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Do positivismo
Faz-se imperioso aludir à gênese do postulado positivista para que se
possa "conhecer", de forma clara e fundamentada essa teoria. Dessa
forma, abordar-se-á alguns pontos desse marco do conhecimento
jurídico. A inegável contribuição da teoria de Kelsen é a possibilidade
de construir uma teoria científica do direito. Desse modo, definir a
norma como objeto da ciência do direito caracteriza-se por "sanar"
um dos pressupostos existenciais da cientificidade jurídica. O segundo
requisito essencial para que o direito possa ser
cientificamente/autonomamente trabalhado é o seu método, que
deve estar fundado na abstração quanto aos fatos sociais
determinantes da produção da norma, bem como os valores que
rodeiam a sua aplicação.1 No entanto, para ser atingida a
independência científica do direito, faz-se necessária a sua
"purificação", que, segundo Warat (2000, p. 55) ,
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Assim,
Válida é a norma que está de acordo com o sistema jurídico por
derivar da autoridade dotada da imprescindível
capacidade/competência para a sua edição, e justa é a norma que
supre os requisitos formais da sua validade. Dessa forma,
desconsideram-se quaisquer outros elementos ou juízo de sua
aferição enquanto norma jurídica.
[...] como todas as normas de um ordenamento (...) já estão
contidas no conteúdo da norma pressuposta, elas podem ser
deduzidas daquela pela via de uma operação lógica, através de uma
conclusão do geral para o particular. Esta norma, pressuposta como
norma fundamental, fornece não só o fundamento de validade como
o conteúdo de validade das normas dela deduzidas através de uma
operação lógica. Um sistema de normas cujo fundamento de validade
e conteúdo de validade são deduzidas de uma norma pressuposta
como norma fundamental é um sistema estático de normas. O
princípio segundo o qual se opera a fundamentação da validade das
normas deste sistema é um princípio estático.
O sistema positivo clássico, como fora assegurado anteriormente,
regula sua própria criação isto é, as normas somente existem porque
outras normas as validam. "A relação entre a norma que regula a
produção de uma outra e a norma assim regularmente produzida
pode ser figurada pela imagem espacial da supra-infra-ordenação."
(1986, p. 246)9. E, dessa maneira, forma-se um sistema de normas.
Fonte: Gonçalves (2011).
No entanto, o sistema normativo positivista não está distribuído de
forma esparsa. Mas é "o Direito colocado por força de uma decisão
política vinculante. O Direito positivo é uma metadecisão que visa a
controlar as outras decisões, tornando-as obrigatórias. Para tanto,
elabora-se um sistema jurídico normativista e hierarquizado."
(ROCHA; SWARTZ; CLAN, 2005, p. 14) . O Direito positivo, dessa
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[...] qualifica-se como uma conclusão normativa do geral para o
particular uma tal, cuja premissa maior é uma norma geral hipotética
que, sob certas, e em verdade geralmentedeterminadas condições,
estabelece como devida uma conduta geralmente determinada, cuja
premissa maior é um enunciado que assevera a existência individual
da condição determinada na premissa maior e cuja proposição
conclusiva é uma norma individual que estabelece como devida
individualmente a conduta determinada geralmente na premissa
maior.
Acesse o site sobre os quadrinhos puros do direito. Uma forma
divertida de estudar o positivismo jurídico:
• http://ruadosbragas223.no.sapo.pt/DIREITO/Os_Quadrinhos_Puros
_do_Direito_WARAT.pdf
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Assim, para questionar a validade de uma norma, pode-se discutir a
validade da norma hierarquicamente superior que lhe dá sustentação,
de tal modo que se pode utilizar a imagem de uma árvore para
representar esse escalonamento hierárquico de interdependência das
normas. A folha de uma árvore está presa/ligada ao galho desta
árvore, que está atrelado ao tronco, o qual, por sua vez, está fixado
ao globo. Assim, o que dá sustentação ao globo é o universo - norma
hipotética fundamental -, que não é perceptível com clareza -
passível de observação empírica final, mas, em decorrência dessa
dificuldade de cientificidade laboratorial, tem-se como pressuposto.
A norma jurídica, como expressão de uma ordem social coativa,
proclama o dever-ser como a conduta programável/impositiva ao seu
destinatário. Essa busca de um enquadramento social para o sujeito
passa pela definição - generalizada - do comportamento que é
passível de sanção e, em consequência, pela determinação da
correspondente penalização. Se o positivismo perdurar somente
enquanto teoria, seria perfeito.
UNIDADE 2
O (neo)positivismo
Como foi apontado supra, o postulado positivista clássico é um
sistema fechado às influências de outros elementos da sociedade.
Com o intuito de criar uma teoria do direito "pura" a matriz
kelseniana procurou refinar o sistema jurídico expurgando todo
conteúdo anormativo. No entanto, essa busca "utópica" por uma
teoria lógico-dedutiva que, através da simples subsunção dos
preceitos normativos aos fatos da vida, desse todas as respostas ao
direito, passou, reiteradamente, por mutações/adaptações. Uma
delas é a sistematização, isto é, a busca por categorias gerais que
deem suporte às categorias específicas.
Assim,
Se existe um traço que caracteriza de modo geral as formas de
racionalidade jurídica, este é o pensamento sistemático. De fato, a
dogmática, como qualquer disciplina com pretensões em maior ou
menor medida cognoscitivas, toma como um dos seus objetos
fundamentais a sistematização do conhecimento, seja qual seja o
critério de sistematização (SANCHEZ, 1992, p. 74)1.
A sistematização de categorias para o direito positivo é a base de sua
estrutura de encadeamento validativo. Prescinde assim de outros
elementos. No entanto, a grande mudança do/no posicionamento
dogmático é justamente a introdução de elementos extra-normativos
no processo decisional. Nesse caso, a inserção de valores matérias no
sistema jurídico permitiu a construção de uma teoria do direito mais
adaptada à realidade do mundo da vida - a qual estamos inseridos
(TRINDADE, 2007).
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O positivismo limitava o problema à questão da validade e da
atribuição de sentido jurídico a atos e eventos. A teoria pura reduzia
o problema a uma questão própria da teoria do conhecimento e tinha
determinado as condições de possibilidade para pensar o
ordenamento jurídico. Estas simplificações não enfrentavam o
problema de fundo: a diferenciação de um sistema de ação que opera
com base no sentido, que é operativamente fechado, que reproduz
recursivamente a sua clausura e que não pode ser limitado por
operações de natureza epistemológica (CAPILONGO, 2000, p. 184). 3
Essa abertura do sistema jurídico propiciou a incorporação de novas
concepções teóricas e uma maior autonomia na elaboração
conceitual. Contudo, trouxe também uma certa insegurança aos
operadores do Direito. Essa insegurança reflete, por exemplo, a
necessidade de manutenção de algumas reservas à adoção
incondicional de conceitos extrapenais pelo sistema jurídico.
Assim,
[...] algumas reservas sobre os eventuais prejuízos que a assunção
incondicional de tal metodologia poderia causar [...] a possível perda
de garantias e limites valorativos na imposição da pena, a dissolução
da dimensão garantista das categorias do sistema do Direito penal, e
incluso o próprio desaparecimento do Direito penal que viria a ser
substituído por um sistema de controle de base "terapêutica"
(SANCHEZ, 1992, p. 92, grifo nosso).
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Importante aqui narrar também a distinção entre a hermenêutica,
interpretação e a aplicação do direito que são conceitos diversos,
contudo sempre em uma formato de convexo, sendo parte de um
único processo. De plano a hermenêutica visa o objetivo básico da
interpretação, esclarecer o sentido e o alcance das questões jurídicas
e a aplicação no caso concreto, todavia não se pode considerar a
hermenêutica como exclusivamente um método de interpretação. Ela
é um processo sistemático de interpretação, métodos e leis cientificas
para apuração do conteúdo, ou seja, a busca do sentido para a
correta e justa aplicação no mundo dos fatos.
Métodos hermenêuticos = técnicas que visam a obtenção de um
único resultado, buscam orientações para os problemas de
decidibilidade dos conflitos, embora não se possa escrever de forma
rigorosa todos os tipos, segue algumas:
a) Interpretação literal ou gramatical
Busca uma interpretação e uma conexão das palavras nas sentenças,
conceitua uma expressão com outras expressões dentro de um
contexto, parte-se da ideia de que a ordem das palavras e o modo
como elas estão conectadas são importantes para a interpretação do
texto.
b) Interpretação logico sistemático
Instrumento técnico que serve de início para a identidade de
inconsistência, onde a conexão de uma expressão normativa com as
demais do contexto é necessária para a obtenção do significado
correto.
c) Interpretação histórica
Uma vez emanada a lei, desprende-se do legislador e passa a ter vida
e interpretação própria recebendo e modificando o meio o que
significa a transformação do seu significado ao decorrer do tempo.
d)Interpretação teológica
Basicamente consiste em que é possível atribuir um proposito às
normas, encontrar nas leis, constituições, decretos, um fim que
jamais poderá ser contra a sociedade.
Sendo assim, interpretar o direito visa revelar o seu sentido e alcance
na esfera real dos fatos. A interpretação do direito é uma atividade
que tem por fundamento levar ao conhecimento das expressões
normativas para ai sim aplicá-las às situações sociais.