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ILUSTRÍSSIMOS(AS) SENHORES(AS) CONSELHEIROS(AS) DA CÂ MARA DE

JULGAMENTO DO CONSELHO DE RECURSOS DO SEGURO SOCIAL

NB 46/XXXXX

XXXXX, já qualificado nos autos do presente processo administrativo, vem,


respeitosamente, por meio dos seus procuradores, interpor

RECURSO ESPECIAL

com fulcro no art. 538 da Instruçã o Normativa INSS/PRES nº 77/2015.


Nessa conformidade, requer que o presente recurso seja encaminhado,
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imediatamente, ao Serviço e à Seçã o de Reconhecimento de Direitos das Gerências-
Executivas para que o INSS apresente contrarrazões, conforme disposto no § 3º
do art. 540 da IN 77/2015. Apó s, requer sejam encaminhados os autos à Câmara
de Julgamento do Conselho de Recursos do Seguro Social.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local e data.

Advogado XXXXX

OAB nº XXXX
RECURSO ESPECIAL

Recorrente : XXXXX
Recorridos : Instituto Nacional do Seguro Social
XXª Junta de Recursos da Previdência do CRSS
Endereço para correspondência : XXXXX

Colenda Câmara

Ilustres Conselheiros

O Recorrente, no dia XX/XX/XXXX, elaborou requerimento de


aposentadoria especial em face da exposiçã o a diversos agentes nocivos nos
períodos em que desempenhou as funçõ es de soldador e mecâ nico, estando
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exposto a agentes nocivos à sua saú de.

O benefício foi indeferido, sob a alegaçã o de que nã o foi comprovada a


efetiva exposiçã o a agentes nocivos nos interregnos de 14/10/1996 a
31/01/2000 e de 11/10/2001 a 08/03/2016, tendo sido reconhecido o tempo
de serviço especial nos períodos de 04/03/1991 a 13/10/1996 e de 01/02/2000 a
10/10/2001.

Nã o obstante, ainda que os documentos acostados aos autos do processo


administrativo demonstrem a exposiçã o a agentes nocivos em todos os períodos
pleiteados, de forma habitual e permanente, a decisão da XXª Junta de Recursos
da Previdência do CRSS, por meio do Acórdão nº XXXXX, referente ao
processo nº XXXXX, negou provimento ao recurso interposto, mantendo a
decisão de indeferimento do benefício.

Sendo assim, passa-se à aná lise das razõ es pelas quais a decisã o deve ser
revista.
RAZÕES RECURSAIS

DO DEVER DE FISCALIZAÇÃO DO INSS

É importante mencionar, inicialmente, que compete ao servidor do INSS


responsá vel pela conduçã o do processo, juntamente com o segurado requerente, a
instruçã o do processo administrativo, com o intuito de reunir toda a
documentaçã o indispensá vel ao processamento do benefício pleiteado.

No que se refere à prova da atividade especial, cabe tecer breves


consideraçõ es sobre o chamado “Adicional do SAT”. O SAT/GILRAT tem o
objetivo de financiar os benefícios concedidos pelo INSS em razã o do grau de
incidência da incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do
trabalho. 3
As empresas nas quais o risco de acidente do trabalho relativo a atividade
preponderante seja considerado como leve a alíquota é de 1%; para as de grau
médio 2%; e para as de grau grave a alíquota é de 3%, incidentes sobre a
totalidade da remuneraçã o paga pelas empresas aos empregados e aos avulsos.

Ou seja, tal espécie de contribuição deve ser recolhida em percentual


proporcional ao grau de nocividade da exposição do empregado aos agentes
agressivos, exclusivamente sobre a remuneração do segurado.

O Decreto 6.042/07 acrescentou o artigo 202-A ao Decreto 3.048/99


criando o Fator Acidentário de Prevenção (FAP). O FAP é um multiplicador
variá vel entre 0,5 e 2,00 cujos índices variam de acordo com a gravidade,
frequência e os custos dos acidentes de trabalho, podendo aumentar ou reduzir o
SAT bá sico, considerando-se o GRAU DE RISCO da empresa.

A partir de entã o, se a empresa toma todos os cuidados necessários


para evitar os ACIDENTES DE TRABALHO, gerando POUCOS CUSTOS PARA O
INSS, a alíquota do FAP poderá ser menos que 1,00, reduzindo o valor do SAT,
consequentemente.

Evidente que a intençã o do legislador foi BENEFICIAR AS EMPRESAS que


tomam as devidas precauçõ es, ESTIMULANDO OS CUIDADOS COM OS
EMPREGADOS. Um estímulo financeiro EXCELENTE, nã o é mesmo?!

Ocorre que, sem a devida FISCALIZAÇÃO, nã o há clareza e precisã o nos


dados lançados pelas empregadoras, dificultando a demonstraçã o de melhora ou
piora nas condiçõ es de trabalho e nas prevençõ es dos acidentes de trabalho. Desse
modo, os valores apontados pelo INSS para as alíquotas do FAP podem não
corresponder à realidade.

Por óbvio, o empregador que omitir a informação de


ambiente insalubre SE EXIME DE PAGAR A CONTRIBUIÇÃO
ESPECÍFICA e, ainda, SE EXIME DE DEMONSTRAR SE HOUVE
MELHORA OU PIORA NO AMBIENTE DE TRABALHO!
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Os nú meros evidenciam essa tendência. Com base em dados da GFIP – Guias
de Recolhimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço e Informaçõ es à
Previdência Social, a quantidade total declarada pelas empresas de
trabalhadores expostos a agentes nocivos vem apresentando uma REDUÇÃO
ACELERADA.

De acordo com o grá fico abaixo, que mostra a quantidade de trabalhadores


expostos a agentes agressivos a partir da exigência da contribuiçã o da
aposentadoria especial, entre junho de 1999 e março de 2000, o nú mero de
trabalhadores reduziu em média 25,9%. Isto explica o número cada vez menor

de concessões de aposentadorias especiais pelo INSS. Será que esses

dados realmente representam um cenário real?


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A forma de custeio da aposentadoria especial e as informações
INVERÍDICAS prestadas pelas empregadoras têm impedido que os segurados
expostos a agentes nocivos à sua saú de e integridade física tenham seu direito
reconhecido pelo INSS!

Importante destacar que a contribuição existe e está prevista em lei.


Basta que haja fiscalização e cobrança efetiva pela Autarquia
Previdenciária!!!

Destarte, não se pode permitir a descaracterização da atividade


especial ou a não concessão do benefício de aposentadoria especial ao
segurado pela não contribuição a cargo do empregador, eis que se presume
que ela foi realizada, ao teor do que estabelece o art. 33, § 5º, da Lei 8.212/91,
perceba-se (grifos nossos):

§ 5º O desconto de contribuição e de consignaçã o legalmente


autorizadas sempre se presume feito oportuna e
regularmente pela empresa a isso obrigada, nã o lhe sendo
lícito alegar omissã o para se eximir do recolhimento, ficando
diretamente responsá vel pela importâ ncia que deixou de receber
ou arrecadou em desacordo com o disposto nesta Lei.

Incabível, portanto, discutir em um processo de concessão de


benefício matéria de custeio. Se houve exposiçã o do segurado aos agentes
nocivos, cabe ao INSS propor a açã o de cobrança que entender cabível para sanar a
discussã o sobre o equilíbrio financeiro e atuarial.

Pelo exposto, tratando-se de atividade especial, a precedência da fonte de


custeio e a necessidade de arrecadaçã o e fiscalizaçã o também geram reflexos no
preenchimento dos formulá rios PPP pelo empregador. Isto ocorre porque, é mais
vantajoso para o empregador OMITIR a exposição do empregado a agentes
nocivos, eis que não haverá necessidade de pagar a contribuição específica.

Contudo, não é possível permitir que o segurado pague essa


conta!

Com efeito, é relevante salientar que o preenchimento dos formulários de


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segurança do trabalho se dá UNILATERALMENTE, sem qualquer critério e/ou
contraditório, visando somente amparar interesses da empresa e cumprir
formalidades.

Muitas vezes são produzidos “por encomenda” e com relação


comercial de prestação de serviço da empresa responsável pela elaboração
dos “laudos”, ao passo que naturalmente há disposição destas para
“amenizar” os “impactos” que a correta exposição dos agentes poderia
ocasionar à empresa contratante. Ademais, muitas vezes, o empregador até se
recusa a fornecer o PPP ao segurado. Ressalta-se que há previsã o de multa em
tais casos, consoante dispõ e o §8º, do art. 68 do Decreto 3.048/99. Veja-se (grifos
nossos):

§ 8o A empresa deverá elaborar e manter atualizado o perfil


profissiográ fico do trabalhador, contemplando as atividades
desenvolvidas durante o período laboral, documento que a ele
deverá ser fornecido, por có pia autêntica, no prazo de trinta dias
da rescisã o do seu contrato de trabalho, sob pena de sujeição às
sanções previstas na legislação aplicável.
Neste ponto, importante mencionar que o esmero do segurado em obter o
PPP cessa seu dever de comprovaçã o, cabendo ao INSS FISCALIZAR o
empregador, bem como consagrar o direito do segurado requerente ao
melhor entendimento e enquadramento, conforme obrigam as pró prias
resoluçõ es 77 e 485/2015 do INSS:

Art. 293, IN 77:


§ 4º Em caso de divergência entre o formulário legalmente
previsto para reconhecimento de períodos alegados como
especiais e o CNIS ou entre estes e outros documentos ou
evidências, o INSS deverá analisar a questão no processo
administrativo, com adoção das medidas necessárias.
§ 5º Serã o consideradas evidências, de que trata o § 4º deste
artigo, entre outros, os indicadores epidemioló gicos dos
benefícios previdenciá rios cuja etiologia esteja relacionada com os
agentes nocivos.

A Resoluçã o INSS nº 485/2015 também se mostra um meio eficiente de


PERICIAR/INSPECIONAR o ambiente laboral administrativamente no caso de
divergência entre o formulá rio e o CNIS ou entre outros documentos ou evidências:
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Considerando...
c.) o § 7º do art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999, que dispõ e
sobre a inspeçã o, se necessá rio, no local de trabalho do segurado
visando a confirmar as informaçõ es contidas no Perfil
Profissiográ fico Previdenciá rio - PPP e Laudo Técnico de
Condiçõ es Ambientais do Trabalho - LTCAT, para fins de
Aposentadoria Especial;
(...)
Art. 4º A inspeçã o no ambiente de trabalho terá por finalidade:
V - verificar se as informaçõ es contidas no PPP estã o em
concordâ ncia com o LTCAT utilizado como base para sua
fundamentaçã o, com fins à aposentadoria especial;
VI - confirmar se as informaçõ es contidas LTCAT estã o em
concordâ ncia com o ambiente de trabalho inspecionado, com fins
à aposentadoria especial; e
Art. 5º A Perícia Médica dará ciência ao segurado, por meio da
Carta de Comunicaçã o ao Segurado de Inspeçã o no Ambiente de
Trabalho (Anexo IV), da data e hora de realizaçã o da inspeçã o,
informando-lhe da possibilidade da participaçã o do representante
do sindicato da categoria e/ou do seu médico assistente.
Cumpridas as devidas diligências pelo INSS, desnecessária será a
judicialização da presente demanda. De todo modo, importante ressaltar que a
jurisprudência também consagra a desnecessidade do segurado esgotar toda e
qualquer pendência de responsabilidade de empregador, sendo que cabe ao
pró prio INSS o esforço de complementar a prova da atividade especial do
segurado e, quando for o caso, utilizar seu poder fiscalizador:

AGRAVO DE INTRUMENTO. PREVIDENCIÁRIO.


APOSENTADORIA ESPECIAL. DETERMINAÇÃO AO INSS PARA
JUNTADA DE DOCUMENTOS RELATIVOS A ATIVIDADES
ESPECIAL EM EMPRESAS INATIVAS CONTEMPORÂNEAS AO
TEMPO EM QUE O AUTOR ERA SEGURADO EMPREGADO
MESMO EM SE TRATANDO DE PERÍODO ANTERIOR AOS
PPP's, NR 09 PPRA e LTCAT. 1. Tem sido utilizado em casos de
empresas extintas a perícia por similaridade, sendo apenas
excepcionalmente, quando aquela se tornar inviá vel, invertido o
ô nus da prova. 2. É certo que as empresas têm a obrigação de
entregar ao INSS documentos contendo as condições de
trabalho de seus empregados, ficando elas com uma cópia. 3.
No caso em epígrafe, nã o consta que esteja inviabilizada a
realizaçã o de perícia por similitude com empresas congêneres,
pelo que esta deve ser a primeira opçã o em termos instrutó rios.
4. A despeito, nada impede que o INSS colabora com a
juntada de documentos que estejam em seus arquivos
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referentes às empresas inativas, sem que isso implique
inversão do ônus da prova, e sim uma atitude em prol da
verdade real na busca na realização da justiça. (TRF4, AG
5001964-32.2016.404.0000, SEXTA TURMA, Relator (AUXÍLIO
OSNI) HERMES S DA CONCEIÇÃ O JR, juntado aos autos em
05/05/2016, grifos acrescidos)

Ocorre que, na prá tica, tem ocorrido uma verdadeira


transferência de responsabilidades do INSS para o segurado! Ao
negar a aposentaçã o e obrigar o segurado a procurar a empresa, a fim de buscar a
sua pretensã o no Judiciá rio, a Autarquia Previdenciária permanece inerte,
contrariando as regras que dispõe a respeito da sua obrigação de
FISCALIZAR E COBRAR das empresas a prestação de informações corretas e o
devido recolhimento das contribuições.
Período: 14/10/1996 a 31/01/2000
Empresa: XXXXX
Cargo: Soldador/Mecânico

Para a aná lise da especialidade do labor desenvolvido pelo Sr. XXXXX no


período nã o reconhecido pelo INSS (14/10/1996 a 31/01/2000), vale conferir as
informaçõ es constantes no formulá rio PPP apresentado pela empregadora (fl. 26
do processo administrativo), o qual descreve que o Recorrente exercia as seguintes
atividades:

(TRECHO PERTINENTE)

Desta feita, no que tange à exposiçã o a agentes nocivos, o formulá rio


evidencia que o Sr. XXXXX esteve exposto a RUÍDO, RADIAÇÕES NÃO
IONIZANTES e FUMOS METÁLICOS. Veja-se:

(TRECHO PERTINENTE)

No mesmo sentido sã o as informaçõ es do PPRA da empresa, relativo ao ano 9


de 2016 (em anexo), o qual registra a exposiçã o a RUÍDO, RADIAÇÕES NÃO
IONIZANTES, FUMOS METÁLICOS E HIDROCARBONETOS E OUTROS
COMPOSTOS DO CARBONO (graxas e óleos minerais).

Repise-se que, embora o PPRA anexado ao presente recurso seja posterior


aos períodos em testilha, vislumbra-se que nos lapsos anteriores as condiçõ es a
que estava exposto o Sr. XXXXX no estabelecimento da empregadora, onde exerceu
suas atividades, eram, comumente, mais degradantes e gravosas. Dessa forma,
aceitar que o segurado requerente esteve exposto as agentes nocivos
referidos, é o mínimo a ser realizado, sobretudo considerando que iniciou suas
atividades no ano de 1996, quando o desempenho das funções era muito mais
rudimentar.

Ademais, o PPRA contemporâ neo ao período em que o Sr. XXXXX trabalhou


na empresa foi anexado aos autos (fls. 31-35) e está INCOMPLETO, conforme
informaçõ es da pró pria empresa responsá vel pela Medicina do Trabalho
(PROTEGE). Veja-se:
(TRECHO PERTINENTE)

Com efeito, no que se refere ao agente RUÍDO, verifica-se que o Recorrente


esteve exposto a ruído acima dos limites de tolerâ ncia, podendo acarretar estresse
psíquico, dores de cabeça e PAIR (perda auditiva induzida pelo ruído) ao longo
da vida laboral.

A fim de verificar se a exposiçã o ocupacional a ruído dará ensejo a


caracterizaçã o de atividade exercida em condiçõ es especiais, necessá ria a aná lise
da “evoluçã o” dos limites de tolerâ ncia para ruído no tempo, pois os níveis de
pressão sonora deverão ultrapassar 80 dB (A), 90 dB (A) ou 85 dB (A),
conforme o período laborado. Veja-se o disposto na Instruçã o Normativa nº
77/2015 (grifos acrescidos):

Art. 280. A exposiçã o ocupacional a ruído dará ensejo a


caracterizaçã o de atividade exercida em condiçõ es especiais
quando os níveis de pressã o sonora estiverem acima de oitenta dB
(A), noventa dB (A) ou 85 (oitenta e cinco) dB (A), conforme o
caso, observado o seguinte:
I - até 5 de março de 1997, véspera da publicaçã o do Decreto nº
2.172, de 5 de março de 1997, será efetuado o enquadramento
quando a exposiçã o for superior a oitenta dB (A), devendo ser 10
informados os valores medidos;
II - de 6 de março de 1997, data da publicaçã o do Decreto nº
2.172, de 5 de março de 1997, até 10 de outubro de 2001,
véspera da publicaçã o da Instruçã o Normativa INSS/DC nº 57, de
10 de outubro de 2001, será efetuado o enquadramento quando a
exposiçã o for superior a noventa dB (A), devendo ser
informados os valores medidos;
III - de 11 de outubro de 2001, data da publicaçã o da Instruçã o
Normativa INSS/DC nº 57, de 10 de outubro de 2001, véspera da
publicaçã o do Decreto nº 4.882, de 18 de novembro de 2003, será
efetuado o enquadramento quando a exposiçã o for superior a
noventa dB (A), devendo ser anexado o histograma ou memó ria
de cá lculos; e
IV - a partir de 01 de janeiro de 2004, será efetuado o
enquadramento quando o Nível de Exposiçã o Normalizado - NEN
se situar acima de 85 (oitenta e cinco) dB (A) ou for
ultrapassada a dose unitá ria, conforme NHO 1 da FUNDACENTRO,
sendo facultado à empresa a sua utilizaçã o a partir de 19 de
novembro de 2003, data da publicaçã o do Decreto nº 4.882, de
2003, aplicando:
a) os limites de tolerâ ncia definidos no Quadro do Anexo I da NR-
15 do MTE; e
b) as metodologias e os procedimentos definidos nas NHO-01 da
FUNDACENTRO.
Dessa forma, considerando que o nível de ruído encontrado durante o
desempenho das atividades de soldador pelo Sr. XXXXX alcançava 89 dB (A), é
evidente que a atividade do Recorrente enquadra-se como especial em razã o da
exposiçã o a ruído excessivo durante todo o período pleiteado, conforme previsã o
dos itens 1.1.6 do Decreto 53.831/64, 1.1.5 do Decreto nº 83.080/79 e 2.0.1
do Decreto 3.048/99.

Nesse ponto destaca-se que nenhum documento apresentado pelo


empregador logrou comprovar o fornecimento e a efetiva utilizaçã o de EPI para
amenizar o ruído existente no ambiente de trabalho. Ademais, ainda que o PPP
indique o nú mero do Certificado de Aprovaçã o do EPI considerado EFICAZ, a data
de emissã o do certificado É MUITO POSTERIOR ao período laborado pelo Sr.
XXXXX na empregadora em questã o.

As informaçõ es retiradas do Ministério do Trabalho e Emprego (fl. 27)


evidenciam que o protetor auditivo de segurança SUPOSTAMENTE fornecido
pela empregadora teve certificado de aprovação emitido somente em
29/04/2004, sendo que o Recorrente laborou na empresa somente até
31/01/2000.
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Desde já , é oportuno mencionar que a IN nº 77/2015 exige a comprovaçã o
da eliminação ou neutralização da exposiçã o aos agentes nocivos pelo uso de
EPI, nã o bastando a mera referência de utilizaçã o de equipamentos no formulá rio
PPP para a descaracterizaçã o da atividade especial desenvolvida. Nesse sentido,
vale conferir a disposiçã o contida no § 6º do art. 276 da referida Instruçã o
Normativa:

§ 6º Somente será considerada a adoçã o de Equipamento de


Proteçã o Individual - EPI em demonstraçõ es ambientais emitidas
a partir de 3 de dezembro de 1998, data da publicaçã o da MP nº
1.729, de 2 de dezembro de 1998, convertida na Lei nº 9.732, de
11 de dezembro de 1998, e desde que comprovadamente
elimine ou neutralize a nocividade e seja respeitado o disposto
na NR-06 do MTE, havendo ainda necessidade de que seja
assegurada e devidamente registrada pela empresa, no PPP, a
observâ ncia:
I - da hierarquia estabelecida no item 9.3.5.4 da NR-09 do MTE,
ou seja, medidas de proteçã o coletiva, medidas de cará ter
administrativo ou de organizaçã o do trabalho e utilizaçã o de EPI,
nesta ordem, admitindo-se a utilizaçã o de EPI somente em
situaçõ es de inviabilidade técnica, insuficiência ou interinidade à
implementaçã o do EPC ou, ainda, em cará ter complementar ou
emergencial;
II - das condiçõ es de funcionamento e do uso ininterrupto do EPI
ao longo do tempo, conforme especificaçã o técnica do fabricante,
ajustada à s condiçõ es de campo;
III - do prazo de validade, conforme Certificado de Aprovaçã o do
MTE;
IV - da periodicidade de troca definida pelos programas
ambientais, comprovada mediante recibo assinado pelo usuá rio
em época pró pria; e
V - da higienizaçã o.
§ 7º Entende-se como prova incontestá vel de eliminaçã o dos
riscos pelo uso de EPI, citado no Parecer CONJUR/MPS/Nº
616/2010, de 23 de dezembro de 2010, o cumprimento do
disposto no § 6º deste artigo.

No caso em comento, não há qualquer elemento que indique que os


EPI foram fornecidos e eficazes em eliminar ou neutralizar os efeitos nocivos
do RUÍDO a que esteve exposto o Recorrente!

Ademais, destaca-se que o Supremo Tribunal Federal, ao julgar o


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ARE 664.335, com repercussã o geral reconhecida (Tema 555), reconheceu a
ineficácia da utilizaçã o de equipamentos de proteçã o individual para fins de
eliminação do agente nocivo ruído (ARE 664335, Relator(a): Min. LUIZ FUX,
Tribunal Pleno, julgado em 04/12/2014, ACÓ RDÃ O ELETRÔ NICO REPERCUSSÃ O GERAL -
MÉ RITO DJe-029 DIVULG 11-02-2015 PUBLIC 12-02-2015).

Outrossim, registre-se que esse julgado passou a ser PRECEDENTE


VINCULANTE com o advento com Có digo de Processo Civil de 2015, conforme
dicçã o do artigo 927. Destarte, inaplicá vel o disposto no artigo 57, § 8º, da Lei
8.213/91.

A respeito do tema Fredie Didier Jr. assim leciona:

Ao falar em efeito vinculante do precedente, deve-se ter em mente


que, em certas situaçõ es, a norma jurídica geral (tese jurídica,
ratio decidendi) estabelecida na fundamentaçã o de determinadas
decisões judiciais tem o condão de vincular decisões
posteriores [...]
No Brasil, há precedentes com força vinculante – é dizer, em que a
ratio decidendi contida a fundamentaçã o de um julgada tem força
vinculante. Estã o eles enumerados no art. 927, CPC.
Para adequada compreensã o desse dispositivo, é necessá rio
observar que o efeito vinculante do precedente abrange os
demais efeitos, sendo o mais intenso de todos eles. Por isso, o
precedente que tem efeito vinculante por determinaçã o legal deve
ter reconhecida sua aptidã o para produzir efeitos persuasivos,
obstativos, autorizantes etc.1

Ademais, nos termos do art. 15 do códex referido, as disposiçõ es do CPC


serã o aplicadas supletiva e subsidiariamente nos processos administrativos. Aliado
a isso, a IN 77/2015 traz a seguinte previsã o normativa:

Art. 659. Nos processos administrativos previdenciários serã o


observados, entre outros, os seguintes preceitos:
[...]
II - atuação conforme a lei e o Direito; (grifos acrescidos)

Desta forma, verifica-se que os precedentes judiciais deverão ser


fielmente observados pelos tribunais administrativos, sobretudo porque a
interpretaçã o sistemá tica do ordenamento jurídico pá trio nã o deixa qualquer
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dú vida a respeito da ilegalidade/inconstitucionalidade da inserçã o de norma que
tenha por objetivo deixar de observar os precedentes supramencionados.

Trata-se de regra que deve ser interpretada extensivamente para concluir-


se que é omissa a decisã o que se furte em considerar qualquer um dos precedentes
obrigató rios nos termos do art. 927 do CPC.2

No mais, exatamente por ser obrigató ria a observâ ncia dos precedentes
vinculantes, os conselheiros(as), independentemente de provocaçã o, deverã o
conhecê-los de ofício, sob pena de omissã o e denegaçã o de justiça.

Outrossim, no que se refere ao posicionamento do Supremo Tribunal


Federal acerca do tema, é importante mencionar que o mesmo entendimento já era
consolidado na Turma Nacional de Uniformizaçã o dos Juizados Especiais Federais,
conforme consubstanciado no enunciado nº 09, ainda em plena vigência:

1
Didier Jr., Fredie. Curso de direito processual civil: teoria da prova, direito probató rio, açõ es
probató rias, decisã o, precedente, coisa julgada e antecipaçã o dos efeitos da tutela. Salvador: Jus
Podivm, 2015. v. 2. p. 455.
2
Ibid. p. 456.
SÚ MULA Nº 09: O uso de Equipamento de Proteçã o Individual
(EPI), ainda que ELIMINE a insalubridade, no caso de exposiçã o
a ruído, nã o descaracteriza o tempo de serviço especial prestado.
(Sem grifos na redaçã o original).

Este entendimento está fundamentado no fato de que os pró prios


trabalhadores nã o costumam utilizar os EPI, mesmo quando postos a sua
disposiçã o. Isso ocorre por diversos motivos, tais como a falta de informaçã o
acerca do correto funcionamento, ausência de fiscalizaçã o, ou simplesmente em
virtude de desconforto. Além disso, os níveis de redução decorrentes da
utilização de EPI apenas consideram o ruído proveniente do ar,
desconsiderando a vibração acústica do ambiente, fator que também pode
ocasionar graves danos aos trabalhadores.

Desse modo, evidente que EPI eficaz, no que se refere à exposição ao


ruído acima dos limites de tolerância É UMA FALÁCIA, sendo inequívoco o
enquadramento da atividade especial, independentemente do fornecimento
ou não de EPI.

Quanto à exposiçã o do Recorrente a ÓLEOS MINERAIS E GRAXAS 14


(hidrocarbonetos e outros compostos de carbono), percebe-se que todas as
atividades laborativas por ele desenvolvidas exigiam o contato constante
com os referidos agentes agressivos, por serem produtos indispensáveis ao
desenvolvimento das atividades de LUBRIFICAÇÃO E MANUTENÇÃO DOS
VEÍCULOS. Contudo, a exposiçã o permanente pode ocasionar intoxicações,
dermatites e dermatoses, segundo informaçõ es constantes no pró prio PPRA da
empresa (em anexo).

Neste diapasã o, vislumbra-se que a exposição a hidrocarbonetos


aromáticos – óleos minerais, mesmo após 05/03/1997, data da vigência do
Decreto nº 2.2172/97, pode dar ensejo ao reconhecimento da atividade como
especial, em face do enquadramento no item 1.0.7.

Ocorre que, ainda que o título do referido item faça mençã o ao carvã o
mineral, vê-se que vá rias das substâ ncias ali indicadas nã o sã o derivadas do carvã o
mineral, do que se depreende que o óleo mineral referido na alínea “b” do item,
é aquele extraído do petróleo, e ao qual, comumente, estão expostos os
trabalhadores dos setores de manutenção mecânica.
No mesmo sentido entendeu a Turma Nacional de Uniformizaçã o, ao
uniformizar a jurisprudência acerca do tema. Perceba-se (grifos nossos):

INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃ O DE JURISPRUDÊ NCIA. TEMPO


ESPECIAL. EXPOSIÇÃO A HIDROCARBORNETOS APÓS A
EDICÃO DO DECRETO N. 2.172/97. ÓLEOS MINERAIS
DERIVADOS DO PETRÓLEO. NOCIVIDADE. POSSIBILIDADE. 1.
O enquadramento atividade como especial, com base no
subitem 1.0.7 dos Anexos IV dos Decretos n. 2.172/97 e n.
3.048/99 - ainda que faça menção ao carvão mineral e seus
derivados -, é possível se houver exposição a óleos minerais
derivados do petróleo, quando comprovada a nocividade do
agente. 2. Incidente conhecido e desprovido. (PEDILEF
00067742320104047251, JUIZ FEDERAL FERNANDO ZANDONÁ ,
TNU, DOU 16/12/2011).

Nesse contexto, é indispensá vel registrar a ediçã o do Decreto 8.123, de


16/10/2013, o qual alterou diversos dispositivos do Decreto 3.048/99, com a
seguinte inovaçã o que merece destaque:

Art. 68. A relaçã o dos agentes nocivos químicos, físicos, bioló gicos
ou associaçã o de agentes prejudiciais à saú de ou à integridade
física, considerados para fins de concessã o de aposentadoria
especial, consta do Anexo IV.
15
(...)
§ 4º A presença no ambiente de trabalho, com possibilidade de
exposiçã o a ser apurada na forma dos §§ 2o e 3o, de agentes
nocivos reconhecidamente cancerígenos em humanos,
listados pelo Ministério do Trabalho e Emprego, será
suficiente para a comprovação de efetiva exposição do
trabalhador. (Redaçã o dada pelo Decreto nº 8.123, de 2013)

Ocorre que a referida lista de agentes cancerígenos foi recentemente


editada pelo Ministério do Trabalho (Portaria Interministerial MTE/MS/MPS n. 9,
de 07 de outubro de 2014 - DOU 08/10/2014), na qual consta que os óleos
minerais são reconhecidamente CANCERÍGENOS!

Em vista disso, perceba-se que, apesar de somente em 2014 ter ocorrido o


reconhecimento de que os compostos supracitados sã o cancerígenos, denota-se
que estes elementos sempre foram nocivos à saú de do trabalhador. No caso,
evidente que o Recorrente manteve contato com ó leos minerais em razã o de seu
ofício.
Conforme entendimento do Superior Tribunal de Justiça, saliente-se que a
exigência de que a exposiçã o seja habitual e permanente somente foi trazida pela
Lei 9.032/95, nã o sendo aplicá vel à s hipó teses anteriores à sua publicaçã o.

Ademais, de acordo com parecer técnico da FUNDACENTRO, os


equipamentos de proteçã o coletiva e individual nã o sã o suficientes para elidir a
exposiçã o a esses agentes, conforme consta inclusive na mais recente instruçã o
normativa do INSS, sendo exigida apenas a análise qualitativa (INSTRUÇÃ O
NORMATIVA INSS/PRES Nº 77, DE 21 DE JANEIRO DE 2015):

Art. 284. Para caracterizaçã o de período especial por exposiçã o


ocupacional a agentes químicos e a poeiras minerais constantes
do Anexo IV do RPS, a aná lise deverá ser realizada:
Pará grafo ú nico. Para caracterizaçã o de períodos com exposiçã o
aos agentes nocivos reconhecidamente cancerígenos em
humanos, listados na Portaria Interministerial n° 9 de 07 de
outubro de 2014, Grupo 1 que possuem CAS e que estejam
listados no Anexo IV do Decreto nº 3.048, de 1999, será adotado
o critério qualitativo, não sendo considerados na avaliação os
equipamentos de proteção coletiva e ou individual, uma vez
que os mesmos não são suficientes para elidir a exposição a
esses agentes, conforme parecer técnico da FUNDACENTRO,
de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4° do art. 68 do
Decreto nº 3.048, de 1999.
16
Em resumo, no caso em tela, ao se analisar a exposição do Recorrente
a óleos minerais, descabe a análise da utilização de equipamentos de
proteção individual, e o critério utilizado para caracterização da exposição
habitual e permanente ao agente nocivo cancerígeno merece considerável
temperamento.

Salienta-se que a jurisprudência do TRF da 4ª Regiã o já possui decisõ es


nesse sentido, veja-se (grifamos):

PREVIDENCIÁ RIO. LABOR RURAL. ATIVIDADE ESPECIAL


RECONHECIDA. APOSENTADORIA POR TEMPO DE
CONTRIBUIÇÃ O. REQUISITOS PREENCHIDOS. 1. No caso
concreto, comprovado em parte o labor rural em regime de
economia familiar, mediante a produçã o de início de prova
material, corroborada por prova testemunhal idô nea, a parte
autora faz jus à averbaçã o do respectivo tempo de serviço. 2.
Exercida atividade enquadrá vel como especial, sob a égide da
legislaçã o que a ampara, o segurado adquire o direito ao
reconhecimento como tal e ao acréscimo decorrente da
sua conversã o em tempo de serviço comum no â mbito do Regime
Geral de Previdência Social. 3. Até 28/04/1995, é admissível o
reconhecimento da especialidade por categoria profissional ou
por sujeiçã o a agentes nocivos, aceitando-se qualquer meio de
prova (exceto para ruído); a partir de 29/04/1995, nã o mais é
possível o enquadramento por categoria profissional, devendo
existir comprovaçã o da sujeiçã o a agentes nocivos por qualquer
meio de prova até 05/03/1997 e, a partir de entã o, por meio de
formulá rio embasado em laudo técnico, ou por meio de perícia
técnica. 4. Considera-se especial a atividade onde o segurado
esteja exposto a ruído superior a 80 dB, até a ediçã o do Decreto nº
2.172/97 (05/03/1997), e, a partir de entã o, eleva-se o limite de
exposiçã o para 90 dB, mediante a apresentaçã o de laudo.
Interpretaçã o de normas internas da pró pria Autarquia. A partir
do Decreto nº 2.172/97, exige-se que a exposiçã o permanente ao
agente ruído seja acima de 90 dB, para que o tempo possa ser
computado como especial. 5. Em se tratando de ruído nem mesmo
a comprovaçã o de que a utilizaçã o de protetores reduzia a
intensidade do som a níveis inferiores aos má ximos deve afastar o
reconhecimento da especialidade da atividade, pois já
comprovado que a exposiçã o por períodos prolongados produz
danos em decorrência das vibraçõ es transmitidas, que nã o sã o
eliminadas pelo uso do equipamento de proteçã o. Precedente do
STF. 6. Conforme se pode extrair da leitura conjugada dos
arts. 68, § 4º do Decreto 3048/99 e 284, § único da IN
77/2015 do INSS, os riscos ocupacionais gerados pelos
agentes cancerígenos constantes no Grupo I da LINHAC,
estabelecida pela Portaria Interministerial n° 9 de 07 de
outubro de 2014, não requerem a análise quantitativa de sua
concentração ou intensidade máxima e mínima no ambiente
17
de trabalho, dado que são caracterizados pela avaliação
qualitativa, tampouco importando a adoção de EPI ou EPC,
'uma vez que os mesmos não são suficientes para elidir a
exposição a esses agentes, conforme parecer técnico da
FUNDACENTRO, de 13 de julho de 2010 e alteração do § 4° do
art. 68 do Decreto nº 3.048, de 1999 7. Independentemente da
época da prestaçã o laboral, a agressã o ao organismo provocada
pelo agente nocivo asbesto/amianto é a mesma, de modo que o
tempo de serviço do autor deve ser convertido pelo fator 1,75. 8.
Recente julgado do Superior Tribunal de Justiça, no RESP nº
1.310.034-PR, representativo de controvérsia, consagrou que apó s
a Lei nº 9.032/95 somente se admite aposentadoria especial para
quem exerceu todo o tempo de serviço em condiçõ es especiais.
Inviá vel, assim, diante dessa nova orientaçã o jurisprudencial, a
conversã o do tempo de serviço comum em especial. 9. Somando-
se os tempos de serviço rural e especial reconhecidos em juízo
com o tempo reconhecido na esfera administrativa, verifica-se que
a parte autora conta com tempo suficiente para a obtençã o da
aposentadoria por tempo de contribuiçã o mediante o acréscimo
do tempo de serviço convertido pelos fatores de multiplicaçã o
1,40 e 1,75. (TRF4 5007454-93.2012.404.7107, QUINTA TURMA,
Relator PAULO AFONSO BRUM VAZ, juntado aos autos em
21/06/2016, grifos acrescidos).
De qualquer forma, evidenciando a nocividade das atividades de mecâ nico e
a INEFICÁCIA da utilização de EPI para neutralização dos seus efeitos,
destaca-se o seguinte precedente do Tribunal Regional Federal da 4ª Regiã o (grifos
acrescidos):

PREVIDENCIÁ RIO. ATIVIDADES SUBMETIDAS À S CONDIÇÕ ES


NOCIVAS À SAÚ DE DO SEGURADO. PROFISSIONAL MECÂ NICO.
APOSENTADORIA ESPECIAL. CONCESSÃ O. USO DE EPI'S. RUÍDO E
PRODUTOS QUÍMICOS. (Ó LEOS E GRAXAS). AUSENTE A PROVA
EFETIVA DA ELIMINAÇÃ O DOS RISCOS À SAÚ DE HUMANA. 1.
Comprovada exposiçã o do segurado, aos agentes nocivos, na
forma exigida pela legislaçã o previdenciá ria aplicá vel à espécie,
bem como, o exercício de atividades profissionais consideradas,
como especiais (em casos tais, somente, até 28/04/1995),
possível reconhecer-se a especialidade das atividades laborais,
por ele, exercidas. 2. Tem direito, à aposentadoria por tempo de
serviço especial, o segurado que possuir 25 (vinte e cinco) anos de
tempo de serviço, submetido à s condiçõ es nocivas à saú de
humana, e que implementar os demais requisitos para a
concessã o do pretendido benefício. 3. O uso de EPI's
(equipamentos de proteçã o), por si só , nã o basta para afastar o
cará ter especial das atividades desenvolvidas pelo segurado. Seria
necessá ria uma efetiva demonstraçã o da elisã o das conseqü ências
nocivas, além de prova da fiscalizaçã o do empregador sobre o uso
permanente dos dispositivos protetores da saú de do obreiro,
durante toda a jornada de trabalho. 4. O profissional mecânico,
18
ainda que conte com a proteção de luvas e cremes, não raro
precisa contar com a própria sensibilidade para a exata
execução do serviço, o que, inevitavelmente, o expõe ao
contato direito com óleos e graxas, produtos realmente
prejudiciais à sua saúde. (TRF4, APELREEX 5002474-
19.2011.404.7114, Quinta Turma, Relatora p/ Acó rdã o Maria
Isabel Pezzi Klein, D.E. 25/04/2013, grifos acrescidos).

Em resumo, todas as provas convergem no sentido de que os equipamentos


de proteçã o indicados no PPP para neutralizaçã o do agente “ó leos minerais” (calça,
jaleco, camiseta) não foram suficientes para eliminar a insalubridade à qual o
Recorrente esteve submetido, seja em razão da exposição a agente
reconhecidamente cancerígeno, seja em face da notória ineficiência da
fiscalização do empregador.

Além disso, os demais códigos de aprovação constantes no PPP


emitido pela empregadora também são extemporâneos ao período em
comento (fl. 28-30), sendo notória e especialidade do período sob análise.
Nã o bastasse, a exposiçã o aos agentes nocivos advindos da utilizaçã o da
solda com RADIAÇÕES NÃO IONIZANTES, que é composta por hidrocarbonetos
aromá ticos e FUMOS METÁLICOS, enseja o reconhecimento da especialidade das
atividades desenvolvidas (TRF4 5031434-90.2012.404.7100, QUINTA TURMA,
Relator - AUXÍLIO ROGER - TAÍS SCHILLING FERRAZ, juntado aos autos em
24/06/2016 e TRF4, APELREEX 5007798-08.2011.404.7108, Sexta Turma, Relator p/
Acórdão Ezio Teixeira, D.E. 19/12/2013). Isto porque, conforme descreve o PPRA
da empregadora, a exposiçã o a radiaçõ es nã o ionizantes pode acarretar
queimadura da retina, câncer de pele e esterilidade. Aliá s, a exposiçã o a fumos
metá licos pode causar pneumoconiose, bronquite crônica, intoxicações e
gastrite.

No caso, o anexo 07 da NR-15 considera como insalubre em grau médio a


exposiçã o à radiaçã o nã o ionizante sem proteçã o adequada!

Além disso, embora o laudo em aná lise tenha sido confeccionado em 2012,
denota-se que nã o há nenhum ó bice para tanto. Nesse sentido é a sú mula nº 68 do
Conselho da Justiça Federal: 19
Súmula nº 68: O laudo pericial nã o contemporâ neo ao período
trabalhado é apto à comprovaçã o da atividade especial do
segurado.

Em vista disso, imperativo o reconhecimento da especialidade do


labor desempenhado pelo Sr. XXXXX nos períodos em apreço, sobretudo
porque COMPROVADA a nocividade, habitualidade e permanência do
Requerente em local de trabalho onde presente agentes físicos e químicos!!!

Por fim, importante destacar que a alegaçã o da Autarquia Previdenciá ria no


sentido de que não é possível analisar o PPP apresentado pela empregadora,
eis que a atuação do responsável técnico pelos registros ambientais teve
início somente em 22/05/2006, posteriormente ao período laborado pelo Sr.
XXXXX, NÃO MERECE PROSPERAR.

Isto porque, a questã o pode ser tranquilamente resolvida na via


administrativa, conforme estabelece a Instruçã o Normativa 77/2015 em seu art.
261, § 3º. Veja-se (grifos nossos):
O LTCAT e os laudos mencionados nos incisos de I a IV do caput
deste artigo emitidos em data anterior ou posterior ao período
de exercício da atividade do segurado poderão ser aceitos
desde que a empresa informe expressamente que não houve
alteração no ambiente de trabalho ou em sua organização ao
longo do tempo, observado o § 4º deste artigo.

Convém ressaltar que o PPP, ainda que extemporâneo, é a única prova


possível de ser apresentada pelo Recorrente, que depende do fornecimento dos
formulá rios e laudos pela empresa!!!

Sobre o tema, conforme já referido no presente tó pico, importante elucidar


que o avanço da tecnologia propiciou ambientes menos agressivos em relaçã o ao
passado, cujas má quinas obsoletas e pesadas faziam muito mais barulho e poluíam
na mesma proporçã o. Desse modo, é razoável supor que em tempos pretéritos
a situação do ambiente de trabalho do Recorrente era pior ou quando menos
igual à constatada na data da elaboração do PPRA emitido em 2016 ou no
preenchimento do PPP que nele se baseia.

Em vista do exposto, considerando que a empresa encontra-se ativa,


REQUER que o INSS oficie a empresa empregadora para fornecer declaração
20
em apartado ou complementando o laudo, esclarecendo se houve, ou não,
mudanças significativas no ambiente laboral que implicasse em alteração
dos resultados obtidos por ocasião da elaboração do laudo.

Feitas essas observaçõ es, por todo o exposto, as atividades desenvolvidas


no período de 14/10/1996 a 31/01/2000, deverã o ser enquadradas como
especiais em face da inequívoca exposiçã o do Recorrente a agentes nocivos a sua
saú de.

Período: 11/10/2001 a 08/03/2016


Empresa: XXXXX
Cargo: Soldador/Mecânico
No que se refere ao período em comento, verifica-se que o Recorrente
exerceu a atividade de SOLDADOR e, posteriormente, de MECÂNICO, ambas
desenvolvidas no mesmo ambiente, consoante corroboram as informaçõ es
constantes no PPP apresentado pela empregadora (fl. 45).

Desta feita, é necessá rio registrar que o PPP fornecido pelo empregador,
descreve as atividades desenvolvidas pelo Recorrente, quais sejam:

(TRECHO PERTINENTE)

O formulá rio reconhece, ainda, a exposiçã o a ruído de 95,45 dB (A),


radiações não ionizantes, fumos metálicos e hidrocarbonetos, com indicaçã o
de fornecimento de EPI eficaz. Perceba-se:

(TRECHO PERTINENTE)

Ressalta-se que os PPRA da empresa, datados de agosto de 2002 (fls. 36-


44) e de junho de 2014 (fls. 46 – 57), corroboram com as informaçõ es constantes
no PPP, demonstrando, de forma inequívoca, a necessidade de enquadramento das
atividades desempenhadas pelo Recorrente como especiais, haja vista a associaçã o
de agentes agressivos a que esteve exposto.
21
Com efeito, no que se refere ao agente RUÍDO, verifica-se que o Recorrente
esteve exposto a ruído de 95,45 dB (A), muito acima dos limites de tolerâ ncia,
podendo acarretar cefaléia, stress psíquico e, ao longa da vida laboral, PAIRO
(Perda Auditiva Induzida pelo Ruído Ocupacional). Perceba-se o que dispõ e o
PPRA do empregador, contemporâ neo ao período em que o Sr. XXXXX laborou na
empresa (2002), a respeito da avaliaçã o quantitativa do agente ruído (grifo nosso):

(TRECHO PERTINENTE)

Ademais, conforme amplamente explanado no tó pico anterior, no que se


refere à exposição ao ruído acima dos limites de tolerância a eficácia dos EPI
É UMA FALÁCIA, sendo inequívoco o enquadramento da atividade especial,
independentemente do fornecimento ou não de EPI (código 2.0.1 do Decreto
2.2172/97), razã o pela a atividade desenvolvida no período deve ser enquadrada
como especial.
Ademais, o Recorrente também esteve exposto a hidrocarbonetos, óleos
minerais e graxas, agentes químicos reconhecidamente CANCERÍGENOS,
havendo a informaçã o de fornecimento de EPI eficaz para agentes físicos e
químicos, a qual nã o merece prosperar em face da impossibilidade de
neutralizaçã o dos efeitos agressivos dos referidos agentes nocivos, conforme
exaustivamente exposto no tó pico anterior. Ademais, a exposiçã o prolongada à s
radiaçõ es ocasionadas pela atividade de solda (radiações não ionizantes) pode
ocasionar sérios danos à saú de, inclusive câncer de pele, esterilidade e
queimaduras na retina.

Considerando o acima exposto, COMPROVADA a nocividade e


permanência do Recorrente em ambiente de trabalho com a presença
constante de agentes físicos e químicos, deverá ser reconhecida a
especialidade do período de 11/10/2001 a 08/03/2016 para fins de
concessão de aposentadoria especial ao Sr. XXXXX.

DAS DILIGÊNCIAS PARA A COMPROVAÇÃO DOS AGENTES NOCIVOS 22

Caso os senhores(as) Conselheiros(as) entendam pela necessidade de


complementaçã o das informaçõ es para o convencimento quando a especialidade
do labor desempenhado nos períodos em questã o, o que se admite apenas
excepcionalmente, desde já , REQUER a conversão do processo em diligências,
sendo encaminhados ofícios as empregadoras do Sr. XXXXX para que esclareçam as
informaçõ es prestadas nos formulá rios apresentados e/ou seja realizada a
inspeçã o no ambiente de trabalho, conforme determina o § 7ª do art. 68 do
Decreto 3.048/99 e o art. 298 da Instruçã o Normativa INSS/PRES nº 77.

DA REAFIRMAÇÃO DA DER PARA DATA POSTERIOR AO REQUERIMENTO


ADMISNITRATIVO EM CASO DE NECESSIDADE
Na remota eventualidade de nã o serem reconhecidos todos os períodos
postulados, desde já requer seja reafirmada a DER para o momento em que o
Recorrente adquiriu direito a aposentadoria especial, concedendo-se o benefício a
partir da data da aquisiçã o do direito, nos termos do art. 690 da IN 77/2015:

Art. 690. Se durante a aná lise do requerimento for verificado que


na DER o segurado nã o satisfazia os requisitos para o
reconhecimento do direito, mas que os implementou em
momento posterior, deverá o servidor informar ao
interessado sobre a possibilidade de reafirmação da DER,
exigindo-se para sua efetivaçã o a expressa concordâ ncia por
escrito.
Pará grafo ú nico. O disposto no caput aplica-se a todas as situaçõ es
que resultem em benefício mais vantajoso ao interessado.

Por fim, cumpridos todos os requisitos exigidos em lei, tempo de


contribuiçã o e carência, o Requerente adquiriu o direito à aposentadoria especial,
tornando-se imperiosa a sua concessã o, devendo o INSS CONCEDER O MELHOR
BENEFÍCIO A QUE FIZER JUS, com fulcro na IN 77/2015:

Art. 687. O INSS deve conceder o melhor benefício a que


o segurado fizer jus, cabendo ao servidor orientar nesse
23
sentido.

DO DIREITO À APOSENTADORIA ESPECIAL

A tabela abaixo demonstra, de forma objetiva, os períodos já computados


pelo INSS para fins de concessã o de aposentadoria especial ao Sr. XXXXX. Veja-se
(fl. 64):

Agente Tempo de
Período Empregador Enquadramento
Nocivo contribuição

Radiação Decreto 53.831/64, 05 anos, 07


04/03/1991 a Anexo III, item meses e 10
XXXXX não
13/10/1996
ionizante 1.1.4. dias
Decreto 3.048/99, 01 ano, 08
01/02/2000 a Anexo IV, item meses e 10
XXXXX Ruído
10/10/2001
2.0.1. dias
Por fim, a tabela a seguir demonstra, computados os períodos acima, já
averbados pelo INSS, que o Recorrente implementou os requisitos indispensá veis
a concessã o de aposentadoria especial por ocasiã o do requerimento
administrativo (DER em XX/XX/XXXX):

Admissão Rescisão Empregador Cargo Tempo de contribuição

08 anos, 10 meses e 28
dias. Atividade
considerada nociva com
base no Decreto
53.831/64, itens 1.1.6,
04/03/1991 31/01/2000 XXXXX Soldador 1.2.11 e 2.5.3; Decreto
83.080/79, itens 1.1.5,
1.2.10, 1.2.11 e 2.5.3;
Decretos 2.172/97 e
3.048/99, itens 1.0.3, 24
1.0.7, 1.0.19 e 2.0.1
16 anos, 01 mês e 08 dias.
Atividade considerada
nociva com base no
01/02/2000 08/03/2016 XXXXX Soldador
Decreto 3.048/99 1.0.3,
1.0.6, 1.0.7, 1.0.8, 1.0.10,
1.0.19 e 2.0.1.
TEMPO DE SERVIÇO ESPECIAL 25 anos e 06 dias

36 anos, 08 meses e 27
TEMPO DE SERVIÇO TOTAL (FATOR 1,4)
dias

CARÊNCIA 301 contribuições

ISSO POSTO, requer:

a) O recebimento do presente recurso;


b) Sejam juntados ao processo administrativo os documentos anexados
ao presente, para fins de aná lise da atividade especial;

c) Seja encaminhado o presente Recurso Especial à Câmara de


Julgamento do Conselho de Recursos do Seguro Social, bem como
toda a documentaçã o juntada ao processo;

d) O reconhecimento do tempo de serviço especial desenvolvido pelo


Recorrente nos seguintes períodos contributivos: de 14/10/1996 a
31/01/2000 e de 11/10/2001 a 08/03/2016 (DER);

e) O provimento do recurso para concessã o do benefício de


APOSENTADORIA ESPECIAL, a partir da data do requerimento
administrativo (XX/XX/XXXX);

f) Subsidiariamente, caso nã o seja apurado tempo especial suficiente


ao reconhecimento do direito do Recorrente até a DER, requer o
cô mputo dos períodos posteriores, e a concessã o de aposentadoria
especial, com a DER para a data em que o segurado preencheu os
25
requisitos do benefício, com fulcro no art. 690 da INSTRUÇÃ O
NORMATIVA INSS/PRES Nº 77/2015;

g) Em caso de necessidade de dilação probatória, requer a conversão


do processo administrativo em diligências, com a consequente:
e.1) emissã o de ofício à empregadora XXXXX solicitando declaraçã o
que esclareça se houve ou nã o alteraçõ es significativas no ambiente
laboral, que significassem mudanças nos resultados estampados no
PPP emitido;
e.2) emissã o de cartas de exigências à s empregadoras do Recorrente,
para que apresentem formulá rios PPP completos, bem como os
respectivos laudos em que foram baseados, nos termos do art. 296,
inciso II, da IN nº 77/2015;
e.3) realizaçã o de inspeções nas empresas em que o Recorrente
exerceu atividade laborativas em condiçõ es especiais, para a
confirmaçã o das informaçõ es constantes nos formulá rio PPP emitidos,
com fulcro na resoluçã o INSS/PRES 485.

Termos em que,

Pede deferimento.

Local e data.

Advogado XXXXX

OAB nº XXXX

26

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