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TEORIA GERAL DOS CONTRATOS:

- Conceito e Crise dos Contratos:


- Caio Mário da Silva Pereira “Negócio Jurídico Bilateral (superado),
dependente de, pelo menos 2 declarações de vontade, cujo
objetivo é a criação, alteração ou até mesmo extinção de direitos e
deveres de conteúdo patrimonial.” Na doação há 2 declarações de
vontade?
- Paulo Nalin: “relação jurídica subjetiva, nucleada na solidariedade
constitucional, destinada à produção de efeitos jurídicos
existenciais e patrimoniais, não só entre os titulares, como também
perante terceiros.” Essa conceito consagra a eficácia externa da
função social”, afeta a sociedade como um todo. Também está
relacionado à alteridade, implicando na vontade das partes (que
devem ser iguais, ainda que busquem resultados diferentes).

→ Crises dos contratos:


1ª Crise: Teorizada pelo auto norte-americano Grant Gilmore em sua
obra “The Death of Contract” assinalou que, com o fenômeno da grande
padronização dos contratos decorrentes de uma economia de mass
production estava destruindo os pilares dos contatos. Com a ocorrência
dessa massificação dos contratos, cessa-se a manifestação da vontade,
predominando a ocorrência de contratos de adesão. Os contratos seriam
resolvidos por meio de indenizações oriundas da responsabilidade civil.
Giselda Hironte irá defender que a crise, na verdade, é uma mudança
social. O direito contratual estaria passando por uma “conformação com a
dimensão social”, adotando princípios como a função social dos contratos e a
boa-fé subjetiva, com seus desdobramentos, como a adoção de deveres
anexos.

2ª Crise: Diálogo de fontes. Não se trata de uma descaracterização


do direito contratual, mas sim um diálogo necessários entre duas leis
diferentes, sobretudo com o CDC. A sociedade na contemporaneidade passa
um forte processo de pluralização de sujeitos e valorização dos Direitos
Humanos. Para acompanhar as dinâmicas da sociedade, torna-se essencial
esse diálogo de fontes.
A autora Cláudia Lima Marques que trouxe essa teoria para o Brasil. A
aproximação principiológica entre CC e CDC justifica o diálogo. São 4
princípios do CDC que afetam diretamente o direito contratual:
Vulnerabilidade; Confiança; Boa-fé e Equilíbrio Contratual.
Além disso, com a crescente valorização de um Direito Civil-
Constitucional, também faz-se essencial a adoção dos seguintes princípios:
Dignidade da Pessoa Humana; Solidariedade Social; e Igualdade em
sentido amplo.

- Capítulo VIII: Classificação dos Contratos:

1) Quanto à natureza da obrigação:


Contratos classificados em função da prestação pactuada.

1.1) Unilaterais, bilaterais e plurilaterais:


Unilaterais – Caracterizado pela posição estática de credor e devedor,
pelo fato de estabelecer uma prestação pecuniária para apenas uma das
partes, como na doação simples, comodato, multa, ou depósito (doação com
encargo é questionado, pois o não cumprimento tornaria o contrato ineficaz);
Bilaterais: Têm-se a produção simultânea de prestações para todos os
contratantes, pela dependência recíproca das obrigações (sendo uma a
causa de ser da outra), o que é chamado de sinalagma, sendo a
proporcionalidade de prestações. É o caso da compra e venda.
Plurilaterais: Tem como pressuposto a existência de mais de dois
contratantes com obrigações, como é o caso da constituição de sociedade ou
de um condomínio.

Obs: 1) Somente nos contratos bilaterais é aplicável a exceptio non


adimpleti (exceção de defesa substancial de contrato não cumprido),
presente no art. 476 do CC/02, que determina que nenhum dos contratantes,
antes de cumprida sua obrigação, pode exigir a obrigação do outro; o mesmo
se aplica à garantia da execução do contrato (art. 477 do CC/02).
2) Somente nos contratos bilaterais é aplicável a teoria da condição
resolutiva fática, que determina, em caso de descumprimento
culposo de uma das partes, constitui-se justa causa para resolução
do contrato.
3) Somente nos contratos bilaterais é aplicável a disciplina dos vícios
redibitórios.
4) Contrato Bilateral imperfeito – Na sua origem seria unilateral, mas,
durante a sua execução, se converteria em bilateral.

1.2) Contratos onerosos e gratuitos:


Onerosos – Se onera as duas partes. Quando a um benefício
recebido corresponder uma sacrifício patrimonial.
Gratuitos: Se onera somente uma parte. Quando fica estabelecido
que somente uma das partes concederá benefício, enquanto a outra
arqueará por toda a obrigação. É o caso da doação pura e do comodato.
Obs: → É possível que determinadas figuras contratuais sejam
estabelecidas tanto na forma gratuita como na onerosa, como no mútuo
(pode ser celerado com ou sem pagamento de juros), no mandato, no
depósito ou até mesmo da fiança.
→ Além disso, não deixa de ser gratuito doação com encargo,
impondo, por exemplo, o dever do donatário não ocorrer em ingratidão (art.
1.181). Também ocorre no caso de mandato gratuito, quando o mandante
deve reembolsar o mandatário de despesas para o desempenho do mandato
(arts. 1309 e 1312).

→ A interpretação dos contratos gratuitos deve sempre mais restrita


que os negócios jurídicos onerosos; Além disso, os riscos da evicção
somente são suportados pelo adquirente de bens em contratos onerosos;
sobre responsabilidade civil, ler pág. 164.

1.3) Contrato comutativos ou aleatórios:


Os contratos onerosos se dividem em:
Comutativos: Quando os contratantes conhecem, de início, as suas
respectivas prestações, como por exemplo na compra e venda ou no contrato
individual de emprego.
Aleatórios: Arts. 458 a 461 - Quando a obrigação de uma das partes
puder ser exigida em função de coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
ocorrência for assumido pelo outro contratante. É o caso de contratos de
seguro, jogo e aposta e contrato de constituição de renda.
Obs: → Contratos aleatórios não se confundem com condição
potestativa (caracterizada pelo uso das expressões “se eu quiser”, “caso seja
do interesse deste declarante”, “se na data avençada, este declarante
considerar-se em condições de prestar), que, por se traduzirem em arbítrio
injustificado, a sua ocorrência impõe nulidade absoluta do negócio jurídico
(art. 123, II, c/c art. 166, VI, do CC/02).

→ No caso de contrato comutativo, a ocorrência de eventual vício


redibitório pode alterar equação financeira do contrato, o que inexiste, a
priori, nos contratos aleatórios.

→ Um contrato tipicamente comutativo, como a compra e venda, pode-


se tornar aleatório, em razão da autonomia de vontade, sendo considerado
um contrato acidentalmente aleatório, como é o caso, por exemplo, da
compra e venda de colheita futura.

1.4) Contratos paritários ou por adesão:


Paritários – Na hipótese de as partes estarem em igual condições de
negociação, estabelecendo livremente cláusulas contratuais.
De adesão – Diálogo de fontes: art. 54 do CDC: Contrato de adesão é
aquele cujas cláusulas tenham sido aprovadas pela autoridade competente
ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços,
sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo. Trata-se de um fenômeno típico das sociedades de consumo.
Stolze e Pamplona determinam 4 características essenciais dos
contratos de adesão:
a) Uniformidade – o objetivo do estipulante é obter o maior
número possível de contratantes, mantendo o mesmo
conteúdo contratual;
b) Predeterminação contratual – É feita anteriormente a
qualquer discussão sobre a avença.
c) Rigidez – não é possível rediscutir as cláusulas do contrato
de adesão;
d) Posição de vantagem (superioridade material/econômica) de
uma das partes.

Por sua natureza limitadora da liberdade contratual, a interpretação


dos contratos de adesão devem ser sempre interpretadas em favor do
aderente.

1.2) Classificação dos contratos quanto à forma:

1.2.1) Solenes ou não solenes:


A forma livre é a regra geral do Direito Brasileiro (art. 107 do CC/02),
prevalecente o princípio da liberdade da forma. Desse modo, contratos não
solenes ou informais, aqueles que não impõe uma forma específica para
a validade da estipulação contratual, são a regra.
Entretanto, há ainda os contratos solenes ou formais, ou seja,
aqueles que impõe determinado revestimento formal para a validade do
negócio jurídico. O maior exemplo de contrato solene são os contratos
constitutivos ou translativos de direitos reais sobre imóveis acima do valor
consignado em lei (arts. 108 e 1245 do CP).

1.2.2) Contratos Consensuais ou Reais:


Consensuais – Aqueles que se concretizam com a simples declaração
de vontade. São todos aqueles contratos não solenes; como compra e venda
de bem móvel, locação, parceria rural, mandato, transporte e emprego.
Reais – Aqueles que exigem entrega da coisa. São exemplos: o
comodato, o mútuo, o depósito e o penhor.

1.3) Classificação dos contratos quanto à pessoa do contratante:

1.3.1) Pessoais e impessoais:


Pessoais – São aqueles realizados intuitu personae, ou seja,
celebrado em função da pessoa do contratante, cujas características
particulares (habilidade, experiência, técnica, idoneidade etc) influem
decisivamente para o consentimento do outro, sendo de seu interesse que a
prestação seja cumprida por ele próprio. É caso do contrato de emprego ou
de prestação de serviços, em que se pactue uma obrigação de fazer
infungível. Os contratos pessoais são intransmissíveis, anuláveis na
hipótese de erro de pessoa (art. 139, II, do CC) e descumprimento nunca
admitirá prestação de terceiros em caso de descumprimento culposo.
Impessoais – Aqueles em que somente interessa o resultado da
atividade contratada, independente de quem seja a pessoa a realiza-la.

1.5.2) Individuais ou coletivos:


Individuais – aqueles firmados entre credor e devedor.
Coletivos – Há uma transubjetivização da avença, alcançando grupos
não individualizados, reunidos por uma relação jurídica ou de fato.
Normalmente, as cláusulas estipuladas no contrato coletivo têm força
normativa abstrata. Sua principal espécie é a convenção coletiva, e, na área
trabalhista, o acordo coletivo.
Obs: Individual plúrimos: Vários credores e vários devedor, unidos por
circunstância/fato que, de uma mesma forma, envolveu diversas pessoas.

→ Art. 117 – Autocontrato:


Um contrato que dos sujeitos é representado por outro com poderes
para celebrar contratos e que, em vez de pactuá-los, estipula-o consigo
próprio. Em regra não é permitido, salvo se a lei expressamente autorize ou
anua efetivamente.
O § único traz uma exceção: Mandato ou procuração, estando a
vontade de outrem presente no contrato.

1.4) Contratos Instantâneos e de Execução continuada:


Instantâneos – Contratos cujos efeitos são produzidos de uma vez só.
Execução continuada – são aqueles que se cumpre por meio de atos
reiterados, como, por exemplo, o contrato de prestação de serviços, compra
e venda a prazo e contrato de emprego.

1.5) Contratos Principais e Acessórios:


Principais – São aqueles que têm existência autônoma,
independentemente de outro (regra geral).
Acessórios – Contratos cuja existência pressupõe a de outro contratos,
a qual servem. É o caso típico da fiança, caução, penhor, hipoteca e
anticrese.
→ Desdobramentos:
a) A nulidade da obrigação principal acarretará a das
acessórias, porém a destas não implica a principal
(art. 184 do CC);
b) A prestação da obrigação principal implicará na
prestação das acessórias, mas a recíproca não é
verdadeira. Desse modo, a prescrição da pretensão
de direitos acessórios não atinge a do direito
principal.

1.6) Contratos Definitivos e Provisórias:


Os contratos preliminares, exceção em nosso ordenamento jurídico,
nada mais são do que negócios jurídicos que têm por finalidade justamente a
celebração de um contrato definitivo. Normalmente, é utilizado para contratos
definitivos grandes e complexos (arts. 462 a 466).

1.7) Contratos típicos e atípicos:


Típicos: Aqueles presentes no rol de contratos elencados pelo CC.
Atípicos: que não têm a tipicidade.

- Princípios contratuais:

1) Princípio da Autonomia Privada.


O princípio da autonomia privada decorre da seguinte “dupla liberdade
da pessoa:
- Liberdade de contratar (a plena liberdade para a celebração de
pactos e avenças com determinadas pessoas, à escolha do
agente. Advém da liberalidade, porém encontra limites no próprio
texto legal – ex: art. 497, que a veda a compra e venda de bens
confiados à administração em algumas situações;
- Liberdade contratual: É a autonomia do sujeito em estabelecer o
conteúdo do negócio jurídico. Encontra limites na função social dos
contratos.

→ Diversos autores, como Pablo Stolze, Rodolfo Pamplona e Flavio


Taturce defendem o uso da terminologia autonomia da vontade, e não
autonomia privada. Segundo o autor Francisco Amaral, a expressão
“autonomia privada marca o poder da vontade no direito de modo concreto
objetivo e real, tendo como norteador os princípios basilares do Direito Civil
Brasileiro: Eticidade, Operabilidade e Socialidade. Por outro lado, a
“autonomia da vontade” teria uma conotação subjetiva, psicológica, com um
forte caráter patrimonialista e individualista.

→ Limites: Normas de ordem pública: este conceito, que mais se


relaciona com a estabilidade ou segurança jurídica, atua na ausência de
normas imperativas, impondo a observância de princípios superiores, ligados
ao Direito, à Política e à Economia. É o caso do art. 2035, § único (função
social dos contratos) e do art. 1º do CDC (Se o juiz tomar conhecimento da
sua violação, pode tomar providências de ofício.
→ Dirigismo contratual: Na formação do contrato, muitas vezes,
percebe-se a imposição de cláusulas pela Lei ou pelo próprio Estado. Essa
ingerência estatal na contemporaneidade é o dirigismo contratual, com forte
influência da Common Law. Um exemplo do dirigismo contratual está
presente no CDC e no CC/02, que é a Nulidade Absoluta de cláusulas tidas
como abusivas.

→ Enunciado n. 23 CJF/STF: Aprovado na I Jornada de Direito Civil,


esse anunciado reforça a ideia de que a função social não elimina totalmente
a autonomia privada ou a liberdade contratual, mas apenas atenua ou reduz
o alcance desse princípio.

2) Princípio da Função Social do Contrato:


Tartuce define esse princípio como “princípio contratual, de ordem
pública, pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, visualizado e
interpretado de acordo com o contexto da socidade”. Desse modo, os
contratos não devem trazer onerosidade excessiva às partes contraentes,
garantindo que a igualdade entre elas seja respeitar e afastando-se o
enriquecimento sem causa.
Esse princípio é apresentado, primeiramente, pelo art. 421 e,
posteriormente, no art. 2035 do CC, que coloca o princípio da função social
como uma norma de ordem pública. Além disso, esse princípio tem ainda
caráter constitucional, pelo fato do art. 2035 comparar a função social do
contrato com a função social da propriedade, stricto sensu, presente no Art.
5º, XXXIV.
Além disso, Tartuce acredita que o art. 2035 consagra o princípio da
retroavidade motivada ou justificada. Como esse art. estabelece que, mesmo
contratos firmados antes do CC/02, cuja validade está mantida (plano de
existência e validade estão sujeitos ao antigo código), devem ter seus
efeitos submetidos ao Novo Código (plano de eficácia se submete ao novo
CC). Desse modo, como defende Luiz Edson Fachin, por se tratar de
princípio de ordem pública, com força constitucional, há a possibilidade de se
anular, judicialmente, negócio celebrado antes da vigência do CC atual, pela
presença da lesão à função social do contrato, desde que o contrato esteja
gerando efeitos na vigência do CC/02. A retroavidade atingiria somente as
cláusulas antissociais, visando a conservação dos negócios jurídicos.

→ Eficácia interna e externa dos Contratos: Esse princípio é dotado


de uma dupla eficácia: uma interna (relacionada às partes contratantes) e
uma externa (para além das partes contratantes).
A eficácia interna pode ser percebida no Enunciado n. 22 CFJ/STF,
que associa o princípio à conservação dos negócios jurídicos, que defende a
impossibilidade de extinção repentina do negócio, diante da função social do
contratos e dos demais princípios contratuais. Além disso, a eficácia interna
pode ser percebida: a) pela mitigação da força obrigatória do contrato; b) pela
proteção da parte vulnerável da relação contratual; c) pela vedação da
onerosidade excessiva; d) pela tendência de conservação contratual,
mantando a autonomia privada; e) pela proteção de direitos individuais
relativos à dignidade humana; f) pela nulidade de cláusulas contratuais
abusivas por violarem a função social.
Já a eficácia externa pode ser extraída das hipóteses em que um
contrato gera efeitos perante terceiros (tutela externa do crédito, nos termos
do enunciado n. 21 CJF/STF), bem como das situações em que uma conduta
de terceiro repercute no contrato.

3) Princípio da Boa-fé objetiva:


“Boa-fé é, antes de tudo, uma diretriz principiológica de fundo ético e
espectro eficacial jurídico. Vale dizer que a boa-fé se traduz em um princípio
de substrato moral, que ganhou contornos e matiz de natureza jurídica
cogente.

Boa-fé subjetiva: Uma situação psicológica, um estado de espírito ou


de ânimo do agente que realiza determinado ato ou vivencia dada situação,
sem ter ciência do vício que cometia. Esse estado subjetivo deriva do
reconhecimento da ignorância do agente, como ocorre na hipótese do
possuidor de boa-fé que desconhece o vício da posse que possui.
Boa-fé objetiva: Verdadeira regra de comportamento, de fundo ético e
exigibilidade jurídica. Esse princípio está no positivado no art. 422 do cc/02.

→ Funções da Boa-fé objetiva:


1) Função interpretativa ou colmatativa – Um referencial
hermenêutico dos mais seguros, para que se permita extrair
da norma o sentido moralmente mais recomendável e
socialmente mais útil. Essa função é extraída do art. 113 do
CC/02/
2) Função criadora – Reconhecimento de deveres anexos, a
saber: a) Lealdade e confiança recíproca (fidelidade aos
compromissos assumidos); b) assistência (dever de
cooperação entre as partes para o correto adimplemento); c)
de informação (comunicar à outra parte todas as
características e circunstâncias do negócio e do bem
jurídico); e) de sigilo ou confidencialidade.
3) Função delimitadora – Tem como função evitar o exercício
abusivo dos direitos subjetivos. Desse modo, por meio da
boa-fé objetiva, não se permite reconhecer legitimidade às
cláusulas abusivas ou leoninas. Está intimamente ligada à
teoria do Abuso de Direito (art. 187).
→ Desdobramentos da boa-fé objetiva:
1) Venire contra factum proprium: Vedação do comportamento
contraditório. Não é razoável admitir-se que uma pessoa pratique
determinado ato ou conjunto de atos e, em seguida, realiza
conduta inteiramente oposta, pois contraria a confiança gerada. A
conduta dos agente deve ser coerente.
Exemplo: art. 330 CC (um credor que aceita, durante execução de
trato sucessivo, lugar diverso do convencionado, não pode
surpreender o devedor com a com a exigência literal do
convencionado) e o art. 175 do CC/02 (contratante que inicia
negócio jurídico anulável, não pode mais invocar essa nulidade).
2) Supressio: Perda de um direito pela de seu exercício por
razoável lapso temporal. É diferente da prescrição, que se refere
à perda da própria pretensão de ir à juízo, enquanto a supressio se
caracteriza por ser um comportamento omissivo. Venire seria
gênero e supressio espécie, sendo que a última é caracteriza pelo
comportamento omissivo.
Exemplo: Uso da área comum por condomínio em regime de
exclusividade por período de tempo considerável, que implica a
supressão da pretensão da cobrança de aluguel pelo período de
uso.
3) Surrectio: Surgimento de um direito exigível pela prática reiterada
de determinada conduta. Seria uma outra face da supressio.
Exemplo: Art. 330 CC/02: Há tanto supressio do direito do credor
exigir o cumprimento do contrato, quando surrectio do dever exigir
que o contrato seja cumprido no novo lugar convencionado.
4) Tu quoque – Vêm da expressão latina “até tu, Brutus?”.
Comportamento que surpreende uma das partes negociais,
colocando-a em situação de injusta desvantagem.
Exemplos: Art. 180 CC (maior de dezesseis e menos de dezoito
anos não pode se eximir de uma obrigação que firmou omitindo
dolosamente sua idade); art. 476 (exceptio non adimpleti
contractus – num contrato sinalgmático, se uma parte não executa
sua prestação, não pode exigir contraprestação da outra).
5) Exceptio doli – Visa sancionar condutas em que o exercício do
direito tenha se dado de maneira dolosa. Formação de contratos já
com a intensão dolosa.
Exemplos: Art. 940 – aquele exigir cumprimento de dívida já paga,
no todo ou em parte ou pedir mais do que for devido, deverá, no
primeiro caso, pagar o dobro do que tiver cobrado, e, no segundo,
o equivalente do que dele exigir, salvo se houver prescrição.
6) Teoria do abuso de direito – Reconhece a função delimitadora
em casos de desequilíbrio no exercício jurídico.
7) Cláusula de Stoppel – Vedação do comportamento contraditório
nos Contratos Internacionais.

4) Princípio da Força Obrigatória do Contrato:


Pacta sunt servanda – os contratos têm caráter de lei entre as partes
(Orlando Gomes). Esse princípio confere segurança jurídica ao ordenamento
jurídico, visto que pretende garantir o cumprimentos dos contratos
estabelecidos entre as partes.
Se defende que o pacta sunt servanda não é um princípio absoluto:
deve ser sempre interpretado pela ótica da boa-fé objetiva, para que não se
torne um instrumento de opressão econômica. A aplicação da Teoria da
Imprevisão é um exemplo dessa mitigação da obrigatoriedade dos contratos.

5) Princípio da Relatividade subjetiva dos contratos:


Regra geral, os contratos só geram efetios entre as próprias partes
contratantes. Entretanto há exceções: a estipulação em favor de terceiro (art.
436 do CC/02) e contrato com pessoa a declarar (art. 467).
Relativização do princípio da relatividade subjetiva dos contratos:
Ocorre, por exemplo, com a constatação de violação de normas de ordem
pública e interesse social, como no caso de declaração de nulidade de
cláusula contratual abusiva, em atuação judicial do MP, na defesa dos
consumidores (CDC, art. 51, § 4º).

- Formação dos Contratos: Capítulo VI

1) Formação dos Contratos:


O nascimento de um contrato segue um verdadeiro iter ou processo de
formação, cujo início é caracterizado pelas negociações ou tentativas
preliminares, até que as partes cheguem a uma proposta definitiva, seguida
da imprescritível aceitação. Como a junção desses dois últimos elementos,
têm-se que o contrato estará formado.

2) Fase de pontuação (negociações preliminares):


Fase de negociação que precede a proposta, na qual as partes
discutem e compatibilizam seus interesses opostos (por exemplo, na compra
e venda, o vendedor quer vender pelo preço mais alto e o comprador
comprar pelo mais baixo), para, enfim, chegar a uma proposta final de
definitiva.
A característica básica dessa fase é a não vinculação das partes a
uma relação jurídica obrigacional. Entretanto, deve-se atentar para o fato
de as circunstâncias no caso concreto não gerarem uma legítima expectativa
de contratar, visto que essa fase também é abrangida pelo princípio da boa-
fé objetiva, portanto gerar danos indenizáveis.
Por fim, vale a pena ressaltar que essa fase não se confunde com os
contratos preliminares, que têm como objeto a obrigação de fazer um
contrato definitivo. Nesses casos, a comprovação da quebra de legítima
expectativa será mais facilmente provada.

3) Proposta de Contratar (art. 427 do CC/02):


Também denominada policitação, consiste na oferta de contratar que
uma parte faz a outra, com vistas à celebração do negócio.
Proponente/ofertante/policitante: Quem apresente a oferta.
Pode ser somente verbal, desde que a oferta seja séria e concreta.
De acordo com o art. 427, a proposta obriga o proponente, que não
poderá voltar atrás (princípio da vinculação ou da obrigatoriedade da
proposta), excetos nas seguintes hipóteses trazidas pelos arts. 427 e 428:
a) Se o contrário (não obrigatoriedade) não resultar dos termos dela
mesma – É o caso do proponente saliente que reserva o direito de
retratar-se ou arrepender-se de concluir tal negócio;
b) Se o contrário (não obrigatoriedade) resultar da natureza do
negócio – as chamadas propostas abertas ao público com estoque
limitados ou oferecimento de caronas, cujo limite é a
impossibilidade física de ser transportar mais pessoas;
c) Se o contrário não resultar das circunstâncias do caso – Cláusula
genérica, que confere liberdade ao juiz para aferir no caso concreto
a obrigatoriedade da proposta.
Obs: Contraproposta é nova proposta (art. 428).

3.1) Validade da proposta:


Presentes: são as pessoas que mantêm contato direto e simultâneo
uma com a outra, como negócios tratados pessoalmente ou que utilizam
meio de transmissão imediato de vontade (como telefone ou zap ou chats em
geral), tendo o aceitante tomando conhecimento quase que no mesmo
instante que ela é emitida.
Ausentes: São aquelas pessoas que não mantêm contato direito direto
e imediato entre si, como aquelas que se comunicam por carta, telegrama, ou
e-mail.

A partir desses definições e analisando o art. 428 do CC, têm-se as


seguintes hipóteses de perda de eficácia:
a) se, feita à prazo à pessoa presente, não foi imediatamente
aceita;
b) se, feita sem prazo à pessoa presente, tiver decorrido tempo
suficiente para a chegar a resposta ao conhecimento do
proponente;
c) se, feita à pessoa ausente, não tiver sido expedida a
resposta dentro do prazo dado;
d) se, antes da proposta, ou simultaneamente, chegar ao
conhecimento da outra parte a retratação do proponente.
Fora essas hipóteses trazidas pelos arts. 427 e 428, a
proposta obriga o proponente.

3.2) Oferta ao público:


Não se diferencia essencialmente das demais, caracterizando-se
apenas por se dirigir a um número indeterminado de pessoas. Uma das
diferenças é o art. 429 permite a revogação da proposta, se for feita pela
mesma via de divulgação, e desde que essa faculdade haja sido ressalvada
pela na própria oferta.

3.3) Consequências jurídicas da morte do proponente:


Se a proposta puder ser cumprida a posteriori, por não se referir à
prestação infungível (personalíssima), a sua obrigatoriedade perdurará,
refletindo-se nos bens componentes do espólio, desde que seja plenamente
válida.
Em caso de falência, se o proponente vier a falir antes da aceitação da
proposta, tendo em vista que não o privaria de contratar, é mantido o
contrato, ainda que não atinja a massa falida. Em caso de falência
superveniente, o proponente pode encontrar razão para revogar a proposta e
também pode o aceitante, se antever prejuízo ao negócio, poderá desligar-se
do contrato.

4) Aceitação:
Aceitação é a aquiescência a uma proposta formulada. Trata-se da
manifestação de vontade concordante do aceitante ou oblato, devendo ser
livre de vícios de consentimento e pressupõe a plena capacidade do olato.

Art. 431 – Se a aceitação for feita fora do prazo, com adições,


restrições ou modificações, importará em nova proposta. Desse modo, têm-
se que essas alterações implicam na conversão em contraproposta.

Art. 430 – Circunstância imprevista – À luz do princípio da boa-fé


objetiva, impõe ao proponente o dever de informar ao aceitante que a sua
manifestação de vontade chegou ao seu conhecimento tardiamente, sob
pena de, em se omitindo, vir a ser responsabilizado.

Art. 432 – Aceitação tácita – A aceitação pode ser expressa ou tácita.


A tácita ocorre caso não seja costume a aceitação expressa ou o proponente
a tiver dispensado.

5) Formação de contratos entre ausentes:


O Brasil adota a Teoria da agnição, que dispensa que a resposta
chegue ao conhecimento do proponente. Essa teoria se subdivide em duas:
a) Subteoria da expedição – considera formado o contrato no
momento em que a resposta é expedida;
b) Subteoria da recepção – Considera celebrado o negócio no
momento em que o proponente recebe a prospota.
O art. 434 acolhe, no caput, expressamente a teoria da expedição, ao
afirmar que os contratos se tornam perfeitos quando a resposta é expedida.
Entretanto, o inciso III do mesmo art., ao prever que não se reputa concluído
o contrato caso esse não chegue no prazo convencionado, e o inciso I (que
faz referência ao art. 433) permitir a retratação antes de a resposta chegar às
mãos do proponente, na realidade, o CC se filia à teoria da recepção.

6) Lugar da formação do contrato:


Art. 435 – o contrato reputa-se celebrado no lugar em que foi
proposto.
Ver obs do caderno.

- Capítulo VII: Das estipulações contratuais em relação a


Terceiros:

1) Introdução:
Em consonância com o Princípio da Relatividade Subjetiva dos Efeitos
dos Contratos, as relações contratuais devem efeitos somente entre as
partes. Nesse capítulo, analisaremos as exceções à essa regra.

2) Estipulação em favor de terceiro:


Ato de natureza essencialmente contratual, no qual uma parte
convenciona com o devedor que este deverá realizar determinada prestação
em benefício de outrem, alheio à relação jurídica-base.
Nessa relação contratual as partes são chamadas de estipulante
(aquele que estabelece a obrigação), promitente ou devedor (aquele que se
compromete a realiza, e terceiro ou beneficiário (destinatário final da
obrigação).

2.1) Efeitos:
O principal efeito desta modalidade especial de contratação é a
possibilidade de exigibilidade da obrigação tanto pelo estipulante tanto
quanto pelo terceiro (art. 436, § único). Entretanto, essa dupla possibilidade
de exigência somente é aceitável, caso o terceiro anua às condições e
normas do contrato.
Essa anuência, que deve ser expressa, permite que o terceiro tenha
direito de exigir a prestação. É o que se extrai da interpretação do art. 437,
que veda a exoneração do devedor pelo estipulante, caso seja deixado o
direito de reclamar a execução do contrato.
Art. 438 – A faculdade de substituir deve estar registrada
explicitamente no contrato, para que o terceiro não venha a ter seu direito
ofendido.

3) Promessa de fato de terceiro:


Um negócio jurídico em que a prestação acertada não é exigida do
estipulante, mas sim de um terceiro, estranho à relação jurídica obrigacional.
Para Stolze e Pamplona, é um negócio jurídico submetido a um fator
eficacial, que não limita o shuld (a relação obrigacional em si), mas sim a
haftung (a responsabilidade civil pelo descumprimento do contrato). Por não
participar da avença, o terceiro não é compelido a executar a prestação.

→ Nessa modalidade, os negócios jurídicos são válidos e eficazes para


vincular os sujeitos contratantes, mas não o terceiro. É por essa razão que o
art. 439 determina que aquele que tiver prometido fato de terceiro responderá
por perdas e danos, no caso de não execução.

→ Art. 440: Quando o terceiro se comprometer à prestação, a obrigação


será própria dele, eximindo o contratante de qualquer responsabilidade.

→ Art. 439, § único: Não haverá responsabilidade ao cônjuge do


promitente, no caso do primeiro não anuir pela obrigação e a depender do
regime de separação de bens (pois a responsabilidade recairia sobre
patrimônio de qualquer maneira, no caso de não anuência).

4) Contrato com pessoa a declarar:


Contrato no qual é inserida uma cláusula pro amico, que tem como
consequência a indicação de outra pessoa que substitua um dos contrates na
relação contratual, adquirindo os direitos e assumindo as obrigações dele
decorrentes. Caso não exercite a cláusula ou o indicado recuse a nomeação,
permanece o contrato somente eficaz entre os contratantes originário (art.
470).

→ Art. 468: O período para a comunicação da indicação do terceiro é


de 5 dias, se outro lapso não se estipulou.
§ único: A aceitação deve observar a mesma forma que as partes
usaram para o contrato (a aceitação do terceiro não pode ser tácita, se a
aceitação da proposta foi dada de maneira expressa).

→ Casos em que o contrato será eficaz apenas entre os


contratantes originários (arts. 470 e 471):
a) Se não houver indicação da pessoa, ou se o nomeado se
recusas a aceita-la;
b) Se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o
desconhecia no momento da aceitação;
c) Se a pessoa a nomear era incapaz ou insolvente no
momento da nomeação.

→ É diferente da cessão de crédito, pois, nesse caso, o cedente


transfere a sua própria posição contratual a um terceiro, que passará a
substituí-lo na obrigação originária. Enquanto no contrato com pessoa a
declarar, a faculdade da indicação já deve estar originariamente prevista no
contrato, na cessão não necessariamente é necessária estipulação prévia.
Cessão de débito.

- Vícios redibitórios: Capítulo XII

1) Introdução:
Tanto o vício redibitório quando a evicção são instituto jurídicos que
têm a finalidade de resguardar ou garantir o adquirente de determinada em
contratos translativos da posse ou da propriedade, inclusive doações
onerosas. No caso do vício redibitório, Flávio Tartuce defende que pode
recair tanto sobre os contratos comutativos quantos nos aleatórios, desde
que nesse último o vício seja sobre a quantidade não sobre a qualidade. Já
Rosenvald e Chaves discordam dessa visão: para eles só ocorre em
contratos comutativos.

2) Conceito e características:
São vícios ocultos que diminuem o valor ou prejudicam a utilização da
coisa recebida por força de um contrato comutativo (art. 441).
Vale ressaltar que o defeito deve acompanhar a coisa, quando da sua
tradição.
Stolze estabelece 3 características essenciais do vício redibitório:
a) existência de um contrato comutativo;
b) um defeito oculto existente no momento da tradição;
c) diminuição do valor econômico ou prejuízo à adequada utilização
da coisa.

3) Vícios Redibitórios X Erro com vício de consentimento:


O erro expressa uma equivocada representação da realidade, uma
visão não verdadeira a respeito do negócio, do seu objeto ou da pessoa com
que trava a relação jurídica. Portanto, está viciada a própria vontade do
agente, atuando no campo psíquico (subjetivo).
Já no vício redibitório, o agente não incorre em erro, pois recebe
exatamente aquilo que pretendia comprar. Portanto, não incide sobre o
psiquismo do agente, mas sim sobre a coisa, objetivamente considerada.

4) Consequências jurídicas da verificação de vícios redibitórios:


De acordo com o art. 442, em caso de verificação de vício redibitório,
há duas possibilidades que podem ocorrer:
a) ação redibitória – Rejeitar a coisa e redibir o contrato. Essa
ação tem como objeto o desfaziamento do contrato e a
devolução do preço pago, podendo inclusive pleitear perdas
e danos, caso haja culpa.
b) Ação estimatória ou “quanti minoris” – Reclamar o
abatimento do preço.
Ambas são ações edilícias, existindo entre elas uma relação de
alternatividade, ou um concurso de ações: o adquirente somente poderá
promover uma ou outra ação.

Art. 443 – Se o alienante conhecer o vício ou defeito oculto da coisa,


deve restituir o que receber com perdas e danos; caso não saiba, apenas
restituirá o valor recebido e as despesas do contrato. Esse art. guarda íntima
conexão com a boa-fé objetiva.

5) Prazo para a propositura das ações edilícias:


De acordo com o art. 445, os vícios redibitórios de fácil constatação
tem prazo decadencial de 30 dias para coisa móvel e um ano para coisa
imóvel, a partir da efetiva entrega. No caso de agente já estar com a posse
da coisas, os casos caem para a metade (alguém de posse de uma fazendo
na qualidade de arrendatário decide comprar a propriedade).
Já no caso de vício redibitório de difícil constatação, o prazo será
contado a partir do momento em que o adquirente tiver ciência do defeito, até
o prazo máximo de 180 dias, se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel.
Tartuce e Stolze estão filiados à essa teoria.
Entretanto, a doutrina é divergente: alguns acreditam que o vício terá
180 dias ou 1 ano para surgir, e, surgindo o vício, teria o agente 30 dias ou 1
ano para entrar com as ações cabíveis.

Obs: Garantia contratual X Garantia Legal:


Art. 446: esse art. prevê a suspensão do prazo de garantia legal,
enquanto estiver em curso a garantia contratual. Ao fim do prazo da garantia
contratual, terá o agente o prazo decadencial dado para a garantia genérica,
prevista pelo CDC para o caso de se verificar defeito no produto adquirido
(art. 26).
- Capítulo XIII: Evicção

1) Noções conceituais:
Evição é a perda pelo adquirente (evicto), da posse ou propriedade da
coisa transferida, por força de sentença judicial ou ato administrativo que que
reconheceu direito anterior de terceiro, denominado evictor. É uma garantia
do uso pacífico da coisa.
Participam da evicção de personagens fundamentais:
a) alienante;
b) adquirente (evicto); e
c) terceiro (evictor).
Caso o evicto venha a perder a coisa adquirida para o evictor, pode o
primeiro se voltar contra o alienante, para haver deste a justa compensação
pelo prejuízo previsto.

→ A evicção representa uma violação da boa-fé objetiva por conta da


inegável quebra de lealdade que deve pautar toda e qualquer relação
negocial. Desse modo, pressupõe que existe má-fé, diferente do vício
redibitório, no qual as circunstâncias subjetivas do agente não importam.

2) Requisitos:
Extrai-se do art. 447 que quem responde pelos riscos é o alienante.
Além disso, extraem-se 3 requisitos que devem ser conjugados:
a) Aquisição de um bem – Pode se dar de duas maneiras:
contratos onerosos (não estão incluídos contratos gratuitos
translativos de posse e propriedade de bens).
Também pode ser por aquisição em hasta pública → Como
o evicto que arremata o bem o faz para viabilizar que os
credores do devedor executado sejam satisfeitos, nesse
caso, esse devedor se beneficiou de um enriquecimento sem
causa, uma vez que propiciou o a hasta de um bem que de
fato não lhe pertencia. Desse modo, o evicto pode voltar-se
contra o devedor para exercer o direito da evicção que lhe
resulta.
Obs: Arken de Assis defende que não só devedor, como
também o Estado e, caso o devedor for insolvente, poderia o
arrematante voltar-se contra o credor-exequente. Stolze e
Tartuce discordam.
b) Perda de posse ou da propriedade – Basta que se perca a
posse daquilo que legitimamente se transferiu para o evicto
(independente de a sentença transitar em julgado) para
que este possa vale seu direito contra o alienate.
c) Prolação de sentença judicial ou execução de ato
administrativo – Tartuce não admite ato administrativo,
porém Rosenvald e Stolze sim, desde que esse ato
administrativo seja firme o bastante para implicas a efetiva
perda da posse ou propriedade (exemplos: apreensão
policial ou apreensão de produtos por fiscais da alfândega).

3) Direitos do evicto:
Art. 450 – Pretensão tipicamente indenizatória. Poderá pleitear,
salvo disposição em contrário, além da restituição integral do preço ou das
quantias que pagou:
a) Indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
b) Indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que
diretamente resultarem da evicção;
c) As custar judiciais e honorários advocatícios por ele constituído.
Art. 451 – A obrigação presente nesse artigo subsiste para o
alienante, ainda que a coisa esteja deteriorada, exceto se tiver havido dolo do
adquirente, dando causa à deterioração.
Art. 452 – Se o evicto já tiver sido compensado pelas deteriorações, o
alienante poderá deduzir o valor dessas vantagens da quantia que teria de
restituir-lhe.

4) Espécies de evicção: Total ou parcial:


Se a evicção for parcial (parte dos livros de uma biblioteca), poderá o
evicto optar entre a dissolução do contrato ou a restituição da parte do preço
correspondente ao desfalque sofrido. Se a evicção não for considerável, terá
direito apenas à indenização.

→ Prazo: o Código não estabelece. Apesar de semelhante às ações


edilícias, Stolze e Pamplona não veem com bons olhos fixação de prazos
decadenciais por analogia. Para os autores, o que se tem é uma pretensão,
portanto o portanto a ser considerado deve prescricional. Os autores não
acham correto, ainda, considerar o prazo de 10 anos, previsto no caput do
art. 205. Para Stolze e Pamplona, por se tratar de uma pretensão de
reparaçãoo civil, o prazo adequado seria de 3 anos, como consoante no art.
206, § 3º, V do CC/02.

5) Cláusula de não-evicção:
Art. 448 – Pode-se diminuir, aumentar ou até mesmo excluir a
cláusula de evicção dos contratos, desde que decorra de cláusula expressa.
Esse art. deve ser interpretado tendo em vista os seguintes arts:
- Art. 449 (exclusão convencional da garantia): Mesmo excluindo a
cláusula de evicção, o evicto tem o direito de receber pelo menos o
preço que pagou pela coisa evicta, caso não sabia do risco de
evicção;
- Art. 457 (exclusão legal da evicção) – se sabia que a coisa era
alheia ou litigiosa, é proibido o evicto de demandar pela evicção.
Desse modo, somente será totalmente exluída a evicção caso faça
constar no contrato a cláusula e dê ao adquirente a efetiva ciência
do risco de perda da coisa e de que assume esse risco.

6) Evicção e benfeitorias:
Art. 453 – As benfeitorias necessárias (realizada para evitar estrago
eminente ou a deterioração da coisa principal) e úteis (facilitam a utilização
da coisa) não pagas ao evicto, serão devidas pelo alienante.
Art. 454 – Caso as benfeitorias tenham sido feitas pelo alienantes,
essas serão deduzidas do valor a ser restituído por ele ao evicto.
O código não disciplina os casos de benfeitorias voluptuárias: quando
essas forem realizadas de boa-fé, e desde que não tenham sido pagas,
poderão ser removidas, sem detrimento da coisa. Caso não possam ser
removidas, o evicto as perderá em benefício do evictor.

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