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UNIDADE I

Contratos Civis e
Empresariais

Profa. Ma. Priscila Zinczynszyn


1 Contratos civis: Teoria geral

1.1 Importância do contrato:

 O contrato é uma fonte de obrigações;

 Os contratos e as declarações unilaterais da vontade geram as obrigações que vinculam as


pessoas que se manifestam validamente, realizando o negócio jurídico. A lei confere validade
e força obrigatória às manifestações de vontade que preenchem os requisitos previstos no
ordenamento jurídico;

 A vontade é uma das fontes de obrigação, que se manifesta


em negócios jurídicos unilaterais ou bilaterais. Os contratos,
por sua vez, são negócios jurídicos bilaterais.
1 Contratos civis: Teoria geral

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 A fonte de obrigações imediata é a vontade, mas, indiretamente, é a lei que determina que
sejam cumpridos os contratos.
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 O cumprimento dos contratos confere segurança à sociedade, de modo que o Estado deve
cuidar para que as obrigações sejam, efetivamente, cumpridas. A lei proporciona a
segurança jurídica ao determinar que há sanções para o inadimplemento contratual. Assim,
as partes se sentem motivadas e firmam os contratos que atendem aos interesses sociais,
cientes e certas de que o pacto será cumprido.

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1.2 Conceito de contrato:

 Ao se afirmar que o contrato é um negócio jurídico bilateral, tem-se que o contrato é uma
espécie de fato jurídico, decorrente da atividade humana, portanto, lícito, em conformidade
com a lei e capaz de criar, modificar, transferir ou extinguir os direitos. O contrato envolve, ao
menos, dois centros de interesse;

 Portanto, podemos dizer que o contrato depende de, ao menos, dois consentimentos, que,
normalmente, são antagônicos e se harmonizam através da relação contratual;

 O contrato não se restringe às relações civis ou empresariais.


É bem mais abrangente. Estende-se a outros ramos do Direito
Privado, além do Direito Patrimonial, Civil, das Obrigações
(Direito Empresarial, Trabalhista), e ao Direito Público.
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1.3 Elementos constitutivos e pressupostos de validade do contrato:

 Os elementos constitutivos do contrato não estão previstos em lei, são estabelecidos pela
doutrina e pela jurisprudência. Esses elementos são pressupostos essenciais, pois a falta
deles acarreta a consequência da declaração de ato inexistente;

 A lei não menciona o ato inexistente, restringindo-se à nulidade absoluta ou relativa do


negócio jurídico;

 Mas a ausência de elemento constitutivo leva à doutrina e a


jurisprudência à defesa da tese de ato inexistente, que pode,
assim, ser declarado de ofício pelo juiz, em ação de
qualquer natureza.
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Os elementos constitutivos do contrato (e dos demais negócios jurídicos) são:

Elementos constitutivos do contrato. Fonte: livro-texto.


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Todo contrato deve obedecer aos pressupostos de validade que estão estabelecidos no Art.
104 do Código Civil (CC):

Objeto (lícito, Obediência à


Partes possível,
capazes determinado ou forma (quando
determinável) prescrita em lei)

Pressupostos de validade do contrato. Fonte: livro-texto.


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 A falta de um pressuposto de validade leva à nulidade absoluta do contrato.

 A única hipótese de nulidade relativa, em caso de falta de requisito de validade, é a situação


de incapacidade relativa do agente – se um dos contratantes é, relativamente, incapaz, o
contrato não é nulo, mas anulável.

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1.4 Partes no contrato:

 Em toda relação contratual existem dois polos. Veja no caso da compra e da venda: em um
polo está o vendedor; e, no outro polo, o comprador;

 Mas pode haver mais de uma pessoa em cada polo.

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1.5 Princípios do Direito Contratual:

1.5.1 Função social do contrato:


 O Art. 421 do CC estabelece que a liberdade de contratar será exercida em razão e nos
limites da função social do contrato;

 Como corolário disso, há a tentativa de manter o contrato, com o entendimento de que a sua
anulação é prejudicial, não somente para as partes, mas também para os terceiros, os
investidores e toda a sociedade.
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1.5.2 Obrigatoriedade dos contratos:


 Uma vez ultimado, o contrato liga as partes contratantes, estabelecendo entre elas um
vínculo obrigacional.

1.5.3 Autonomia da vontade:


 O princípio da autonomia da vontade se desdobra em dois outros: o princípio da liberdade de
contratar ou não contratar; e o princípio da liberdade de contratar aquilo que entender.

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1.5.4 Relatividade das convenções:


 Os efeitos dos contratos só se manifestam entre as partes; via de regra, não trazem nem
vantagens nem prejuízos a terceiros.

1.5.5 Boa-fé:
 A boa-fé é um conceito ético: todos devem proceder com correção, dignidade, honestidade,
boa intenção, com o propósito de não prejudicar ninguém.

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Interatividade

Assinale a alternativa incorreta:


a) O contrato é uma espécie de fato jurídico, decorrente da atividade humana e, portanto,
lícito, em conformidade com a lei e capaz de criar, modificar, transferir ou extinguir
os direitos.
b) Os elementos constitutivos do contrato são: vontade, declaração e idoneidade do objeto.
c) Em toda relação contratual existem dois polos.
d) O princípio da autonomia da vontade se desdobra em dois outros: o princípio da liberdade
de contratar ou não contratar.
e) Os efeitos dos contratos não se manifestam, somente, entre as partes.

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Resposta

Assinale a alternativa incorreta:


a) O contrato é uma espécie de fato jurídico, decorrente da atividade humana e, portanto,
lícito, em conformidade com a lei e capaz de criar, modificar, transferir ou extinguir
os direitos.
b) Os elementos constitutivos do contrato são: vontade, declaração e idoneidade do objeto.
c) Em toda relação contratual existem dois polos.
d) O princípio da autonomia da vontade se desdobra em dois outros: o princípio da liberdade
de contratar ou não contratar.
e) Os efeitos dos contratos não se manifestam, somente, entre as partes.
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1.6 Evolução do Direito Contratual:

 Com a evolução do Direito Contratual, no século XX, dois princípios se tornaram menos
rígidos: o princípio da autonomia da vontade e o da obrigatoriedade dos contratos. Isso
porque surgem novos anseios e preocupações, não atendidos no auge do capitalismo;

 O princípio da autonomia da vontade se atenua pela supremacia da ordem pública – o


sistema contratual é flexível, tolera a intervenção do Estado, o que diminui a autonomia
da vontade.
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 A evolução também limita o princípio da obrigatoriedade dos contratos. Antes, o contrato


vinculava as partes e só se desfazia por distrato ou impossibilidade da prestação, por caso
fortuito ou força maior. Hoje, temos a teoria da imprevisão, de que trataremos adiante, para
proteger uma das partes diante de um fato superveniente que possa onerar,
excessivamente, um dos contratantes.

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1.7 Classificações contratuais:

Quanto à natureza:
a) Unilaterais e bilaterais;
b) Onerosos e gratuitos;
c) Comutativos e aleatórios.

Quanto ao modo de aperfeiçoamento:


a) Consensuais e reais;
b) Solenes e não solenes.
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Quanto ao fato de a lei prever as regras e o nome desses contratos:


a) Nominados;
b) Inominados.

Quanto à posição de um em relação ao outro:


a) Acessórios;
b) Principais.

Quanto à execução:
a) De execução instantânea;
b) De execução diferida no futuro.
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Quanto ao objeto:
a) Definitivos;
b) Preliminares.

Quanto à formação:
a) Paritários;
b) De adesão.
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1.7.1 Contratos comutativos e aleatórios:

 Os contratos comutativos são aqueles em que as partes podem prever, no momento em que
se aperfeiçoam as prestações envolvidas, que oneram as duas partes contratantes;

 Aleatório é o contrato em que, pelo menos, uma das partes não sabe a prestação que
receberá ou desconhece a quantidade da prestação, ou, ainda, a sua própria existência –
não sabe se haverá ou não a contraprestação em troca da que fornece.

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1.7.2 Contratos unilaterais e bilaterais (sinalagmáticos):

 O negócio jurídico unilateral não é um contrato, é mais uma espécie de vontade como fonte
de obrigação, porém, não envolve dois centros de interesse;

 Temos uma ou mais pessoas, mas um centro de interesse apenas como na


promessa de recompensa;

 Já os contratos que geram as obrigações


correspectivas, recíprocas, são chamados de
contratos bilaterais ou sinalagmáticos.
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1.7.3 Propósito da distinção de contratos unilaterais e bilaterais:

 No contrato bilateral, a prestação de uma parte tem como causa e razão de ser (nexo lógico)
a prestação da outra parte (há reciprocidade). Veja que cada parte é, ao mesmo tempo,
credora e devedora uma da outra, e a reciprocidade é a característica dessa espécie
de negócio;

 No contrato unilateral, é mais simples: uma parte é credora e a outra é devedora, embora
haja duas partes e duas declarações de vontade.
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1.7.4 Contratos paritários e contratos de adesão:

 No contrato paritário, há uma fase em que se debatem as cláusulas e as partes em pé de


igualdade discutem os termos do negócio;

 No contrato de adesão, todas as cláusulas são, previamente, formuladas por uma das
partes, e a mais fraca, necessitando contratar, não debate as condições, nem propõe as
modificações, aceitando tudo em bloco ou recusando por inteiro. Não há a fase inicial
de debates e transigência.

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1.7.5 Contratos onerosos e gratuitos:

 Contrato a título oneroso é aquele em que uma das partes sofre o sacrifício patrimonial, ao
qual corresponde uma vantagem que pleiteia;

 Contrato a título gratuito é aquele em que somente uma das partes sofre um sacrifício
patrimonial, enquanto a outra apenas obtém um benefício.
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1.7.6 Contratos consensuais e reais:

 Os contratos consensuais se ultimam pelo mero consentimento das partes, sem a


necessidade de qualquer outro complemento. Exemplos: compra e venda, ou contrato
de transporte;

 Os contratos reais dependem, para o seu aperfeiçoamento (para considerá-los prontos e


acabados), da entrega da coisa, feita por um contratante ao outro. Exemplos: comodato,
mútuo, depósito.

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1.7.7 Contratos solenes e não solenes:

 Os contratos solenes dependem de forma prescrita em lei (têm forma prescrita em lei e
devem cumpri-la, sob pena de nulidade);

 Os contratos não solenes são os de forma livre. Em regra, a forma dos atos jurídicos
é livre, mas se a lei considera a forma como da substância do ato, o ato só vale se
respeitada a forma.

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1.7.8 Contratos nominados e inominados:

 Contratos nominados ou típicos são aqueles que a lei prevê, dá denominação própria e
disciplina (sem, necessariamente, exigir uma forma solene);

 Contratos inominados e atípicos são aqueles que a lei não disciplina, expressamente, mas
que são permitidos, se lícitos, pelo princípio da autonomia privada.
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1.7.9 Contratos principais e acessórios:

 Contratos principais são aqueles cuja existência independe da existência de qualquer outro;

 Contratos acessórios existem em função do principal e surgem para lhe garantir a execução.

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 O acessório segue o principal.


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1.7.10 Contrato de execução instantânea e de execução diferida no futuro


(contratos sucessivos):

 Contratos de execução instantânea se cumprem por execução efetuada pelas partes


em um só momento;

 Nos contratos de execução diferida no futuro (contratos sucessivos), uma das partes, ou
ambas, deve cumprir a sua obrigação em um tempo futuro, pela natureza do contrato, que
enseja as prestações futuras e periódicas.
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1.7.11 Contratos preliminares e definitivos:

 Contrato definitivo tem por objeto criar, para os contratantes, vários tipos de obrigações,
variando o objeto de acordo com a espécie de contrato: compra e venda, locação etc.;

 Contrato preliminar (pactum de contrahendo) é uma espécie de convenção cujo objeto é,


sempre, o mesmo: a realização de um contrato definitivo, obrigatório. O contrato preliminar é
o que se dirige à conclusão de outro (futuro) entre as mesmas partes. Exemplo: promessa de
compra e venda, que tem por objeto o contrato definitivo de compra e venda.
Interatividade

Assinale a alternativa correta:

a) O contrato de adesão não se contrapõe ao chamado contrato paritário.


b) Contrato a título oneroso é aquele em que somente uma das partes sofre um sacrifício.
c) Os contratos consensuais se ultimam pelo mero consentimento das partes, sem a
necessidade de qualquer outro complemento.
d) Em regra, a forma dos atos jurídicos não é livre.
e) O acessório não segue o principal.

Fonte: https://sid-
inico.usal.es/noticias/el-
congreso-preve-aprobar-la-
reforma-de-la-ley-general-
de-discapacidad-para-
regular-la-accesibilidad-
cognitiva/
Resposta

Assinale a alternativa correta:

a) O contrato de adesão não se contrapõe ao chamado contrato paritário.


b) Contrato a título oneroso é aquele em que somente uma das partes sofre um sacrifício.
c) Os contratos consensuais se ultimam pelo mero consentimento das partes, sem a
necessidade de qualquer outro complemento.
d) Em regra, a forma dos atos jurídicos não é livre.
e) O acessório não segue o principal.
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1.8 Interpretação dos contratos civis:

 A interpretação da lei serve para esclarecer o exato sentido da norma;

 O contrato é um ato jurídico, forma-se por vontade das partes e, para descobrir o exato
sentido de uma disposição contratual, é preciso verificar a intenção comum dos contratantes
– a intenção é a finalidade da interpretação. Conforme o Art. 112 do CC, nas declarações de
vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido
literal da linguagem.

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 Note que a interpretação do contrato é mais difícil que a interpretação da lei.

 A interpretação da lei envolve eliminar as dúvidas e as ambiguidades. O exame da lei


é objetivo.

 A interpretação do contrato envolve esclarecer a vontade concreta das partes.


O exame do contrato é objetivo (exame do contrato) e subjetivo (exame da
intenção comum dos contratantes).
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Vejamos alguns casos de regras de caráter objetivo:


a) Quando a cláusula tem duplo sentido, deve-se interpretá-la de modo que possa gerar
algum efeito, e não nenhum;
b) As cláusulas ambíguas se interpretam de acordo com o costume do lugar em
que foram estipuladas;
c) As expressões com mais de um sentido, em caso de dúvida, se interpretam da maneira
mais conforme à natureza e ao objeto do contrato;
d) As cláusulas das condições gerais do contrato, impressas ou formuladas por um dos
contratantes, interpretam-se, na dúvida, a favor do outro (contra quem as redigiu).
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Conforme leciona Alexandre Cortez Fernandes (2011), a interpretação objetiva deve ser regida
por três princípios:

a) Boa-fé;
b) Conservação do contrato;
c) Equilíbrio das prestações contratuais.

 Na interpretação dos contratos civis, os princípios da boa-fé e


da função social servem de substratos necessários à
atividade interpretativa, além dos deveres anexos ao contrato
(confiança, cooperação).
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 Em um contrato de adesão, se há um conflito entre a cláusula impressa e digitada, prevalece


a digitada, pois o contratante que não redigiu o contrato, presume-se, prestou mais atenção
à cláusula digitada ou manuscrita do que à cláusula impressa.

 No contrato gratuito, a interpretação é restritiva, fazendo-a o


menos pesada possível para o devedor (doador, por
exemplo); e nos onerosos, interpreta-se para alcançar um
equilíbrio entre os interesses das partes.
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1.8.1 Manifestação de vontade:

 A exteriorização de vontade é o elemento medular dos contratos. Uma vez que o contrato é
um ato bilateral, só se aperfeiçoa com a manifestação de vontade dos contratantes. A
manifestação se externa por uma declaração expressa ou tácita;

 A manifestação de vontade é expressa quando se revela através do propósito deliberado, de


uma das partes, de externar o seu pensamento em determinado sentido – pode ser por uma
palavra escrita ou oral, e pode ser por gestos;

 O consentimento é tácito quando provém de atos do agente


incompatíveis com a decisão contrária.
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1.8.2 Silêncio nas relações contratuais:

 O silêncio não é nem uma afirmação e nem uma negação, não podendo ser considerado
como manifestação tácita do querer;

 Não se pode dizer no direito “quem cala consente”, pois quem cala não diz coisa alguma;

 Excepcionalmente, o silêncio é visto como aceitação,


vinculando, em vista de circunstâncias especiais (é o silêncio
circunstanciado ou qualificado). Isso se dá quando a lei, a
vontade das partes ou o comportamento passado dos
contratantes (costumes, circunstâncias) houver estabelecido
o dever de uma recusa expressa de oferta, sob pena
de aceitação.
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1.8.3 Formação dos contratos e as negociações preliminares:

 O contrato se forma pelo encontro concordante de duas declarações receptícias (a


declaração é receptícia quando dirigida às pessoas, diretamente, interessadas). As
declarações devem ser dirigidas, diretamente, aos interessados;

 Proposta e aceitação são declarações receptícias de vontade; só produzem efeitos quando


são conhecidas pela pessoa a quem se dirigem;

 A proposta emana do proponente (policitante) e é aceita pela


pessoa a quem foi dirigida (oblato).
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1.8.4 Proposta:

 A proposta é a oferta dos termos de um negócio, convidando a outra parte a concordar com
eles. É um ato jurídico unilateral, através do qual o policitante convida o oblato a contratar,
apresentando os termos em que se dispõe a fazê-lo.

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1.8.5 Aceitação:

 Aceitação é a formulação da vontade concordante do oblato, dentro do prazo e com a


adesão integral à proposta recebida.

Os requisitos da aceitação consistem em:


a) Que se formulem dentro do prazo concedido na oferta;
b) Que correspondam a uma adesão integral à proposta.
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1.9 Lugar em que se reputa celebrado o contrato:

 De acordo com o Art. 435 do CC, reputa-se celebrado o contrato no lugar onde foi proposto.
É um fato importante para saber qual é o foro competente (quando se estabelece o foro de
eleição, dizendo que o foro será o lugar em que se celebrou o contrato) e, no Direito
Internacional, qual a lei aplicável.

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1.10 Contratos dependentes de um instrumento público:

 A regra geral é a forma livre: os contratos se aperfeiçoam pela mera troca


de consentimentos;

 Ocorre que os contratos solenes dependem de uma forma imposta em lei.


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1.11 Distrato e quitação:

 Distrato é o acordo entre as partes para extinguir o vínculo obrigacional estabelecido


pelo contrato;

 A quitação é uma das formas de comprovar o cumprimento de obrigação.


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1.12 Estipulações em favor de terceiro:

 Estipulação em favor de terceiro é o ajuste entre as duas partes em que se estipula que a
vantagem, dele decorrente, reverterá em benefício de terceiro, estranho à convenção e nela
não representado.

Nessa relação jurídica, há três figurantes:


a) O estipulante (que obtém do promitente a promessa em favor do beneficiário);
b) O promitente (devedor);
c) O beneficiário (terceiro).

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1.13 Promessa de fato de terceiro:

 A promessa de fato de terceiro não é ilícita. Ocorre que o terceiro só se vincula pela vontade,
pela lei ou pelo ato ilícito. Por isso, aquele que promete o fato de um terceiro (o promitente)
se obriga a uma prestação de fazer, ou seja, obter a anuência de terceiro, sob pena de
responder perante o outro contratante por perdas e danos.
Interatividade

Assinale a alternativa incorreta:


a) A proposta é a oferta dos termos de um negócio, convidando a outra parte a concordar
com eles.
b) Aceitação é a formulação da vontade concordante do oblato, dentro do prazo e com a adesão
integral à proposta recebida.
c) De acordo com o Art. 435 do CC, reputa-se celebrado o contrato no lugar onde
foi proposto.
d) Distrato é o acordo entre as partes para extinguir o vínculo obrigacional estabelecido
pelo contrato.
e) Na estipulação em favor de terceiro, este só se vincula pela vontade, pela lei ou pelo ato ilícito.
Resposta

Assinale a alternativa incorreta:


a) A proposta é a oferta dos termos de um negócio, convidando a outra parte a concordar
com eles.
b) Aceitação é a formulação da vontade concordante do oblato, dentro do prazo e com a adesão
integral à proposta recebida.
c) De acordo com o Art. 435 do CC, reputa-se celebrado o contrato no lugar onde
foi proposto.
d) Distrato é o acordo entre as partes para extinguir o vínculo obrigacional estabelecido
pelo contrato.
e) Na estipulação em favor de terceiro, este só se vincula pela vontade, pela lei ou pelo ato ilícito.
2 Vícios, evicção e análise de contratos aleatórios, preliminares e registro

2.1 Vícios redibitórios:

 Chama-se de vício redibitório o defeito oculto, substancial, não comum às coisas do mesmo
gênero, existente no momento do contrato, mas não perceptível em um exame superficial,
que dá ao adquirente no contrato comutativo o direito de ação em face do alienante.
2 Vícios, evicção e análise de contratos aleatórios, preliminares e registro

2.1.1 Distinção entre o vício redibitório e o inadimplemento contratual:

 Tanto no vício redibitório quanto no inadimplemento contratual, o negócio pode se


resolver, mas no primeiro, o contrato é cumprido de maneira imperfeita, enquanto no
segundo ele é descumprido.

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2 Vícios, evicção e análise de contratos aleatórios, preliminares e registro

2.1.2 Distinção entre o vício redibitório e o erro essencial:

 No vício redibitório, o defeito é oculto e só aparece na mercadoria que é objeto do negócio


realizado (a título oneroso), não aparece nos congêneres;

 Na hipótese de um erro substancial sobre o objeto da declaração ou qualidade a ele


essencial, a coisa objeto da declaração é outra, diferente da que o declarante tinha em
mente ou, pelo menos, lhe falta uma qualidade importante com a qual o adquirente contava.
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2.1.3 Fundamento jurídico do vício redibitório:

 Conforme o Art. 443 do CC, se o alienante conhecia o vício ou o defeito da coisa, restituirá o
que recebeu com as perdas e os danos; se não o conhecia, restituirá o valor recebido, mais
as despesas do contrato;

 A ignorância do vício não exime o alienante de sua responsabilidade, mas a má-fé o obriga
ao pagamento das perdas e dos danos.
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2.1.4 Requisitos caracterizadores do vício redibitório:

 O defeito deve prejudicar o uso da coisa ou diminuir-lhe, sensivelmente, o valor. Assim, o


prejuízo deve ser relevante, pois, se o vício for pequeno, a lei despreza as reclamações do
adquirente, negando-lhe a possibilidade de resolver o negócio ou de pedir o abate do preço;

 O defeito deve ser oculto;

 O defeito deve existir no momento do contrato.


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2.1.5 Ações para a defesa contra os vícios redibitórios:

Ação redibitória:

 A ação redibitória é para o adquirente que pretende enjeitar a coisa defeituosa, por ele
recebida em virtude de um contrato comutativo. Com tal ação, o autor aponta o defeito,
manifesta a sua vontade de devolver a coisa e reclama a devolução da importância paga,
bem como das despesas do contrato. Só pode pedir as perdas e os danos, se alegar e
provar que o alienante conhecia o defeito da coisa (CC, Art. 443).

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2 Vícios, evicção e análise de contratos aleatórios, preliminares e registro

Ação quanti minoris:

 Nessa ação, o adquirente, em vez de enjeitar a coisa redibindo o contrato, reclama


apenas o abatimento do preço, em virtude de o defeito de que aquela é portadora
diminuir-lhe consideravelmente o valor.
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2.2 Evicção:

 Evicção é a perda, total ou parcial, por sentença judicial ou força policial, de um bem
adquirido onerosamente, em favor de terceiro, que demonstra ser o verdadeiro dono.

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2.2.1 Condições para configurar a responsabilidade pela evicção:

As condições para que a responsabilidade pela evicção se configure são:

a) Onerosidade da aquisição;
b) Sentença judicial ou poder de polícia.
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2.2.2 Reforço, redução e exclusão da responsabilidade pela evicção:

 A garantia pela evicção é a decorrência natural da compra e venda, e de todos os contratos,


que podem decorrer de uma transferência onerosa de domínio ou de posse. Tal garantia não
depende, então, de uma cláusula expressa. O alienante não só transfere a coisa, mas,
também, garante o seu uso pacífico. A lei permite que se reforce, diminua ou exclua
essa responsabilidade.
2 Vícios, evicção e análise de contratos aleatórios, preliminares e registro

2.2.3 Montante da prestação devida ao evicto:

“Art. 450. Salvo estipulação em contrário, tem direito o evicto, além da restituição integral do
preço ou das quantias que pagou:
I. À indenização dos frutos que tiver sido obrigado a restituir;
II. À indenização pelas despesas dos contratos e pelos prejuízos que, diretamente,
resultarem da evicção;
III. Às custas judiciais e aos honorários do advogado por ele constituído”.

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2.3 Contrato com a pessoa a declarar:

 O contratante pode se reservar o direito de fazer figurar outra pessoa em sua posição
contratual. Ele negocia em seu próprio nome, mas se reserva o direito de indicar outro sujeito
para figurar como parte contratual, que pode ser denominado de contraente in eligendo. Isso
é comum em um compromisso de compra e venda de imóvel. O promissário comprador pode
se atribuir a faculdade de indicar um terceiro para figurar na escritura definitiva. Pode ocorrer
em qualquer contrato, mormente os contratos onerosos.
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2.4 Contratos aleatórios:

 Aleatório é o contrato em que uma pessoa promete e a outra aceita a esperança de uma
vantagem incerta;

 No contrato aleatório, o montante da prestação de uma ou de ambas as partes não pode ser,
desde logo, previsto, por depender de um risco futuro capaz de provocar a sua variação.

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2.4.1 Vendas aleatórias:

Emptio spei:

 No contrato emptio spei, o risco, a álea, diz respeito à existência da contraprestação.


O adquirente compra o risco de as coisas adquiridas virem, ou não, a existir. Por exemplo,
quem adquire a safra futura de um fazendeiro assumindo o risco de nada receber, se o
vendedor nada colher.
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Emptio rei speratae:

 No contrato emptio rei speratae, a álea se refere à quantidade maior ou menor da prestação,
e não mais à sua existência;

 Nesse caso, se o adquirente assumiu a álea, o alienante tem o direito ao preço integral,
desde que não haja concorrido com culpa, ainda que a coisa venha a existir em uma
quantidade ínfima;

 Deve ocorrer a existência (em qualquer quantidade).


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Vendas aleatórias de coisas já existentes e expostas ao risco:

 Se o adquirente assume tal risco, o alienante tem o direito ao preço integral, ainda que a
coisa não mais exista ao dia do contrato;

 Um exemplo é o caso de mercadoria embarcada que é vendida, e o adquirente assume o


risco de ela chegar, ou não, ao seu destino. Mesmo que a mercadoria tenha perecido na
ocasião do contrato, a venda é válida e o vendedor tem direito ao preço.
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2.5 Contrato preliminar e a sua execução específica:

 O contrato preliminar tem como objetivo o contrato definitivo.

Fonte: esta foto de autor


desconhecido está
licenciada em CC BY-ND.
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2.5.1 Regras sobre o contrato preliminar e o registro:

 Exceto quanto à forma, o contrato preliminar, para ser válido, deve conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado (CC, Art. 462);

 Requisitos essenciais são os elementares a um contrato, sem os quais o contrato não se


concebe. Por exemplo, na compra e venda são elementos: a coisa, o preço e o acordo;

 A forma é livre. Para a compra e a venda de um imóvel de


valor elevado, deve haver a escritura pública (CC, Art. 108),
mas para o contrato preliminar, a escritura pública
é dispensável.
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2.5.2 Registro do compromisso de compra e venda de bem imóvel:

 O registro não é obrigatório para que o compromissário comprador exija, através de uma
ação de adjudicação compulsória, a atribuição de propriedade do bem imóvel pelo
qual pagou;

 A execução específica da obrigação de fazer, que consiste em declarar a vontade, é um


direito do compromissário comprador que cumpriu com a sua parte no contrato;

 Ocorre que, sem o registro, o risco é de haver um terceiro de


boa-fé que adquiriu o mesmo imóvel. Nesse caso, sem o
registro, o terceiro de boa-fé não tem como saber da
existência do contrato preliminar, porque não houve a
publicidade, somente, alcançada com o registro do
compromisso no cartório de registro imobiliário do
foro em que se situa o imóvel.
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 Para maior segurança, portanto, o registro e a inexistência de uma cláusula de


arrependimento evitam que terceiro de boa-fé atravesse o negócio. Antes, o compromisso de
compra e venda de imóveis só gerava o direito pessoal (o inadimplemento da obrigação de
fazer gerava, somente, a obrigação de reparar por perdas e danos).

 O comprador pode exigir a escritura; por isso, o compromisso é uma forma de aquisição
de direito real (previsto no rol do Art. 1.225 do CC). Esse direito real, que confere a
oponibilidade em face de todos, o direito de defesa em face de terceiros, é que
depende de registro e da inexistência de direito de arrependimento no compromisso
(no contrato preliminar).
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2.6 Extinção dos contratos:

 O natural é que as obrigações decorrentes do contrato se extingam pelo cumprimento,


através do adimplemento direto, do pagamento.

Fonte: esta foto de autor desconhecido está licenciada em CC BY-SA-NC.


Interatividade

Assinale a alternativa correta no que tange às vendas aleatórias:

a) No contrato emptio spei, o risco, a álea, diz respeito à existência da contraprestação.


b) No contrato emptio rei speratae, a álea não se refere à quantidade.
c) Nas vendas aleatórias de coisas já existentes e expostas ao risco, se o adquirente assume
tal risco, o alienante não tem o direito ao preço integral.
d) Na venda de coisa futura, a álea não é sobre a existência da coisa.
e) No contrato emptio spei, o adquirente não compra o risco de as coisas adquiridas não
virem a existir.
Resposta

Assinale a alternativa correta no que tange às vendas aleatórias:

a) No contrato emptio spei, o risco, a álea, diz respeito à existência da contraprestação.


b) No contrato emptio rei speratae, a álea não se refere à quantidade.
c) Nas vendas aleatórias de coisas já existentes e expostas ao risco, se o adquirente assume
tal risco, o alienante não tem o direito ao preço integral.
d) Na venda de coisa futura, a álea não é sobre a existência da coisa.
e) No contrato emptio spei, o adquirente não compra o risco de as coisas adquiridas não
virem a existir.
Referências

 FERNANDES, A. C. Direito civil: direitos reais. Caxias do Sul/RS: Educs, 2011.


ATÉ A PRÓXIMA!

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