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DIREITO DO TRABALHO

ACERTO ENTRE EMPREGADO E EMPREGADOR


Fraude contra FGTS, Fraude ao Seguro-desemprego, Consequências Jurídicas
ROTEIRO
1. CARACTERIZAÇÃO
2. FRAUDE AO FGTS
3. FRAUDE AO SEGURO-DESEMPREGO
4. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS
4.1. Para o Empregador
4.2. Para o Empregado
5. RESCISÃO POR ACORDO ENTRE AS PARTES - ACORDO LÍCITO
1. CARACTERIZAÇÃO
No ambiente corporativo, há muito tempo se conhece a utilização de acordo entre o empregador
e o empregado, no qual
fica estabelecido que, em tese, haverá uma demissão sem justa causa do empregado, mas na
realidade foi este que a
solicitou com a finalidade de sacar o FGTS e receber o seguro-desemprego, e posteriormente
devolver a multa rescisória
de 40% do FGTS para o empregador.
Na prática, este acordo que analisaremos é ilícito e fraudulento, mas a princípio atende a vontade
das duas partes,
porque o empregador deixa de quitar direitos trabalhistas devidos (multa de 40% de FGTS, aviso
prévio na prática
descrito retroativamente) enquanto que o empregado embora deixe de receber os direitos
mencionados, consegue sacar
seu FGTS e receber seguro-desemprego.
Com a finalidade de cessar atos fraudulentos, o antigo Ministério do Trabalho publicou a Portaria
n° 384/1992 que ainda
vigora. Na referida norma, é tida como rescisão fraudulenta a dispensa sem justa causa e o
empregado continua
trabalhando sem registro, ou então, quando o empregado é recontratado após a rescisão sem
justa causa, dentro do
período de 90 dias posteriores à rescisão contratual, conforme o artigo 2° da referida Portaria:
“Artigo 2° Considera-se fraudulenta a rescisão seguida de recontratação ou de permanência do
trabalhador em serviço
quando ocorrida dentro dos 90 (noventa) dias subsequentes à data em que formalmente a
rescisão se operou".
Ainda que o empregado não continue na empresa ou não seja recontratado, caso fique
constatado de que não havia a
intenção de mandá-lo embora, mas ocorreu o mencionado “acordo” entre as partes, estamos
diante de uma fraude, na
forma do artigo 9° da CLT:
“Artigo 9° Serão nulos de pleno direito os atos praticados com o objetivo de desvirtuar, impedir
ou fraudar a aplicação
dos preceitos contidos na presente Consolidação”.
Portanto, estamos diante de um ato nulo, uma vez que se trata de uma ilicitude e tanto o
empregador quanto o
empregado poderão responder por ele.
Cabe esclarecer que, não se trata de fraude quando houver pedido de demissão e após 90 dias
ou antes, o empregado
é readmitido. Uma vez que estamos falando de pedido de demissão, não há saque do FGTS e
nem percepção do
seguro-desemprego, portanto, não há que se falar em ato ilícito desde que não ocorra redução
de salário do empregado.
2. FRAUDE AO FGTS
Quando ocorre a despedida do empregado sem justa causa, o artigo 20, inciso I da Lei n°
8.036/1990 traz a
possibilidade do saque dos depósitos fundiários:
“Artigo 20. A conta vinculada do trabalhador no FGTS poderá ser movimentada nas seguintes
situações:
I - despedida sem justa causa, inclusive a indireta, de culpa recíproca e de força maior”.

Em interpretação conjunta com a referida Lei n° 8.036/1990, o Decreto n° 99.684/1990 em seu


artigo 9° parágrafo 1° traz
que “quando ocorre a demissão sem justa causa, o empregado terá direito a percepção de 40%
sobre todos os depósitos
fundiários depositados na conta vinculada durante o vínculo de emprego que deverá ser efetuado
pelo empregador,
conforme a seguinte redação:
“Artigo 9° Ocorrendo despedida sem justa causa, ainda que indireta, com culpa recíproca, por
força maior ou extinção
normal do contrato a termo, inclusive a do trabalhador temporário, deverá o empregador
depositar, na conta vinculada do
trabalhador no FGTS, os valores relativos aos depósitos referentes ao mês da rescisão e ao
imediatamente anterior, que
ainda não houver sido recolhido, sem prejuízo das cominações legais cabíveis.
§ 1° No caso de despedida sem justa causa, ainda que indireta, o empregador depositará, na
conta vinculada do
trabalhador no FGTS, importância igual a quarenta por cento do montante de todos os depósitos
realizados na conta
vinculada durante a vigência do contrato de trabalho, atualizados monetariamente e acrescidos
dos respectivos juros,
não sendo permitida, para esse fim, a dedução dos saques ocorridos”.
Portanto, quando ocorre um acordo entre as partes em que supostamente há uma rescisão sem
justa causa, mas na
realidade não há, ocorre fraude com a finalidade de levantamento de depósitos do FGTS, sendo
o saque realizado de
forma a deturpar a lei vigente.
E assim, na prática destes acordos ilícitos, o trabalhador devolve a multa fundiária de 40% e a
contribuição social de
10%, porém consegue sacar os depósitos de FGTS de sua conta vinculada, incidindo em prática
é ilícita, jamais devendo
ser realizada.
3. FRAUDE AO SEGURO-DESEMPREGO
A rescisão fraudulenta, além de ser considerada uma prática enganosa contra o sistema FGTS,
também é enganador do
sistema do seguro-desemprego, porque o empregado receberá indevidamente as parcelas do
seguro-desemprego sem
delas fazer “jus”, e acarretará prejuízos aos cofres públicos.
4. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS
Nos subtópicos seguintes veremos as consequências jurídicas para o empregado e para o
empregador, quanto ao
acordo ilícito celebrado entre as partes.
4.1. Para o Empregador
O empregador irá responder por infração ao artigo 47 do Decreto n° 99.684/1990, caso seja
configurado fraude, sendo
autuado, através de multa administrativa:
“Artigo 47. Constituem infrações à Lei n° 8.036, de 1990:
I - não depositar mensalmente a parcela referente ao FGTS;
II - omitir informações sobre a conta vinculada do trabalhador;
III - apresentar informações ao Cadastro Nacional do Trabalhador, dos trabalhadores
beneficiários, com erros ou
omissões;
IV - deixar de computar, para efeito de cálculo dos depósitos do FGTS, parcela componente da
remuneração;
V - deixar de efetuar os depósitos com os acréscimos legais, após notificado pela fiscalização.
Parágrafo único. Por trabalhador prejudicado o infrator estará sujeito às seguintes multas:
a) de dois a cinco BTN*, nos casos dos incisos II e III; e
b) de dez a cem BTN*, nos casos dos incisos I, IV e V.
Ressalte-se que as multas trabalhistas serão calculadas por UFIR, considerando-se a última
divulgada no importe de R$
1,0641.
Ainda, quando houver fraude, simulação, artifício, ardil, na reincidência, a multa poderá ser
duplicada, com o acréscimo
das cominações legais.
Quando observada a prática da rescisão fraudulenta, o auditor fiscal do trabalho irá apurar os
casos de rescisão que
aconteceram nos últimos 24 meses, para analisar se não houveram outras situações e assim,
aplicar a devida
penalidade.

No que tange ao seguro-desemprego, se houver seu levantamento de forma indevida, o artigo


25 da Lei n° 7.998/90 traz
a previsão da seguinte penalidade:
“Artigo 25. O empregador que infringir os dispositivos desta Lei estará sujeito a multas de 400
(quatrocentos) a 40.000
(quarenta mil) BTN*, segundo a natureza da infração, sua extensão e intenção do infrator, a
serem aplicadas em dobro,
no caso de reincidência, oposição à fiscalização ou desacato à autoridade.
§ 1° Serão competentes para impor as penalidades as Delegacias Regionais do Trabalho, nos
termos do Título VII da
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
§ 2° Além das penalidades administrativas já referidas, os responsáveis por meios fraudulentos
na habilitação ou na
percepção do seguro-desemprego serão punidos civil e criminalmente, nos termos desta Lei”.
As multas trabalhistas serão calculadas por UFIR, considerando-se a última divulgada no
montante de R$ 1,0641.
Além das multas citadas, em uma demanda trabalhista, se restar caracterizada a fraude, o juiz
tem o poder de oficiar ao
Ministério Público e este propor uma Ação Criminal contra o empregado e contra o empregador,
por crime de falsidade
ideológica, estelionato contra a Administração Pública. Assim preveem os artigos 171 e 299 do
Código Penal:
Artigo 171. “Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita, em prejuízo alheio, induzindo ou
mantendo alguém em erro,
mediante artifício ardil, ou qualquer outro meio fraudulento”.
Pena: reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Artigo 299. Omitir, em documento público ou particular, declaração que dele devia constar, ou
nele inserir ou fazer inserir
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade
sobre fato juridicamente relevante:
Pena: reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três
anos, e multa, se o
documento é particular.
4.2. Para o Empregado
O artigo 8°, § 1° da Lei n° 7.998/1990 traz que quando houver fraude ao seguro-desemprego o
benefício será cancelado
e haverá a suspensão por 02 (dois) anos, e se houver reincidência, este prazo será dobrado.
A Lei n° 7.998/1990 em seu artigo 25-A expressa que as parcelas do seguro-desemprego,
recebidas indevidamente
serão restituídas através de depósito na conta do Programa Seguro-Desemprego na Caixa
Econômica Federal, exceto
quando houver restituição por determinação judicial onde serão efetuadas mediante GRU (Guia
de Recolhimento da
União).
O valor da parcela paga indevidamente a título de seguro-desemprego, a ser restituído, será
corrigido pelo INPC, a
contar da data do recebimento indevido até a data da restituição.
Do mesmo modo, o empregado poderá ser indiciado nos crimes mencionados no item 4.1. desta
matéria.

5. RESCISÃO POR ACORDO ENTRE AS PARTES - ACORDO LÍCITO


Com a finalidade de coibir estas fraudes, a Reforma trabalhista, através da Lei n° 13.467/2017,
trouxe o artigo 484-A à
CLT, e prevê a rescisão por acordo de forma lícita, nos seguintes termos:
Artigo 484-A. O contrato de trabalho poderá ser extinto por acordo entre empregado e
empregador, caso em
que serão devidas as seguintes verbas trabalhistas:
I - por metade:
a) o aviso prévio, se indenizado;
b) a indenização sobre o saldo do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço, prevista no § 1° do
art. 18 da Lei n°
8.036, de 11 de maio de 1990;
II - na integralidade, as demais verbas trabalhistas.
§ 1° A extinção do contrato prevista no caput deste artigo permite a movimentação da conta
vinculada do
trabalhador no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço na forma do inciso I-A do art. 20 da Lei
n° 8.036, de 11
de maio de 1990, limitada até 80% (oitenta por cento) do valor dos depósitos.

§ 2° A extinção do contrato por acordo prevista no caput deste artigo não autoriza o ingresso no
Programa de
Seguro-Desemprego.

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