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A legislação trabalhista estabelece várias formas de rescisão de contrato de trabalho, seja nos contratos por tempo determinado ou
indeterminado, podendo ser por iniciativa do empregador ou do empregado. Dentre as diversos tipos de rescisão está a por culpa
recíproca e por força maior.
As rescisões de contrato por culpa recíproca e força maior possuem particularidades que se diferenciam das demais forma de rescisão
de contrato, conforme abaixo demonstrado.
RESCISÃO POR CULPA RECÍPROCA
A culpa recíproca ocorre quando as partes, empregado e empregador, ao mesmo tempo, cometem falta grave que configura a perda da
confiança entre as partes, ensejando a rescisão de contrato de trabalho.
A falta grave cometida pelas partes não precisa, necessariamente, ter o mesmo peso, a mesma gravidade, mas será configurada quando
o empregador cometer uma das faltas previstas no
art. 483 da CLT, e o empregado em uma das faltas previstas no
art. 482 da CLT, de
modo que fique impossível a continuidade da relação empregatícia.
Portanto, não será configurado a culpa recíproca quando há uma falta grave praticada pelo empregador e uma falta leve praticada pelo
empregado, e vice-versa.
De acordo com o
art. 484 da CLT, havendo culpa recíproca no ato que determinou a rescisão do contrato de trabalho, o tribunal de
trabalho reduzirá a indenização à que seria devida em caso de culpa exclusiva do empregador, por metade.
Como o referido artigo não é específico sobre quais verbas o empregado receberia (por metade), o TST firmou entendimento de que o
empregado terá direito a 50% do aviso prévio, do 13º salário e das férias proporcionais, conforme dispõe a
Súmula 14 do TST.
Não só a ação em si pode ser considerada como falta grave, mas também a omissão cometida pela parte. Assim, se há um acidente de
trabalho que cause sequela permanente ao empregado, decorrente da falta de fornecimento de Equipamento de Proteção Individual -
EPI ao empregado, o empregador terá cometido falta grave por omissão.
Por outro lado, se ficar comprovado que o acidente ocorreu por conta de o empregado ter realizado uma tarefa para a qual ainda não
havia sido treinado, poderá haver ficar configurado a culpa recíproca.
Culpa Recíproca - Ação Judicial - Desnecessidade
Com base no que dispõe o art. 484 da CLT, num primeiro momento pressupõe que a culpa recíproca só se concretiza por meio de ação
judicial. Entretanto, é plenamente possível que tanto o empregado quanto o empregador reconheçam que cometeram falta grave,
formalizando a rescisão por culpa recíproca.
É quase impossível que isto ocorra na prática, tendo em vista que as partes tendem a acusar a outra de ter cometido a falta grave,
pleiteando a rescisão sem justa causa (no caso do empregado), ou o pedido de demissão (no caso do empregador).
Caso não haja o reconhecimento voluntário da culpa recíproca pelas partes, inevitavelmente ambas irão levar a controvérsia para
apreciação da Justiça do Trabalho que, com base nas provas produzidas, irá decidir pelo reconhecimento da culpa recíproca ou
estabelecendo qual a parte quem deu causa à rescisão de contrato.
Culpa Recíproca por Acordo ou Convenção Coletiva de Trabalho - Impossibilidade
Há sindicatos que estabelecem cláusulas em acordo ou convenção coletiva de trabalho, prevendo a rescisão contratual por culpa
recíproca nos casos de empresas prestadoras de serviços que perdem a licitação e ficam impossibilitadas de realocarem empregados em
outros postos de trabalho.
Se a empresa já presta serviços ao ente público (município, estado ou União) e perde a licitação, sem ter onde realocar os empregados
que prestavam serviços naquele local, inevitavelmente teria que demitir os empregados, pagando-lhes todos os direitos previstos
legalmente.
Nestes casos, os sindicatos estabelecem cláusulas convencionais específicas em que a empresa que prestava serviços (e que perdeu a
licitação), poderia rescindir o contrato de trabalho nos termos do que estabelece o art. 484 da CLT (culpa recíproca), reduzindo o
pagamento da multa de 40% para 20%, mediante o compromisso de empresas que ganharam a licitação, de contratarem os empregados
da empresa sucedida.
Entretanto, o entendimento jurisprudencial do TST é de que a referida cláusula convencional ultrapassa os limites da atuação sindical, a
teor do art. 7º da CF, pelas seguintes razões:
Se utiliza de fato incerto e futuro (perda da licitação) para retirar direitos quando da rescisão de contrato de trabalho;
Se utiliza de terceiro (empresa sucessora), alheio à relação empregatícia, para isentar o efetivo empregador das obrigações
contratuais;
Transfere o risco da atividade econômica ao empregado, na medida em que atribui culpa recíproca à rescisão de contrato por um
fato (perda da licitação) que ocorreu por incapacidade do empregador em renovar o contrato de prestação de serviços, e não por
qualquer falta grave cometida pelo empregado (art. 482 da CLT).
Declara obrigações a terceiro (empresa sucessora) em relação futura, como se sucessor fosse, sem observar as regras dos
arts. 10
e
448 da CLT;
Se utiliza do art. 9º, § 2º do
Decreto 99.684/1990 para atribuir culpa recíproca (reduzindo a multa do FGTS de 40% para 20%)
em fato (perda da licitação) não previsto no
art. 482,
483 e
484 da CLT, desvirtuando ainda a previsão contida no art. 484 da CLT
em relação à intervenção judiciária para determinar a redução da multa.
Embora haja decisões divergentes nos Tribunais Regionais do Trabalho, ora reconhecendo a validade da norma e ora negando esta
possibilidade, a jurisprudência majoritária do TST é no sentido de que a inserção de cláusula em norma coletiva prevendo a rescisão
por culpa recíproca, com redução da multa do FGTS de 40% para 20%, sem que haja a ocorrência de prática de quaisquer atos
configurados como falta grave (art. 482 e 483 da CLT), viola a Lei 8.036/1990, o art. 484 da CLT e o art. 7º, XXVI da CF, conforme
jurisprudência abaixo.
Mesmo depois da reforma trabalhista (Lei 13.467/2017), que atribuiu maior autonomia aos acordos e convenções coletiva (art. 611-A
da CLT), estabelecer cláusulas convencionais que reduz a multa de 40% para 20%, viola o
art. 611-B da CLT, o qual estabelece que
constitui
objeto ilícito de convenção coletiva ou de acordo coletivo de trabalho, a supressão ou a redução do valor dos depósitos
mensais e da indenização rescisória do Fundo de Garantia do tempo de serviço (FGTS).
Direitos Trabalhistas no Caso de Rescisão de Contrato por Culpa Recíproca
Conforme já mencionado acima, de acordo com o
art. 484 da CLT, a rescisão de contrato por culpa recíproca assegura ao empregado o
direito às seguintes verbas rescisórias:
50% do valor do
Aviso prévio indenizado a que teria direito;
Saldo de salários;
Horas extras (se houver);
Salário família (se houver);
Férias Vencidas acrescidas de 1/3 constitucional (se houver);
50% do valor das
Férias proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional a que teria direito;
Comissões (se for comissionado);
50% do valor do
13º salário proporcional a que teria direito;
50% do valor da Multa devida pelo art. 479 da CLT (no caso de contrato determinado/experiência);
Depósito do FGTS sobre as verbas rescisórias;
Multa de 20% sobre o saldo do FGTS.
Nota: O pagamento das férias vencidas acrescidas de 1/3 constitucional deverá ser feito integralmente, tendo em vista que já era direito
adquirido do empregado.
Veja maiores detalhes sobre o pagamento das verbas rescisórias no caso de rescisão por culpa recíproca no cálculo prático abaixo.
RESCISÃO POR FORÇA MAIOR
De acordo com o
art. 501 da CLT, entende-se como força maior todo acontecimento inevitável, em relação à vontade do empregador, e
para a realização do qual este não concorreu direta ou indiretamente. A força maior pressupõe acontecimento grave, imprevisível,
involuntário e causado por fator externo. Nessas circunstâncias, alguns direitos trabalhistas podem ser relativizados.
O § único do referido artigo dispõe que a imprevidência do empregador exclui a razão de força maior, ou seja, se há descuido,
imperícia ou desleixo por parte do empregador na administração da empresa e, em razão disso, a empresa acaba falindo ou se
extinguindo, não se caracteriza a força maior.
Significa dizer que o insucesso do empreendimento em função de uma má gestão não poderá ser alegado como força maior, tendo em
vista que foi o empregador quem provocou, por incompetência, a extinção, o fechamento ou a falência da empresa. Neste caso foi o
próprio empregador o responsável pelo fato.
Isto porque o risco do empreendimento é do empregador, nos termos do
art. 2º da CLT, ou seja, assim como o empregador é o
beneficiário dos lucros por uma boa administração, também deverá ser responsável pelos prejuízos (incluídos aqui o pagamento dos
direitos trabalhistas e previdenciários), decorrentes de uma má administração que cause a extinção ou o fechamento da empresa.
A rescisão de contrato por força maior ocorrerá quando, por exemplo, há uma descontinuidade das atividades (falência, fechamento,
extinção ou encerramento total das atividades) da empresa em razão de fatores externos, tais como:
Alagamento: alagamento decorrente de fortes chuvas ou tempestades, que provoque a destruição da empresa;
Incêndio no Shopping: quando ocorre a destruição da empresa decorrente de um incêndio no shopping onde a mesma
funcionava;
Pandemia: quando ocorre a falência da empresa em função de uma parada total das atividades por conta de uma epidemia ou
pandemia (Coronavírus, por exemplo);
Terremoto/furacão/tornado: quando há destruição da empresa em função de um evento natural e que está fora do controle da
empresa;
Guerras: extinção da empresa em função de guerra;
Revoluções: atos revolucionários que acarretem a extinção da empresa;
Outros Fenômenos da natureza: extinção da empresa decorrentes de fenômenos da natureza, como o rompimento da barragem de
Brumadinho/MG, ainda que a causa seja decorrente de falha de terceiros;
Extinção da Matéria-Prima: a extinção da matéria-prima pode ser objeto de extinção da empresa, caso seja esta a única fonte do
seu produto final;
Outros fatores alheios à vontade da empresa.
Importante ressaltar que não basta o evento "força maior", ou seja, é preciso comprovar que o fato em si foi o causador da extinção
total da empresa, já que a
paralisação parcial poderá ensejar apenas a
redução salarial, mas não a demissão sem justa causa nos moldes
do disposto abaixo.
Direitos Trabalhistas no Caso de Rescisão de Contrato por Força Maior
De acordo com o
art. 502 da CLT, quando, por força maior, há a extinção da empresa ou de um dos estabelecimentos em que trabalhe o
empregado, é assegurada a este, quando despedido, uma indenização na forma seguinte:
Se o empregado tiver estabilidade: o inciso I do referido artigo dispõe que a indenização será de um mês de remuneração por
ano de serviço efetivo, nos termos do que determina o
478 da CLT. Vale ressaltar que a partir de 1988, a CF adotou o regime do
FGTS. Por este regime, em lugar da indenização prevista no citado artigo, o empregado recebe metade da indenização a que teria
direito pela estabilidade, além dos direitos previstos no inciso II do art. 502 da CLT (art. 502, I da CLT).
Se o empregado não tiver estabilidade: a indenização será metade da que seria devida em caso de rescisão sem justa causa (art.
502, II da CLT);
Havendo contrato por prazo determinado, a indenização prevista no
art. 479 da CLT será de 25% do valor da remuneração a que
teria direito até o termo do contrato (art. 502, III da CLT).
Portanto, havendo a extinção da empresa por força maior, com a consequente demissão sem justa causa do empregado, o empregador
será obrigado a pagar as seguintes verbas rescisórias:
50% do valor do
Aviso prévio indenizado a que teria direito;
Saldo de salários;
Horas extras (se houver);
Salário família (se houver);
Férias Vencidas acrescidas de 1/3 constitucional (se houver). O pagamento das férias vencidas deverá ser feito integralmente,
tendo em vista que já era direito adquirido do empregado.
50% do valor das
Férias proporcionais acrescidas de 1/3 constitucional a que teria direito;
Comissões (se for comissionado);
50% do valor do
13º salário proporcional a que teria direito;
25% da Multa devida pelo art. 479 da CLT (no caso de contrato determinado/experiência);
Depósito do FGTS sobre as verbas rescisórias;
Multa de 20% sobre o saldo do FGTS.