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Nesta webaula, estudaremos os elementos do contrato, seus efeitos, os contratos aleatórios e a interpretação
contratual.
Distinções
Não podemos confundir o contrato aleatório com outros institutos e mesmo com outras formas contratuais. Os
contratos aleatórios, por exemplo, não se confundem com os contratos condicionais, porque a e cácia destes
depende de um evento futuro e incerto, enquanto nos aleatórios já há perfeição, embora com o risco envolvido na
prestação das partes.
Ademais, vale comentar sobre a lesão. A rescisão por lesão não ocorre nos contratos aleatórios, porém
apenas nos contratos comutativos. Isso porque o art. 157 do Código Civil prevê a possibilidade de
oferecimento de um suplemento, quando, por exemplo, há uma desproporção, que caracteriza a lesão. Mas
isso somente é possível em contratos comutativos, em que se afere a desproporção. Nos contratos
aleatórios, o risco, a desproporção é da própria essência do negócio, sendo impossível falar-se em lesão, num
primeiro lance de análise. Excepcionalmente, no entanto, somente se a desproporção fugir ao risco normal
do contrato é que se poderá falar em tal instituto.
Espécies
Há os contratos que são aleatórios pela própria natureza. No entanto, há contratos comutativos que podem
tornar-se aleatórios, como, por exemplo, uma compra e venda, a qual, em virtude de algumas circunstâncias, pode
vir a tornar-se aleatória. Nesses casos, temos os chamados contratos acidentalmente aleatórios, que comportam
duas espécies: venda de coisas futuras; e venda de coisas existentes, mas expostas a risco. Vamos analisar cada
uma dessas hipóteses a partir de agora.
Venda de coisas futuras
O art. 458 do CC/02 trata da venda de coisas futuras onde o risco diz respeito à própria existência da coisa. Assim,
se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua
parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. É que se chama de “emptio
spei” ou venda da esperança (GONÇALVES, 2019), que diz respeito acerca da probabilidade de as coisas ou fatos
existirem.
Por exemplo, quando é vendida uma colheita futura ou quando uma pessoa que “propõe pagar determinada
importância ao pescador pelo que ele apanhar na rede que está na iminência de lançar ao mar. Mesmo que,
ao puxá-la, veri que não ter apanhado nenhum peixe, terá o pescador direito ao preço integral se agiu com a
habitual diligência” (GONÇALVES, 2019, p. 886).
Na venda de coisa futura, também pode estar em questão o risco relativo à quantidade maior ou menor da coisa
esperada. É a venda da coisa esperada (emptio rei speratae). O art. 459 do CC/02 disciplina a matéria, de modo
que se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em
qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido
culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada.
Assim, no exemplo dado anteriormente, se o resultado de uma safra for inexistente, o contrato será nulo,
pois alguma coisa tem que existir, de modo que o risco está envolvido na quantidade e não na existência.
Qualquer quantidade incorrerá na obrigação de cumprimento do contrato.
Como exemplo, “a mercadoria que está sendo transportada em alto-mar por pequeno navio, cujo risco de
naufrágio o adquirente assumiu. É válida, mesmo que a embarcação já tenha sucumbido na data do contrato.
Se, contudo, o alienante sabia do naufrágio, a alienação poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado,
como prescreve o art. 461 do Código Civil, cabendo ao adquirente a prova dessa ciência” (GONÇALVES, 2019,
pp. 886-887).
Disciplina legal
A indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver
sido estipulado. A aceitação da pessoa nomeada não será e caz se não se revestir da mesma forma que as partes
usaram para o contrato. Ademais, a pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os
direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado.
De acordo com o art. 470 do CC/02, o contrato será e caz somente entre os contratantes originários:
II. Se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. Neste
sentido, se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá
seus efeitos entre os contratantes originários.
Estrutura contratual
Pode-se dizer que participam deste contrato: o promitente, que assume o compromisso de reconhecer o amicus
ou eligendo; o estipulante, que pactua em seu favor a cláusula de substituição; e o electus, que, se nomeado
validamente, aceita a indicação, que é comunicada ao promitente (GONÇALVES, 2019). De todo modo, a validade
do negócio requer capacidade e legitimidade de todos os personagens quando da estipulação da avença.
Natureza jurídica
Embora haja grande controvérsia sobre a natureza jurídica do contrato com pessoa a declarar, a teoria mais
razoável “e apta a explicar a natureza jurídica do indigitado trato, [...], é a teoria da condição, que vislumbra no
contrato entre o promitente e o estipulante uma subordinação condicional, de caráter resolutivo, da aquisição do
último mediante a electio, evento cuja veri cação importa, ao mesmo tempo, na aquisição do electus, que se
encontrava suspenso, na dependência do seu implemento” (GONÇALVES, 2019, p. 896). Os efeitos deste contrato,
assim, irão num ou noutro sentido, de acordo com o implemento ou não da condição, que consiste na electio
validamente realizada. O contrato com pessoa a declarar é negócio jurídico bilateral, que se aperfeiçoa com o
consentimento dos contraentes, desde logo conhecidos. Um deles, contudo, reserva-se o direito (faculdade) de
indicar a pessoa que assumirá as obrigações e adquirirá os respectivos direitos em momento futuro. Por m, a
pessoa nomeada ocupa o lugar de sujeito da relação jurídica antes formada pelos agentes primitivos (GONÇALVES,
2019).
Seguidamente, a gestão de negócios é quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na
administração do negócio alheio, que pertence a pessoa conhecida; no contrato com pessoa a declarar o
nome da pessoa não é invocado no momento da estipulação; “quando vem a sê-lo, a aceitação torna-se, com
e cácia ex tunc, declaração em nome próprio, excluindo a representação” (GONÇALVES, 2019, p. 897).
Por m, não podemos confundir com a promessa de fato de terceiro, pois nesta gura tem-se a obrigação para o
promitente de obter de terceiro uma declaração ou prestação, enquanto que no contrato com pessoa a declarar, o
contratante promete fato próprio e, alternativamente, fato de terceiro.
Espécies de interpretação
Autêntica é a realizada pelo próprio legislador que por meio da lei como um todo, faz os esclarecimentos acerca
de determinado assunto. É importante ressaltar que a norma interpretativa, quando emprega o devido
entendimento do conteúdo da norma interpretada possui efeito retroativo. Doutrinária é aquela realizada pelos
estudiosos do direito. Vale lembrar que a exposição de motivos do Código é exemplo de interpretação doutrinária,
pois não tem conteúdo de lei. Já a judicial ou jurisprudencial é a interpretação realizada pelos magistrados e pelos
Tribunais no âmbito do exercício da jurisdição. Na interpretação literal considera-se o texto da lei e a signi cação
das palavras empregadas, isto é, o seu sentido literal. Na teleológica, não importa a literalidade, mas a nalidade
da norma, a voluntas legis (vontade da lei). Na lógica, utilizam-se as regras de estruturação do raciocínio para se
chegar ao espírito da lei. Na histórica, busca-se o contexto de votação da norma, a sua construção e os seus
motivos determinantes. Na sistemática, busca-se uma compreensão total do ordenamento jurídico, buscando a
interpretação de maneira harmônica com o sentido do sistema no qual determinada norma está incluída.
Quanto ao resultado do processo interpretativo, será declarativa a interpretação quando há uma precisa
correspondência entre aquilo que a lei expressa e o que constitui a sua vontade. Na interpretação restritiva, a
norma exagerou no seu âmbito de expressão, cabendo ao intérprete as devidas adaptações, para que ela
permanece em seu estrito campo de incidência. Por outro lado, na interpretação extensiva, a norma disse
menos do que deveria, de modo que cabe ao intérprete ampliar o alcance normativo, a m de atingir seu real
signi cado. Por m, a interpretação progressiva ou evolutiva considera a evolução e o dinamismo do direito
como mecanismos de modi cação do sentido das normas, que precisam ser adaptadas às novas realidades e
carências sociais, num contexto de modernização.
Interpretação contratual
Os contratos originam-se de atos volitivos, de sorte que é natural que recai sobre eles uma necessidade
interpretativa. Nem sempre o contrato escrito irá re etir, com exatidão, a vontade das partes. “Muitas a redação
mostra-se obscura e ambígua, malgrado o cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa
encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do negócio e das di culdades próprias do vernáculo. Por
essa razão, não só a lei deve ser interpretada mas também os negócios jurídicos em geral. A execução de um
contrato exige a correta compreensão da intenção das partes, a qual exterioriza-se por meio de sinais ou
símbolos, dentre os quais as palavras.” (GONÇALVES, 2019, p. 793).
Extensão
“Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se
apurar a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas
que nascem da sua declaração.
”
— (GONÇALVES, 2019, p. 793).
Interpretação declaratória
Intepretação declaratória é aquela que leva em consideração a descoberta da intenção manifesta pelos
contraentes no momento de a celebração do negócio jurídico.
“Se os contratantes, por exemplo, estipularam determinado índice de correção monetária nos pagamentos e esse índice é
extinto, infere-se que outro índice próximo de correção deve ser aplicado, ainda que assim não esteja expresso no
contrato, porque a boa-fé e a equidade que regem os pactos ordenam que não haja injusto enriquecimento com a
desvalorização da moeda.
”
— (VENOSA apud GONÇALVES, 2019, p. 794).
Interpretação dos contratos e contrato preliminar
Princípio da boa-fé
Dois princípios básicos precisam ser observados para efeito de interpretação contratual. O princípio da boa-fé na
interpretação está disposto no art. 113 do Código Civil, segundo o qual os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Ademais, a interpretação do negócio
jurídico deve lhe atribuir o sentido que:
I. For con rmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio.
II. Corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio.
IV. For mais bené co à parte que não redigiu o dispositivo, se identi cável.
V. Corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais
disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no
momento de sua celebração. As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de
preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. Os
negócios jurídicos bené cos e a renúncia interpretam-se estritamente.
“em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por
excessiva onerosidade, pode o juiz modi ca-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade
e observado o contraditório.
”
— (GONÇALVES, 2019, p. 794).
Outras regras
Ademais, podemos ver outras regras espalhadas pelo Código Civil, quanto à interpretação contratual. A transação
interpreta-se restritivamente (art. 843); a ança não admite interpretação extensiva (art. 819); sendo a cláusula
testamentária suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da
vontade do testador (art. 1.899).
Contrato preliminar
O contrato preliminar diz respeito a uma forma de contratar provisória, preliminar, no qual as partes prometem
complementar o ajuste, celebrando, assim, o contrato de nitivo. É um contrato-promessa, cujo objeto é a
celebração de um contrato de nitivo. (GONÇALVES, 2019, p. 889). Enquanto requisito objetivo, menciona-se que
deve ter por objeto algo lícito, possível, determinado ou determinável, à luz do art. 104, II, do Código Civil. O objeto
do contrato principal, que é o objetivo do contrato preliminar, deve, assim, ser conforme a estas balizas. Como
requisito subjetivos, é necessário que haja capacidade para a prática de atos da vida civil, conforme art. 104, I, de
modo que os contratantes tenham aptidão para a alienação. Vale lembrar que, se casados, haverá necessidade de
outorga uxória para a celebração também do contrato preliminar. Formalmente não há questão a ser observada,
tampouco é necessário que o contrato preliminar siga a mesma forma para a consecução do contrato de nitivo,
segundo o art. 462 do Código Civil. No mais, o contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os
requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
Situação-problema
Dois amigos saem para pescar num nal de semana. Na primeira parada, um deles diz ao outro que jogue as
linhas de pesca e que pagará o resultado pelo valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), devendo repetir o
procedimento pelo prazo de uma hora. Seguidamente, ambos ancoram o barco noutra parada, onde o mesmo diz
ao outro que jogue as linhas de pesca, para pescar o máximo de peixes possível, pagando a importância de R$
1.000,00 (mil reais), depois de uma hora de tentativa. Ao nal, no primeiro caso, nada foi pescado. No segundo
caso, apenas 2 peixes foram pescados. O promitente recusou-se a pagar os preços ajustados. Indignado, o
pescador o procura para avaliar o caso. À luz da legislação, como deve ser a resposta à questão apresentada, em
ambas as situações?
Resolução da situação-problema
No primeiro caso, trata-se de um contrato aleatório, no qual o amigo se comprometeu a pagar,
independentemente do resultado, ao outro, determinado valor. Como não há indício que ausência de diligência
por parte do pescador, o pagamento deverá ser efetuado. Neste sentido, o art. 458 do CC/02 trata da venda de
coisas futuras onde o risco diz respeito à própria existência da coisa. Assim, se o contrato for aleatório, por dizer
respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro
direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa,
ainda que nada do avençado venha a existir. É que se chama de “emptio spei” ou venda da esperança que diz
respeito acerca da probabilidade de as coisas ou fatos existirem. No segundo caso, também é caso de contrato
aleatório, porém o risco está relacionado à quantidade esperada. É a venda da coisa esperada (emptio rei
speratae). Também haverá o direito de o pescador receber o valor, ainda que tenha pescado apenas 2 peixes. O
art. 459 do CC/02 disciplina a matéria, de modo que se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras,
tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a
todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade
inferior à esperada. Assim, no exemplo dado anteriormente, se o resultado de uma safra for inexistente, o
contrato será nulo, pois alguma coisa tem que existir, de modo que o risco está envolvido na quantidade e não na
existência. Qualquer quantidade incorrerá na obrigação de cumprimento do contrato.