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FRETE

RESPONSABILIDADES DA EXECUÇÃO DO CONTRATO

No contrato de fretamento, as responsabilidades que dizem respeito à execução do contrato são sempre
bem definidas. Estas iniciam-se com a obrigação do fretador disponibilizar o navio ou seus serviços ao afretador,
mediante retribuição.

Deve, o fretador disponibilizar um navio em boas condições de navegabilidade. Assim como deve
apresentar um navio adequado aos interesses do afretador.
PERSPETIVA INTERNACIONAL
Quando falámos da perspetiva internacional do contrato de transporte de mercadorias, em particular da
Convenção de Bruxelas de 1924, referimos que as disposições desta Convenção não se aplicam às cartas-partidas
(figura típica do contrato de fretamento).
Contudo, se num navio regido por carta-partida forem emitidos conhecimentos de carga/BLS, ficarão sujeitos aos
termos da Convenção (2º parágrafo do artigo 5º). Isto significa que quando forem emitidos BL´s (conhecimentos de
carga) no âmbito de um contrato fretamento aplicam-se as disposições da Convenção.
Grande parte das vezes quando estamos num contrato de fretamento de navio são emitidos BL´s porque em regra
a carga transportada não pertence a um único proprietário pertence a vários e é passível de ser transmitida a terceiros
durante a viagem.
É importante referir que, não existe uma Convenção Internacional que regule o contrato de fretamento de navios
pelo que na relação entre as partes do contrato aplicam-se as disposições que regulam o contrato em si e
subsidiariamente o que conta do BL, sendo este um mero recibo da carga embarcada, cuja apresentação permite o
levantamento  desta no porto de destino.
Nas relações com terceiros, digam-se meros portadores de BL´s, aplicam-se as regras da Convenção de Bruxelas
porque neste caso o fretador assume a qualidade de transportador.
DIREITOS E DEVERES DO
TRANSPORTADOR

Direitos do transportador: Obrigações do transportador:

a) - Recebimento da remuneração pela prestação do a) - Providenciar o deslocamento das mercadorias objeto do


serviço de transporte (artigo 1º do Decreto Lei 352/86). contrato de transporte de um lugar para outro, de forma
b) - Receber a mercadoria objeto do contrato de incólume, no local e no tempo convencionado (artigos
transporte (artigo 3º, nº 3, da Convenção de Bruxelas). 383 a 385 do Código Comercial; artigo 4º, nº 1, da
c) - Apresentar reserva no conhecimento de carga sobre Convenção de Bruxelas).
o estado da mercadoria recebida (artigo 376 do Código b) - Dever de emissão do conhecimento de transporte nos
Comercial; artigo 3º, nº 6, da Convenção de Bruxelas). termos legais ou convencionados (artigo 369 do Código
d) - Retenção da mercadoria enquanto não efetuado o Comercial).
pagamento do frete (artigo 390 do Código Comercial). c) - Dever de informação, que em geral resulta da boa fé na
e) - O transportador pode escolher o trajeto de execução dos contratos (artigo 762.2 do Código Civil).
deslocamento que melhor lhe seja conveniente, salvo d) - Responsabilização pelas perdas e avarias das
estipulação em contrário. Aqui, a diferença com o mercadorias e atrasos no cumprimento do contrato de
contrato de prestação de transporte (artigos 377, 383 e 384 do Código Comercial e
serviços; por exemplo, táxi. artigos 3º e 5º da Convenção de Bruxelas).
DIREITOS E DEVERES DO DESTINATÁRIO

Direitos do destinatário:

a) - Receber a entrega da mercadoria transportada, quando dispõe do título necessário. Cabe ao transportador fazer a
prova da entrega da mercadoria transportada (artigos 387 e 388 do Código Comercial). A entrega da mercadoria,
para efeitos jurídicos, ocorre no momento em que o destinatário aceita a mercadoria transportada e entrega a
declaração de receção ao transportador, liberando-o, a partir daí, de qualquer risco sobre o objeto transportado.
b) - Verificar o estado da mercadoria transportada antes de seu recebimento (artigo 385 do Código Comercial).
c) - Direito de disposição da mercadoria – como o expedidor, de forma alternativa (artigo 380, parágrafo segundo, do
Código Comercial).
d) - Exigir a entrega da mercadoria transportada ou ressarcimento dos danos ocasionados por inadimplemento
contratual (artigo 389 do Código Comercial).

Deveres do destinatário:

a) - Recebimento da mercadoria.
b) - Pagamento do preço.
PERSPETIVA NACIONAL
 Passamos por isso de imediato para o regime nacional que é regulado pelo
Decreto-lei nº 191/87 de 29 de Abril, que até à presente data não teve qualquer
alteração.
 Nos termos do art.1º deste diploma consta a noção de fretamento.
 Temos, portanto, três elementos essenciais, diga-se quatro elementos
essenciais do contrato de fretamento, são eles: o fretador, o afretador o navio e o
frete.
 Quanto à forma do contrato designa-se por carta-partida, que “é o documento
particular exigido para a válida celebração do contrato de fretamento”. (artigo 2º).
Neste tipo de contratos são utilizados modelos-standard que contemplam inúmeras
clausulas padronizadas pelo mercado e instituições especializadas, exemplo disso
são os modelos de contratos da BIMCO.

A principal diferença entre contrato de transporte e contrato de fretamento é que o fretador não toma a seu
cargo o carregamento, nem se obriga a transportá-lo. A obrigação de deslocação da mercadoria é comum a
ambos.
No contrato de fretamento um navio é posto à disposição do afretador pelo armador-fretador, o contrato de
transporte pelo contrário refere-se ao carregamento obrigando-se o armador-transportador a transportar esta até
um determinado porto. O regime do contrato de fretamento é disciplinado pelas clausulas da carta-partida e,
subsidiariamente, pelas disposições deste diploma. (artigo 3º)
Pode existir um contrato principal de fretamento em que é permitido ao primeiro afretador a disponibilização
do navio  por subfretamento (Carta-Partida) ou para transporte de carga de terceiros através de contrato de transporte
(BL), sendo ainda admissível a sucessão de contratações de subfretamento e transporte, salvo se expressamente não
for permitido na Carta-Partida.
Existem três tipos de figuras-base no contrato fretamento: (artigo 4º)
 Contrato de fretamento por viagem (“Voyage Charter”);
 Contrato de fretamento a tempo (“Time Charter”);
 Contrato de fretamento em casco nú (“Bareboat Charter Party/By Demise Charter”).

Quanto à parte fretada pode ser um fretamento total ou parcial.


Contrato de fretamento à viagem

Em matéria de forma de contratos comerciais internacionais, o Direito de Conflitos geral, que consta do
Regulamento europeu n.º 593/ /2008 (geralmente designado Regulamento Roma I), consagra uma conexão
alternativa (arts. 11.º e 19.º).

Carta - Partida

A existência de uma carta-partida é relevante para a determinação do regime aplicável ao contrato.

A carta-partida deve conter os seguintes elementos presentes no artigo 6º do diploma anteriormente mencionado.
No que se refere às obrigações do fretador neste tipo de contrato de fretamento são: (artigo 7º)
1. Apresentar o navio ao afretador na data ou época e no local acordados;
2. Apresentar o navio, antes e no inicio da viagem, em estado de navegabilidade, devidamente armado e equipado, de
modo a dar integral cumprimento ao contrato; e
3. Efetuar as viagens previstas na carta-partida.

Quanto às obrigações do afretador são: (artigo 8º)


4. Entregar ao fretador as quantidades de mercadoria fixadas na carta-partida;
5. Efetuar as operações de carregamento e de descarga do navio dentro dos prazos estabelecidos na carta-partida; e
6. Pagar o frete.

Se o afretador não apresentar a mercadoria para embarque é obrigado a pagar o frete por inteiro, ainda que
apresente parte da mercadoria para embarque no prazo e local fixados. (artigo 10º)
De referir que apesar do carregamento pertencer ao afretador a estiva das mercadorias pertence ao fretador
dada a sua importância decisiva na estabilidade e segurança do navio.
Quanto à responsabilidade por má estiva, se estivermos a falar de estiva comercial a responsabilidade caberá
ao afretador, se, pelo contrário estivermos a falar de estiva náutica a responsabilidade caberá neste caso ao fretador
e ao capitão.
Sobrestadia e subestadia

No que se refere à sobrestadia e à subestadia, quando for ultrapassado o tempo de estadia, o navio entra em
sobrestadia, dando lugar ao pagamento pelo afretador ao fretador de um suplemento do frete proporcional ao
tempo excedente.
Pelo contrário, quando não for utilizado inteiramente o tempo de estadia, o afretador tem direito a um prémio
de subestadia proporcional ao tempo não gasto.
A taxa de subestadia corresponde a metade da taxa de sobrestadia. (Artigo 13º).
De referir quanto à sobrestadia que, ao contrário do que acontece com a estadia cuja contagem pode ser
interrompida em determinadas circunstâncias previstas no contrato, o mesmo já não acontece quando o navio se
encontra em sobrestadia, aplica-se a regra “once on demurrage, always on demurrage”, excepto, obviamente se a
interrupção for imputável ao armador-fretador.
Se a viagem ou viagens não puderem ser iniciadas nas datas ou épocas previstas por causa não imputável ao
afretador nem ao fretador, qualquer das partes pode resolver o contrato, sem que impenda sobre elas responsabilidade
sobre os danos sofridos (Artigo 14º)
Se pelo contrário, se o impedimento à viagem ou viagens tornar estas impossíveis nas datas ou épocas previstas
por causa imputável ao fretador, torna-se este responsável, como se faltasse culposamente ao cumprimento, tendo neste
caso o afretador direito ao pagamento de uma indemnização pelos danos sofridos e pode também resolver o contrato,
exigindo a restituição da parte ou da totalidade do frete já pago, corresponde à viagem ou viagens não realizadas.
(Artigo 15º)
Se por outro, o impedimento à viagem ou viagens tornar estas impossíveis nas datas e épocas previstas por causa
imputável ao afretador, torna-se este responsável como se faltasse culposamente ao cumprimento, podendo neste caso
o fretador fazer seu o frete já pago quanto às viagens realizadas, pode resolver o contrato e tem direito ainda a uma
indemnização que não pode exceder o montante do frete correspondente à viagem ou viagens não efetuadas, deduzido
das despesas que deixou de suportar. (artigo 16º)
Se por facto não imputável ao fretador, se verificar no porto de descarga impedimento prolongado à entrada do
navio ou ao normal desenvolvimento das suas operações comerciais, tem aquele a faculdade de desviar o navio para
um porto próximo que ofereça condições idênticas e efetuar aí a descarga, com o que se considera cumprido o
contrato, devendo informar de imediato o afretador, cabendo a este ultimo o pagamento das despesas e encargos
adicionais. Se resultar benefício para o fretador, deve este entregar ao afretador o respetivo montante. (Artigo 17º)
Se por facto não imputável ao fretador, ocorrer durante a viagem qualquer causa que impeça definitivamente o
seu prosseguimento, o afretador deve pagar o frete proporcional à distância percorrida. (Artigo 18º)
Se o afretador pretender descarregar toda a mercadoria ou parte dela em porto que não seja o de destino, é
responsável pelo pagamento das despesas adicionais, havendo-as, e não tem direito a qualquer redução do frete na
hipótese inversa. (Artigo 19º)
A fim de garantir os créditos emergentes do fretamento como por exemplo o pagamento do frete, o pagamento
das despesas adicionais decorrentes de alteração pelo afretador do porto de descarga, o pagamento adicional
decorrente de sobrestadia, o pagamento de suplemento ao frete por carregar no navio mercadoria superior à
convencionada ou de indemnização por danos, o fretador, goza do direito de retenção sobre as mercadorias
transportadas.
Para isso o fretador terá de notificar o destinatário ou signatário da mercadoria, dentro das 48 horas imediatas à
chegada do navio ao porto de descarga, aplicando-se as disposições referentes ao direito de retenção que constam do
regime do contrato de transporte de mercadorias por mar. (Artigo 21º)
De referir na vertente internacional há ainda duas outras espécies de contrato que seguem uma estrutura básica
similar ao contrato de fretamento por viagem mas que não constam no nosso regime nacional, são eles:
1. “Contract of Affreightment” (COA): usualmente cobre um volume acordado de carga para ser transportado entre
portos designados em um tempo determinado por uma frota de navios sob o controle de um Armador. Pode ser
para um tipo de carga ou por mais de um tipo de carga;
2. “Consecutive Voyage Charter” (CONSECS): contrato para o desempenho de um específico número de viagens
num navio, normalmente entre os mesmos portos de carregamento e descarga. Deste modo é assegurado, portanto,
constantes negócios ao armador e também constante suprimento de uma carga para o afretador e para os
recebedores da carga.
CONTRATO DE FRETAMENTO A TEMPO
(ARTIGO 22º)

Na carta-partida, além dos elementos já mencionados no fretamento à viagem, deverá constar também os elementos
presentes no artigo 23º do diploma.
O foco neste tipo de contrato de fretamento está no navio unicamente. Aqui a gestão náutica do navio pertence ao
fretador, mas a gestão comercial já pertence ao afretador. (Artigo 25º e 26º) O armador é o fretador, tal como
acontece no contrato de fretamento por viagem.
Não é devido frete durante os períodos em que se torne impossível a utilização comercial do navio, por facto não
imputável ao afretador, ficando suspenso durante esse período, a título de exemplo um abalroamento causado por
outro navio, tendo o navio ficado temporariamente incapaz de navegar. (artigo 30º)
Se, por facto imputável ao afretador, o afretamento exceder a duração prevista na carta-partida, o fretador tem
direito, pelo tempo excedente, ao dobro do frete estipulado. (artigo 31º nº 2)
E se ocorrer uma avaria marítima no navio em resultado de operações comerciais o afretador por ter a gestão
comercial do navio é responsável por esta. (Artigo 32º)
CONTRATO DE FRETAMENTO EM CASCO NU:
(ARTIGO 33º)
Na carta-partida deste tipo de contrato de fretamento devem constar os elementos presentes nos termos do artigo
34º do mesmo diploma.
A gestão náutica e comercial pertence ao afretador. (Artigo 35º) O navio é, portanto, fretado desarmado.
Aqui o fretador assume apenas as responsabilidades decorrentes dos custos de capital incidentes sobre o navio, ou
seja as despesas financeiras, impostos, juros e amortizações de empréstimos e custo de oportunidade do montante
investido no navio.
O armador é o afretador, compete-lhe por isso armar e equipar o navio (Artigo 36º), cabendo-lhe igualmente
suportar as despesas elencadas no Artigo 37º.
São, pelo contrário, suportadas pelo fretador as despesas com as reparações e substituições resultantes de vício
próprio do navio, não sendo naturalmente durante este período devido qualquer frete pelo afretador. (Artigo 38º)
O afretador deve reembolsar o fretador de todas as despesas que este seja obrigado a pagar a terceiros em
consequência da exploração comercial do navio. (Artigo 41º)
A este tipo de contrato são subsidiariamente aplicáveis, com as necessárias adaptações, as normas relativas ao
contrato de fretamento a tempo e a disciplina da lei geral sobre o contrato de locação, ou seja, as normas do código
civil sobre locação. (artigo 42º)
Quanto ao direito de indemnização decorrente da violação do contrato de fretamento, este deve ser exercido no
prazo de dois anos a partir da data em que o lesado teve conhecimento do direito que lhe compete. (Artigo 46º)
Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes para as acções emergentes de contratos de
fretamento ou subfretamento nos seguintes casos elencados no Artigo 47º do Diploma anteriormente mencionado.
Quanto à lei aplicável ao contrato e na decorrência do princípio da autonomia da vontade das partes “à
priori” as partes poderão indicar expressamente a lei que será aplicável ao contrato (lex voluntatis) e a competência
jurisdicional. Contudo no plano internacional a autonomia da vontade nestes contratos é bastante limitada por
seguirem modelos standard que já incorporam a legislação aplicável (“Clause Paramount”) que é em regra a
britânica, prevendo ainda uma clausula de arbitragem, sendo em regra em Londres. A nossa lei nesta matéria nada
diz.
Este diploma revogou os artigos 541º a 562º do Código Comercial, que se referiam em particular a esta
matéria. (artigo 49º).

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