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O contrato de transporte passou a ser tipificado pelo Código Civil de 2002 entre os seus arts. 730 a
756. Trata-se do contrato pelo qual alguém (o transportador) se obriga, mediante uma determinada
remuneração, a transportar de um local para outras pessoas ou coisas, por meio terrestre
(rodoviário e ferroviário), aquático (marítimo, fluvial e lacustre) ou aéreo.
Art. 730, CC. Pelo contrato de transporte alguém se obriga, mediante retribuição, a
transportar, de um lugar para outro, pessoas ou coisas.
No que tange a esse tratamento previsto na nova codificação privada, houve uma subdivisão em
três seções. A primeira traz regras gerais para o contrato em questão, as demais versam sobre o
transporte de pessoas e o transporte de coisas, respectivamente.
Ao contrato de transporte aplica-se o Código Civil e, havendo uma relação jurídica de consumo,
como é comum, o CDC (Lei 8.078/1990). Desse modo, deve-se buscar um diálogo das fontes entre
as duas leis no que tange a esse contrato, sobretudo o diálogo de complementaridade. Além disso,
não se pode excluir a aplicação de leis específicas importantes, como é o caso do Código Brasileiro
de Aeronáutica (Lei 7.565/1986).
Quanto à sua natureza jurídica, o contrato de transporte é bilateral ou sinalagmático, pois gera
direitos e deveres proporcionais para ambas as partes. Isso tanto para o transportador (que deverá
conduzir a coisa ou pessoa de um lugar para outro) quanto para o passageiro ou expedidor (que
terá a obrigação de pagar o preço convencionado pelas partes).
O contrato é ainda comutativo, pois as partes já sabem de imediato quais são as suas prestações.
A álea não é fator determinante do contrato de transporte, apesar de existente o risco.
Na grande maioria das vezes, o contrato constitui-se em um típico contrato de adesão, por não
estar presente a plena discussão das suas cláusulas. O transportador acaba por impor o conteúdo
do negócio, restando à outra parte duas opções: aceitar ou não os seus termos. Entretanto, em
alguns casos excepcionais, principalmente quando o expedidor de uma coisa for uma empresa, o
contrato pode ser plenamente discutido, assumindo a forma paritária ou negociada.
O dispositivo estabelece o conceito do contrato de transporte que tem como características ser
bilateral, consensual, oneroso e, quase sempre, de adesão.
A norma está sintonizada com o artigo 175 da CF/88, pelo qual incumbe ao Poder Público, na forma
da lei, diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão, sempre através de licitação, a
prestação de serviços públicos. Dessa forma, haverá a aplicação concomitante das normas de
Direito Administrativo, particularmente aquelas relacionadas à concessão do serviço público, com
as normas previstas no Código Civil de 2002.
Além da relação com o Direito Administrativo, o Código Civil consagra uma relação com o Direito
Internacional. Segundo o art. 732, serão aplicadas as normas previstas na legislação especial e em
tratados e convenções internacionais ao contrato de transporte, desde que as mesmas não
contrariem o que consta da codificação vigente.
Diante do preceito constante no art. 732 do Código Civil, teologicamente e em uma visão
constitucional de unidade do sistema, quando o contrato de consumo constituir uma relação de
consumo, aplicam-se as normas do Código de Defesa do Consumidor que forem mais benéficas a
este (Enunciado n. 369 CJF/STJ, IV Jornada de Direito Civil).
Em casos tais, havendo danos a pessoas ou a coisas, haverá responsabilidade objetiva, pois a
obrigação de cada transportador é de resultado (cláusula de incolumidade). Para essa
responsabilização independente de culpa ainda pode ser invocado o Código de Defesa do
Consumidor, em diálogo das fontes.
Caso esteja presente dano resultante do atraso ou da interrupção da viagem, este será determinado
em razão da totalidade do percurso, diante da indivisibilidade da obrigação dos transportadores.
Ocorrendo a substituição de um transportador por outro nessa mesma forma de contratação, a
responsabilidade solidária também será estendida ao substituto. Nesse último caso, há o que a
doutrina denomina como contratação de subtransporte.
A obrigação assumida pelo transportador é sempre de resultado, justamente diante dessa cláusula
de incolumidade, o que fundamenta a sua responsabilização independentemente de culpa, em caso
de prejuízo (responsabilidade objetiva).
Na responsabilidade objetiva não se perquire de culpa do agente. Isso não significa que ele tenha de
indenizar a vítima sempre que esta vier a sofrer um prejuízo, pois é necessário que o dano seja
proveniente do serviço prestado, isto é, que haja nexo causal. Assim, as hipóteses de exoneração da
responsabilidade civil do transportador são todas relacionadas à inexistência ou quebra do nexo de
causalidade entre o dano e o serviço que presta, sendo, estas: culpa exclusiva da vítima e culpa de
terceiro.
Inicialmente, deve-se entender que o art. 734 do CC não torna obrigatória ao consumidor-passageiro
a referida declaração. Na verdade, o dispositivo enuncia que é lícito exigir a declaração do valor da
bagagem, visando a facilitar a prova do prejuízo sofrido em eventual demanda. Não sendo feita a
referida declaração, torna-se difícil comprovar o que está dentro da bagagem. Para tanto, pode o
consumidor utilizar-se da inversão do ônus da prova, nos termos do art. 6.º, inc. VIII, do CDC? O
Superior Tribunal de Justiça vem entendendo que sim, ou seja, pela aplicação dessa inversão em
casos tais.
Seguindo essa linha de raciocínio favorável ao consumidor, percebe-se que o art. 734, parágrafo
único, do CC, em certo sentido, entra em colisão com a proteção do destinatário final do serviço, ao
estabelecer que ele tem o dever de declarar o conteúdo de sua bagagem, sob pena de perder o
direito à indenização. Apesar de o dispositivo não dizer isso expressamente, poder-se-ia supor dessa
forma. Trata-se de uma mera suposição, uma vez que o passageiro, como consumidor, tem direito
à indenização integral. Assim deve ser interpretada a suposta controvérsia.
O art. 735 do CC/2002 e a Súmula 187 do STF servem também para responsabilizar as empresas
aéreas por acidentes que causam a morte de passageiros. Mesmo havendo culpa exclusiva de
terceiros, inclusive de agentes do Estado, as empresas que exploram o serviço devem indenizar os
familiares das vítimas, tendo ação regressiva contra os responsáveis. O que se nota, assim, é que a
aplicação do Código Civil de 2002 é até mais favorável aos consumidores do que o próprio CDC, eis
que a Lei 8.078/1990 prevê a culpa exclusiva de terceiro como excludente de responsabilização,
havendo prestação de serviços (art. 14, § 3.º).
Se o transportador obtém proveito econômico com o transporte, ainda que de forma indireta, como
ocorre no transporte de empregados pelo próprio empregador e com o pagamento de combustível
ou pedágio por aquele que é transportado, o transporte não se considera gratuito. Nesses casos, a
responsabilidade daquele que transportou outrem volta a ser contratual objetiva.
O transporte gratuito não se confunde com o transporte clandestino, tendo implicações diversas no
campo da responsabilidade civil. Sílvio de Salvo Venosa anota que “No transporte clandestino, o
transportador não sabe que está levando alguém ou alguma mercadoria. Lembre-se da hipótese de
clandestinos que viajam em compartimento de carga não pressurizado de aeronaves e vêm a
falecer, assim como clandestinos em caminhões e navios. Provada a clandestinidade, não há
responsabilidade do transportador nem do prisma da responsabilidade contratual, nem do da
responsabilidade aquiliana” (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito..., 2004, p. 148).
Responsabilidade extracontratual
(por ser benéfico exige o dolo ou
TRANSPORTE Puramente gratuito ou desinteressado culpa grave do transportador –
Súmula 145 do STF)
Art. 737. O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de
responder por perdas e danos, salvo motivo de força maior.
O transportador está sujeito aos horários e itinerários previstos, sob pena de responder por perdas
e danos, salvo motivo de força maior. Essa é a regra constante do art. 737 do CC, que fundamenta
eventual indenização no caso de atraso do transportador, o que faz com que o passageiro perca um
compromisso remunerado que tinha no destino. O dispositivo reforça a tese pela qual o
transportador assume obrigação de resultado, a gerar a sua responsabilidade objetiva. O dever de
pontualidade do transportador, aliás, já constava do art. 24 do Decreto-lei 2.681/1912, que tratava da
responsabilidade civil das empresas de estradas de ferro.
De toda sorte, cabe pontuar que o respeito aos horários previstos é um dever que também se impõe
ao passageiro. Sendo assim, caso este perca a viagem por sua própria desídia, não se cogita o dever
de reparar da parte contrária, presente a culpa ou fato exclusivo da vítima.
O art. 738 do Código Civil em vigor dispõe que a pessoa transportada deve sujeitar-se às normas
estabelecidas pelo transportador, constantes no bilhete ou afixadas à vista dos usuários, abstendo-
se da prática de quaisquer atos que causem incômodo ou prejuízo, danifiquem o veículo, dificultem
ou impeçam a execução normal de serviço. O comando legal em questão traz os deveres do
passageiro.
Se o prejuízo sofrido por pessoa transportada for atribuível à transgressão de normas pelo próprio
passageiro, o juiz reduzirá equitativamente a indenização, na medida em que a vítima houver
concorrido para a ocorrência do dano (art. 738, parágrafo único, do CC). A norma em questão
baseia-se nos arts. 944 e 945 do Código em vigor e na aplicação da teoria da causalidade adequada,
pela qual a indenização deve ser adequada às condutas dos envolvidos (Enunciado n. 47 do CJF/STJ).
A título de exemplo, transcrevem-se as anotações de Maria Helena Diniz quanto a esse dispositivo:
“Assim sendo, se o viajante estiver fedendo, ante a sua sujeira corporal, ou afetado por moléstia
contagiosa ou em estado de enfermidade física ou mental, que possa causar incômodo aos demais
viajantes, o transportador poderá recusá-lo se impossível for conduzi-lo em compartimento
separado. Da mesma forma permitida está em transporte interestadual a recusa de viajante incapaz
sem estar devidamente autorizado para efetuar a viagem” (DINIZ, Maria Helena. Código..., 2005, p.
596).
Art. 740. O passageiro tem direito a rescindir o contrato de transporte antes de iniciada
a viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor da passagem, desde que feita a
comunicação ao transportador em tempo de ser renegociada.
o
§ 1 Ao passageiro é facultado desistir do transporte, mesmo depois de iniciada a
viagem, sendo-lhe devida a restituição do valor correspondente ao trecho não utilizado,
desde que provado que outra pessoa haja sido transportada em seu lugar.
§ 2 o Não terá direito ao reembolso do valor da passagem o usuário que deixar de
embarcar, salvo se provado que outra pessoa foi transportada em seu lugar, caso em
que lhe será restituído o valor do bilhete não utilizado.
o
§ 3 Nas hipóteses previstas neste artigo, o transportador terá direito de reter até cinco
por cento da importância a ser restituída ao passageiro, a título de multa
compensatória.
O transportador tem o dever de resultado de levar o passageiro e sua bagagem em segurança até
o destino acertado. Ele não se desobriga nem mesmo diante da ocorrência de fortuito externo que
interrompa a viagem. O artigo 84 do Código de Defesa do Consumidor dá ao consumidor o direito
de exigir o cumprimento específico da obrigação pelo fornecedor. Caso o transportador não proceda
no sentido de reduzir os prejuízos sofridos pelos passageiros, ainda que em razão de fortuito externo,
violará seu dever legal e ficará obrigado a indenizar os passageiros pelos danos morais e materiais
que sua falta acarretar.
Art. 742. O transportador, uma vez executado o transporte, tem direito de retenção
sobre a bagagem de passageiro e outros objetos pessoais deste, para garantir-se do
pagamento do valor da passagem que não tiver sido feito no início ou durante o
percurso.
Quanto à natureza jurídica do instituto em questão, não se trata de um penhor legal, mas somente
de um direito pessoal colocado à disposição da parte contratual, conforme ensina Sílvio de Salvo
Venosa: “Nessa hipótese, não há penhor legal, mas direito procedimental de retenção sobre a
bagagem do passageiro, que poderá ser alegado também como matéria de defesa, enquanto não
pago o valor da passagem. Da mesma forma, uma vez realizado o transporte, o transportador
poderá validamente reter a bagagem do passageiro, e seus objetos pessoais transportados até o
efetivo pagamento. A hipótese é de pagamento diferido para o final da viagem. Não se aplica, por
exemplo, se foi contratado o pagamento da passagem a prazo” (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito...,
2005, p. 360).
A remuneração devida ao transportador, nesse caso, é denominada frete. Como ocorre com o
transporte de pessoas, o transportador de coisas assume uma obrigação de resultado, o que justifica
a sua responsabilidade contratual objetiva.
Art. 743. A coisa, entregue ao transportador, deve estar caracterizada pela sua
natureza, valor, peso e quantidade, e o mais que for necessário para que não se
confunda com outras, devendo o destinatário ser indicado ao menos pelo nome e
endereço.
O transporte exige que a coisa transportada seja infungível, pois o transportador deve levar ao
destino os mesmos bens que recebeu para transportar. Assim, a coisa, entregue ao transportador,
deve necessariamente estar caracterizada pela sua natureza, valor, peso e quantidade, e o que mais
for necessário para que não se confunda com outras. Também o destinatário deverá ser indicado ao
menos pelo nome e endereço. Isso, tendendo ao cumprimento perfeito do contrato, à satisfação
obrigacional.
Art. 744. Ao receber a coisa, o transportador emitirá conhecimento com a menção dos
dados que a identifiquem, obedecido o disposto em lei especial.
Parágrafo único. O transportador poderá exigir que o remetente lhe entregue,
devidamente assinada, a relação discriminada das coisas a serem transportadas, em
duas vias, uma das quais, por ele devidamente autenticada, ficará fazendo parte
integrante do conhecimento.
O dispositivo prevê que o transportador terá um direito subjetivo de pleitear indenização por perdas
e danos, se o contratante prestar falsa informação no conhecimento de frete. Para essa ação
condenatória, o comando legal prevê prazo decadencial de 120 dias, contados da data em que foi
prestada a informação inexata.
De acordo com a regra do dispositivo, o transportador pode sofrer prejuízo por informações inexatas
do expedidor somente ao indenizar o expedidor valor superior ao que deveria indenizar, em virtude
de se ter baseado em falsas informações prestadas pelo expedidor. Assim, o dispositivo é pouco
operativo, pois, se o transportador discordar do valor declarado pelo expedidor após a perda do
bem ele deixará de efetuar o pagamento e, logo, a ação de cobrança competirá ao expedidor. Em
suma, o dispositivo atenta contra a razoabilidade e, ao impedir a restituição integral do dano, é
inconstitucional.
Além disso, o dispositivo entra em conflito com a tese de Agnelo Amorim Filho, adotada pela nova
codificação quanto à prescrição e decadência. Como se sabe, esse autor relacionou o prazo de
prescrição a ações condenatórias e os prazos decadenciais a ações constitutivas positivas ou
negativas. Ora, a ação indenizatória referenciada no art. 745 do CC é condenatória, não se
justificando o prazo decadencial que nele consta. Desse modo, Nelson Nery Jr. e Rosa Maria de
Andrade Nery afirmam, com veemência, que não obstante a lei referenciar que o prazo é
decadencial, trata-se de prazo prescricional, diante da natureza condenatória da ação prevista na
norma (Código Civil..., 2005, p. 496).
Art. 746. Poderá o transportador recusar a coisa cuja embalagem seja inadequada, bem
como a que possa pôr em risco a saúde das pessoas, ou danificar o veículo e outros
bens.
A rigor, o princípio da boa-fé objetiva permite a recusa de qualquer coisa cujo transporte seja
inadequado, não apenas em razão da embalagem. Assim, é lícito o limite imposto por
transportadores para a dimensão dos volumes transportados, bem como a recusa de transporte de
produtos químicos, de animais ou plantas que sejam objeto de restrições administrativas, bem como
aqueles que possa pôr em risco a saúde das pessoas envolvidas no transporte, danificar o veículo ou
outro bem, Isso, inclusive, é motivo para a rescisão ou resolução do contrato celebrado,
Somente não são admissíveis as restrições arbitrárias, isto é, aquelas que não tenham justificativa
num interesse público importante,
A norma do artigo anterior é complementada por este dispositivo, pelo qual o transportador deverá
obrigatoriamente recusar a coisa cujo transporte ou a comercialização não sejam permitidos, ou
que venha desacompanhada dos documentos exigidos por lei ou regulamento. Trata-se de dever
legal imposto ao transportador, exigindo-se a licitude das coisas a serem transportadas, sob pena
de sua responsabilização nos âmbitos civil, criminal e administrativo.
Art. 748. Até a entrega da coisa, pode o remetente desistir do transporte e pedi-la de
volta, ou ordenar seja entregue a outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os
acréscimos de despesa decorrentes da contra-ordem, mais as perdas e danos que
houver.
Da mesma forma como ocorre no transporte de pessoas, é facultado ao remetente, até a entrega
da coisa, desistir do transporte e pedi-la de volta. Pode, ainda, ordenar que a coisa seja entregue a
outro destinatário, pagando, em ambos os casos, os acréscimos de despesas decorrentes da
contraordem, mais as perdas e danos que houver.
A cláusula de incolumidade ainda é retirada do art. 750 do Código Civil em vigor, pois a
responsabilidade do transportador limita-se ao valor constante do conhecimento. Essa
responsabilidade tem início no momento em que ele ou os seus prepostos recebem a coisa e somente
termina quando é entregue ao destinatário ou depositada em juízo, se o destinatário não for
encontrado.
Em razão do contrato de transporte, pode a coisa vir a ser guardada pelo transportador antes ou
depois de concluído o trajeto, O dispositivo manda aplicar à relação entre expedidor e transportador
as regras relativas ao contrato de depósito enquanto perdure essa situação.
O transporte pode ser contratado para que a coisa seja entregue no domicílio do destinatário ou em
determinado local para a retirada do destinatário, como um aeroporto, estação ferroviária ou porto.
Uma vez que a coisa seja depositada no local de entrega, desincumbe-se o transportador de sua
obrigação contratual. Caso o destinatário não a receba, ficará em mora, responsabilizando-se pelos
prejuízos que esta ocasionar.
Uma vez que o destino do transporte não seja o domicílio do destinatário, a obrigação de avisá-lo
da chegada da coisa deve ser expressa no conhecimento. Não se presume.
O parágrafo único desse art. 754 determina que, havendo avaria ou perda parcial da coisa
transportada não perceptível à primeira vista, o destinatário conserva a sua ação contra o
transportador, desde que denuncie o dano em dez dias, a contar da entrega.
Conjugando-se os dois comandos, percebe-se, mais uma vez, um equívoco do legislador ao prever
prazo de natureza decadencial para a ação indenizatória. Como da vez anterior, filia-se a Nelson
Nery Jr. e Rosa Maria de Andrade Nery, visto que, apesar de o caput tratar de decadência, havendo
ação indenizatória, o prazo é de prescrição (Código Civil..., 2005, p. 498).
Em virtude de o prazo previsto no parágrafo único do art. 754 do CC ser exíguo (10 dias), a doutrina
defende que o prazo será, em regra, prescricional de três anos, conforme o art. 206, § 3.°, V, do CC.
Em havendo relação de consumo e fato do serviço, utiliza-se o prazo prescricional de cinco anos,
previsto no art. 27 do CDC.
Art. 755. Havendo dúvida acerca de quem seja o destinatário, o transportador deve
depositar a mercadoria em juízo, se não lhe for possível obter instruções do remetente;
se a demora puder ocasionar a deterioração da coisa, o transportador deverá vendê-
la, depositando o saldo em juízo.
O destinatário sempre deve ser indicado no conhecimento. Diversos fatos podem ocorrer que
impeçam a clara e imediata identificação do destinatário. Havendo dúvida quanto ao destinatário,
deve o transportador esclarecê-las junto ao expedidor e, não lhe sendo possível, deve depositar a
mercadoria em juízo. Se houver risco de deterioração, deve vender a mercadoria e depositar o preço
em juízo, em face do expedidor.