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Direito Civil - Contratos

Elementos do contrato, efeitos, contratos aleatórios e interpretação


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Nesta webaula, estudaremos os elementos do contrato, seus efeitos, os contratos aleatórios e a interpretação
contratual.

Contratos acidentalmente aleatórios


Contratos aleatórios
Em função das expectativas de vantagens ou de benefícios que as partes podem esperar em virtude de um
contrato, os contratos bilaterais e onerosos podem ser de tipo comutativo ou aleatório. Os contratos comutativos
são aqueles de prestações certas e determinadas, onde as partes já tem condições de antever as vantagens e
também os sacrifícios envolvidos na avença. Há, na comutatividade, uma equivalência, no geral, e não há nenhum
tipo de risco. Já o contrato aleatório, bilateral e oneroso, é aquele no qual pelo menos um dos contratantes não
consegue, de imediato, antever a vantagem que porventura auferirá a partir da avença. Aqui, é justamente o
contrário: não há certeza; o elemento dominante é, assim, a incerteza, para ambas as partes. 

Essência do contrato aleatório


A palavra aleatório vem do latim alea, que indica sorte, risco. Alea jacta est (a sorte está lançada) – a famosa frase
de Júlio César. O contrato aleatório é, assim, também chamado de contrato de sorte, onde são exemplos os
contratos de jogo, aposta e seguro (GOLÇALVES, 2019).

Distinções
Não podemos confundir o contrato aleatório com outros institutos e mesmo com outras formas contratuais. Os
contratos aleatórios, por exemplo, não se confundem com os contratos condicionais, porque a e cácia destes
depende de um evento futuro e incerto, enquanto nos aleatórios já há perfeição, embora com o risco envolvido na
prestação das partes. 

Ademais, vale comentar sobre a lesão. A rescisão por lesão não ocorre nos contratos aleatórios, porém
apenas nos contratos comutativos. Isso porque o art. 157 do Código Civil prevê a possibilidade de
oferecimento de um suplemento, quando, por exemplo, há uma desproporção, que caracteriza a lesão. Mas
isso somente é possível em contratos comutativos, em que se afere a desproporção. Nos contratos
aleatórios, o risco, a desproporção é da própria essência do negócio, sendo impossível falar-se em lesão, num
primeiro lance de análise. Excepcionalmente, no entanto, somente se a desproporção fugir ao risco normal
do contrato é que se poderá falar em tal instituto. 

Espécies
Há os contratos que são aleatórios pela própria natureza. No entanto, há contratos comutativos que podem
tornar-se aleatórios, como, por exemplo, uma compra e venda, a qual, em virtude de algumas circunstâncias, pode
vir a tornar-se aleatória. Nesses casos, temos os chamados contratos acidentalmente aleatórios, que comportam
duas espécies: venda de coisas futuras; e venda de coisas existentes, mas expostas a risco. Vamos analisar cada
uma dessas hipóteses a partir de agora. 
Venda de coisas futuras
O art. 458 do CC/02 trata da venda de coisas futuras onde o risco diz respeito à própria existência da coisa. Assim,
se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos
contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua
parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir. É que se chama de “emptio
spei” ou venda da esperança (GONÇALVES, 2019), que diz respeito acerca da probabilidade de as coisas ou fatos
existirem. 

Por exemplo, quando é vendida uma colheita futura ou quando uma pessoa que “propõe pagar determinada
importância ao pescador pelo que ele apanhar na rede que está na iminência de lançar ao mar. Mesmo que,
ao puxá-la, veri que não ter apanhado nenhum peixe, terá o pescador direito ao preço integral se agiu com a
habitual diligência” (GONÇALVES, 2019, p. 886). 

Na venda de coisa futura, também pode estar em questão o risco relativo à quantidade maior ou menor da coisa
esperada. É a venda da coisa esperada (emptio rei speratae). O art. 459 do CC/02 disciplina a matéria, de modo
que se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em
qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido
culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade inferior à esperada. 

Assim, no exemplo dado anteriormente, se o resultado de uma safra for inexistente, o contrato será nulo,
pois alguma coisa tem que existir, de modo que o risco está envolvido na quantidade e não na existência.
Qualquer quantidade incorrerá na obrigação de cumprimento do contrato. 

Venda de coisas existentes, mas expostas à risco


De acordo com o art. 460 do CC/02, Se for aleatório o contrato, por se referir a coisas existentes, mas expostas a
risco, assumido pelo adquirente, terá igualmente direito o alienante a todo o preço, posto que a coisa já não
existisse, em parte, ou de todo, no dia do contrato. 

Como exemplo, “a mercadoria que está sendo transportada em alto-mar por pequeno navio, cujo risco de
naufrágio o adquirente assumiu. É válida, mesmo que a embarcação já tenha sucumbido na data do contrato.
Se, contudo, o alienante sabia do naufrágio, a alienação poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado,
como prescreve o art. 461 do Código Civil, cabendo ao adquirente a prova dessa ciência” (GONÇALVES, 2019,
pp. 886-887). 

Contratos com pessoa a declarar


Venda de coisas existentes, mas expostas à risco
O contrato com pessoa a declarar encontra-se disciplinado entre os arts. 467 e 471 do Código Civil. “Nessa
modalidade, um dos contraentes pode reservar-se o direito de indicar outra pessoa para, em seu lugar, adquirir os
direitos e assumir as obrigações decorrentes” (GONÇALVES, 2019, p. 895). É negócio bastante comum nos
compromissos de compra e venda de imóveis, nos quais o compromissário comprador reserva para si a opção de
receber a escritura de nitiva ou indicar terceiro para nela gurar como adquirente. 
Essa cláusula, inserta no contrato, é chamada de pro amico eligendo e é utilizada para ns de se evitar despesas
com nova alienação, sobretudo nos casos de aquisição de bens com objetivo de revenda, com a mera
intermediação daquele que gura como adquirente. Uma vez realizada de maneira válida, a pessoa nomeada
adquire os direitos e assume as obrigações do contrato com efeito retroativo, consoante previsto no art. 469 do
CC/02.

Disciplina legal
A indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de cinco dias da conclusão do contrato, se outro não tiver
sido estipulado. A aceitação da pessoa nomeada não será e caz se não se revestir da mesma forma que as partes
usaram para o contrato. Ademais, a pessoa, nomeada de conformidade com os artigos antecedentes, adquire os
direitos e assume as obrigações decorrentes do contrato, a partir do momento em que este foi celebrado. 

De acordo com o art. 470 do CC/02, o contrato será e caz somente entre os contratantes originários: 

I. Se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la.

II. Se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da indicação. Neste
sentido, se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no momento da nomeação, o contrato produzirá
seus efeitos entre os contratantes originários.

Incompatibilidade com contratos personalíssimos


Embora o contrato com pessoa a declarar possa ser utilizado em variadas espécies, é certo que no campo dos
contratos personalíssimos, dada sua característica ligada à determinada e certa pessoa que deverá cumprir a
obrigação assumida, há incompatibilidade. 

Estrutura contratual
Pode-se dizer que participam deste contrato: o promitente, que assume o compromisso de reconhecer o amicus
ou eligendo; o estipulante, que pactua em seu favor a cláusula de substituição; e o electus, que, se nomeado
validamente, aceita a indicação, que é comunicada ao promitente (GONÇALVES, 2019). De todo modo, a validade
do negócio requer capacidade e legitimidade de todos os personagens quando da estipulação da avença. 

Natureza jurídica
Embora haja grande controvérsia sobre a natureza jurídica do contrato com pessoa a declarar, a teoria mais
razoável “e apta a explicar a natureza jurídica do indigitado trato, [...], é a teoria da condição, que vislumbra no
contrato entre o promitente e o estipulante uma subordinação condicional, de caráter resolutivo, da aquisição do
último mediante a electio, evento cuja veri cação importa, ao mesmo tempo, na aquisição do electus, que se
encontrava suspenso, na dependência do seu implemento” (GONÇALVES, 2019, p. 896). Os efeitos deste contrato,
assim, irão num ou noutro sentido, de acordo com o implemento ou não da condição, que consiste na electio
validamente realizada. O contrato com pessoa a declarar é negócio jurídico bilateral, que se aperfeiçoa com o
consentimento dos contraentes, desde logo conhecidos. Um deles, contudo, reserva-se o direito (faculdade) de
indicar a pessoa que assumirá as obrigações e adquirirá os respectivos direitos em momento futuro. Por m, a
pessoa nomeada ocupa o lugar de sujeito da relação jurídica antes formada pelos agentes primitivos (GONÇALVES,
2019). 

Contrato com pessoa a declarar e outros institutos


Precisamos distinguir o contrato com pessoa a declarar de outros institutos. Inicialmente, não se confunde com a
estipulação em favor de terceiro, pois o estipulante e o promitente permanecem vinculados à relação contratual
durante toda a avença, de modo que o terceiro mantem-se alheio, mesmo depois da aceitação; ao bene ciário,
aliás, é atribuído simples direito. Com a cessão do contrato, igualmente, há a convenção, entre estipulante e
promitente, em momento posterior à celebração (no com pessoa a declarar o ajuste é previamente realizado);
logo, o terceiro entra na relação com efeitos ex tunc (dali para frente), a partir do momento em que a cessão foi
aceita (no contrato com pessoa a declarar, a substituição ocorre com efeitos retroativos). 
Embora o contrato com pessoa a declarar possa ser utilizado em variadas espécies, é certo que no campo dos
contratos personalíssimos, dada sua característica ligada à determinada e certa pessoa que deverá cumprir a
obrigação assumida, há incompatibilidade. 

Seguidamente, a gestão de negócios é quando uma pessoa, sem autorização do interessado, intervém na
administração do negócio alheio, que pertence a pessoa conhecida; no contrato com pessoa a declarar o
nome da pessoa não é invocado no momento da estipulação; “quando vem a sê-lo, a aceitação torna-se, com
e cácia ex tunc, declaração em nome próprio, excluindo a representação” (GONÇALVES, 2019, p. 897). 

Por m, não podemos confundir com a promessa de fato de terceiro, pois nesta gura tem-se a obrigação para o
promitente de obter de terceiro uma declaração ou prestação, enquanto que no contrato com pessoa a declarar, o
contratante promete fato próprio e, alternativamente, fato de terceiro. 

Introdução à interpretação dos contratos


Introdução à hermenêutica jurídica
Pode-se dizer que a origem do vocábulo é a gura mitológica de Hermes, Deus grego, encarregado, dentre outras
funções, de encaminhar as mensagens dos Deuses. Daí, que a hermenêutica pode ser caracterizada, inicialmente,
como ramo losó co que diz respeito ao entendimento das estruturas de compreensão humana que permitem a
ocorrência da interpretação. No campo do direito, sobretudo a partir do século XVIII, confunde-se com ciência da
interpretação, na aurora do positivismo jurídico, traçando métodos para que o aplicador do direito fosse capaz de
efetivar o ordenamento jurídico positivo nos casos submetidos à apreciação. 

Objeto da hermenêutica jurídica


A hermenêutica jurídica é ramo da loso a em geral e do direito que se dedica ao processo de aplicação do
ordenamento jurídico e a conformação de suas normas para a solução justa e efetiva dos casos concretos.
Sobretudo diante da ocorrência de con itos entre normas, notadamente no campo principio lógico, a
hermenêutica tem o papel de buscar critérios de racionalidade que possam indicar a prevalência, em dado caso,
de um ou outro princípio, ou de uma ou outra regra, conforme a situação, sobremodo, como no caso em estudo,
dos contratos de direito privado. 

Espécies de interpretação
Autêntica é a realizada pelo próprio legislador que por meio da lei como um todo, faz os esclarecimentos acerca
de determinado assunto. É importante ressaltar que a norma interpretativa, quando emprega o devido
entendimento do conteúdo da norma interpretada possui efeito retroativo. Doutrinária é aquela realizada pelos
estudiosos do direito. Vale lembrar que a exposição de motivos do Código é exemplo de interpretação doutrinária,
pois não tem conteúdo de lei. Já a judicial ou jurisprudencial é a interpretação realizada pelos magistrados e pelos
Tribunais no âmbito do exercício da jurisdição. Na interpretação literal considera-se o texto da lei e a signi cação
das palavras empregadas, isto é, o seu sentido literal. Na teleológica, não importa a literalidade, mas a nalidade
da norma, a voluntas legis (vontade da lei). Na lógica, utilizam-se as regras de estruturação do raciocínio para se
chegar ao espírito da lei. Na histórica, busca-se o contexto de votação da norma, a sua construção e os seus
motivos determinantes. Na sistemática, busca-se uma compreensão total do ordenamento jurídico, buscando a
interpretação de maneira harmônica com o sentido do sistema no qual determinada norma está incluída. 
Quanto ao resultado do processo interpretativo, será declarativa a interpretação quando há uma precisa
correspondência entre aquilo que a lei expressa e o que constitui a sua vontade. Na interpretação restritiva, a
norma exagerou no seu âmbito de expressão, cabendo ao intérprete as devidas adaptações, para que ela
permanece em seu estrito campo de incidência. Por outro lado, na interpretação extensiva, a norma disse
menos do que deveria, de modo que cabe ao intérprete ampliar o alcance normativo, a m de atingir seu real
signi cado. Por m, a interpretação progressiva ou evolutiva considera a evolução e o dinamismo do direito
como mecanismos de modi cação do sentido das normas, que precisam ser adaptadas às novas realidades e
carências sociais, num contexto de modernização. 

Interpretação contratual
Os contratos originam-se de atos volitivos, de sorte que é natural que recai sobre eles uma necessidade
interpretativa. Nem sempre o contrato escrito irá re etir, com exatidão, a vontade das partes. “Muitas a redação
mostra-se obscura e ambígua, malgrado o cuidado quanto à clareza e precisão demonstrado pela pessoa
encarregada dessa tarefa, em virtude da complexidade do negócio e das di culdades próprias do vernáculo. Por
essa razão, não só a lei deve ser interpretada mas também os negócios jurídicos em geral. A execução de um
contrato exige a correta compreensão da intenção das partes, a qual exterioriza-se por meio de sinais ou
símbolos, dentre os quais as palavras.” (GONÇALVES, 2019, p. 793). 

Extensão

“Interpretar o negócio jurídico é, portanto, precisar o sentido e alcance do conteúdo da declaração de vontade. Busca-se
apurar a vontade concreta das partes, não a vontade interna, psicológica, mas a vontade objetiva, o conteúdo, as normas
que nascem da sua declaração.


— (GONÇALVES, 2019, p. 793).

Interpretação declaratória
Intepretação declaratória é aquela que leva em consideração a descoberta da intenção manifesta pelos
contraentes no momento de a celebração do negócio jurídico.

Interpretação construtiva ou integrativa


Por outro lado, a interpretação construtiva, também chamada de integrativa, busca aproveitar o que já consta no
contrato, sem se preocupar com as intenções iniciais, porém procurando suprir eventuais lacunas, integrando as
cláusulas e o contrato como um todo. Aqui, tem maior relevância os temas já estudados quanto à boa-fé objetiva e
quanto à função social dos contratos, por meio dos quais é autorizada a criação de normas supletivas a partir
destes importantes vetores principiológicos e, assim, hermenêuticos. É por meio dessas diretrizes que o Judiciário,
por exemplo, poderá decidir determinada contenda envolvendo a discussão sobre um contrato.

“Se os contratantes, por exemplo, estipularam determinado índice de correção monetária nos pagamentos e esse índice é
extinto, infere-se que outro índice próximo de correção deve ser aplicado, ainda que assim não esteja expresso no
contrato, porque a boa-fé e a equidade que regem os pactos ordenam que não haja injusto enriquecimento com a
desvalorização da moeda.


— (VENOSA apud GONÇALVES, 2019, p. 794).
Interpretação dos contratos e contrato preliminar
Princípio da boa-fé
Dois princípios básicos precisam ser observados para efeito de interpretação contratual. O princípio da boa-fé na
interpretação está disposto no art. 113 do Código Civil, segundo o qual os negócios jurídicos devem ser
interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Ademais, a interpretação do negócio
jurídico deve lhe atribuir o sentido que:

I. For con rmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio.

II. Corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio.

III. Corresponder à boa-fé.

IV. For mais bené co à parte que não redigiu o dispositivo, se identi cável.

V. Corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das demais
disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as informações disponíveis no
momento de sua celebração. As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de
preenchimento de lacunas e de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. Os
negócios jurídicos bené cos e a renúncia interpretam-se estritamente.

Princípio da conservação do contrato


Também é importante contemplarmos o princípio da conservação do contrato, também chamado de princípio de
aproveitamento do contrato. Se determinada cláusula contratual permitir mais de uma interpretação, todas
diferentes, deverá prevalecer a interpretação que poderá produzir algum efeito, “pois não se deve supor que os
contratantes tenham celebrado um contrato carecedor de utilidade” (GONÇALVES, 2019, p. 794). Em jornada de
Direito Civil (evento doutrinário que conduz os estudos nos variados campos), foi aprovado enunciado n. 367
neste sentido, que bem ilustra o objetivo comentado. Assim: 

“em observância ao princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto por
excessiva onerosidade, pode o juiz modi ca-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora, respeitada a sua vontade
e observado o contraditório.


— (GONÇALVES, 2019, p. 794).

Outras regras
Ademais, podemos ver outras regras espalhadas pelo Código Civil, quanto à interpretação contratual. A transação
interpreta-se restritivamente (art. 843); a ança não admite interpretação extensiva (art. 819); sendo a cláusula
testamentária suscetível de interpretações diferentes, prevalecerá a que melhor assegure a observância da
vontade do testador (art. 1.899).

Critérios para interpretação


Aqui, veri camos alguns critérios práticos para efeito de interpretação contratual. Inicialmente, a melhor maneira
de apurar a intenção dos contratantes é a veri cação do modo pelo qual vêm executando a avença. Depois, na
dúvida quanto à interpretação, deve-se privilegiar de maneira menos onerosa para o devedor. Na interpretação
contratual, deve-se levar em conta o conjunto e não apenas uma ou outra cláusula isolada. No caso de
obscuridade, esta deverá ser imputada àquele que redigiu o contrato, pois poderia ter sido claro e não o foi. E,
diante de ambiguidade na interpretação contratual, deve-se aplicar a interpretação que conduza à uma
possibilidade real de exequibilidade. 
Intepretação dos contratos no código de defesa do consumidor
Proclama o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90): “As cláusulas contratuais serão
interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor”. A excepcionalidade decorre de previsão especí ca do rol
dos direitos funda mentais, como disposto no art. 5º, XXXII, combinado com o art. 170, V, da Constituição Federal.
Trata-se da necessidade de proteção da parte hipossu ciente, que é o consumidor. Toda relação de consumo
conclama a aplicação deste dispositivo. Ademais, o art. 46 do CDC indica que os contratos de consumo deixam de
ser obrigatórios se ao consumidor não for dada oportunidade de conhecer previamente o seu conteúdo ou se os
contratos forem redigidos de maneira a di culdade a compreensão do seu sentido e alcance (GONÇALVES, 2019,
p. 795). 

Interpretação dos contratos de adesão


O Código de Defesa do Consumidor conceitua contrato de adesão no art. 54, segundo o qual: “Contrato de adesão
é aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente
pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modi car substancialmente
seu conteúdo”. No âmbito dos contratos de adesão, duas regras fundamentais encontram-se previstas no Código
Civil para esta espécie. Primeiro, no art. 423 do Código Civil, segundo o qual quando houver no contrato de adesão
cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Depois, no
art. 424, segundo o qual nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Contrato preliminar
O contrato preliminar diz respeito a uma forma de contratar provisória, preliminar, no qual as partes prometem
complementar o ajuste, celebrando, assim, o contrato de nitivo. É um contrato-promessa, cujo objeto é a
celebração de um contrato de nitivo. (GONÇALVES, 2019, p. 889). Enquanto requisito objetivo, menciona-se que
deve ter por objeto algo lícito, possível, determinado ou determinável, à luz do art. 104, II, do Código Civil. O objeto
do contrato principal, que é o objetivo do contrato preliminar, deve, assim, ser conforme a estas balizas. Como
requisito subjetivos, é necessário que haja capacidade para a prática de atos da vida civil, conforme art. 104, I, de
modo que os contratantes tenham aptidão para a alienação. Vale lembrar que, se casados, haverá necessidade de
outorga uxória para a celebração também do contrato preliminar. Formalmente não há questão a ser observada,
tampouco é necessário que o contrato preliminar siga a mesma forma para a consecução do contrato de nitivo,
segundo o art. 462 do Código Civil. No mais, o contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os
requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

Disciplina no Código Civil do Contrato Preliminar


Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente, e desde que dele não conste
cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do de nitivo, assinando
prazo à outra para que o efetive. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente (para efeito
contra terceiros); tal porque, por exemplo, um contrato de promessa de compra e venda já é válido, independente
do registro. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente,
conferindo caráter de nitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação. Se o
estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e
danos. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de car a mesma sem efeito, deverá
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.

Estipulação em favor de terceiro


De acordo com o art. 436 do Código Civil, o que estipula em favor de terceiro pode exigir o cumprimento da
obrigação. Ao terceiro, em favor de quem se estipulou a obrigação, também é permitido exigi-la, cando, todavia,
sujeito às condições e normas do contrato, se a ele anuir, e o estipulante não o inovar (substituir o terceiro). Se ao
terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o
estipulante exonerar o devedor. 
Ademais, o estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,
independentemente da sua anuência e da do outro contratante. Esta disposição, aliás, substituição pode ser
feita por ato entre vivos ou por disposição de última vontade.

Promessa de fato de terceiro


Aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá por perdas e danos, quando este o não executar. No
entanto, tal responsabilidade não existirá se o terceiro for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência
o ato a ser praticado, e desde que, pelo regime do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair
sobre os seus bens. Por m, nenhuma obrigação haverá para quem se comprometer por outrem, se este, depois
de se ter obrigado, faltar à prestação.

Situação-problema
Dois amigos saem para pescar num nal de semana. Na primeira parada, um deles diz ao outro que jogue as
linhas de pesca e que pagará o resultado pelo valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), devendo repetir o
procedimento pelo prazo de uma hora. Seguidamente, ambos ancoram o barco noutra parada, onde o mesmo diz
ao outro que jogue as linhas de pesca, para pescar o máximo de peixes possível, pagando a importância de R$
1.000,00 (mil reais), depois de uma hora de tentativa. Ao nal, no primeiro caso, nada foi pescado. No segundo
caso, apenas 2 peixes foram pescados. O promitente recusou-se a pagar os preços ajustados. Indignado, o
pescador o procura para avaliar o caso. À luz da legislação, como deve ser a resposta à questão apresentada, em
ambas as situações? 

Resolução da situação-problema
No primeiro caso, trata-se de um contrato aleatório, no qual o amigo se comprometeu a pagar,
independentemente do resultado, ao outro, determinado valor. Como não há indício que ausência de diligência
por parte do pescador, o pagamento deverá ser efetuado. Neste sentido, o art. 458 do CC/02 trata da venda de
coisas futuras onde o risco diz respeito à própria existência da coisa. Assim, se o contrato for aleatório, por dizer
respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro
direito de receber integralmente o que lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa,
ainda que nada do avençado venha a existir. É que se chama de “emptio spei” ou venda da esperança que diz
respeito acerca da probabilidade de as coisas ou fatos existirem. No segundo caso, também é caso de contrato
aleatório, porém o risco está relacionado à quantidade esperada. É a venda da coisa esperada (emptio rei
speratae). Também haverá o direito de o pescador receber o valor, ainda que tenha pescado apenas 2 peixes. O
art. 459 do CC/02 disciplina a matéria, de modo que se for aleatório, por serem objeto dele coisas futuras,
tomando o adquirente a si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a
todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a existir em quantidade
inferior à esperada. Assim, no exemplo dado anteriormente, se o resultado de uma safra for inexistente, o
contrato será nulo, pois alguma coisa tem que existir, de modo que o risco está envolvido na quantidade e não na
existência. Qualquer quantidade incorrerá na obrigação de cumprimento do contrato.

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