ou ordem de uma matriz


As matrizes são classificadas de acordo com o seu número de
linhas e de colunas. Assim, a matriz representada a seguir é deno-
minada matriz do tipo, ou ordem, 3 x 4 (lê-se três por quatro), pois
tem três linhas e quatro colunas. Exemplo:

Mudança de Base

Exemplo
Dados log 2=0,3010 e log 3=0,4771, calcule:
a) log 6
b) log1,5
c) log 16

84
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Representação genérica de uma matriz
Costumamos representar uma matriz por uma letra maiúscula (A, B, C...), indicando sua ordem no lado inferior direito da letra. Quan-
do desejamos indicar a ordem de modo genérico, fazemos uso de letras minúsculas. Exemplo: Am x n.
Da mesma maneira, indicamos os elementos de uma matriz pela mesma letra que a denomina, mas em minúscula. A linha e a coluna
em que se encontra tal elemento é indicada também no lado inferior direito do elemento. Exemplo: a11.

Exemplo
(PM/SE – Soldado 3ª Classe – FUNCAB) A matriz abaixo registra as ocorrências policiais em uma das regiões da cidade durante uma
semana.

Sendo M=(aij)3x7 com cada elemento aij representando o número de ocorrência no turno i do dia j da semana.
O número total de ocorrências no 2º turno do 2º dia, somando como 3º turno do 6º dia e com o 1º turno do 7º dia será:
(A) 61
(B) 59
(C) 58
(D) 60
(E) 62

Resolução:
Turno i –linha da matriz
Turno j- coluna da matriz
2º turno do 2º dia – a22=18
3º turno do 6º dia-a36=25
1º turno do 7º dia-a17=19
Somando:18+25+19=62
Resposta: E.

Igualdade de matrizes
Duas matrizes A e B são iguais quando apresentam a mesma ordem e seus elementos correspondentes forem iguais.

Operações com matrizes


Adição: somamos os elementos correspondentes das matrizes, por isso, é necessário que as matrizes sejam de mesma ordem. A=[aij]
mxn
; B = [bij]m x n, portanto C = A + B ⇔ cij = aij + bij.

85
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) Considere a seguinte sentença envolvendo matrizes:

Diante do exposto, assinale a alternativa que apresenta o valor de y que torna a sentença verdadeira.
(A) 4.
(B) 6.
(C) 8.
(D) 10.

Resolução:

y=10
Resposta: D.

Multiplicação por um número real: sendo k ∈ R e A uma matriz de ordem m x n, a matriz k . A é obtida multiplicando-se todos os
elementos de A por k.

Subtração: a diferença entre duas matrizes A e B (de mesma ordem) é obtida por meio da soma da matriz A com a oposta de B.

Multiplicação entre matrizes: consideremos o produto A . B = C. Para efetuarmos a multiplicação entre A e B, é necessário, antes de
mais nada, determinar se a multiplicação é possível, isto é, se o número de colunas de A é igual ao número de linhas de B, determinando
a ordem de C: Am x n x Bn x p = Cm x p, como o número de colunas de A coincide com o de linhas de B(n) então torna-se possível o produto, e a
matriz C terá o número de linhas de A(m) e o número de colunas de B(p)

De modo geral, temos:

86
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo:
(CPTM – ALMOXARIFE – MAKIYAMA) Assinale a alternativa que apresente o resultado da multiplicação das matrizes A e B abaixo:

(A)

(B)

(C)

(D)

(E)

Resolução:

Resposta: B.
Casos particulares
Matriz identidade ou unidade: é a matriz quadrada que possui os elementos de sua diagonal principal iguais a 1 e os demais elemen-
tos iguais a 0. Indicamos a matriz identidade de Ιn, onde n é a ordem da matriz.

Matriz transposta: é a matriz obtida pela troca ordenada de linhas por colunas de uma matriz. Dada uma matriz A de ordem m x n,
obtém-se uma outra matriz de ordem n x m, chamada de transposta de A. Indica-se por At.

Exemplo:
(CPTM – ANALISTA DE COMUNICAÇÃO JÚNIOR – MAKIYAMA) Para que a soma de uma matriz e sua respectiva matriz transposta At
em uma matriz identidade, são condições a serem cumpridas:
(A) a=0 e d=0
(B) c=1 e b=1
(C) a=1/c e b=1/d
(D) a²-b²=1 e c²-d²=1
(E) b=-c e a=d=1/2

87
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Resolução:

2a=1
a=1/2
b+c=0
b=-c
2d=1
D=1/2
Resposta: E.

Matriz inversa: dizemos que uma matriz quadrada A, de ordem n, admite inversa se existe uma matriz A-1, tal que:

Determinantes

Determinante é um número real associado a uma matriz quadrada. Para indicar o determinante, usamos barras. Seja A uma matriz
quadrada de ordem n, indicamos o determinante de A por:

Determinante de uma matriz de 1ª- ordem


A matriz de ordem 1 só possui um elemento. Por isso, o determinante de uma matriz de 1ª ordem é o próprio elemento.

Determinante de uma matriz de 2ª- ordem


Em uma matriz de 2ª ordem, obtém-se o determinante por meio da diferença do produto dos elementos da diagonal principal pelo
produto dos elementos da diagonal secundária.

Exemplo:
(PM/SP – SARGENTO CFS – CETRO) É correto afirmar que o determinante é igual a zero para x igual a
(A) 1.
(B) 2.
(C) -2.
(D) -1.

Resolução:
D = 4 - (-2x)
0 = 4 + 2x
x=-2
Resposta: C.

Regra de Sarrus
Esta técnica é utilizada para obtermos o determinante de matrizes de 3ª ordem. Utilizaremos um exemplo para mostrar como aplicar
a regra de Sarrus. A regra de Sarrus consiste em:
a) Repetir as duas primeiras colunas à direita do determinante.
b) Multiplicar os elementos da diagonal principal e os elementos que estiverem nas duas paralelas a essa diagonal, conservando os
sinais desses produtos.

88
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
c) Efetuar o produto dos elementos da diagonal secundária e dos elementos que estiverem nas duas paralelas à diagonal e multipli-
cá-los por -1.
d) Somar os resultados dos itens b e c. E assim encontraremos o resultado do determinante.

Simplificando temos:

Exemplo:
(PREF. ARARAQUARA/SP – AGENTE DA ADMINISTRAÇÃO DOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO – CETRO)

Dada a matriz , onde , assinale a alternativa que apresenta o valor do determinante de A é


(A) -9.
(B) -8.
(C) 0.
(D) 4.

Resolução:

detA = - 1 – 4 + 2 - (2 + 2 + 2) = - 9

Resposta: A.

Teorema de Laplace
Para matrizes quadradas de ordem n ≥ 2, o teorema de Laplace oferece uma solução prática no cálculo dos determinantes. Pelo teo-
rema, o determinante de uma matriz quadrada A de ordem n (n ≥ 2) é igual à soma dos produtos dos elementos de uma linha ou de uma
coluna qualquer, pelos respectivos co-fatores.

Exemplo:
Dada a matriz quadrada de ordem 3, , vamos calcular det A usando o teorema de Laplace.

Podemos calcular o determinante da matriz A, escolhendo qualquer linha ou coluna. Por exemplo, escolhendo a 1ª linha, teremos:
det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13

89
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO

Portanto, temos que:


det A = 3. (-21) + 2. 6 + 1. (-12) ⇒ det A = -63 + 12 – 12 ⇒ det A = -63

Exemplo:
(TRANSPETRO – ENGENHEIRO JÚNIOR – AUTOMAÇÃO – CESGRANRIO) Um sistema dinâmico, utilizado para controle de uma rede
automatizada, forneceu dados processados ao longo do tempo e que permitiram a construção do quadro abaixo.

1 3 2 0
3 1 0 2
2 3 0 1
0 2 1 3

A partir dos dados assinalados, mantendo-se a mesma disposição, construiu-se uma matriz M. O valor do determinante associado à
matriz M é
(A) 42
(B) 44
(C) 46
(D) 48
(E) 50

Resolução:

Como é uma matriz 4x4 vamos achar o determinante através do teorema de Laplace. Para isso precisamos, calcular os cofatores.
Dica: pela fileira que possua mais zero. O cofator é dado pela fórmula: Para o determinante é usado os números que
sobraram tirando a linha e a coluna.

A13=2.23=46

A43=1.2=2
D = 46 + 2 = 48

Resposta: D.

90
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Determinante de uma matriz de ordem n > 3
Para obtermos o determinante de matrizes de ordem n > 3, utilizamos o teorema de Laplace e a regra de Sarrus. Exemplo:

Escolhendo a 1ª linha para o desenvolvimento do teorema de Laplace. Temos então:


det A = a11. A11 + a12. A12 + a13. A13 + a14. A14

Como os determinantes são, agora, de 3ª ordem, podemos aplicar a regra de Sarrus em cada um deles. Assim:
det A= 3. (188) - 1. (121) + 2. (61) ⇒ det A = 564 - 121 + 122 ⇒ det A = 565
Propriedades dos determinantes
a) Se todos os elementos de uma linha ou de uma coluna são nulos, o determinante é nulo.

b) Se uma matriz A possui duas linhas ou duas colunas iguais, então o determinante é nulo.

c) Em uma matriz cuja linha ou coluna foi multiplicada por um número k real, o determinante também fica multiplicado pelo mesmo
número k.

d) Para duas matrizes quadradas de mesma ordem, vale a seguinte propriedade:


det (A. B) = det A + det B.

e) Uma matriz quadrada A será inversível se, e somente se, seu determinante for diferente de zero.

91
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Sistema de equações lineares Matriz incompleta
Um sistema de equações lineares mxn é um conjunto de m
equações lineares, cada uma delas com n incógnitas.

Classificação

1. Sistema Possível e Determinado

Em que:

O par ordenado (2, 1) é solução da equação, pois

Sistema Linear 2 x 2
Chamamos de sistema linear 2 x 2 o con­junto de equações line- Como não existe outro par que satisfaça simultaneamente as
ares a duas incógnitas, consideradas simultaneamente. duas equações, dizemos que esse sistema é SPD(Sistema Possível e
Todo sistema linear 2 x 2 admite a forma geral abaixo: Determinado), pois possui uma única solução.

2. Sistema Possível e Indeterminado


a1 x + b1 y = c1

a2 + b2 y = c2

Sistema Linear 3x3


Esse tipo de sistema possui infinitas soluções, os valores de x
e y assumem inúmeros valores. Observe o sistema a seguir, x e y
podem assumir mais de um valor, (0,4), (1,3), (2,2), (3,1) e etc.

3. Sistema Impossível

Sistemas Lineares equivalentes


Dois sistemas lineares que admitem o mesmo conjunto solução
são ditos equivalentes. Por exemplo:

Não existe um par real que satisfaça simultaneamente as duas


equações. Logo o sistema não tem solução, portanto é impossível.

Sistema Escalonado
Sistema Linear Escalonado é todo sistema no qual as incógnitas
São equivalentes, pois ambos têm o mesmo conjunto solução das equações lineares estão escritas em uma mesma ordem e o 1º
S={(1,2)} coeficiente não-nulo de cada equação está à direita do 1º coeficien-
Denominamos solução do sistema linear toda sequência or- te não-nulo da equação anterior.
denada de números reais que verifica, simultaneamente, todas as
equações do sistema. Exemplo
Dessa forma, resolver um sistema significa encontrar todas as Sistema 2x2 escalonado.
sequências ordenadas de números reais que satisfaçam as equa-
ções do sistema.

Matriz Associada a um Sistema Linear


Dado o seguinte sistema:

92
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Sistema 3x3 Exemplos
A primeira equação tem três coeficientes não-nulos, a segunda - Discutir, em função de a, o sistema:
tem dois e a terceira, apenas um.

Resolução
Sistema 2x3

1 3
D= = a−6
2 a

Resolução de um Sistema Linear por Escalonamento D = 0⇒ a−6 = 0⇒ a = 6


Podemos transformar qualquer sistema linear em um outro
equivalente pelas seguintes transformações elementares, realiza- Assim, para a ≠ 6, o sistema é possível e determinado.
das com suas equações: Para a ≠ 6, temos:
– Trocas as posições de duas equações
– Multiplicar uma das equações por um número real diferente
de 0. x + 3 y = 5
 x + 3 y = 5
2 x + 6 y = 1 ~
– Multiplicar uma equação por um número real e adicionar o  ← −2 0 x + 0 y = −9
resultado a outra equação. 

Exemplo Que é um sistema impossível.


Assim, temos:
a ≠ 6 → SPD (Sistema possível e determinado)
a = 6 → SI (Sistema impossível)

Regra de Cramer
Inicialmente, trocamos a posição das equações, pois é conve-
niente ter o coeficiente igual a 1 na primeira equação. Consideramos os sistema .

Suponhamos que a ≠ 0. Observamos que a matriz incompleta


desse sistema é , cujo determinante é indicado por D =
ad – bc.

Depois eliminamos a incógnita x da segunda equação Se substituirmos em M a 2ª coluna (dos coeficientes de y) pela
Multiplicando a equação por -2: coluna dos coeficientes independentes, obteremos ,cujo de-
terminante é indicado por Dy = af – ce.

Assim, .

Substituindo esse valor de y na 1ª equação de (*) e consideran-


Somando as duas equações: do a matriz , cujo determinante é indicado por Dx = ed – bf,
obtemos , D ≠ 0.

ANÁLISE COMBINATÓRIA
Sistemas com Número de Equações Igual ao Número de In-
cógnitas Análise Combinatória
Quando o sistema linear apresenta nº de equações igual ao nº A Análise Combinatória é a área da Matemática que trata dos
de incógnitas, para discutirmos o sistema, inicialmente calculamos problemas de contagem.
o determinante D da matriz dos coeficientes (incompleta), e:
– Se D ≠ 0, o sistema é possível e determinado. Princípio Fundamental da Contagem
– Se D = 0, o sistema é possível e indeterminado ou impossível. Estabelece o número de maneiras distintas de ocorrência de
um evento composto de duas ou mais etapas.
Para identificarmos se o sistema é possível, indeterminado ou Se uma decisão E1 pode ser tomada de n1 modos e, a decisão E2
impossível, devemos conseguir um sistema escalonado equivalente pode ser tomada de n2 modos, então o número de maneiras de se
pelo método de eliminação de Gauss. tomarem as decisões E1 e E2 é n1.n2.

93
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Exemplo Exemplo
Quantos anagramas tem a palavra CHUVEIRO?
Solução
A palavra tem 8 letras, portanto:
P8 = 8! = 8 . 7 . 6 . 5 . 4 . 3 . 2 . 1 = 40320

Permutação com elementos repetidos


De modo geral, o número de permutações de n objetos, dos
quais n1 são iguais a A, n2 são iguais a B, n3 são iguais a C etc.

O número de maneiras diferentes de se vestir é:2(calças).


3(blusas)=6 maneiras

Fatorial
É comum nos problemas de contagem, calcularmos o produto Exemplo
de uma multiplicação cujos fatores são números naturais consecu- Quantos anagramas tem a palavra PARALELEPÍPEDO?
tivos. Para facilitar adotamos o fatorial.
n! = n(n - 1)(n - 2)... 3 . 2 . 1, (n ϵ N) Solução
Se todos as letras fossem distintas, teríamos 14! Permutações.
Arranjo Simples Como temos uma letra repetida, esse número será menor.
Denomina-se arranjo simples dos n elementos de E, p a p, toda
sequência de p elementos distintos de E. Temos 3P, 2A, 2L e 3 E

Exemplo
Usando somente algarismos 5, 6 e 7. Quantos números de 2
algarismos distintos podemos formar?
Combinação Simples
Dado o conjunto {a1, a2, ..., an} com n objetos distintos, pode-
mos formar subconjuntos com p elementos. Cada subconjunto com
i elementos é chamado combinação simples.

Exemplo
Calcule o número de comissões compostas de 3 alunos que po-
demos formar a partir de um grupo de 5 alunos.

Solução

Observe que os números obtidos diferem entre si:


Pela ordem dos elementos: 56 e 65
Pelos elementos componentes: 56 e 67 Números Binomiais
Cada número assim obtido é denominado arranjo simples dos O número de combinações de n elementos, tomados p a p,
3 elementos tomados 2 a 2. também é representado pelo número binomial .

Indica-se A3,2

Binomiais Complementares
Dois binomiais de mesmo numerador em que a soma dos de-
Permutação Simples nominadores é igual ao numerador são iguais:
Chama-se permutação simples dos n elementos, qualquer
agrupamento(sequência) de n elementos distintos de E.
O número de permutações simples de n elementos é indicado
por Pn.
Pn = n!

94
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Relação de Stifel

Triângulo de Pascal

Classificação
Reto: Um cilindro se diz reto ou de revolução quando as geratri-
zes são perpendiculares às bases.
Quando a altura é igual a 2R(raio da base) o cilindro é equilá-
tero.
Oblíquo: faces laterais oblíquas ao plano da base.

LINHA 0 1
LINHA 1 1 1
LINHA 2 1 2 1
LINHA 3 1 3 3 1
LINHA 4 1 4 6 4 1
LINHA 5 1 5 10 10 5 1
LINHA 6 1 6 15 20 15 6 1 Área
Área da base: Sb=πr²
Binômio de Newton
Denomina-se binômio de Newton todo binômio da forma (a +
b)n, com n ϵ N. Vamos desenvolver alguns binômios:
n = 0 → (a + b)0 = 1
n = 1 → (a + b)1 = 1a + 1b
n = 2 → (a + b)2 = 1a2 + 2ab +1b2
n = 3 → (a + b)3 = 1a3 + 3a2b +3ab2 + b3 Volume
Observe que os coeficientes dos termos formam o triângulo de
Pascal.

Cones
Na figura, temos um plano α, um círculo contido em α, um pon-
to V que não pertence ao plano.
A figura geométrica formada pela reunião de todos os segmen-
tos de reta que tem uma extremidade no ponto V e a outra num
ponto do círculo denomina-se cone circular.

GEOMETRIA ESPACIAL. GEOMETRIA DE SÓLIDOS

Cilindros
Considere dois planos, α e β, paralelos, um círculo de centro O
contido num deles, e uma reta s concorrente com os dois.
Chamamos cilindro o sólido determinado pela reunião de to-
dos os segmentos paralelos a s, com extremidades no círculo e no
outro plano.

95
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Classificação Área e Volume
-Reto: eixo VO perpendicular à base;
Pode ser obtido pela rotação de um triângulo retângulo em tor- Área lateral: Sl = n. área de um triângulo
no de um de seus catetos. Por isso o cone reto é também chamado
de cone de revolução. Onde n = quantidade de lados
Quando a geratriz de um cone reto é 2R, esse cone é denomi-
nado cone equilátero. Stotal = Sb + Sl

Prismas
Considere dois planos α e β paralelos, um polígono R contido
em α e uma reta r concorrente aos dois.

g2 = h2 + r2

-Oblíquo: eixo não é perpendicular

Chamamos prisma o sólido determinado pela reunião de todos


os segmentos paralelos a r, com extremidades no polígono R e no
plano β.
Área

Volume

Pirâmides
As pirâmides são também classificadas quanto ao número de Assim, um prisma é um poliedro com duas faces congruentes e
lados da base. paralelas cujas outras faces são paralelogramos obtidos ligando-se
os vértices correspondentes das duas faces paralelas.

96
RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
Classificação Prisma Regular
Se o prisma for reto e as bases forem polígonos regulares, o
Reto: Quando as arestas laterais são perpendiculares às bases prisma é dito regular.
Oblíquo: quando as faces laterais são oblíquas à base. As faces laterais são retângulos congruentes e as bases são con-
gruentes (triângulo equilátero, hexágono regular,...)
PRISMA RETO PRISMA OBLÍQUO
Área
Área cubo: St = 6a2

Área paralelepípedo: St = 2(ab + ac + bc)

A área de um prisma: St = 2Sb + St

Onde: St = área total


Sb = área da base
Sl = área lateral, soma-se todas as áreas das faces laterais.

Volume
Classificação pelo polígono da base Paralelepípedo: V = a . b . c
Cubo: V = a³
TRIANGULAR QUADRANGULAR
Demais: V = Sb . h

ANOTAÇÕES

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______________________________________________________

______________________________________________________

E assim por diante... ______________________________________________________

Paralelepípedos ______________________________________________________
Os prismas cujas bases são paralelogramos denominam-se pa-
ralelepípedos. ______________________________________________________

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PARALELEPÍPEDO RETO PARALELEPÍPEDO OBLÍQUO
______________________________________________________

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Cubo é todo paralelepípedo retângulo com seis faces quadra- ______________________________________________________


das.
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RACIOCÍNIO LÓGICO E MATEMÁTICO
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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO
ESPÍRITO SANTO

A RELAÇÃO ENTRE MOVIMENTOS DA TERRA E A OR-


GANIZAÇÃO DO ESPAÇO GEOGRÁFICO. CONTINENTES
E OCEANOS

Para estudarmos o planeta Terra, é necessário fazer referên-


cias à galáxia na qual estamos inseridos: a Via Láctea. Essa referên-
cia é necessária para entendermos a disposição dos planetas, suas
órbitas, semelhanças, diferenças e outros assuntos que nos ajudam
a entender o que acontece dentro e fora da Terra1.
Nosso planeta é um dos oito que estão no Sistema Solar orbi-
tando em torno de uma estrela central: o Sol. Essa órbita permite o
desenvolvimento da vida devido à temperatura que chega até nós,
o que chamamos de radiação solar.

Formação e Características do Planeta Terra


Estima-se que nosso planeta tenha sido formado há, mais ou
menos, 4,6 bilhões de anos. De lá pra cá, a Terra passou por cons-
tantes mudanças, algumas nítidas, outras bem longas e que os se-
res humanos não percebem. Tais mudanças podem ocorrer de fato-
res internos, como a energia do núcleo, ou fatores externos, como
chuvas, processos erosivos, ação humana. Com o desenvolvimento da tecnologia, a medição dos abalos
A formação do Sistema Solar foi resultado de um colapso en- sísmicos tornou possível conhecer o interior do planeta. As ondas
tre grandes estrelas, o que gerou uma grande junção de energia. sísmicas provocadas por esses abalos atravessam grandes regiões,
Essa energia, posteriormente, formou os componentes do sistema, podendo ser rastreadas e fornecer informações valiosas sobre
como o Sol e demais planetas. a estrutura interna da Terra. Seu interior ainda possui a camada
A Terra, há 4,6 bilhões de anos, era uma massa de matéria magmática de bilhões de anos atrás. A cada 33 m de profundidade,
magmática que, ao longo de milhões de anos, resfriou-se. Esse res- estima-se que a temperatura suba 1 ºC.
friamento deu origem a uma camada rochosa, a camada litosférica. Na superfície terrestre, camada em que vivemos, podemos en-
Esse período é chamado de Era Pré-cambriana. contrar diversos minerais utilizados no cotidiano. A crosta, como é
Ao longo desses bilhões de anos, várias mutações aconteceram conhecida a superfície, recobre todo o planeta, seja nos continen-
no planeta, muitas violentas, como os terremotos e maremotos, tes (crosta continental), seja nos oceanos (crosta oceânica).
também conhecidos por abalos sísmicos. Esses abalos ocorrem de No fundo dos mares e oceanos existe o assoalho oceânico, lo-
dentro para fora, nas camadas internas da Terra, alterando de for- cal em que compostos de silício e magnésio (sima) podem ser en-
ma significativa a superfície terrestre. contrados com frequência. Nos continentes, silício e alumínio (sial)
Outras mudanças menos violentas foram graduais, como a for- dão consistência a quase toda essa superfície.
mação da camada de gases que envolvem o planeta, a atmosfera.
Essa camada protege-nos da forte radiação solar que atinge a Ter- Camadas Internas do Planeta Terra
ra, permitindo que haja vida. No entanto, no início dos tempos, há Por dentro, nosso planeta tem uma estrutura feita em cama-
bilhões de anos, a Terra era um lugar inabitável, com erupções vul- das, cada uma com várias características específicas. Pelos estudos
cânicas constantes, com altas temperaturas e bastante perigoso. realizados até hoje, podemos classificá-las, de forma geral, em três
Os movimentos do planeta, como a rotação (em torno de si) e principais: crosta (oceânica e continental), manto (superior e infe-
a translação (ao redor do Sol), possibilitaram uma forma esférica rior) e núcleo (interno e externo).
da Terra, que é achatada nos polos. Essa forma recebe o nome de Podemos comparar essa estrutura com a de um abacate: a
geoide. Seu interior é algo inóspito, e, até pouco tempo atrás, des- casca da fruta sendo a crosta, a poupa sendo o manto, e o caroço
conhecido. sendo o núcleo.

1 https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/planeta-terra.htm

99
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A hidrosfera é de onde o ser humano retira recursos para sua
sobrevivência, como água, alimento (peixes e crustáceos), recursos
minerais marinhos (petróleo), além de usar os oceanos, mares e
rios para o transporte de pessoas e/ou cargas.
A biosfera e a superfície terrestre são conceitos que se asse-
melham em alguns momentos, pois fazem referência à existência
de vida na Terra. No entanto, a superfície terrestre abrange mais
elementos, como a hidrosfera. Na biosfera, nós temos os elemen-
tos orgânicos e inorgânicos e os seres vivos, que auxiliam na pros-
peridade da vida do planeta.
Na litosfera, temos a formação de continentes e ilhas, as terras
emersas. É uma das poucas áreas do mundo conhecidas de forma
direta pelo ser humano.

Movimentos Terrestres
Na órbita da Terra, nosso planeta realiza dois movimentos cru-
ciais para o desenvolvimento da vida: a translação e a rotação.
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/camadas-terra.htm
Rotação
Crosta Rotação é o movimento realizado pelo planeta em torno do
A crosta, a casca externa do planeta, é a camada superficial, seu próprio eixo, sendo uma volta em torno de si. Esse movimento,
podendo ser chamada de litosfera. É nessa camada que estamos, realizado no sentido anti-horário, ou seja, de oeste para leste, tem
que se localizam relevos, oceanos, mares, rios, biosfera e outros. como consequência direta a existência de dias e noites.
Para os seres humanos, é a camada em que há o desenvolvi- Além disso, o Sol é visto primeiro na parte leste do mundo, por
mento da vida. Para ter-se uma ideia, a espessura da crosta pode isso o Japão é conhecido como “a terra do Sol nascente”. Esse mo-
variar de 5 km a 70 km. Mesmo com esse tamanho, ela é só a “cas- vimento dura, em média, 23 h 56 min ou 24 h (o dia solar).
ca” do planeta, o que revela a imensidão dele.
A crosta oceânica, como o nome diz, é a parte que está abaixo Translação
do mar, tendo de 5 km a 15 km de espessura. É menos espessa do Translação é o movimento realizado em torno do Sol. Uma
que a crosta continental. Ela pode ter uma espessura de 30 km a 70 translação completa significa um ano para a sociedade, pois esse
km, sendo a parte do planeta que forma os continentes. movimento tem a duração de 365 dias e 6 h.
Devido a isso, a cada quatro anos, um dia é colocado a mais no
Manto mês de fevereiro, surgindo o ano bissexto, com 366 dias.
Já o manto está situado a uma profundidade que pode variar Os dois movimentos são feitos simultaneamente, ao mesmo
de 70 km a 2900 km. Nessa grande área, está localizado o magma, tempo. Por conta da força da gravidade e do imenso peso do plane-
uma camada viscosa que envolve o núcleo e é responsável pela mo- ta, eles não são percebidos.
vimentação das placas tectônicas, situadas na litosfera. No entanto, os dias e as noites (rotação) e a existência das es-
O manto superior está abaixo da litosfera, numa profundidade tações do ano (translação) mostram-nos quão viva é a Terra.
de até, aproximadamente, 670 km. Nele encontramos a astenosfe-
ra, uma área de característica viscosa que permite a movimentação
da crosta ao longo de milhares de anos, modificando o relevo ter-
restre.
No manto inferior, localizado a uma profundidade de 670 km
a 2900 km, encontramos a mesosfera, parte sólida dessa estrutura
que chega próximo ao núcleo. Ele é sólido devido à pressão exerci-
da pelo peso da Terra.

Núcleo
O núcleo é a camada mais profunda do planeta, chegando a
6700 km. O núcleo interno é sólido, com vários compostos mine-
rais, entre eles níquel e ferro. Essa camada é responsável pelo cam-
po magnético que existe ao redor do planeta. Já o núcleo externo
é líquido, tendo uma espessura de, aproximadamente, 1600 km. A
temperatura nessa região pode chegar a 6500 ºC.

Estrutura Externa do Planeta Terra


A superfície terrestre é a camada externa do planeta. Nela há
o encontro de três camadas: a hidrosfera (o conjunto de águas), a
biosfera (a vida, os biomas) e a litosfera (as rochas e os minerais).
Além disso, há na superfície terrestre a atmosfera, o conjunto
de gases que permite a respiração e protege o planeta dos raios
solares, para que eles não cheguem com tanta intensidade. É ba-
sicamente formada por oxigênio, nitrogênio e água, mas contém
outros elementos químicos.

100
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Formação dos Continentes Em algumas regiões do globo, duas placas se afastam uma de
outra e em outros, elas se chocam. Acredita-se que o motor da tec-
Teoria da Deriva dos Continentes tônica de placas seja a corrente de convecção – material quente
que sobe e material frio que desce produzida por essa troca.
Os continentes continuam se movendo até hoje. A teoria da
Tectônica de Placas, que aperfeiçoou a Teoria da Deriva Continen-
tal, é, atualmente, a forma mais aceita de se explicar a formação
dos continentes.

O cosmo é tudo o que existe, sempre existiu e sempre existirá,


segundoCarl Sagan. De longe, essa é a melhor forma de dizer o que
é oUniverso. De uma forma mais crua, o Universo é tudo o que
influenciou o passado, o presente e influenciará o futuro seja com
matéria, planetas, estrelas, luas, gravidade, tudo. Entretanto, essa
lógica sugere que, caso exista outro Universo, ele não poderá ser
encontrado pois o nosso não o influenciou. Caso exista ou não ou-
tro, o nosso já é bastante bonito e intrigante, além de ser bastante
complexo.
De uma forma geral, o Universo é formado porgaláxias, estre-
las, nebulosas, planetas, satélites,cometas,asteroidese radiações –
e outras coisas mais que ainda não descobrimos. Amatéria negra,
por exemplo, é uma forma de matéria que não se comporta como
a matéria comum, mas existe. Faz parte dele com toda a sua parti-
cularidade.

Modelos de Universo
Vários cientistas, comoAlbert Einstein, dedicaram grande parte
http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/ de suas vidas para tentar decifrar o Universo. Desses estudos saí-
evolucao-da-terra-e-fenomenos-geologicos.html ram quatro modelos:

Apesar da atual divisão do mundo em continentes parecer uma Modelo Estático


situação estática, se nos basearmos em um referencial de milhões Este modelo aborda o chamado Princípio Cosmológico, que diz
de anos, tudo indica que não é bem assim2. que o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer observador. A
Segundo a Teoria da Deriva dos Continentes, existe um movi- única coisa que difere são suas características locais. Este modelo
mento, ainda que imperceptível dentro de nossa vivência de tem- admite, também, que o Universo sempre teve a mesma conforma-
po, que faz com que os continentes se desloquem lentamente. ção, sem nunca mudar ou evoluir. Logo, esse modelo caiu em desu-
Essa teoria foi proposta em 1912 pelo alemão Alfred Wegener, so por conta de pesquisas posteriores que mostraram justamente
que observou o recorte da costa leste da América do Sul e o compa- o contrário.
rou com a da costa oeste da África e notou algumas semelhanças,
como se os dois lados tivessem um dia estado juntos. Modelo Estacionário
Em determinada época, há centenas de milhões de anos, to- Após observações mostrarem que o Universo está em expan-
dos os continentes formavam um só bloco, a Pangeia. Ao longo de são, o modelo estático acabou sendo totalmente descartado. As-
milhões de anos, com o movimento das placas tectônicas a Pangeia sim, foi desenvolvido o Princípio Cosmológico Perfeito, que diz que
dividiu-se inicialmente em duas partes: Gondwana e Laurásia. Daí o Universo tem o mesmo aspecto para qualquer observador em
para frente, as partes foram fragmentadas, até assumir a forma qualquer instante do tempo. Ou seja, o Universo é o que sempre foi
atual. e a matéria teria surgido de forma espontânea.

Teoria da Tectônica de Placas Modelo Expansivo


A tectônica de placas é uma teoria geológica sobre a estrutura O modelo expansivo foi desenvolvido após a observação das
da litosfera. A teoria explica o deslocamento das placas tectônicas diferenças de cores de luzes que as galáxias emitem e que acabam
que formam a superfície terrestre, assim como a formação de ca- chegando até nós. Através dessa observação, constatou-se que as
deias montanhosas, as atividades vulcânicas e sísmicas e a localiza- galáxias estão se afastando, consequência da expansão do Univer-
ção das grandes fossas submarinas. so. A Lei de Hubble, formulada pelo astrônomo Edwin Hubble, diz
Dessa forma, a crosta está dividida em muitos fragmentos, as que quanto mais longe uma galáxia se encontra de nós, mais rapi-
placas tectônicas. As placas flutuam sobre o manto, mais precisa- damente ela se afasta de nós.
mente sobre a astenosfera, uma camada plástica situada abaixo da
crosta. Movimentam-se continuamente, alguns centímetros por Modelo Cíclico
ano. O modelo cíclico fala sobre uma possível contração do Univer-
so. Diz que, caso a massa do Universo seja maior do que um certo
valor crítico, a gravidade será o suficientemente grande para frear,
de forma gradativa, a sua expansão. Assim, entrará em modo de
contração.
2 http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/evolucao-da-
-terra-e-fenomenos-geologicos.html

101
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
O que há mais no Universo
• Estrelas: esferas de gás, compostas principalmente de gás hidrogênio e hélio, se encontram a uma temperatura altíssima;
• Aglomerados: sistemas com muitas estrelas que podem ser abetos (ou galácticos) e os globulares;
• Nebulosas: regiões entre as estrelas e aglomerados formada por gases e muito densas;
• Galáxias: é o conjunto em que estamos. Galáxias são conjuntos de estrelas, planetas aglomerados, nebulosas, poeiras e gases
confinados em um pedaço do espaço sideral.

As galáxias
Galáxia é um termo que se origina da palavragala, que significa “leite”, em grego. Inicialmente, era a denominação da nossa galáxia,
aVia Láctea, e, depois, se generalizou como denominação de todas as demais.
As galáxias são compostas pornuvens de gáse poeira, um grande número deestrelas,planetas,cometaseasteroidese diversos corpos
celestes unidos pela ação daforça gravitacional.
Numa noite estrelada, podemos ver uma faixa esbranquiçada que corta o céu. Essa “faixa” de astros é apenas uma parte da galáxia
onde está localizado o planeta Terra. Os antigos a denominaramVia Láctea, cujo significado em latim é “caminho de leite”.
A Via Láctea pertence a um conjunto, ou seja, uma aglomerado de diversas galáxias. OUniversocontém mais de200 bilhões de galá-
xiasde tamanho e formas variadas. Há galáxias de forma elíptica, outras são espirais e muitas são as galáxias irregulares, ou seja, que não
tem forma específica.

Representação da galáxia de Andrômeda

Representação da Via Láctea vista de perfil (acima) e vista de cima (abaixo)

102
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO

O Sistema Solar
O sistema solar é um conjunto deplanetas,asteroidesecometasque giram ao redor do sol. Cada um se mantém em sua respectiva órbi-
ta em virtude da intensa força gravitacional exercida pelo astro, que possui massa muito maior que a de qualquer outro planeta.
Os corpos mais importantes do sistema solar são osoito planetasque giram ao redor do sol, descrevendo órbitas elípticas, isto é, órbi-
tas semelhantes a circunferências ligeiramente excêntricas.

Os planetas que compõem o sistema solar


O sol não está exatamente no centro dessas órbitas, como pode-se ver na figura abaixo, razão pela qual os planetas podem encontrar-
-se, às vezes, mais próximos ou mais distantes do astro.

Órbitas elípticas dos planetas do Sistema Solar

Origem do Sistema Solar


O sol e o Sistema Solar tiveram origem há4,5 bilhões de anosa partir de uma nuvem de gás e poeira que girava ao redor de si mesma.
Sob a ação de seu próprio peso, essa nuvem se achatou, transformando-se num disco, em cujo centro formou-se o sol. Dentro desse disco,
iniciou-se um processo de aglomeração de materiais sólidos, que, ao sofrer colisões entre si, deram lugar a corpos cada vez maiores, os
outros planetas.

103
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A composição de tais aglomerados relacionava-se com a dis- Um corpo celeste é considerado um planeta quando, além de
tância que havia entre eles e o sol. Longe do astro, onde a tempera- não ter luz própria, gira ao redor de uma estrela.
tura era muito baixa, os planetas possuem muito mais matéria ga- Os planetas têm forma aproximadamente esférica. Os seus mo-
sosa do que sólida, é o caso de Júpiter, Saturno, Urano e Netuno. Os vimentos principais são o derotaçãoe o detranslação. Cada planeta
planetas perto dele, ao contrário, o gelo evaporou, restando apenas possui um eixo de rotação em relação a Sol, o mais inclinado deles
rochas e metais, é o caso de Mercúrio, Vênus, Terra e Marte. é oplaneta-anãoPlutão, pois seu eixo de rotação em relação ao Sol
é de 120º, olhe a figura.
Os componentes do Sistema Solar

O sol
O Sol é afonte de energia que domina o sistema solar. Sua AS PAISAGENS MUNDIAIS
força gravitacional mantém os planetas em órbita e sua luz e calor
tornam possível a vida na Terra. A Terra dista, em média, aproxima- Paisagens Naturais
damente 150 milhões de quilômetros do Sol, distância percorrida As paisagens naturais são aquelas que não foram modificadas
pela luz em 8 minutos. Todas as demais estrelas estão localizadas pelo homem ou que pouco se alteraram em função das atividades
em pontos muito mais distantes. antrópicas3.
As observações científicas realizadas indicam que o Sol é uma O termo Paisagem é um conceito chave na ciência geográfica.
estrela de luminosidade e tamanho médios, e que no céu existem Essa expressão, em resumo, faz referência a tudo aquilo que o indi-
incontáveis estrelas maiores e mais brilhantes, mas para nossa sor- víduo abstrai do espaço a partir dos seus sentidos (visão, audição,
te, a luminosidade, tamanho e distância foram exatos para que o tato, olfato e paladar), o que torna esse termo uma relação entre o
nosso planeta desenvolvesse formas de vida como a nossa. ser humano e a sua formação de apropriação material e intelectual
O Sol possui 99,9% da matéria de todo o Sistema Solar. Isso sig- sobre o meio.
nifica que todos os demais astros do Sistema juntos somam apenas A expressão paisagem natural, nesse contexto, insere-se como
0,1%. uma tipificação criada em oposição à paisagem cultural ou geográ-
fica, que é aquela produzida ou transformada pelas atividades an-
Composição do Sol trópicas. Portanto, entende-se por paisagens naturais aqueles es-
O Sol é uma enorme esfera de gás incandescente composta paços que ainda não foram humanizados ou que pouco receberam
essencialmente de hidrogênio e hélio, com um diâmetro de 1,4 mi- a interferência das atividades baseadas no emprego das técnicas,
lhões de quilômetros. principais elementos produtores e transformadores do espaço ge-
ográfico.
A compreensão dos elementos da natureza, bem como a sua
localização e distribuição espacial pelos diferentes lugares, é im-
portante no sentido de auxiliar no esclarecimento de seus efeitos
sobre a sociedade e suas práticas. Nesse sentido, torna-se impor-
tante avaliar não tão somente as paisagens e os lugares em si, mas
também as relações e as técnicas necessárias para a sua utilização
e preservação.

Vegetações Mundiais4

Tundra

O volume do Sol é tão grande que em seu interior caberiam


mais de 1 milhão de planetas do tamanho do nosso. Para igualar
seu diâmetro, seria necessário colocar 109 planetas como a Terra
um ao lado do outro. No centro da estrela encontra-se o núcleo,
cuja temperatura alcança os 15 milhões de graus centígrados e
onde ocorre o processo de fusão nuclear por meio do qual o hidro-
gênio se transforma em hélio. Já na superfície a temperatura do Sol
é de cerca de 6.000 graus Celsius.

Os planetas
Os planetas não produzem luz, apenas refletem a luz do Sol,
que é a estrela do Sistema Solar.
Teorias afirmam que os planetas também foram formados a a
partir de porções de massa muito quente e que todos estão de res-
friando. Alguns, entre eles a Terra, já se resfriaram o suficiente para 3 https://brasilescola.uol.com.br/geografia/paisagens-naturais.htm
apresentar a superfície sólida. 4 https://www.policiamilitar.mg.gov.br/conteudoportal/uploadFCK/ctpmbar-
bacena/04102016072647251.pdf

104
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Formada por musgos, líquens e umas poucas plantas rasteiras, Estepes
essa formação vegetal é típica das regiões polares.
A Tundra é um tipo de bioma localizado no Hemisfério Norte
do planeta, nas regiões próximas ao Ártico, mais precisamente no
norte da América, da Europa e em outras localidades, como o Alas-
ca e a Sibéria.
O seu nome advém da palavra finlandesa “Tunturia”, que sig-
nifica “planície sem árvores”, o que já confere certa noção sobre
como é esse tipo de vegetação e o seu ambiente.

Florestas Boreais

Vegetação herbácea presente em regiões semiáridas, constitu-


ída de gramíneas que se distribuem de forma irregular, em forma
de tufos e pequenos arbustos.
A estepe é considerada uma faixa de transição vegetativa e cli-
mática, ocorrendo geralmente aos arredores de desertos.
O solo onde desenvolve esse tipo de cobertura vegetal apre-
senta uma grande fertilidade, possui uma cor escura (negra) e é
usado frequentemente para o cultivo agrícola.

Florestas Equatoriais Tropicais

Também conhecidas como Taiga ou Matas de Coníferas, ocor-


rem no hemisfério norte do planeta, abrangendo a Ásia (Sibéria,
Japão), América do Norte (Alasca, Canadá, sul da Groenlândia) e
Europa (parte da Noruega, Suécia).
A Taiga transforma-se em Tundra à medida que se aproxima
do Polo Norte. Há entre esses biomas uma zona de transição onde
pouco a pouco o colorido das coníferas é substituído pelas gramí-
neas e arbustos baixos da Tundra.
Vegetação Mediterrânea

Típica de áreas quente e úmidas, essas florestas apresentam


grande biodiversidade e ocorrem em regiões da América Central e
América do Sul, na África e no Sudeste Asiático.
A composição vegetativa é de árvores altas com copas largas
que se confrontam e que quase não permitem a entrada da luz do
sol. É por isso que no interior da floresta é muito escuro.

Característica de regiões com verões quentes e secos e inver-


nos chuvosos. É formada predominantemente por vegetação arbó-
rea e arbustiva distribuída de maneira dispersa.
A vegetação mediterrânea é possível de ser encontrada em
pontos isolados da Califórnia (Estados Unidos), Chile, África do Sul
e também da Austrália, no entanto, a maior concentração está lo-
calizada no sul da Europa.

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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Florestas Temperadas Subtropicais O Cerrado brasileiro é considerado um tipo de savana, mas
muitas características o diferenciam das outras savanas.

Pradarias

Sua área original de ocorrência é em regiões de clima tempe-


rado úmido. Formação vegetal diversificada com predominância de
árvores. Formação vegetal muito aproveitada pela pecuária, é caracte-
Presença de quatro camadas de vegetação: árvores mais altas rística de áreas com baixa pluviosidade e formada basicamente por
(de 10 a 25 metros); vegetação arbustiva (de 3 a 5 metros); ervas gramíneas e alguns arbustos.
(vegetação rasteira, próxima ao nível do solo) e musgos (rasteira, As pradarias são vegetações herbáceas fechadas presentes em
no próprio solo, cobertas por folhas e galhos caídos). áreas de clima temperado e que recebem diferentes denominações
Solo fértil com presença de grande quantidade de nutrientes e em diferentes partes do mundo.
material orgânico (resultado da decomposição dos vegetais). Na Europa e na Ásia, recebem o nome de “estepe”. Na América
Regiões onde há floresta temperada: do Norte, são chamadas de “pradarias”. Na África do Sul, recebem
- Costa oeste dos Estados Unidos e Canadá; o nome de “veld”. E, na América do Sul, recebem o nome de “pam-
- Sul do Chile; pa”.
- Norte da Espanha e Portugal;
- Região oeste do Reino Unido; Vegetação de Deserto
- Turquia;
- Japão e leste e sul da China;
- Região sudeste da Austrália;
- Sudoeste da Argentina;
- Costa ocidental da Nova Zelândia;
- Oeste da Noruega.
Savanas

Ocorrem em regiões com pequenas quantidades de chuva e


são formadas por plantas adaptadas a esse ambiente, como os cac-
tos. A vegetação do deserto é composta por plantas cactáceas e
herbáceas, com pequenos arbustos e cactos (xerófitas) e pratófitas
(plantas com raízes longas).
As xerófitas são plantas como os cactos que, ao invés das fo-
lhas possuírem espinhos para preservar a água, elas armazenam
Característico de regiões tropicais com uma estação seca bem em seus caules.
definida. Savana ou campo tropical é o nome empregado a um tipo É muito difícil enxergarmos a vegetação no deserto por ser es-
de formação vegetal que varia desde um campo herbáceo até uma cassa e muito distante uma das outras.
matriz campestre com árvores esparsas.
Esse bioma é típico de regiões de clima tropical, quente e úmi-
do. A maior área e mais conhecida de savana situa-se na África, mas
também existem savanas na América do sul e na Austrália.

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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Formação de Altitude

Formação vegetal característica de regiões montanhas, que apresenta variedade de porte em função do aumento da altitude. É co-
mum a ocorrência de gramíneas, musgos e liquens.
A vegetação de altitude ocorre na América do Sul e na Europa, ou seja, na Zona Temperada (sul e norte).
Na América do Sul, a vegetação de altitude aparece no Peru, na Bolívia, no Paraguai e na Argentina. Já na Europa existe muito pouco,
apenas no centro-oeste, na Alemanha.

A DINÂMICA DA LITOSFERA. RELEVO TERRESTRE. MINERAIS E ROCHAS

Os agentes modeladores do relevo


A rocha (ou popularmente pedra) é um agregado natural composto de alguns minerais ou de um único mineral5.
As rochas são classificadas conforme sua composição química, sua forma estrutural, ou sua textura, mas é mais comum classificá-las
de acordo com os processos de sua formação.

http://educacao.globo.com/geografia/assunto/geografia-fisica/evolucao-da-terra-e-fenomenos-geologicos.html

Rochas Magmáticas ou Ígneas


As rochas magmáticas ou ígneas resultam da solidificação do magma e são, portanto, rochas primárias. Podem ser de dois tipos:
Magmáticas intrusivas - se a solidificação do magma acontecer no interior da terra (granito);
Magmáticas extrusivas - se a solidificação do magma acontecer na superfície terrestre (basalto, pedra-pomes).

Rochas Sedimentares
As rochas sedimentares ou secundárias originam-se dos sedimentos de outras rochas. O sedimento se forma pela ação do intempe-
rismo (processos físico-químicos que desintegram as rochas).

5 http://www.marcospaiva.com.br/A%20forma%C3%A7%C3%A3o%20da%20Terra%20e%20sua%20estrutura.pdf

107
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Os grãos fragmentados são transportados da área fonte e, finalmente, se acumulam em bacias sedimentares. São rochas sedimenta-
res a areia, o calcário e o arenito.
Rochas Metamórficas
São formadas quando, no interior da Terra, a temperatura e a pressão modificam rochas preexistentes (ígnea, sedimentar, ou outra
rocha metamórfica). Os gnaisses, a ardósia e mármores exemplos de rochas metamórficas.
São essas rochas que vão dar origem ao relevo que pode se dizer que é toda forma assumida pelo terreno (montanhas, serras, depres-
sões, etc.) que sofreu mudanças com os agentes internos e externos sobre a crosta terrestre.
Os agentes externos são chamados também de agentes erosivos (chuva, vento, rios, etc.) eles atuam sobre as formas definidas pelos
agentes internos. As forças tectônicas (movimentos orogenéticos, terremotos e vulcanismo) que se originam do movimento das placas
tectônicas são os agentes internos.

Agentes formadores e modeladores do relevo terrestre


As forças que criam e alteram as formas de relevo podem agir no interior da terra (agentes internos ou endógenos) ou na superfície
terrestre (agentes externos ou exógenos).
Os movimentos das placas tectônicas são responsáveis pelos agentes modificadores do relevo originados no interior da Terra. A maior
parte da atividade de deformação das rochas por forças internas ocorre nos limites das placas tectônicas, isto é, nos pontos de contato
entre as placas.

Agentes Endógenos (Internos)


São os seguintes agentes internos (endógenos) do relevo: o tectonismo, o vulcanismo e os abalos sísmicos.

Tectonismo
Tectonismo ou diastrofismo compreende todos os movimentos que deslocam e deformam as rochas que constituem a crosta terres-
tre.
Manifesta-se por movimentos: Verticais ou epirogênicos; e Horizontais ou orogênicos.
Conhecidos como diastrofismos, resultam de pressões vindas do interior da Terra que agem na crosta. Se forem verticais, os blocos
sofrem levantamentos/rebaixamentos ou fraturas ou falhas quando atingem as rochas mais rígidas. Quando as pressões são horizontais
formam-se dobramentos ao atingir rochas de pequena resistência originando montanhas.

Vulcanismo
Diversas formas pelas quais o magma do interior da Terra chega até a superfície. Os materiais podem ser sólidos, líquidos ou gasosos.
Esses materiais acumulam-se em um depósito sob o vulcão até que a pressão gerada entre em erupção.
As lavas escorrem pelo edifício vulcânico, alterando e criando novas formas de paisagem. A manifestação típica do vulcanismo é o
cone vulcânico e o amontoado de pó, cinzas e lavas formados pelas erupções.
Quando o magma extravasa, passa a chamar-se lava. A maioria se concentra no Círculo de Fogo do Pacífico e o Círculo de Fogo do
Atlântico.

Abalos Sísmicos
Todos os movimentos naturais resultantes de movimentos subterrâneos de placas rochosas, de atividade vulcânica, ou por desloca-
mentos de gases no interior da Terra, principalmente metano.
Causado por liberação rápida de grandes quantidades de energia sob a forma de ondas sísmicas que se propagam por meio de vibra-
ções, a maioria ocorre na fronteira de placas ou em falhas entre dois blocos rochosos.

108
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Como consequência temos a vibração do solo, a abertura de Intemperismo químico
falhas, deslizamentos de terra, tsunamis, mudança de rotação da No intemperismo químico, as rochas se decompõem a partir de
Terra, efeitos destrutivos sobre construções, perda de vida, feri- uma reação química ocorrida com o contato de elementos como o
mentos e prejuízos financeiros e sociais. ar e a água. Os solos são resultado do intemperismo.
Um dos maiores já registrado foi no Chile em 1960 que atingiu
9.5 graus na escala Richter, bem como o da Indonésia que atingiu Erosão
9.3, em 2004. Erosão é o conjunto de processos que promovem a retirada e
transporte do material produzido pelo intemperismo, ocasionando
o desgaste do relevo. Seus principais agentes são a água, o vento
e o gelo.
A erosão pode ser de vários tipos, conforme o agente que atua:
Erosão pluvial - é aquela provocada pela água da chuva;
Erosão marinha - A água do mar provoca erosão através da
ação das ondas, das correntes marítimas, das marés e das correntes
de turbidez. Seu trabalho é reforçado pela presença de areia e silte
em suspensão;
Erosão glacial - é a erosão provocada pelas geleiras (também
chamadas de glaciares). Geleira de Briksda na Noruega.
Erosão eólica - É aquela decorrente da ação do vento. Ocor-
re em regiões áridas e secas, onde existe areia solta, capaz de ser
transportada pelo vento, que a joga contra as rochas, desgastando-
-as e dando origem, muitas vezes, a formas bizarras ou as dunas;
Deslizamentos - o desgaste provocado pelas águas da chuva
torna-se mais intenso com a inclinação do terreno e a falta de ve-
AGENTES EXÓGENOS (EXTERNOS) getação.
O trabalho dos agentes internos do relevo é complementado
ou modificado pela ação de agentes externos que desgastam, des-
troem e constroem formas de relevo, modelando a superfície da SOLOS: PRÁTICAS DE MANEJO E CONSERVAÇÃO
Terra. Os dois principais agentes externos são o intemperismo e a
erosão. Solos
A radiação solar, juntamente com os fenômenos meteoroló-
gicos, atua como um agente externo do relevo. O calor do sol e Formação dos solos
as águas são os grandes modeladores das paisagens e fazem essa Cada rocha e cada maciço rochoso se decompõem de uma for-
modelagem em toda a superfície criada por algum agente interno. ma própria. Porções mais fraturadas se decompõem mais intensa-
A radiação que vem do Sol faz com que haja o intemperismo físico mente do que as partes maciças, e certos constituintes das rochas
das rochas, ou seja, elas se desagregam. são mais solúveis que outros6.
Já as águas, agem primeiramente com o intemperismo quími- As rochas que se dispõem em camadas, respondem ao intem-
co, que altera os minerais da rocha, transformando em minerais de perismo de forma diferente para cada camada, resultando numa al-
solo, fazendo com que o relevo tome a forma que deve tomar, de teração diferencial. O material decomposto pode ser transportado
acordo com à proporção que estes intemperismos agem na Terra. pela água, pelo vento, etc.
Após o intemperismo agir, os processos erosivos começam a Os solos são misturas complexas de materiais inorgânicos e
acontecer, fazendo com que o relevo terrestre ganhe a sua forma. resíduos orgânicos parcialmente decompostos. Para o homem em
Estes processos são fundamentais para deixar o relevo mais aplai- geral, a formação do solo é um dos mais importantes produtos do
nado, mais baixo, agindo concomitantemente com os agentes en- intemperismo.
dógenos. Os solos diferem grandemente de área para área, não só em
Outra característica das forças externas é que elas podem agir quantidade (espessura de camada), mais também qualitativamen-
por meio do Intemperismo e da Erosão. te.
Intemperismo Os agentes de intemperismo estão continuamente em ativi-
O intemperismo é um conjunto de processos que causam a dade, alterando os solos e transformando as partículas em outras
decomposição ou a desintegração dos minerais que compõem as cada vez menores. O solo propriamente dito é a parte superior do
rochas. É resultado da exposição contínua das rochas a agentes at- manto de intemperismo, assim, as partículas diminuem de tama-
mosféricos ou biológicos. Pode ser físico ou químico. nho conforme se aproximam da superfície.
Os fatores mais importantes na formação do solo são:
Intemperismo físico → ação de organismos vivos;
Consiste basicamente na desagregação da rocha, com separa- → rocha de origem;
ção dos grãos minerais que a compõem e fragmentação da massa → tempo (estágio de desintegração/decomposição);
rochosa original. → clima adequado;
Exemplos: Variações de temperatura – essas mudanças são → inclinação do terreno ou condições topográficas.
particularmente acentuadas no ambiente desértico, que tem dias
quentes e noites frias.
O congelamento da água - retida em uma fenda da rocha.

6 https://docente.ifrn.edu.br/johngurgel/disciplinas/2.2051.1v-mecanica-dos-
-solos-1/apostila%20de%20solos.pdf

109
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Classificação dos solos quanto à sua origem Região Nordeste
Quanto à sua formação, podemos classificar os solos em três A Região Nordeste é a região com o maior número de estados.
grupos principais: solos residuais, solos sedimentares e solos orgâ-
nicos.

Solos Residuais
São os que permanecem no local da rocha de origem (rocha
mãe), observando-se uma gradual transição da superfície até a ro-
cha.
Para que ocorram os solos residuais, é necessário que a velo-
cidade de decomposição de rocha seja maior que a velocidade de
remoção pelos agentes externos. Estando os solos residuais apre-
sentados em horizontes (camadas) com graus de intemperismos
decrescentes, podem-se identificar as seguintes camadas: solo re-
sidual maduro, saprolito e a rocha alterada.

Solos Sedimentares ou Transportados


São os que sofrem a ação de agentes transportadores, poden-
do ser aluvionares (quando transportados pela água), eólicos (ven-
to), coluvionares (gravidade) e glaciares (geleiras).

Solos Orgânicos
São aqueles originados da decomposição e posterior apodre-
cimento de matérias orgânicas, sejam estas de natureza vegetal https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm
(plantas, raízes) ou animal. Os solos orgânicos são problemáticos
para construção por serem muito compressíveis. Nove estados compõem a região Nordeste. Todos são banha-
Em algumas formações de solos orgânicos ocorre uma impor- dos pelo oceano Atlântico e também todas as capitais, com exceção
tante concentração de folhas e caules em processo de decomposi- de Teresina, estão localizadas na área de costa.
ção, formando as turfas (matéria orgânica combustível) Os estados apresentam inúmeros contrastes, que vão desde
a diferença da área territorial até o número de habitantes de cada
unidade política.
Além disso, não esqueçamos que também fazem parte da re-
REGIÕES BRASILEIRAS, MARCAS DO BRASIL EM TO- gião as ilhas oceânicas do distrito estadual de Fernando de Noro-
DOS OS CANTOS.A DINÂMICA RELAÇÃO ENTRE OS nha e os penedos de São Pedro e São Paulo, ambos pertencentes
COMPONENTES DAS REGIÕES. CRITÉRIOS DE DELIMI- ao estado de Pernambuco, além da Reserva Biológica Marinha do
TAÇÃO DE REGIÕES Atol das Rocas, como área do Rio Grande do Norte.
Levando ainda em consideração a figura acima, que nos reme-
Regiões Brasileiras7 te às unidades políticas da região Nordeste, acenamos para o fato
Regiões brasileiras correspondem às divisões do território na- de praticamente todas as capitais nordestinas serem cidades lito-
cional com base em critérios, como aspectos naturais, sociais, cul- râneas.
turais e econômicos. Isso acontece devido ao processo histórico de formação ter-
O órgão responsável pela regionalização do Brasil é o Instituto ritorial do nosso país, em que o modelo colonizador, baseado em
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que divide o país, atual- uma economia e em uma sociedade agrária exportadora, com mão-
mente, em cinco regiões: Nordeste, Norte, Centro-Oeste, Sudeste -de-obra escrava e voltada aos interesses da metrópole e depois
e Sul. de centros econômicos e políticos mais influentes, levou a uma di-
nâmica territorial que privilegiou as áreas litorâneas, propícias ao
escoamento da produção e a uma maior possibilidade de ligação
com o exterior.
Apesar de tratar-se de uma região de enormes desafios, desta-
cam-se, em nível regional, as potencialidades naturais e econômi-
cas envolvendo atividades modernas, como o turismo, o processo
de industrialização, a fruticultura irrigada ou a extração de minérios
como o petróleo e o gás natural.
São as novas bases técnicas, científicas, informacionais da re-
gião, criando manchas de modernidade e ditando modernos ce-
nários de desenvolvimento. Resta saber se em consonância com
esse quadro haverá a diminuição das mazelas sociais e históricas
da região.

7 http://www.ead.uepb.edu.br/arquivos/cursos/Geografia_PAR_UAB/Fascicu-
los%20-%20Material/GEOGRAFIA%20REGIONAL%20DO%20BRASIL.pdf

110
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Região Nordeste: grandes questões em debate

A desertificação
De acordo com a Convenção das Nações Unidas de Combate
à Desertificação, o fenômeno da desertificação pode ser definido
como a “degradação da terra nas zonas áridas, semiáridas e subú-
midas secas, resultante de vários fatores, incluindo as variações cli-
máticas e as atividades humanas”.
Por “degradação da terra”, entende-se a degradação dos so-
los, da fauna e flora e dos recursos hídricos, e como consequência
a redução da qualidade de vida da população humana das áreas
atingidas.
Estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Meio Ambiente –
Ibama, a partir de imagens de satélite, permitiram identificar ini-
cialmente quatro núcleos de desertificação no Brasil com forte
comprometimento dos recursos naturais. São eles: Gilbués (PI),
Irauçuba (CE), Seridó (RN) e Cabrobó (PE), cuja área total é de cerca
de 15.000 km².
As principais causas da desertificação estão relacionadas ao
Região Nordeste e suas unidades políticas uso inapropriado dos recursos da terra, agravado pelas secas; uso
intensivo dos solos, tanto na agricultura moderna quanto na tradi-
Contrastes de uma região: as sub-regiões nordestinas cional; pecuária extensiva; queimadas; desmatamento em áreas de
O enorme desafio de analisar a região nordeste consiste, en- preservação da vegetação nativa, margens de rios etc. e técnicas
tre muitas razões, no fato de que tal região apresenta enormes inapropriadas de irrigação e a mineração.
contrastes naturais e econômicos, o que levou à delimitação, pelo A ação combinada desses fatores naturais e antrópicos resul-
IBGE, de quatro regiões geográficas, as chamadas sub-regiões: a tam em prejuízos de ordem:
Zona da Mata, o Agreste, o Sertão e o Meio-Norte. → ambiental: erosão e salinização dos solos, perda de biodi-
No mapa a seguir, observe a espacialização dessas sub-regiões: versidade, diminuição da disponibilidade e da qualidade dos recur-
sos hídricos;
→social: desestruturação familiar pela necessidade de emigrar
para centros urbanos devido à perda da capacidade produtiva da
terra;
→econômica: queda na produtividade e produção agrícola,
redução da renda e do consumo da população, além da perda da
capacidade produtiva da sociedade, o que repercute diretamente
na arrecadação de impostos e na circulação de renda.

Sub-regiões Nordestinas

Em razão do clima, temos um Nordeste úmido – a Zona da


Mata, e um Nordeste semiárido – o Sertão. A passagem de uma
zona para outra forma duas zonas de transição: o Agreste, entre a
Zona da Mata e o sertão, e o Meio-Norte, entre o sertão e a Ama-
zônia.
As sub-regiões em estudo traduzem, assim, tanto as diversifi-
cadas atividades econômicas responsáveis pelo processo de ocu-
pação histórica como também a dinâmica sociedade-natureza, em
que as características naturais se combinaram a esse processo his-
tórico, levando à apropriação e à transformação dos recursos natu-
rais regionais.
Assim, pelos contrastes que apresentam, podemos falar nos
‘Nordestes’ da cana-de-açúcar, do cacau, da pecuária, do babaçu,
do algodão, do sal, e também do turismo, do petróleo, da fruticul-
tura irrigada, da soja, da indústria automobilística e têxtil.

Região Nordeste: áreas de desertificação

111
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A transposição do rio São Francisco O Projeto de Transposição do rio São Francisco objetiva des-
O rio São Francisco nasce na Serra da Canastra, no município viar parte de suas águas por meio de dutos e canais para irrigar
mineiro de São Roque de Minas, indo em direção à região Nordes- rios menores e açudes que secam durante a estiagem no semiárido
te. Após cruzar três estados dessa região, ele desemboca no mar, nordestino.
na divisa entre os estados de Sergipe e Alagoas. A ideia original da transposição é do final do século XIX, ideali-
Em seu percurso, banha cinco estados: Minas Gerais, Bahia, zada pelo imperador D. Pedro II e estruturada na virada do século
Pernambuco, Alagoas e Sergipe; no entanto, sua bacia hidrográfi- XX para o XXI. A transposição prevê dois eixos principais: o Eixo Nor-
ca de 634 mil km² alcança também o estado de Goiás e o Distrito te captará água em Cabrobó (PE) para levá-la ao sertão de Pernam-
Federal. Por isso, o rio é chamado de Rio da Integração Nacional. buco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
Pela sua diversidade climática, extensão e características to- O Eixo Leste vai colher as águas em um ponto mais abaixo, em
pográficas, a bacia é dividida em quatro regiões: Alto, Médio, Sub- Petrolândia (PE), beneficiando o sertão e o agreste de Pernambuco
médio e Baixo São Francisco. Nelas, podem ser caracterizadas três e da Paraíba. Mas, transpor as águas do Rio São Francisco não é
zonas biogeográficas distintas: a mata, a caatinga e os cerrados. uma ação consensual.
A exploração econômica da bacia hidrográfica do rio São Fran- Inicialmente, a favor da realização da obra estavam os estados
cisco começou no século XVI, com a plantação de cana-de-açúcar do CE, PE, PB e RN, argumentando que o rio beneficiaria a popu-
no Baixo São Francisco, a pecuária no agreste e sertão e a extração lação que vive na porção semiárida de tais estados. Contra a exe-
mineral no Alto São Francisco. cução da obra, os estados de MG, SE, AL e BA, por temerem que
a obra reduziria a água que irriga seus municípios, prejudicando a
geração de energia elétrica e afetando os produtores agrícolas da
região.
A revitalização do rio São Francisco, na perspectiva ambiental,
tem sido colocada como condição para qualquer ação referente às
obras de engenharia de transposição.

Região Norte
A Região Norte é a maior região em extensão territorial.

Localização da bacia do São Francisco


https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm
Ao longo de sua extensão, o São Francisco recebe a água de
168 rios afluentes, dos quais 90 são perenes e os 78 restantes são Quando falamos em região Norte, certamente nos reportamos
intermitentes. Seu fluxo é interrompido por duas barragens para a ao rio Amazonas, à floresta Amazônica, às inúmeras nações indíge-
geração de eletricidade: a de Sobradinho e a represa de Itaparica, nas que ali ainda vivem, às casas de madeira suspensas, chamadas
ambas na divisa entre os estados da Bahia e de Pernambuco. palafitas, ou à infinidade de espécies animais e vegetais presentes
Além de produzir energia, as águas do rio São Francisco são uti- nos rios e matas da região.
lizadas na agricultura irrigada no cultivo de frutas (uva, manga e ou- Essa também é uma área de riquezas minerais, como o ferro e
tras) e de grãos como soja, milho e arroz. Portanto, um rio gerador o ouro; de produtos eletrônicos, como aqueles produzidos na Zona
de riquezas em alguns estados que são receptores de suas águas. Franca de Manaus; e de preocupantes impasses e conflitos entre
diferentes grupos, como índios e madeireiros, caboclos e fazendei-
ros.

112
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Em termos de unidades políticas, a região Nordeste possui Amazônia
nove estados, em detrimento dos sete que formam a região Norte, Destacamos inicialmente que o ecossistema da floresta equa-
mas comparando a área territorial das duas regiões, percebemos torial – associado aos climas quentes e úmidos e assentado, na sua
que enquanto a primeira (Nordeste) abrange 1.554.257,00 km², a maior parte, no interior da bacia fluvial amazônica – permite deli-
segunda (Norte) possui 3.853.328,229 km², numa demonstração da mitar uma região natural. Essa região é a Amazônia.
grandiosidade das terras nortistas. Uma área internacional, que abrange cerca de 6,5 milhões de
No entanto, mesmo tendo uma área territorial significativa, a quilômetros quadrados em terras de nove países – Brasil, Bolívia,
região Norte apresenta uma reduzida população absoluta e relati- Peru, Equador, Colômbia, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana
va, com baixa densidade demográfica, fundamentando a ideia de Francesa, ocupando uma área total de 6,5 milhões de quilômetros
que a região possui verdadeiros vazios demográficos, ou seja, áreas quadrados, dos quais mais de 5 milhões no Brasil.
ainda pouco habitadas.
Com relação aos aspectos qualitativos, chama a atenção o fato No entanto, indo além do conceito de Amazônia enquanto re-
de que apesar de uma menor expressividade econômica, a região gião natural, precisamos de outras análises de entendimento sobre
Norte apresenta melhores indicadores sociais no que tange à mor- a realidade contemporânea da área. Sabemos que, do ponto de
talidade infantil e à taxa de analfabetismo, o que repercute no seu vista do Estado contemporâneo, o exercício da soberania exige a
IDH, melhor posicionado que a outra região em estudo. Ainda as- apropriação nacional do território.
sim, esses indicadores são preocupantes, num alerta de que en- As áreas pouco povoadas e caracterizadas pelo predomínio de
caminhamentos são necessários para minimizar ou solucionar os paisagens naturais, especialmente quando adjacentes às fronteiras
problemas presentes nas duas regiões. políticas, são consideradas espaços de soberania formal, mas não
efetiva.
Pensemos agora a região Norte em termos espaciais. E para A consolidação do poder do Estado sobre tais espaços solicita
isso observe a figura a seguir, que apresenta as unidades políticas a sua “conquista”: povoamento, crescimento econômico, desenvol-
que a compõem. vimento de uma rede urbana, implantação de redes de transportes
e comunicações. O empreendimento de “conquista” envolve, por-
tanto, um conjunto de políticas territoriais.
Dentre essas políticas, podemos destacar, no Brasil, a criação
da Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia – Sudam.
Tal órgão delimita, para fins de planejamento e políticas públicas, a
chamada Amazônia Legal.
Veja como isso ocorreu. O planejamento regional na Amazônia
foi deflagrado em 1953, com a criação da Superintendência do Pla-
no de Valorização Econômica da Amazônia (SPVEA).
Com a SPVEA, foi instituída a Amazônia Brasileira, que corres-
pondia à porção da Amazônia Internacional localizada em território
brasileiro. Não era, contudo, uma região natural, mas uma região
de planejamento, pois a sua delimitação decorria de um ato de von-
tade política do Estado.
As regiões naturais são limitadas por fronteiras zonais, ou seja,
por faixas de transição entre ecossistemas contíguos. As regiões de
planejamento, ao contrário, são delimitadas por fronteiras lineares,
que definem rigorosamente a área de exercício das competências
administrativas.
Região Norte e suas unidades políticas Em 1966, o SPVEA era extinto e, no seu lugar, criava-se a Su-
dam. Essa superintendência, por meio de lei, redefiniu a Amazônia
Temos a rica biodiversidade e abundante indústria extrativa Brasileira, que passava a se denominar Amazônia Legal.
mineral da área. Culminando então com os dilemas econômicos e A região de planejamento perfaz uma superfície de 5,2 milhões
ecológicos presentes na região. A Amazônia é um dos últimos gran- de quilômetros quadrados, ou cerca de 61% do território nacional.
des e ricos espaços pouco povoados do planeta e a grande reserva E essa seria a sua área de atuação compreendida por todos os es-
territorial da sociedade brasileira, mas a biodiversidade e o deli- tados da região Norte, o oeste do Maranhão e a porção norte do
cado equilíbrio ecológico regionais tornam o seu desenvolvimento estado de Mato Grosso.
uma incógnita e um desafio às ciências mundial e nacional.
A Amazônia é parte do Brasil, e seus problemas decorrem das
contradições intrínsecas ao modo de inserção do país no sistema
capitalista mundial e à acelerada reorganização da sociedade bra-
sileira, embora com feições particulares devido às especificidades
regionais.

113
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Região Centro-Oeste
A Região Centro-Oeste é a região que faz limitação com todas
as outras regiões.

Região Centro-Oeste e suas unidades políticas


https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm
Outra peculiaridade desta região é que ela faz fronteira com
O Cerrado é um tipo de vegetação da região Centro-Oeste, sen- dois países sul-americanos, Bolívia e Paraguai. Como consequên-
do a soja e o algodão na atualidade importantes produtos agrícolas. cia, temos áreas de conflitos entre diferentes países, ocasionando
Também se destaca a savana, visto que é o tipo de vegetação questões econômicas, geopolíticas e de segurança nacional, como
que caracteriza o próprio Cerrado, denominado Savana Brasileira. o uso dos recursos naturais, a possibilidade de migrações clandes-
Além disso, destaca-se o Pantanal como um ecossistema local e, tinas, de escoamento e tráfico de drogas e mercadorias roubadas
delimitando-se com outros países latino-americanos. entre os países, o que requer, por parte dos governos locais, e não
Sendo uma região estratégica de fronteira do país na atualida- apenas do brasileiro, a vigilância e a segurança da área.
de, a região Centro-Oeste é compreendida pelas seguintes unida- Temos, então, uma realidade complexa, pontuada por poten-
des políticas: três estados – Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do cialidades e desafios empreendidos por diferentes atores envolvi-
Sul – e um Distrito Federal (Brasília). dos no processo de produção do espaço na referida região.
Mesmo tendo uma área territorial significativa, a região Cen-
tro-Oeste apresenta uma população absoluta mais baixa que as O Cerrado e o Pantanal
duas primeiras. A maior parte do território do Centro-Oeste é ocupada pelo
Pensemos agora a região Centro-Oeste em termos espaciais. cerrado – uma formação vegetal típica do clima tropical continen-
Para isso, observe a figura abaixo, que apresenta as unidades polí- tal. São árvores de pequeno porte, de 2 a 3 metros de altura, com
ticas que a compõem. troncos de casca grossa retorcidos, folhas duras e raízes profundas,
capazes de extrair a água do subsolo.
Entre essas árvores surge uma vegetação de gramíneas, que é
utilizada para pastagem. O aspecto do cerrado é semelhante ao da
savana da África.
A vegetação do Centro-Oeste começou a ser alterada principal-
mente para dar lugar a projetos agropecuários. Na atualidade, há
reduzidos agrupamentos florestais e vegetação descaracterizada
pela ação humana, sobretudo pelas sucessivas queimadas.
Depois de ser praticamente dizimado por pragas em meados
da década de 90, a cultura do algodão voltou a ser um dos princi-
pais itens na nossa pauta de exportação, seguindo a trilha da soja e
da cana-de-açúcar. De acordo com a Companhia Nacional de Abas-
tecimento, as lavouras da fibra já ocupam um milhão de hectares
e um terço terá como destino o mercado externo. E estes impor-
tantes produtos agrícolas estão ocupando grande parte da área de
cerrado, levando a um processo de desmatamento e desequilíbrio
ecológico na área.
Para frisarmos o problema, convém destacar que o estado do
Mato Grosso é o maior produtor de algodão e soja do país e en-
frenta, então, o desafio de manter a economia e, ao mesmo tem-
po, garantir a preservação de suas terras, que integram o cerrado e
também a Floresta Amazônica (metade do estado).

114
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Atualmente, a integração destas duas regiões é uma realidade,
e se dá tanto econômica quanto ambientalmente, tanto em ganhos
quanto em perdas. Por isso, a realidade das duas regiões e seus
principais dilemas são hoje questões inseparáveis.

Na área do Pantanal, encontra-se a vegetação do Pantanal


ou Complexo do Pantanal. De aspecto variado, em alguns lugares
apresenta uma mata densa; em outros, sua aparência é de campos
limpos, com grande valor para a pecuária; em outros, ainda lembra
o cerrado.
Essa variedade está relacionada à maior ou menor umidade re-
sultante das inundações anuais de suas áreas.
Trata-se de uma imensa planície cercada de terras mais eleva-
das, como as serras de Maracaju, da Bodoquema e da Amolar. As
águas dessas áreas mais elevadas são drenadas para esta planície
pelo rio Paraguai e seus afluentes, os rios Cuiabá, Taquari e Miran-
da.
Quase 100.000 km² do Pantanal ficam parcialmente inundados
durante o período das chuvas. Nas áreas livres de inundação são
instaladas as sedes das fazendas de gado. O Sudeste não faz fronteira com nenhum país latino-america-
A exploração agrícola e pecuária também pode prejudicar esse no, possui duas capitais litorâneas e duas interioranas, e apenas um
ecossistema. As queimadas para limpar a terra e plantar o pasto de seus estados não tem saída para o mar.
para a criação de gado e o desmatamento nas cabeceiras dos rios
desregulam os regimes de cheias e secas, alterando o ambiente. Em termos de crescimento populacional, notamos que a região
Sudeste apresenta um dos baixos índices, tendo um percentual
Região Sudeste maior apenas que a região Nordeste. Tal fato pode ser explicado
A Região Sudeste é a região brasileira mais desenvolvida. pela crescente e contemporânea dinâmica verificada nas regiões
Norte e Centro Oeste, áreas de expansão econômica.
Em relação aos demais dados, notamos que a região em estudo
apresenta melhores índices que as demais, o que em termos de
dados qualitativos exprime a possibilidade de a área oferecer uma
melhor qualidade de vida a sua população.
Como sabemos que tais indicadores se referem a médias esta-
tísticas, esses são dados que não conseguem revelar o drama social
de parcelas da população da região e de suas grandes cidades por-
que ocultam o intenso processo de concentração da renda.
Mas, o que salta aos olhos, com certeza, é a participação da
região na constituição do PIB nacional, demonstrando o peso e a
dinâmica da sua economia, o que, consequentemente, explica a ca-
pacidade de polarização dessa região em relação às demais do país.

Região Sul
A Região Sul é a que apresenta características mais diversas em
relação às outras regiões brasileiras.

https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

O Sudeste é a Macrorregião mais populosa, povoada, urbani-


zada, industrializada, desenvolvida econômica e tecnologicamente,
sediando empresas e instituições de pesquisa que a ajudam a ser
definida como centro econômico e tecnológico do país.
Daí, termos que compreender a sua importância no processo
de produção do espaço nacional, a partir do seu poder de pola-
rização e influência em todo o território do país, bem como suas
relações com as demais Macrorregiões nacionais.
Podemos notar que, em termos de divisão política, a região Su-
deste possui quatro unidades políticas, como a região Centro-Oes-
te, em detrimento do maior número de unidades das regiões Norte
e Nordeste.
A densidade demográfica da região Sudeste é extremamente
alta se comparada com as demais regiões do país.
https://brasilescola.uol.com.br/brasil/regioes-brasileiras.htm

115
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Podemos notar que, em termos de divisão política, a região Sul possui apenas três estados, sendo a Macrorregião de menor número
de unidades políticas do país.
Comparando a área territorial das cinco regiões, percebemos que, dentre as cinco, o Sul ocupa a de menor extensão territorial.
Por outro lado, em termos de população absoluta, essa região ocupa o terceiro lugar frente às demais Macrorregiões. Tal fato de-
monstra que mesmo não tendo uma área territorial significativa – é a menor Macrorregião do país – o Sul apresenta uma população
absoluta mais alta que duas regiões. Ou seja, a densidade demográfica da região Sul é elevada.
Pensemos, agora, a região Sul em termos espaciais. Para isso, observe a figura a seguir, que apresenta as unidades políticas que a
compõem.

Região Sul e suas unidades políticas

A Região Sul faz fronteira com três países latino-americanos: Paraguai, Argentina e Uruguai; possui duas capitais litorâneas, Florianó-
polis e Porto Alegre, e uma interiorana, Curitiba, e todos os seus estados têm saída para o mar.
Tais fatos têm repercussão na constituição da realidade da região, visto que, por exemplo, a área de fronteira é uma importante área
estratégica para o país, envolvendo o uso de recursos naturais por diferentes países.
Além disso, o fato de todos os estados serem litorâneos, em comunhão com o processo histórico de desenvolvimento da área, torna
a costa uma importante área de escoamento da produção econômica da região e do próprio país, com a construção de destacados portos,
como atesta a figura a seguir.

116
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO

Principais portos da região Sul

A atividade portuária da região Sul é de grande importância para o país. A região é o canal, a porta de entrada de circulação e de co-
mércio do Brasil com os demais países do bloco econômico do MERCOSUL.
A região Sul certamente destaca-se dentre as demais, pois ela ocupa uma posição de ponta em todos os indicadores. Ora, a região Sul
é a que apresenta o menor crescimento demográfico do país e também a menor taxa de mortalidade e de analfabetismo.
Se compararmos com a região Nordeste, a mortalidade infantil na região é o dobro da região Sul, e o analfabetismo na região Nordes-
te é três vezes maior que na região Sul. Quanto ao índice de desenvolvimento humano, a região Sul apresenta o melhor índice dentre as
demais regiões; por último, em relação ao PIB, a região ocupa a segunda posição dentre cinco regiões.
Ou seja, analisando o conjunto, a região Sul realmente possui bons indicadores sociais e demográficos.

Recursos naturais e geração de energia elétrica


Na região Sul, o Brasil perde suas características de tropicalidade e apresenta uma paisagem diferenciada, como a Mata de Araucárias
e a Campanha Gaúcha.
Tais coberturas vegetais estão atreladas às características climáticas da região. Isso porque as condições naturais são marcadas, den-
tre outros fatores, pelas médias latitudes da área, provocando a incidência do clima subtropical, com estações do ano bem mais definidas
que as demais regiões do país, verões quentes, invernos mais frios e chuvas constantes durante todo o ano.
Tal fator climático, a latitude, aliado às altas altitudes presentes na área, bem como à influência da massa polar atlântica durante
o inverno, provoca quedas acentuadas da temperatura em determinados municípios, com possibilidade de geada e neve, como em São
Joaquim, no estado de Santa Catarina, que fica a 1.360 m de altitude.
Somado a essas características do relevo, temos o elevado índice pluviométrico anual e densas bacias hidrográficas na região.
A bacia hidrográfica Platina é formada pela junção de três rios: o Paraná, o Paraguai e o Uruguai, que drenam terras do Brasil, Pa-
raguai, Argentina e Uruguai; quando os três rios se juntam, formam o rio da Prata, desaguando próximo a Buenos Aires, na Argentina.
Desses, apenas o Paraguai não atravessa a região Sul, conforme nos mostra o mapa a seguir.

117
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Divisão geográfica do Espírito Santo
Até o ano de 2017, o IBGE dividia o Espírito Santo em quatro
mesorregiões, as quais eram compostas por microrregiões forma-
das por um conjunto de municípios, conforme listamos abaixo.

Noroeste Espírito-Santense
• Barra de São Francisco
• Nova Venécia
• Colatina

Litoral Norte Espírito-Santense


• Montanha
• São Mateus
• Linhares

Central Espírito-Santense
• Afonso Cláudio
• Santa Teresa
• Vitória
• Guarapari

Sul Espírito-Santense
• Alegre
Bacias hidrográficas do Brasil, com destaque para a Bacia Pla- • Cachoeiro do Itapemirim
tina • Itapemirim
A hidrografia da região Sul caracteriza-se, dentre outros fato-
res, por possuir rios de planalto, com grandes desníveis e quedas Desde 2018, o IBGE adota a subdivisão por Regiões Geográficas
d’águas acentuadas em seu percurso. Tal fato possibilita a geração Intermediárias e Imediatas.
de energia hidrelétrica na região, principalmente no rio Paraná e
em seu afluente, o rio Iguaçu. O Espírito Santo se divide em quatro regiões intermediárias e
O rio Iguaçu é um importante afluente do rio Paraná, e o local suas respectivas regiões imediatas:
onde eles se juntam ficou conhecido como Foz do Iguaçu, sendo
essa uma denominação também do município e do parque ecoló- Vitória (Vitória, Afonso Cláudio, Venda Nova do Imigrante e
gico local. Santa Maria de Jetibá);
Pois bem, essa área também ficou conhecida como Tríplice
Fronteira por delimitar terras do Brasil, Paraguai e Argentina. Des- • São Mateus (São Mateus e Linhares);
taca-se também a enorme represa da Usina Hidrelétrica de Itaipu, • Colatina (Colatina e Nova Venécia);
no rio Paraná. • Cachoeiro do Itapemirim (Cachoeiro do Itapemirim e Alegre).
Os grandes desníveis dos rios dessa área são responsáveis pelo
espetáculo das quedas d’água conhecidas como Cataratas do Igua-
çu. Mas, antes da construção da usina de Itaipu, também outras REGIÕES MUNDIAIS: GEOPOLÍTICAS, ECONÔMICAS
quedas eram famosas na região: as Sete Quedas, por exemplo, no
rio Paraná, que foram cobertas pelas águas da represa de Itaipu. Globalização e Cultura Mundial
Globalização é um conjunto de transformações na ordem polí-
tica e econômica mundial visíveis desde o final do século XX. Trata-
-se de um fenômeno que criou pontos em comum na vertente eco-
REGIÕES DO ESPÍRITO SANTO nômica, social, cultural e política, e que consequentemente tornou
o mundo interligado8.
Mapa do Espírito Santo O processo de globalização é a forma como os mercados de
diferentes países interagem e aproximam pessoas e mercadorias.
A quebra de fronteiras gerou uma expansão capitalista onde foi
possível realizar transações financeiras e expandir os negócios, até
então restritos ao mercado interno, para mercados distantes e com
as inovações nas áreas das telecomunicações e da informática (es-
pecialmente com a Internet) as distâncias se tornaram relativas e a
construção de uma “aldeia global” foi se tornando uma realidade.
O surgimento dos blocos econômicos e o enfraquecimento do
poder de alguns governos nacionais foi resultado desse processo de
integração que aumenta a competitividade e reduz a soberania dos
Estados. O impacto exercido pela globalização no mercado de tra-
balho, no comércio internacional, na liberdade de movimentação
e na qualidade de vida da população varia a intensidade de acordo
com o nível de desenvolvimento das nações.
8 https://www.mundoedu.com.br/uploads/pdf/53ec0ca1c85da.pdf

118
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Existem duas faces do processo de globalização: uma cultural, Outros países, como os Tigres Asiáticos, industrializaram- se a
que impõe um modo de vida baseado em hábitos e costumes oci- partir do modelo de plataformas de exportação, no qual empresas
dentais, ou o chamado “american way of life” (modo de vida norte- transnacionais se instalam no país e passam a exportar sua produ-
-americano), o qual é a base da sociedade capitalista ou sociedade ção para outros países, onde o produto final é montado.
de consumo e tende a tornar o hábito de comprar em uma neces-
sidade social, tornando mais fácil a massificação a outra face do Geopolítica e a Velha Ordem Mundial. Geopolítica e a Nova
processo, a econômica. Ordem Mundial
Avanço dos meios de comunicação (internet, imagens de sa-
Inserção desigual dos países na economia mundial télite, televisivas, entre outros), aumento do fluxo de mercadorias,
Os países não se inserem na economia mundial da mesma ma- pessoas, culturas e informações entre os países do globo, conflitos
neira. O atraso econômico de muitos países é resultado de um pro- étnico-raciais, terrorismo, acordos econômicos e crises financeiras
cesso histórico. O crescimento econômico das nações nos últimos são características típicas de nosso mundo atual, a Globalização9.
séculos se confunde com a própria história do desenvolvimento do
capitalismo, que desde o século XVI estabeleceu uma divisão inter- A Velha Ordem da Guerra Fria
nacional do trabalho. Entre os anos de 1945 e 1991 o mundo estava em disputa, de
Os países dominantes ficavam com a maior parte da riqueza forma geral, por duas concepções políticas e econômicas distintas
produzida, enquanto as colônias tinham a função de contribuir para de organização da sociedade global: o Capitalismo e o Socialismo.
a acumulação de capital nas metrópoles. Podemos dizer que nesse período o mundo era bipolar, e di-
A economia capitalista se desenvolveu concentrando riqueza e vidido em três mundos: O Primeiro Mundo, os países capitalistas
poder nas mãos das elites, principalmente das potências dominan- ricos, o Segundo Mundo, os países socialistas e o Terceiro Mundo,
tes, criando em contrapartida regiões pouco desenvolvidas econo- os países pobres sendo disputados pelos dois primeiros mundos.
micamente e pouco industrializadas, chamadas a partir da segunda
metade do século XX de subdesenvolvidas. Vejamos o mapa a seguir:
Esse termo tem sido questionado, pois a maior parte dos pa-
íses chamados de subdesenvolvidos esteve durante muito tempo
na condição de colônia, e a exploração de seus recursos naturais
e humanos impediu o seu crescimento econômico e seu desenvol-
vimento social. Ou seja, dentro de um mesmo processo, o cresci-
mento econômico de uns foi conseguido em detrimento de outros.
Podemos dizer que as desigualdades econômicas e sociais di-
videm o mundo em dois grandes grupos: o dos países ricos, mais
industrializados, desenvolvidos, com menores problemas sociais, e
o dos países pobres, menos industrializados, que contam com inú-
meros problemas sociais, incluindo enorme quantidade de pessoas
que vivem em precárias condições de vida. Esses grupos não são
homogêneos, apresentando grandes diferenças
Projeção – Primeiro, Segundo e Terceiro Mundos no período
Grandes conjuntos de países da Guerra Fria
Muitos países subdesenvolvidos, após a Segunda Guerra Mun-
dial, passaram a investir na indústria, ficando conhecidos como No lado capitalista, a representação máxima eram os Estados
países em desenvolvimento. Como a Primeira Revolução Industrial Unidos da América (EUA), que vendiam a imagem de um mundo
ocorreu no século XVIII e a Segunda Revolução Industrial no século permeado pela liberdade de consumo e expressão, da possibilida-
XIX, esse processo é considerado industrialização tardia ou retar- de do comércio e do desenvolvimento econômico e tecnológico, ti-
datária. nham como uma área estratégica de influência, a Europa Ocidental
É o caso do Brasil, México, Argentina e Tigres Asiáticos (Coreia e a maior parte da América Latina.
do Sul, Taiwan, Cingapura e Hong Kong, na China). Já do lado socialista, a representação máxima era a União das
Os países ricos e pobres já receberam diversas denominações. Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), constituída por um conjun-
Uma delas, a partir da década de 1980, refere-se à localização ge- to de países da Europa Oriental, alguns da Ásia e Cuba, na América
ográfica. Os mais desenvolvidos passaram a ser chamados de paí- Latina. No socialismo real, se disseminavam as ideias de um mun-
ses do Norte, pois na sua maior parte encontram-se no hemisfério do sem desigualdades sociais, onde todos poderiam ter as mesmas
norte. chances profissionais e as mesmas condições materiais de sobre-
Os subdesenvolvidos, localizados majoritariamente no hemis- vivência.
fério sul, ficaram conhecidos como países do Sul. O sistema capitalista já não era uma novidade para as socieda-
Mais recentemente, com a expansão e a internacionalização des no mundo, pois a lógica urbano-industrial e os ideais de amplia-
dos mercados, os países foram divididos em países centrais, merca- ção dos comércios já haviam se espalhado pelo mundo.
dos emergentes (ou semiperiféricos) e países periféricos.
Em parte dos países subdesenvolvidos (Brasil, México e Ar-
gentina), o processo de industrialização apoiou-se no modelo de
substituição de importações, que incluía a proteção do mercado
interno, a proibição da entrada de manufaturados estrangeiros e
o fortalecimento de indústrias locais (nacionais e transnacionais).

9 http://proedu.rnp.br/bitstream/handle/123456789/472/2a_Disciplina_-_
Geografia_II.pdf?sequence=1&isAllowed=y

119
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Já com relação ao socialismo (ou comunismo, como alguns Vejamos a projeção a seguir:
preferem chamar) tem sua teoria escrita no século XIX com os pen-
sadores Marx e Engels, porém, na prática, o regime de socialismo
real é instituído no sistema do Estado com a Revolução Russa de
1917 e o nascimento do Partido Comunista (com sede em Moscou),
que passou a centralizar o poder político e econômico de gestão do
país se contrapondo aos efeitos negativos do capitalismo da Rússia
nesse período.
Na realidade vivida do mundo Bipolar, este passou a receber
influências culturais, políticas e econômicas dessas duas grandes
potências e seus ideais.
Acordos econômicos, políticos, conflitos na América Latina
(crise dos mísseis em Cuba, revolta popular na Nicarágua, Ditadu-
ras Militares, entre outros), na África (corrida pela independência
dos países africanos), na Ásia (Guerra do Vietnã, Conflitos entre Irã,
Iraque e Kuwait, Revolução Cultural na China, conflito Árabe-Isra-
elense, entre outros), são importantes marcas desse período. Mili-
tarmente, existiu uma corrida armamentista tão grande que bom- Divisão – Países do Norte (Ricos) e Países do Sul (Pobres)
bas nucleares foram se espalhando em diversas partes do mundo,
chegando a provocar um “equilíbrio do terror” – a explosão dessas Vivemos a Globalização por meio de inúmeras situações e fe-
bombas poderia acabar com o planeta. nômenos, quando nos conectamos à internet somos capazes de
conversar com pessoas que estão do outro lado do mundo em tem-
A representação mais conhecida dessa época era o Muro de po real, podemos conhecer as diferentes realidades e culturas do
Berlim (1961), que dividiu a Alemanha em República Democrática mundo.
Alemã (RDA), o lado socialista e também conhecido como Alema- No noticiário, podemos visualizar fenômenos políticos e eco-
nha Oriental; e a República Federal da Alemanha (RFA), o lado ca- nômicos com muita precisão, no comércio, as múltiplas marcas dos
pitalista, também conhecido como Alemanha Ocidental. Cabe di- produtos nos chamam a atenção para serem consumidos, entre
zer que toda a Europa estava dividida em Ocidental (capitalista) e outras situações. Porém, devemos considerar que nesse mundo de
Oriental (socialista). fábulas, apresentado por nós, há perversidades, tais como a explo-
Mas, as duas concepções de mundo idealizadas pelos capita- ração da natureza e de mão de obra, realidades de miséria, guerras
listas e socialistas não projetavam na realidade as suas promessas e fome.
políticas e econômicas; em ambos os lados haviam desigualdades
sociais, ditaduras, conflitos de resistência aos sistemas, ambientes Globalização e Neoliberalismo. Integração Regional ou For-
carregados de perversidades. Em 1989 os alemães do lado oriental mação de Blocos Econômicos
resolveram derrubar o Muro de Berlim, o que para muitos historia-
dores esse momento representava o fim da Guerra Fria. As Organizações Internacionais
Em 1991, a Rússia se tornava independente, e o Socialismo real Podemos dizer que uma organização internacional é como
foi deixando de existir enquanto regime político na Europa Ociden- uma associação, geralmente formada por representantes políticos
tal, mantendo-se até hoje em poucos países, como China e Cuba. de direito internacional, a exemplo dos Estados Nacionais10.
Essas organizações possuem objetivos. São compostas por um
A Nova Ordem Mundial – a Globalização corpo de profissionais e uma legislação que a regulamenta. Elas
Com o fim do segundo mundo e a ascensão do capitalismo, os adquirem um poder de atuação e uma personalidade internacio-
países se dividiram em apenas duas realidades, a dos países do Nor- nal, muitas vezes, independente das representações políticas que
te (Ricos) – também conhecidos como desenvolvidos, ou países de a compõem.
Centro - e dos Países do Sul (Pobres) – também conhecidos como Suas ações visam unicamente alcançar os objetivos traçados
Subdesenvolvidos ou países Periféricos. e outorgados por seus membros em um dado momento histórico.
A nova ordem mundial, também conhecida como Globalização São exemplos clássicos de organizações internacionais: a Or-
ou Mundialização, passou a se caracterizar, sobretudo, pelo poder ganização das Nações Unidas (ONU), a Organização Mundial do Co-
econômico e tecnológico de alguns países sobre outros, pelo avan- mércio (OMC), a União Europeia (UE), o Mercado Comum do Cone
ço dos sistemas de informações e de comunicação, pela ampliação Sul (MERCOSUL), Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV), a
do fluxo de mercadorias e pessoas, pelo abismo socioeconômico Comissão Econômica para a América Latina e Caribe (CEPAL), entre
entre ricos e pobres, por uma maior atuação de organismos inter- outros.
nacionais ligados à Organização das Nações Unidas, entre outros.
Os Blocos Econômicos
Com a ascensão do sistema capitalista na Globalização, os paí-
ses, objetivando ampliar o fluxo de mercadorias, buscaram facilitar
negociações e consolidar a sociedade do consumo, passaram a se
organizar em Blocos Econômicos.
Podemos classificar os Blocos Econômicos de três formas: Zona
de Livre Comércio, União Aduaneira e Mercado Comum.

10 http://proedu.rnp.br/bitstream/handle/123456789/472/2a_Disciplina_-_
Geografia_II.pdf?sequence=1&isAllowed=y

120
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Vejamos a tabela a seguir:

Entre os principais blocos estão: o Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta), a União Europeia (UE), o Mercado Comum
do Cone-Sul (MERCOSUL).
Existem blocos econômicos na África e na Ásia, como a Comunidade da África Meridional para o Desenvolvimento (SADC) e a Associa-
ção de Nações do Sudeste Asiático (Asean) ou a Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC).
Vamos apreciar o mapa a seguir:

Mapa Mundo - localização dos principais Blocos Econômicos

A União Europeia
A União Europeia é composta, atualmente, por 27 países da Europa, mas vem sendo constituída desde 1957 quando era conhecida
como Comunidade Econômica Europeia. Entre os seus objetivos estão: o aumento do fluxo de mercadorias e serviços entre os países-
-membros, a criação de uma política de segurança única, o estabelecimento de uma cidadania europeia e a existência de uma moeda
única, o Euro.
Os principais órgãos de decisão política e econômica deste Mercado Comum são: a Comissão Europeia, o Conselho da União, o Parla-
mento Europeu e o Banco Central Europeu.

O Acordo de Livre Comércio da América do Norte (Nafta)


O Nafta é nada mais, nada menos, que uma Área de Livre Comércio entre México, EUA e Canadá. Entrou em vigor em 1994 e não
pretende aprofundar a sua integração, como fez a União Europeia.
Pesquisadores e estudiosos da economia e das ciências sociais afirmam que a formação deste bloco foi boa apenas para os EUA, que
transferiram grande parte de suas empresas às cidades do norte do México (as indústrias maquiladoras) para usufruir da flexibilização de
leis (trabalhistas, ambientais, entre outros) e da mão de obra barata, ampliando ainda mais as desigualdades sociais na região. No acordo
inicial, a criação de empregos para os mexicanos era uma meta a ser alcançada pelo bloco.

O Bloco dos G-8 e dos G20


O grupo denominado G-8 é composto pelos oito países mais industrializados do mundo. Nasceu em 1975 quando era composto,
apenas, por Alemanha, França, EUA, Japão e Inglaterra. Nos anos de 1980, agregaram ao grupo o Canadá e a Itália e, nos anos de 1990, a
Rússia.
É importante saber que esses países se reúnem ao menos três vezes ao ano e nessas reuniões elaboram e reelaboram estratégias e
diretrizes econômicas para o mundo. Atualmente, eles também discutem questões referentes ao combate a drogas, apoio à implementa-
ção de regimes políticos democráticos, entre outros assuntos.
O bloco dos G-20 foi criado recentemente, em 1999, e inclui junto das decisões políticas e econômicas globais, os países emergentes
(como Brasil, México, Argentina, África do Sul, Índia, Arábia Saudita, entre outros), que recentemente passou a ser G-22.

121
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Mantém uma série de características do bloco dos G-8 e ainda Os países do Brics: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul.
realça políticas neoliberais como privatizações, condições de mer-
cado de trabalho flexíveis, entre outros. Alguns pesquisadores e
analistas políticos consideram a criação do referido bloco, embora
contraditório, muito bom para os países em desenvolvimento, uma
vez que insere esses países no campo das decisões internacionais.

Países Emergentes e Importância dos BRICS


Não há, no âmbito da economia mundial, uma definição to-
talmente aceita sobre o que seriam as economias emergentes. De
modo geral, são considerados emergentes aqueles países subde-
senvolvidos que apresentam quadros de crescimento econômico
prósperos e características socioeconômicas que diferenciam esses
países das demais economias periféricas.
O termo foi primeiramente utilizado pelo Banco Mundial na
década de 1980 e, desde então, passou a incorporar os jargões eco-
nômicos e os noticiários de todo o mundo11.
Em geral, os países emergentes apresentam níveis medianos
de desenvolvimento, um relativamente dinâmico parque industrial,
uma boa capacidade de exportações e certo dinamismo econômi-
co. São, por isso, também chamados de países em desenvolvimen-
to, cujos exemplos englobam, entre outros, Brasil, China, México,
Índia, Cingapura, Coreia do Sul, Argentina, Turquia, Indonésia e
Taiwan. https://alunosonline.uol.com.br/geografia/bric.html
Contudo, em torno das análises e das más interpretações sobre
esse tema, ergueu-se o mito de que esses países seriam como que Apesar das oscilações econômicas que esses países sofreram,
uma categoria à parte, não se caracterizando nem como países de- sobretudo durante a crise financeira internacional, pode-se dizer
senvolvidos nem como países subdesenvolvidos. Porém, é um erro que os BRICS lideram atualmente os países emergentes e, claro, as
pensar isso, pois o mais correto seria considerar os emergentes demais nações subdesenvolvidas.
como uma subcategoria que faz parte do mundo subdesenvolvido, Isso ocorre porque, além da economia dinâmica, esses países
tendo em vista que esses países ainda apresentam níveis sociais e possuem uma elevada força política, incluindo a presença de dois
de distribuição de renda limitados, com elevada pobreza e falta de deles no Conselho de Segurança da ONU (no caso, China e Rússia).
recursos em muitas áreas da sociedade, como educação e saúde. Recentemente, o BRICS deliberou a criação de um banco financeiro
Em 2001, o economista inglês Jim O’Neil criou o termo “BRIC” voltado para a cooperação a fim de realizar benefícios e emprésti-
para referir-se aos quatro principais países emergentes que apre- mos a juros baixos para países periféricos, o que impõe uma inédita
sentavam elevadas potencialidades econômicas, com acentuados concorrência ao FMI e ao Banco Mundial.
crescimentos vindouros e melhorias em seus índices financeiros, Outra sigla que reúne países com bastante força entre os países
previsões que se concretizaram pelo menos nos dez anos seguintes. emergentes é o MIST (México, Indonésia, Coreia do Sul e Turquia).
Assim, esses países resolveram adotar o termo como uma Em alguns casos, pensou-se que esses países substituiriam os BRICS
forma de relação diplomática informal, alterando, inclusive, a si- no âmbito da economia mundial, mas a crise de 2008, que afetou,
gla para BRICS, com a inclusão da África do Sul, que também pode em grande medida, o México, além do menor poder político, colo-
ser considerada uma economia emergente, porém de menor porte cou esse grupo em um segundo plano no contexto internacional.
em relação aos demais países desse acrônimo. Os BRICS são, atu- Em resumo, podemos considerar que os países emergentes
almente, importantes atores nos cenários econômicos e políticos são grandes exportadores de matérias-primas, grandes receptores
mundiais. de empresas multinacionais (além de também serem medianos
fornecedores dessas mesmas empresas) e possuem um amplo e
crescente mercado consumidor e uma grande capacidade de cres-
cimento econômico e atuação centrada no setor terciário.
Por esse motivo, atraem sempre com muita atenção os princi-
pais centros de debate tanto do meio econômico quanto da geopo-
lítica e estratégia internacional.

11 https://mundoeducacao.uol.com.br/geografia/paises-emergentes.htm

122
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO

BIOMAS E DOMÍNIOS MORFOCLIMÁTICOS

Principais biomas brasileiros


Os principais biomas brasileiros são: Amazônia, Cerrado, Mata
Atlântica, Pampas, Caatinga e Pantanal.

Arara-canindé, uma espécie muito comum na Amazônia Brasileira

• Cerrado: O Cerrado, ou a Savana brasileira, estende-se por


grande parte da região Centro-Oeste, Nordeste e Sudeste do país.
É um bioma característico do clima tropical continental, que, em
razão da ocorrência de duas estações bem definidas – uma úmida
(verão) e outra seca (inverno) –, possui uma vegetação com árvores
e arbustos de pequeno porte, troncos retorcidos, casca grossa e, ge-
Vegetação caducifólia da Caatinga, que perde as suas folhas ralmente, caducifólia (as folhas caem no outono). A fauna da região
no período da seca é bastante rica, constituída por capivaras, lobos-guarás, tamanduás,
antas, seriemas etc.
O território brasileiro, com cerca de 8,5 milhões de quilômetros
quadrados, possui uma grande variedade de características naturais • Mata Atlântica: O exemplar de Floresta Tropical do Brasil
(solo, relevo, vegetação e fauna), que interagem entre si formando praticamente já desapareceu, pois, como estava localizada na faixa
uma composição natural única. Entre as principais características litorânea do país, grande parte de sua vegetação original foi devas-
naturais que mais apresentam variação, estão os biomas, conjun- tada para ceder lugar à intensa ocupação do litoral. Originalmente,
tos de ecossistemas com características semelhantes dispostos em a vegetação desse bioma encontrava-se localizada em uma extensa
uma mesma região e que historicamente foram influenciados pelos área do litoral brasileiro, que se estendia do Piauí ao Rio Grande do
mesmos processos de formação. Sul, e era constituída por uma vegetação florestal densa, com pra-
De acordo com o IBGE, o país possui seis grandes biomas, que, ticamente as mesmas características da Floresta Amazônica: com
juntos, possuem uma das maiores biodiversidades do planeta. São diversos tamanhos, latifoliada (folhas largas e grandes) e perene
eles: (folhas que não caem). A fauna dessa região já foi praticamente ex-
• Amazônia: A Floresta Equatorial brasileira ocupa cerca da tinta e era constituída por micos-leões, lontra, onça-pintada, tatu-
metade do território do Brasil e está concentrada nas regiões Norte -canastra, arara-azul e outros.
e em parte da região Centro-Oeste. Esse bioma é muito influencia-
do pelo clima equatorial, que se caracteriza pela baixa amplitude • Caatinga: estende-se por todo o sertão brasileiro, ocu-
térmica e grande umidade, proveniente da evapotranspiração dos pando cerca de 11% do território nacional. Trata-se da região mais
rios e das árvores. A sua flora é constituída por uma vegetação flo- seca do país, localizando-se na zona de clima tropical semiárido. A
restal muito rica e densa e apresenta espécies de diferentes tama- vegetação dessa região é composta, principalmente, por plantas
nhos – algumas podem alcançar até 50 metros de altura – com fo- xerófilas (acostumadas com a aridez, como as cactáceas) e caduci-
lhas largas e grandes, que não caem no outono. A fauna também é fólias (que perdem a folha durante o período mais seco), além de
muito diversificada, composta por insetos, que estão presentes em algumas árvores com raízes bem grandes que conseguem captar a
todos os estratos da floresta, uma infinidade de espécies de aves, água do lençol freático em grandes profundidades e que, por isso,
macacos, jabutis, antas, pacas, onças e outros. não perdem as suas folhas, como o juazeiro. A fauna desse bioma é
composta por uma grande variedade de répteis, sapo cururu, asa-
-branca, cutia, gambá, preá, veado-catingueiro, tatupeba etc.

• Pampas: Localizado no extremo sul do Brasil, no Rio Gran-


de do Sul, esse bioma é bastante influenciado pelo clima subtropi-
cal e pela formação do relevo, que é constituído principalmente por
planícies. Em virtude do clima frio e seco, a vegetação não consegue
desenvolver-se, sendo constituída principalmente por gramíneas,
como capim-barba-de-bode, capim-gordura, capim-mimoso etc.
São exemplos de animais que vivem nesse bioma o veado, garça,
lontras, capivaras e outros.

123
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
• Pantanal: trata-se da maior planície inundável do país e
está localizado nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do sul. A DINÂMICA DA ATMOSFERA: ELEMENTOS E FATORES,
Esse bioma é muito influenciado pelos regimes dos rios presentes CLASSIFICAÇÃO E TIPOS DE CLIMA
nesses lugares, pois, durante o período chuvoso (outubro a abril), a
água do pantanal alaga grande parte da planície da região. Quando As Esferas Terrestres12
o período chuvoso acaba, os rios diminuem o seu volume d’água e
retornam para os seus leitos. Por essa razão, a vegetação e os ani-
mais precisam adequar-se a essa movimentação das águas. Todos
esses fatores tornam a vegetação do pantanal muito diversificada,
havendo exemplares higrófilos (adaptados à umidade), plantas tí-
picas do Cerrado e da Amazônia e, nas áreas mais secas, espécies
xerófilas. A fauna é constituída por várias espécies de aves, peixes,
mamíferos, répteis etc.

Atmosfera: dinâmica climática e gases que formam a camada


de ar da Terra (N², O², CO², etc.);
Hidrosfera: camada de água presente na superfície da Terra,
cerca de 70%. (mares, rios, gelo);
Litosfera: estrutura sólida da Terra (rochas, formas de relevo,
solo);
Área do bioma amazônico desmatada para servir de pastagem
para o gado Biosfera: inter-relação entre a atmosfera, hidrosfera e litosfera
para condicionamento da existência da vida na Terra (seres vivos).
Atualmente, como resultado da expansão das atividades agro-
pecuárias e da urbanização no país, todo os biomas brasileiros cor- Tempo e Clima
rem risco de extinção caso sejam mantidos os mesmos padrões de O estudo do clima e do tempo ocupa uma posição central no
exploração. Dois desses biomas, o Cerrado e a Mata Atlântica, já se campo da ciência ambiental, pois as características do clima e as
encontram na lista mundial de Hotsposts, isto é, áreas com grande condições do tempo são determinantes na distribuição das diferen-
diversidade que se encontram ameaçadas de extinção. Além deles, tes formas de vida.
estima-se que a Amazônia brasileira desaparecerá em 40 anos caso
sejam mantidos os índices de desmatamento atuais. O Pantanal e Tempo: estado médio da atmosfera num período de tempo e
os Pampas são ameaçados pelas atividades agropecuárias que com- lugar determinado.
prometem o sistema de cheias dos rios no Pantanal e contribuem Clima: síntese do tempo de um lugar para um período aproxi-
para o processo de desertificação do solo nos Pampas. Asim, o Bra- mado de 30 anos.
sil, embora possua uma grande biodiversidade, corre o risco de per-
dê-la caso as leis ambientais de proteção desses biomas não sejam O tempo e o clima são considerados como uma consequência e
colocadas em prática. uma demonstração da ação de processos complexos na atmosfera,
oceano e terra.
O estudo do clima e do tempo ocupa uma posição central no
campo da ciência ambiental, pois as características do clima e as
condições do tempo são determinantes na distribuição das diferen-
tes formas de vida.
Existe uma relação estreita entre meteorologia e climatologia:
Meteorologia: estuda o estado físico, dinâmico e químico da
atmosfera e suas interações com a superfície terrestre. (Estuda o
tempo);
Climatologia: é o estudo científico do clima. (Estuda o clima).

Climatologia
Pode-se dizer que a climatologia estuda os padrões de compor-
tamento da atmosfera considerando um longo período de tempo.
É dividida em:

12 https://www.ufsm.br/laboratorios/labgeotec/wp-content/uploads/si-
tes/676/2019/08/tpico1.pdf

124
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
• Climatologia regional: estudo do clima em área selecionadas;
• Climatologia sinótica: estudo do clima de uma área em relação ao padrão de circulação atmosférica;
• Climatologia física: estudo dos elementos do tempo em termos de princípios físicos;
• Climatologia dinâmica: estuda os movimentos atmosféricos em diferentes escalas;
• Climatologia aplicada: aplicação dos conhecimentos climatólogos na solução de problemas que afetam os seres humanos;
• Climatologia histórica: estudo do clima através dos tempos.

Subdivisões da climatologia: diferentes escalas


São subdivisões da climatologia:
• Macroclimatologia: estudo do clima em amplas áreas da Terra;
• Mesoclimatologia: estudo do clima em áreas menores (10 a 100 Km de largura). Ex.: eventos extremos como tornados e temporais;
• Microclimatologia: estudo do clima próximo a superfície terrestre e em áreas muito pequenas (menores que 100 m de extensão).

Elementos do clima
São grandezas atmosféricas que comunicam ao meio atmosférico suas propriedades e características particulares. São no tempo e no
espaço sendo perceptíveis pelos sentidos humanos e medidos por instrumentos específicos:
Pressão atmosférica, temperatura, precipitação, insolação, radiação, vento, nebulosidade, evaporação, umidade e visibilidade.

Pressão atmosférica – peso que a atmosfera exerce por unidade de área. Sabendo que o ar é um fluido, a tendência é que se movi-
mente em direção às áreas de menor pressão. Assim, a movimentação da atmosfera está ligada à distribuição da pressão atmosférica.

Temperatura - grau de calor que um corpo possui, sendo a condição que determina o fluxo de calor que passa de uma substancia para
outra. O calor desloca-se de superfícies com maiores temperaturas para as de menor temperatura.

Precipitação - deposição em forma líquida ou sólida derivada da atmosfera. Neste caso, as formas líquidas e congeladas da água,
como chuva, granizo, neve.
Insolação - quantidade de radiação solar direta que incide em determinada área numa posição horizontal e a um nível conhecido.
Radiação - é a propagação de energia de um ponto a outro. Neste caso, o calor recebido pela a atmosfera e superfície terrestre a
partir do sol.
O sol é uma esfera gasosa com temperatura de 6.000 °C que emite a energia em ondas eletromagnéticas.
Vento - é o ar atmosférico em movimento a partir da diferença de pressão e temperatura.
Umidade - quantidade de água na forma gasosa presente na atmosfera.
Evaporação - processo pelo qual a umidade, líquida ou sólida, passa para a forma gasosa. Perda da água em superfícies aquáticas ou
solo.
Nebulosidade - cobertura do céu por nuvens e nevoeiro.
Visibilidade: (m) – visão do observador.

Fatores geográficos ou fatores do clima


São fatores geográficos que influenciam no comportamento dos elementos atmosféricos dando-lhes certas regularidades. Possuem
ação permanente em escala regional e local.
• Atmosfera;
• Latitude;
• Altitude;
• Correntes marinhas;
• Continentalidade e maritimidade;
• Vegetação;

125
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
• Relevo;
• Urbanização.

Tipos de Clima13
Clima é o termo utilizado para definir as condições atmosféricas que caracterizam uma região.
Existem dez tipos principais de clima em todo o mundo e são influenciados pela pressão atmosférica, correntes marítimas, circula-
ção de massas de ar, latitude, altitude, precipitação pluviométrica e inclinação solar – a quantidade de luz que incide sobre a superfície
terrestre.

Principais Tipos de Clima


A sobreposição de uma característica sobre as demais é que define o tipo de clima de uma determinada região.
Os dez principais tipos de clima são: equatorial, tropical, subtropical, desértico, temperado, mediterrâneo, semiárido, continental
árido, frio da montanha e polar.

https://www.proenem.com.br/enem/geografia/clima-climas-no-mundo-e-do-brasil/

Clima Equatorial
É registrado nas zonas próximas ao Equador, como partes da África e do Brasil. É quente e úmido. Tem pouca variação térmica duran-
te o ano, em média de 25ºC. No clima Equatorial, há chuva abundante durante todo o ano.

Clima Tropical
Ocorre nas zonas próximas aos trópicos de Câncer e Capricórnio. A temperatura média anual é de 20ºC. A principal característica é a
clara definição de duas estações no ano, que são o inverno – seco – e o verão – chuvoso.
Dependendo da região, pode variar em clima tropical seco ou clima tropical chuvoso. É dividido em clima tropical equatorial; tropical
de monções; tropical úmido ou de savana e clima tropical de altitude.
Este clima e suas variações, são encontrados no Brasil, Cingapura, regiões da Índia, Sri Lanka, Havaí, Honolulu, México e Austrália.

Clima Subtropical
O clima subtropical marca as regiões abaixo do trópico de Capricórnio. É mercado pela diferenciação térmica durante o ano porque
tem quatro estações bem definidas.
Os principais extremos de temperatura ocorrem no verão, com variação de 20ºC a 25º, e no inverno, quando os termômetros podem
marcar entre 0ºC e 10ºC.
As chuvas nas regiões atingidas por este clima variam de 1 mil a 1,5 mil milímetros anuais. São Paulo, o sul de Mato Grosso do Sul,
Paraná, Santa Catarina e o Rio Grande do Sul sofrem a influência do clima Subtropical.

Clima Temperado
As quatro estações bem definidas também são características nas regiões de clima temperado. É registrado nas regiões localizadas no
meio dos trópicos e dos círculos polares dos hemisférios sul e hemisfério norte.
13 https://www.todamateria.com.br/tipos-de-clima/

126
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
É dividido em quatro tipos: temperado mediterrâneo, tempe- Tipos de Clima e Vegetação
rado continental e temperado oceânico. Este é o clima de regiões As peculiaridades do clima resultam em vegetações diferencia-
como a Europa, América do Norte e Ásia. das em cada região da Terra. No clima polar ocorre durante o verão
a tundra, formada por musgos e liquens.
Clima Mediterrâneo Árvores e vegetações acostumadas com o rigor do inverno es-
É caracterizado por invernos curtos e de temperaturas baixas, tão nas regiões de clima temperado. É nesta área que permanecem
variando entre 0ºC e 15ºC. Já o verão é longo, registrando tempe- a floresta temperada, com árvores de grande porte e decíduas, ou
raturas que oscilam entre 18ºC e 25º. seja, perdem as folhas durante o inverno.
O período chuvoso é o de inverno e o seco ocorre no verão. A chamada vegetação de altitude está presente caracterizado
Embora o inverno seja breve e o verão longo, as quatro estações como frio da montanha. São plantas como as pradarias, encontra-
ano são bem definidas. É encontrado nas regiões localizadas junto das na Argentina, e em regiões brasileiras como o rio Grande do Sul,
ao mar Mediterrâneo. na área conhecida como Pampa Gaúcho.
O clima subtropical é favorável para o desenvolvimento de
Clima Desértico plantas como araucárias e pinheiros. Este tipo de vegetação é be-
No clima desértico, o calor com médias de 30ºC de tempera- neficiado pela distribuição regular de chuvas durante o ano.
tura como a principal característica. As chuvas são escassas, quase Já no clima tropical, a diversidade da vegetação é maior, em
insignificantes, podendo haver anos em que não chegam a ocorrer. consequência da oferta de luz e elevada umidade. Sob a influência
Em consequência, a umidade do ar é baixa, chegando a 15%. As deste clima estão as florestas tropicais úmidas, muito semelhantes
altas temperaturas ocorrem durante o dia, mas podem ser negati- às florestas equatoriais. A principal delas é a floresta Amazônica.
vas durante o inverno.
As estações do ano são diferenciadas pela variação de tempe- Clima Influencia na Estrutura da Planta
ratura. Este tipo de clima é encontrado no deserto do Saara, na Áfri- As condições de oferta pluviométrica abundante, calor e luz
ca; Oriente Médio; Oeste norte-americano, na região de Sonora, no favorecem a diversidade da vegetação do clima equatorial, com ár-
norte Mexicano; no Atacama, que fica no litoral do Chile e Peru; na vores longas e arbustos, dependendo da localização.
Austrália e Índia. Ao contrário da elevada disponibilidade de água, o clima semi-
árido favorece o desenvolvimento de árvores de pequeno porte,
Clima Semiárido em que os troncos são retorcidos e espinhosos, conhecidas como
Chuvas irregulares e escassas, altas temperaturas e baixa umi- Caatinga.
dade relativa do ar são as principais características do clima semi- Sob a influência deste clima também estão plantas como cac-
árido. tos. A estrutura das plantas é adequada à escassez hídrica.
A temperatura média anual chega a 27ºC e as chuvas variam A escassez de água também marca a vegetação no clima de-
em, no máximo, 750 milímetros ao ano. Além de escassas, as chu- sértico, onde são encontradas plantas espinhosas e de raízes pro-
vas são irregulares e mal distribuídas. É registrado na região Nor- fundas.
deste brasileira.

Clima Continental Árido FENÔMENOS DA NATUREZA: ALTERAÇÕES ANTRÓPI-


Este tipo de clima é marcado pela baixa umidade relativa do CAS E IMPLICAÇÕES EM SUA DINÂMICA GLOBAL-LO-
ar, em consequência da densidade pluviométrica média de 250 mi- CAL E LOCAL-GLOBAL
límetros ao ano.
Além de seco, tem como característica a grande variação de Por uma questão cultural, estamos acostumados a associar o
temperatura entre o verão (17º) e o inverno (20º negativos). É ob- termo “fenômeno” com acontecimentos grandiosos, com extremas
servado em regiões como a Ásia Central, Montanhas Rochosas nor- consequências. Por exemplo, ciclones, terremotos, entre outros.
te-americanas e na Patagônia. Embora estejamos acostumados, há uma diferença entre fenôme-
nos naturais e desastres naturais, e não podemos confundir!
Frio de Montanha
Também chamado de Clima de Altitude, este tipo de clima tem Acima de tudo, é importante entendermos que todo desastre
baixas temperaturas durante todo o ano. Em média, os termôme- natural é um fenômeno natural. Pois, fenômenos naturais são todos
tros registram 0º durante o ano, mas inverno, é esperada queda de os episódios da natureza. Logo, a chuva, a metamorfose de uma
temperatura para índices negativos. As chuvas nas regiões chegam borboleta, o nascimento de um bebê, o crescimento de uma planta,
a 1,5 mil milímetros anuais. entre outros, são fenômenos da natureza. Assim como os tornados,
os deslizamentos, as avalanches, e assim por diante.
Clima Polar
É o clima de temperaturas negativas mais extremas, com ter- Fenômenos naturais x artificiais
mômetros sempre abaixo de 0ºC, com média de 30ºC negativos e A diferença entre fenômenos naturais e artificias são bem sim-
que podem cair a 50ºC negativos no inverno. ples e fáceis de entender. A princípio, é bom reforçar que todo fe-
Além da amplitude térmica, a umidade do ar é elevada, mesmo nômeno é um evento que pode ser observado, descrito e explicado.
com baixa incidência de chuvas. Tem como característica também Em suma, um fenômeno artificial é todo aquele feito por ação do
a presença de neve cobrindo o solo durante todo o ano, com cerca homem. Para exemplificar, a luz elétrica, os carros, prédios, entre
de 100 milímetros registrados durante o ano. outros. Entretanto, há casos que ambos os fenômenos se misturam.
Ocorre em regiões como a costas eurasianas do Ártico, sendo Enquanto há estudiosos que dizem que o efeito estufa é 100%
o clima da Groenlândia, norte do Canadá, Alasca e na Antártida. natural, há outros que afirmam o contrário. Assim, dizem que os
gases causadores do aumento do efeito estufa são aqueles emitidos
pela atividade humana.

127
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Com isso, o nascimento de um novo ser é um fenômeno na- 3.Raios
tural, mas pode ser induzido artificialmente, por meio de procedi-
mentos cirúrgicos. Outro exemplo é o curso de um rio, que é um
fenômeno natural, contudo o homem pode construir barragens ou
mudar seu curso.
Podemos entender que, sendo o ser humano um fenômeno na-
tural, também sejam suas ações. Basicamente, é um mamífero que
se reproduz como os demais. Entretanto, o homem é o único ser
na superfície terrestre com capacidade e consciência permanente.
Assim, o homem é o único animal capaz de mudar a natureza. Por
outro lado, também é a maior ameaça ao planeta e à própria exis-
tência de sua espécie.

Exemplos de fenômenos da naturais:


Enquanto o homem persegue sua própria existência, a nature- Os raios fazem parte do conjunto dos fenômenos naturais sinis-
za segue proporcionando fenômenos maravilhosos e espetáculos tros. Essencialmente, é uma descarga de energia, que chega a atin-
sinistros. gir 125 milhões de volts, lançada na terra. Logo, é capaz de gerar
grandes estragos, como abrir valas no chão.
1.Vulcões
4. Terremotos

Os vulcões são estruturas geológicas através das quais substân-


cias do interior da terra são expelidas por meio de uma abertura.
Com isso, as fendas são abertas pela atividade vulcânica no interior Esses estão na faixa dos fenômenos naturais mais temidos pelo
da terra rompendo o bloqueio de rochas mais frágeis. Assim, expele homem, capazes de destruir cidades inteiras. Em suma, os terremo-
magma, cinzas e gazes no exterior. Aliás, um vulcão em erupção é tos são gerados por uma falha geológica, decorrente da movimen-
um dos fenômenos naturais mais fascinantes e também assustador. tação das placas tectônicas e da deformação das rochas. Além dos
tremores, o terremoto pode abrir fendas na terra.
2.Neve
5.Tsunami

Em primeiro lugar, o tsunami trata-se de um fenômeno natural,


A neve é um fenômeno natural capaz de formar paisagens ao originado por erupção vulcânica, terremoto ou outro evento natu-
mesmo tempo fascinantes e angustiantes. Basicamente, acontece ral, que provoca um movimento de água. Assim forma uma onda
quando a temperatura está mais de 20 graus abaixo de zero. Assim, que pode se movimentar por milhares de quilômetros. Eventual-
faz com que se formem cristais nas nuvens, que se juntam no per- mente, quando essa onda encontra com a costa, ela se transforma
curso até o solo e voltam a ficar congelados. de poucos metros para gigantes, que podem superar os 30 metros.

128
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
6. Pororocas 2.Flores congeladas

A pororoca é o fenômeno natural causado pelo encontro do


Rio com o mar, cuja principal característica é o estrondo do choque Já passou por sua cabeça que possa existir uma floricultura
entre as duas massas de água e a formação de ondas. de gelo? Por mais que pareça coisa de filme, essa imagem não são
plantas, ou qualquer ser vivo, e sim gelo. Basicamente, é um dos
Por mais que há milhares de exemplos de fenômenos naturais, fenômenos naturais raros que só ocorre em temperatura extrema-
há alguns tipos de que muitas vezes, passam completamente des- mente baixas. É quando, pequenas quantidades de gelo que flutu-
percebidos aos nossos olhos. Às vezes, não temos nem consciência am na agua na água congelam as gotas ao seu redor e criam uma
de sua existência. Podemos citar a aurora boreal e certos eclipses reação em cadeia.
como exemplos de que por mais que não os vemos, sabemos que
existem. Com isso, alguns desconhecidos que são raros, de beleza Nesse fenômeno, o gelo cresce ao redor de pequenos blocos
única e um tanto bizarros. em formatos imperfeitos, como se fossem espinhos congelados. A
parte sinistra disso tudo é que o grau de bactérias e pequenos or-
Lista de fenômenos bizarros: ganismos que vivem dentro das flores congeladas é bastante alto,
1.Bioluminescência nos mares até mesmo muito maior do que na água do oceano. Com isso, al-
guns estudiosos acreditam que as flores congeladas abrigam seus
próprios ecossistemas de modo temporário. Assim, favorece vida e
a sobrevivência desses pequenos organismos durante as tempera-
turas extremas.

3.Chaminés de neve

Não, não é uma balada para peixes, tampouco cenas de um


filme de ficção científica. Sobretudo, esse é um dos fenômenos
naturais gerado pelas algas daquela região. Por mais que seja um
episódio raro, ele pode ser visto próximos as praias, mais perto das
embarcações, em alto mar. Por outro lado, quando o número de
plânctons é extremamente grande, as lindas luzes azuis podem se
manifestar perto da costa.

Por mais que seja bonito, esse evento não é saudável para o
mar. Basicamente, o aumento do número de algas não é bom para
os peixes, pois os níveis de oxigênio são diminuídos. Por incrível que pareça, no território permanentemente conge-
lado da Antártida existem inúmeros vulcões que estão ativos. Con-
tudo, com o tempo extremamente gelado, somente alguns deles
entram em erupção. Assim, com o calor gerado nas profundezas e
no interior desses vulcões, os gases e o vapor criados são expelidos
constantemente.

Entretanto, quando os gases quentes encontram com o ar su-


per gelado da superfície, eles congelam e formam essas estranhas
construções chamadas de chaminés congeladas. Logo, elas se acu-
mulam com o passar dos anos e formam estruturas finas e pontia-
gudas, que sempre estão expelindo o vapor produzido na terra.

129
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
4.Arco-íris lunar Por mais estranho que pareça, esse arco-íris não precisa de
chuva. Basicamente, ele se manifesta em nuvens que se encontram
em altitude bastante elevada. Porque, frequentemente possuem
pequenos cristais de gelo dentro de si.

Assim, quando eles são atingidos pelos raios solares, em ângu-


los específicos, são capazes de originar o efeito da refração e criar
um arco-íris horizontal. O resultado é belíssimo e um tanto bizarro,
capaz de pintar cores nas nuvens nos mais irregulares formatos.

7.Dedo de gelo

Por mais que pareça bizarro, os arco-íris noturnos realmente


podem ocorrer. Embora, sejam bastante raros. Basicamente, esse
fenômeno natural ocorre quando partículas de água entram em
contato com o reflexo da luz solar projetado na superfície da Lua.
Logo, como não têm a mesma intensidade de um arco-íris comum,
eles são um pouco visíveis.

5 .Cilindros de neve
Esse raro fenômeno natural foi descoberto nos últimos anos. O
sinistro evento ocorre quando o gelo da superfície da água é tão in-
tenso que uma determinada quantidade começa a descer ao chão.
Assim, congela tudo o que encontra no caminho.

Basicamente, ocorre quando o gelo recém-formado intensifi-


ca com a quantidade de sal encontrado na água. Logo, origina um
dedo de gelo e sal capaz de congelar a água ao redor dele e crescer
em direção ao chão de forma muito resistente. Quando essa coluna
de gelo atinge o fundo, tudo o que está em seu entorno é congela-
do, criando uma espécie de rio de gelo.

Esses interessantes cilindros de neve são formados natural- A DINÂMICA DA HIDROSFERA: ÁGUA NO PLANETA.
mente quando pequenos flocos são levados pelo vento. Em suma, BACIAS HIDROGRÁFICAS, RIOS, LAGOS. ÁGUAS OCEÂ-
o material é colhido de modo irregular, dos mais variados formatos NICAS
e tamanhos. Entretanto sempre com um característico furo no cen-
tro. Recursos Hídricos
No Brasil, a maior parte da energia elétrica que chega às casas
Esses cilindros dependem da velocidade do vento para sua e às indústrias, vem das hidrelétricas.
formação. Por outro lado, o tipo da neve também é importante,
já que algumas são mais frágeis e outras espessas. Para completar,
o fenômeno natural é bastante raro, ocorrendo principalmente na
América do Norte e na Europa.

6.Arco-íris de fogo

Fotografia aérea de Itaipu - usina hidrelétrica binacional localizada


no Rio Paraná, na fronteira entre o Brasil e o Paraguai

Os rios também são agentes erosivos do relevo, moldando-o


ao seu bel prazer. Essas correntes líquidas, que resultam da concen-
tração de água em vales, podem se originar de várias fontes: fontes
subterrâneas (que se formam com a água das chuvas), transborda-
mento de lagos ou mesmo da fusão de neves e geleiras.

130
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Hidrografia brasileira Usina Hidrelétrica de Belo Monte
O Brasil é um dos países mais ricos do mundo no que se refere Estado: Pará | Rio: Xingú | Capacidade: 11.233 MW
aos complexos hidrográficos, contando com um dos mais comple-
xos do planeta. Aqui no país, encontramos rios de grande extensão,
largura e profundidade, que nascem, em sua maioria, em regiões
que são pouco elevadas, excluindo apenas o Rio Amazonas e alguns
afluentes que nascem na cordilheira dos Andes. De toda a água
doce que está na superfície do planeta, 8% encontra-se no Brasil e,
além disso, a maior bacia fluvial do mundo também encontra-se no
Brasil, e é a Amazônica.

Bacias hidrográficas
Chamamos de bacia hidrográfica uma área onde acontece a
drenagem da água das chuvas para um determinado curso de água
que, normalmente, é um rio. O terreno em declive faz com que as Usina Hidrelétrica São Luíz do Tapajós
águas acabem desaguando em um determinado rio, o que forma Estado: Pará | Rio: Tapajós | Capacidade: 8.381 MW
uma bacia hidrográfica. Segundo o IBGE, Instituto Brasileiro de Ge-
ografia e Estatística, existem nove bacias, que são a Bacia do Ama-
zonas, que é a maior do mundo e encontra-se, mais de sua metade,
no Brasil; Bacia do Nordeste; Bacia do Tocantins-Araguaia (maior
bacia hidrográfica totalmente situada em território brasileiro); Ba-
cia do Paraguai; Bacia do Paraná; Bacia do São Francisco; Bacia do
Sudeste-Sul; Bacia do Uruguai; e Bacia do Leste.

Usinas hidrelétricas do Brasil


As hidrelétricas no Brasil correspondem a 90% da energia elé-
trica produzida no país.
A instalação de barragens para a construção de usinas iniciou-
-se no Brasil a partir do final do século XIX, mas foi após a Segunda
Grande Guerra Mundial (1939-1945) que a adoção de hidrelétricas
passou a ser relevante na produção de energia brasileira.
Apesar de o Brasil representar o terceiro maior potencial hi- Usina Hidrelétrica de Tucuruí
dráulico do mundo (atrás apenas de Rússia e China), o país importa Estado: Pará | Rio: Tocantins | Capacidade: 8.370 MW
parte da energia hidrelétrica que consome. Isso ocorre em razão de
que a maior hidrelétrica das Américas e segunda maior do mundo,
a Usina de Itaipu, não é totalmente brasileira.
Por se localizar na divisa do Brasil com o Paraguai, 50% da pro-
dução da usina pertence ao país vizinho que, na incapacidade de
consumir esse montante, vende o excedente para o Brasil. O Brasil
também consome energia produzida pelas hidrelétricas argentinas
de Garabi e Yaceritá.
A produção de energia elétrica no Brasil é realizada através de
dois grandes sistemas estruturais integrados: o sistema Sul-Sudes-
te-Centro-Oeste e o sistema Norte-Nordeste, que correspondem,
respectivamente, por 70% e 25% da produção de energia hidrelé-
trica no Brasil.

Principais usinas hidrelétricas do Brasil


Usina Hidrelétrica de Santo Antônio
Usina Hidrelétrica de Itaipu Estado: Rondônia | Rio: Madeira | Capacidade: 3.300 MW
Estado: Paraná | Rio: Paraná | Capacidade: 14.000 MW

131
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Usina Hidrelétrica de Ilha Solteira Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso
Estado: São Paulo | Rio: Paraná | Capacidade: 3.444 MW Estado: Bahia | Rio: São Francisco | Capacidade: 2.462 MW

Usina Hidrelétrica Jatobá


Estado: Pará | Rio: Tapajós | Capacidade: 2.338 MW

Usina Hidrelétrica de Jirau


Estado: Rondônia | Rio: Madeira | Capacidade: 3.300 MW

Hidrovias no Brasil
Os últimos anos têm sido realizadas várias obras, com o intuito
de tornar os rios brasileiros navegáveis.
Usina Hidrelétrica de Xingó Eclusas são construídas para superar as diferenças de nível das
Estados: Alagoas e Sergipe | Rio: São Francisco | Capacidade: águas nas barragens das usinas hidrelétricas.
3.162 MW Hoje, a navegação fluvial no Brasil está numa posição inferior
em relação aos outros sistemas de transportes. É o sistema de me-
nor participação no transporte de mercadoria no Brasil. Isto ocorre
devido a vários fatores. Muitos rios do Brasil são de planalto, por
exemplo, apresentando-se encachoeirados, portanto, dificultam a
navegação. É o caso dos rios Tietê, Paraná, Grande, São Francisco e
outros. Outro motivo são os rios de planície facilmente navegáveis
(Amazonas e Paraguai), os quais encontram-se afastados dos gran-
des centros econômicos do Brasil.

Nos últimos anos têm sido realizadas várias obras, com o intui-
to de tornar os rios brasileiros navegáveis. Eclusas são construídas
para superar as diferenças de nível das águas nas barragens das usi-
nas hidrelétricas. É o caso da eclusa de Barra Bonita no rio Tietê e
da eclusa de Jupiá no rio Paraná, já prontas.
Existe também um projeto de ligação da Bacia Amazônica à Ba-
cia do Paraná. É a hidrovia de Contorno, que permitirá a ligação da
região Norte do Brasil às regiões Centro-Oeste, Sudeste e Sul, caso
implantado. O seu significado econômico e social é de grande im-
portância, pois permitirá um transporte de baixo custo.
O Porto de Manaus, situado à margem esquerda do rio Negro,
é o porto fluvial de maior movimento do Brasil e com melhor in-
fra-estrutura. Outro porto fluvial relevante é o de Corumbá, no rio
Paraguai, por onde é escoado o minério de manganês extraído de
uma área próxima da cidade de Corumbá.

132
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Transporte Hidroviário Taguari-Guaíba
O Brasil tem mais de 4 mil quilômetros de costa atlântica na- Com 686 quilômetros de extensão, no Rio Grande do Sul, esta
vegável e milhares de quilômetros de rios. Apesar de boa parte dos é a principal hidrovia brasileira em termos de carga transportada. É
rios navegáveis estarem na Amazônia, o transporte nessa região operada por uma frota de 72 embarcações, que podem movimen-
não tem grande importância econômica, por não haver nessa parte tar um total de 130 mil toneladas. Os principais produtos trans-
do País mercados produtores e consumidores de peso. portados na hidrovia são grãos e óleos. Uma de suas importantes
Os trechos hidroviários mais importantes, do ponto de vista características é ser bem servida de terminais intermodais, o que fa-
econômico, encontram-se no Sudeste e no Sul do País. O pleno cilita o transbordo das cargas. No que diz respeito ao tráfego, outras
aproveitamento de outras vias navegáveis dependem da constru- hidrovias possuem mais importância local, principalmente no trans-
ção de eclusas, pequenas obras de dragagem e, principalmente, de porte de passageiros e no abastecimento de localidades ribeirinhas.
portos que possibilitem a integração intermodal. Entre as principais
hidrovias brasileiras, destacam-se duas: Hidrovia Tietê-Paraná e a Aquíferos no Brasil
Hidrovia Taguari -Guaíba. Aquífero é uma formação geológica subterrânea que funciona
como reservatório de água. É formado por rochas porosas e per-
Principais hidrovias meáveis que retém a água da chuva, mas também permite sua
movimentação. Quando a água passa pelos poros das rochas ocor-
Hidrovia Araguaia-Tocantins re um processo natural de filtragem tornando os aquíferos fontes
A Bacia do Tocantins é a maior bacia localizada inteiramente no importantíssimas de água doce potável que serve como proveitosa
Brasil. Durante as cheias, seu principal rio, o Tocantins, é navegável fonte de abastecimento, fornecendo água para poços e nascentes
numa extensão de 1.900 km, entre as cidades de Belém, no Pará, e em proporções suficientes.
Peixes, em Goiás, e seu potencial hidrelétrico é parcialmente apro- Existem várias formas de classificar os aquíferos, as mais co-
veitado na Usina de Tucuruí, no Pará. O Araguaia cruza o Estado de muns são de acordo com o armazenamento da água e tipo de rocha
Tocantins de norte a sul e é navegável num trecho de 1.100 km. A armazenadora.
construção da Hidrovia Araguaia-Tocantins visa criar um corredor
de transporte intermodal na região Norte. Quanto ao armazenamento:
• Livres: possuem uma base impermeável e a superfície li-
Hidrovia São Francisco vre.
Entre a Serra da Canastra, onde nasce, em Minas Gerais, e sua
foz, na divisa de Sergipe e Alagoas, o “Velho Chico”, como é conhe-
cido o maior rio situado inteiramente em território brasileiro, é o
grande fornecedor de água da região semi-árida do Nordeste. Seu
principal trecho navegável situa-se entre as cidades de Pirapora, em
Minas Gerais, e Juazeiro, na Bahia, num trecho de 1.300 quilôme-
tros. Nele estão instaladas as usinas hidrelétricas de Paulo Afonso
e Sobradinho, na Bahia; Moxotó, em Alagoas; e Três Marias, em
Minas Gerais. Os principais projetos em execução ao longo do rio
visam melhorar a navegabilidade e permitir a navegação noturna.

Hidrovia da Madeira
O rio Madeira é um dos principais afluentes da margem direita
do Amazonas. A hidrovia, com as novas obras realizadas para permi- • Confinados: além da base impermeável, possui uma ca-
tir a navegação noturna, está em operação desde abril de 1997. As mada impermeável acima do aquífero.
obras ainda em andamento visam baratear o escoamento de grãos
no Norte e no Centro-oeste. De acordo com o tipo de rocha os aquíferos podem ser:
• Porosos: estão associados com rochas sedimentares e so-
Hidrovia Tietê-Paraná los arenosos (Representam o grupo de aquíferos mais importantes,
Esta via possui enorme importância econômica por permitir devido ao grande volume de água que armazenam e também por
o transporte de grãos e outras mercadorias de três estados: Mato serem encontrados em muitas áreas).
Grosso do Sul, Paraná e São Paulo. Ela possui 1.250 quilômetros • Fraturados: rochas ígneas e metamórficas que possuem
navegáveis, sendo 450 no rio Tietê, em São Paulo, e 800 no rio Para- fraturas abertas que acumulam água.
ná, na divisa de São Paulo com o Mato Grosso do Sul e na fronteira • Cársticos: formados em rochas carbonáticas. Podem atin-
do Paraná com o Paraguai e a Argentina. Para operacionalizar esses gir grandes dimensões, formando rios subterrâneos.
1.250 quilômetros, há necessidade de conclusão de eclusa na re-
presa de Jupiá para que os dois trechos se conectem. No Brasil, estima-se que existam 27 aquíferos, com destaque
para os dois maiores e mais importantes: o Guarani, situado no
Centro-sul e que se estende por outros países e o Alter do Chão,
localizado na região Norte. Apesar da importância desses aquíferos,
eles estão sendo afetados pela poluição humana, principalmente
pelas atividades industriais e agrícolas.

133
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO

EXERCÍCIOS

1. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Leia o trecho a seguir.


“Esquematicamente, uma rede é um sistema integrado de fluxos. A rede é constituída por pontos de acesso, arcos de transmissão e
nós ou polos de bifurcação. [...]
Numa rede, o valor dos lugares se define pelo grau de acesso que eles oferecem ao conjunto da rede.”
(TERRA, Lygia; ARAÚJO, Regina; GUIMARÃES, R. B. Conexões: estudos de geografia geral e do Brasil. 2ª ed. São Paulo: Moderna, 2010. p.
18 (Adaptação)).

É incorreto afirmar que as redes vigentes no espaço mundial contemporâneo


(A) consolidam espaços do mandar, onde se adensam as novas tecnologias da informação, em detrimento de espaços do fazer, que
são áreas populosas pobres e de economia tradicional.
(B) constituem suporte para o tráfego de mercadorias e de bens concretos, como cargas e passageiros, bem como para a transmissão
de dados e informações.
(C) distribuem-se em caráter homogêneo pela superfície do globo, haja vista a magnitude espacial hoje alcançada pelo meio técnico-
-científico-informacional.
(D) superam limitações físicas ao conectar pessoas e transmitir informações, a exemplo da movimentação diária de bilhões de dólares
nas bolsas de valores em todo o mundo.

2. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a figura a seguir, que representa o movimento da Terra em volta do Sol

IBGE. Atlas Geográfico Escolar. 6ª ed. Rio de Janeiro: IBGE, 2012. p. 10. Disponível em: <https://atlasescolar.ibge.gov.br/>. Acesso em: 18
jul. 2018 (Adaptação).

A órbita terrestre é elíptica, o que aproxima a Terra do Sol em determinados momentos e a afasta em outros, variação esta respon-
sável pela ocorrência das estações do ano.
Considerando essas informações, o que se afirma nesse trecho está
(A) correto, uma vez que é inverno quando a Terra se distancia do Sol e, consequentemente, verão quando dele se aproxima.
(B) incorreto, uma vez que a volta completa da Terra em torno do Sol, por se fazer em seis meses, é distinta do tempo de sucessão
das estações do ano.
(C) correto, uma vez que são quatro as posições da Terra ao se movimentar em volta do Sol, sendo cada posição correspondente a
uma das quatro estações do ano.
(D) incorreto, uma vez que as estações do ano decorrem, principalmente, da posição do eixo inclinado da Terra.

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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
3. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Considere que foi solicitado ao Corpo de Bombeiros Militar a busca de um jovem desa-
parecido após afogamento em um rio. Analise esta carta topográfica de trecho do rio onde ocorreu o referido afogamento.

O Corpo de Bombeiros Militar iniciou a busca pelo jovem desaparecido a partir do local do afogamento, estendendo-a à jusante, em
direção ao ponto
(A) X.
(B) Y.
(C) Z.
(D) W.

4. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise a tabela e os gráficos a seguir

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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, 6. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO COR-
2013. p. 12. PO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Nas últimas
Disponível em: <http://loja.ibge.gov.br/cartas-mapas-e-cartogra- décadas, a histórica desigualdade socioespacial vigente no interior
mas/atlas/atlas-do-censo-demografico-2010.html>. Acesso em: 7 das cidades brasileiras adquiriu características mais acentuadas.
set. 2018 (Adaptação). Essa desigualdade socioespacial não se explica
(A) pela disseminação de condomínios residenciais de luxo, en-
Considere: nos gráficos, as colunas apresentam, para cada claves no interior da malha urbana servidos de completa infra-
grande região brasileira, o número de população na seguinte sequ- estrutura de equipamentos urbanos coletivos.
ência temporal: 1991, 2000, 2010. (B) pela segregação espacial imposta por planos diretores mu-
Com base nessas informações, é correto afirmar que, entre nicipais que destinam espaços de topografia acidentada e de
1991 e 2010, mais elevada declividade às favelas e loteamentos clandestinos
(A) concentrou-se o maior quantitativo de habitantes no cam- e irregulares.
po na região brasileira cujo traço característico de sua econo- (C) pelo isolamento de trechos do tecido urbano mediante ins-
mia é o agronegócio, com destaque para a soja. talação de muros altos, portões e guaritas de vigilância priva-
(B) houve transferência de população dos centros urbanos da, com acesso exclusivo aos moradores e funcionários.
para o meio rural, fenômeno este denominado migração pen- (D) pelo recrudescimento da diferença entre os padrões de
dular pelos demógrafos. moradia e de infraestrutura de bairros habitados por grupos
(C) registrou-se, seja no campo ou na cidade, a mesma taxa de discrepantes quanto a suas características socioeconômicas,
evolução do contingente populacional nas cinco grandes regi- notadamente o poder aquisitivo.
ões brasileiras.
(D) verificou-se o crescimento populacional dos espaços urba- 7. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO COR-
nos em todas as regiões do país, mantendo-se o maior número PO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o
de população naquela de economia mais dinâmica. mapa a seguir

5. (CBM/MG – BOMBEIRO – FUNDEP/2019) Analise o gráfico


a seguir

Disponível em: <https://www.thoughtco.com/seismic-hazard-map-


s-of-the-world-1441205>.
Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

No espaço sul americano retratado no mapa, a probabilidade


de ocorrência de terremotos nos próximos 50 anos não
(A) atesta o papel fundamental exercido pelos limites de placas
litosféricas, a exemplo daquele de colisão, na geração de terre-
motos na América do Sul.
IBGE. Atlas do Censo Demográfico 2010. Rio de Janeiro: IBGE, (B) confirma o notório caráter de estabilidade tectônica do ter-
2013. p. 18. Disponível em: <http://loja.ibge.gov. ritório brasileiro, uma vez que continuarão ausentes no país as
br/cartas-mapas-e-cartogramas/atlas/atlas-do-censodemografi- movimentações da crosta.
co-2010.html>. Acesso em: 13 out. 2018 (Adaptação). (C) propõe que a geração e distribuição espacial dos terremo-
tos será também explicada por dinâmica geológica vigente no
A evolução da população representada pela curva V é aquela interior de uma placa tectônica.
verificada no Continente (D) sugere que a sismicidade, no futuro próximo, estará con-
(A) Africano. dicionada à continuidade da subducção até então responsável
(B) Americano. pelo soerguimento da cadeia andina.
(C) Asiático.
(D) Europeu.

136
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
8. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise o gráfico
a seguir.

A distribuição atual da PEA no Brasil representada no gráfico está


(A) correta, uma vez que a elevada qualificação profissional exigida pelo Setor Terciário reduz sobremaneira o número de trabalha-
dores que nele ingressa.
(B) incorreta, uma vez que a proporcionalidade hoje registrada para os setores econômicos em que se ocupa a PEA no país é distinta
daquela expressa no gráfico.
(C) correta, uma vez que a maioria da PEA brasileira se concentra no Setor Primário, condição fundamental para a manutenção da
pauta de exportação dos produtos agropecuários.
(D) incorreta, uma vez que o setor da economia que concentra a atividade industrial nacional é aquele que absorve o maior contin-
gente da PEA no país.

9. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Leia o trecho a
seguir.
“A regionalização caracterizada pela divisão entre Primeiro, Segundo e Terceiro Mundo foi amplamente utilizada durante a Guerra
Fria, período em que prevaleceu a rivalidade entre duas superpotências. No começo da década de 1990, o termo Segundo Mundo tornou-
-se obsoleto, pois deixou de ser representativo. Nesse contexto, foram estabelecidas novas regionalizações com o objetivo de expressar
com maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo.” (BOLIGIAN, Levon; ALVES, Andressa. Geografia: espaço e vivência
(Ensino Médio). São Paulo: Atual Editora, 2007 (volume único). p. 410 (Adaptação)).
A regionalização que não expressa com “maior exatidão a organização do espaço mundial contemporâneo” é:
(A) Países capitalistas / países socialistas (regionalização fundamentada na realidade político econômica global).
(B) Países centrais / países periféricos (regionalização fundamentada no papel exercido no sistema capitalista).
(C) Países desenvolvidos / países subdesenvolvidos (regionalização fundamentada nas desigualdades socioeconômicas e nível de vida
da população).
(D) Países ricos / países pobres (regionalização fundamentada no desenvolvimento econômico e tecnológico).

10. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS DO CORPO DE BOMBEIROS – GESTÃO DE CONCURSOS/2018) Analise a figura
a seguir.

Disponível em: <https://br.pinterest.com>. Acesso em: 9 abr. 2018 (Adaptação).

137
GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
O espaço urbano representado na figura indica que 13. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
(A) a avenida principal tem seu trajeto orientado segundo os BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) A importância de se estudar a
paralelos do globo, de tal modo que ela recebe maior insolação atmosfera é muito grande, pelos efeitos que ela causa em nossas
nas primeiras horas do dia. vidas, sejam efeitos naturais ou causados pela atividade humana.
(B) a circulação atmosférica local é influenciada pela distribui- Essas mudanças no clima do Planeta e os transtornos, principal-
ção espacial e pela altura das construções, capazes de criar cor- mente da temperatura, promovem transformações no padrão do
redores de deslocamento mais intenso dos ventos. tempo. Com base na importância de estudar a atmosfera e as mu-
(C) a considerável extensão das superfícies impermeabilizadas danças no clima, pode‐se afirmar que essas transformações afetam:
aumenta a taxa de infiltração da água precipitada sobre a cida- I. O suprimento de alimentos.
de e garante a recarga dos aquíferos subterrâneos. II. O regime de precipitações.
(D) a marcante proximidade das edificações comprova se tra- III. O recebimento de radiação solar.
tar de tecido urbano cuja evolução espaço-temporal se fez se- IV. O aumento dos recursos naturais vitais.
gundo o processo de megalopolização. Estão corretas as alternativas
(A) I, II, III e IV.
11. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- (B) II e III, apenas.
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “A teoria da tectônica de placas é (C) I, II e IV, apenas.
recente, mas sua formulação baseia‐se em mais de 100 anos de es- (D) I, II e III, apenas.
peculações, pesquisas geológicas e debates. Com a formulação da
teoria da tectônica de placas surge uma nova explicação para um 14. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
dos mais antigos e controvertidos temas da geologia – o da deriva BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) “Várias características do am-
continental. A ideia de que os continentes não foram fixos durante biente em que se processa o intemperismo influem diretamente
toda a história da Terra e, sim, de que sofreram movimentos rela- nas reações de alteração, no que diz respeito à sua natureza, veloci-
tivos sobre a sua superfície só agora se torna mais compreensível e dade e intensidade. São os chamados fatores de controle do intem-
aceita com a explicação do ponto de vista da tectônica de placas.” ( perismo, basicamente representados pelo material parental, clima,
Popp, José Henrique. Geologia Geral. 6ª ed. Rio de Janeiro: LTC, topografia, biosfera e tempo.”
2010 p. 11.) (Teixeira, W & Toledo, M.C.M de & Fairchild, T. R e Taioli, F. Deci-
frando a Terra. São Paulo: Oficina de Textos, 2003 p. 150.)
Sobre a teoria da tectônica de placas, analise.
I. Procura demonstrar que a superfície semirrígida da crosta Dos fatores mencionados anteriormente, assinale o que, isola-
sofre movimentos sobre uma porção inferior, quente e fluida, de- damente, mais influencia no intemperismo.
nominada astenosfera. (A) Clima.
II. A superfície semirrígida da crosta sofre movimentos; com (B) Tempo.
isso, as rochas superficiais sofrem deformações, produzindo estru- (C) Biosfera.
turas características, conhecidas como produtos do tectonismo. (D) Topografia.
III. O fenômeno da tectônica de placas processa‐se em escala
global, mas se encontra evidenciado segundo direções preferen- 15. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM-
ciais ou regionais. BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Desde sua independência, o Pa-
Estão corretas as alternativas quistão convive em uma contínua instabilidade interna e intensos
(A) I, II e III. quadros de violência, levando geopolíticos a considerarem a área
(B) I e II, apenas. como um barril de pólvora. Diante do exposto, analise.
(C) I e III, apenas. I. A instabilidade interna é explicada pelas grandes diversida-
D) II e III, apenas. des etnoculturais.
II. A radicalização religiosa, aliada à crescente influência de
12. (CBM/MG - CURSO DE FORMAÇÃO DE OFICIAIS BOM- grupos extremistas, tem levado o país a uma espiral sem fim de
BEIRO MILITAR – IDECAN/2015) Sabendo‐se que em Tóquio, ci- violências.
dade localizada a aproximadamente 140° Leste do meridiano de III. O extremismo religioso se alimenta das enormes desigual-
referência, Greenwich, são 17 horas, horário oficial, e desprezando dades sociais e da proliferação da miséria.
quaisquer ajustes de fusos entre os países, bem como outras adap- IV. A renúncia do general Pervez Musharraf, que governava
tações, que horas (horário oficial) serão na cidade de Porto Alegre, o país desde 1999, e a instauração do governo civil, contribuíram
localizada a cerca de 51° a Oeste do meridiano de Greenwich? para uma estabilidade interna no país.
(A) 1 hora (hora legal).
(B) 3 horas (hora legal). Estão corretas as afirmativas
(C) 4 horas (hora legal). (A) I, II, III e IV.
(D) 5 horas (hora legal). (B) I, II e IV, apenas.
(C) I, II e III, apenas.
(D) I, III e IV, apenas

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GEOGRAFIA GERAL, BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
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GABARITO
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1 C
2 D ______________________________________________________

3 C ______________________________________________________
4 D ______________________________________________________
5 C
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6 B
7 B ______________________________________________________
8 B ______________________________________________________
9 A
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10 B
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11 A
12 D ______________________________________________________
13 D ______________________________________________________
14 A
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15 C
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ANOTAÇÕES
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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO

Capitanias Hereditárias
A SOCIEDADE COLONIAL: ECONOMIA, CULTURA, TRA- Para preservar a segurança da rota oriental, os portugueses or-
BALHO ESCRAVO, OS BANDEIRANTES E OS JESUÍTAS ganizaram a colonização do Brasil. A solução adorada por D. João III,
em 1532, foi o sistema de capitanias hereditárias, que já havia sido
BRASIL COLÔNIA utilizado na colonização do arquipélago da Madeira.
O litoral foi dividido em capitanias, concedidas, em geral, a ca-
Brasil: Primeiros Tempos valeiros da pequena nobreza que se destacaram na expansão para
a África e para a Índia. Em suas respectivas capitanias, os donatários
Entre 1500 e 1530, além de enviarem algumas expedições ficavam incumbidos de representar o rei no que se referia à defesa
de reconhecimento do litoral (guarda-costas), os portugueses es- militar do território, ao governo dos colonos, à aplicação da justiça
tabeleceram algumas feitorias no litoral do Brasil, onde adquiram e à arrecadação dos impostos, recebendo, em contrapartida, privi-
pau-brasil dos indígenas em troca de mercadorias como espelhos, légios particulares.
facas, tesouras e agulhas1. Os direitos e deveres dos donatários eram fixados na carta de
Tratava-se, portanto, de uma troca muito simples: o escambo, doação, complementada pelos forais. Em recompensa por arcar
isto é, troca direta de mercadorias, envolvendo portugueses e indí- com os custos da colonização, os donatários recebiam vasta exten-
genas. Os indígenas davam muito valor às mercadorias oferecidas são de terras para sua própria exploração, incluindo o direito de
pelos portugueses, a exemplo de tesouras ou facas, que eram rapi- transmitir os benefícios e o cargo a seus herdeiros.
damente aproveitadas em seus trabalhos. Além disso, eram autorizados a receber parte dos impostos de-
Mas, em termos de valor de mercado, o escambo era mais van- vidos ao rei, em especial 10% de todas as rendas arrecadadas na
tajoso para os portugueses, pois ofereciam mercadorias baratas, capitania e 5% dos lucros derivados da exploração do pau-brasil.
enquanto o pau-brasil alcançava excelente preço na Europa. Além Outra atribuição dos capitães era a distribuição de terras aos
disso, os indígenas faziam todo o trabalho de abater as árvores, ar- colonos que as pudessem cultivar, o que se fez por meio da conces-
rumar os troncos e carregá-los até as feitorias. Não por acaso, os são de sesmarias, cujos beneficiários ficavam obrigados a cultivar a
portugueses incluíam machados de ferro entre as ofertas, pois faci- terra em certo período ou a arrendá-la. No caso das terras conce-
litavam imensamente a derrubada das árvores. didas permanecerem incultas, a lei estabelecia que estas deveriam
A exploração do pau-brasil, madeira valiosa para o fabrico de ser confiscadas e retornar ao domínio da Coroa. Mas não foi raro,
tintura vermelha para tecidos, foi reservada corno monopólio ex- no Brasil, burlar-se essa exigência da lei, de modo que muitos co-
clusivo do rei, sendo, portanto, um produto sob regime de estanco. lonos se assenhoravam de vastas terras, mas só exploravam parte
Mas o rei arrendava esse privilégio a particulares, como o comer- delas.O regime de capitanias hereditárias inaugurou no Brasil um
ciante Fernando de Noronha, primeiro contratante desse negócio, sistema de tremenda confusão entre os interesses públicos e parti-
em 1501. culares, o que, aliás, era típico da monarquia portuguesa e de mui-
tas outras desse período.
Capitanias Hereditárias e o Governo Geral D. João III estabeleceu o sistema de capitanias hereditárias com
o objetivo específico de povoar e colonizar o Brasil. Com exceção de
No início do século XVI, cerca de 65% da renda do Estado por- São Vicente e Pernambuco, as demais capitanias não prosperaram.
tuguês provinha do comércio ultramarino. O monarca português Em 1548, o rei decidiu criar o Governo-geral, na Bahia, com vistas a
transformou-se em um autêntico empresário, agraciando nobres e centralizar a administração colonial.
mercadores com a concessão de monopólios de rotas comerciais e
de terras na Ásia, na África e na América. Governo Geral
Apesar da rentabilidade do pau-brasil, nas primeiras décadas Foi por meio das sesmarias que se iniciou a economia açuca-
do século XVI a importância do litoral brasileiro para Portugal era reira no Brasil, difundindo-se as lavouras de cana-de-açúcar e os
sobretudo estratégica. A frota da Índia, que concentrava os negó- engenhos. Embora tenha começado em São Vicente, ela logo se de-
cios portugueses, contava com escalas no Brasil para reparos de na- senvolveu em Pernambuco, capitania mais próspera no século XVI.
vios de reabastecimento de alimentos e água. A presença crescente As demais fracassaram ou mal foram povoadas. Várias delas
de navegadores franceses no litoral, também interessados no pau- não resistiram ao cerco indígena, como a do Espírito Santo. Na
-brasil, foi vista pela Coroa portuguesa como uma ameaça. Bahia, o donatário Francisco Pereira Coutinho foi devorado pelos
Na prática, disputavam o território com os portugueses, igno- tupinambás. Em Porto Seguro, o capitão Pero do Campo Tourinho
rando o Tratado de Tordesilhas (1494), pois julgavam um abuso acabou se indispondo com os colonos e enviado preso a Lisboa.
esse acordo, fosse ele reconhecido ou não pelo papa. Tornou-se A Coroa portuguesa percebeu as deficiências desse sistema
célebre a frase do rei francês Francisco I, dizendo desconhecer o ainda no século XVI e reincorporou diversas capitanias ao patrimô-
“testamento de Adão” que dividia o mundo entre os dois reinos nio real, como capitanias da Coroa. Constatou também que muitos
ibéricos. donatários não tinham recursos nem interesse para desbravar o ter-
ritório, atrair colonos e vencer a resistência indígena.
1 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Paulo. Saraiva.

141
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Assim, a partir da segunda metade do século XVI, a Coroa pre- Conflitos Internos
feriu criar capitanias reais, como a do Rio de Janeiro. Algumas delas
foram mantidas como particulares e hereditárias, como a de Per- A colônia francesa era carente de recursos e logo se viu ator-
nambuco. mentada pelos conflitos religiosos herdados da metrópole. Os
Porém, a maior inovação foi a criação do Governo-geral, em colonos chegavam a se matar por discussões sobre o valor dos
1548, com o objetivo de centralizar o governo da colônia, coorde- sacramentos e do culto aos santos, gerando revoltas e punições
nando o esforço de defesa, fosse contra os indígenas rebeldes, fosse exemplares.
contra os navegadores e piratas estrangeiros, sobretudo franceses, Do lado português, Mem de Sá, terceiro governador-geral des-
que acossavam vários pontos do litoral. A capitania escolhida para de 1557, foi incumbido de expulsar os franceses da baía da Guana-
sediar o governo foi a Bahia, transformada em capitania real. bara, região considerada estratégica para o controle do Atlântico
Tomé de Souza, primeiro governador do Brasil, chegou à Bahia Sul. Em 1560, as tropas de Mem de Sá tomaram o Forte Coligny,
em 1549 e montou o aparelho de governo com funcionários previs- mas a resistência francesa foi intensa, apoiada pela coalizão indíge-
tos no Regimento do Governo-geral: o capitão-mor, encarregado na chamada Confederação dos Tamoios.
da defesa militar, o ouvidor-mor, encarregado da justiça; o prove- As guerras pelo território prosseguiram até que Estácio de Sá,
dor-mor, encarregado das finanças; e o alcaide-mor, incumbido da sobrinho do governador, passou a comandar a guerra de conquista
administração de Salvador, capital do então chamado Estado do contra a aliança franco-tamoia. Aliou-se aos temiminós, liderados
Brasil. por Arariboia, inimigos mortais dos tamoios. A guerra luso-francesa
No mesmo ano, chegaram os primeiros jesuítas, iniciando-se na Guanabara foi também uma guerra entre temiminós e tamoios,
o processo de evangelização dos indígenas, sendo criado, ainda, o razão pela qual cada grupo escolheu alianças com os oponentes eu-
primeiro bispado da colônia, na Bahia, com a nomeação do bispo D. ropeus.
Pero Fernandes Sardinha. Em 12 de março de 1565, em meio a constantes combates, foi
A implantação do Governo-geral, a criação do bispado baiano e fundada a cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Seu governo
a chegada dos missionários jesuítas foram, assim, processos articu- foi confiado a Estácio de Sá, morto por uma flecha envenenada em
lados e simultâneos. Por outro lado, a Bahia passou a ser importan- 20 de janeiro de 1567, mesmo ano em que os portugueses expulsa-
te foco de povoamento, tornando-se, ao lado de Pernambuco, uma ram os franceses do Rio de Janeiro. Os tamoios, por sua vez, foram
das principais áreas açucareiras da América portuguesa. massacrados pelos temiminós, cujo chefe, Arariboia, foi presentea-
do com terras e títulos por seus serviços ao rei de Portugal.
Disputas Coloniais
França Equinocial
Nos primeiros trinta anos do século XVI, os grupos indígenas do Derrotados na Guanabara, os franceses tentaram ocupar outra
litoral não sofreram grande impacto com a presença dos europeus parte do Brasil, no início do século XVII. Desta vez o alvo foi a capita-
no litoral, limitados a buscar o pau-brasil. E certo que franceses e nia do Maranhão. Confiou-se a tarefa a Daniel de Ia Touche, senhor
portugueses introduziram elementos até então estranhos à cultura de La Ravardiére, que foi acompanhado de dois frades capuchinhos
dos tupis, como machados e facas, entre outros. Mas isso não alte- que se tornaram famosos: Claude d’Abbeville e Yves d’Evreux, auto-
rou substancialmente as identidades culturais nativas. res de crónicas importantes sobre o Maranhão.
A partir dos anos 1530, franceses e portugueses passaram a Em 1612, os franceses fundaram a França Equinocial e nela
disputar o território e tudo mudou. A implantação do Governo-ge- construíram o Forte de São Luís. Mas também ali houve disputas
ral português na Bahia, em 1549, não inibiu tais iniciativas. Mas foi internas e falta de recursos para manter a conquista. Os portugue-
na segunda metade do século XVI que ocorreu a mais importan- ses tiraram proveito dessa situação, liderados por Jerônimo de Al-
te iniciativa de ocupação francesa, do que resultou a fundação da buquerque. À frente de milhares de soldados, incluindo indígenas,
França Antártica, na baía da Guanabara. ele moveu campanha contra os franceses em 1613 e finalmente os
derrotou em 1615, tomando o Forte de São Luís.
França Antártica
Por volta de I1550, o cavaleiro francês Nicolau Durand de Ville- Os Jesuítas
gagnon concebeu o plano de estabelecer uma colônia francesa na
baía da Guanabara, com o objetivo de criar ali um refúgio para os A catequese dos indígenas foi um dos objetivos da coloniza-
huguenotes (como eram chamados os protestantes), além de dar ção portuguesa, embora menos importante do que os interesses
uma base estável para o comércio de pau-brasil. O lugar ainda não comerciais. No entanto, a crescente resistência indígena ao avanço
tinha sido povoado pelos portugueses. dos portugueses e a aliança que muitos grupos estabeleceram com
Vlllegagnon recebeu o apoio do huguenote Gaspard de Coligny, os franceses fizeram a Coroa perceber que, sem a “pacificação” dos
almirante que gozava de forte prestígio na corte francesa. A ideia nativos, o projeto colonizador estaria ameaçado.
de conquistar um pedaço do Brasil animou também o cardeal de Assim, em 1549, desembarcaram os primeiros jesuítas, lidera-
Lorena, um dos maiores defensores da Contrarreforma na França e dos por Manoel da Nóbrega, incumbidos de transformar os “gen-
conselheiro do rei Henrique II. tios” em cristãos. A Companhia de Jesus era a ordem religiosa com
O projeto de colonização francesa nasceu, portanto, marca- maior vocação para essa tarefa, pois seu grande objetivo era expan-
do por sérias contradições de uma França dilacerada por conflitos dir o catolicismo nas mais remotas partes do mundo. Desde o início,
políticos e religiosos. Uns desejavam associar a futura colônia ao os jesuítas perceberam que a tarefa seria dificílima, pois os padres
calvinismo, enquanto outros eram católicos convictos. Henrique II, tinham de lidar com povos desconhecidos e culturas diversas.
da França, apoiou a iniciativa e financiou duas naus armadas com
recursos para o estabelecimento dos colonos. Villegagnon aportou
na Guanabara em novembro de ISSS e fundou o Forte Coligny para
repelir qualquer retaliação portuguesa. O fator para o êxito inicial
foi o apoio recebido dos tamoios, sobretudo porque os franceses
não escravizavam os indígenas nem lhes tomavam as terras.

142
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A solução foi adaptar o catolicismo às tradições nativas, come- A Ação dos Bandeirantes
çando pelo aprendizado das línguas, procedimento que os jesuítas
também utilizaram na China, na Índia e no Japão. Com esse apren- Na América portuguesa, desde o século XVI os colonos foram
dizado, os padres chegaram a elaborar uma gramática que prepara- os maiores adversários dos jesuítas. Preferiam, sempre que pos-
va os missionários para a tarefa de evangelização. José de Anchieta sível, obter escravos indígenas, mais baratos do que os africanos.
compôs, por volta de 1555, uma gramática da língua tupi, que era a No entanto, eram os chamados mamelucos, geralmente filhos de
língua mais falada pelos indígenas do litoral. Por essa razão, o tupi portugueses com índias, os oponentes mais diretos dos nativos. Os
acabou designado como “língua geral “. mamelucos eram homens que dominavam muito bem a língua na-
tiva, chamada de “língua geral” , conheciam os segredos das matas,
As Missões sabiam como enfrentar os animais ferozes e, por isso, eram contra-
Havia a necessidade de definir onde e como realizar a cateque- tados para “caçar indígenas”.
se. De início, os padres iam às aldeias, onde se expunham a enor- Muitas vezes negociavam com os chefes das aldeias a troca de
mes perigos. Nessa tentativa, alguns até morreram devorados pelos prisioneiros por armas, cavalos e pólvora. Outras vezes capturavam
indígenas. escravos nas aldeias ou nos próprios aldeamentos dirigidos pelos
Em Outros casos, eles tinham de enfrentar os pajés, aos quais missionários. Esses mamelucos integravam as expedições chama-
chamavam feiticeiros, guardiões das crenças nativas. Para contor- das de bandeiras. Alguns historiadores diferenciam as bandeiras,
nar tais dificuldades, os jesuítas elaboraram um “plano de aldea- expedições de iniciativas particulares, das entradas, patrocinadas
mento”, em 1558, cujo primeiro passo era trazer os nativos de suas pela Coroa ou pelos governadores.
malocas para os aldeamentos da Companhia de Jesus dirigidos pe- Entretanto, os dois tipos de expedição se confundiam, seja nos
los padres. Os jesuítas entendiam que, para os indígenas deixarem objetivos, seja na composição de seus membros, embora o termo
de ser gentios e se transformarem em cristãos, era preciso deslo- entrada fosse mais utilizado nos casos de repressão de rebeliões e
cá-los no espaço: levá-los da aldeia tradicional para o aldeamento de exploração territorial. Desde o século XVI, o objetivo principal
colonial. das entradas e bandeiras era procurar riquezas no interior, chama-
Foi esse o procedimento que deu maiores resultados. Esta foi do na época de sertões, e escravizar indígenas.
urna alteração radical no método da catequese, com grande impac- Os participantes dessas expedições eram, em geral, chamados
to na cultura indígena. Os aldeamentos foram concebidos pelos je- de bandeirantes. Ao longo do século XVII, as expedições bandei-
suítas para substituir as aldeias tradicionais. Os padres realizaram o rantes alargaram os domínios portugueses na América, que ultra-
grande esforço de traduzir a doutrina cristã para a cultura indígena, passaram a linha divisória estabelecida pelo Tratado de Tordesilhas.
estabelecendo correspondências entre o catolicismo e as tradições No final do século XVII, os bandeirantes acabaram encontrando o
nativas. tão cobiçado ouro na região depois conhecida como Minas Gerais.
Foi assim, por exemplo, que o deus cristão passou a ser cha-
mado de Tupã (trovão, divinizado pelos indígenas). A doutrinação União Ibérica e Brasil Holandês
colheu melhores resultados com as crianças, já que ainda não co-
nheciam bem as tradições tupis. A encenação de peças teatrais para Em 1578, o jovem rei português D. Sebastião partiu à frente de
a exaltação da religião cristã - os autos jesuíticos - foi importante numeroso exército para enfrentar o xarife do Marrocos na famosa
instrumento pedagógico. Os autos mobilizavam as crianças como Batalha de Alcácer-Quibir. Perdeu a batalha e a vida. Como era sol-
atores ou membros do coro. teiro e não tinha filhos, a Coroa passou para seu tio-avô, o cardeal
Mas os indígenas resistiram muito à mudança de hábitos. Os D. Henrique, que morreu dois anos depois.
colonos, por sua vez, queriam-nos como escravos para trabalhar Felipe II, rei da Espanha, cuja mãe era tia-avó de D. Sebastião,
nas lavouras. Os jesuítas lutaram, desde cedo, contra a escravização reivindicou a Coroa e mandou invadir Portugal, sendo aclamado rei
dos indígenas pelos colonos portugueses, alegando que o funda- com o título de Felipe I. Portugal foi unido à Espanha sob o governo
mental era doutriná-los, e assim conseguiram do rei várias leis proi- da dinastia dos Habsburgos, iniciando-se a União Ibérica, que dura-
bindo o cativeiro indígena. ria 60 anos (1580-1640).
Durante esse período de dominação filipina, ocorreram modifi-
Sociedade Colonial X Jesuítas cações importantes na colônia. Em 1609, foi criado o Tribunal da Re-
No século XVI, os jesuítas perderam a luta contra os interesses lação da Bahia, o primeiro tribunal de justiça no Brasil. No mesmo
escravistas. No século XVII, porém, organizaram melhor as missões, ano, uma lei reafirmou a proibição do cativeiro indígena. Em 1621,
sobretudo no Maranhão e no Pará, e afastaram os aldeamentos dos houve a divisão do território em dois Estados: o Estado do Brasil e o
núcleos coloniais para dificultar a ação dos apresadores. Estado do Maranhão, este último mais tarde chamado de Estado do
Defenderam com mais vigor a “liberdade dos indígenas”, no Grão-Pará e Maranhão, subordinado diretamente a Lisboa.
que se destacou António Vieira, principal jesuíta português atuante Outra inovação foram as visitações da Inquisição, realizadas
no Brasil e autor de inúmeros sermões contra a cobiça dos senhores para averiguar a fé dos colonos, sobretudo a dos cristãos-novos,
coloniais. Embora condenassem a escravização indígena, os jesuítas descendentes de judeus e suspeitos de conservar as antigas cren-
sempre defenderam a escravidão africana, desde que os senhores ças em segredo.
tratassem os negros com brandura e cuidassem de prover sua Ins- Nesse período, da União Ibérica, as fronteiras estabelecidas
trução no cristianismo. pelo Tratado de Tordesilhas foram atenuadas, uma vez que Portugal
Assim os jesuítas conseguiram conciliar os objetivos missioná- passou a pertencer à Espanha. Por meio dos avanços dos bandei-
rios com os interesses mercantis da colonização. Expandiram seus rantes, os limites do Brasil se expandiram para oeste, norte e sul.
aldeamentos por todo o Brasil, desde o sul até a região amazônica. Mas com essa união Portugal acabou herdando vários inimigos dos
Na segunda metade do século XVIII, a Companhia de Jesus era uma espanhóis, dentre eles os holandeses. E não tardou muito para que
das mais poderosas e ricas instituições da América portuguesa. a atenção deles se voltasse para as prósperas capitanias açucareiras
do Brasil.

143
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Um Governo Holandês Tolerância Religiosa
Foi no chamado período nassoviano que os judeus portugue-
A investida dos holandeses contra o Brasil era previsível. Ams- ses residentes em Amsterdã (ali estabelecidos para escapar às per-
terdã tinha se tornado o centro comercial e financeiro da Europa seguições da Inquisição) foram autorizados a imigrar para Pernam-
e se preparava para atingir o Atlântico e o Indico. Antes da União buco. Um grupo estimado em, no mínimo, 1500 judeus fixou-se em
Ibérica, os portugueses haviam se associado aos holandeses no co- Pernambuco e na Paraíba entre 1637 e 1644.
mércio do açúcar. O Brasil produzia o açúcar, Portugal o comprava Fundaram uma sinagoga no Recife a primeira Sinagoga das
em regime de monopólio, vendendo-o à Holanda, que o revendia Américas - e fizeram campanha junto aos cristãos-novos da Colônia
na Europa. para que abandonassem o catolicismo, regressando à religião de
A Espanha, inimiga da Holanda, jamais permitiria a continuida- seus antepassados. Muitos atenderam a esse apelo; outros preferi-
de desse negócio. Em 1602, os holandeses fundaram a Companhia ram permanecer cristãos.
das Índias Orientais, que conquistaria diversos territórios hispano- Os judeus portugueses foram muito importantes para a domi-
-portugueses no oceano Índico. Em 1621, fundaram a Companhia nação holandesa no nordeste açucareiro, sobretudo na distribuição
das Índias Ocidentais para atuar no Atlântico, cuja missão principal de mercadorias importadas e de escravos. Também se destacaram
era conquistar o Brasil. Em 1624, os holandeses atacaram a Bahia, como corretores, intermediando negócios em troca de um percen-
sede do governo do Brasil. Conquistaram Salvador, mas não conse- tual sobre o valor das transações. O fato de os judeus do Recife fa-
guiram derrotar a resistência baiana, sendo expulsos da cidade no larem português e holandês foi decisivo para que alcançassem esse
ano seguinte. importante papel na economia regional.
Em 1630, foi a vez de Pernambuco, a capitania mais rica na pro-
dução de açúcar. Os holandeses conquistaram Olinda e Recife sem Restauração Pernambucana
dificuldade, obrigando o governador a retirar sua milícia. Tomaram Em 1640, durante a ocupação de Pernambuco pelos holande-
Itamaracá, em 1632, o Rio Grande do Norte, em 1633, e a Paraíba, ses, Portugal conseguiu se livrar do domínio espanhol com a ascen-
no final de 1634. Mais tarde, eles ainda tomariam o Ceará e parte são ao trono de D. João IV, da dinastia de Bragança. O rei tentou ne-
do Maranhão, estabelecendo o controle sobre a maior parte do li- gociar com os holandeses a devolução dos territórios conquistados
toral nordestino. Na medida em que avançavam, muitos luso-brasi- no tempo em que Portugal estava submetido aos espanhóis, mas os
leiros desertavam ou passavam para o lado holandês. holandeses não cederam.
O mais célebre deles foi Domingos Fernandes Calabar, que Em 1644, após Nassau voltar à Holanda, os colonos do Brasil
atuou como guia dos holandeses, em 1632, pois conhecia bem os resolveram enfrentar os holandeses. Motivo: os preços do açúcar
caminhos de Pernambuco. Caiu prisioneiro dos portugueses, em vinham declinando desde 1643, e os senhores de engenho e os la-
1635, e foi condenado à morte - estrangulado e depois esquarte- vradores de cana estavam cada vez mais endividados com a Com-
jado, como exemplo de traidor. Muitos outros, porém, fizeram o panhia das Índias Ocidentais. Em 13 de junho de 1645, iniciou-se a
mesmo e saíram ilesos. chamada Insurreição Pernambucana.
As primeiras ações da Holanda foram violentas, incluindo sa- João Fernandes Vieira era o líder dos rebeldes e um dos maio-
que de igrejas e destruição das imagens de santos. Afinal, os holan- res devedores dos holandeses. André Vidal de Negreiros era o se-
deses eram calvinistas e repudiavam o catolicismo. gundo no comando dos rebeldes. Os indígenas potiguares, lidera-
Em 1635, com a conquista consolidada, os holandeses perce- dos por Felipe Camarão, e a milícia de negros forros, liderada por
beram que, sem o apoio da população local, a dominação seria invi- Henrique Dias, uniram esforços contra os holandeses. Essa aliança
ável. Assim, a primeira medida foi a de estabelecer a tolerância reli- produziu o mito de que a guerra contra o invasor holandês “uniu
giosa, admitindo-se os cultos católicos e a permanência dos padres, as três raças formadoras da nação brasileira”, sobretudo entre os
com a exceção dos jesuítas, que foram expulsos. historiadores do século XIX.
A segunda medida foi oferecer empréstimos aos senhores lo- No entanto, houve indígenas lutando nos dois lados. Entre os
cais ou leiloar os engenhos cujos donos tinham fugido. Em 1637, potiguares, por exemplo, Pedro Poti - primo de Filipe Carnarão - lu-
com a chegada do conde João Maurício de Nassau, nomeado pela tou do lado holandês. Entre os africanos, nunca houve tantas fugas
Companhia das Índias Ocidentais, inaugurou-se uma nova fase na em Pernambuco corno nesse período, o que encorpou a popula-
história da dominação holandesa. Ele chegou ao Recife e determi- ção dos quilombos de Palmares. Nessa ocasião, partindo do Rio
nou a realização de inúmeras obras, como a construção da Cidade de Janeiro, Salvador Correia de Sá reconquistou Angola, em 1648,
Maurícia, na outra banda do rio Capibaribe, onde foi erguido um rompendo o controle holandês sobre o tráfico africano. A economia
palácio e criado um jardim botânico. pernambucana sob domínio da Holanda viu-se em crescente dificul-
Patrocinou a vinda de artistas holandeses, que retrataram a dade para obter escravos.
paisagem e a vida colonial como nunca até então se havia feito no Em 1649, os rebeldes pernambucanos alcançaram vitória deci-
Brasil. Mas o governo de Nassau não deixou de ampliar as conquis- siva na segunda Batalha dos Guararapes. Em 1654, tornaram o Re-
tas territoriais da Companhia das Índias. Logo em 1637 ordenou a cife e expulsaram de vez os holandeses do Brasil. Em 1661, Portugal
captura da feitoria africana de São Jorge da Mina, no golfo de Benin, e Países Baixos assinaram um tratado de paz, em Haia, pelo qual os
e anexou o Sergipe. portugueses se comprometeram a pagar uma pesada indenização
Em 1638, lançou-se à conquista da Bahia, que resistiu nova- aos holandeses em dinheiro, açúcar, tabaco e sal.
mente com bravura e não caiu. Em 1641, tomou o Maranhão e, no
mesmo ano, invadiu a cidade de Luanda, em Angola. Os holandeses A Guerra de Palmares
passaram, então, a controlar o tráfico atlântico de escravos.
Durante o domínio holandês em Pernambuco, começaram a se
formar os quilombos de Palmares, núcleo da maior revolta de escra-
vos da história do Brasil. Palavra de origem banto - tronco linguístico
do idioma falado em Angola - kilombo significa acampamento ou
fortaleza.

144
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Foi o termo que os portugueses utilizaram para designar as Uma onda impressionante de aventureiros do Brasil e de Por-
comunidades de africanos fugidos da escravidão. O incremento do tugal se dirigiu para o lugar em busca do metal precioso que, de tão
tráfico africano para a região, a partir da conquista holandesa de abundante, parecia inesgotável. Os bandeirantes paulistas estavam
Angola, em 1641, foi o principal fator para o aumento das fugas e acostumados, desde o século XVI, a armar expedições ao interior
o crescimento quilombos. Localizado na serra da Barriga, no estado do território para escravizar indígenas, e foram eles os responsáveis
de Alagoas (na época pertencia a Pernambuco), Palmares cresceu pela descoberta do ouro. Os paulistas solicitaram o monopólio das
muito na segunda metade do século XVII. Estima-se que chegou a explorações, não sendo atendidos. Não puderam controlar a entra-
possuir dez fortes ou mocambos, com cerca de 20 mil quilombolas. da dos emboabas (estrangeiros), como eram denominados pelos
Eles viviam da caça, coleta e agricultura de milho e feijão, realizada paulistas os portugueses vindos do reino e os que chegavam de ou-
em roçados familiares utilizando um sistema de trabalho coopera- tras capitanias.
tivo. Em 1707, estourou a chamada Guerra dos Emboabas, que du-
Os excedentes agrícolas eram vendidos nas vilas próximas. Fre- rou até 1709, com a derrota dos paulistas. Para melhorar a arreca-
quentemente atacavam os engenhos e roubavam escravos, em es- dação dos impostos e submeter a população, em 1709 foi criada a
pecial mulheres. Por vezes, assaltavam aldeias indígenas em busca capitania de São Paulo e Minas do Ouro separada da capitania do
de mulheres e alimentos. Alguns historiadores viram em Palmares Rio de Janeiro. Surgiram vilas e outros núcleos urbanos para rece-
um autêntico Estado africano recriado no Brasil para combater a ber a burocracia administrativa e o aparelho fiscal.
sociedade escravista dominante. Mas há exagero nessa ideia, em- Apesar de vencidos e, num primeiro momento, expulsos das
bora seja inegável a organização política dos quilombos, inspirada áreas de conflito (vales do rio das Velhas e do rio das Mortes), o
no modelo das fortalezas africanas. Exatamente por serem naturais fato era que somente os paulistas tinham experiência em encontrar
de sociedades africanas em que a escravidão era generalizada, os jazidas de ouro.
principais dirigentes do quilombo possuíam escravos, reeditando a Foram formalmente perdoados pelo governador da nova capi-
escravidão praticada na África. tania, o Conde de Assumar, em 1717. Os dirigentes metropolitanos
Os líderes de Palmares lutavam pela própria liberdade, mas não não só reconheciam sua competência nas explorações, mas tam-
pelo fim da escravidão. De todo modo, o crescimento de Palmares bém avaliavam que somente com eles não era possível organizar
levou as autoridades coloniais a multiplicar expedições repressivas. estabelecimentos fortes e duradouros. Logo que se esgotava uma
Todas fracassaram, repelidas por Ganga Zumba, grande chefe dos mina, saíam em busca de novos veios. Assim, os paulistas foram
quilombolas. Em 1678, o governador de Pernambuco propôs um obrigados a compartilhar a exploração do ouro com os emboabas.
acordo ao chefe dos palmarinos. Em troca da paz, Ganga Zumba ob- Mas mantiveram suas andanças exploratórias, descobrindo campos
teve a alforria para os negros de Palmares, a concessão de terras em auríferos ainda em Goiás e Mato Grosso.
Cucaú (norte de Alagoas) e a garantia de prosseguirem o comércio
com os vizinhos. Exploração das minas
Comprometeu-se, porém, a devolver todos os escravos que O governo tomou diversas e duras medidas para controlar a
dali em diante fugissem para o quilombo. região aurífera. Criou em 1702 a Intendência das Minas, órgão que
O acordo dividiu os quilombolas, e Ganga Zumba foi assassina- tinha entre suas funções zelar pela cobrança do quinto real, repri-
do pelo grupo que rejeitou os termos desse acordo, desconfiando mir o contrabando e repartir os lotes de terras minerais - denomi-
das intenções do governo colonial. Prosseguiu, assim, a guerra dos nados datas.
palmarinos, agora liderada por Zumbi. A resistência quilombola foi Quando da descoberta de algum veio aurífero, o descobridor
grande, mas acabou sucumbindo em 1695, derrotada pelas tropas deveria comunicar o fato às autoridades. Em tese, todas as jazidas
do bandeirante Domingos Jorge Velho. Em 20 de novembro de eram propriedade do rei, que poderia conceder a particulares o
1695, Zumbi foi degolado e sua cabeça, enviada como troféu para direito de explorá-las. O intendente, então, repartia as datas, sor-
Recife - o maior triunfo da sociedade escravista no Brasil colonial. teando-as aos solicitantes. O descobridor escolheria as duas datas
que mais lhe interessassem, livrando-se do sorteio. O Guarda-Mor
Economia Mineradora da In- tendência escolhia, em nome da Fazenda Real, a data do rei,
que era leiloada e arrematada por particulares, os contratadores,
O fim da União Ibérica em 1640 e a consequente ascensão ao em troca de um pagamento.
poder da dinastia de Bragança criaram mais problemas do que so- Só podiam solicitar datas os proprietários de escravos. Cada es-
luções para Portugal. Além de enfrentar uma longa guerra contra a cravo representava, em medidas da época, o equivalente a 5,5 me-
Espanha, que se prolongou, com enorme custo, até 1668, os portu- tros de terreno, e um proprietário poderia ter no máximo 66 metros
gueses foram obrigados a pagar indenizações à Holanda depois da em quadra, denominada data inteira. Para explorar as jazidas das
vitória na Insurreição Pernambucana, em 1654, sob o risco de suas datas, organizavam-se as lavras, forma de exploração em grande es-
colônias e navios serem atacados pela poderosa marinha flamenga. cala com aparelhamento para a lavagem do ouro.
A situação se agravou na segunda metade do século XVII. Ape- O ouro encontrado fora das datas, em locais franqueados a
sar da recuperação das capitanias açucareiras do Brasil, os portu- todos, era minerado pelos faiscadores, homens que utilizavam so-
gueses tiveram de conviver com a concorrência do açúcar produ- mente alguns instrumentos de fabricação simples, como a bateia e
zido nas Antilhas inglesas, francesas e holandesas. Os mercadores o cotumbê, trabalhando por conta própria.
holandeses, por exemplo, eram os maiores distribuidores do açúcar Foram criadas ainda as Casas de Fundição, vinculadas às Inten-
na Europa e, obviamente, priorizaram a mercadoria de suas ilhas dências. Elas deviam recolher, fundir e retirar o quinto da Coroa,
caribenhas depois de expulsos do Brasil. Na década de 1690, um transformando-o em barra, única forma autorizada para a circula-
fato espetacular mudou totalmente esse quadro de penúria: a des- ção do metal fora da capitania.
coberta de uma quantidade até então nunca vista de ouro de alu-
vião no interior do Brasil, numa região que passou a ser conhecida
como Minas Gerais.

145
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Desde o início, a mineração exigiu maior centralização adminis- Os ingleses garantiram a proteção da mudança da monarquia
trativa, o que diferenciava as Minas de outras regiões exportadoras para o Brasil. Nobres da Corte e familiares do príncipe recolheram
da Colônia. As Intendências, por exemplo, eram subordinadas dire- às pressas tudo o que podiam carregar - joias, obras de arte, milha-
tamente à metrópole, e não às autoridades coloniais. A descoberta res de livros, móveis, roupas, baixelas de prata, animais domésticos,
de diamantes, em 1729, no que então passou a chamar-se Distrito alimentos, etc. - e zarparam em 29 de novembro rumo ao Rio de
Diamantino, com sede no Arraial do Tejuco, provocou medida ainda Janeiro.
mais drástica: o ir e vir de pessoas ficou condicionado à autorização Além da família real e dos nobres, viajaram altos funcionários,
do intendente. magistrados, sacerdotes, militares de alta patente, etc. Estima-se
Na época da descoberta do ouro, havia dois caminhos que le- que nos 36 navios viajaram entre 4,5 mil e 15 mil pessoas. Parte
vavam às Gerais: um que partia de São Paulo (que ficou conhecido da esquadra, incluindo o navio ocupado por dom João, atracou em
como Caminho Velho das Gerais) e outro do porto de Parati; eles Salvador no dia 22 de janeiro de 1808, seguindo semanas depois
se encontravam na serra da Mantiqueira. Para ir do Rio de Janeiro para o Rio de Janeiro, onde já se encontrava o restante da frota, e lá
às Minas, o viajante tinha de ir de barco até Parati e, de lá, após chegando em 8 de março de 1808.
atravessar a serra do Mar, encontrar o caminho de São Paulo.
Era um caminho muito acidentado e, para percorrê-lo, demo- Sede do Governo Português
rava cerca de dois meses, viajando-se, como era o costume, até o
meio-dia. Foi determinada a construção de uma nova via, ligando Agora que boa parte da elite lusa encontrava-se em terras bra-
diretamente a cidade do Rio de Janeiro às Minas de Ouro, conheci-
sileiras, o desenvolvimento da colônia não poderia continuar cerce-
da como Caminho Novo das Gerais. Em todos os caminhos foram
ado. Como afirma a historiadora Maria Odila Silva Dias, pela primei-
estabelecidos registros, que funcionavam como postos de fiscaliza-
ra vez iria se configurar “nos trópicos portugueses preocupações
ção e de cobrança de taxas sobre os produtos vendidos na região.
de uma colônia de povoamento e não apenas de exploração ou de
Era tarefa dos agentes conferir se o ouro que era transportado para
o Rio de Janeiro havia sido tributado. Também os registros foram feitoria comercial”. Assim, seis dias depois de desembarcar em Sal-
objetos de contratos entre a Real Fazenda e particulares (contrata- vador, o príncipe regente dom João decretou a abertura dos portos
dores), que poderiam, por um certo tempo, explorar a arrecadação. brasileiros às nações amigas, ou seja, às nações com as quais Por-
O ouro do Brasil permitiu à Coroa portuguesa considerável au- tugal mantinha relações diplomáticas amigáveis.
mento de suas rendas. Sua exploração possibilitou ainda uma maior
ocupação do interior do Brasil, empurrando cada vez mais os limites O Governo de D. João no Brasil
da linha de Tordesilhas para o oeste. Incentivou, também, o sur- Dom João — cuja gestão é conhecida como governo joanino
gimento de atividades econômicas complementares à mineração, - adotou medidas que afetaram diretamente a vida econômica, po-
como a criação de mulas no Rio Grande do Sul, os únicos animais lítica, administrativa e cultural do Brasil. No plano administrativo,
capazes de transportar mercadorias nos íngremes caminhos das dom João procurou reproduzir na colônia a estrutura burocrática do
Minas. reino. Foram criados órgãos públicos, como o Conselho de Estado
O declínio da mineração foi tão rápido quanto o aumento de e o Erário Régio (que depois se tornou Ministério da Fazenda), que
sua produção. Em 1780, a renda obtida com a mineração era menos garantiam o funcionamento burocrático do Estado e proporciona-
da metade do que em seu apogeu, trinta anos antes. Esse declínio vam emprego para muitos portugueses.
se deve, basicamente, ao fato de a maior parte do ouro das Minas Ainda em 1808, foram criados o Banco do Brasil, o Real Hos-
ser de aluvião, facilmente encontrado e extraído e rapidamente es- pital Militar e o Jardim Botânico. Dom João autorizou também o
gotado. funcionamento de tipografias e a publicação de jornais. Com os li-
vros da Biblioteca Real trazidos de Lisboa foi organizada a Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro.
A INDEPENDÊNCIA E O NASCIMENTO DO ESTADO Para interligar a capital com as demais regiões da colônia e po-
BRASILEIRO voar o interior, o governo doou sesmarias e autorizou o Banco do
Brasil a oferecer créditos aos colonos para que pudessem plantar
e criar gado. Essa política de povoamento estimulou a imigração.
PERÍODO JOANINO E A INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Em 1815, um grupo de 45 colonos oriundo de Macau e Cantão, na
China, estabeleceu-se na cidade do Rio de Janeiro.
A Chegada da Família Real ao Brasil
Em 1818, cerca de dois mil suíços fundaram Nova Friburgo, na
província do Rio de Janeiro (as capitanias passaram a se chamar
Em 1806, Portugal foi afetado pelo Bloqueio Continental da
províncias a partir de 1815). Na política externa, o governo joanino
França contra a Inglaterra, que ocorreu graças à impossibilidade
das tropas de Napoleão de anexar a Inglaterra por meios militares. adotou uma linha de ação franca- mente expansionista, ocupando a
Caso não aderisse ao Bloqueio, as tropas de Napoleão invadiriam o Guiana Francesa, em 1809, e anexando a Banda Oriental (atual Uru-
território português. Entretanto, Portugal decidiu não seguir esse guai), em 1816. Em 1818, dois anos após a morte da rainha dona
caminho porque tinha fortes ligações comerciais com a Inglaterra2. Maria, o príncipe regente foi coroado rei com o título de dom João
Em novembro de 1807, dom João, príncipe regente de Portugal Vl.
desde 1799 - a rainha dona Maria, sua mãe, sofria de distúrbios
mentais -, diante da ameaça de invasão, decidiu transferir a família A Promoção à Reino Unido
real e a Corte lusa para a colônia na América, deixando os súditos
expostos ao ataque francês. Para gerar recursos para a administração, o governo joanino
teve de aumentar a carga tributária. O dinheiro dos impostos foi
utilizado para cobrir os gastos da Corte, custear as obras de urbani-
2 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Aze- zação do Rio de Janeiro e financiar intervenções militares. Essa si-
vedo, Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática. tuação, somada à carestia e ao aumento dos preços, gerou enorme

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
insatisfação da população, que começou a questionar os privilégios Eles enfrentaram uma forte oposição dos parlamentares lusos,
concedidos aos portugueses, detentores dos principais cargos buro- que já tinham adotado diversas medidas desfavoráveis ao Brasil
cráticos e dos mais altos postos da Academia Real Militar. com a intenção de reduzir o Brasil à sua antiga condição de colônia.
Começaram a ocorrer agitações de rua que culminavam em Para os parlamentares lusos, Brasil e Portugal deveriam se subme-
ações violentas da polícia principalmente (mas não exclusivamente) ter a uma mesma autoridade: as Cortes de Lisboa. Ao final de 1821,
no Rio de Janeiro. A situação em Portugal também era de descon- as Cortes ordenaram que Dom Pedro, príncipe regente do Brasil,
tentamento popular. Com a queda de Napoleão em 1815, os portu- retornasse a Portugal.
gueses passaram a exigir o retorno imediato de dom João a Portu-
gal. Ele, entretanto, assinou um decreto criando o Reino Unido de A Independência do Brasil
Portugal, Brasil e Algarves. Com isso, o Brasil deixava de ser colônia
e ganhava o mesmo status político de Portugal. Enquanto a determinação das Cortes de Lisboa não chegava,
E o Reino passava a ter dois centros políticos: Lisboa, em Por- dom Pedro era apoiado, no Brasil, por pessoas da elite político-e-
tugal, e Rio de Janeiro, no Brasil, onde dom João exercia o governo. conômica, com experiência administrativa, como José Bonifácio
Para muitos historiadores, a elevação do Brasil a Reino Unido foi o de Andrada e Silva (1763-1838). Na opinião de José Bonifácio e de
marco inicial do processo de emancipação política e administrativa outros políticos do período, o Brasil deveria manter-se unido a Por-
do Brasil. tugal, mas com um governo próprio e autônomo. Havia também
Revolução Pernambucana quem defendesse o rompimento completo com Portugal.
Ambas as correntes, contudo, concordavam que dom Pedro de-
Na província de Pernambuco, no início de 1817, o debate de veria resistir às pressões das Cortes de Lisboa e recursar-se a voltar
ideias emancipacionistas e republicanas deu origem a um movi- a Portugal. No final de 1821, José Bonifácio organizou um abaixo-
mento conspiratório, que ficou conhecido como Insurreição Per- -assinado subscrito por oito mil assinaturas, que foi entregue a Dom
nambucana ou Revolução de 1817. Pedro, no qual era pedido que o príncipe permanecesse no Brasil.
Em 9 de janeiro de 1822, o príncipe anunciou sua decisão de ficar
Inspirados na Revolução Francesa, os líderes redigiram o esbo- no Brasil. O episódio, conhecido como Dia do Fico, foi o primeiro
ço de uma Constituição que garantia a igualdade de direitos entre de uma série de atos que levariam à ruptura definitiva entre Brasil
os indivíduos, a liberdade de imprensa e a tolerância religiosa. No e Portugal.
entanto, o movimento enfraqueceu-se com as divergências entre Em maio de 1822, o príncipe regente determinou que todos
os proprietários de escravos e os rebeldes abolicionistas. Em maio, os decretos vindos das Cortes de Lisboa deveriam passar por sua
tropas enviadas da Bahia e do Rio de Janeiro cercaram o Recife. aprovação. Em junho, dom Pedro aprovou a convocação de uma
Alguns líderes foram executados e muitos outros, encarcera- dos Assembleia Constituinte no Brasil. No começo de setembro, des-
em Salvador. pachos vindos de Lisboa desautorizavam a convocação da Assem-
bleia Constituinte e ordenavam o imediato retorno de dom Pedro
Revolução do Porto a Portugal. José Bonifácio enviou os despachos ao príncipe, que se
encontrava em São Paulo, aconselhando-o a romper com Portugal,
Por volta de 1818, alguns monarquistas liberais da cidade do
pois já não considerava mais possível uma conciliação.
Porto defendiam a ideia de que o monarca deveria governar obe-
No dia 7 de setembro, o mensageiro alcançou dom Pedro nas
decendo a uma Constituição. Em agosto de 1820 uma guarnição do
proximidades do riacho do Ipiranga. Ao receber os decretos, o prín-
Exército do Porto se rebelou e deu início a uma revolução liberal e
cipe proclamou a independência do Brasil, declarando a ruptura
anti-absolutista conhecida como Revolução do Porto. Rapidamen-
dos laços com Portugal. No dia 12 de outubro, já de volta ao Rio de
te, o movimento se espalhou pelas demais cidades portuguesas.
Janeiro, foi aclamado com grande pompa imperador constitucional
Em Lisboa, uma junta provisória assumiu o poder e convocou
com o título de dom Pedro I.
as Cortes, que não se reuniam desde 1689, para elaborar uma Cons-
tituição. A junta exigia também o retorno da família real e da Corte
a Portugal e a restauração do monopólio comercial com o Brasil. Guerras de Independência
Proclamada a independência, teve início a luta por sua conso-
A volta da família real a Portugal lidação, que envolveria conflitos e derramamento de sangue em
Nesse período irromperam no Pará, na Bahia e em Pernambu- diversas regiões do novo país.
co várias revoltas apoiando o movimento constitucional de Portu- Em fevereiro de 1822, ainda antes da declaração de indepen-
gal. Em fevereiro de 1821, o rei dom João VI concordou em jurar dência, houve na Bahia um longo conflito armado entre as forças
fidelidade à Constituição que estava ainda para ser elaborada e em brasileiras que lutavam pela independência e queriam manter um
convocar eleições para a escolha dos deputados que iriam repre- brasileiro no cargo de governador - no lugar de um general portu-
sentar o Brasil nas Cortes de Lisboa. guês. A guerra entre as duas facções se prolongaria até 2 de julho
Temendo perder o trono, dom João VI anunciou também seu de 1823, com destaque para a figura de Maria Quitéria de Jesus
retorno a Portugal. No dia 26 de abril, a família real e mais quatro Medeiros, que se alistou ao lado das tropas brasileiras.
mil pessoas (nobres e funcionários) zarparam rumo a Portugal. Em No Maranhão, no Ceará, no Pará, na Província Cisplatina e no
seu lugar, o rei deixou o filho, dom Pedro, que assumiu o poder no Piauí houve revoltas de portugueses, que viviam nessas regiões,
Brasil como príncipe regente. contra a independência. Para derrotar os revoltosos, dom Pedro
recrutou mercenários estrangeiros. A vitória das tropas brasileiras
As Cortes de Lisboa nessas regiões, além da obtida na Bahia, impediu a fragmentação
Após o embarque de dom João VI, foram realizadas eleições do Brasil em diversas províncias autônomas e garantiu a unidade
para a escolha dos 71 representantes do Brasil nas Cortes de Lisboa. territorial da jovem nação.
Embora a maior parte dos eleitos fosse a favor da independência do
Brasil, apenas 56 viajaram para Lisboa, onde começaram a chegar
em agosto de 1821, oito meses depois do início dos trabalhos.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
capaz de manter o controle da população, ainda influenciada pelas
A ORGANIZAÇÃO DO ESTADO MONÁRQUICO. A VIDA ideias de Hidalgo e Morelos. Em oposição aos conservadores, os li-
INTELECTUAL, POLÍTICA E ARTÍSTICA DO SÉCULO XIX berais, em cuia base social se destacavam os comerciantes e grupos
ligados à mineração -, defendiam um Estado republicano, federati-
AMÉRICA INDEPENDENTE vo e laico (sem interferência da Igreja).
Após a independência, organizou-se um Congresso Consti-
Herança Colonial tuinte, que estabeleceu um governo monárquico. O general criollo
Agustín de Iturbide foi escolhido imperador pelo Congresso em
Os movimentos de independência na América espanhola re- 1822, mas seu governo durou somente dez meses, tendo sido de-
sultaram na fragmentação dos antigos vice-reinados e na formação posto pela sublevação de António Lopez de Santa Anna.
de diversas repúblicas. As tentativas de união das antigas colônias, Proclamada a República, elaborou-se uma Constituição inspi-
ainda que parciais, a exemplo do panamericanismo idealizado por rada no federalismo estadunidense, adotada em 1824. Os conser-
Simón Bolívar, fracassaram. A tarefa com que deparavam as elites vadores se mantiveram no poder até 1854, período dominado pelo
dirigentes das jovens repúblicas não era fácil3. general Antonio López de Santa Anna, que se dizia conservador ou
Era preciso honrar o ideário liberal que motivara as revoluções liberal, conforme as circunstâncias. Nesses trinta anos, a fragilida-
e remover muitas das heranças coloniais. Mas essas elites se apoia- de política mexicana era evidente, perceptível inclusive na guerra
vam em várias das antigas estruturas, como o regime latifundiário e contra os Estados Unidos (1846-1848), na qual o México acabou
o trabalho compulsório imposto a índios e mestiços. Dos movimen- perdendo boa parte de seu território, como o Texas e a Califórnia.
tos de independência surgiram elites muito diferentes entre si. Em Em 1854, os liberais assumiram o governo, acabando com mais
certos casos, predominavam grupos conservadores, que preten- de 30 anos de domínio conservador. Eles fizeram algumas mudan-
diam manter os antigos privilégios; em outros, políticos de orien- ças na estrutura do país: aboliram os direitos de os eclesiásticos e os
tação liberal, que propunham reformas profundas. As desavenças
militares cobrarem pelo uso da terra; por sua vez, as terras comuns
entre esses grupos, não raro, levaram a guerras civis, principalmen-
dos aldeamentos indígenas foram abolidas.
te durante a primeira metade do século XIX. O historiador argentino
Essa mudança, porém, não resultou em nenhuma melhoria
Tulio Halperin Donghi caracterizou as primeiras décadas pós-inde-
para os trabalhadores indígenas e mestiços. Os liberais pretendiam
pendência na América espanhola como um período de longa espe-
ra. Era um tempo de construção dos Estados Nacionais, processo transformar as terras coletivas indígenas em pequenas proprieda-
conturbado em todos os países recém-criados. des individuais - um projeto de reforma agrária. O período de pre-
domínio liberal é chamado de Reforma.
Decisão sobre Mudanças Uma nova Constituição foi aprovada em 1857 (durou até 1917).
No final da década de 1820, em todos os países independen- Entre os principais líderes da reforma estava Benito Juarez, mestiço
tes na América espanhola, prevaleciam dois grandes projetos: o dos de origem indígena que, na infância, trabalhou como peão de fazen-
conservadores e o dos liberais. Entre eles existia um objetivo em da e pastor de ovelhas. Estudou no seminário de Santa Cruz e, mais
comum: manter as hierarquias sociais, o que significava conservar o tarde, formou-se em Direito. Exerceu várias vezes a presidência,
poder político da elite criolla sobre os camponeses e os trabalhado- entre 1858 e 1872. Os historiadores consideram o caso mexicano
res indígenas, mestiços e negros. como um exemplo típico de reforma liberal na América Latina du-
O projeto dos conservadores se baseava na defesa da Igreja rante o século XIX.
e na força do Exército - mantendo as isenções fiscais desfrutadas
pelos eclesiásticos -, além da obrigatoriedade do ensino religioso Guerra Civil Mexicana
como meio fundamental de formar cidadãos. Os conservadores
acreditavam que uma Igreja enfraquecida traria o caos e a anar- A oposição dos conservadores às reformas liberais levou o país
quia às sociedades que então se organizavam, sobretudo porque as a uma guerra civil. Em 1859, os bens da Igreja foram nacionaliza-
camadas mais humildes da sociedade, compostas em sua maioria dos, e as ordens religiosas, extintas. A reação conservadora chegou
de indígenas e mestiços, tinham se mobilizado nas lutas de inde- a restabelecer a monarquia, em 1864, com o apoio de Napoleão III,
pendência. da França. O trono foi assumido pelo arquiduque austríaco Maximi-
Os conservadores do México, por exemplo, costumavam cha- liano de Habsburgo, primo do imperador francês.
mar as classes populares de “classes perigosas”. Já os liberais, sob
a influência do Iluminismo e dos ideais da Revolução Francesa, Longe de atenuar a crise, um imperador estrangeiro acirrou
tinham por objetivo a laicização do Estado - separar o Estado da as disputas. A corrente liberal, contando com o apoio popular,
Igreja - e a defesa do ensino laico. Eles defendiam ainda um regime
derrotou os conservadores; Maximiliano I foi fuzilado em 1867,
republicano federalista, descentralizado, embora nem todos os libe-
por ordem de Benito Juarez, então na presidência da República.
rais fossem contrários a uma monarquia constitucional.
Consolidava-se um Estado republicano e federativo, com a Igreja
Em dois países, México e Colômbia, o embate entre conserva-
perdendo seu poder. Os Estados Unidos não puderam evitar a in-
dores e liberais teve na Igreja o pomo da discórdia. Mas os resulta-
dos da disputa foram muito diferentes. No México, a Igreja perdeu; terferência europeia - com base na doutrina Monroe -, por estarem
na Colômbia, venceu. envolvidos na sua própria guerra civil.

México Uma Reforma Agrária contra os Camponeses


No México, a Igreja reunia grande poder - concentrava meta- A reforma agrária liberal, que buscava criar um sistema de pe-
de dos padres de toda a América espanhola. Com o Exército e os quenas unidades produtoras, foi um fracasso. Camponeses e indí-
grandes proprietários rurais, o clero integrava o grupo conservador, genas não conseguiram comprar as terras, que, assim, foram parar
defendendo como forma de governo uma monarquia forte e coesa, nas mãos dos grandes proprietários. Com isso, muitos tiveram de
vender sua força de trabalho para os grandes latifundiários (hacen-
3 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
dados), formando uma espécie de proletariado rural.
Paulo. Saraiva.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A situação do Estado também era difícil, com a aquisição de Em 1854, ocorreu uma tentativa de golpe militar, estimulada
empréstimos no exterior, principalmente junto aos Estados Uni- por grupos contrários às reformas. Na década de 1870, o governo
dos. Nessa conjuntura, crescia a insatisfação popular, com levantes liberal perdeu força. Despontavam os grupos ligados ao café, que
camponeses, sublevações urbanas e o crescimento do número de elegeram como presidente Rafael Núñez, ex-liberal que pretendia
desocupados. Esse clima conturbado marcou os 50 anos que se se- “regenerar” a Colômbia.
guiram à independência do México. Em seu terceiro mandato, a Constituição conservadora de 1886
foi jurada, restituindo à Igreja católica suas propriedades e a direção
Colômbia: Uma República Conservadora da educação. Até os dias de hoje, a influência da Igreja católica é
fortíssima na Colômbia.
A Gran Colombia tornou-se independente em 1819, sob a lide- Argentina e o Caudilhismo
rança de Simón Bolívar. Tinha, então, um território semelhante ao
antigo vice-reinado de Nova Granada. Bolívar queria fazer do país O antigo Vice-reinado do rio da Prata era composto de regiões
o berço de um Estado unificado na América do Sul de língua espa- que hoje englobam Argentina, Uruguai, Bolívia e Paraguai. A inde-
nhola. pendência formal ocorreu em 1816. Mas durante toda a primeira
Mas seu sonho pan-americanista não saiu do papel: Gran Co- metade do século XIX travaram-se intensas lutas internas, coman-
dadas pelos chamados caudilhos.
lombia se fragmentou e Equador e Venezuela acabaram por formar
No caso da Argentina, o processo de constituição de um Estado
repúblicas independentes. Apesar desse cenário, a Colômbia não
Nacional foi lento. Depois da independência, existiam no país três
passou por experiências ditatoriais ao longo do século XIX. Mas a
grandes áreas, com interesses diferentes, entre as quais ocorreram
instabilidade política esteve presente, por meio de rebeliões locais,
intensos conflitos. A primeira era a província de Buenos Aires, pecu-
guerras civis e dois conflitos contra o Equador por problemas de arista, vinculada à cidade de mesmo nome, capital federal e princi-
fronteira. pal porto exportador de toda a região.
Parte dos problemas estava relacionada à manutenção da es- A segunda se compunha de províncias do interior, também
cravidão de origem africana e à tributação indígena. As terras co- pecuaristas, como Santa Fé, Entre-Rios e Corrientes, situadas às
munais indígenas, denominadas resguardos, foram extintas. Havia margens do rio Paraná, cujos governantes pretendiam preservar o
terras livres para o assentamento da população rural, o que trazia caminho fluvial para chegar ao estuário do Prata. Por último, a área
dificuldade para os grandes proprietários em conseguir mão de dedicada à produção de alimentos: Córdoba, La Rioja e Tucumán,
obra. Para garantir o trabalho nas fazendas, os proprietários endi- no interior do país.
vidavam os camponeses, mediante o adiantamento de salários em
forma de gêneros vendidos no armazém da fazenda. Unitarismo ou Federalismo?
Mantinham os trabalhadores em dívida permanente, impedi- No plano político, o grande conflito ocorreu entre Buenos Aires
dos de deixar as terras. Muito usado nas haciendas coloniais, esse e diversas províncias do interior. Os comerciantes ligados ao comér-
método era conhecido como peonaje. cio externo de Buenos Aires, apostando num governo centralizado,
desejavam estender seu domínio sobre as demais províncias.
Avanços Liberais, Reação Conservadora Defendiam, ainda, o livre-comércio e a aproximação com a
A partir da década de 1840, as divergências políticas resultaram Grã-Bretanha. Desse grupo surgiu o Partido Unitário. Fazendeiros
na criação dos partidos Liberal e Conservador. O Partido Liberal era e pecuaristas (estancieiros) do interior se recusavam a seguir essas
formado por grupos urbanos ligados ao comércio e à produção ar- ideias. A maior parte dos caudilhos das províncias do interior não
tesanal. Propunha a abolição da escravidão, a liberdade de impren- apoiava o unitarismo: defendiam um regime federativo, capaz de
sa, o fim dos privilégios da Igreja católica, a diminuição do poder assegurar sua autonomia política.
Executivo e a abolição dos monopólios. A defesa de um regime federativo, em oposição aos comer-
Compunham o Partido Conservador os altos burocratas, os ciantes de Buenos Aires, deu origem ao Partido Federal. As rivali-
grandes proprietários rurais escravistas e os membros do Exército dades duraram décadas. Entre 1830 e 1852, não existia de fato um
e da Igreja católica. A principal questão entre os dois partidos dizia governo nacional. De um lado, estava a Confederação Argentina,
com ampla autonomia provincial. De outro, o governo de Buenos
respeito à Igreja.
Aires, cuia única função centralizadora dizia respeito às relações in-
Os liberais pretendiam retirar da instituição o monopólio do
ternacionais, atribuída ao governador da província portenha.
ensino e abolir os dízimos eclesiásticos, além de tornar propriedade
do Estado as terras da Igreja. Os proprietários rurais e as classes
Protagonismo de Buenos Aires
populares, extremamente católicos, opunham-se a essas propostas. Nesse período, destacou-se o caudilho Juan Manuel de Ro-
Até meados do século XIX, nenhum dos grupos exercia de fato a sas, grande estancieiro na região do Pampa, militar e governador
hegemonia política. Em 1849, com a eleição de José Hilário Lopez, da província de Buenos Aires. No seu longo governo, que se esten-
os liberais alcançaram o poder (mantido até 1885). Diversificaram deu de 1829 até 1852 (com breve interrupção entre 1832 e 1835),
a economia e as exportações, incentivando a expansão econômica. defendeu o federalismo e, ao mesmo tempo, reforçou o poder da
Aboliram a escravidão em 1851, libertando cerca de 26 mil escra- cidade de Buenos Aires, preparando-a para exercer a hegemonia
vos. Suprimiram os entraves ao comércio do tabaco e os impostos política sobre todo o país.
de importação. Estabeleceu diversos acordos com as províncias, sobretudo
Extinguiram o dízimo eclesiástico e expulsaram os jesuítas, que Corrientes e Entre-Rios. Combateu os índios do Pampa, ao sul,
haviam retornado ao país em 1844. Em 1853, o ensino religioso dei- numa autêntica campanha de extermínio, tarefa depois concluída
xou de ser obrigatório e foi suprimido o regime do padroado (no pelo general Roca, em 1879. Rosas pretendia fazer da Argentina a
qual cabia ao governo indicar os arcebispos e os bispos), separando principal potência na região platina. Contrariou, assim, os interes-
a Igreja do Estado, e instituído o casamento civil, bem como a le- ses brasileiros, discretamente apoiados pela Inglaterra.
galidade do divórcio. Como no México, nacionalizaram os bens da
Igreja.

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Auxiliou os rio-grandenses nos anos finais da Farroupilha A Constituição outorgada apresentava algumas poucas dife-
(1835-1845), chegando a oferecer recursos financeiros. No Uruguai, renças significativas em comparação com a elaborada pelo depu-
apoiou os políticos contrários ao Brasil. Finalmente, declarou guerra tado Antônio Carlos, principalmente em relação à divisão dos po-
ao Brasil, em 1851. Derrotado em Monte Caseros, em 1852, fugiu deres. Além do Legislativo, do Executivo e do Judiciário, a Carta de
para a Inglaterra, onde obteve asilo político. Em 1853, uma nova 1824 criava um quarto Poder: o Moderador, a ser exercido pelo
Constituição adotou o modelo federativo de governo. Mas o gover- imperador.
no de Buenos Aires rejeitou a Carta e afastou-se da Confederação Com o Moderador, dom Pedro podia dissolver a Câmara dos
Argentina. Deputados quando quisesse e convocar novas eleições; nomear se-
Embora os portenhos tenham sido derrotados militarmen- nadores; aprovar ou vetar as decisões da Câmara e do Senado, etc.
te em 1859, Buenos Aires se manteve administrativamente inde- Além disso, cabia ao imperador nomear e destituir os presidentes
pendente. A Argentina somente foi unificada em 1862. Até então de província, interferindo nos assuntos regionais.
prevaleceram os políticos com tendência a defender o federalismo,
mas que, na verdade, desejavam mesmo ver ampliado o seu poder A Confederação do Equador
pessoal e militar.
A confusão entre o interesse público e os interesses particu- Insatisfeitos com a dissolução da Constituinte e com o autori-
lares era total, em prejuízo das instituições e da construção de um tarismo do imperador, revoltosos de Recife se armaram novamente
Estado Nacional com base em uma Constituição. e, no dia 2 de julho de 1824, deram início a uma rebelião que logo
se alastrou para as províncias da Paraíba, do Rio Grande do Norte,
PRIMEIRO REINADO do Ceará e do Piauí.
Na capital revolucionária, os rebeldes proclamaram a Confede-
No dia 12 de outubro de 1822, dom Pedro - que naquela data ração do Equador, uma República Federativa semelhante a estadu-
completava 24 anos - foi proclamado imperador constitucional e nidense. A insurreição contou com a participação tanto de proprie-
defensor perpétuo do Brasil. Dom Pedro I herdou um governo sem tários de terras quanto de grupos das camadas populares urbanas e
recursos e extremamente endividado. Faltava dinheiro para aten- foi marcada por um forte sentimento antilusitano.
der às principais necessidades da população, principalmente no Em novembro de 1824, a resistência pernambucana foi sufo-
que dizia respeito à saúde e à educação. Segundo algumas estima- cada. O frade carmelita Joaquim do Amor Divino (1779-1825), mais
tivas, aproximadamente cinco milhões de pessoas viviam no Brasil. conhecido como frei Caneca - que havia lançado o jornal de oposi-
Desse total, 1,5 milhão de pessoas eram escravizadas. Mais de ção ao governo Typhis Pernambucano em 1823 - foi acusado de ser
90% da população habitava a zona rural, onde os grandes proprietá- o líder da rebelião e fuzilado no Recife, em janeiro de 1825. Outros
com acusações semelhantes também foram executados.
rios de terra exerciam “governos” informais. A mortalidade infantil
era muito alta. Da mesma maneira, o índice de analfabetismo girava
D. Pedro I Abdica
em torno de 85%. A cultura erudita, por sua vez, concentrava-se
nas grandes cidades, onde também circulavam jornais e revistas, a
As críticas ao imperador e ao governo não cessaram. Em diver-
maioria de vida curta e periodicidade incerta.
sas partes do Brasil motins contra os altos preços dos gêneros de
primeira necessidade se tornaram comuns. A guerra entre o Brasil e
A Constituinte
a Argentina pelo domínio da Província Cisplatina, iniciada em 1825,
também fortaleceu um movimento pró-emancipação da região Sul.
Antes da independência, em junho de 1822, dom Pedro tinha O conflito só terminou em 1828, quando os governos dos dois
aprovado a convocação de uma Assembleia Constituinte destinada países concordaram com a independência da Província Cisplatina
a elaborar a primeira Carta Magna do Brasil. A escolha dos consti- (antiga Banda Oriental, atual Uruguai). Para os brasileiros, o ânus
tuintes foi feita por meio de eleições após o Sete de Setembro, nas da guerra foi extremamente elevado - aumento da inflação, que já
quais votaram os proprietários do sexo masculino e maiores de 25 estava alta, e falência do Banco do Brasil. Essas consequências au-
anos. Mulheres, homens sem terras e escravos não podiam votar. mentaram ainda mais o descontentamento popular com o governo
Na sessão inaugural da Assembleia, em maio de 1823, dom de dom Pedro I.
Pedro I jurou defender a nova Constituição desde que ela mere- A impopularidade do imperador piorou quando ele se envolveu
cesse sua imperial aceitação. Com essa ressalva, o imperador dei- na crise de sucessão da Coroa portuguesa, iniciada com a morte de
xava claro que a palavra final a respeito das decisões aprovadas lhe dom João VI, em 1826. Dom Pedro se tornou o herdeiro legítimo do
pertencia, e não aos constituintes. Ou seja, era ele o detentor da trono de Portugal. Dom Pedro renunciou à Coroa portuguesa em
soberania, não o povo representado na Assembleia. favor de sua filha, a princesa Maria da Glória, de apenas 7 anos.
Em setembro de 1823, o deputado Antônio Carlos de Andrada Dom Miguel, irmão de dom Pedro, governaria Portugal como
e Silva, irmão de José Bonifácio, apresentou um projeto de Consti- príncipe regente até que a princesa chegasse à maioridade, quando
tuição elaborado por uma comissão de constituintes. Dois artigos se casaria com a sobrinha. Em 1828, entretanto, dom Miguel se au-
do projeto eram conflitantes com as intenções de dom Pedro I: um toproclamou rei absoluto de Portugal.
deles proibia que o imperador fosse governante de outro reino Preocupado em intervir nos acontecimentos de Portugal, dom
(dom Pedro era herdeiro do trono português); outro artigo impedia Pedro perdeu cada vez mais apoio na política interna do Brasil. Teve
o imperador de dissolver o Parlamento. início uma guerra civil contra seus aliados. Acusado de autoritário
no Brasil, dom Pedro era considerado liberal pelos portugueses. Em
A Constituição de 1824 1830, o imperador foi considerado o responsável pelo assassinato
Rejeitado pelo imperador, o projeto teve vida curta. Em no- do jornalista liberal Líbero Badaró, oposicionista.
vembro de 1823, dom Pedro decidiu dissolver a Assembleia e criou Em março de 1831, depois de uma viagem a Minas Gerais, os
um Conselho de Estado que elaborou outra Constituição. Em 25 de residentes portugueses do Rio de Janeiro acenderam fogueiras nas
março de 1824 o imperador outorgou aquela que seria a primeira ruas para homenagear dom Pedro, mas os brasileiros apagaram-
Carta Magna brasileira. -nas, gritando vivas à Constituição.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Na noite seguinte, 13 de março, brasileiros e portugueses en- Um dos passos mais importantes para a descentralização do
traram em choque nas ruas do Rio de Janeiro. O episódio, conhe- poder foi o Ato Adicional de 1834, criado pela Assembleia Geral.
cido como Noite das Garrafadas, marcou o início de uma série de Trata-se de uma reforma na Constituição pela qual foi extinto o
conflitos entre oposicionistas e partidários do imperador. Conselho de Estado - cujos membros haviam sido nomeados por
No dia 6 de abril, dom Pedro destituiu seu ministério composto dom Pedro I - e criadas as Assembleias Legislativas provinciais , que
apenas de brasileiros e o substituiu por outro, formado por defen- passaram a ter poder para elaborar leis e nomear funcionários pú-
sores do absolutismo. Em resposta, a população do Rio de Janeiro, blicos, conquistando assim maior autonomia em relação ao poder
com tropas do Exército, concentrou-se no Campo de Santana e exi- central. Esse ato adicional criou também a Regência Una, que subs-
giu a volta do ministério deposto. Enfraquecido e sem apoio militar, tituiria a Regência Trina Permanente, determinando a eleição do re-
o imperador abdicou do trono em favor do filho, o príncipe Pedro gente por meio do voto popular para um mandato de quatro anos.
de Alcântara, de apenas 5 anos.
Era o dia 7 de abril de 1831. Uma semana de pois, o ex-impera- A Regência Una
dor partiu rumo a Portugal. Deixava no Brasil dom Pedro de Alcân-
tara, sob a tutela de José Bonifácio de Andrada e Silva. No Brasil, Realizadas em abril de 1835, as eleições para Regente conta-
tal como previa a Constituição, ainda em abril de 1831 formou -se ram com uma pequena participação de cerca de 6 mil eleitores,
uma Regência Trina Provisória para governar o país. Pela primeira pouco mais de 0,1% da população, estimada em 5 milhões de pes-
vez, a elite nacional assumia plenamente o controle da nação. Por soas naquela época.
esse motivo, muitos historiadores entendem que o processo de in- O eleito foi o ex-ministro da Justiça, Padre Diogo Antônio Feijó.
dependência do Brasil só se encerrou em 1831, com a abdicação de Feijó assumiu a Regência Una em outubro de 1835, em meio a uma
crise de grandes proporções, com rebeliões em várias províncias.
dom Pedro.
A Cabanagem (1835-1840) no Pará e a Guerra dos Farrapos
(1835-1845) no Rio Grande do Sul foram duas delas. Em 1837, sem
Período Regencial
apoio dos parlamentares, Feijó renunciou à Regência e foi substi-
tuído pelo Ministro do Interior, Pedro de Araújo Lima, referendado
Estava previsto na Constituição de 1824 que, em caso de morte como Regente na eleição do ano seguinte.
ou abdicação do imperador, e seu herdeiro não pudesse assumir o Durante a regência de Araújo Lima, diversas medidas foram
trono devido à menoridade, o Governo seria entregue a uma jun- adotadas para devolver ao governo central o controle de todo o
ta de três regentes indicados pela Assembleia Geral (formada pela aparelho administrativo e judiciário. Uma dessas medidas foi a Lei
Câmara dos Deputados e pelo Senado), até que o jovem príncipe se de Interpretação do Ato Adicional, de 1840, que restringiu os po-
tornasse maior de idade, ao completar 18 anos. deres das Assembleias Provinciais. A ela se seguiram o restabeleci-
mento do Conselho de Estado e a reforma do Código do Processo
A Regência Trina Criminal, que limitou a autoridade dos juízes de paz e fortaleceu a
Assim, logo após a abdicação de dom Pedro I, em 7 de abril dos juízes municipais, subordinados ao poder Judiciário central. Tais
de 1831, formou-se uma Regência Trina Provisória que governou medidas - assim como o período em que foram tomadas - ficaram
até 17 de junho de 1831. Nessa data, a Assembleia Geral elegeu a conhecidas como Regresso.
Regência Trina Permanente, encarregada de governar o Brasil até a
maioridade do príncipe. A Maioridade de D. Pedro II
A Regência Trina preocupou-se em manter a paz interna. Foram
proibidos os ajuntamentos noturnos em locais públicos e suspensas No início de 1840, além das rebeliões que continuavam ocor-
algumas garantias constitucionais. As guardas municipais foram ex- rendo em várias províncias na capital do país, os embates entre re-
tintas e criou-se a Guarda Nacional, organização paramilitar cons- gressistas e progressistas se intensificavam. Os progressistas - que
tituída por milícias civis, encarregada de defender a Constituição e passaram a ser chamados de Partido Liberal - começaram a exigir a
garantir a ordem interna. antecipação da maioridade do Príncipe Pedro de Alcântara que, de
A criação da Guarda Nacional foi um dos primeiros atos que in- acordo com a Constituição, só poderia assumir o trono em 1844.
dicavam uma tendência à descentralização do poder. Outros even- Segundo os liberais, essa seria a única forma de fazer o país vol-
tos ajudaram a consolidar esse processo, por exemplo: tar à normalidade e garantir a unidade do império. Os regressistas
- a aprovação do novo Código de Processo Criminal em 1832 - reunidos agora no Partido Conservador - opunham-se à medida,
que atribuía mais poderes aos juízes de paz, agora com o papel de pois temiam ser afastados do poder com a antecipação da maiori-
dade. Para eles, a solução para a crise estava na maior concentração
polícia e de juiz local (podiam prender, julgar, convocar a Guarda
de poderes nas mãos do governo regencial. Depois de muitos de-
Nacional, etc.);
bates, no dia 23 de julho de 1840, a Câmara e o Senado aprovaram
- a extinção do Conselho de Estado e a criação das Assembleias
o projeto liberal, concedendo a maioridade a dom Pedro de Alcân-
Legislativas provinciais, que podiam elaborar as leis de interesse lo-
tara, então com 14 anos de idade, e declarando-o imperador do
cal e nomear funcionários públicos. A autonomia das Assembleias Brasil, com o título de dom Pedro II.
continuava limitada, pois suas decisões podiam ser vetadas pelos O episódio ficaria conhecido como Golpe da Maioridade. No
presidentes das províncias que, por sua vez, eram nomeados pelo dia seguinte, o soberano organizou seu ministério, composto de re-
imperador. presentantes do Partido Liberal. Era o início de um reinado que iria
se estender pelos 49 anos seguintes.
Vale lembrar que tanto os juízes de paz quanto os membros das
Assembleias Provinciais eram eleitos pela população, ou seja, por
indivíduos livres do sexo masculino que possuíam bens. Assim, as
pessoas escolhidas para os cargos representavam os interesses da
elite e dos grandes proprietários de terras e de escravos.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Revoltas do Período Regencial Revolta dos Malês
No começo do século XIX, negros e pardos livres e escravos re-
Guerra dos Cabanos presentavam 72% (segundo cálculos do historiador João José Reis)
Entre 1832 e 1835, ocorreu a Cabanada ou Guerra dos Caba- da população de Salvador, capital da Bahia, que tinha aproximada-
nos, guerra rural que ganhou esse nome porque a maioria de seus mente 65 500 habitantes.
participantes vivia em habitações rústicas (não confundir com a Ca- Vítimas constantes do preconceito racial e da opressão social,
banagem), em uma região entre o sul de Pernambuco e o norte de eles se tornaram a parte mais frágil da sociedade. Em 1835, muitos
Alagoas. deles se rebelaram em Salvador. Foi a Revolta dos Malês, cujo ob-
Participaram do levante indígenas aldeados, brancos e mesti- jetivo declarado era destruir a dominação branca na região e cons-
ços que residiam nas periferias dos engenhos, negros forros e cati- truir uma Bahia só de africanos.
vos fugidos, chamados de papa-méis, que residiam em quilombos. Fizeram parte do movimento principalmente os malês, nome
Alguns proprietários rurais também integraram o movimento. Os dado aos escravos seguidores do islamismo. Eles pertenciam a di-
cabanos lutavam pelo direito de permanecer em suas terras; prega- ferentes etnias - como a dos haussás, jejês e nagôs - e muitos eram
vam a alforria dos escravizados e o retorno de dom Pedro I ao Brasil. alfabetizados. Também participaram do movi mento nagôs seguido-
O governo regencial enviou tropas para combater os revoltosos res do candomblé.
na região. Nos combates, os rebeldes conseguiram diversas vitórias, A revolta começou no dia 24 de janeiro, quando cerca de 600
utilizando táticas de guerrilha: faziam ataques surpresa a fazendas e negros (segundo a historiadora Magali Gouveia Engel), armados
engenhos e se refugiavam rapidamente no interior das matas, que principalmente de espadas, ocuparam de surpresa o centro de Sal-
conheciam muito bem, onde os soldados governistas não conse- vador. Após intensos combates, os rebeldes foram derrotados pelas
guiam encontrá-los. forças policiais, que dispunham de armas de fogo.
Aos poucos, o movimento perdeu força, principalmente após Centenas de participantes da revolta morreram ou ficaram feri-
a morte de dom Pedro I, em 1834. Seus integrantes sofreram com dos. Após a rebelião, desencadeou-se violenta repressão contra os
epidemias e escassez de alimentos. No início de 1835, a maior parte africanos e afro-brasileiros. Muitos foram condenados ao açoite, à
dos cabanos havia morrido nos confrontos ou encontrava-se pre- prisão ou à deportação. Três escravos e um liberto foram condena-
sa. O principal líder dos rebeldes cabanos, o ex-soldado Vicente de dos à morte e fuzilados.
Paula, e um grupo de ex-escravos continuaram a luta.
Refugiaram-se nas matas do Jacuípe e por quinze anos perma- Guerra dos Farrapos
neceram atacando engenhos e libertando escravos no interior de Nas primeiras décadas do século XIX, estancieiros e charque-
Pernambuco e Alagoas. Em 1850, o líder foi preso em uma embos- adores contestavam os altos impostos aplicados sobre o gado,
cada e enviado para o presídio de Fernando de Noronha. a terra, o sal e principalmente o charque. Na política, sentiam-se
Cabanagem desprestigiados pelo governo regencial, pois, apesar de serem fre-
A província do Grão-Pará viveu, na primeira metade do sécu- quentemente convocados a lutar contra os castelhanos na defesa
lo XIX, grandes conturbações internas. Em 1822, houve um levante das fronteiras ao sul do Brasil, não recebiam postos de comando
contra a Independência que foi apaziguado apenas em 1823. Nos durante as batalhas.
anos seguintes, ocorreram disputas constantes pelo poder envol- Em 1834, o presidente da província nomeado pelo governo da
vendo as elites regionais contra o governo imperial. Regência, Antônio Rodrigues Fernandes Braga, criou impostos - in-
Em 1833, a Regência nomeou Bernardo Lobo de Souza para o clusive sobre as propriedades rurais - e começou a organizar uma
cargo, mas ele teve que enfrentar um clima hostil. Em novembro de força militar para fazer frente às milícias dos chefes locais.
1834, ele mandou prender diversos opositores e um deles, o pe- Em 19 de setembro de 1835, o estancieiro Bento Gonçalves,
queno proprietário rural Manuel Vinagre, foi assassinado pelas tro- comandante da Guarda Nacional gaúcha e ligado aos liberais (cha-
pas governamentais. A província, já instável, entrou em convulsão. mados farroupilhas), invadiu Porto Alegre, expulsou o presidente
Em janeiro de 1835, o irmão de Manuel, Francisco Pedro Vinagre, da província e deu posse ao vice-presidente, o liberal Marciano Pe-
liderou um grupo de sertanejos, negros e indígenas armados, em reira Ribeiro.
uma invasão a Belém, capital do Grão-Pará. Iniciava-se, assim, a mais longa revolta do período regencial, a
Os revoltosos mataram Lobo de Souza e seu comandante de Guerra dos Farrapos. Em setembro de 1836, os revoltosos procla-
armas e libertaram os presos políticos. Como grande parte dessas maram a República Rio-Grandense. Dois meses depois, os farrapos
pessoas era pobre e morava em cabanas, o movimento ficou co- ratificaram sua independência do restante do Brasil e escolheram
nhecido como Cabanagem e seus integrantes como cabanos (não Bento Gonçalves para presidente da República recém-criada.
confundir com os cabanos de Pernambuco e Alagoas). Em seguida, comandados por Davi Canabarro e pelo italiano
Em maio de 1836, o regente Diogo Feijó enviou a Belém uma Giuseppe Garibaldi, os farrapos conseguiram conquistar Laguna,
esquadra com o objetivo de retomar o poder local e reintegrar o em Santa Catarina, em julho de 1839. Ali, proclamaram a República
Pará ao Império. Os revoltosos retiraram-se da capital, mas con- Catarinense. No entanto, em novembro, tropas imperiais expulsa-
tinuaram controlando boa parte do interior por quase três anos. ram os revolucionários da região e teve início o declínio da Repúbli-
Somente em meados de 1840 foram dominados e a província foi ca Rio-Grandense.
reintegrada ao Império. Cerca de 30 mil pessoas morreram durante Em novembro de 1842, dom Pedro II nomeou o marechal Luís
o conflito. Alves de Lima e Silva para a presidência da província e para o co-
Para o historiador Caio Prado Júnior, a Cabanagem foi uma das mando das tropas imperiais no Rio Grande do Sul.
revoltas mais importantes de nossa história, pois foi a primeira em Lima e Silva, que ficaria conhecido como Duque de Caxias, ti-
que a população pobre conseguiu, de fato, ocupar o poder em uma nha por missão debelar a Revolução Farroupilha. Em 1845, ele con-
província. seguiu chegar a um acordo com os rebeldes e pôr fim ao conflito.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Interessado em atrair o apoio das elites gaúchas para o governo Um dos meios usados para esse controle se dava com o recru-
imperial, Caxias satisfez boa parte de suas reivindicações. Assim, o tamento compulsório, como o que ocorreu em 1838 para o Exérci-
charque estrangeiro foi tributado em 25%, os estancieiros envolvi- to, de alguns vaqueiros que trabalhavam para Raimundo Gomes,
dos na revolta foram anistiados e os oficiais republicanos reincorpo- um fazendeiro simpático à causa liberal, que, apoiado por alguns
rados ao Exército imperial. companheiros, invadiu a cadeia e libertou os vaqueiros recrutados
Também foi aprovada a alforria dos escravizados que participa- à força e mantidos na prisão.
ram da revolta, os prisioneiros de guerra foram soltos e os rebeldes Em janeiro de 1839, Raimundo Gomes conseguiu o apoio de
que se encontravam refugiados fora da província puderam voltar Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, pequeno agricultor e fabrican-
ao Rio Grande do Sul. Além disso, os rio-grandenses conquistaram te de cestos, cujo apelido de Balaio daria nome à revolta que abala-
o direito de indicar o presidente da província. O escolhido foi o pró- ria o Maranhão nos anos seguintes: a Balaiada. Raimundo Gomes,
prio Caxias. Manuel Ferreira e seus seguidores começaram a percorrer o inte-
rior do Maranhão, protestando não apenas contra o recrutamento
Sabinada compulsório, mas também contra a discriminação e a desigualdade
A população de Salvador ainda não havia esquecido a Revolta social reinantes na província.
dos Malês quando, no primeiro semestre de 1837, novas agitações Os liberais apoiaram os rebeldes, fornecendo-lhes armas e mu-
envolveram a cidade. O médico e jornalista Francisco Sabino criti- nições. Em 1839, eles dominaram Caxias, a segunda maior cidade
cava em seu jornal, Novo Diário da Bahia, o uso dos impostos para maranhense, e prosseguiram invadindo fazendas e libertando a
sustentar a Corte, condenava a tirania das autoridades e o domínio população escravizada. Em 1840, sob a liderança do cativo Cosme
da sociedade por uma pequena elite. Bento das Chagas, o Preto Cosme, mais de 3 mil escravizados tam-
Essa lista de insatisfações era reforçada pelos militares que re- bém se rebelaram.
clamavam da recém-criada Guarda Nacional - com funções que de- No início de 1840, Luís Alves de Lima e Silva, futuro Duque de
veriam ser do Exército - e protestavam contra a redução do efetivo Caxias, foi nomeado para a presidência da província e combateu os
militar, responsável pelo aumento do desemprego na categoria. revoltosos duramente: reconquistou a cidade de Caxias, obteve a
rendição de Raimundo Gomes logo depois de Balaio ter sido morto
Com o governo regressista de Pedro de Araújo Lima, que assu- em um dos confrontos e perseguiu os escravos liderados por Preto
miu a regência em setembro de 1837, temia-se que a autonomia Cosme.
das províncias fosse ainda mais reduzida. Em Salvador, o descon- Os combates se estenderam até 1842, quando o líder dos es-
tentamento contra o novo regente aumentou quando ele convocou cravizados foi capturado e enforcado. Saldo da revolta: cerca de 6
tropas baianas para lutar ao lado do governo, contra os farrapos, no mil mortos, entre cativos e sertanejos pobres.
Rio Grande do Sul.
No dia 7 de novembro de 1837, tropas do Forte de São Pedro se O Segundo Reinado
sublevaram. Os rebeldes constituíram um governo autônomo, pro-
clamaram a independência da Bahia, declararam nulas as ordens O período compreendido entre 1840 e 1889, no qual o Brasil
vindas do Rio de Janeiro e convocaram uma Assembleia Constituin- esteve sob o comando - altamente centralizado - do imperador dom
te. Os revoltosos também decretaram o fim da Guarda Nacional, Pedro II, é chamado de Segundo Reinado. Para manter a centrali-
elevaram os soldos dos militares e criaram batalhões de soldados zação, dom Pedro II utilizou as prerrogativas asseguradas ao Poder
para garantir a defesa do governo recém-instalado. Moderador - órgão que se sobrepunha ao Executivo, ao Legislativo
Para conquistar o apoio da elite baiana, os líderes do movimen- e ao Judiciário - sistematicamente.
to pregavam a manutenção da ordem, a preservação da proprieda- Assim, nomeou e demitiu ministros, dissolveu a Câmara dos
de privada e a permanência da escravidão. Mas essas garantias não Deputados repetidas vezes, convocou eleições, escolheu senado-
foram suficientes e, sem recursos, o movimento não sobreviveu por res, suspendeu magistrados, etc. Interessado em consolidar a or-
muito tempo. Com o auxílio de fazendeiros do Recôncavo Baiano e dem interna e manter a unidade territorial, durante seu governo,
de soldados vindos de Pernambuco, Sergipe e Rio de Janeiro, as tro- dom Pedro II construiu um sólido aparato administrativo, jurídico
pas governistas cercaram Salvador por terra e por mar e derrotaram e burocrático e debelou as revoltas provinciais, como a Guerra dos
os revoltosos em março de 1838. Farrapos (1835-1845) e a Balaiada (1838-1842), que ameaçavam a
Cerca de 2 mil pessoas morreram nos confrontos, a maioria ne- integridade territorial brasileira.
gros e pobres. Quase 3 mil foram presas e outras 1500 deportadas Ao longo dos 49 anos de seu governo, o imperador conseguiu
para o Sul e alistadas no Exército para enfrentar os farrapos. Os 780 conciliar as forças, oferecendo apoio intermitente ao Partido Liberal
rebeldes considerados mais perigosos foram trancafiados no porão e ao Partido Conservador. Embora as diferenças entre os dois parti-
de um navio-prisão. dos fossem pequenas ambos representavam setores diferentes dos
Dezoito deles, entre os quais Francisco Sabino, foram conde- grandes comerciantes e dos grandes proprietários de terra, sempre
nados à morte. Com a maioridade de dom Pedro, em 1840, todos que um gabinete liberal dava lugar a um conservador, e vice-versa,
os rebeldes foram anistiados. Mesmo perdoado, porém, Sabino foi toda a estrutura administrativa do Império era substituída.
enviado para Goiás para permanecer longe de Salvador. Fazendo largo uso do clientelismo, os novos integrantes do po-
der substituíam os presidentes de província, prefeitos, delegados,
Balaiada coletores de impostos e demais funcionários públicos. Nas relações
Em 1838, Vicente Camargo, do Partido Conservador, era presi- internacionais, dom Pedro II procurou apresentar a imagem do
dente da província do Maranhão. Em junho daquele ano, Camargo Brasil como um país jovem, moderno e com grande potencial de
distribuiu nas comarcas do Maranhão os cargos de prefeito e comis- desenvolvimento. Para reforçar essa ideia, ele financiava o estudo
sário de polícia apenas aos seus correligionários, que passaram a de artistas no exterior e estimulava a vinda de missões científicas
perseguir os políticos do Partido Liberal (chama dos de bem-te-vis) estrangeiras ao Brasil.
e a exercer maior controle sobre a população pobre e livre.

153
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A Guerra do Paraguai Mudança do Eixo Econômico

As origens da Guerra do Paraguai estão ligadas à consolidação Planta nativa da Etiópia, na África, o café chegou à Europa no
dos Estados nacionais na região do Prata e à preocupação do Impé- século XVII e, de lá, à América. Em 1727, as primeiras sementes e
rio em evitar a formação de uma grande nação platina que ocupas- mudas de café foram trazidas da Guiana Francesa e plantadas em
se o território do antigo Vice-Reino do Prata. Belém, no atual estado do Pará.
Em agosto de 1864, tropas brasileiras invadiram o Uruguai - in- Por volta de 1760, já havia cafeeiros (para consumo) na cidade
dependente desde 1828 - e derrubaram o presidente uruguaio Ata- do Rio de Janeiro. Posteriormente, a planta foi levada ao litoral flu-
násio Aguirre, do Partido Blanco, acusado de ter posto em prática minense e, depois, para o vale do rio Paraíba do Sul. Ali, o café pas-
medidas antibrasileiras. Seu opositor, Venâncio Flores, do Partido sou a ser plantado como produto agrícola, para consumo e comér-
Colorado, tornou-se presidente. cio, e se espalhou rapidamente, chegando a cidades como Resende
Interpretando a invasão do Uruguai como uma ameaça aos in- e Vassouras, no Rio de Janeiro; Areias , Guaratinguetá e Taubaté,
teresses de seu país, em novembro de 1864. o presidente do Para- em São Paulo. Mudas e sementes de café também foram levadas
guai, Solano López, aliado de Aguirre, apreendeu um navio mercan- para o Espírito Santo e para o sul de Minas Gerais.
te brasileiro no rio Paraná e, em dezembro, ordenou a invasão da Nesse processo de expansão, muitos quilômetros da mata
província do Mato Grosso. Atlântica foram derrubados para que fazendas de café pudessem
Em seguida, declarou guerra à Argentina, já que o governo do se estabelecer e os indígenas que ali viviam foram dizimados ou ex-
país não permitiria que o Exército paraguaio cruzasse o território pulsos. Os pequenos posseiros que se encontravam na região com
argentino em direção ao Rio Grande do Sul e ao Uruguai. Em maio suas lavouras de subsistência tiveram um destino similar. Dessa ma-
de 1865, Brasil, Argentina e Uruguai (já presidido por Flores) firma- neira, no início do Segundo Reinado, o café já era o principal artigo
ram o Tratado da Tríplice Aliança, um acordo político, econômico e de exportação brasileiro e o Brasil era o maior exportador mundial
militar contra o Paraguai. do produto.
No sudeste, as principais cidades cafeicultoras enriqueceram.
Os Voluntários da Pátria Assim como nos engenhos do nordeste, a riqueza extraída dos ca-
O governo brasileiro não possuía contingente para uma guer- fezais era produzida, primordialmente, pela mão de obra escravi-
ra desse porte e por isso, em janeiro de 1865, assinou um decreto zada. Os cativos eram responsáveis por todo o trabalho no campo:
criando o corpo de Voluntários da Pátria. Neste poderiam alistar- preparavam o terreno, plantavam e colhiam. Na época da colheita,
-se espontaneamente homens entre 18 e 50 anos. Para aumentar cabia a eles entregar ao administrador da fazenda uma quantidade
ainda mais o número de combatentes, o governo oferecia em troca específica de grãos.
do alistamento uma quantia em dinheiro e um pedaço de terra aos No começo, os escravizados também tinham por obrigação
homens livres, assim como a alforria aos escravizados. conduzir carros de bois com sacas de café até os portos do Rio de
Assim, o corpo de voluntários reuniu indivíduos livres das ca- Janeiro e de Santos, no litoral do estado de São Paulo, de onde a
madas médias e pobres. Os membros da elite não se interessavam produção era embarcada para o exterior. A partir de 1850, com a
pelo voluntariado e, quando convocados, preferiam pagar para que construção das primeiras ferrovias, esse transporte passou a ser
pessoas livres fossem no lugar deles ou enviavam escravizados para feito de trem, o que estimulou a construção de muitas ferrovias.
substituí-los. O governo pagava uma indenização aos senhores de Mas as ferrovias não impactaram apenas o transporte do café.
escravos que enviavam seus cativos à batalha, prática que ficou co- Elas integraram também o comércio do Triângulo Mineiro ao mer-
nhecida como “compra de substituídos”. cado paulista, transformaram a paisagem natural dos locais em que
Muitas mulheres também participaram da guerra indiretamen- foram implantadas e colocaram a população em contato com as
te na retaguarda, com o fabrico de munição, na venda de artigos inovações técnicas do capitalismo. As cidades onde foram constru-
de primeira necessidade, no preparo de alimentos e no socorro aos ídas se transformaram, e novos municípios surgiram em função de-
feridos ou diretamente, quando elas pegavam em armas e partiam las. Com o enriquecimento, muitos fazendeiros do Vale do Paraíba
para as frentes de batalha. foram agraciados com títulos de nobreza pelo imperador, originan-
do se daí a expressão barões do café para designá-los.
Saldo do Conflito De modo geral, apesar do título, não faziam parte da corte im-
A guerra se alastrou rapidamente. Em um primeiro momento, perial. Embora a presença masculina no gerenciamento das fazen-
os paraguaios tiveram vitórias significativas. Aos poucos, porém, as das fosse predominante, algumas mulheres também comandavam
tropas aliadas se organizaram e passaram à ofensiva. Os combates as fazendas de café. Esse foi o caso de Maria Joaquina Sampaio de
corpo a corpo foram sangrentos, marcados por atrocidades de am- Almeida (1803-1882), que, após a morte do marido, passou a dirigir
bos os lados. a fazenda Boa Vista, em Bananal, responsável por uma das maiores
A guerra só terminou em 1870, com a morte de Solano López. O produções individuais de café no período: 700 mil.
Paraguai saiu arrasado do confronto. A população masculina adulta
foi dizimada, a economia foi destruída e o país perdeu 40% do ter- Oeste Paulista
ritório para seus adversários. No que se refere ao Brasil, o conflito Os fazendeiros do Vale do Paraíba empregavam técnicas agrí-
fortaleceu o Exército e o sentimento de identidade nacional. colas rudimentares, como a queimada para limpar o terreno. Além
Entretanto, 30 mil combatentes, de 139 mil enviados à fren- disso, não utilizavam arados nem adubos. Por causa dessas práticas,
te de batalha, morreram. Para compensar as perdas financeiras, o o solo da região empobreceu e, por volta de 1870, a produção de-
governo brasileiro contraiu empréstimos no exterior, aumentando clinou.
a dívida externa. O fim dos combates também contribuiu para pôr Cafeicultores faliram, fazendas foram abandonadas e as cida-
em xeque o governo de dom Pedro II: as críticas à escravidão se des que viviam do café ficaram à míngua. Em busca de novas ter-
intensificaram e a ideia de substituir a monarquia pela república ras, os fazendeiros expandiram as plantações de café em direção ao
começou a ganhar força. Oeste paulista na segunda metade do século XIX. Eles expulsaram o
povo Kaingang da região, derrubaram matas e ocuparam as terras
férteis das atuais cidades de Campinas, Jundiaí e São Carlos. Em

154
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
seguida avançaram para Ribeirão Preto, Bauru e, mais tarde, para A Caminho da Abolição
o norte do Paraná e outras regiões, onde o solo de terra vermelha,
mais conheci da como terra roxa, era ideal para o cultivo da planta. Quando a Lei Eusébio de Queirós foi aprovada em 1850, a pro-
Nesses lugares, surgiu um novo tipo de cafeicultor que, embora dução cafeicultora do Sudeste estava no auge e a necessidade de
utilizasse mão de obra escrava, passou também a empregar o traba- mão de obra era crescente. Impedidos de recorrer ao tráfico negrei-
lho assalariado de trabalhadores livres de origem europeia. ro, os cafeicultores passaram a comprar es cravos dos fazendeiros
Retirantes cearenses que fugiram da seca no final da década do Nordeste que, naquele momento, atravessavam um período de
de 1870 e se deslocaram para o sudeste também foram emprega- dificuldades por causa da forte concorrência externa à produção
dos nos cafezais. Com os lucros das exportações de café, os cafei- nordestina de açúcar e algodão.
cultores aprimoraram as técnicas agrícolas a fim de multiplicar os Em 1865, a notícia de que os Estados Unidos haviam abolido a
rendimentos. Alguns começaram a diversificar seus investimentos, escravidão reacendeu os debates abolicionistas no Brasil. Ao mes-
aplicando parte do capital em atividades industriais e comerciais. mo tempo, aumentou o número de escravizados que reivindicavam
Em 1872, ano em que foi realizado o primeiro censo no Brasil, 80% junto à Justiça o direito de não separar-se de suas famílias e de jun-
da população em atividade no país se dedicava ao setor agrícola, tar dinheiro para comprar a liberdade. Não raro, eles venciam esses
13% ao de serviços e apenas 7% à indústria. processos.
Com o fim da Guerra do Paraguai, em 1870, a Campanha Abo-
Fim do Tráfico Negreiro licionista começou a se difundir pelo país e conquistou adeptos no
Exército - os negros e miscigenados representavam a maior parte
No começo do século XIX, o Brasil e várias colônias e nações dos soldados brasileiros no conflito. O convívio entre negros e bran-
sofriam forte pressão do governo inglês para acabar com o tráfico cos durante a guerra contribuiu para diminuir o preconceito e mui-
negreiro e com a escravização dos povos africanos. Por isso, a In- tos militares ou ex-combatentes mudaram de opinião a respeito da
glaterra só reconheceu a legitimidade da independência brasileira escravidão.
em 1825, depois que dom Pedro I se comprometeu a acabar com
o tráfico. Lei do Ventre Livre
As pressões inglesas aumentaram e, em 1831, o governo re- Pressionado, o governo procurou conciliar os interesses con-
gencial decretou o fim do tráfico negreiro. Mas a lei não alcançou flitantes e extinguir a escravidão sem prejudicar os negócios dos
seu objetivo imediato e africanos escravizados continuaram sendo fazendeiros. Para tanto, propôs um plano de abolição gradual, ga-
contrabandeados para o Brasil, apesar de o tráfico ter sofrido uma rantindo indenizações aos donos de escravizados. No dia 28 de se-
queda acentuada. tembro de 1871, a Assembleia Geral aprovou a Lei do Ventre Livre.
Lei Eusébio de Queirós Ela estabelecia que os filhos de escravizados nascidos a partir da-
Em 1850, a pressão internacional, somada ao medo de novas quela data seriam considerados livres, mas deveriam permanecer
rebeliões de escravos e ao clamor dos que se opunham à escravi- sob os cuidados de seus senhores até completarem oito anos de
dão, levou à aprovação da Lei Eusébio de Queirós. idade.
Ela proibia definitivamente o tráfico de africanos para o Brasil. A partir de então, o proprietário tinha duas opções: entregar a
Importantes fazendeiros que tentaram desrespeitar a nova lei fo- criança ao governo, que lhe pagaria uma indenização, ou mantê-la
ram presos e capitães de navios negreiros que continuaram a trafi- sob o regime de trabalho compulsório em sua propriedade, como
car es cravos sofreram duras penas. forma de compensação pela alforria, até ela completar 21 anos. A
lei também garantia ao escravizado o direito de formar um pecúlio
A imigração europeia e a Lei de Terras com o qual pudesse comprar sua alforria.
Esse recurso seria bastante utilizado pelos cativos. Embora ofe-
Antes de 1850, alguns fazendeiros do Oeste paulista já tenta- recesse garantias de compensação aos senhores de escravos, a lei
vam substituir a mão de obra escravizada pela de imigrantes euro- foi vista como um sinal de que a escravidão estava próxima do fim.
peus. Em 1847, cerca de mil colonos de origem germânica e suíça Para os fazendeiros do Oeste paulista, isso significava que seria ne-
foram trazidos e empregados, em regime de parceria, em uma fa- cessário promover a imigração europeia em grande escala. A esco-
zenda no interior de São Paulo. lha pela mão de obra europeia foi estimulada por teorias raciais vi-
No entanto, o regime de parceria não funcionou, pois era pou- gentes na época. Racistas, essas teorias (genericamente conhecidas
co vantajoso para os imigrantes, que arcavam com muitas despesas, como darwinismo social) defendiam que negros e mestiços, assim
as quais reduziam muito seus lucros. Temendo que os imigrantes como indígenas e asiáticos seriam inferiores aos europeus.
abandonassem o trabalho nas fazendas e ocupassem as terras de- Os negros, que durante quase quatro séculos construíram pra-
volutas, o governo e a Assembleia Geral instituíram a Lei de Terras, ticamente tudo que o existia no Brasil, eram agora taxados de pre-
que restringia o acesso da população à terra. guiçosos, incapazes e incultos. Para políticos e fazendeiros racistas,
A legislação em vigor até então permitia a qualquer pessoa se os negros deveriam ser substituídos por brancos “mais capacita-
instalar em uma área de terras devolutas e posteriormente reque- dos”. Para eles, o sucesso da modernização do país só seria possível
rer um título de propriedade sobre ela. Com a Lei de Terras, aprova- por meio da mão de obra europeia.
da em 1850, quem quisesse se tornar proprietário deveria comprar Aproveitando-se da situação de crise de alguns países da Eu-
o lote do governo. Para dificultar o acesso, a lei fixou dimensões ropa, iniciou-se amplo processo de incentivo à emigração para o
mínimas para os lotes a serem comprados e proibiu a compra a pra- Brasil.
zo. Impediu-se assim o surgimento de uma camada de pequenos
proprietários rurais e o desenvolvimento de uma agricultura fami- A Campanha Abolicionista
liar economicamente expressiva no Brasil. A partir de 1880, a mobilização pelo fim da escravidão no Brasil
A lei beneficiou a população mais rica e com mais recursos, que envolvia homens e mulheres de setores sociais variados, nos princi-
comprava grandes lotes diretamente do governo, e possibilitou que pais centros urbanos. A Campanha Abolicionista, como foi chama-
os grandes proprietários rurais concentrassem ainda mais porções da, teve como polos de aglutinação associações emancipacionistas
de terras em suas mãos. e órgãos da imprensa.

155
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Personalidades como Joaquim Nabuco (1849-1910), André Re- A guerra contra o Paraguai (1864-1870) consumira as divisas do
bouças (1838-1898) e Antônio Bento (1843-1898) escreviam nos país, e a população sofria com o aumento do custo de vida. Os fa-
jornais abolicionistas. O caricaturista Ângelo Agostini (1843-1910) zendeiros do Centro-Sul mostravam-se insatisfeitos com a composi-
desmoralizava os defensores da escravidão com seus desenhos, e ção política do império, que não refletia o poder econômico e social
José do Patrocínio (1854-1905) costumava terminar seus editoriais das regiões: o Nordeste tinha um número maior de representantes
com a frase: “A escravidão é um roubo e todo dono de escravo, um no Senado e no ministério do que o Sudeste.
ladrão.”. Os cafeicultores, sobretudo os do Vale do Paraíba, também es-
No Pará, Manoel Moraes Bittencourt fundou em 1882 o Club tavam in satisfeitos com a extinção do trabalho escravo. Embora
Abolicionista Patroni, que, junto a outras organizações - que foram isso tivesse ocorrido por meio da criação de sucessivas leis - como a
aparecendo em praticamente todas as províncias brasileiras -, reco- do Ventre Livre (1871) e a dos Sexagenários (1885) -, a insatisfação
lhia recursos para a compra de alforrias. Em 1883, essas associações se transformou em revolta em 1888, com a assinatura da Lei Áurea.
se unificaram e formaram a Confederação Abolicionista. Os militares também davam sinais de descontentamento. Os
No Recife, integrantes da sociedade secreta Clube do Cupim, soldos estavam baixos e as promoções dos oficiais ocorriam mais
liderada por José Mariano, retiravam es- cravos do cativeiro e os por apadrinhamento do que por mérito. Como não podiam mani-
enviavam de barcaças ao Ceará, onde a escravidão foi extinta em festar livremente suas opiniões políticas, entre 1883 e 1887 os mili-
1884. A essa altura, a Campanha Abolicionista se configurava como tares demonstraram sua insatisfação por meio de atos de insubor-
um movimento irreprimível e de grande apelo popular. dinação e desobediência que, em seu conjunto, ficaram conhecidos
como a Questão Militar.
O Fim da Escravidão As relações entre a Igreja e o Estado se desgastaram com a cha-
Em 1884, as províncias do Ceará e do Amazonas aboliram a es- mada Questão Religiosa, em 1871, quando bispos de Olinda e de
cravidão em seus territórios. No ano seguinte, a Assembleia Geral Belém fecharam algumas irmandades religiosas ligadas à maçona-
aprovou a Lei Saraiva-Cotegipe, também conhecida como Lei dos ria. Dom Pedro II ordenou que essas irmandades fossem reabertas.
Sexagenários, que libertava os escravos com mais de 60 anos. A Os bispos se recusaram a obedecer, foram presos e condena-
alforria para esse grupo, entretanto, só ocorria depois de três anos dos a trabalhos forçados. Mesmo sendo anistiados pelo imperador
de trabalho a título de indenização. em 1875, essa situação desgastou a relação entre parte do clero e o
Em São Paulo, em 1886, o abolicionista Antônio Bento criou Estado. Esse evento é apontado como um dos fatores que levaram
um grupo conhecido como Caifazes, que organizava deserções em ao desgaste e à queda da monarquia no Brasil.
massa de escravos. A partir de então, as fugas se tornaram cada
vez mais frequentes. Em 1887, o Exército anunciou sua recusa em A Campanha pela República
continuar capturando escravos fugitivos.
No dia 13 de maio de 1888, a princesa Isabel - filha de dom Em 1870, políticos liberais radicais, cafeicultores e representan-
Pedro II que estava à frente do governo, substituindo o imperador, tes das camadas médias do Rio de Janeiro e de São Paulo criaram o
que viajara ao exterior - assinou a Lei Áurea, libertando os 723 mil Clube Republicano, cujo porta-voz era o jornal carioca A República.
escravos que ainda restavam no país. Esse número representava 5% Nos dois anos seguintes, novos clubes e jornais republicanos
da população afrodescendente que vivia no Brasil. surgiram pelo país. Mas a Campanha Republicana ganhou mais for-
Os afro-brasileiros tiveram seus direitos formalmente reconhe- ça a partir de 1873, quando grupos políticos ligados aos cafeiculto-
cidos. A emancipação, contudo, não foi acompanhada de medidas res paulistas fundaram, em São Paulo, o Partido Republicano.
de reparação ou de integração dos libertos na sociedade, como
propunham muitos abolicionistas. Entre essas propostas estavam a Moderados, radicais e positivistas
distribuição de terras aos libertos e a criação de mecanismos para Unidos contra a monarquia, os republicanos divergiam quanto
que os ex-escravos e seus filhos tivessem acesso à educação. Na aos métodos propostos.
verdade, os ex-escravos não receberam nenhum tipo de amparo e Os moderados, vinculados aos grandes proprietários rurais,
se tornaram vítimas de um novo tipo de desigualdade social e étni- eram contrários ao fim da escravidão. Os radicais, ou revolucioná-
ca cujos reflexos ainda podem ser sentidos na sociedade brasileira. rios, eram membros das camadas médias urbanas e apoiavam uma
revolução com grande participação popular, como a que ocorrera
O Brasil no Final do Século XIX na França em 1789. A facção formada pelos militares adeptos do
positivismo apoiava-se na confiança na ciência e na razão. Na po-
A partir da segunda metade do século XIX, o Brasil passou por lítica, o positivismo defendia a instauração de uma ditadura repu-
transformações socioeconômicas que mudaram o perfil da socie- blicana.
dade. O trabalho escravo, por exemplo, começou a ser substituído
pelo trabalho livre e assalariado. A indústria tomou impulso a partir O Fim do Império
de 1880 e aumentou a contratação de mão de obra assalariada: em No decorrer de 1889, Quintino Bocaiuva, chefe nacional do
1881, havia cerca de três mil trabalhadores industriais; em 1890 já movimento republicano, procurou se aproximar dos militares em
eram 54 mil, principalmente imigrantes. busca de apoio na luta contra a monarquia. No dia 11 de novembro,
As cidades cresceram e aumentou o número de pessoas das ca- um grupo conseguiu convencer o marechal Deodoro da Fonseca a
madas médias urbanas - profissionais liberais, pequenos e médios apoiar a causa republicana.
comerciantes, funcionários públicos, etc. A vida cultural se intensi- Ao mesmo tempo, os militares republicanos do Rio de Janeiro
ficou. Formou-se uma opinião pública capaz de se mobilizar con- estabeleceram contatos com líderes civis de São Paulo, que apoia-
tra a escravidão e contra o caráter opressivo da monarquia. Nesse ram a ideia de um golpe para proclamar a República. Marcado para
mesmo momento, o Brasil atravessava uma grave crise econômica. o dia 20 de novembro, ele foi antecipado porque, no dia 14, um
major espalhou o boato de que o governo decretara a prisão de
Deodoro da Fonseca e de Benjamin Constant.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Na manhã do dia 15, o próprio marechal Deodoro seguiu à Assim, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira
frente de um batalhão em direção ao prédio do Ministério da Guer- Constituição republicana do país, a Constituição dos Estados Uni-
ra, onde os ministros encontravam-se reunidos. Sem enfrentar ne- dos do Brasil. Inspirada no modelo vigente nos Estados Unidos, ela
nhuma resistência, Deodoro depôs o gabinete e voltou para casa. era liberal e federativa, concedendo aos estados prerrogativas de
Os republicanos ficaram sem saber se o marechal havia derrubado constituir forças militares e estabelecer impostos.
a monarquia ou apenas o ministério. Além disso, ela instaurou o presidencialismo como regime po-
Para dirimir qualquer dúvida, o jornalista José do Patrocínio e lítico, com a separação dos poderes Executivo, Legislativo e Judici-
outras lideranças dirigiram-se à Câmara dos Vereadores do Rio de ário, e oficializou a separação entre Estado e Igreja. Os deputados
Janeiro e anunciaram o fim da monarquia no Brasil. constituintes também elegeram o marechal Deodoro da Fonseca
Ao ser informado dos acontecimentos, em seu palácio de Pe- para a presidência e o marechal Floriano Peixoto para a vice-pre-
trópolis, dom Pedro II ainda tentou organizar um novo ministério, sidência da República. Mas o novo regime republicano enfrentaria
mas acabou desistindo. Na madrugada de 17 de novembro de 1889, crises muito sérias até se consolidar definitivamente.
embarcou com a família para Portugal. Dois anos mais tarde, mor-
reu em Paris, vítima de pneumonia aguda, aos 66 anos. República de Espadas
A Proclamação da República foi um movimento do qual a po-
pulação praticamente não participou. Nele estiveram envolvidos Na área econômica, comandada por Rui Barbosa, então minis-
alguns militares, intelectuais e políticos. Um dos líderes republica- tro da Fazenda, a República começou com grande euforia. Com o
nos, Aristides Lobo, chegou a afirmar que o povo assistiu a tudo
objetivo de estimular o crescimento econômico e a industrialização
bestializado, achando que a movimentação das tropas conduzidas
do país, o governo autorizou que os bancos concedessem crédito a
por Deodoro da Fonseca na manhã do dia 15 de novembro fosse
qualquer cidadão que desejasse abrir uma empresa. E, para cobrir
simplesmente uma parada militar.
esses empréstimos, permitiu a impressão de uma imensa quantida-
de de papel-moeda.
A ORGANIZAÇÃO POLÍTICA E ECONÔMICA DO ESTADO Como a moeda brasileira tinha como referência a libra inglesa,
REPUBLICANO as emissões de dinheiro sem lastro (sem garantia em ouro) provo-
caram o aumento acelerado da inflação. Muitos dos empréstimos
REPÚBLICA VELHA concedidos foram usados para abrir empresas que existiam apenas
no papel, mas cujas ações, ainda assim, eram negociadas na Bolsa
Consolidação da República de Valores. Como resultado, muitos investidores perderam seu di-
nheiro e a inflação aumentou, atingindo toda a sociedade brasileira.
Em 15 de novembro de 1889, o marechal Deodoro da Fonseca Essa medida, que visava estimular a economia, mas resultou em
proclamou a República. Apesar das divergências que existiam sobre desvalorização da moeda e especulação financeira, recebeu o nome
o tipo de república a ser construída no país, as elites que domina- de Encilhamento.
vam a política em São Paulo, Minas Gerais e no Rio Grande do Sul Na área política, assistia-se a graves conflitos envolvendo o
defendiam o federalismo, em oposição à centralização imperial4. presidente e os militares que o apoiavam, de um lado, e políticos
Paulistas e mineiros defendiam propostas inspiradas no libe- liberais e a imprensa, do outro. Oito meses após ser eleito, em no-
ralismo e tinham, sobretudo os paulistas, o modelo estadunidense vembro de 1891, Deodoro da Fonseca determinou o fechamento do
como referência, em relação à autonomia dos estados e às liberda- Congresso Nacional e decretou estado de sítio no país. Os oficiais
des individuais. que seguiam a liderança de Floriano Peixoto não apoiaram o golpe
No Rio Grande do Sul, havia um importante grupo de políticos de Estado; assim como a Marinha, que considerou autoritária a ati-
liderado por Júlio de Castilhos. Esse grupo defendia, com base nos tude do presidente, e diversas lideranças civis. Sem apoio político, o
ideais positivistas, a instauração de uma ditadura republicana que, presidente renunciou no dia 23.
ao garantir a ordem, levaria o país ao progresso. Já no Rio de Janei- Nesse mesmo dia, Floriano Peixoto, seu vice, assumiu a presi-
ro, a capital da República, existia um grupo de republicanos radicais, dência da República.
chamados de jacobinos. Eram civis e militares, alguns deles positi- A posse do novo presidente foi muito questionada. De acordo
vistas, que defendiam de maneira exaltada o regime republicano e com a Constituição, o vice assumiria somente se o presidente hou-
opunham-se de ma-neira contundente à volta da monarquia.
vesse cumprido metade de seu mandato, ou seja, dois anos. Caso
Havia também os monarquistas, que desejavam o retorno do
contrário, ela previa a realização de uma nova eleição. Mas Floriano
antigo sistema. Entre os militares, predominavam os republicanos.
estava decidido a permanecer no poder, com o apoio dos florianis-
E, mesmo entre estes, havia divergências: enquanto alguns oficiais
tas, que alegavam que o dispositivo constitucional só valeria para o
seguiam a liderança de Deodoro, outros preferiam a de Floriano
Peixoto. Mas havia também os positivistas, que tinham Benjamin próximo mandato presidencial.
Constant como líder, e alguns monarquistas, sobretudo na Marinha, Treze generais do Exército contestaram sua posse e, por meio
que tinham fortes ligações com o Império. de um manifesto, exigiram eleições presidenciais. Floriano ignorou
Nesse emaranhado de projetos políticos, no início de 1890 o o protesto e mandou prender os generais. Receosas com a instabi-
Governo Provisório convocou uma Assembleia Nacional Constituin- lidade da República, as elites políticas de São Paulo, representadas
te para institucionalizar o novo regime e elaborar o conjunto de leis pelo Partido Republicano Paulista (PRP), apoiaram o novo presiden-
que o regeriam. te. Floriano, por sua vez, percebeu que o suporte do PRP era fun-
damental.
Ele também contou com o apoio de importantes setores do
Exército e da população do Rio de Janeiro. Oficiais da Marinha de
Guerra (Armada) tornaram-se a sua principal oposição. Em 6 de
setembro de 1893, posicionaram os navios de guerra na baía de
4 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Guanabara, apontaram os canhões para o Rio de Janeiro e Niterói e
Paulo. Saraiva.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
dispararam tiros contra as duas cidades - era o início da Revolta da rantia dos direitos civis e políticos, grande parte da população rural
Armada. Em março do ano seguinte a situação tornou-se insusten- - vale lembrar que a imensa maioria dos brasileiros então vivia no
tável nos navios - não havia munição, alimentos, água nem o apoio campo - buscava a proteção de um coronel e acabava se inserindo
da população. Parte dos revoltosos pediu asilo político a Portugal, em uma rede de favores e proteção pessoal.
a outra foi para o Rio Grande do Sul participar de um conflito que
eclodira um ano antes: a Revolução Federalista. O Poder dos Coronéis

Revolução Federalista Também conhecida como coronelismo, a chamada “República


dos coronéis” era um sistema político que resultou da Constituição
A instalação da República alterou a política do Rio Grande do de 1891 e marcou a Primeira República. Se no Império os presiden-
Sul. Com ela, o Partido Republicano Rio-Grandense alcançara o po- tes de estado (hoje denominados governadores) eram nomeados
der. Apoiada por Floriano Peixoto e liderada por Júlio de Castilhos, pelo poder central, com a República eles passaram a ser eleitos pe-
a agremiação de orientação positivista tornou-se dominante no es- los coronéis. Nos municípios, eram os coronéis que, por meio da
tado em que passou a governar de maneira autoritária. violência e da fraude eleitoral, controlavam os votos que elegiam o
presidente de estado, e também os deputados estaduais e federais,
A principal força de oposição ao Partido Republicano era o Par- os senadores e até mesmo o presidente da República.
tido Federalista, liderado por Gaspar Silveira Martins, que defendia Por outro lado, eles dependiam do governante estadual para
o parlamentarismo e a predominância da União Federativa sobre nomear parentes e protegidos a cargos públicos ou liberar verbas
o poder estadual - enquanto os republicanos pregavam o sistema para obras nos municípios. Assim, criava-se uma ampla rede de
presidencialista e a autonomia dos estados. alianças e favores, em que coronéis, presidentes de estado, parla-
Diante da violência e das fraudes eleitorais, os federalistas uni- mentares e o próprio presidente da República estavam atados por
ram-se a outras forças de oposição, dando origem a uma sangren- fortes laços de interesses. Esse esquema se consolidou na presi-
ta guerra civil, que ficou conhecida como Revolução Federalista dência de Campos Sanes (1898-1902), idealizador do que veio a ser
(1893-1895). Os conflitos não se limitaram ao estado do Rio Grande chamado de política dos governadores Ou dos esta- dos.
do Sul, estendendo-se aos de Santa Catarina e do Paraná, e só ter- Nela, o governo federal apoiava as oligarquias dominantes nos
minaram em junho de 1895 com a vitória dos republicanos sobre os estados, que em troca sustentavam politicamente o presidente da
federalistas. A Revolução Federalista causou muito sofrimento ao República no Congresso Nacional, controlando a eleição de senado-
sul do país. Somente no Rio Grande do Sul, que contava com cerca res e deputados federais - e evitando, dessa forma, que os candida-
de 900 mil habitantes, morreram de 10 a 12 mil pessoas, muitas tos da oposição se elegessem. Ainda assim, caso isso acontecesse, a
delas degoladas. Comissão de Verificação de Poderes da Câmara Federal, responsá-
Passados cinco anos da proclamação da República, chegava ao vel por aprovar e confirmar a vitória dos candidatos eleitos, impug-
fim o governo de Floriano Peixoto. No dia 15 de novembro de 1894, nava a posse, sob a alegação de fraude.
o marechal passou a faixa presidencial ao paulista Prudente de Mo- Apesar das fraudes eleitorais, as eleições periódicas foram
rais, conferindo novos ares à República. Pela primeira vez, um civil importantes para a configuração do sistema político brasileiro. Pri-
ligado às elites agrárias, em especial aos cafeicultores, assumia o meiro, porque exigiam o mínimo de competição no jogo eleitoral,
poder. Com a eleição de Prudente de Morais, encerrava-se o perío- permitindo a renovação das elites dirigentes. Segundo, porque,
do conhecido como República da Espada. mesmo com o controle do voto, havia alguma mobilização do elei-
torado - com o qual as elites, mesmo dispondo de grande poder
Modelo Político político, precisavam manter alguma interlocução.

A Constituição de 1891 estabeleceu eleições diretas para todos Política do Café com Leite
os cargos dos poderes Legislativo e Executivo. Também determinou A política dos governadores inaugurada por Campos Salles fun-
que, excetuando os mendigos, os analfabetos, os praças de pré, os damentou a chamada República Oligárquica. Ela reforçou os pode-
religiosos, as mulheres e os menores de 21 anos, todos os cidadãos res das oligarquias - sobretudo as dos estados de São Paulo e Minas
brasileiros eram eleitores e elegíveis. Gerais. Como o número de representantes por estado no Congresso
Apesar de suprimir a exigência de renda mínima constante da era proporcional à sua população, São Paulo e Minas Gerais, que
Constituição imperial, a primeira Constituição da República tam- eram os estados mais populosos e ricos - da federação, elegiam as
bém excluía a maioria da população brasileira do direito de votar. O maiores bancadas na Câmara dos Deputados.
voto foi decretado aberto, mas, como não havia Justiça Eleitoral, na Vale lembrar que, à época, os partidos políticos eram estadu-
prática as eleições eram caracterizadas pela fraude. A organização ais e proliferavam siglas como Partido Republicano Mineiro, Partido
da eleição dos municípios, bem como a redação da ata da seção Republicano Paulista, Partido Republicano Rio-Grandense etc. Ex-
eleitoral, ficava a cargo dos chefes políticos locais, os chamados co- pressão simbólica da aliança entre o Partido Republicano Paulista e
ronéis. o Partido Republicano Mineiro foi a chamada política do café com
Isso lhes permitia registrar o que bem quisessem nas atas - daí leite, que funcionava no momento da escolha do sucessor presi-
o nome “eleições a bico de pena” - e também controlar as escolhas dencial.
dos eleitores, por meio da violência ou do suborno. Era comum, por As oligarquias dos dois estados escolhiam um nome comum
exemplo, que nas atas das seções eleitorais constassem votos de para presidente, ora filiado ao partido paulista, ora ao mineiro. A
eleitores já mortos para o candidato dos coronéis. cada sucessão presidencial, a aliança entre Minas Gerais e São Pau-
Ou então que os coronéis reunissem os eleitores em um de- lo precisava ser renovada, muitas vezes com conflitos e interesses
terminado lugar para receber as cédulas eleitorais já preenchidas. divergentes. Por serem fortes em termos políticos e econômicos,
Esses locais eram chamados de “curral eleitoral”. De modo geral, os formaram-se duas oligarquias dominantes no país: a de São Paulo e
eleitores votavam no candidato do coronel por vários motivos: obe- a de Minas Gerais. Embora em posição inferior à aliança entre pau-
diência, lealdade ou gratidão, ou em busca de algum favor, como listas e mineiros, destacavam-se também a do Rio Grande do Sul, a
dinheiro, serviços médicos e até mesmo proteção. Afinal, sem a ga- da Bahia e a do estado do Rio de Janeiro.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Houve eleições em que os vitoriosos não estavam comprometi- Pelo Convênio de Taubaté - como ficou conhecido esse encon-
dos com a política do café com leite, caso de Hermes da Fonseca em tro - estabeleceu-se a política de valorização do café, pela qual os
1910 e de Epitácio Pessoa em 1919. O importante é considerar que governos dos estados conveniados recorreriam a empréstimos ex-
as oligarquias dos estados que se encontravam fora da política do ternos para comprar e estocar o excedente da produção de café, até
café com leite passaram a questionar o sistema político na década que seu preço se estabilizasse no mercado internacional, de modo
de 1920. a garantir o lucro dos cafeicultores. Para o pagamento dos juros da
dívida, seria cobrado um imposto sobre as exportações de café.
Aspectos Econômicos Dois anos depois, na presidência de Afonso Pena, o governo
federal deu garantias aos empréstimos. A política de valorização do
Por volta de 1830, o café tornou-se o principal produto de ex- café foi benéfica apenas para os cafeicultores, em especial os pau-
portação do Brasil, superando o açúcar. Com a expansão das lavou- listas, em detrimento dos produtores de açúcar, algodão, charque,
ras cafeeiras para o Oeste Paulista, a partir da década de 1870, a cacau etc. Além de acentuar as desigualdades regionais, grande
cafeicultura estimulou a economia do país, cujo dinamismo atraiu parte dos custos dessa política acabou recaindo sobre a sociedade
investidores estrangeiros, sobretudo britânicos. brasileira, que teve de arcar com os prejuízos.
Ela propiciou a construção e o reaparelhamento de ferrovias,
estradas, portos e o surgimento de bancos, casas de câmbio e de Economia da Borracha
exportação. Também foram criados estaleiros, empresas de nave- No começo da República, outro importante produto de expor-
gação e moinhos. O café mudou o país, inclusive incentivando a sua tação era a borracha da Amazônia, que alcançou seu auge entre
industrialização. Surgiram, por exemplo, fábricas de tecidos, cha- 1890 e 1910. Em meados do século XIX, desenvolveu-se o processo
péus, calçados, velas, alimentos, utensílios domésticos etc. Trata- de vulcanização da borracha, por meio do qual ela se tornava en-
va-se de um tipo de indústria, a de bens de consumo não duráveis, durecida, porém flexível, perfeita para ser usada em instrumentos
que não exigia grande tecnologia ou altos investimentos de capital, cirúrgicos e de laboratório. O sucesso do produto aconteceu mes-
mas que empregava grande quantidade de mão de obra. mo ao ser empregado na fabricação de pneus tanto de bicicletas
A riqueza gerada pelas exportações de café possibilitou, ainda, como de automóveis. Em 1852, o Brasil exportava 1 600 toneladas
o aumento das importações e a expansão das cidades, com a ins- de borracha (2,3% das exportações nacionais). Em 1900, já ultra-
talação de serviços públicos (como iluminação a gás e sistema de passava os 24 milhões de toneladas, o que equivalia a quase 30%
transporte urbano), novas práticas de diversão e até mesmo maior das exportações.
circulação de jornais e livros. A cidade que mais cresceu foi a de São Além de empregar cerca de 1 10 mil pessoas que trabalhavam
Paulo, principalmente a partir de 1886, com a chegada de milhares nos seringais, a extração do látex na região Norte fez com que as
de imigrantes. cidades de Belém e Manaus passassem por grandes transforma-
ções: expansão urbana, instalação de serviços (iluminação pública,
Crise do Café bondes elétricos, serviços de telefonia e de distribuição de água).
Na década de 1920, o café, que era então responsável por mais A partir de 1910, contudo, a entrada da borracha de origem asi-
da metade das exportações brasileiras, sustentava a economia do ática no mercado internacional provocou um drástico declínio na
país. Por consequência, a oligarquia paulista tornara-se dominante produção amazônica. Extraída em colônias inglesas e holandesas,
na política brasileira - dos 12 presidentes eleitos entre 1894 e 1930, a borracha asiática tinha maior produtividade, melhor qualidade e
seis eram filiados ao Partido Republicano Paulista. menor preço.
A crescente produção cafeeira, contudo, acabou provocando
graves problemas. O consumo do café brasileiro, que nesse período Disputas por Território
atendia a 70% da demanda mundial, estabilizou-se, mas os fazen-
deiros continuaram expandindo suas plantações. Com uma produ- Os primeiros governos republicanos enfrentaram problemas de
ção maior do que a capacidade de consumo, os preços internacio- disputas territoriais com os vizinhos latino-americanos.
nais caíram, causando prejuízos e gerando dívidas. O primeiro deles foi sobre a região oeste dos atuais estados
A primeira crise de superprodução ocorreu em 1893. Ao as- de Santa Catarina e Paraná. que era reclamada pelos argentinos.
sumir a presidência em 1894, Prudente de Morais teve de lidar A questão foi resolvida pela arbitragem internacional dos EUA em
com grave crise econômica. Campos Salles, que o sucedeu na pre- 1895, confirmando a posse brasileira.
sidência em 1898, fez um acordo com os credores internacionais Outra pendência foi com a França, sobre a demarcação das
conhecido como funding loan. Pelo acordo, que transformou todas fronteiras do Brasil com a Guiana Francesa. Com arbitragem in-
as dívidas brasileiras em uma única, cujo credor era a casa bancária ternacional do governo suíço, o Brasil venceu a disputa em 1900,
britânica dos Rothschild, o Brasil recebeu como empréstimo 10 mi- impondo sua soberania sobre as terras que hoje integram o estado
lhões de libras esterlinas. Além de oferecer as rendas da alfândega do Amapá.
do Rio de Janeiro como garantia, o governo se comprometeu a rea- No ano seguinte, o Brasil entrou em disputa com a Grã-Breta-
lizar uma política econômica deflacionária, retirando papel-moeda nha sobre os limites territoriais entre a Guiana Britânica (ou Inglesa)
do mercado, o que gerou recessão, falências e desemprego e não e o norte do então estado do Amazonas - que hoje corresponde ao
resolveu os problemas da superprodução de café e da queda dos estado de Roraima.
preços no mercado internacional. O rei da Itália. Vítor Emanuel II, foi convocado como árbitro
Para evitar maiores prejuízos, representantes das oligarquias internacional, e em 1904 ele decidiu a favor dos britânicos. Desse
cafeeiras dos estados de São Paulo, Minas Gerais e do Rio de Janeiro modo, o Brasil perdeu parte do território conhecido como Pirara, e
reuniram-se na cidade paulista de Taubaté e elaboraram, em 1906, a Grã-Bretanha obteve acesso à bacia Amazônica por meio de al-
um plano para a defesa do produto, que, a princípio, não contou guns de seus afluentes.
com o apoio do governo federal.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Outra disputa, bem mais complexa. foi travada em torno da Em 22 de novembro de 1910, marinheiros do encouraçado
região onde hoje se localiza o Acre. que então pertencia à Bolívia Minas Gerais se revoltaram contra a punição de um colega conde-
e ao Peru. Muitos nordestinos, em particular cearenses, que so- nado a receber 250 chibatadas. Liderados por João Cândido, eles
friam com a seca. haviam se estabelecido ali para explorar o látex, tomaram a embarcação, prenderam e mataram alguns oficiais e
gerando conflitos armados com tropas bolivianas. Os brasileiros apontaram os canhões para a cidade do Rio de Janeiro. Os marujos
chegaram a declarar a independência política do Acre. Em 1903, a do encouraçado São Paulo e de outras seis embarcações, também
diplomacia brasileira conseguiu uma vitória com o Tratado de Pe- ancoradas na baía de Guanabara, aderiram à revolta. Os revoltosos
trópolis, que incorporava o Acre ao território brasileiro em troca de exigiam melhores condições de trabalho e o fim dos castigos corpo-
indenizações à Bolívia e ao Peru. rais.O Congresso negociou com os revoltosos e, somente após sua
Cabe destacar a relevante atuação de José Maria da Silva Para- rendição, concedeu-lhes anistia. Mas o ambiente na Armada con-
nhos Júnior, o barão do Rio Branco. responsável pelas relações in- tinuou tenso. Em 4 de dezembro, diante de novas punições, outra
ternacionais do Brasil entre 1902 e 1912. Ele não só esteve à frente revolta eclodiu na ilha das Cobras. Os oficiais reagiram de maneira
das negociações que envolviam disputas territoriais do país como dura e bombardearam a ilha.
fez do Ministério das Relações Exteriores uma instituição profissio- Depois, prenderam 600 marinheiros, inclusive os que participa-
nalizada e aproximou o Brasil dos EUA. ram da primeira revolta, entre eles João Cândido, apelidado de “al-
mirante negro”. Jogados em prisões solitárias por vários dias, mui-
Movimentos e Revoltas tos deles morreram. Os demais foram detidos em porões de navios
e mandados para a Amazônia - ou executados durante a viagem.
Revolta da Vacina
Além de modernizar a cidade, era necessário erradicar as do- Revolta em Juazeiro do Norte
enças epidêmicas da capital da República. Com base nas então Em 1889, no povoado de Juazeiro do Norte, no sul do estado
recentes descobertas sobre os microrganismos e a capacidade de do Ceará, durante uma missa celebrada pelo padre Cícero Romão
mosquitos, moscas e pulgas transmitirem doenças, o médico sani- Batista, uma beata teria sangrado pela boca logo após receber a
tarista Oswaldo Cruz, a quem coube essa tarefa, estava decidido a hóstia. A notícia do suposto milagre - da hóstia que teria se transfor-
erradicar a febre amarela, com o combate aos mosquitos, a varíola, mado em sangue - espalhou-se, aumentando o prestígio do padre,
com a vacinação, e a peste bubônica, com a caça aos ratos, cujas que passou a ser idolatrado na região. Além das funções de padre,
pulgas transmitiam a doença.
ele desempenhava as de juiz e conselheiro, ensinava práticas de hi-
Em junho de 1904, Rodrigues Alves enviou um projeto de lei ao
giene, acolhia doentes e criminosos arrependidos.
Congresso que propunha a obrigatoriedade da vacinação contra a
Seu prestígio era tamanho que a alta hierarquia da Igreja che-
varíola. Havia grande insatisfação popular contra as reformas urba-
gou a ficar incomodada e temerosa de que essa veneração estimu-
nas do prefeito Pereira Passos. Mas a obrigatoriedade de introduzir
líquidos desconhecidos no corpo, imposta de maneira autoritária lasse práticas religiosas fora de seu controle - o que, de fato, aconte-
pelo governo e sem esclarecimentos à população, que à época des- ceu. Em 1892, o padre foi impedido de pregar e ouvir em confissão.
conhecia os benefícios da vacinação, gerou forte resistência. Dois anos depois, a Congregação para a Doutrina da Fé decretou a
Havia também razões morais contra a vacinação obrigatória. À falsidade do milagre em Juazeiro do Norte, provocando a reação da
época, os homens não admitiam que, em sua ausência, suas resi- população. Movimentos de solidariedade se formaram e irmanda-
dências fossem invadidas por estranhos que tocassem no corpo de des se mobilizaram a favor do padre Cícero. Imensas romarias pas-
suas esposas e filhas para aplicar vacinas. Como a maioria das mu- saram a se dirigir à cidade. Beatas diziam ter visões que anunciavam
lheres partilhava desses mesmos valores, quando a lei da vacinação a proximidade do fim do mundo e o retorno de Cristo. Surgia um
obrigatória foi publicada nos jornais, estourou uma revolta no Rio movimento que desafiava as autoridades eclesiásticas da região.
de Janeiro. Em 1911, inserido na política oligárquica local, padre Cícero foi
Inicialmente, militares tentaram depor Rodrigues Alves, mas eleito prefeito de Juazeiro do Norte e se tornou o principal articula-
logo foram dominados por tropas fiéis ao governo. A maior reação, dor de um pacto entre os coronéis da região do vale do Cariri. Padre
entretanto, ficou por conta da população mais pobre. Entre os dias Cícero lutou em vão até o ano de sua morte, 1934, para provar que
10 e 13 de novembro de 1904, a cidade foi tomada por manifes- o milagre em Juazeiro do Norte havia ocorrido. Apenas em 2016, a
tantes populares: as estreitas ruas do centro foram bloqueadas por Igreja Católica se reconciliou com o padre, suspendendo todas as
barricadas e os policiais, atacados com pedradas. punições que havia lhe imposto.
A repressão policial foi violenta. Qualquer suspeito de haver
participado da revolta foi jogado em porões de navios e manda- Guerra de Canudos
do para o Acre. A vacinação obrigatória acabou sendo suspensa, e, Antônio Vicente Mendes Maciel andava pelos sertões nordes-
quatro anos depois, uma epidemia de varíola matou mais de 6 mil tinos pregando a fé católica. Tornou-se um beato conhecido como
pessoas no Rio de Janeiro. Foram necessários muitos anos para que Antônio Conselheiro e passou a ser seguido por muitas pessoas.
os governantes reconhecessem que nada conseguiam com Imposi- Em 1877, fixou-se com centenas delas no arraial de Canudos, um
ções e práticas autoritárias sobre a população. Nos anos 1960, com lugarejo abandonado no interior da Bahia, às margens do rio Vaza-
campanhas de esclarecimento, a vacinação em massa tornou-se co- -Barris, ao qual renomearam Belo Monte. A comunidade cresceu
mum no país. Em 1971, ocorreu o último caso de varíola no Brasil.
rapidamente. Famílias, que fugiam da exploração dos latifundiários
da região ou abandonavam suas terras de origem devido à seca,
Revolta da Chibata
foram para Canudos.
Os marujos da Marinha de Guerra brasileira viviam sob péssi-
Também foi o caso de jagunços, que serviam aos coronéis, mas
mas condições de trabalho: soldos miseráveis, má alimentação, tra-
balhos excessivos e opressão da oficialidade. Mas os castigos físicos haviam caído em desgraça. Estima-se que em poucos anos o arraial
aos quais eram submetidos, principalmente com o uso da chibata, recebeu entre 20 e 30 mil pessoas pobres, em sua grande maioria,
eram ainda mais graves. mas que em Canudos tinham ao menos uma casa para morar e ter-
ra para plantar.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Canudos tinha uma rígida organização social. No comando es- O Modernismo
tava António Conselheiro, também chamado de chefe, pastor ou
pai. Doze homens, denominados apóstolos, assumiram as chefias No Brasil, como em grande parte do mundo ocidental, a vida
dos setores de guerra, economia, vida civil, vida religiosa etc. O cultural era fortemente influenciada pelos europeus. No vestuário,
arraial contava com uma guarda especial formada pelos jagunços, na culinária, na literatura, na pintura, no teatro e em outras mani-
chamada Companhia do Bom Jesus ou Guarda Católica. Havia tam- festações artístico-culturais, adorava-se, sobretudo, o padrão fran-
bém comerciantes. cês como modelo.
Em 1896, um incidente alterou a paz do arraial. Comerciantes Com o fim da Primeira Guerra Mundial, em 1918, isso começou
de Juazeiro não entregaram madeiras compradas por Conselheiro a mudar. A guerra resultou no declínio econômico e político dos
para a construção de uma nova igreja. Os jagunços se vingaram sa- países envolvidos no conflito e suscitou, ao menos nas Américas, a
queando a cidade. Em resposta, o governador baiano enviou duas dúvida quanto à superioridade da cultura europeia. Nos anos 1920,
expedições punitivas a Canudos, ambas derrotadas pelos conselhei- em diversas cidades do Brasil, principalmente em São Paulo e no
ristas. Rio de Janeiro, surgiram jornais, revistas e manifestos publicados
Denúncias de que Canudos e António Conselheiro faziam parte por artistas e intelectuais que, preocupados com a modernização
de um amplo movimento que visava restaurar a monarquia no país do país, discutiam o que era ser brasileiro. Recusavam-se a copiar
chegavam nas capitais dos estados. A imprensa do Rio de Janeiro e padrões europeus e propunham uma nova maneira de pensar e de-
de São Paulo, sobretudo, insistia na existência de um complô mo- finir o Brasil, valorizando a memória nacional e a pesquisa das raízes
narquista. Na capital da República, estudantes, militares, escritores, culturais dos brasileiros.
jornalistas, entre outros grupos sociais, responsabilizavam o presi- Era o movimento modernista, que se manifestou com grande
dente Prudente de Morais por não reprimir Canudos. impacto em São Paulo. Entre os dias 11 e 18 de fevereiro de 1922, o
Nesse contexto foi então organizada uma terceira expedição, Teatro Municipal de São Paulo abrigou a Semana de Arte Moderna.
chefiada pelo coronel Moreira César, veterano na luta contra os Em três noites de apresentação, artistas e intelectuais exibiram suas
federalistas gaúchos. Formada por 1.300 homens do Exército bra- obras: houve música, poesia, pintura, escultura, palestras e deba-
sileiro e seis canhões, ela foi derrotada pelos conselheiristas, que tes.
mataram o coronel. O fato tomou proporções nacionais, e Canudos Nas artes plásticas, destacaram-se Anita Malfatti, Di Cavalcanti
passou a ser visto como uma real ameaça à República. Formou-se, - responsável pela arte da capa do catálogo da exposição - e Lasar
assim, uma quarta expedição, que contava com 10 mil homens. Em Segall (pintura); Vitor Brecheret (escultura); e Oswaldo Goeldi (gra-
outubro de 1897, o arraial foi destruído e sua população, massacra- vura). Oswald de Andrade apresentou as revistas Papel e Tinta e
da - mesmo aqueles que se renderam foram degolados. Pirralho, leu textos e poemas.
Mário de Andrade, Ronald de Carvalho e Graça Aranha tam-
Guerra do Contestado bém leram seus trabalhos. O maestro Villa-Lobos impressionou o
Em 1911, um pregador itinerante de nome José Maria apa- público quando, na orquestra que regia, incluiu instrumentos de
receu na região central de Santa Catarina. Ele afirmava que tinha congada, tambores e uma folha de zinco. O público vaiou.
sido enviado pelo monge João Maria, morto alguns anos antes. Acostumada ao padrão europeu de música, a audiência rejei-
Na região Sul do país, monge tinha o mesmo significado que be- tava os instrumentos musicais das culturas africanas e indígenas.
ato no Nordeste. João Maria, quando vivo, fora contra a instaura- Para os modernistas, era preciso mostrar às elites que essas cultu-
ção da República e acreditava que somente a lei da monarquia era ras também eram formadoras da cultura nacional.
verdadeira. Apresentando-se como um continuador de suas ideias,
José Maria organizou uma comunidade formada por milhares de O Tenentismo
homens e mulheres em Taquaruçu, nas proximidades do município
catarinense de Curitibanos. Armados e sob a liderança de José Ma- Enquanto isso, setores da média oficialidade do Exército - como
ria, eles criticavam a República. tenentes e capitães - atacavam o governo com armas, em um movi-
Muitos homens e mulheres que participavam desse movimen- mento conhecido como tenentismo. Alguns criticavam o liberalismo
to conhecido como Contestado, por ter ocorrido em uma área dis- e defendiam um Estado forte e centralizado, expressando um nacio-
putada entre os estados do Paraná e de Santa Catarina, eram pe- nalismo não muito bem definido. Exigiam a moralização da política
quenos proprietários expulsos de suas terras devido à construção e das eleições e defendiam a adoção do voto secreto. Muitos se
de uma ferrovia, a Brazil Railway Company, que ligaria os estados mostravam ressentidos com os políticos, pelo papel secundário do
de São Paulo e do Rio Grande do Sul. A empresa pertencia a um dos Exército na política nacional. A primeira revolta tenentista ocorreu
homens mais ricos do mundo, o estadunidense Percival Farquhar. no Rio de Janeiro, em 1922. Após os rebelados tomarem o Forte de
Como parte do pagamento à empresa construtora, o governo Copacabana, canhões foram disparados contra alvos considerados
estadual doou 15 quilômetros de terras de cada lado da linha, pre- estratégicos. O objetivo era impedir posse do presidente eleito Ar-
judicando os camponeses que ali viviam. A situação era agravada thur Bernardes e, no limite, derrubar o governo.
pela presença de madeireiras. Atacados pela polícia, em 1912, des- O presidente Epitácio Pessoa, com o apoio do Exército e da
locaram-se para Palmas, no Paraná. Marinha, ordenou o bombardeamento do forte. Muitos desistiram
O governo do estado, que considerou se tratar de uma inva- da luta, mas 17 deles decidiram resistir. Com fuzis nas mãos, mar-
são dos catarinenses, atacou a comunidade e matou José Maria, charam pela avenida Atlântica. Um civil se juntou a eles. Ao final,
dispersando a multidão de homens e mulheres que o seguia. Um sobraram apenas os militares Siqueira Campos e Eduardo Gomes.
ano depois, cerca de 12 mil fiéis se reagruparam em Taquaruçu. A A rebelião ficou conhecida como a Revolta dos 18 do Forte.
liderança do movimento ficou a cargo de um conselho de chefes, Em 1924, eclodiu outra revolta tenentista, dessa vez em São
que difundiu a crença de que José Maria regressaria à frente de Paulo. Os revoltosos tomaram o poder na capital paulista. O objeti-
um exército encantado para vencer as forças do mal e implantar o vo era incentivar revoltas todo o país até a derrubada do presiden-
paraíso na Terra. Em fins de 1916, forças do Exército e das polícias te Arthur Bernardes. A reação do governo federal foi bombardear
estaduais, com o apoio de aviões, reprimiram o movimento, matan- a cidade. Acuados, os revoltosos resolveram marchar para Foz do
do milhares de rebeldes. Iguaçu.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A Coluna Prestes A crise eclodiu com o assassinato de João Pessoa, em julho de
Enquanto isso, no Rio Grande do Sul, o jovem capitão Luís 1930. Apesar de se tratar de um crime que misturava razões polí-
Carlos Prestes liderava uma coluna militar que, partindo de Santo ticas locais e passionais, os políticos da Aliança Liberal transforma-
Ângelo, marchava ao encontro dos rebelados paulistas em Foz do ram o episódio em questão nacional e deflagraram uma revolução.
Iguaçu. Quando se encontraram, em abril de 1925, formaram a Iniciada em 3 de outubro de 1930, em Minas Gerais e no Rio
Coluna Prestes-Miguel Costa e partiram em direção ao interior do Grande do Sul, ela se alastrou rapidamente pelo Nordeste. Diante
país, para mobilizar a população contra o governo e as oligarquias. da possibilidade de uma guerra civil, altos oficiais do Exército e da
Com cerca de 1500 homens, atravessaram 13 estados. Perse- Marinha depuseram o presidente Washington Luís e formaram uma
guido pelo Exército, Prestes, com táticas militares inteligentes, im- Junta Militar. Com a chegada das tropas rebeldes ao Rio de Janeiro,
pôs várias derrotas às tropas governistas - que nunca o derrotaram. entregaram o poder a Getúlio Vargas. O movimento político-militar
Após marcharem 25 mil quilômetros, cansados e sem perspectivas, conhecido como Revolução de 1930 saía vitorioso. Era o início da
em 1927 os soldados da coluna entraram no território boliviano, Era Vargas.
onde conseguiram asilo político. Por sua luta e capacidade de co-
mando, Luís Carlos Prestes passou a ser considerado um herói e
conhecido como “Cavaleiro da Esperança “.
A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL E SEUS
A Revolução de 1930 EFEITOS NO BRASIL

No início da década de 1920, o sistema político da Primeira Re- PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL
pública começava a apresentar sinais de esgotamento. A realização
da Semana de Arte Moderna, a fundação do Partido Comunista do Contexto
Brasil e a eclosão da Revolta dos 18 do Forte eram indícios desse
esgotamento. A própria sucessão presidencial, também no ano de Como explicar a Grande Guerra? O que fez os países europeus
1922, foi marcada por uma forte disputa entre os grupos políticos deflagrarem um conflito que os levaria à ruína? Urna explicação bas-
estaduais. tante conhecida reitera o caráter imperialista da guerra, ressaltan-
Paulistas e mineiros haviam concordado em apoiar o mineiro do as disputas entre Grã-Bretanha e Alemanha pela redistribuição
Arthur Bernardes. Mas as lideranças políticas do Rio de Janeiro, do das colônias africanas e asiáticas - e do mercado mundial também5.
Rio Grande do Sul, da Bahia e de Pernambuco optaram por lançar No entanto, para compreendê-la, é necessário considerar ou-
Nilo Peçanha como candidato. O movimento, conhecido como Rea- tros aspectos. Por exemplo, o fato de a guerra haver se concentra-
ção Republicana, não propunha romper com o sistema oligárquico, do em território europeu e as batalhas em regiões coloniais terem
mas abrir espaço para os grupos dominantes de outros estados, de- ocorrido como consequência do que acontecia na Europa. Também
safiando o domínio de paulistas e mineiros. No entanto, os resulta- é preciso ponderar que, às vésperas da Grande Guerra, os conflitos
dos das eleições eram previsíveis e Arthur Bernardes saiu vitorioso. decorrentes das disputas coloniais não se apresentavam como inso-
Os líderes da Reação Republicana não aceitaram a derrota e lúveis ou inegociáveis. Além disso, é fundamental analisar a conjun-
apelaram para os militares - o que fez eclodir a revolta tenentista tura política dos países europeus naquela época.
no Forte de Copacabana, em 5 de julho de 1922. Arthur Bernardes Desde fins do século XIX, urna série de rivalidades políticas era
governou sob estado de sítio, perseguiu o movimento operário e alimentada pelo clima de exacerbação nacionalista e pelo avanço
atuou de maneira bastante impopular nas cidades. Em 1926, dissi- do militarismo no continente, sobretudo na Grã-Bretanha, na Ale-
dentes do PRP fundaram o Partido Democrático (PD), em São Paulo. manha, na França e na Rússia. A Inglaterra foi o primeiro país a se
O novo partido defendia a adoção do voto secreto e obrigatório, a industrializar, dispondo de vasto mercado consumidor. Além de
criação da Justiça Eleitoral e a independência dos três pode fornecer produtos industrializados para Suas colônias, delas rece-
O sucessor de Arthur Bernardes, Washington Luís, suspendeu o bia boa parte das matérias-primas de que necessitava. No início do
estado de sítio e as perseguições ao movimento sindical. No entan- século XX, porém, os ingleses passaram a sofrer a competição de
to, não concedeu a anistia política aos tenentes, como exigiam as outros países que também se industrializavam, corno era o caso da
oposições. Em 1929, começaram as articulações para a nova suces- Alemanha, cuias indústrias eram fortes concorrentes para as ingle-
são presidencial. O presidente Washington Luís, do Partido Repu- sas.
blicano Paulista, indicou para sucedê-lo o presidente do estado de A Alemanha investiu pesadamente na industrialização, incen-
São Paulo, Júlio Prestes. Inconformadas, as oligarquias mineiras se tivando a formação de grandes empresas, mediante a associação
aliaram aos gaúchos e aos paraibanos, lançando o nome do gaúcho entre indústrias e bancos, e desenvolveu um sistema educacional
Getúlio Vargas para a presidência e do paraibano João Pessoa para técnico bastante eficiente. Na França, embora houvesse muitas
a vice-presidência. indústrias, predominava uma economia agrária - no tocante à in-
O Partido Democrático, de São Paulo, apoiou a candidatura de dustrialização, os franceses estavam atrás de ingleses e alemães. A
Vargas. Os dissidentes então formaram a Aliança Liberal, cuja pla- Rússia, predominantemente agrária, era a economia mais frágil en-
taforma política defendia o voto secreto, a criação de uma Justiça tre os gigantes europeus. Além disso, a maioria das principais indús-
Eleitoral, a moralização da prática política, a anistia para os militares trias em seu território era controlada por investidores estrangeiros.
revoltosos dos anos 1920 e o estabelecimento de leis trabalhistas.
Nas eleições ocorridas em março de 1930, Júlio Prestes venceu,
mas os políticos da Aliança Liberal não aceitaram a derrota, alegan-
do fraudes eleitorais. Mineiros e gaúchos conseguiram o apoio dos
tenentes na luta contra o governo. No exilio argentino, Luís Carlos
Prestes tinha aderido ao comunismo e recusou-se a participar das
conversações.
5 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São
Paulo. Saraiva.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Tensões pré-Guerra Com a França as dificuldades eram maiores devido ao ressenti-
mento dos franceses após a derrota na Guerra Franco-Prussiana. O
Naquele cenário tenso, em que as rivalidades entre os países sistema de Bismarck, como ficou conhecido o modo como o chan-
se agravavam, destaca-se a que havia entre França e Alemanha. Na celer alemão conduziu a política externa do Império Alemão, ficou
Guerra Franco-Prussiana, travada entre 1870 e 1871, os franceses ainda mais claro quando, em 1879, um pacto com o Império Aus-
perderam para os alemães as regiões da Alsácia-Lorena, ricas em tro-Húngaro contra quaisquer agressões vindas do leste ou do oeste
carvão. O episódio feriu gravemente o orgulho dos franceses, que foi firmado. Com a adesão da Itália em 1882, formou-se a chamada
julgavam ser uma questão de honra a recuperação desses territó- Tríplice Aliança. Na Conferência de Berlim, encerrada em 1885, Bis-
rios. marck também renunciou a maiores ambições coloniais, para não
Com a ascensão da Alemanha à categoria de grande potên- provocar britânicos e franceses.
cia capitalista, as tensões aumentaram ainda mais no continente, O sistema do chanceler, contudo, entrou em colapso após sua
acentuando o desequilíbrio econômico e social. Para proteger seu renúncia, em 1890. Negando a política de Bismarck, o imperador
comércio exterior, a Alemanha investiu em uma marinha mercante Guilherme II lançou a Alemanha em uma política de expansão ter-
e de guerra, reforçando a concorrência com os produtos ingleses. A ritorial (Weltpolitik).
tensão entre a Alemanha, de um lado, e a França e a Grã-Bretanha, Em 1894, a França firmou com a Rússia uma entente, isto é, um
de outro, aumentou quando os alemães estabeleceram uma aliança acordo que foi confirmado dois anos depois. Ao superar as rivalida-
diplomática e militar com o Império Austro-Húngaro. Mas esses não des na corrida colonial, a França também se aproximou da Grã-Bre-
eram os únicos focos de atrito no continente. tanha. Esse entendimento deu origem em 1904 à Tríplice Entente -
O Império Austro-Húngaro era um mosaico de nacionalidades que incluía a Rússia. Foi nessa tensa conjuntura política que marcou
- havia tchecos, eslovacos, bósnios, sérvios, croatas, romenos - que o final do século XIX na Europa que se originou a Grande Guerra.
lutavam por autonomia. Os sérvios, por exemplo, identificavam-se A disputa pela hegemonia política, agravada pelas ideologias
com os interesses nacionais e culturais dos russos, alimentando di- nacionalistas e pelo militarismo, havia se tornado central para as
ferenças e antagonismos com os austríacos. A Rússia e o Império potências europeias, divididas em dois blocos rivais, a Tríplice Alian-
Turco-Otomano mantinham ressentimentos recíprocos. ça e a Tríplice Entente. Qualquer guerra que viesse a eclodir no con-
A exemplo dos impérios Russo e Austro-Húngaro, o Turco-O- tinente envolveria um amplo conjunto de nações.
tomano também abrigava povos de várias línguas e religiões. Todo
esse clima de competição e rivalidade entre os países foi intensifi- Paz Armada
cado com a expansão das ideologias nacionalistas. As rivalidades Antes da eclosão da Grande Guerra, ainda na primeira década
políticas e o crescimento dos nacionalismos na Europa tiveram peso do século XX, houve um grande investimento nas Forças Armadas
decisivo na eclosão da Grande Guerra. das principais potências europeias. Alemanha, Grã-Bretanha, Fran-
ça, Rússia estimularam o alistamento de milhões de homens, com
Fim do Equilíbrio Europeu
base nos ideais de nacionalismo e patriotismo, e encomendaram às
suas indústrias armas, munições, navios de guerra, uniformes etc.
A partir de 1880, diversos grupos organizados - em sintonia
Como os países ainda não estavam em guerra, tratava-se de
com a burguesia e os proprietários rurais - passaram a defender
uma paz armada. Apesar dos lucros que tal investimento gerou para
ideias fortemente nacionalistas. Recorrendo a discursos ufanistas
a indústria bélica, é um engano supor que a Grande Guerra ocorreu
e emocionais, essas organizações acreditavam que podiam mobi-
principalmente devido aos interesses desse setor. Às vésperas do
lizar a população, reforçando o patriotismo, inclusive, entre povos
confronto, cerca de 19 milhões de soldados estavam prontos para
que não contavam com um Estado constituído, como era o caso dos
sérvios. as batalhas. Quando a guerra, de fato, começou, os próprios gover-
As ideologias nacionalistas exaltavam as qualidades do Estado- nantes ficaram surpresos com o entusiasmo que tomou conta das
-nação e a ideia de superioridade em relação aos demais povos. populações.
Britânicos e franceses, por exemplo, acreditavam em uma suposta
capacidade civilizadora do mundo. Os alemães, por sua vez, sonha- Grande Guerra Mundial (1914-1918)
vam com uma “Grande Alemanha”, apoiada no pangermanismo
ideologia que defendia a anexação dos povos germânicos espalha- O pretexto para a deflagração da guerra foi o assassinato do
dos pela Europa Central, como holandeses, dinamarqueses (de lín- príncipe herdeiro do Império Austro-Húngaro, Francisco Ferdinan-
gua alemã), austríacos, entre outros. do, e de sua esposa, cometido por um nacionalista sérvio do grupo
Os russos apostavam na unificação dos povos eslavos dispersos Mão Negra, no dia 28 de junho de 1914, na cidade de Sarajevo,
pela Europa Oriental e pelos territórios do Império Austro-Húngaro capital da Bósnia-Herzegovina, à época província do império.
- sérvios, eslovacos, poloneses, tchecos etc. Era o pan-eslavismo Ao assumir o trono, Francisco Ferdinando pretendia transfor-
russo. Mas havia também o pan-eslavismo sérvio, cuja missão era mar o Império Austro-Húngaro, então uma monarquia dual com-
agrupar os eslavos do sul da Europa: eslovacos, croatas, búlgaros posta pela Áustria e pela Hungria, em uma monarquia tríplice, re-
etc. conhecendo as populações eslavas que o compunham. Essa ideia,
Apesar dessas rivalidades, a paz foi garantida no continente eu- contudo, contrariava os interesses nacionalistas dos sérvios, que ti-
ropeu nas últimas décadas do século XIX, em grande parte, pelo sis- nham a pretensão de agrupar os eslavos do sul da Europa e formar
tema diplomático criado pelo chanceler alemão Otto von Bismarck, uma “Grande Sérvia” independente.
cujo objetivo era estabelecer uma ordem internacional favorável ao Em decorrência do assassinato de Francisco Ferdinando, a mo-
Império Alemão. Para tanto, ele procurou evitar confrontos com a narquia austro-húngara declarou guerra aos sérvios em 28 de julho
Grã-Bretanha, de modo a manter a neutralidade britânica na por- de 1914. Os russos logo se posicionaram em defesa dos sérvios. Os
ção continental da Europa. alemães, solidários aos austríacos, declararam guerra à Rússia no
dia 1 de agosto e, dois dias depois, à França, colocando em ação o
ambicioso Plano Schlieffen: derrotar rapidamente a França antes
que a Rússia pudesse mobilizar suas tropas.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Desse modo, evitariam lutar em duas frentes de batalha. Para Em 1917, após três anos de lutas incessantes, as sociedades
alcançar o território francês, invadiram a Bélgica - país que havia se europeias envolvidas no conflito estavam cansadas, e os soldados,
declarado neutro no conflito. Alegando a quebra da neutralidade exaustos. O bloqueio naval franco-britânico e a guerra submarina
belga, os britânicos declararam guerra contra a Alemanha, honran- alemã levaram a população europeia à fome. O custo de vida dis-
do a Tríplice Entente. A Itália, até então integrante da Tríplice Alian- parou, os salários não aumentavam e as mercadorias sumiam das
ça, mudou de lado, seduzida pelas promessas da Grã-Bretanha de prateleiras.
concessões territoriais da Alemanha na África. Estimulado pelos protestos nas cidades, um amplo movimento
O conflito generalizou-se quando o Império Turco-Otomano pacifista surgiu exigindo o fim da guerra. A partir de junho de 1918,
declarou guerra aos seus antigos inimigos russos e aliou-se aos a Tríplice Aliança acumulou sucessivas derrotas. Enquanto alemães
germânicos. Cada país beligerante contou com o apoio, por vezes e austríacos conheciam a fome, britânicos e franceses recebiam
entusiasmado, de suas sociedades. O nacionalismo exacerbado e ajuda material e militar dos Estados Unidos.
a crença de que o conflito era inevitável e seria curto mobilizaram O Império Austro-Húngaro ruiu, resultando na instauração de
amplos setores sociais de cada um dos países beligerantes. uma república. Na Alemanha, o imperador Guilherme II abdicou e,
diante da iminente derrota, o novo governo assinou o armistício em
Guerra de Trincheiras 11 de novembro de 191 S. A Alemanha tornou-se uma república,
As potências que compunham a Tríplice Aliança tiveram de conhecida como República de Weimar.
combater em duas frentes: na ocidental, depois que os alemães de-
clararam guerra à França, e na oriental, de modo a impedir o avan- Consequências da Primeira Guerra Mundial
ço dos russos. Na frente ocidental a guerra de trincheiras se impôs
como realidade - e como um dos maiores horrores do conflito. Trin- No início de 1918, antes do término do conflito, o presidente
cheiras foram cavadas ao longo de centenas de quilômetros, cor- estadunidense Woodrow Wilson apresentou um plano para encer-
tando o território europeu de norte a sul e impedindo os exércitos rar a guerra. Entre os chamados 14 pontos de Wilson estavam: abo-
alemães e franceses de avançar. lição da diplomacia secreta, tornando-a de conhecimento público;
No final do ano de 1914, os envolvidos no conflito perceberam liberdade de navegação e fim das barreiras econômicas entre as
que ele não seria rápido nem curto. nações; limitação dos arsenais armamentistas; redefinição dos limi-
O uso de novas armas também contribuiu para fazer da Gran- tes territoriais italianos; reformulação das práticas colonialistas que
de Guerra um verdadeiro cenário de horrores. Pela primeira vez, considerasse os interesses dos povos colonizados; independência
utilizava-se o avião como arma bélica. Os britânicos inventaram o da Bélgica e da Polônia; restauração da Sérvia, de Montenegro e
tanque de guerra. Já os alemães usaram lança-chamas e armas quí- da Romênia; devolução da Alsácia-Lorena à França; autonomia dos
micas, como o gás mostarda, que provo- cavam graves queimadu- povos submetidos ao Império Turco-Otomano; ajuda à Rússia; e,
ras. Mas o grande trunfo alemão foi o submarino. por fim, criação da Liga das Nações.
Ao afundar navios mercantes, sobretudo os que transportavam Apesar de estar apoiado na justiça entre os povos - sem venci-
alimentos, eles conseguiram causar grande dano à população civil. dos nem vencedores - e atender a diversos interesses, o plano não
Com seus submarinos, a Alemanha também conseguiu afundar interessou aos governos da França e da Grã-Bretanha. Aos vitorio-
quase um terço da frota britânica, em represália ao bloqueio naval sos interessava condenar pesadamente a Alemanha e eles assim
decretado pelas potências da Tríplice Aliança. fizeram.
Em 19 de janeiro de 1919, diplomatas dos países vencedores
Os Rumos da Guerra encontraram-se na Conferência de Paris, com o objetivo de chegar
a um acordo que resultasse no desarmamento da Alemanha e na
A despeito do uso do avião e do submarino, o conflito foi tra- reparação das perdas materiais provocadas pela guerra. O resulta-
vado, sobretudo, em terra. Na frente ocidental, a segunda grande do foi o Tratado de Versalhes, que entre os alemães ficou conhe-
ofensiva alemã ocorreu em 1916. Embora dispusessem de ampla cido como Ditado de Versalhes, por ser impositivo e humilhante.
superioridade militar, os alemães esbarraram na tenaz resistência De acordo com esse tratado, fundamentado na cláusula de culpa
francesa. de guerra estabelecida pelos vitoriosos, a Alemanha deveria ceder
Já na frente oriental, as forças alemãs e austríacas conseguiram à França a Alsácia-Lorena e as minas de carvão da bacia do Sarre.
barrar os russos. A vitória tendia para o lado alemão, mas os acon- Deveria ceder também parte de seu território para a Bélgica, a
tecimentos começaram a mudar com a entrada dos Estados Unidos Dinamarca, a Lituânia e a Polônia - que ganhou, assim, uma saída
no conflito, em abril de 1917, após três anos de neutralidade. Havia para o mar, o chamado corredor polonês, e recuperou sua indepen-
afinidade política e cultural entre os EUA e a Grã-Bretanha, além de dência.
interesses econômicos em curso - os estadunidenses vendiam ar- As colônias alemãs na África foram divididas entre a França e
mas e alimentos aos britânicos e aos franceses -, mas o governo só a Grã-Bretanha. Além de perder dois quintos de suas minas de car-
entrou na guerra quando a situação parecia desfavorável aos seus vão, dois terços das minas de ferro, um sexto das terras cultiváveis
aliados. e um oitavo de todo seu gado bovino, a Alemanha teve todos os
A entrada dos Estados Unidos no conflito favoreceu a Tríplice seus investimentos no exterior confiscados para pagar uma pesada
Aliança e fez com que a guerra, a partir daí, se tornasse mundial. indenização aos vencedores.
Meses depois, contudo, em outubro de 1917, ocorreu uma nova As imposições ainda incluíam a redução do Exército alemão a
reviravolta, beneficiando a Alemanha: eclodia uma revolução na 100 mil homens, no máximo, a proibição de produzir armamentos
Rússia. (canhões, aviões militares e artilharia antiaérea) e a entrega de seus
Em dezembro, o novo governo, de orientação socialista, aca- submarinos e navios (mercantes e de guerra) à Grã-Bretanha, à
tando a vontade da população, anunciou a retirada do país da guer- França e à Bélgica.
ra. O custo dessa decisão foi grande para a Rússia, que teve de ce-
der vários territórios para a Alemanha. Além disso, com a saída dos
russos do conflito, os alemães puderam concentrar suas forças na
frente ocidental.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Mas a Alemanha não foi a única a pagar a conta da guerra. A
cláusula de culpa também atingia o Império Austro-Húngaro. De A REVOLUÇÃO DE 1930. O PERÍODO VARGAS
seu desmembramento surgiram a Áustria, a Hungria, a Tchecoslo-
váquia e a lugoslávia. O Império Turco-Otomano também desmo- A ERA VARGAS
ronou, dando origem ao Iraque, à Síria, ao Líbano, à Palestina e à
Transjordânia, nações sob controle da França e da Grã-Bretanha. O Governo Provisório
antigo império ficou reduzido à atual Turquia.
Em abril de 1919, foi fundada a Sociedade ou Liga das Nações, Ao assumir a chefia do governo provisório em 1930, apoiado
com sede em Genebra, na Suíça, com o objetivo de garantir a paz pelos militares, Getúlio Vargas aboliu a Constituição de 1891, dis-
e resolver os conflitos entre os países por meio de negociações e solveu o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais
arbitramentos. Embora a iniciativa tenha partido do presidente es- e as Câmaras municipais e instituiu um regime de emergência. Com
tadunidense Woodrow Wilson, o Congresso dos EUA não aprovou exceção do governador Olegário Maciel, de Minas Gerais, todos os
a entrada do país na organização, optando pelo isolamento inter- demais (na época, chamados de presidentes de estado) foram subs-
nacional. tituídos por interventores, pessoas da confiança do presidente, es-
colhidos por ele entre os egressos do movimento tenentista6.
Os números da Guerra Em São Paulo, a nomeação do tenentista pernambucano João
Alberto Lins de Barros para interventor provocou descontentamen-
As consequências da Grande Guerra foram trágicas. Calcula-se to entre as elites, que passaram a exigir um interventor civil e pau-
que cerca de 10 milhões de pessoas, entre militares e civis, morre- lista. Os desdobramentos do descontentamento da população em
ram no conflito - desse total, aproximadamente, 1 milhão de ale- relação a Vargas levaram à deflagração da Revolução Constituciona-
mães e 1 milhão e 500 mil franceses, a maioria com menos de 25 lista, em julho de 1932.
anos de idade. Milhões de mulheres tornaram-se viúvas, com filhos Devido à debilidade de suas convicções ideológicas, o tenentis-
para criar. mo perdeu muito de sua influência junto ao governo Vargas. Vários
Os países europeus que se envolveram no conflito saíram eco- de seus representantes voltaram para os quartéis, outros se aliaram
nomicamente arruinados, sobretudo a Alemanha. Até a Grã-Breta- ao comunismo ou a grupos simpatizantes do fascismo. Os que con-
nha, com todo seu extenso e rico império colonial, deixou de ser a tinuaram no governo permaneceram subordinados ao presidente.
grande potência do mundo. A partir de então, os países da Europa
conheceram o declínio econômico. Os EUA, que se industrializavam Legislação Trabalhista
a passos largos desde fins do século XIX, aceleraram sua ascensão
econômica, com os lucros advindos da venda de mercadorias e do A obra pela qual o governo de Getúlio Vargas é mais lembra-
fornecimento de empréstimos para os países envolvidos no confli- do é a legislação trabalhista, iniciada com a criação do Ministério
to, principalmente os da Tríplice Entente. do Trabalho, Indústria e Comércio, em novembro de 1930. As leis
Com o fim da guerra, assistiu-se ao declínio dos ideais liberais de proteção ao trabalhador regularam o trabalho de mulheres e
em boa parte da Europa. Enquanto a democracia liberal sofria for- crianças, estabeleceram jornada máxima de oito horas diárias de
tes críticas, as ideologias autoritárias de direita e de esquerda co- trabalho, criaram o descanso semanal remunerado e garantiram o
meçavam a ganhar prestígio. Como resultado, as décadas seguintes direito a férias (já concedido anteriormente, em 1923, porém nunca
seriam marcadas pelo confronto aberto entre partidos nacionalistas colocado em prática) e à aposentadoria, entre outras novidades.
radicais e partidos comunistas vinculados à orientação soviética. Esse conjunto de leis seria sistematizado em 1943, com a Con-
solidação das Leis do Trabalho (CLT). Ao mesmo tempo, em 1931
O Brasil na Grande Guerra 0 governo aprovou a Lei de Sindicalização, que estabelecia o con-
trole do Ministério do Trabalho sobre a ação sindical. Os sindica-
Apesar de ter se mantido neutro no conflito. o Brasil também tos passaram a ser órgãos consultivos do poder público; só podiam
sentiu as consequências da Grande Guerra. As exportações de café, funcionar com autorização do Ministério do Trabalho, que, por sua
por exemplo. caíram sensivelmente e a arrecadação de impostos vez, tinha poderes de intervenção tão importantes nas atividades
também, já que o principal deles incidia sobre as exportações. Por sindicais que podia até afastar diretores.
outro lado, a queda de importações provocada pela guerra estimu- Assim, anarquistas e comunistas foram afastados do movimen-
lou o desenvolvimento da indústria brasileira com tarifas protecio- to sindical pelo governo e reagiram à lei, considerada autoritária,
nistas e subsídios. por meio de greves e manifestações. Aos poucos, porém, diversos
Em fevereiro de 1917, os alemães passaram a atacar inclusive setores sindicais passaram a acatá-la.
os navios de países neutros. Mesmo com o protesto do governo A legislação trabalhista - apresentada à população como uma
brasileiro, o cargueiro Paraná, carregado com 4,5 toneladas de café, “dádiva do governo” - e a aproximação em relação aos sindicatos
foi torpedeado em abril daquele ano. faziam parte de um tipo de política que seria caracterizado como
Nesse contexto, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a populista, anos mais tarde. Apresentado como autor magnânimo
Alemanha. Em maio, dois outros navios brasileiros foram atacados. das leis trabalhistas, Getúlio era chamado de “pai dos pobres”, uma
Como o governo manteve a postura de neutralidade, nas ruas surgi- espécie de protetor da classe trabalhadora, desconsiderando as
ram movimentos de protesto, exigindo uma reação do governo. Em conquistas como resultado das lutas dos trabalhadores.
resposta, o presidente Wenceslau Braz declarou guerra à Alemanha
em outubro de 1917.

6 Azevedo, Gislane. História: passado e presente / Gislane Aze-


vedo, Reinaldo Seriacopi. 1ª ed. São Paulo. Ática.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A Constituição de 1934 A ANL cresceu rapidamente, chegando a reunir entre 70 mil e
100 mil filiados, segundo estimativas do historiador Robert Levine.
Em 1932, Getúlio Vargas ainda governava sob um regime de Quatro meses depois de fundada, foi declarada ilegal pelo presi-
exceção. Em fevereiro do mesmo ano, o governo aprovou um novo dente Vargas.
Código Eleitoral que trazia algumas novidades: A partir de então, seus militantes passaram a agir na clandes-
- criava a Justiça Eleitoral, para coibir as fraudes eleitorais; tinidade. Em novembro de 1935, setores da ANL ligados ao PC do
- instituía o voto secreto, principalmente para minar a influên- B lideraram, sob orientação da Internacional Comunista, insurrei-
cia dos coronéis sobre os eleitores (releia o Capítulo 3); ções mi- litares nas cidades de Natal, Recife e Rio de Janeiro, com
- reduzia de 21 anos para 18 a idade mínima do eleitor; o intuito de tomar o poder e implantar o comunismo no Brasil. Mal
- garantia o direito de voto às mulheres, antiga reivindicação articulados, os levantes fracassaram e a Intentona Comunista, como
dos grupos feministas, que tinham entre suas principais militantes a ficou conhecido o episódio, levou o presidente a decretar estado de
enfermeira Bertha Lutz (1894-1976). sítio e determinar a prisão de mais de 6 mil pessoas - entre as quais
um senador e quatro deputados.
Pressionado por diversos setores da sociedade, juntamente Entre os detidos encontravam-se Luís Carlos Prestes (posterior-
com a divulgação do novo Código Eleitoral, o governo convocou mente condenado a dezesseis anos de reclusão) e sua mulher, a
eleições para maio de 1933, visando à formação de uma Assembleia judia alemã Olga Benário. Ela, grávida de sete meses, foi deportada
Constituinte. Entre os 254 constituintes eleitos encontrava-se a mé- para a Alemanha nazista em setembro de 1936, onde morreu em
dica Carlota Pereira de Queirós, candidata por São Paulo e primeira um campo de concentração em 1942.
deputada do Brasil.
Promulgada em julho de 1934, a nova Constituição incorporou Eleições Canceladas
a legislação trabalhista em vigor, acrescentando a ela a instituição
do salário mínimo (que seria criado somente em 1940) e criou o Em meio a esse clima de repressão à esquerda, teve início, em
Tribunal do Trabalho. Pela nova Carta, analfabetos e soldados conti- 1937, a campanha eleitoral para a escolha do sucessor de Getúlio
nuavam proibidos de votar. Vargas. O presidente, contudo, articulava sua permanência no po-
Ainda em julho de 1934 os constituintes elegeram Getúlio Var- der junto às Forças Arma das e aos governadores. No final de 1937,
gas para a Presidência da República, pondo fim ao governo provisó- o capitão integralista Olímpio Mourão Filho elaborou um plano de
rio. De acordo com a Constituição, o mandato presidencial se esten- uma conspiração comunista para a tomada do poder e o entregou à
deria até 1938, quando um novo presidente escolhido por voto livre cúpula das Forças Armadas.
e direto assumiria o cargo. Era o Plano Cohen, nome de seu suposto autor. O documen-
to era falso, mas serviu de pretexto para um golpe de Estado. No
Governo Constitucional de Vargas dia 10 de novembro de 1937, o presidente ordenou o fechamento
do Congresso por tropas do Exército. Pelo rádio, Vargas declarou
Os anos 1930 foram marcados por uma forte polarização po- canceladas as eleições presidenciais e anunciou a instauração do
lítica, com o surgimento de dois movimentos antagônicos: a Ação Estado Novo, que ele definiu como “um regime forte, de paz, justiça
Integralista Brasileira (AIB), de direita, e a Aliança Nacional Liber- e trabalho”. A seguir, foi outorgada uma nova Constituição, que logo
tadora (ANL), de esquerda. passaria a ser chamada de Polaca, em alusão a suas semelhanças
A exemplo do que acontecia na Europa, onde a população geral com a Constituição polonesa, de inspiração fascista. As garantias in-
estava desacreditada da democracia liberal - o que favorecia o sur- dividuais foram suspensas e o direito de reunião, abolido. A popula-
gimento de regimes totalitários em diversos países -, surgiram no ção ficou proibida de se organizar, reivindicar seus direitos e de ma-
Brasil grupos que reivindicavam a implantação de uma ditadura de nifestar livremente suas opiniões. Sem reação popular, começava
direita, semelhante à de Mussolini na Itália. uma nova fase do governo getulista: a de uma ditadura declarada,
Em 1932, foi formada a Ação Integralista Brasileira, de inspi- centralizada em torno da figura de Getúlio Vargas.
ração fascista, liderada pelo escritor Plínio Salgado e composta de
intelectuais, religiosos, alguns ex-tenentistas e setores das classes O Estado Novo
médias e da burguesia. Tendo como lema “Deus, Pátria e Família”, o
integralismo era um movimento de caráter nacionalista, antiliberal, Vargas passou a governar por meio de decretos-lei. Todos os
anticomunista e contrário ao capitalismo financeiro internacional. partidos políticos foram extintos, incluindo a Ação Integralista, que
Os integralistas defendiam o controle do Estado sobre a eco- apoiara o golpe. A ideologia do Estado Novo enfatizava principal-
nomia e o fim de instrumentos democráticos, como a pluralidade mente a ideia de reconstrução da nação - pautada na ordem, na
partidária e a democracia representativa. Nas eleições municipais obediência à autoridade e na aceitação das desigualdades sociais
de 1936, os integralistas elegeram vereadores em diversos municí- - e a de tutela do Estado sobre a nacionalidade brasileira.
pios brasileiros e conquistaram várias prefeituras, entre elas as de
Blumenau (SC) e Presidente Prudente (SP). Departamento de Imprensa e Propaganda
A Aliança Nacional Libertadora surgiu em março de 1935, e
tinha como presidente de honra o líder comunista Luís Carlos Pres- Em 1939, foi criado o Departamento de Imprensa e Propagan-
tes. O Partido Comunista do Brasil (PC do B) tinha grande ascendên- da (DIP), inspirado no serviço de comunicação da Alemanha nazista.
cia sobre a ANL, mas o movimento reunia em suas fileiras grupos Os agentes do DIP controlavam os meios de comunicação por meio
de variadas tendências: socialistas, liberais, anti-integralistas, inte- da censura a jornais, revistas, livros, rádio e cinema. Eles também
lectuais independentes, estudantes e ex-tenentistas descontentes elaboravam a propaganda oficial do Estado Novo, produzindo peças
com o autoritarismo do governo Vargas. Seu programa político era publicitárias que mostravam o presidente como uma figura pater-
nacionalista e anti-imperialista. Entre suas principais bandeiras es- nal, bondosa, severa e exigente a fim de agradar à opinião pública.
tavam a suspensão do pagamento da dívida externa, a nacionaliza-
ção de empresas estrangeiras e a reforma agrária.

166
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
O DIP elaborava também cine documentários, como o Cine-
jornal Brasileiro - exibido obrigatoriamente em todos os cinemas, A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E SEUS
antes do início dos filmes -, livros e cartilhas escolares enaltecendo EFEITOS NO BRASIL
a figura de Vargas e transmitindo noções de patriotismo e civismo.
Em meio ao ambiente de controle e repressão, a Polícia Espe- SEGUNDA GUERRA MUNDIAL
cial de Getúlio Vargas ganhou força. Comandada pelo ex-tenentista
Filinto Müller, ela ficou conhecida por suas prisões arbitrárias e pela Precedentes
prática de tortura contra os presos.
O regime nazista preparou a Alemanha para a guerra. As posi-
O Brasil e a Segunda Guerra Mundial ções de Hitler contra o Tratado de Versalhes (1919), o rearmamen-
to progressivo do Terceiro Reich e a instituição do serviço militar
Em 1940, Vargas fez um discurso elogiando o sucesso das tropas obrigatório não deixavam dúvida quanto aos seus objetivos expan-
nazistas na Europa. Entretanto, embora se aproximasse dos países sionistas. Um dos primeiros atos de Hitler foi a retirada da Alema-
do Eixo por suas posturas autoritárias, o governo de Getúlio Vargas nha da Liga das Nações - organismo internacional fundado ao final
manteve uma postura ambígua sobre a Segunda Guerra Mundial, da Primeira Guerra Mundial para resolver litígios entre os Estados7.
pois mantinha relações econômicas com os Estados Unidos. Os nazistas não cansavam de declarar seu direito ao espaço vi-
Para impedir a influência europeia sobre o Brasil, o governo tal, considerado necessário para a formação da “Grande Alemanha”
estadunidense pôs em prática a política de boa vizinhança, que se Em 1936, a Alemanha liderou o Pacto Anti-Komintern, aliando-se
manifestou por meio do fim do intervencionismo político e da cola- ao Japão contra o expansionismo soviético. A Itália fascista aderiu
boração econômica e militar. O rompimento definitivo com o bloco no ano seguinte. Foi uma reação ao VII Congresso da Internacional
nazifascista ocorreu em 1942, quando navios mercantes brasileiros Comunista, realizado em Moscou, um ano antes, que recomendou
foram afundados por submarinos alemães. aos partidos comunistas de todo o mundo a formação de frentes
Em agosto daquele ano, após manifestações populares e es- populares com socialistas e democratas contra a ascensão dos re-
tudantis exigindo que o governo entrasse no conflito ao lado das gimes fascistas.
democracias, Getúlio declarou guerra aos países do Eixo. Em julho França e Grã-Bretanha viram no fortalecimento alemão uma
de 1944, aproximadamente 25 mil soldados, integrantes da Força forma de conter o comunismo no limite das fronteiras soviéticas.
Expedicionária Brasileira (FEB) desembarcaram na Itália. Por esse motivo, calcularam que a guerra alemã em busca de seu
espaço vital se limitaria ao leste, talvez provocando a destruição da
O Fim do Estado Novo URSS, mas não chegaria aos países do Ocidente europeu e a seus
impérios coloniais na Ásia e na África. Mas os planos de Hitler logo
Em 1942, as manifestações estudantis e populares lideradas se mostraram bem mais ambiciosos.
pela União Nacional dos Estudantes (UNE), a favor da participação
do Brasil na guerra contra o nazifascismo, deram início a um lento Guerra Civil Espanhola
processo de distensão no clima sufocante do Estado Novo. Outras As democracias ocidentais nada fizeram para auxiliar o gover-
manifestações ocorreram, agora pelo fim do Estado Novo e pela no republicano espanhol, atacado pelo levante militar comandado
volta da democracia. pelo general Francisco Franco em 1936. Isso porque o governo ata-
Em 1943, houve o Manifesto dos Mineiros, de um grupo de po- cado era uma frente popular, inspirada na Internacional Comunista.
líticos e intelectuais de Minas Gerais durante um congresso da Or- Assim, essas democracias assistiram impassíveis à Guerra Civil Es-
dem dos Advogados do Brasil (OAB). No início de 1945, foi a vez dos panhola, que resultou no esmagamento do governo constitucional
participantes do Primeiro Congresso Brasileiro de Escritores. Ainda pelas tropas do general Franco.
em 1945, Getúlio pôs fim à censura da imprensa, anistiou presos O objetivo do generalíssimo, como era chamado, era defender
políticos - entre eles, Luís Carlos Prestes - e convocou eleições para os interesses das classes proprietárias e da Igreja Católica, amea-
uma Assembleia Constituinte. çados pelo movimento de esquerda que predominava no governo
Surgiram então diversos partidos políticos, entre os quais a republicano espanhol. As divergências entre as organizações e as
União Democrática Nacional (UDN), formada por setores das clas- lideranças de esquerda facilitaram a vitória do franquismo. No final
ses médias e altas, o Partido Social Democrático (PSD), composto de da guerra, Franco contou com o apoio direto de Hitler e de Musso-
antigos coronéis e interventores nos estados e o Partido Trabalhista lini, com aviões da Luftwaffe (Força Aérea alemã) bombardeando
Brasileiro (PTB), constituído por líderes sindicais ligados ao Ministé- cidades leais aos republicanos espanhóis, como Guernica - imortali-
rio do Trabalho, além do Partido Comunista do Brasil (PC do B), que zada em uma obra do pintor Pablo Picasso.
voltou a ser legalizado.
Durante a campanha eleitoral, líderes do PTB e de alguns sin- Guerra Política
dicatos, com o apoio do Partido Comunista e com o aval do presi-
dente, passaram a defender a permanência de Getúlio Vargas na As potências ocidentais europeias eram tolerantes quanto as
Presidência. A expressão “Queremos Getúlio!”, repetida em coro reivindicações territoriais do regime nazista. Assim, Hitler remilita-
pelos partidários desse grupo, deu nome ao movimento: queremis- rizou a Renânia, na fronteira com a França, em 1936, sem nenhu-
mo. Para evitar a permanência de Vargas no poder, os generais Góis ma resistência, contrariando cláusulas do Tratado de Versalhes. Em
Monteiro e Eurico Gaspar Dutra exigiram sua renúncia. 1938, anexou a Áustria, no episódio conhecido como Anschluss,
Com o afastamento de Getúlio em Outubro de 1945, o Estado após sabotar o regime democrático austríaco, em decorrência do
Novo chegava ao fim. forte movimento nazista existente naquele país.

7 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição. São


Paulo. Saraiva.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
No mesmo ano, reivindicou a posse dos Sudetos, na Tchecos- Os britânicos abandonaram a França à própria sorte, pois Chur-
lováquia, alegando que havia maioria alemã na região e ameaçan- chill temia perder homens e aviões em uma batalha condenada.
do invadir o lugar no caso de objeção das potências ocidentais. No Ficou famosa a retirada de Dunquerque, na qual os britânicos resga-
Tratado de Munique, assinado em setembro de 1938, Hitler atin- taram mais de 150 mil soldados encurralados no nordeste da Fran-
giu seu objetivo. Em março de 1939, tropas alemãs entraram em ça, usando até barcos de pesca. Paris foi ocupada pelos alemães em
Praga e decretaram que a Boêmia e a Morávia fariam parte de um 14 de junho.
protetorado alemão. Um dos poucos políticos a denunciar as inten- O novo governo francês, comandado por Pétain, entregou par-
ções expansionistas da Alemanha foi Winston Churchill, membro do te do território aos nazistas, permanecendo com dois terços dele e
Partido Conservador britânico, declaradamente antissoviético, mas com as colônias. Colaboracionista, o regime comandado por Pétain,
igualmente crítico do regime nazista. sediado em Vichy - e por isso conhecido como governo de Vichy -,
Os governos britânico e francês alertaram que, diante de qual- não tardou a apoiar a Alemanha na guerra. Pétain foi então celebra-
quer novo avanço territorial, seria declarada guerra à Alemanha do como “salvador da pátria”, pois a maioria dos franceses não su-
para resguardar a ordem internacional. Porém, a essa altura, Ale- portava mais os bombardeios e as fugas desesperadas. Além disso,
manha, Itália e Japão já tinham firmado o Eixo Roma-Berlim-Tó- boa parte da sociedade francesa era anticomunista e antissemita.
quio: uma aliança militar para atuar contra quaisquer inimigos. Ale-
manha e Itália também reforçaram sua aliança por meio do Pacto Superioridade Nazista
de Aço, assinado em maio de 1939. Ao conquistar a França, Hitler foi saudado como grande estra-
A surpresa viria com o encontro entre o ministro de Relações tegista militar. O passo seguinte foi se concentrar na guerra contra
Exteriores da Alemanha, Joachim Von Ribbentrop, e o ministro sovi- a Grã-Bretanha e avançar em direção ao Mediterrâneo. No início de
ético, Viacheslav Molotov, em Moscou, em fins de agosto de 1939. 1941, conquistou a Iugoslávia, a Grécia e a ilha de Creta, contando
Nessa ocasião, os dois países firmaram o pacto germano-soviético com o apoio da Itália, que só passou a atuar em favor dos alemães
de não agressão, que incluía uma cláusula secreta de divisão da Po- às vésperas da queda da França. Mas os exércitos de Mussolini, que
lônia entre as duas potências - em caso de guerra -, além de prever já haviam demonstrado debilidade na Etiópia, sequer conseguiram
o intercâmbio comercial. De fato, a URSS enviou regularmente pe- vencer sozinhos a resistência grega, sendo socorridos pelas tropas
tróleo e alimentos para a Alemanha até 1941. nazistas.
Por meio desse acordo, a Alemanha nazista conseguiu carta Não tardou para que outros países apoiassem a Alemanha,
branca dos soviéticos para invadir a Polônia. O regime soviético, como a Bulgária, a Romênia e a Hungria. Portugal e Espanha per-
por sua vez, obteve garantias mínimas de que não seria atacado, na maneceram neutros, porém simpáticos à Alemanha. Em 1941, boa
expectativa de que o esforço bélico dos nazistas se lançasse contra parte da Europa estava, direta ou indiretamente, controlada pelo
outros países, incluindo as democracias ocidentais. As potências Terceiro Reich. Apenas Suíça, Suécia e Turquia conseguiram manter
ocidentais ficaram perplexas diante da cartada de Hitler e Stalin. uma neutralidade mais consistente. Restava a URSS, no leste.

O Nazismo ataca a Europa Inglaterra Resiste

Em 3 de setembro de 1939, França e Grã-Bretanha declararam Os nazistas pretendiam invadir a Grã-Bretanha pelo sul, atra-
guerra à Alemanha, embora, concretamente, nada tenham feito. vessando o canal da Mancha, em uma operação batizada de Leão-
Apenas aumentaram os gastos militares e mobilizaram soldados em -marinho. A ação dependia da Luftwaffe para neutralizar as defesas
grande escala para fazer frente ao conflito. A partir de março de aéreas britânicas, e acabou sendo o maior conflito aéreo da guerra.
1940, passaram a apoiar a Finlândia contra a invasão soviética, em A Luftwaffe dispunha de quase 3 mil aviões, entre bombardeiros e
uma ação abortada por conta do acordo firmado naquele mesmo caças. A força aérea britânica, Royal Air Force (RAF), dispunha de
mês entre soviéticos e finlandeses. menos aviões, embora a produção de caças tenha se multiplicado
A Grã-Bretanha ainda tentou ocupar a Noruega, sob a alegação no país entre 1940 e 1941. No início do ataque alemão, a Grã-Breta-
de impedir o ataque alemão a esse país, com receio de que o Reich nha foi flagelada por bombardeios quase diários, cujos alvos deixa-
estabelecesse uma base de operações no mar do Norte. Mas de ram de ser militares e passaram a se concentrar em Londres. Hitler
nada adiantou, já que em abril a Alemanha ocupou a Dinamarca e a calculava que, em poucas semanas, os britânicos não teriam como
Noruega, espalhando minas marítimas para sabotar a Marinha bri- deter a invasão alemã. Dessa vez, porém, ele estava enganado.
tânica. O avanço alemão para o ocidente começava pelas beiradas. A capacidade de resistência britânica foi extraordinária. No
ar, os caças britânicos provocaram pesadas perdas à Luftwaffe. No
Invasão na França solo, houve enorme mobilização da população civil, insuflada pelos
A expansão alemã provocou mudanças sensíveis nos governos discursos diários de Churchill. Em 25 de agosto de 1940, aconteceu
das potências ocidentais. Na Grã-Bretanha, por exemplo, o poder o que parecia impossível: em represália aos ataques alemães, os
foi assumido por Winston Churchill, agora prestigiado pelos alertas britânicos bombardearam Berlim. Com sucessivos desgastes, em
que vinha fazendo contra o perigo alemão. Em 10 de maio de 1940, fevereiro de 1942, Hitler desistiu de ocupar Londres.
o Exército alemão, com o apoio da Luftwaffe, deu início a outra Blit- A Grã-Bretanha resistiu praticamente sozinha, recebendo o
zkrieg, agora contra a Holanda e a Bélgica. apoio dos EUA em armas, navios e alimentos, apesar da posição
A vitória alemã nos Países Baixos foi avassaladora. Nesse mo- do governo estadunidense de não intervenção no conflito europeu.
mento, estava claro que os alemães atacariam a França pela frontei- Enquanto resistiam na Europa, os exércitos britânicos eram fus-
ra belga, contornando a Linha Maginot, complexo defensivo cons- tigados no norte da África pelos italianos, que pretendiam marchar
truído pelos franceses ao longo do Reno nos anos 1930. Quando os da Líbia até o Egito para conquistar o canal de Suez, de onde parti-
alemães evitaram a Linha Maginot pelo extremo oeste, a resistência riam para o Iraque com o objetivo de controlar as reservas petrolí-
britânico-francesa ficou dividida e o caminho para Paris, aberto. feras da região.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
No Egito, os britânicos impuseram a derrota ao exército de Embora tenham recuado e perdido milhões de soldados, en-
Mussolini. A guerra no deserto estava só começando. Diante do tre mortos e prisioneiros, os soviéticos conseguiram deter o avanço
novo fracasso militar italiano, Hitler organizou o Afrika Korps, em- alemão. Leningrado não caiu, embora a população da cidade sitia-
purrando os exércitos britânicos de volta à fronteira egípcia, em da tenha sido arrasada pela fome e por doenças. Moscou também
uma guerra que permaneceu em impasse até 1942. resistiu, graças ao esforço do Exército Vermelho. A chegada do in-
verno russo deteve de vez o ímpeto alemão, como ocorrera com o
Ofensiva japonesa na Ásia exército napoleônico, em 1812.

A partir da década de 1930, com o governo imperial sob o con- Stalingrado


trole dos militares, o Japão se lançou em uma ofensiva militar sem Os alemães abandonaram o plano de conquistar Moscou e con-
precedentes. Industrializado e posto à margem da corrida imperia- centraram-se na conquista do Cáucaso, rico em petróleo, recursos
lista europeia, não se tratava mais de conquistar pontos estratégi- minerais, industriais e agrícolas. Essa conquista lhes daria ainda o
cos na Coreia ou na própria China; o objetivo era dominar a Ásia. controle do rio Volga, o maior da Europa, e acesso ao mar Cáspio.
Em 1937, o governo japonês lançou um ataque à China, que Em agosto de 1942, a ofensiva chamada Operação Azul estava às
começou na Manchúria e levou à conquista sucessiva de Pequim, portas de Stalingrado, às margens do rio Volga.
Shangai e Nanquim. Ao conquistarem esta última, os japoneses Foi a batalha mais sangrenta da Segunda Guerra Mundial, ar-
massacraram a população, com fuzilamentos de prisioneiros, inva- rastando-se por meses, com avanços e recuos de ambos os lados.
sões de casas, infanticídios e estupros de mulheres. A vitória japo- Em novembro de 1942, a contraofensiva do Exército Vermelho cer-
nesa foi favorecida pela divisão política da China, que passava por cou os alemães e forçou a rendição de soldados famintos e flagela-
uma guerra civil desde o final dos anos 1920. dos pelo inverno soviético.
De um lado, o partido conservador Kuomintang, liderado por A vitória soviética em Stalingrado mudou o rumo da guerra,
Chiang Kai-Shek, chefe do governo chinês; de outro, os comunis- sinalizando a derrota alemã em todas as frentes de batalha. A cam-
tas, sob a liderança de Mao Tsé-Tung. Em setembro de 1937, os panha na URSS absorvia enormes recursos da máquina de guerra
dois líderes fizeram uma trégua em nome da defesa da China e até nazista. No norte da África, os alemães não tiveram como resistir
1945 lutaram juntos contra os japoneses. Em 1941, o Japão invadiu ao contra-ataque britânico. Em 1942, os britânicos atacaram o que
a Indochina. restava do exército alemão e de seu aliado italiano na segunda Ba-
Em represália, os EUA impuseram sanções econômicas aos ja- talha de El Alamein.
poneses, embargando a venda de petróleo e aço. Com fortes in- As forças do Eixo, enfim, capitularam. Churchill saudou a vitória
teresses econômicos no Sudeste Asiático, os estadunidenses não britânica com entusiasmo: “Este não é o fim, não é nem o começo
estavam dispostos a aceitar a concorrência japonesa. do fim, mas é, talvez, o fim do começo”.
O governo japonês decidiu enfrentar os EUA e, sem nenhuma
declaração de guerra, atacou a base militar de Pearl Harbor, no Ha- Invasão da Itália
vaí, em dezembro de 1941. Os caças japoneses afundaram diversos
navios de guerra e destroçaram os aviões que se encontravam no Com a retomada do norte da África, os Aliados, como ficou co-
solo, causando milhares de mortes. O presidente dos EUA, Franklin nhecida a coligação de países que lutaram contra os regimes nazista
Delano Roosevelt, declarou guerra ao Japão e, no dia seguinte, à e fascista, não tardaram a invadir a Itália. Em 1943, após inúmeros
Alemanha e à Itália. Mas a declaração de guerra estadunidense não bombardeios, desembarcaram na Sicília e partiram para a penín-
deteve os japoneses. sula. Os constantes fracassos militares e a iminente invasão aliada
No primeiro semestre de 1942, conquistaram a Birmânia, a Ma- abalaram o regime fascista.
lásia e várias ilhas do Pacífico. Nessa fase da guerra, britânicos e es- Muitos líderes desejavam o fim da guerra e tramaram uma
tadunidenses foram derrotados em toda parte. O esforço de guerra conspiração, na qual até o genro de Mussolini se envolveu. O rei
dos EUA foi fenomenal, com a produção de milhares de navios, avi- Vítor Emanuel III demitiu Mussolini do cargo de primeiro-ministro,
ões e tanques. O país mostrava-se disposto a reagir no Pacífico e a mandando prendê-lo em um abrigo secreto em Abruzos, no centro
enfrentar a Alemanha na Europa, mas o momento era de incerteza. do país.
A Alemanha mantinha intactas as suas conquistas europeias, en- O governo foi passado ao general Pietro Badoglio, que liderava
quanto o Japão era o senhor do Pacífico. o grupo favorável à paz e assinou um armistício com os Aliados. Os
A batalha naval de Midway, em junho de 1942, foi a primei- nazistas reagiram com fúria ao que consideraram ser uma traição
ra grande vitória estadunidense contra os japoneses. Mas o fim da da Itália.
guerra ainda estava longe. Nas frentes de batalha, os soldados italianos foram desarma-
dos pelos nazistas e muitos foram fuzilados. A Alemanha logo ocu-
Reação Soviética pou o norte e o centro da Itália, tomou Roma e montou uma barrei-
ra defensiva nos Apeninos - cadeia montanhosa que vai do norte ao
Apesar das dificuldades do combate com a Grã-Bretanha, na sul da Itália pela costa leste.
frente ocidental Hitler pôs em marcha o plano de invadir a URSS - a Mussolini foi resgatado por uma tropa de paraquedistas ale-
Operação Barbarossa. Pretendia apoderar-se dos imensos recursos mães e recolocado no poder em Saló, cidade próxima a Milão. Mas
naturais do país, incluindo as áreas petrolíferas, mas havia também o regime fascista estava derrotado, o que fez do próprio Mussolini
o objetivo político-ideológico de destruir o regime comunista sovi- um fantoche de Hitler.
ético e a pretensão de ocupar o território, em conformidade com a
teoria nazista do espaço vital.
Em 1941, os alemães invadiram a URSS, com 3,5 milhões de
soldados. As instruções para a guerra incluíam a execução de ci-
vis, a começar pelos comissários do partido comunista de cada área
conquistada. As primeiras vitórias alemãs foram arrasadoras, mas a
resistência soviética revelou-se tenaz.

169
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
O Dia D Cerca de 6 milhões de judeus foram exterminados nos cam-
pos alemães, fato que ficou conhecido como Holocausto (shoah,
A abertura da frente ocidental pelos Aliados foi adiada várias em hebraico). Eles não foram as únicas vítimas desse programa de
vezes até 1944, apesar dos constantes protestos de Stalin. Meti- extermínio: cerca de 800 mil ciganos também morreram nos cam-
culosamente planejada, a Operacão Overlord, também conhecida pos de concentração, além de um número incerto de prisioneiros
como invasão do Dia D, ocorreu em 6 de junho de 1944, quando de guerra soviéticos, presos políticos, homossexuais e testemunhas
mais de 300 mil homens desembarcaram na Normandia, norte da de Jeová.
França, abrindo caminho para a derrota do Terceiro Reich.
Os alemães foram pegos de surpresa, pois esperavam o desem- A Guerra chega ao Fim
barque em Calais. O avanço dos Aliados tornou-se avassalador, com
a retomada de Paris, em 25 de agosto de 1944, e da Bélgica e da No começo de 1945, a guerra estava definida a favor dos Alia-
Holanda, nos meses seguintes. Hitler ainda tentou uma última car- dos. Hitler, doente e derrotado, recusava-se a abandonar Berlim,
tada, lançando uma contraofensiva surpresa nos Países Baixos. A onde havia se refugiado no Bunker da chancelaria. A notícia da
Batalha de Ardenas foi a última Blitzkrieg do Exército alemão, que, morte de Mussolini, capturado e fuzilado em 27 de abril de 1945,
após algumas vitórias, se rendeu na Bélgica, em janeiro de 1945. sinalizava um desfecho trágico.
A Alemanha estava cercada, e o regime nazista se aproximava O ditador italiano e sua amante, Clareta Pettacci, tiveram seus
do fim. corpos pendurados de cabeça para baixo na principal praça de Mi-
lão, diante de uma multidão eufórica. Berlim era bombardeada
Operação Valquíria diariamente pelos soviéticos. Diante do avanço dos tanques pela
cidade, até crianças da Juventude Hitlerista tentavam, em vão, com-
A iminente derrota da Alemanha acabou apressando os planos bater.
de militares do Alto Comando para derrubar Hitler e fazer um armis- Em 30 de abril de 1945, Hitler suicidou-se com sua amante,
tício com as potências ocidentais e livrar o país da invasão soviética. Eva Braun, com quem se casara um dia antes. Os corpos do casal
Trata-se da famosa Operação Valquíria, que se tornou, inclusi- foram queimados nos jardins do Bunker, seguindo a última ordem
ve, tema de filme. Os conspiradores usaram o nome da deusa ger- do Fuhrer. Em 7 de maio de 1945, o almirante Karl Dónitz, sucessor
mânica Valquíria (ou Walquíria) para codificar sua ação, que incluía nomeado por Hitler, assinou a rendição incondicional da Alemanha.
a tomada de prédios públicos e da rede de comunicações na capital
alemã, após a confirmação da morte de Hitler. Hiroshima e Nagasaki
Em 20 de julho de 1944. o coronel Claus von Stauffenberg
escondeu uma bomba em uma pasta de trabalho, sob a mesa de No início de 1942, a ofensiva japonesa no Pacífico estava no
reunião do quartel-general de Hitler, mas poucos morreram com a auge, com a derrota dos EUA nas Filipinas. Mas, em junho daquele
explosão e o Führer sobreviveu quase sem um arranhão. Embora mesmo ano, o rumo da guerra começou a virar, com a vitória esta-
muito doente e deprimido, Hitler mandou executar os conspirado- dunidense na Batalha de Midway, que resultou na destruição dos
res, provocando a morte de quase 5 mil pessoas. principais porta-aviões japoneses.
O marechal Erwin Rommell. ex-comandante do Afrika Korps, A ofensiva japonesa durou cerca de seis meses. Todo o resto da
que havia participado da conspiração, recebeu a opção de suicídio, guerra no Pacífico foi, na verdade, uma luta dos EUA para subjugar
por ser muito popular entre os alemães. Aceitou e foi enterrado o Japão. Os Estados Unidos consolidaram sua vitória com a recon-
com honras militares. quista das Filipinas, em fevereiro de 1945, e o triunfo nas batalhas
de Iwo Jima e Okinawa, entre fevereiro e junho. Mas o Japão não
Auschwitz e o Holocausto se entregava, multiplicando os voos kamikaze. No início de agosto,
o imperador Hirohito autorizou seu embaixador a estabelecer acor-
Desde a ascensão do nazismo, em 1933, a situação dos judeus dos diplomáticos com Stalin.
na Alemanha era desesperadora, e pioraria muito nas áreas ocu- A essa provocação os EUA responderam com o lançamento da
padas, em especial no Leste Europeu. À medida que a Alemanha bomba atômica Little Boy sobre a cidade japonesa de Hiroshima,
perdia a guerra, a situação tornava-se ainda mais trágica. em 6 de agosto de 1945. Dois dias depois, a URSS invadiu a Manchú-
A matança de judeus começou na Polônia, em 1939, sendo ria, dominada pelos japoneses. Em 9 de agosto, os EUA lançaram
sistemática na URSS, após a invasão de 1941. A decisão formal de uma nova bomba atômica, a Fat Man, sobre Nagasaki. Em cada um
exterminar todos os judeus da Europa foi tomada na Conferência desses ataques, estima-se que tenham morrido 80 mil pessoas ins-
de Wannsee, realizada em janeiro de 1942. Nela, foi estabelecida a tantaneamente, sem contar os efeitos que a radiação causou nos
Solução Final para o problema judaico: o genocídio. sobreviventes. No dia 14 de agosto, o imperador aceitou a rendição
Pouco a pouco, os guetos foram desativados e os judeus, en- incondicional do Japão.
viados a campos de extermínio (como o de Auschwitz, na Polônia,
o mais conhecido deles). Nos campos, eram selecionados os judeus Pós-Guerra
que, após dias de viagem em vagões de trens de carga infectados,
ainda tinham condições de trabalhar para a máquina de guerra ale- A Segunda Guerra Mundial foi o maior conflito armado de to-
mã, inclusive nas fábricas de munições. Os demais eram enviados às dos os tempos, resultando em mais de 60 milhões de mortos, além
câmaras de gás, e seus corpos, incinerados em crematórios. de milhões de civis e militares mutilados. Entre as forças do Eixo, es-
Na tentativa de iludir os condenados, os campos tinham um tima-se cerca de 8 milhões de militares mortos (a maioria alemães)
letreiro grande no portão principal onde se lia: “O trabalho liberta” e 4 milhões de civis.
(Arbeit macht frei).

170
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Entre os Aliados, 17 milhões de militares e 35 milhões de ci- da Guerra Fria, o governo Dutra estreitou relações com os Estados
vis, sobretudo no Leste Europeu. As maiores baixas dos Aliados Unidos e, em 1947, rompeu relações diplomáticas com a União So-
ocorreram entre os soviéticos, que suportaram a guerra na Europa viética. Esse posicionamento acabou provocando um recuo na frágil
durante quatro anos seguidos. Estima-se que tenham morrido, no e recente democracia brasileira: o governo decretou a ilegalidade
mínimo, 20 milhões de soviéticos, entre militares e civis. Depois da do Partido Comunista Brasileiro (PCB), cassando o mandato de de-
URSS, a China foi o país que mais perdeu militares na guerra contra putados, senadores e vereadores do partido que foram eleitos em
o Japão: 2,5 milhões. EUA e Grã-Bretanha perderam cerca de 300 1945.
mil militares cada. Além disso, o governo também ordenou a intervenção estatal
As potências Aliadas começaram a esboçar o destino do mundo em mais de 400 sindicatos.
em 1943, quando a derrota do Eixo se tornou uma possibilidade
concreta. Foi na Conferência de Teerã, realizada no Irã em 1943, O Retorno de Getúlio Vargas
onde se decidiu o desembarque aliado na Normandia e a divisão da
Alemanha derrotada em zonas das potências vencedoras. Getúlio Vargas foi vitorioso nas eleições para a sucessão de Du-
Reconheceu-se também o direito soviético às repúblicas bál- tra em outubro de 1950. Ele candidatou-se pelo Partido Trabalhista
ticas da Estônia, Lituânia e Letônia, bem como ao leste da Polônia. Brasileiro (PT B), com o apoio do Partido Social Democrático (PSD).
Estabeleceu-se, ainda, a necessidade da criação de um organismo Assim, o pai dos pobres, como ficou conhecido, reassumia a
internacional de segurança coletiva mais eficiente que a Liga das Presidência do Brasil em janeiro de 1951, mas, desta vez, democra-
Nações. Foi a origem da Organização das Nações Unidas - a ONU ticamente. Sua atuação política junto às camadas mais carentes do
-, fundada em 24 de outubro de 1945, responsável pela Declaração país, no estilo populista, foi decisiva para sua vitória. Meses depois
Universal dos Direitos Humanos, em 1948. da eleição de Getúlio, a marchinha mais cantada no Carnaval de
As conferências de Yalta, na Crimeia (URSS), e Potsdam, nas 1951 era Retrato do velho, de Haroldo Lobo e Marino Pinto, gravada
cercanias de Berlim, entre fevereiro e agosto de 1945, aprofunda- em outubro de 1950 por Francisco Alves, para comemorar o resul-
ram as decisões sobre o destino da Alemanha, em especial o seu tado das eleições.
desmembramento em zonas: uma sob o controle britânico, outra Com a volta de Getúlio Vargas, o governo passou a seguir a cor-
sob influência estadunidense, e uma terceira e uma quarta sob con- rente nacionalista, com o Estado atuando de maneira intervencio-
trole francês e soviético. nista e paternalista.
O mesmo foi decidido para Berlim, além de ser aprovada a des- As importações foram restringidas e os investimentos estran-
militarização e a democratização da Alemanha. geiros foram limitados, dificultando as remessas de lucros de em-
presas transnacionais para seus países de origem. Para incentivar a
indústria nacional, em 1952, foi criado o Banco Nacional de Desen-
OS GOVERNOS DEMOCRÁTICOS, OS GOVERNOS MILI- volvimento Econômico (BNDE) e, no ano seguinte, a Petrobras, em-
TARES E A NOVA REPÚBLICA presa estatal com o monopólio da exploração e refino do petróleo
no Brasil. Foi proposta também a criação da Eletrobrás, uma em-
presa para controlar a geração e a distribuição de energia elétrica.
REPÚBLICA POPULISTA
Vargas nomeou João Goulart (1919-1976) para ministro do
Trabalho, em 1953, para enfrentar as rei- vindicações e a onda de
A Experiência Democrática no Brasil
greves. Sob a orientação do presidente, o novo ministro propôs, em
Eurico Gaspar Dutra assumiu a presidência em janeiro de 1946. janeiro de 1954, dobrar o valor do salário mínimo, que recuperou
O início de seu governo foi marcado pela posse da Assembleia Na- seu valor em relação à crescente inflação.
cional Constituinte, encarrega da de elaborar uma nova Constitui- Em fevereiro, 42 coronéis e 39 tenentes-coronéis emitiram
ção para o Brasil. Promulgada ainda em 1946, a Carta restabelecia um manifesto - o Manifesto dos Coronéis - criticando o governo, o
a democracia, a organização do Estado em três poderes (Executivo, aumento do salário mínimo e as desordens que corriam pelo país.
Legislativo e Judiciário) e a autonomia dos estados e municípios, co- Entre eles estava o coronel Golbery do Couto e Silva e vários outros
locando fim ao centralismo político que caracterizou a Era Vargas8. militares que, mais tarde, foram protagonistas da ditadura iniciada
No entanto, a nova Constituição manteve a exclusão do direito em 1964.
de voto aos analfabetos (mais da metade da população), inúmeras Diante do manifesto, Getúlio demitiu o ministro da Guerra, o
restrições ao direito de greve e a não incorporação dos trabalhado- general Espírito Santo Cardoso, e acordou com Goulart a sua de-
res do campo à legislação trabalhista. missão, acalmando os ânimos. Contudo, no feriado de 19 de maio
Na área econômica, Dutra deu uma orientação liberal ao seu de 1954, Vargas anunciou o aumento de 100% do salário mínimo,
governo, afastando-se da política nacionalista adotada por Getúlio conquistando ainda mais apoio dos trabalhadores.
Vargas. Com a abertura do mercado aos produtos importados, as A política populista de Vargas atraiu a oposição de liberais,
reservas nacionais em moedas estrangeiras acumuladas durante a como os membros da UDN (União Democrática Nacional, partido
Segunda Guerra esgotaram-se. político de orientação liberal), oficiais das Forças Armadas e empre-
Em 1948, foi anunciado o Plano Salte, abreviatura de Saúde, sários, especialmente os ligados aos interesses estrangeiros.
Alimentação, Transporte e Energia, considerados setores prioritá- Em 5 de agosto de 1954, o jornalista Carlos Lacerda (1914-
rios. O plano só foi aprovado pelo Congresso em 1950, no final do 1977), um dos principais oponentes de Vargas, dono do jornal Tri-
governo Dutra, e abandonado pelo governo seguinte. Assim, foi buna da Imprensa, sofreu um atentado no qual morreu seu segu-
implementado apenas em parte, como a pavimentação da rodovia rança, o major da Aeronáutica Rubens Vaz (1922-1954). O episódio
Rio-São Paulo (atual Via Dutra), a abertura da rodovia Rio-Bahia e o ficou conhecido como o atentado da rua Toneleros.
início das obras da Hidrelétrica do São Francisco. Aderindo ao clima As investigações apontaram a participação de Gregório Fortu-
nato (1900-1962), chefe da guarda pessoal de Getúlio. Isso acirrou
8 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláu-
os ânimos dos oposicionistas, desdobrando-se numa grande cam-
dio Vicentino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed.
panha pela renúncia de Vargas.
São Paulo. Scipione.

171
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A campanha contou com os meios de comunicação, que ali- A cidade foi inaugurada em 21 de abril de 1960. Localizada no
mentavam e impulsionavam o aprofundamento da crise. Pressiona- Planalto Central, estava bem distante das cidades do Rio de Janeiro
do, Vargas suicidou-se em 24 de agosto de 1954. A notícia da morte e de São Paulo, os principais centros de pressão popular da época.
e a divulgação de sua carta-testamento estimularam manifestações A abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro e os vários
populares por todo o país. Jornais de oposição foram invadidos e empréstimos contraídos junto às instituições estrangeiras deixaram
depredados, assim como os diretórios da UDN e a embaixada dos o país numa séria crise financeira, com a inflação chegando, em
Estados Unidos no Rio de Janeiro. 1960, ao índice de 25% ao ano.
Com o suicídio de Getúlio, o vice-presidente Café Filho (1899- Nas eleições de 1960, a coligação PSD-PTB indicou o marechal
1970) assumiu o poder. Inconformados com o resultado das elei- Henrique Teixeira Lott para concorrer à Presidência e João Goulart
ções, a UDN de Lacerda e setores militares tramavam um golpe, à Vice-presidência. Na oposição, a UDN e outros partidos meno-
com apoio discreto de Café Filho e outros ministros, mas esbarra- res apoiaram a candidatura do ex-governador de São Paulo, Jânio
ram no legalista ministro da Guerra, o general Henrique Teixeira Quadros (1917-1992). Seu candidato à Vice-presidência era Mílton
Lott (1894-1984). Campos, ex-governador de Minas Gerais. Jânio pregava uma limpe-
A saída de Café Filho da presidência por problema de saúde za na vida política nacional com o combate à corrupção. Para sim-
ocasionou a transferência do cargo ao presidente da Câmara dos bolizar a ideia, usava uma vassoura na campanha eleitoral. Como
Deputados, Carlos Luz (1894-1961), aliado da UDN. Este, mais fa- votava-se separadamente para presidente e para vice-presidente,
vorável aos golpistas, tentou se livrar do legalista Lott, que reagiu Jânio Quadros se tornou presidente com 5,6 milhões de votos. João
e o depôs. Goulart foi eleito vice-presidente com 4,5 milhões de votos. Era for-
O cargo foi entregue então ao presidente do Senado, Nereu Ra- mada a dupla “Jan-Jan”.
mos (1888-1958), que governou como presidente da República até Jânio Quadros no Poder
a posse de Juscelino Kubitschek, em janeiro de 1956.
Nas eleições de outubro de 1955, Juscelino Kubitschek de Oli- Como presidente, Jânio Quadros primou pela ambiguidade. Na
veira (1902-1976), ex-governador de Minas Gerais, teve uma vitó- economia atuava deforma mais próxima aos conservadores liberais:
ria apertada, de 36%, contra 30% dos votos dados a Juarez Távora, cortou gastos e congelou salários em meio à contínua elevação dos
candidato da UDN. preços dos produtos. Por outro lado, sua política externa aproxi-
JK, como era popularmente conhecido, foi o candidato da coli- mava-se da esquerda, ao reatar relações diplomáticas com países
gação PSD-PTB. Como na época os eleitores votavam separadamen- socialistas a fim de ampliar mercados.
te para presidente e para vice-presidente, João Goulart, o Jango, Um episódio reforçou essa política de independência em rela-
ex-ministro do Trabalho de Vargas, venceu a eleição para Vice-presi- ção ao bloco capitalista. Em 1961, o argentino Ernesto Che Guevara,
dência, com mais votos (3 591.409) do que o próprio JK (3 077.411). então ministro da Economia em Cuba, foi condecorado por Jânio
Quadros com a Ordem do Cruzeiro do Sul.
De Jk a João Goulart Essa atitude provocou reações contrárias, inclusive do próprio
partido do presidente. Em agosto de 1961, após sete meses de go-
O governo de Juscelino Kubitschek foi marcado pelo desen- verno, Jânio surpreendeu a todos ao renunciar ao cargo, numa ma-
volvimentismo. Apoiando-se no Plano de Metas, divulgado sob o nobra política fracassada. A renúncia fazia parte de um plano que
slogan “50 anos em 5”, Juscelino prometia desenvolver o país em contava com o temor de setores da sociedade diante da possibilida-
tempo recorde. O programa priorizava investimentos em setores de de de João Goulart assumir a Presidência para fortalecer seu poder.
energia, indústria, educação, transporte e alimentos. O vice, que se encontrava na China Popular, em missão de go-
Para alcançar as metas, o governo favoreceu a entrada de capi- verno, era considerado comprometido com as causas trabalhistas
tais estrangeiros e a presença de empresas transnacionais no país. - e até acusado de ser um comunista - por vários militares e políti-
cos. Ao que parece, a expectativa de Jânio era que a população se
Esse modelo abandonava o nacionalismo do período Vargas e ade-
mobilizasse contra seu pedido de renúncia e o Congresso Nacional
ria ao capitalismo internacional. Como resultado dessa política, fá-
o rejeitasse, o que o levaria a exigir plenos poderes para continuar
bricas de caminhões, tratores, automóveis, produtos farmacêuticos
na Presidência.
e cigarros foram instaladas no Brasil.
A renúncia, porém, foi aceita imediatamente e nenhum gru-
Destacam-se também a construção das usinas hidrelétricas de
po movimentou-se para convencer Jânio Quadros a permanecer
Furnas e Três Marias; e a pavimentação de milhares de quilômetros
no poder. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli
de estradas. Grandes mudanças ocorriam em diversos setores. No
(1910-1975), assumiu a Presidência da República até a posse de
dia a dia de muitas cidades e regiões.
Jango.
Na música, foi a época em que surgiu a bossa Nova, um novo
estilo de tocar e cantar samba com influência do jazz, juntando-se A Crise Política no Governo Jango
aos tangos, boleros, valsas e sambas de então. No futebol, 1958
foi o ano da conquista do primeiro campeonato mundial. Passaram A renúncia de Jânio Quadros em 25 de agosto de 1961 amplifi-
a fazer parte dos hábitos dos brasileiros o consumo de produtos cou as divergências entre as forças políticas. Alguns ministros mili-
industriais, como eletrodomésticos (máquina de lavar roupas, rádio tares e políticos da UON, contrariando a Constituição, tentaram im-
de pilha, etc.) pedir a posse de João Goulart. O novo presidente era visto como um
No entanto, esse desenvolvimentismo era basicamente dirigido herdeiro de Getúlio Vargas e acusado de simpatizante da esquerda.
a partes do mundo urbano moderno. O enorme fosso social, pleno Em defesa de Jango, Leonel Brizola (1922-2004), então gover-
de desigualdades e carências (saneamento básico, escolas, saúde), nador do Rio Grande do Sul, lançou a Campanha da Legalidade,
e um mundo rural que ainda reunia a maioria da população brasi- conquistando o apoio de boa parte da população brasileira.
leira sem a proteção de uma legislação trabalhista continuavam a
existir.A maior obra do governo JK, entretanto, foi a construção de
Brasília, a nova capital federal, planejada pelo urbanista Lúcio Costa
e pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

172
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
A posse de Jango ocorreu somente após debates e negociações DITADURA MILITAR
que levaram à alteração da Constituição. Com uma emenda, em 2
de setembro de 1961, foi implantado o parlamentarismo no país. O Governo Militar de 1964
Era o acordo para se evitar uma guerra civil: Jango assumiria a pre-
sidência, mas o governo de fato ficaria a cargo do primeiro-ministro, Desde o início de 1964, as propostas de reformas de base in-
escolhido pelo Congresso Nacional. Definiu-se também que, após tensificaram as manifestações de apoio e de repulsa ao governo de
algum tempo, o parlamentarismo deveria ser ratificado ou não por João Goulart. Disseminou-se o medo das reformas9.
um plebiscito. Em 31 de marco, o alto escalão de oficiais do Exército, com
Em janeiro de 1963, o plebiscito sobre o parlamentarismo mo- apoio de vários governadores, como Magalhães Pinto (1909-1996),
bilizou o país. O sistema político estava em vigência há pouco mais de Minas Gerais, Carlos Lacerda (1914-1977), da Guanabara, e
de um ano e era muito criticado e impopular. Com intensa cam- Adhemar de Barros (1901-1969), de São Paulo, rebelou-se contra
panha pelo seu fim, os brasileiros decidiram pela restauração do o governo de Jango.
regime presidencialista. Enquanto o presidencialismo era restabe- O primeiro passo coube ao general Olímpio Morão Filho, que
lecido, a situação econômica do país deteriorava-se. mobilizou o exército de Belo Horizonte, o mesmo que, 27 anos
A inflação, que em 1962 atingira 52%, chegou aos 80% em 1963 antes, ainda capitão e integralista, havia forjado o famoso Plano
e afetou gravemente o poder aquisitivo dos trabalhadores. Para en- Cohen. Segundo o pesquisador e historiador Carlos Fico, os revolto-
frentar a crise, o governo lançou o Plano Trienal, no final de 1962. sos contavam com a Operação Brother Sam, que incluía a possível
Seu objetivo era conter a inflação e promover o desenvolvimento intervenção planejada pelo embaixador estadunidense Lincoln Gor-
do país. No entanto, os efeitos do plano foram mínimos, principal- don, associado às elites econômicas, políticas e militares.
mente quanto ao custo de vida. As pressões populares cresceram, A operação contava com uma forca tarefa naval estadunidense
levando Jango a defender amplas reformas nos setores agrário, ad- (porta-aviões, porta-helicópteros, contratorpedeiros) que atuaria
ministrativo, fiscal e bancário. Conhecidas como reformas de base, nas costas brasileiras e incluía a entrega de armas, munições e com-
essas medidas foram vistas pelos seus opositores como uma amea- bustível (quatro navios-petroleiros). O plano entraria em ação em
ça à ordem liberal vigente. marco.
Três dessas medidas ajudam a entender os interesses que es- Entretanto, o golpe teve um desfecho rápido e sem lutas. Cul-
tavam ameaçados. Contra a inflação, foi criada a Superintendência minou com a deposição do presidente João Goulart, que deixou
Nacional do Abastecimento (Sunab), ligada ao governo e encarre- Brasília, dirigiu-se para o Rio Grande do Sul e em seguida para o
gada de controlar os preços dos produtos, interferindo, portanto, Uruguai, onde pediu asilo. Já no dia 12 de abril, o embaixador Lin-
nos lucros dos produtores e comerciantes. coln Gordon foi avisado de que não era mais necessário o apoio
Para oferecer melhores condições de vida a milhões de traba- logístico estadunidense. Era o fim de uma experiência republicana
lhadores rurais e ampliar a oferta de alimentos, uma proposta de reformista e o início da ditadura comandada pelos militares.
reforma agrária nos latifúndios improdutivos foi apresentada ao Após a deposição do presidente João Goulart, uma junta mili-
Congresso. Os latifundiários, porém, não concordavam com os me- tar, formada pelo general Artur da Costa e Silva (1899-1969), pelo
canismos de cálculos para se chegar aos valores das indenizações brigadeiro Francisco Correia de Melo (1903-1971) e pelo almirante
a serem pagas pelas terras, alegando grandes perdas caso fossem Augusto Rademaker (1905-1985) foi instalada no poder. A primeira
efetivamente aplicados. medida tomada por essa junta foi a decretação do Ato Institucional
Outra questão polémica foi a restrição da remessa de lucros das nº 1 (Al-1).O decreto garantia amplos poderes ao Executivo, como
empresas estrangeiras para o exterior; a proposta teve oposição de cassar mandatos, suspender direitos políticos, aposentar funcioná-
grupos ligados ao capital internacional. Diante de tantos embates, rios civis e militares e decretar estado de sítio sem autorização do
João Goulart aproximou-se de setores populares organizados por Congresso. Milhares de brasileiros foram atingidos pelos expurgos,
operários, camponeses, estudantes e militantes de esquerda, como civis e militares.
o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT), a União Nacional dos Em seguida, o Alto Comando das Forças Armadas indicou para
Estudantes (UNE), a União Brasileira de Estudantes Secundaristas a Presidência o marechal Humberto de Alencar Castelo Branco
(UBES), a Confederação dos Trabalhadores Agrícolas (CONTAC) e as (1897-1967). Com o golpe de 1964, teve início uma série de gover-
Ligas Camponesas. nos militares que permaneceu no poder até 1985. Nesse período,
No lado oposto, contra Jango, os conservadores juntavam or- as liberdades democráticas foram anuladas e os poderes Legislativo
ganizações sociais e políticas. Entre eles, destacava-se o Instituto e Judiciário foram submetidos. Também foi uma época em que es-
de Pesquisas Econômicas e Sociais (PES), que reunia diretores de tados e municípios perderam sua autonomia, passando a ser sim-
empresas multinacionais, jornalistas, intelectuais, militares e a nata ples executores das decisões federais.
do empresariado nacional.
Entre outros opositores a João Goulart estavam o Instituto Bra- Governo Castelo Branco
sileiro de Ação Democrática (Ibad), a Confederação Nacional das
Indústrias (CNI) e a Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp). Castelo Branco autorizou inúmeras prisões, interveio em sin-
Num comício realizado em 13 de marco de 1964, no Rio de Janeiro, dicatos e organizações populares e cassou direitos políticos de
o presidente prometeu o aprofundamento das reformas para diver- opositores. Também fechou o Congresso Nacional e criou o Servi-
sas entidades de trabalhadores e estudantes. ço Nacional de Informações (SNI). Decretou o Ato Institucional nº
Em resposta, os conservadores organizaram uma grande pas- 2 (Al-2), que estabeleceu eleições indiretas para a Presidência da
seata em São Paulo, chamada Marcha da Família com Deus pela República e extinguiu os partidos políticos existentes, que foram
Liberdade. Os participantes da passeata declaravam estar se posi- reunidos em duas novas legendas: a Arena (Aliança Renovadora
cionando contra o que era visto como ameaça da transformação do Nacional), aliada ao governo, e o MDB (Movimento Democrático
país numa república comunista, representada pelo presidente, suas Brasileiro), supostamente de oposição.
propostas e seu grupo de apoio. Setores da Igreja e do empresaria-
9 Vicentino, Cláudio. Olhares da História Brasil e Mundo. Cláu-
do participaram da manifestação.
dio Vicentino. José Bruno Vicentino. Savério Lavorato Júnior. 1ª ed.
São Paulo. Scipione.

173
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Decretou também o Al-3, que determinou a eleição indireta O Governo Médici
dos governadores dos Estados, e o Al-4, que orientou a elabora-
ção da nova Constituição, outorgada em janeiro de 1967. A Carta Durante o governo Médici, houve um elevado crescimento da
incorporava os atos institucionais e atribuía hegemonia política ao economia, do denominado “milagre econômico”. Antônio Delfim
Executivo. Em 1967, a Lei de Imprensa instaurou a censura aos veí- Netto, então ministro da Fazenda, afirmava que era preciso “fazer
culos de comunicação no país. Na área econômica, o Brasil alinhou- crescer o bolo para depois dividi-lo”. Era a justificativa para estabe-
-se completamente com os Estados Unidos e criou facilidades para lecer políticas de favorecimento e concentração da renda. O desen-
a entrada do capital estrangeiro. volvimento econômico e a propaganda governamental reforçaram
Um exemplo desse alinhamento foi o envio de tropas brasilei- o apoio da classe média ao governo, setor beneficiado pela política
ras à República Dominicana, juntando-se à intervenção militar es- econômica.
tadunidense. No entanto, foi também um período caracterizado pela repres-
são e pela tortura, com forte censura aos meios de comunicação. A
Governo Costa e Silva repressão era justificada peIo crescimento da luta armada contra
o regime. Entre as realizações do governo Médici, destacam-se a
Para a sucessão de Castelo Branco, o Alto Comando Militar in- construção da rodovia Transamazônica, a conclusão de várias hi-
dicou o ministro da Guerra, marechal Artur da Costa e Silva (1899- drelétricas e a criação da Telecomunicações Brasileiras (Telebrás) e
1969). Com a economia em crescimento e a manutenção do conge- do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). Em
lamento dos salários dos trabalhadores, surgiram greves, como a de seu governo também foi aprovada uma emenda constitucional que
Contagem (MG) e a de Osasco (SP). Esta foi reprimida brutalmente, ampliava os poderes do presidente, cujo mandato se estendeu de
com cerco policial, seguido da atuação dos soldados com metralha- quatro para cinco anos.
doras e blindados. Desde antes do completo endurecimento do regime, com o Al-
Ainda no início de seu governo, os protestos de rua contra o 5, opositores de esquerda se preparavam para enfrentar a ditadura
regime ditatorial se intensificaram. Políticos cassados pela ditadu- com a guerrilha. Alguns focos guerrilheiros foram formados: o do
ra, estudantes e trabalhadores de diversas categorias aliaram-se. Araguaia, no Pará, que foi descoberto em 1972 e destruído pelo
A Frente Ampla, por exemplo, nasceu de uma aliança entre Carlos Exército em 1975; o da Serra do Caparaó, em Minas Gerais, e o do
Lacerda, Juscelino Kubitschek e João Goulart, que buscavam reunir Vale do Ribeira, em São Paulo, que foram derrotados rapidamente.
a oposição contra a ditadura. Este último era chefiado pelo capitão Carlos Lamarca (1937-
Costa e Silva decretou sua ilegalidade e proibiu suas atividades. 1971), que conseguiu fugir da repressão militar e acabou morto no
Em 1968, foram constantes as manifestações estudantis exigindo sertão da Bahia.
a redemocratização do Brasil. O governo respondia aos protestos Outra figura que se destacou nessa forma de atuação arma-
com repressão policial. Em marco de 1968, o estudante Edson Luís da foi Carlos Marighella (1911-1969), líder da Aliança Libertadora
de Lima e Souto foi assassinado durante a invasão militar de um Nacional (ALN). Ele agia na região das grandes capitais e foi morto
restaurante universitário. Cerca de 50 mil pessoas acompanharam numa tocaia por policiais em São Paulo.
o trajeto até o cemitério, transformando o enterro em um ato polí-
tico. Em outubro, foram presos centenas de estudantes e as lideran- Governo Geisel
ças do movimento universitário que participavam do XXX Congres-
so da UNE em Ibiúna, SP. O presidente eleito indiretamente para substituir Médici foi o
Nesse quadro, o regime acentuou o processo de fechamento general Ernesto Geisel (1907-1996). Em seu governo a economia
político com a edição, em 13 de dezembro de 1968, do Ato Insti- nacional começou a mostrar sinais de dificuldades, associadas ao
tucional nº 5 (Al-5), pelo qual, entre outras medidas de exceção, o crescimento obtido à custa do capital estrangeiro.
presidente poderia decretar o recesso do Congresso Nacional. Foi a Entre essas dificuldades estava a desigualdade social com ex-
mais implacável de todas as leis da ditadura: suspendeu a conces- trema concentração de renda e o aumento da dívida externa, que
são de habeas corpus e todas e quaisquer garantias constitucionais, obrigou o pagamento de juros altíssimos, inviabilizando o cresci-
dando ao presidente militar o controle absoluto sobre o destino da mento do pais.
nação. Assim, enquanto o país conquistava a décima posição na eco-
No mesmo dia, foi decretado o fechamento do Congresso por nomia mundial, a qualidade de vida de boa parte da população
tempo indeterminado. Com a instauração do Al-5, houve o perío- brasileira continuava em níveis baixíssimos. Parte desse quadro foi
do de repressão mais intensa no país. Com os canais democráticos agravada pela crise internacional provocada pela alta dos preços do
fechados, uma parcela da oposição partiu para o enfrentamento petróleo nos países produtores, ocorrida em 1972.
armado, com assaltos a bancos, sequestros e atentados. Nessas Essa crise provocou sérios problemas no Brasil, que importa-
ações, exigia-se a libertação de presos políticos e procurava-se arre- va, aproximadamente, 80% do petróleo que consumia. A situação
cadar fundos para o movimento. O esforço pouco adiantou. Alguns continuou se agravando em 1974, primeiro ano do governo Geisel É
anos de- pois, os grupos de luta armada estavam derrotados, com importante destacar que 1974 foi, também, o ano em que o conser-
muitos militantes mortos ou exilados. Quase todos os presos foram vadorismo sofreu derrotas, como a renúncia do presidente Nixon,
torturados. nos EUA (provocada pelo caso Watergate), e a Revolução dos Cra-
Em agosto de 1969, o presidente Costa e Silva sofreu um der- vos, em Portugal, que depôs a ditadura no país.
rame e ficou impossibilitado de exercer suas funções. O vice-presi- Para contornar a situação econômica, o governo Geisel estimu-
dente, o civil Pedro Aleixo, foi proibido pelos ministros militares de lou o desenvolvimento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Alco-
assumira Presidência, que foi ocupada por uma junta militar. A junta ol), cujo objetivo era promover ver a utilização de uma fonte de
permaneceu no poder até outubro do mesmo ano, quando eleições energia alternativa ao petróleo.
indiretas foram convocadas para escolher o novo presidente. O
nome do general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), apresen-
tado pelos chefes militares, foi aprovado pelo Congresso, reaberto
para essa finalidade.

174
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Foi também durante seu governo que teve início a construção O atentado do Riocentro marcou o fim dos embates dos mi-
de duas das maiores usinas hidrelétricas do mundo: Itaipu e Tu- litares da linha dura contra o processo de abertura em curso. No
curuí. Os impasses criados pelo modelo econômico dos militares final de 1983, os partidos de oposição começaram uma campanha
deu margem para o crescimento da oposição e para o início de um pela eleição direta para presidente da República. O movimento, co-
processo de abertura política, lenta e gradual, que levaria à rede- nhecido como Diretas Já, mobilizou o país em manifestações que
mocratização do país. chegaram a envolver centenas de milhares de pessoas.
Para iniciar a abertura política, o presidente precisou afastar os O objetivo do movimento era pressionar o Congresso a aprovar
militares que se opunham a isso, considerados de linha dura e em uma emenda constitucional que reinstituía as eleições diretas para
posições de comando. A reação da sociedade às mortes por tortura presidente. A emenda, porém, foi derrotada por apenas 22 votos,
do jornalista Vladimir Herzog, em outubro de 1975, e do operário numa sessão em que vários parlamentares não compareceram.
Manuel Fiel Filho, em janeiro de 1976, foi decisiva para o processo A escolha do novo presidente seria realizada, mais uma vez,
de abertura política. indiretamente. Formou-se então uma aliança de políticos modera-
Em 1978, uma grande greve de metalúrgicos, liderada pelo lí- dos favoráveis à abertura. Dois civis concorreram à sucessão presi-
der sindical Luiz Inácio da Silva, o Lula, teve início na região do ABC, dencial: Tancredo Neves, da Aliança Democrática, que reunia tanto
em São Paulo. Entre as reivindicações estavam melhores salários opositores como colaboradores da ditadura, e Paulo Maluf, do PDS
e a abertura política. Apesar da forte repressão, outras categorias (antiga Arena). Tancredo Neves venceu, mas não tomou posse.
profissionais aderiram ao movimento, demonstrando o desgaste do Às vésperas da cerimónia, o presidente eleito foi hospitalizado
poder autoritário do governo. Antes do término de seu mandato, e faleceu em 21 de abril de 1985. A Presidência, então, foi assumida
Geisel revogou o Al-5 e determinou a extinção da censura no Brasil. por seu vice, José Sarney, um dos fiéis aliados do regime militar.
O final do governo Figueiredo e a posse de José Sarney marcaram
Governo Figueiredo o fim do regime militar. Iniciava-se uma nova fase na vida política
brasileira, denominada Nova República.
O general João Batista Figueiredo (1918-1999) foi escolhido
para a sucessão de Geisel. A divida externa brasileira ultrapassava
os 100 bilhões de dólares e a inflação era mais de 250% ao ano. Gre- A NOVA REPÚBLICA
ves e agitações políticas apareciam por toda a parte e a imprensa
trazia à tona sucessivos escândalos financeiros envolvendo mem- Transição para a Democracia
bros do governo. Dando sequência ao processo de abertura políti-
ca, o governo Figueiredo aprovou, em 1979, a Lei de Anistia. O fim da ditadura militar veio acompanhado por um desejo de
A partir de então, muitos presos políticos foram libertados e mudança: os brasileiros desejavam a construção de um novo país -
vários brasileiros exilados começaram a retornar ao país. Outra sem autoritarismo, sem corrupção, sem inflação, sem concentração
medida de seu governo foi a reforma partidária, que extinguiu a de renda, sem arrocho salarial, sem Injustiças sociais. Em um país
Arena e o MDB e autorizou a formação de novos partidos políticos. ansioso por mudanças, José Sarney, o vice-presidente eleito em
A maioria dos integrantes da Arena passou a compor o Partido De- 1985, assumiu a presidência, em decorrência da morte de Tancredo
mocrático Social (PDS). O MDB deu lugar ao Partido do Movimento Neves, com a tarefa de conduzir a transição da ditadura para o re-
Democrático Brasileiro (PMDB) e diversas legendas surgiram, como gime democrático10.
o Partido dos Trabalhadores (PT), o Partido Democrático Trabalhista O Congresso Nacional revogou leis criadas durante o regime
(PDT) e o Par- tido Trabalhista Brasileiro (PTB), entre outros. militar, acabou com a censura aos meios de comunicação e restituiu
O fim do bipartidarismo representou a ampliação das liberda- aos cidadãos brasileiros o livre exercício de expressão e pensamen-
des democráticas. to. O movimento sindical também adquiriu liberdade de acuação,
Foram ainda autorizadas eleições diretas para governadores, as o que levou à criação de centrais sindicais. Foi instituída, ainda, a
primeiras desde 1967. Nas eleições realizadas em 1982, o PDS ven- liberdade de organização partidária, incluindo a legalização dos par-
ceu em 12 estados, com um total de 18 milhões de votos, e a oposi- tidos comunistas. Em termos de transição democrática, o governo
ção venceu em dez estados, com 25 milhões de votos. O avanço da Sarney cumpria suas obrigações.
oposição também se confirmou no Legislativo: o governo deixou de Na política externa, o Brasil reatou relações diplomáticas com
ter a maioria na Câmara dos Deputados. Entretanto, ainda estava Cuba e tomou a iniciativa de formar com a Argentina um mercado
previsto que, em 1985, fosse realizada eleição indireta para o cargo comum latino-americano, que, com a adesão do Uruguai e do Para-
de presidente da República. Vários setores sociais e militares liga- guai, daria origem ao Mercado Comum do Sul (Mercosul), em 1991.
dos à ditadura reagiram ao processo de abertura política.
Essa reação foi expressa por meio da violência, com ataques a Economia da Nova República
bancas de jornais que vendiam publicações de oposição e atenta-
dos a entidades civis, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil A Nova República se deparou com uma pesada herança do regi-
(OAB). O mais sério desses atentados aconteceu em 30 de abril de me militar: uma enorme dívida externa de cerca de 100 bilhões de
1981, quando militares da linha dura visavam explodir bombas no dólares. Sem alternativas, em 1987, o governo decretou moratória;
Rio- centro, um espaço de convenções da capital carioca, onde se ou seja, tomou a decisão unilateral de não pagar a dívida. No ano
realizava um grande festival de música em homenagem ao dia do seguinte, ela foi renegociada com o Fundo Monetário Internacio-
trabalhador. Uma das bombas explodiu no pátio da miniestação elé- nal (FMI). Outro grave problema era a inflação. Em março de 1985,
trica, sem interromper o evento. quando Sarney tomou posse, ela era de 12,7% ao mês. Os traba-
A outra explodiu acidentalmente dentro de um carro, matando lhadores eram os mais prejudicados, pois o salário recebido perdia
o sargento Guilherme Pereira do Rosário (1946-1981) e ferindo gra- parte de seu poder aquisitivo já no dia seguinte.
vemente Wilson Dias Machado, um oficial do Exército.

10 História. Ensino Médio. Ronaldo Vainfas [et al.] 3ª edição.


São Paulo. Saraiva.

175
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Para enfrentá-la, o governo recorreu a planos de estabilização, A nova Constituição também garantiu os direitos sociais exis-
chamados de choques econômicos. O primeiro foi o Plano Cruzado. tentes até então e incluiu outros, como a licença-paternidade. Na
Adorado em 1986, ele “congelava” os preços de mercadorias, alu- questão dos direitos civis, houve muitos avanços, como o direito
guéis, salários, tarifas públicas e passagens pelo prazo de um ano, à liberdade de expressão, de reunião e de organização. A impren-
além de substituir a moeda do país, que era então o cruzeiro, pelo sa tornou-se livre de qualquer censura, e as liberdades individuais
cruzado. O efeito imediato foi o desejado: uma brusca queda da in- também foram garantidas no texto constitucional.
flação. Com isso os índices de popularidade de Sarney se elevaram. O racismo e a tortura tornaram-se crimes inafiançáveis. A Lei
Aproveitando-se do enorme apoio social, o presidente chegou de Defesa do Consumidor, de 1990, transformou-se em importan-
a convocar os brasileiros pela televisão para ajudar na fiscalização te instrumento de defesa dos cidadãos. Outra importante inovação
do congelamento dos preços. foi a criação dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, facilitando o
Em poucos meses, contudo, o Plano Cruzado começou a des- acesso da população à justiça, também foram ampliados os poderes
moronar. Primeiro, houve o desabastecimento (ausência de ofer- de instituições, como a Defensoria Pública e o Ministério Público.
ta de mercadorias nas lojas), depois, o chamado ágio (a cobrança
de um preço maior do que o tabelado por mercadorias vendidas O Caçador de Marajás
clandestinamente). No segundo semestre de 1986, o plano chegou
ao limite. Ainda assim, dada a proximidade das eleições legislativas Para a consolidação da transição democrática, restava ainda
e estaduais, marcadas para novembro, Sarney manteve o congela- a tão aguardada eleição presidencial: os brasileiros não elegiam
mento dos preços. presidente da República pelo voto direto havia quase 30 anos. As
Apostando no sucesso do Plano Cruzado e apoiando Sarney, os esquerdas apresentaram seus candidatos. O do Partido dos Traba-
brasileiros votaram em peso no PMDB, o partido do governo, que lhadores (PT), na época identificado com um projeto socialista, era
elegeu a maioria dos governadores, deputados e senadores. Passa- Luiz Inácio Lula da Silva.
dos apenas cinco dias das eleições, Sarney autorizou o reajuste dos O Partido Democrático Trabalhista (PDT) apresentou a candi-
preços e dos impostos. Temendo novos congelamentos, os empre- datura de Leonel Brizola, herdeiro do projeto trabalhista anterior
sários aumentaram os preços das mercadorias. a 1964. Outros candidatos, mais ao centro, foram: Ulysses Guima-
Os combustíveis, por exemplo, chegaram a ficar 60% mais ca- rães, do Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), e
ros. Os índices de popularidade do presidente despencaram. A in- Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
flação voltou, e os salários novamente perderam parte de seu po- Partidos de direita e conservadores também concorreram nas
der aquisitivo. Greves e manifestações de protesto ocorreram em eleições. Contudo, as pesquisas foram rapidamente lideradas por
várias cidades. Em uma delas, na Companhia Siderúrgica Nacional, um candidato quase desconhecido: Fernando Collor de Mello, do
o enfrentamento entre operários e soldados do Exército resultou na inexpressivo Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Collor havia
morte de três grevistas. Em meio à crise econômica, intensificavam- feito carreira política no partido da ditadura e ganhara visibilidade
-se os conflitos sociais. no governo de Alagoas, especialmente após o corte de altos salários
No campo, os enfrentamentos entre proprietários rurais e tra- na máquina administrativa do estado, o que o fez ficar conhecido
balhadores sem-terra aumentaram. Latifundiários se organizaram como “caçador de marajás”.
na União Democrática Ruralista (UDR), enquanto trabalhadores Collor recebeu o apoio de grupos econômicos poderosos e
rurais formaram o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra também da mídia quando subiu nas pesquisas e se mostrou capaz
(MST). Atentados - a mando ou não de latifundiários - contra líderes de derrotar Lula e Brizola nas eleições. Em suas campanhas, Lula de-
camponeses, padres e sindicalistas tornaram-se comuns. fendia a anulação da dívida externa e a reforma agrária; Brizola, por
No final da década de 1980, o problema da inflação tornou-se sua vez, ressaltava a necessidade de preservar as empresas estatais
crônico. Em maio de 1987, ela atingiu 23,2%; no final do ano, al- e realizar amplos investimentos em educação; já Collor pregava a
cançou o índice acumulado de 366%. No ano seguinte, a inflação modernização do país e a sua entrada no Primeiro Mundo.
chegou ao nível estratosférico de 933%. O país vivia a hiperinflação. Collor soube aproveitar o desejo de mudança que tomara a
Os preços eram reajustados diariamente. De fevereiro de 1989 a sociedade brasileira logo após o fim da ditadura. Como resultado,
fevereiro de 1990, a inflação atingiu 2751%. Sem ter como controlar ele obteve 28,52% dos votos, contra 16,08% alcançados por Lula no
a disparada dos preços, o governo Sarney se limitou a cumprir a primeiro turno das eleições - o que os levou para o segundo turno,
tarefa da transição democrática. como determinava a nova Constituição.
A Constituição de 1988 Contando com o apoio de amplos setores da sociedade, sobre-
tudo dos conservadores, Collor venceu as eleições com dos votos.
Apesar do descontrole da economia. a sociedade brasileira Lula, em torno do qual se uniram as esquerdas e as forças conside-
continuava no caminho da democracia. Em 1988, o então deputado radas progressistas, recebeu 37,86% dos votos.
Ulysses Guimarães. do PMDB. presidiu a sessão em que o Congres-
so Nacional promulgou a nova Constituição, que garantia amplos A Democracia Resistiu
direitos civis, políticos e sociais a todos os brasileiros. Com o fim da
ditadura militar, cidadania havia se tornado uma palavra recorrente Na América Latina, o Brasil não era o único país com dificulda-
no vocabulário brasileiro. des de pagar sua dívida externa. Em decorrência dessa situação, em
Não por acaso, ao promulgar a nova Constituição, Ulysses Gui- fins de 1989, técnicos do Fundo Monetário Internacional (FMI), do
marães a chamou de “Constituicão Cidadã”. De todas as Consti- Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do Banco Mun-
tuições da história do país, ela é a mais avançada no tocante aos dial (Bird) reuniram-se em um seminário com economistas latino-a-
direitos de cidadania. No âmbito dos direitos políticos, ela garantiu mericanos com o objetivo de reorganizar a economia desses países.
eleições diretas em todos os níveis, estendendo o direito ao voto a
analfabetos e a maiores de 16 anos, e ampla liberdade de organi-
zação partidária.

176
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
As medidas sugeridas ao final do encontro, que aconteceu Em fevereiro do ano seguinte, o governo criou a Unidade Real
em Washington, foram: não interferência do Estado na economia; de Valor (URV), atrelando-a ao dólar. Se a arrecadação de impostos
abertura dos mercados nacionais para importações e entrada de se mantivesse alta, os gastos na área social fossem reduzidos e as
capital estrangeiro; privatização de empresas estatais; equilíbrio do grandes reservas em dólar, preservadas, a URV se manteria estável.
orçamento do Estado, com a diminuição de investimentos na área Em julho de 1994, o governo transformou a URV em uma nova mo-
social, como saúde e educação; e combate à inflação. Esse conjunto eda, o real. Em apenas 15 dias, a inflação caiu drasticamente.
de diretrizes ficou conhecido como Consenso de Washington. O real equiparou-se ao dólar, obtendo estabilidade. Era o fim
Fernando Collor assumiu a presidência em 15 de março de da alta constante e acelerada dos preços, beneficiando os assala-
1990, mostrando-se de pleno acordo com o Consenso de Washin- riados. Com o sucesso do Plano Real, que conseguiu derrubar a
gton e determinado a aplicar o conjunto de diretrizes. Já no dia se- inflação, Fernando Henrique Cardoso foi lançado candidato à presi-
guinte, anunciou um novo plano de estabilização econômica para dência pela coligação PSDB/PFL. Seu principal adversário era Lula,
o país, cuja inflação atingia então 80% ao mês. O Plano Collor, ou novamente candidato pelo PT.
Plano Brasil Novo, abrangia uma série de medidas para controlar a Exausta da inflação, a sociedade brasileira apoiou a estabiliza-
inflação e reestruturar o Estado: reforma administrativa com demis- ção monetária e o Plano Real, elegendo FHC já no primeiro turno
são de funcionários públicos; abertura comercial ao exterior e ao com 54,27% dos votos.
capital estrangeiro; eliminação dos incentivos fiscais às indústrias;
liberalização da taxa do dólar; e um programa de privatização das Governo FHC
empresas estatais.
O plano também recorria a métodos já conhecidos dos brasi- Fernando Henrique Cardoso foi eleito e assumiu a presidên-
leiros, como o congelamento de preços e salários e a adoção de cia com o projeto de reduzir o tamanho do Estado e seu papel na
uma nova moeda. Saía o cruzado novo, voltava o cruzeiro. Havia economia. Adorando políticas neoliberais, o presidente extinguiu o
um item no plano, contudo, que ninguém esperava: o confisco dos monopólio estatal da exploração e do refino do petróleo pela Petro-
depósitos bancários em contas-correntes, aplicações financeiras e bras, eliminou as restrições à entrada de capital estrangeiro no país
cadernetas de poupança por 18 meses. e implementou reformas administrativas. Era o fim da Era Vargas,
O objetivo era estabilizar a economia por meio da retirada de segundo o próprio FHC.
dinheiro do mercado. A medida causou tremendo impacto. Sem di- Além disso, o governo estabeleceu acordos com o FMI e deu
nheiro no mercado, os preços desabaram. E a recessão foi quase início a um programa de privatização das estatais. Foram leiloadas
imediata: falências, brusca queda no consumo e nas vendas, perda empresas dos setores siderúrgico, elétrico, químico, petroquímico e
do poder aquisitivo dos salários, demissões, desemprego. de fertilizantes. O mesmo ocorreu com portos, rodovias e ferrovias.
Apesar do elevado custo social e econômico que impôs ao país, Bancos estaduais e empresas como a Embraer e a Companhia Vale
o plano não extinguiu a inflação. Ao contrário do que se previa, a do Rio Doce também foram privatizados.
inflação retornou - e com ferocidade. O Plano Collor foi um total Segundo dados do BNDES, entre 1991 e 2002, o governo fe-
fracasso. Um ano depois, o governo Collor estava mergulhado na deral arrecadou cerca de 30 bilhões de dólares com todas essas
vendas - 22 bilhões de dólares somente com a do Sistema Telebras
crise. Ao fracasso do Plano Collor somavam-se denúncias de corrup-
de Telecomunicações. Com o Plano Real, a inflação estava sob con-
ção, abalando ainda mais o governo. O ex-tesoureiro da campanha
trole. Mas havia um problema: manter o real equivalente ao dólar.
presidencial de Collor, Paulo César Farias, mais conhecido como PC
A alternativa foi aumentar as taxas de juros e atrair investimen-
Farias, foi acusado de chefiar um esquema de corrupção.
tos especulativos em dólares. Os juros altos, no entanto, resultaram
PC Farias arrecadava dinheiro de empresas, facilitava contratos
em recessão econômica e desemprego. E os recursos arrecadados
mediante elevadas comissões e, com elas, financiava as despesas
com a venda das empresas estatais acabaram sendo utilizados para
pessoais do presidente. As denúncias eram muito graves. Tanto que
pagar as altas taxas de juros. Foi também no governo FHC que a
foi instituída no Congresso Nacional uma Comissão Parlamentar de
emenda à Constituição que dispunha sobre a reeleição para cargos
Inquérito (CPI) para investigar as acusações. Nas ruas setores orga- do Poder Executivo foi aprovada.
nizados da sociedade exigiam o impeachment do presidente. Isso permitiu que o presidente concorresse a um novo manda-
Milhares de jovens estudantes com o rosto pintado de verde e to nas eleições presidenciais de 1998.
amarelo, que ficaram conhecidos como caras-pintadas, foram para Nas eleições de 1998, Lula foi novamente o maior adversário
as ruas protestar. Além do impeachment do presidente, exigiam o de Fernando Henrique. Mesmo com a aliança de duas lideranças de
fim da corrupção e a ética na política. Em 29 de setembro de 1992, esquerda - o vice de Lula era Leonel Brizola -, FHC foi reeleito com
a Câmara dos Deputados aprovou o afastamento de Collor da pre- 53% dos votos. Em seu segundo mandato, Fernando Henrique deu
sidência: foram 441 votos a favor e 38 contra. Três meses depois, continuidade ao Plano Real, preservando a estabilidade da econo-
julgado pelo Senado, Collor teve seu mandato e seus direitos po- mia.
líticos cassados por oito anos. Vaga, a presidência da República foi A manutenção das taxas de juros altas e a sobrevalorização do
assumida pelo vice, Itamar Franco. real aumentaram ainda mais a dívida pública nesses quatro anos.
Em 2001, o presidente, que gozava de boa popularidade, teve sua
O Plano Real imagem afetada pelo chamado “apagão”.
Uma seca inesperada esvaziou os reservatórios das hidrelétri-
Itamar Franco assumiu a presidência com amplo apoio político cas, resultando em falta de energia elétrica no país. Sem planeja-
no Congresso Nacional. Fernando Henrique Cardoso foi nomeado mento e sem investimentos no setor, foi necessário impor racio-
ministro da Fazenda em março de 1993. Com um grupo de econo- namento de energia à população. Nos oito anos de governo FHC,
mistas, ele começou a elaborar um plano para estabilizar a econo- medidas importantes foram tomadas, como o Código de Trânsito
mia do país. Seguindo as indicações do Consenso de Washington, Brasileiro ( 1997), a venda de medicamentos genéricos ( 1999), a Lei
FHC e sua equipe concluíram que, para alcançar a estabilidade da de Responsabilidade Fiscal (2000), a quebra de patentes de remé-
moeda, era preciso reformar o Estado, reduzir os gastos do governo dios contra a Aids (2001), o Bolsa-escola (2001), o Vale-Gás (2001),
e privatizar as empresas estatais. entre outras.

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HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Mudança de Rumos No plano social, o governo deu continuidade ao combate à po-
breza. Além disso, propiciou um aumento real do poder de compra
Com o Plano Real, a sociedade brasileira conheceu a importân- dos trabalhadores, com a oferta de crédito à população e outras
cia da estabilidade da moeda. As políticas neoliberais adoradas por medidas. O resultado foi a criação de 15 milhões de novos empre-
Fernando Henrique resultaram no controle da inflação, mas tam- gos, a ascensão social de milhões de pessoas, o crescimento acen-
bém na alta do desemprego e na perda de diversos direitos sociais. tuado da chamada classe C e o fortalecimento do mercado interno
Ao final de seu segundo mandato havia um novo desejo de mudan- brasileiro.
ça entre os brasileiros. Foi devido ao fortalecimento de seu mercado interno que o
Nas eleições presidenciais de 2002, Lula foi novamente candi- Brasil demonstrou capacidade de resistir à crise mundial que teve
dato pelo PT. Em sua quarta disputa pela presidência, ele deixava origem nos Estados Unidos em fins de 2007. Em meados de 2009,
de lado o discurso socialista dos anos anteriores e apresentava um o país voltou a crescer. Em 2010, o crescimento econômico foi de
programa moderado, buscando o apoio das classes médias e dos 7%. Ao deixar o governo, em 1º de janeiro de 2011, Lula contava
empresários. Contando com amplo apoio político, Lula recebeu com 87% de aprovação entre os brasileiros, segundo pesquisa de
46,4% dos votos no primeiro turno das eleições de 2002, e 61,2% opinião encomendada pela Confederação Nacional dos Transportes
no segundo turno. (CNT).
O governo Lula optou por dar continuidade à política econômi-
ca de FHC, mantendo a estabilidade da moeda por meio do equilí- Governo Dilma Rousseff
brio fiscal e do controle dos gastos públicos. Como os números mos-
travam-se bastante favoráveis, a credibilidade do país no mercado Para concorrer à presidência da República nas eleições de 2010,
financeiro internacional cresceu. Apesar dessas semelhanças, ao re- o Partido dos Trabalhadores (PT) lançou o nome de Dilma Rousseff,
tomar o nacional-desenvolvimentismo característico da Era Vargas, então ministra da Casa Civil do governo Lula. A eleição foi decidida
o novo governo mostrou que tinha um projeto político diferente do no segundo turno, com a vitória de Dilma com 56,05% dos votos.
de seu antecessor. Dilma, quando jovem, fora presa e torturada pela ditadura
Nesse sentido, as privatizações foram suspensas e o papel militar. Sua vitória representou um grande avanço para a demo-
do Estado, reforçado. A pesquisa científica, por exemplo, recebeu
cracia brasileira. Pela primeira vez, uma mulher e ex-integrante da
apoio e incentivos financeiros. Na política externa, o governo Lula
luta armada contra a ditadura assumia o cargo de presidente da
ampliou as relações comerciais e diplomáticas do Brasil com os pa-
República. O governo Dilma deu continuidade às políticas sociais
íses da União Europeia, da África, da Ásia e da América Latina. O
e desenvolvimentistas do governo Lula, como o programa Minha
reforço do Mercosul também foi uma iniciativa nesse sentido.
Casa, Minha Vida, e promoveu outros, como o Programa Nacional
No plano social, o governo dedicou-se ao combate da pobreza,
de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).
retirando milhões de pessoas da miséria. Além da criação do Pro-
No final de 2011, os jornais noticiaram que o Brasil havia se
grama Bolsa Família, em que há transferência direta de renda às
tornado a 6ª maior economia do mundo, ultrapassando a Grã-Bre-
famílias em situação de pobreza, o governo diminuiu os impostos
tanha, então na 7ª posição.
sobre produtos da cesta básica e materiais de construção e reajus-
tou o salário mínimo acima dos índices de inflação, beneficiando os No governo Dilma foi aprovado o Marco Civil da Internet
trabalhadores e as camadas mais pobres da população. (2014), foram leiloados campos de petróleo do pré-sal (2013) e foi
instituída a Comissão Nacional da Verdade (2012). Sua popularida-
Crise e Reeleição de manteve-se em alta, mas foi abalada pelos pro- testos que toma-
Em 2005, no terceiro ano do mandato de Lula, vieram a públi- ram o país em junho de 2013. Ela sofreu críticas pelo baixo cresci
co denúncias de que o governo pagava regularmente a deputados mento do Produto Interno Bruto do país, pela alta da inflação e pe-
e senadores para que matérias de interesse do Executivo fossem los gastos com a Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em
aprovadas pelo Congresso. O “mensalão”, como o esquema de ar- 2014. Ao final de seu primeiro mandato, Dilma Rousseff concorreu
recadação de dinheiro ficou conhecido, envolvia empresários, mi- à reeleição. Com dos votos, sua vitória sobre o candidato do PSDB
nistros de Estado e parlamentares. Em fins de 2012, muitos foram foi apertada no segundo turno.
condenados em julgamento pelo Supremo Tribunal Federal. Mesmo Como no seu primeiro mandato, os gastos públicos aumenta-
com a queda dos índices de popularidade do governo durante a cri- ram demasiadamente, e a ameaça da inflação voltou. O governo,
se política, o presidente continuou a contar com o apoio de amplos então, adorou política recessiva, cortando drasticamente os gastos
setores da população. públicos, o que gerou recessão econômica e perda do poder aqui-
Em 2006, Lula lançou-se à reeleição e foi eleito para um novo sitivo da população.
mandato, com a maioria dos votos dos trabalhadores, dos setores A popularidade do PT e do governo Dilma diminuiu e as oposi-
mais pobres da população e de parte significativa das classes mé- ções aumentaram. Inicialmente, grupos radicais de direita pediam
dias. Ao ser novamente empossado presidente, em 2007, Lula tam- a volta da ditadura militar. Depois, passeatas tomaram as grandes
bém contava com uma ampla coalização de partidos políticos no cidades, criticando o governo e exigindo a saída de Dilma da presi-
Congresso Nacional. dência da República. As investigações da Operação Lava Jato pre-
Apesar dos juros altos praticados pelo Banco Central e do con- judicaram a imagem do PT e de Dilma. As denúncias de corrupção
trole das contas públicas pelo governo, necessários para garantir a na Petrobras serviram de combustível para aumentar ainda mais os
estabilidade econômica do país, os investimentos na área de educa- protestos contra a presidente.
ção triplicaram. O governo também investiu em energia e transpor- No início de 2016, a sociedade brasileira se encontrava muito
te; apoiou as indústrias de exportação, obtendo saldos comerciais dividida. No Congresso Nacional, a oposição entrou com pedido de
positivos; e incentivou a internacionalização de muitas empresas. impeachment, cuja instauração foi aprovada pelo Senado no dia
O bom desempenho da agricultura e o aumento do preço de pro- 12 de maio. Com a decisão, Dilma foi afastada da presidência para
dutos primários no mercado internacional beneficiaram o conjunto aguardar o julgamento final pelo Senado. O vice Michel Temer, do
da economia. PMDB, assumiu como presidente em exercício.

178
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Muitos, porém, interpretaram o movimento oposicionista a Na campanha, por meio das redes sociais e do aplicativo de
Dilma como um golpe contra a democracia e também foram para mensagens WhatsApp, apostou em um discurso conservador nos
as ruas protestar. O clima se radicalizou, inviabilizando o diálogo e costumes, de aceno liberal na economia, de linha dura no combate
colocando em risco a capacidade da sociedade de resolver suas di- à corrupção e à violência urbana e opositor do PT e da esquerda.
ferenças por meio de acordos e negociações políticas.

Governo Temer
A CULTURA DO BRASIL REPUBLICANO:
A crise no governo Dilma e o impeachment ARTE E LITERATURA
Devido à crise política e econômica que se instalou no país,
com a corrução generalizada denunciada pela “Operação Lava-Ja- A arte
to”, em agosto de 2015, Temer comunicou o seu afastamento da A palavra arte é derivada do termo latino “ars”, que significa
articulação política11. arranjo ou habilidade. Neste sentido, podemos entender a noção
No dia 2 de dezembro, o presidente da Câmara aceitou a aber- de arte como um meio de criação, produção de novas técnicas e
tura do processo de impeachment da presidente Dilma. perspectivas. Há diferentes visões artísticas, mas todas possuem
Em março de 2016, o PMDB deixou a base do governo para em comum a intenção de representar simbolicamente a realidade,
apoiar o processo de impeachment que tramitava na Câmara dos sendo assim, resultado de valores, experiências e culturas de um
Deputados. povo em um determinado momento ou contexto histórico.
No dia 17 de abril de 2016, com 367 votos favoráveis e 137 con-
trários, a Câmara dos Deputados aprovou o relatório do impeach-
ment e autorizou o Senado Federal a julgar a presidente por crime
de responsabilidade.
O Senado determinou, em sessão iniciada no dia 11 de maio de
2016 e concluída na madrugada do dia 12 de maio, o afastamento
de Dilma. Na sessão que durou 22 horas, o resultado foi de 55 votos
a favor do afastamento e 22 contra.

A tomada de posse
No dia 12 de maio de 2016, Michel Temer assumiu interina-
mente a Presidência do Brasil, se tornando o 37º mandatário da
República. Ainda sem receber a faixa presidencial, Temer aguardou
até que o Congresso realizasse o julgamento que afastaria definiti-
vamente a presidente. Quadro “Antropofagia”, de Tarsila do Amaral
No dia 31 de agosto de 2016, após a aprovação do impeach-
ment da presidente Dilma, Michel Temer tomou posse como Pre- A arte pode ser composta pela linguagem não verbal (por meio
sidente da República, se tornando o 14º a assumir o cargo sem ter de imagens, sons, gestos, etc.) ou, ainda, pela linguagem verbal,
sido eleito diretamente pelo povo. formada por palavras. Quando ocorre a fusão entre os dois tipos de
Michel Temer foi Presidente do Brasil de 31 de agosto de 2016 linguagem, chamamos de linguagem mista ou híbrida. É importante
a 31 de dezembro de 2018. dizer, ainda, que ainda que a arte faça referência a algum período
histórico ou político, essa não possui compromisso de retratar fide-
Governo Bolsonaro dignamente a realidade e possui o intuito de instigar, despertar o
incômodo, romper com os padrões.
Jair Messias Bolsonaro, do PSL, foi eleito o 38º presidente da A literatura
República ao derrotar em segundo turno o petista Fernando Ha- Além disso, a literatura também é um tipo de manifestação ar-
ddad, interrompendo um ciclo de vitórias do PT que vinha desde tística e sua “matéria prima” são as palavras, que podem compor
200212. prosas ou versos literários. A linguagem, em geral, explora bastante
A vitória foi confirmada às 19h18, quando, com 94,44% das se- o sentido conotativo e o uso das figuras de linguagem contribuem
ções apuradas, Bolsonaro alcançou 55.205.640 votos (55,54% dos para a construção estética do texto. Os movimentos literários, que
válidos) e não podia mais ser ultrapassado por Haddad, que naque- estudaremos em breve, estão vinculados a um contexto histórico e
le momento somava 44.193.523 (44,46%). Com 100% das seções possuem características que representam os anseios e costumes de
apuradas, Bolsonaro recebeu 57.797.847 votos (55,13%) e Haddad, um determinado tempo.
47.040.906 (44,87%).
No discurso da vitória, Bolsonaro afirmou que o novo governo Os textos literários têm maior expressividade, há uma seleção
será um “defensor da Constituição, da democracia e da liberdade”. vocabular que visa transmitir subjetividade, uma preocupação com
Aos 63 anos, capitão reformado do Exército, deputado federal a função estética, a fim de provocar e desestabilizar o leitor, as pa-
desde 1991 e dono de uma extensa lista de declarações polêmicas, lavras possuem uma extensão de significados e faz-se preciso um
Jair Bolsonaro materializou em votos o apoio que cultivou e am- olhar mais atento à leitura, que não prioriza a informação, mas sim,
pliou a partir das redes sociais e em viagens pelo Brasil para obter o o caráter poético.
mandato de presidente de 2019 a 2022.
11 Dilva Frazão. E-Biografias. https://www.ebiografia.com/mi-
chel_temer/.
12 Guilherme Mazui. G1 Política. https://g1.globo.com/politi-
ca/eleicoes/2018/noticia/2018/10/28/jair-bolsonaro-e-eleito-pre-
sidente-e-interrompe-serie-de-vitorias-do-pt.ghtml.

179
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Veja, abaixo, exemplos de textos literários: Meu leiteiro tão sutil
de passo maneiro e leve,
Anúncios classificados antes desliza que marcha.
É certo que algum rumor
Vendedoras. Ótima aparência, excelente salário. Rua tal, no tal. sempre se faz: passo errado,
Recusada. vaso de flor no caminho,
Boutique cidade precisa moça boa aparência entre 25 e 30 cão latindo por princípio,
anos. Marcar entrevista tel. no tal. Recusada. ou um gato quizilento.
Moças bonitas e educadas para trabalhar como recepcionistas. E há sempre um senhor que acorda,
Garantimos ganhos acima de um milhão. Procurar D. Fulana das resmunga e torna a dormir.
12,00 às 20,00 horas, na rua tal, no tal. Recusada.
Senhor solitário com pequeno defeito físico procura moça de Mas este acordou em pânico
30 anos para lhe fazer companhia. Não precisa ser bonita. Endereço (ladrões infestam o bairro),
tal. não quis saber de mais nada.
Desta vez ela não disfarçou a corcunda nem pôs óculos escuros O revólver da gaveta
para esconder o estrabismo. Contratada. saltou para sua mão.
(CUNHA, Helena Parente. Cem mentiras de verdade, 1985) Ladrão? se pega com tiro.
Os tiros na madrugada
Morte do Leiteiro liquidaram meu leiteiro.
Se era noivo, se era virgem,
Há pouco leite no país, se era alegre, se era bom,
é preciso entregá-lo cedo. não sei,
Há muita sede no país, é tarde para saber.
é preciso entregá-lo cedo.
Há no país uma legenda, Mas o homem perdeu o sono
que ladrão se mata com tiro. de todo, e foge pra rua.
Meu Deus, matei um inocente.
Então o moço que é leiteiro Bala que mata gatuno
de madrugada com sua lata também serve pra furtar
sai correndo e distribuindo a vida de nosso irmão.
leite bom para gente ruim. Quem quiser que chame médico,
Sua lata, suas garrafas polícia não bota a mão
e seus sapatos de borracha neste filho de meu pai.
vão dizendo aos homens no sono Está salva a propriedade.
que alguém acordou cedinho A noite geral prossegue,a manhã custa a chegar,
e veio do último subúrbio mas o leiteiro
trazer o leite mais frio estatelado, ao relento,
e mais alvo da melhor vaca perdeu a pressa que tinha.
para todos criarem força Da garrafa estilhaçada,
na luta brava da cidade. no ladrilho já sereno
escorre uma coisa espessa
Na mão a garrafa branca que é leite, sangue… não sei.
não tem tempo de dizer Por entre objetos confusos,
as coisas que lhe atribuo mal redimidos da noite,
nem o moço leiteiro ignaro, duas cores se procuram,
morador na Rua Namur, suavemente se tocam,
empregado no entreposto, amorosamente se enlaçam,
com 21 anos de idade, formando um terceiro tom
sabe lá o que seja impulso a que chamamos aurora.
de humana compreensão.
E já que tem pressa, o corpo Carlos Drummond de Andrade
vai deixando à beira das casas
uma apenas mercadoria. Poema Brasileiro

E como a porta dos fundos No Piauí de cada 100 crianças que nascem
também escondesse gente 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
que aspira ao pouco de leite
disponível em nosso tempo, No Piauí
avancemos por esse beco, de cada 100 crianças que nascem
peguemos o corredor, 78 morrem antes de completar 8 anos de idade
depositemos o litro…
Sem fazer barulho, é claro, No Piauí
que barulho nada resolve. de cada 100 crianças
que nascem

180
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
78 morrem A identidade social refere-se às características atribuídas a um
antes indivíduo pelos outros, o que serve como uma espécie de categori-
de completar zação realizada pelos demais indivíduos para identificar o que uma
8 anos de idade pessoa em particular é. Portanto, o título profissional de médico,
por exemplo, quando atribuído a um sujeito, possui uma série de
Antes de completar 8 anos de idade qualidades predefinidas no contexto social que são atribuídas aos
antes de completar 8 anos de idade indivíduos que exercem essa profissão. A partir disso, o sujeito po-
antes de completar 8 anos de idade siciona-se e é posicionado em seu âmbito social em relação a outros
antes de completar 8 anos de idade indivíduos que partilham dos mesmos atributos.
O conceito de autoidentidade (ou a identidade pessoal) refere-
Ferreira Gullar, 1962. -se à formulação de um sentido único que atribuímos a nós mesmos
e à nossa relação individual que desenvolvemos com o restante do
Diferenças entre o texto literário e o não-literário mundo. A escola teórica do “interacionismo simbólico” é o princi-
Diferente do poema da autora Cecília Meireles, em que há uma pal ponto de apoio para essa ideia, já que parte da noção de que é
transmissão de sensibilidade nos versos, os textos não literários são diante da interação entre o indivíduo e o mundo exterior que surge
aqueles que possuem o caráter informativo, que visam notificar, a formação de um sentido de “si mesmo”. Esse diálogo entre mundo
esclarecer e utilizam uma linguagem mais clara e objetiva. Jornais, interior do indivíduo e mundo exterior da sociedade molda a identi-
artigos, propagandas publicitárias e receitas culinárias são ótimos dade do sujeito que se forma a partir de suas escolhas no decorrer
exemplos de textos não literários, pois esses têm o foco em comu- de sua vida.
nicar, informar, instruir, etc.
Identidade Cultural
IDENTIDADE CULTURAL
Por fim, podemos estabelecer, diante do que já foi esclarecido,
que o conceito de identidade cultural faz alusão à construção iden-
A identidade cultural ainda é bastante discutida dentro dos cír-
titária de cada indivíduo em seu contexto cultural. Em outras pala-
culos teóricos das Ciências Sociais em face de sua complexidade.
vras, a identidade cultural está relacionada com a forma como ve-
Entre as possíveis formas de entendimento da ideia de identidade
mos o mundo exterior e como nos posicionamos em relação a ele.
cultural, existem duas concepções distintas que devemos destacar
Esse processo é contínuo e perpétuo, o que significa que a iden-
dentro dos estudos sociológicos mais recentes. Essas concepções tidade de um sujeito está sempre sujeita a mudanças. Nesse senti-
de identidade são brevemente explicadas por Anthony Giddens, so- do, a identidade cultural preenche os espaços de mediação entre o
ciólogo britânico, e nos ajudarão a entender melhor esse conceito13. mundo “interior” e o mundo “exterior”, entre o mundo pessoal e o
mundo público. Nesse processo, ao mesmo tempo que projetamos
Conceito de Cultura nossas particularidades sobre o mundo exterior (ações individuais
de vontade ou desejo particular), também internalizamos o mundo
Antes de falarmos sobre os diferentes conceitos de identidade exterior (normas, valores, língua...). É nessa relação que construí-
cultural, devemos esclarecer primeiro a ideia geral de cultura e de mos nossas identidades.
identidade. A noção de cultura faz alusão às características social-
mente herdadas e aprendidas que os indivíduos adquirem a partir
de seu convívio social. Entre essas características, estão a língua, a HISTÓRIA DO ESTADO DO ESPIRITO SANTO: COLONI-
culinária, o jeito de se vestir, as crenças religiosas, normas e valores. ZAÇÃO, POVOAMENTO, SOCIEDADE E INDÚSTRIAS
Esses traços culturais possuem influência direta sobre a construção
de nossas identidades, uma vez que elas constituem grande parte
do conjunto de atributos que formam o contexto comum entre os O Estado do Espírito Santo está localizado na região Sudeste do
indivíduos de uma mesma sociedade e são parte fundamental da Brasil. A capital é Vitória e a sigla ES. Quem nasce no Espírito Santo
comunicação e da cooperação entre os sujeitos. é chamado de capixaba.
A população capixaba é de aproximadamente 3,5 milhões de
Conceito de Identidade habitantes, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Es-
tatística). O Espírito Santo tem 78 municípios que compartilham um
O conceito de identidade refere-se a uma parte mais individual território de 46.096.925 quilômetros quadrados.
do sujeito social, mas que ainda assim é totalmente dependente do As cidades mais importantes são: a capital Vitória, Vila Velha,
âmbito comum e da convivência social. De forma geral, entende-se Cariacica, Serra e Cachoeira do Itapemirim.
por identidade aquilo que se relaciona com o conjunto de entendi-
Economia
mentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo
A economia do Espírito Santo é baseada, principalmente, na
que lhe é significativo.
agricultura e indústria. Parte significativa do rendimento também
Esse entendimento é construído a partir de determinadas fon-
está na extração mineral das reservas de petróleo, de gás natural
tes de significado que são construídas socialmente, como o gênero,
e de calcário.
nacionalidade ou classe social, e que passam a ser usadas pelos in- Os produtos de maior destaque são o café, arroz, milho, feijão,
divíduos como plataforma de construção de sua identidade. abacaxi, cacau, mandioca e mamão. Na criação de animais, desta-
Dentro desse conceito de identidade, há duas distinções im- cam-se bois, suínos e aves.
portantes que devemos entender antes de prosseguirmos. A teoria
sociológica distingue duas apreensões: a identidade social e a au-
toidentidade.
13 Lucas Oliveira. Identidade Cultural. https://bit.ly/2VbAAmi.

181
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Turismo tantes como a Pedra Azul, com 1.822 m, que também é conhecida
A disponibilidade de riquezas naturais do Espírito Santo per- como a Pedra do Lagarto, devido a uma saliência em forma de um
mite a ampla exploração do ecoturismo. Entre os principais pontos animal que parece subir pela sua encosta. Aos fundos, na mesma
turísticos estão as praias, picos, a gruta da Onça – na Mata Atlântica formação rochosa de granito e gnaisse, avista-se a Pedra das Flores,
–, a Ilha do Frade e a Ilha do Boi. Todos localizados em Vitória, onde com 1909 metros de altura.
também está o Parque Moscoso. Ao noroeste as altitudes diminuem um pouco, porém apresen-
O estado também oferece piscinas naturais para tratamento tam-se algumas elevações rochosas, os pontões capixabas, entre as
em águas termais e um vasto patrimônio cultural. São museus e quais destacam-se as formações na cidade de Pancas.
construções do período colonial que resistem ao tempo. Entre os
destaques está Guarapari, surgida a partir de uma missão fundada Clima
pelo Padre Anchieta, em 1585. O clima do Estado do Espírito Santo é tropical úmido, com tem-
peraturas médias anuais entre 22ºC e 24ºC e volume de precipita-
Cultura ção superior a 1.400 mm por ano, especialmente concentrada no
A cultura capixaba é um misto de influências europeias e in- verão
dígenas. As principais festas remontam à tradição alemã e portu-
guesa. Hidrografia
Geografia do Espírito Santo O Rio Doce é o mais importante do estado, com 853 km de
O Espírito Santo fica na região Sudeste do Brasil, fazendo divisa extensão desde a nascente. Ele nasce no estado de Minas Gerais
com o estado da Bahia ao norte, Minas Gerais ao oeste, Rio de Ja- e desemboca no oceano Atlântico, na cidade de Linhares. Também
neiro ao sul e ao leste pelo oceano é banhado Atlântico. Localiza-se se destacam os rios São Mateus, no norte do estado, o Itaúnas, o
a oeste do Meridiano de Greenwich e ao sul da Linha do Equador, Itapemirim, o Jucu, o Santa Maria da Vitória, que desemboca na
com fuso horário de menos três horas em relação à hora mundial baía de Vitória e o Itabapoana, que separa o Espírito Santo do Rio
GMT. Sua capital é Vitória. A área territorial do estado é de 46 184,1 de Janeiro.
km², a população estimada em 2015 é de 3.929.911 (Fonte: IBGE). O município de Linhares possui 69 lagoas que formam o maior
Quem nasce no Espírito Santo é chamado de capixaba ou espírito- complexo lacustre da região Sudeste. A mais famosa delas é a Jupa-
-santense. ranã, que possui 38 km de extensão é a maior do Brasil em volume
de água doce e a segunda maior em extensão geográfica.
Relevo
O relevo do estado é caracterizado por baixada litorânea (40% Vegetação
do território) e serras (interior). O relevo é formado por rochas cris-
A vegetação do Espírito Santo é composta por floresta tropical
talinas, sobretudo gnaisses e granitos. Ao longo da costa Atlântica
e vegetação litorânea.
encontra-se uma faixa de planície e à medida que se penetra em
direção ao interior, o planalto dá origem a uma região serrana, com
História do Estado do Espírito Santo
altitudes superiores a 2.000 metros.
Só 30 anos após o descobrimento, Portugal começou a se preo-
O território capixaba é dividido entre o litoral, planalto e a cos-
cupar com a colonização do Brasil, pressionado pelos ataque piratas
ta atlântica. Na região serrana está localizada a serra da Chibata e
que vinham em busca do pau-brasil. Em 1531, Martim Afonso de
o Pico da Bandeira, com 2.890 metros de altura. É o terceiro maior
Sousa, comandando uma poderosa esquadra, chegou a Pernambu-
pico do País.
co, com a missão de combater os piratas e estabelecer núcleos de
O rio mais importante é o Doce, cuja nascente está em Minas
Gerais e percorre 944 quilômetros ao longo do Espírito Santo. Os povoamento. Não tendo recursos suficientes para bancar a colo-
demais rios que integram a bacia capixaba são o São Mateus, Itaú- nização, o então rei de Portugal D. João III aceitou a sugestão de
na, Itapemirim, Jucu, Itabapoana e Mucurí. dividir o Brasil em capitanias que seriam distribuídas a quem tivesse
De largura variável, a Baixada espírito-santense acompanha interesse e condições para colonizá-las.
toda a costa capixaba, da fronteira com a Bahia até o limite com o Apresentaram-se os 12 primeiros voluntários, oriundos de fa-
Rio de Janeiro. O litoral é rochoso ao sul, com falésias de arenito, mílias de guerreiros, navegantes, gente da corte, dispostos à arroja-
e também na parte central, com grandes morros e afloramentos da empreitada, entre eles Vasco Fernandes Coutinho, que recebeu
graníticos a beira mar, além de ser recortado com enseadas e baias. de presente a Capitania do Espírito Santo.
É arenoso ao norte, com praias longas de ar aberto e cobertas por Com a carta de doação, recebida em 1º de junho de 1534, Vas-
uma vegetação rasteira. Destaque para as dunas de Itaúnas, no ex- co Coutinho desembarcou na capitania no dia 23 de maio de 1535,
tremo norte capixaba. desembarcando na atual Prainha de Vila Velha, onde fundou o pri-
A 1.140 km da costa, no Oceano Atlântico, encontram-se a Ilha meiro povoamento. Como era oitava de Pentecostes, o donatário
da Trindade e as Ilhas de Martim Vaz, situadas a 30 quilômetros de batizou a terra de Espírito Santo, em homenagem à terceira pessoa
Trindade. Ao todo, são 73 ilhas localizadas na costa do estado, sen- da Santíssima Trindade. Para colonizar a terra, Vasco Coutinho dis-
do 50 localizadas na capital Vitória. tribuiu sesmarias entre os 60 colonizadores que com ele vieram.
Outra unidade do relevo são os planaltos e serras, que ocupam Como vila velha não oferecia muita segurança contra os ata-
60% do território do estado. O Espírito Santo é coroado por maciços ques dos índios que habitavam a região, Vasco Coutinho procurou
montanhosos, e entre os quais se destacam os picos da Serra do Ca- em 1549 um lugar mais seguro e encontrou numa ilha montanhosa
paraó, no sudoeste do estado, próximo à divisa com Minas Gerais. onde fundou um novo núcleo com o nome de Vila Nova do Espírito
Nela está o Pico da Bandeira (2.892m), o terceiro mais alto de todo Santo, em oposição ao primeiro, que passou a ser chamado de Vila
o país, localizado no município capixaba de Ibitirama. Velha. As lutas contra os índios continuaram até que no dia 8 de
Na cidade de Castelo está o Pico do Forno Grande, um impo- setembro de 1551, os portuguesas obtiveram uma grande vitória e,
nente afloramento rochoso com 2.070m, ponto mais alto da Serra para marcar o fato, a localidade passou a se chamar Vila da Vitória
do Castelo. Existem vários afloramentos menores, porém impor- e a data como a de fundação da cidade.

182
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Administração de Vasco Coutinho Personagens
Vasco Coutinho era um militar e não administrador, mas deixou Todos os países, estados ou municípios têm pessoas que pas-
várias obras durante seus 25 anos de donatário. Além das duas vilas saram para a história pelos atos que praticaram. Também o Espírito
(Vila Velha e Vitória), foram construídas as duas primeiras igrejas, Santo tem seus personagens que são lembrados até agora. Entre
a do Rosário, em Vila Velha, fundada em 1551 e ainda existente. A eles podemos citar:
outra, anterior à do Rosário, chamava-se Igreja de São João, e tam- Vasco Coutinho - O primeiro donatário e iniciador do povoa-
bém ficava em Vila Velha. mento do território, ao fundar a cidade de Vila Velha, em 1535.
Foram também construídos os primeiros engenhos de açúcar, Frei Pedro Palácios - Irmão leigo franciscano, fundador do Con-
principal produto da economia por três séculos, até 1850, quando vento da Penha, em Vila Velha. Nasceu na Espanha, na cidade de
foi substituído pelo café. Em 1551, foi fundado, pelo padre Afonso Medina do Rio Seco e chegou ao Espírito Santo em 1558, morrendo
Brás, o Colégio e Igreja de São Tiago, que, após sucessivas refor- em 1570.
mas, transformou-se no atual Palácio Anchieta, sede do Governo Araribóia - Cacique da tribo temiminó, que partiu de Vitória
do Estado. com 200, índios para ajudar a expulsar os franceses do Rio de Ja-
Com a chegada de missionários, foram fundadas as localidades neiro.
de Serra, Nova Almeida e Santa Cruz, em 1556. Dois anos depois Padre José de Anchieta - Missionário jesuíta, catequizador de
chegou frei Pedro Palácios, que foi o fundador do principal monu- índios, poetas e escritor de pesas teatrais que mais se destacou em
mento religioso do Estado, o Convento da Penha, padroeira do Es- sua época. Nasceu nas Ilhas Canárias e morreu na cidade de Anchie-
pírito Santo. ta no dia 9 de junho de 15976. Existe um processo de canonização
Vasco Coutinho, que deixou parentes e amigos em Portugal, de Anchieta.
venceu bens e contraiu dívidas para receber a Capitania do Espírito Maria Ortiz - Foi uma jovem capixaba que, aos 22 anos, ajudou
Santo, morreu em 1561, em Vila Velha, onde vivia, velho, cansado a expulsar os holandeses que atacaram Vitória em 1625. Sua ajuda,
e pobre, um ano depois de renunciar ao governo da capitania, Po- jogando água fervendo sobre os invasores foi numa escadaria no
voamento. centro da cidade que em 1924 foi transformada em Escadaria Maria
Depois de Vasco Fernandes Coutinho, o povoamento do Espí- Ortiz.
rito Santo foi sendo feito aos poucos e pelo litoral, durante aproxi- Domingos José Martins - Personagem capixaba que se desta-
madamente 300 anos, restringindo-se à região ao sul do Rio Doce. cou pela participação como líder na Revolução Pernambucana, em
Nesse período, o principal produto da economia era a cana-de-açú- 1817, que já pretendia a independência do Brasil. Foi fuzilado em
car. A ocupação do interior aconteceu do Sul para o Norte, com mi- Salvador no dia 12 de junho de 1817.
neiros e fluminenses que vinham atraídos pelo café, que começou Elisário - Escravo que ficou famoso por chefiar a principal re-
a ser cultivado depois de 1840. No interior norte, o povoamento volta de escravos do Espírito Santo, a Insurreição de Queimados,
começou por Colatina e daí para os outros municípios, com a cons- em 1849. Preso, fugiu e se refugiou nas matas não se tendo mais
trução da Ponte Florentino Avidos, em 1928.
notícias dele.
Em 1860, o então Imperador Dom Pedro II visitou o Espírito
Caboclo Bernardo - Pescador que ajudou a salvar a tripulação
Santo, acompanhado da esposa, Dona Teresa Cristina, permane-
do navio da Marinha de Guerra do Brasil, Imperial Marinheiro, que
cendo durante duas semanas, quando desenvolveu intenso pro-
naufragou perto da foz do Rio doce, na madrugada de 7 de setem-
grama de Visitas, percorrendo estabelecimentos públicos, colégios,
bro de 1887.
cadeias e deixando de seu próprio bolso uma contribuição para a
Augusto Ruschi - O maior naturalista do Brasil e maior estudio-
Santa Casa de Misericórdia.
so dos beija-flores do mundo. Fundou o famoso Museu de Biologia
Mello Leitão, em Santa Teresa, a Terra dos colibris, onde nasceu em
República
Com a proclamação da independência do Brasil, os dirigentes 1915 e morreu em 1986. Pelos seus conhecimentos científicos e
passaram a se chamar presidentes da província, que eram eleitos pela luta pela preservação na natureza, em 1994, o Congresso Na-
pelo Congresso. A partir da proclamação da República, a província cional aprovou o decreto do presidente da República, tornando-o o
passou a se chamar Estado, e o Afonso Cláudio de Freitas Rosa foi Patrono da Ecologia do Brasil.
eleito pelo Congresso o primeiro governador.
Daí até o golpe de estado de Getúlio Vargas, em 1930, os gover- Colonização
nadores eram eleitos pelo Congresso, seguindo-se um período de Vasco Coutinho desembarcou na capitania em dia 23 de maio
interventores, até a eleição de Carlos Monteiro Lindenberg, por su- de 1535, desembarcando na atual Prainha de Vila Velha, onde fun-
frágio popular. Com o golpe militar de 1964, novamente os governa- dou o primeiro povoamento. Como era oitava de Pentecostes, o do-
dores eram eleitos pela Assembléia após indicação dos presidentes- natário batizou a terra de Espírito Santo, em homenagem à terceira
-generais - Cristiano Dias Lopes, Arthur Carlos Gerhard Santos, Elcio pessoa da Santíssima Trindade.
Álvares e Eurico Rezende -, sendo novamente eleitos de Gerson Para colonizar a terra, Vasco Coutinho dividiu a capitania em
Camata até José Inácio Ferreira, que toma posse em janeiro de 99. sesmarias - terras abandonadas e que, a partir da inclusão deste
sistema, deveriam ser cultivadas, fomentando a agricultura e a pro-
Por que Capixaba? dutividade. Esses “lotes” foram distribuídos entre os 60 coloniza-
Segundo os estudiosos da língua tupi, capixaba significa, roça, dores que vieram com ele. Como em Vila Velha não oferecia muita
roçado, terra limpa para plantação. Os índios que aqui viviam cha- segurança contra os ataques dos índios que habitavam a região,
mavam de capixaba sua plantação de milho e mandioca. Com isso, Vasco Coutinho procurou em 1549 um lugar mais seguro e encon-
a população de Vitória passou a chamar de capixabas os índios que trou numa ilha montanhosa onde fundou um novo núcleo com o
habitavam na região e depois o nome passou a denominar todos os nome de Vila Nova do Espírito Santo, em oposição ao primeiro, que
moradores do Espírito Santo. passou a ser chamado de Vila Velha. As lutas contra os índios conti-
nuaram até que no dia 8 de setembro de 1551, os portugueses obti-
veram uma grande vitória e, para marcar o fato, a localidade passou
a se chamar Vila da Vitória e a data como a de fundação da cidade.

183
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Em seus 25 anos como donatário, Vasco Coutinho realizou que visavam à unificação dos países que constituem hoje a Itália e a
obras importantes. Além da construção das duas vilas, também er- Alemanha. Estas guerras de unificação e o estabelecimento de um
gueu as duas primeiras igrejas locais: Igreja do Rosário, fundada em novo Estado geraram um grande empobrecimento, causando fome
1551 (ainda existente) e a Igreja de São João, ambas em Vila Velha. e falta de emprego à população pobre, mais notadamente a campo-
Também foram construídos os primeiros engenhos de açúcar, nesa. Os governos desses países impunham “pesados tributos aos
principal produto da economia por três séculos. Uma iguaria que pequenos proprietários de terras, que, vivendo numa economia de
reinou absoluta até 1850, quando foi substituída pelo café. Em subsistência e artesanal, eram incapazes de cumprir suas obriga-
1551, o padre Afonso Brás fundou o Colégio e Igreja de São Tiago. ções com o fisco”. Esta situação, somado ao desejo de se conseguir
Foi esta construção que, após sucessivas reformas, transformou-se riqueza fácil e farta, fez ocorrer uma emigração em massa de suas
no atual Palácio Anchieta, sede do Governo do Estado. populações a outros países, onde até se ofereciam aos aventureiros
Com a chegada de missionários, foram fundadas as localidades lotes de terras tornando-os pequenos proprietários rurais.
de Serra, Nova Almeida e Santa Cruz, em 1556. Dois anos mais tar-
de, a vinda de frei Pedro Palácios resultaria na fundação do princi- Imigrantes
pal monumento religioso do Estado: o Convento da Penha. Uma ho- O Brasil, em particular, precisava de braços para movimentar
menagem a Nossa Senhora da Penha, padroeira do Espírito Santo. suas riquezas, uma vez que seu sistema de produção escravista co-
meçava a definhar. A proibição do tráfego de escravos a partir de
Presença Européia 1850, fez com que houvesse, na opinião dos proprietários de terras,
Nos primórdios da colonização do Brasil, a cruz e a espada mar- uma escassez de mão-de-obra, o que poderia prejudicar a econo-
cam a presença européia, símbolos da fé cristã e do poderio militar. mia Nacional.
No Espírito Santo, como em outras partes do Brasil que foram co- A partir da chegada dos imigrantes, no século XIX, o Espírito
lonizados no século XVI, foram freqüentes as lutas pela posse da Santo ganha nova configuração geográfica. As barreiras naturais
terra com a Igreja Católica atuando no auxílio ao predomínio lusi- apresentadas, principalmente pela Mata Atlântica, serão rompidas
tano através da ação dos jesuítas e franciscanos responsáveis pela e o interior, sobretudo o norte do Estado, até então intocado, rece-
catequese dos índios e pela assistência religiosa aos colonos e de beu novos habitantes.
seus familiares. O Espírito Santo recebeu imigrantes de diversas partes da Eu-
O colonizador português, responsável pela disseminação do ropa, principalmente da Alemanha e da Itália que, junto com os
idioma e da fé católica, queria a terra para explorar, plantar e pro- portugueses, africanos e indígenas aqui residentes deram os traços
duzir, e, produziu também cultura deixada por tradição nas canti- principais da cultura capixaba. Igrejas, casarios, calçamentos guar-
gas de roda, nas brincadeiras infantis, na vestimenta, na culinária dam ainda marcas das influências destes povos. Os sítios históricos
e, na arquitetura. O Convento de Nossa Senhora da Penha é o mo- de Muqui, Santa Leopoldina, São Pedro do Itabapoana, o casario do
Sítio do Porto de São Mateus e as tradições culturais de municípios
numento mais popular do Estado do ES. Outros remanescentes da
como Santa Tereza, Domingos Martins e Venda Nova do Imigrante
arquitetura colonial portuguesa, como as igrejas, que pontificam o
entre outros compõem a riqueza cultural e econômica do Estado.
litoral capixaba, e as localizadas na capital, Vitória, e, o casario pro-
O Espírito Santo é o resultado de uma mistura, um encontro
veniente deste período, enriquece a herança cultural lusitana. Des-
de raças que faz a sua história rica de tradição e costumes. A he-
tacam-se a Igreja de Nossa Senhora do Rosário e o citado Convento
rança européia está presente nas montanhas do interior do ES nas
de Nossa Senhora da Penha em Vila Velha; a antiga Igreja de São
danças italianas, pomeranas, alemãs, holandesas e polonesas que
Tiago, hoje Palácio Anchieta, sede do Governo Estadual, a Capela de
resistem e renovam-se. Elas foram incorporadas à cultura popular
Santa Luzia, a Igreja de São Gonçalo e a de Nossa Senhora do Rosá-
capixaba e suas apresentações são demonstrações de pura alegria.
rio e o Convento de São Francisco e do Carmo na capital Vitória. No Na culinária, uma variedade de pratos. Dos italianos, temos o mi-
município de Viana há a Igreja de Nossa Senhora da Conceição, e a nistroni, anholini, tortei, sopa, pavese, risoto, e a famosa polenta.
Igreja de Araçatiba, que foi sede de fazenda jesuítica que mantinha Dos alemães, chucrutes, geléias, biscoitos caseiros, café colonial e
um engenho com escravos, residência, senzalas e oficinas. Em Nova o brot (pão caseiro). Nos municípios de Domingos Martins, Mare-
Almeida e Carapina distritos do município de Serra, ainda existem chal Floriano, Pedra Azul e Santa Teresa municípios originários de
a Igreja e Residência dos Reis Magos, sede de uma Redução Jesuí- colônias de imigrantes europeus, acontecem anualmente festivais
tica e a Capela de São João Batista, antiga sede de uma fazenda que chegam a receber 30 mil pessoas, como a Festa da Polenta, em
de jesuítas. Em Guarapariencontra-se a Igreja de Nossa Senhora da Venda Nova do Imigrante, Festa do Vinho, em Santa Teresa, a do
Conceição e em Anchieta localiza-se a Igreja e Residência de Nossa Morango, em Pedra Azul e a Sommerfest, em Domingos Martins.
Senhora da Assunção, que completa a herança colonial de tradição (Espírito Santo - um estado singular. Sandra Medeiros p.78)
jesuítica no período colonial. Santa Teresa e Domingos Martins serviu de berço para dois
A arquitetura colonial secular e urbana, em Vitória está repre- cientistas de renome nacional e internacional, ambos descendentes
sentada pelos sobradinhos geminados da Rua José Marcelino, loca- de imigrantes europeus: Augusto Ruschi e Roberto Kautsky. O pri-
lizados atrás da Catedral Metropolitana na parte alta da cidade. No meiro, destacou-se no estudo dos colibris. Foi biólogo pesquisador
bairro de Jucutuquara, a arquitetura rural do século XVIII encontra dedicado a luta ecológica, até a sua morte. O segundo, também já
um exemplar no casarão onde funciona o Museu Solar Monjardin, falecido, além de cientista, era estudioso das orquídeas e bromé-
antiga sede da Fazenda que pertenceu ao Barão de Monjardim. A lias. Outras personalidades descendentes de europeus destacam-
defesa da entrada da barra era feita por fortalezas como a de São -se pelo seu empreendorísmo e dinâmica oferecida por sua ação
Francisco Xavier em Vila Velha e a Forte de São João ainda existen- na economia capixaba. Um deles é o ítalo-capixaba Camilo Cola,
tes. proprietário do Grupo Itapemirim líder no setor rodoviário no país,
Este legado cultural do período colonial é, sem dúvida, para as e Helmut Meyerfreuld alemão ex-proprietário da Fábrica de Cho-
terras capixabas, o mais precioso patrimônio herdado do continen- colates Garoto uma das três maiores fabricantes de chocolates do
te europeu. A partir de meados do século XIX quando o ES rece- Hemisfério Sul. Destaca-se também O Grupo COIMEX pertencente à
be grandes contingentes de imigrantes europeus este patrimônio Família Coser um dos maiores exportadores de café do Brasil junto
se enriquece ainda mais. Na Europa ocorreram revoltas populares ao Grupo Tristão também exportador de café.

184
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
Arquitetura
Os sítios históricos de Muqui, São Mateus, Santa Leopoldina EXERCÍCIOS
e São Pedro do Itabapoana também compõem a riqueza arquite-
tônica do Estado, sendo alguns dos mais significativos do país. No
Sul do Estado destaca-se o Sítio Histórico de São Pedro do Itabapo- 1- As tentativas francesas de estabelecimento definitivo no
ana. A região foi colonizada por fazendeiros mineiros e fluminen- Brasil ocorreram entre a segunda metade do século XVI e a primei-
ses, descendentes de portugueses. Seu casario datado do século ra metade do século XVII. As regiões que estiveram sob ocupação
XIX, as ruas estreitas, obedecendo à declividade do terreno com francesa foram:
calçamento em pé - de - moleque e antigas fazendas centenárias (A) Rio de Janeiro (França Antártica) e Pernambuco (França
se mantém preservadas. Em Muqui, município vizinho destaca-se Equinocial);
o conjunto arquitetônico que concentra o maior acervo de cons- (B) Pernambuco (França Antártica) e Santa Catarina (França
truções ecléticas do Espírito Santo enriquecidas por ornamentos, Equinocial);
pinturas decorativas, materiais e técnicas construtivas do final do (C) Bahia (França Equinocial) e Rio de Janeiro (França Antárti-
século XIX e início do século XX, adquirida por uma classe social que ca);
se enriquecia e buscava o conforto e novidades vindas da Europa. (D) Maranhão (França Equinocial) e Rio de Janeiro (França An-
Os hábitos de influência européia desta aristocracia deixaram uma tártica);
herança que caracteriza o município de maneira muito especial: o (E) Espírito Santo (França Equinocial) e Rio de Janeiro (França
rico patrimônio arquitetônico. Em São Mateus, no norte do Estado, Antártica).
o velho porto fluvial com seu casario tipicamente colonial, consti-
tuiu também conjunto arquitetônico de grande valor histórico cujo 2- As invasões holandesas no Brasil, no século XVII, estavam
apogeu sócio-econômico deu-as no final do Império e começo da relacionadas à necessidade de os Países Baixos manterem e amplia-
República. Foi durante o século XIX com o aparecimento de gran- rem sua hegemonia no comércio do açúcar na Europa, que havia
des fazendeiros como barão de Timbuí e Aimorés, o Porto viveu sua sido interrompido
fase áurea, com o surgimento de belos sobrados e casas comerciais (A) pela política de monopólio comercial da Coroa Portuguesa,
- com suas coberturas em telhas tipo canal e gradios de ferro impor- reafirmada em represália à mobilização anticolonial dos gran-
tados da Europa, impulsionadas pelo intenso movimento de barcos, des proprietários de terra.
representavam o poderio econômico do Porto. (B) pelos interesses ingleses que dominavam o comércio entre
Na região central do Estado localiza-se o Sítio Histórico de San- o Brasil e Portugal.
ta Leopoldina que possui 38 imóveis; a maioria localizados na sede (C) pela política pombalina, que objetivava desenvolver o be-
do município: são residências construídas pelos ricos comerciantes neficiamento do açúcar na própria colônia, com apoio dos in-
da região, descendentes de imigrantes alemães, austríacos, luxem- gleses.
burgueses, belgas e suíços datadas do final do século XIX e início do (D) pelos interesses comerciais dos franceses, que estavam pre-
século XX. No interior, o Sítio Histórico completa-se com a existên- sentes no Maranhão, em relação ao açúcar.
cia de sedes e armazéns de fazendas e de uma igreja localizada no (E) pela Guerra de Independência dos Países Baixos contra a
Distrito do Tirol. Algumas comunidades deste município possuem Espanha, e seus conseqüentes reflexos na colônia portuguesa,
denominações que homenageiam países e regiões da Europa como devido à União Ibérica.
Suíça, Tirol, Holanda, e Luxemburgo. E outras guardam, como o
município vizinho de Santa Maria de Jetibá, e, o de Vila Pavão, o 3- Durante o século XVII, grupos puritanos ingleses perseguidos
dialeto Pomerano dividindo com o português a comunicação entre por suas ideias políticas (antiabsolutistas) e por suas crenças religio-
as pessoas. A religião Luterana também é outra importante heran- sas (protestantes calvinistas) abandonaram a Inglaterra, fixando-se
ça cultural. No município de Domingos Martins o templo luterano na costa leste da América do Norte, onde fundaram as primeiras
está localizado na principal praça da cidade. É o primeiro templo colônias. A colonização inglesa nessa região foi facilitada:
protestante construído no Brasil. Ainda há o tradicional casamento (A) pela propagação das ideias iluministas, que preconizavam
pomerano que tem noiva vestida de preto cuja cerimônia pode du- a proteção e o respeito aos direitos naturais dos governados.
rar até três dias. (B) pelo desejo de liberdade dos puritanos em relação à opres-
Como bem já nos registraram os nossos mestres Luiz Guilher- são metropolitana.
me Santos Neves, Léa Brígida de Alvarenga Rosa e Renato Pacheco (C) pelo abandono dessa região por parte da Espanha, que en-
“graças aos colonos europeus e aos seus descendentes, numerosas tão atuava no eixo México-Peru
povoações e cidades surgiram no interior do Espírito Santo. Muitas (D) pela possibilidade de explorar grandes propriedades agrá-
regiões, onde eles se localizam, acabaram se tornando municípios rias com produção destinada ao mercado europeu.
do nosso Estado. Além disso, os europeus, sobretudo os italianos (E) pelas consciências políticas dos colonos americanos, desde
que vieram em grande número, tiveram notável influência com suas logo treinados nas lutas coloniais
famílias numerosas na formação do povo capixaba”.

185
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
4- Leia o texto abaixo: (D) O Brasil enviou uma missão médica, um pequeno contin-
“Aqueles que foram de Espanha para esses países (e se têm na gente de oficiais do Exército e uma esquadra naval, que se en-
conta de cristãos) usaram de duas maneiras gerais e principais para volveu em alguns confrontos com submarinos alemães.
extirpar da face da terra aquelas míseras nações. Uma foi a guerra (E) Juntamente com a Argentina, o governo brasileiro organi-
injusta, cruel, tirânica e sangrenta. Outra foi matar todos aqueles zou uma esquadra naval internacional incumbida de patrulhar
que podiam ainda respirar ou suspirar e pensar em recobrar a li- o Atlântico Sul contra as ofensivas alemãs.
berdade ou subtrair-se aos tormentos que suportam, como fazem
todos os senhores naturais e os homens valorosos e fortes; pois co- 7. (FUVEST) “Esta guerra, de fato, é uma continuação da ante-
mumente na guerra não deixam viver senão mulheres e crianças: e rior.” (Winston Churchill, em discurso feito no Parlamento em 21
depois oprimem-nos com a mais horrível e áspera servidão a que de agosto de 1941). A afirmativa acima confirma a continuidade la-
jamais tenham submetido homens ou animais.” tente de problemas não solucionados na Primeira Guerra Mundial,
LAS CASAS, Frei Bartolomeu de. O paraíso destruído. Brevíssi- que contribuíram para alimentar antagonismos e levaram à eclosão
ma relação da destruição das Índias [1552]. Porto Alegra: L&PM, da Segunda Guerra Mundial. Entre esses problemas, identificamos:
2001. (A) o crescente nacionalismo e o aumento da disputa por mer-
O trecho do texto de Las Casas aponta o processo de dizima- cados consumidores e por áreas de investimentos;
ção das populações indígenas americanas por parte dos espanhóis. (B) o desenvolvimento do imperialismo chinês da Ásia, com
Além da guerra, os processos de trabalho e o controle disciplinar abertura para o Ocidente;
imposto resultaram na morte de milhões de habitantes nativos da (C) os antagonismos austro-ingleses em torno da questão da
América. Dentre os processos de trabalho impostos aos indígenas e Alsácia-Lorena;
(D) a oposição ideológica que fragilizou os vínculos entre os pa-
que resultaram em sua mortandade, destaca-se:
íses, enfraquecendo todo tipo de nacionalismo;
(A) a escravidão imposta a eles, semelhante a dos africanos le-
(E) a divisão da Alemanha, que a levou a uma política agressiva
vados à América para trabalhar na extração de metais.
de expansão marítima.
(B) a encomienda, um processo de trabalho compulsório im-
posto a toda uma tribo para executar serviços agrícolas e ex- 8. (CEPERJ/2013 - SEDUC-RJ) O Absolutismo tem origens remo-
trativistas. tas que remontam, pelo menos, à Idade Média. Mas, nos séculos
(C) o assalariamento, pago em valores muito baixos e geral- XVI e XVII, multiplicaram-se os principais autores de doutrinas jus-
mente em espécie. tificando o poder absoluto dos monarcas. Entre as justificativas fi-
(D) a parceria, onde os indígenas eram obrigados a trabalhar losóficas do Absolutismo, podemos destacar aquelas ligadas à obra
na agricultura e nas minas, destinando dois terços da produção conhecida como O Príncipe, de Maquiavel. A alternativa que ex-
aos espanhóis. pressa possíveis justificativas do poder absoluto dos reis presentes
em O Príncipe é:
5. (Acafe-2015) O início da Primeira Guerra (1914/1918) com- (A) No texto de O Príncipe, Maquiavel expõe a doutrina da ori-
pletou seu centenário em 2014. Conflito de grandes proporções, ela gem divina da autoridade do Rei, afirmando que o monarca
foi o resultado de disputas econômicas, imperialistas e nacionalis- tem o poder supremo sobre cidadãos e súditos, sem restrições
tas numa Europa industrializada. determinadas pela lei
Sobre a Primeira Guerra e seu contexto, todas as alternativas (B) Em O Príncipe, Maquiaveldemonstra que não há poder pú-
estão corretas, exceto a: blico sem a vontade de Deus; todo governo, seja qual for sua
(A) A questão balcânica evidencia as disputas entre Alemanha e origem, justo ou injusto, pacífico ou violento, é legítimo; todo
Hungria pelo controle do mar Adriático e coloca em choque os depositário da autoridade, é sagrado; revoltar-se contra o go-
movimentos nacionalistas: pan-eslavismo, liderado pela Sérvia verno, é sacrilégio.
e o pan-germanismo, liderado pelos alemães. (C) Maquiavel afirma, em O Príncipe, que os homens viviam ini-
(B) Apesar de ter começado a guerra como aliada da Tríplice cialmente em estado natural, obedecendo apenas a interesses
Aliança, a Itália passou para o lado da Tríplice Entente por ter individuais, sendo vítimas de danos e invasões de uns contra os
recebido uma proposta de compensações territoriais. outros. Assim, mediante a adoção de um contrato social, abri-
(C) A Rússia não permaneceu na guerra até o seu término. Por ram mão de todos os direitos em favor da autoridade ilimitada
conta da Revolução socialista foi assinado um tratado com os de um soberano
alemães e os russos se retiraram da guerra. (D) Em O Príncipe, Maquiavel expressava seu desprezo pelo
conceito medieval de uma lei moral limitando a autoridade do
(D) Quando a guerra iniciou, multidões saíram às ruas nos pa-
governante e argumentava que a suprema obrigação do gover-
íses envolvidos para comemorar o conflito: a lealdade e o pa-
nante é manter o poder e a segurança do país que governa,
triotismo eram palavras de ordem.
adotando todos os meios que o capacitem a realizar essa obri-
gação
6. (FGV-RJ 2015) Sobre a participação brasileira na Primeira (E) O Príncipe é a obra na qual Maquiavel expressa o dever de
Guerra Mundial, é correto afirmar: todo soberano de combater o obscurantismo medieval repre-
(A) O governo brasileiro declarou guerra à Alemanha, em 1914, sentado pela Igreja; o rei absoluto deve enfrentar, com mão
após o torpedeamento de um navio, carregado de café, que de ferro, o poder temporal do clero católico, assumindo o seu
acabara de deixar o porto de Santos. lugar no comando dos corpos e das almas dos homens .
(B) O governo brasileiro manteve-se neutro ao longo de todo o
conflito devido aos interesses do ministro das relações exterio- 9. (IBMECSP 2009) A Companhia de Jesus foi criada na Espanha
res Lauro Muller, de origem alemã. em 1534 no contexto da Contrarreforma, tendo uma atuação im-
(C) A partir de 1916, o Exército brasileiro participou de batalhas portante no processo colonizador da América Portuguesa. Sobre a
na Bélgica e no norte da França com milhares de soldados de- atuação da Companhia de Jesus na colonização do Brasil podemos
sembarcados na região. afirmar que:

186
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
(A) Os jesuítas foram responsáveis pela fundação das primei- V) A independência do Brasil trouxe grandes limitações dos di-
ras cidades brasileiras como São Paulo, São Vicente e Salvador. reitos civis, uma vez que manteve a escravidão.
A catequização dos indígenas era feita em reduções onde eles Assinale a alternativa que apresenta somente as afirmativas
permaneciam em regime de escravidão. CORRETAS.
(B) Os jesuítas se destacaram na ação educativa e catequizado- (A) I, V
ra dos grupos indígenas brasileiros. Vários missionários jesuítas (B) II, IV
moravam nas aldeias procurando conhecer os hábitos, a cultu- (C) II, V
ra e respeitando a religiosidade indígena. (D) I, IV
(C) A educação foi um dos principais instrumentos de evangeli- (E) III, IV
zação dos jesuítas, que fundaram colégios no Brasil e organiza-
ram aldeamentos conhecidos como Missões para catequizar os 12. (CESPE - Instituto Rio Branco) Durante o Primeiro Reinado
indígenas e convertê-los para o catolicismo. consolidou-se a independência nacional, construiu-se o arcabouço
(D) Os jesuítas chegaram ao Brasil como o braço religioso da co- institucional do Império do Brasil e estabeleceram-se relações di-
roa portuguesa. Tinham como missão catequizar os indígenas plomáticas com diversos países. Acerca desse período da história
e apoiar os bandeirantes na captura dos índios que passavam a do Brasil, julgue (C ou E) o item subsequente.
morar nas vilas e missões. Originalmente uma questão concernente apenas ao eixo das
(E) A ação militar foi a forma pela qual os jesuítas participaram relações simétricas entre os Estados envolvidos, a Guerra da Cis-
da colonização portuguesa no Brasil. Apoiados pelo Marquês platina encerrou-se com a interferência de uma potência externa
de Pombal estabeleceram Missões na região de São Paulo e no ao conflito.
sul do país para manter os índios reunidos. ( ) CERTO
( ) ERRADO
10. (UFMT- IF/MT) Durante o período imperial brasileiro, o libe-
ralismo foi uma das correntes políticas influentes na composição do 13. (MPE/GO– MPE/GO) Acerca da história do Brasil, é incor-
nascente Estado independente, tendo, em diferentes momentos, reto afirmar:
pautado seus rumos. Há que se observar, no entanto, que, diferen- (A) Em 15 de novembro de 1889, ocorreu a Proclamação da
temente do modelo europeu, o liberalismo encontrado no Brasil República pelo Marechal Deodoro da Fonseca e teve início a
tinha suas idiossincrasias. A partir do exposto, marque V para as República Velha, que só veio terminar em 1930 com a chegada
afirmativas verdadeiras e F para as falsas. de Getúlio Vargas ao poder. A partir daí, têm destaque na his-
( ) Os limites do liberalismo brasileiro estiveram marcados pela
tória brasileira a industrialização do país; sua participação na
manutenção da escravidão e da estrutura arcaica de produção.
Segunda Guerra Mundial ao lado dos Estados Unidos; e o Golpe
( ) Os adeptos do liberalismo pertenciam às classes médias ur-
Militar de 1964, quando o general Castelo Branco assumiu a
banas, agentes públicos e manumitidos ou libertos.
Presidência.
( ) O liberalismo brasileiro mostrou seus limites durante a ela-
(B) A ditadura militar, a pretexto de combater a subversão e a
boração da Constituição de 1824.
corrupção, suprimiu direitos constitucionais, perseguiu e cen-
( ) A aproximação de D. Pedro I com os portugueses no Brasil
surou os meios de comunicação, extinguiu os partidos políti-
ajudou a estruturar o pensamento liberal no primeiro reinado.
cos e criou o bipartidarismo. Após o fim do regime militar, os
Assinale a sequência correta.
(A) F, V, F, V deputados federais e senadores se reuniram no ano de 1988
(B) V, V, F, F em Assembléia Nacional Constituinte e promulgaram a nova
(C) V, F, V, F Constituição, que amplia os direitos individuais. O país se rede-
(D) F, F, V, V mocratiza, avança economicamente e cada vez mais se insere
no cenário internacional.
11. (IFB/2017 – IFB) “A principal característica política da inde- (C) O período que vai de 1930 a 1945, a partir da derrubada
pendência brasileira foi a negociação entre a elite nacional, a coroa do presidente Washington Luís em 1930, até a volta do país à
portuguesa e a Inglaterra, tendo como figura mediadora o príncipe democracia em 1945, é chamado de Era Vargas, em razão do
D. Pedro” forte controle na pessoa do caudilho Getúlio Domeles Vargas,
(CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo cami- que assumiu o controle do país, no período. Neste período está
nho. 1. ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001. p. 26). compreendido o chamado Estado Novo (1937-1945).
Leia as afirmativas com relação ao processo de emancipação (D) Em 1967, o nome do país foi alterado para República Fede-
política do Brasil. rativa do Brasil.
(E) Fernando Collor foi eleito em 1989, na primeira eleição di-
I) As tentativas das Cortes lusitanas em recolonizar o Brasil uni- reta para Presidente da República desde 1964. Seu governo
ram os luso-americanos em torno da ideia de perpetuar os laços perdurou até 1992, quando foi afastado pelo Senado Federal
políticos que uniam, entre si, os lados europeu e americano do Im- devido a processo de “impugnação” movido contra ele.
pério Português.
II) A escolha da monarquia em vez da república, como alternati- 14. (MPE/GO– MPE/GO) A volta democrática de Getúlio Vargas
va política para o Brasil independente, derivou da convicção da elite ao poder, após ser eleito no ano de 1950, ficou caracterizada pelo
brasileira de que só um monarca poderia manter a ordem social e presidente:
a união territorial. (A) ter se aproximado dos antigos líderes militares do Estado
III) Desde o retorno do Rei D. João VI para Portugal, em 1821, a Novo e ter dado um golpe de Estado em 1952.
elite brasileira percebeu a necessidade de uma solução política que (B) ter exercido um governo de tendência populista e ter se
implicasse a separação entre Brasil e Portugal. suicidado em 1954.
IV) O papel dos escravos e livres pobres foi decisivo para a tran- (C) ter exercido um governo de tendência autoritária, com o
sição do Brasil de colônia para emancipado politicamente. apoio de Carlos Lacerda.

187
HISTÓRIA DO BRASIL E DO ESPÍRITO SANTO
(D) ter exercido um governo de tendência populista que foi a
base para sua reeleição em 1955. GABARITO
(E) não ter levado o governo adiante por motivos de saúde,
sendo substituído por seu vice, Café Filho, em 1951.
1 D
15. (NC-UFPR – UFPR) Sobre a redemocratização no Brasil pós -
ditadura, assinale a alternativa correta. 2 E
(A) Uma das ações que marcou o processo de redemocratiza- 3 A
ção foi a campanha pelas eleições diretas para a presidência da
4 B
República, que ficou conhecida como “Diretas já”.
(B) O bipartidarismo foi uma das marcas do período pós-dita- 5 A
dura, motivo pelo qual a ARENA e o MDB foram os únicos par- 6 D
tidos políticos autorizados a funcionar no período
(C) O presidente Tancredo Neves foi o primeiro presidente elei- 7 A
to pelo voto popular após a ditadura militar. 8 D
(D) Devido às graves denúncias que ocorreram, o presidente 9 C
José Sarney foi afastado da presidência da República. Esse pro-
cesso ficou conhecido como impeachment 10 C
(E) Fernando Collor de Mello foi um dos presidentes eleitos 11 C
após a ditadura militar e ficou famoso pela criação do Progra-
12 CERTO
ma Bolsa-Família.
13 E
16. (Prefeitura de Betim/MG - Prefeitura de Betim/MG) É alter- 14 B
nativa verdadeira, correspondente às principais características do
Feudalismo. 15 A
(A) Economia e sociedade agrárias e cultura predominante- 16 C
mente laica. 17 CERTO
(B) Trabalho assalariado, cultura teocêntrica e poder político
centralizado nas mãos do rei.
(C) As relações entre a nobreza feudal baseavam-se nos laços
de suserania e vassalagem: tornava-se suserano o nobre que
ANOTAÇÕES
doava um feudo a outro; e vassalo, o nobre que recebia o feu-
do. ______________________________________________________
(D) Trabalho regulado pelas obrigações servis e sociedade com
grande mobilidade. ______________________________________________________

17. (CESPE/ – DEPEN) Na década de 90 do século passado, pela ______________________________________________________


primeira vez em dois séculos, faltava inteiramente ao mundo, qual-
quer sistema ou estrutura internacional. O único Estado restante ______________________________________________________
que teria sido reconhecido como grande potência, eram os Estados
______________________________________________________
Unidos da América. O que isso significava na prática era bastante
obscuro. A Rússia fora reduzida ao tamanho que tinha no século ______________________________________________________
XII. A Grã-Bretanha e a França gozavam apenas de um status pura-
mente regional. A Alemanha e o Japão eram sem dúvida “grandes ______________________________________________________
potências” econômicas, mas nenhum dos dois sentira a necessida-
de de apoiar seus enormes recursos econômicos com força militar. ______________________________________________________

Eric Hobsbawm. Era dos extremos. O breve século XX, 1914- ______________________________________________________
1991. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, p. 538 (com adap-
tações). ______________________________________________________

______________________________________________________
A partir das ideias apresentadas no texto, julgue o próximo
item, referentes à política internacional no século XX e à ordem ______________________________________________________
mundial instaurada após o fim da Guerra Fria.
A despeito da derrocada da antiga União Soviética em 1991, o ______________________________________________________
contexto imediatamente posterior à Guerra Fria não foi marcado
pelo estabelecimento de um sistema internacional organizado para ______________________________________________________
reduzir conflitos e garantir o equilíbrio entre os estados.
( ) CERTO ______________________________________________________
( ) ERRADO
______________________________________________________

___________________________________________________ ___

______________________________________________________

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