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Curso: Direito

Turma: 4º Semestre
Disciplina: Direito Civil – Contratos
Professor (a): Livia Neiva
Data de entrega: 17/03/2023
Rafaela Marques Angeloti

Atividade: Pesquisa sobre Princípios Contratuais no código civil

O direito civil apresenta seis princípios contratuais importantes:

1. Princípio da autonomia privada;


2. Princípio do consensualismo;
3. Princípio da função social do contrato;
4. Princípio da força obrigatória do contrato;
5. Princípio da boa-fé objetiva;
6. Princípio da relatividade dos efeitos do contrato.

Princípio da Autonomia Privada

É o direito que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses.

Aqui, é importante observar que o termo “autonomia da vontade” vem sem


abandonado em prol do termo “autonomia privada.

Isso porque a expressão “autonomia da vontade” é mais precisa.

A doutrina aponta como fundamento dessa substituição o seguinte:

1. Crise da vontade (hoje, não se expressa a vontade de igual para igual


como antigamente);
2. Prevalência dos contratos de adesão (na sociedade atual, os contratos
de adesão são maioria);
3. Dirigismo contratual (necessária intervenção do Estado nas relações
contratuais).
A Autonomia Privada manifesta-se sob duas diferentes óticas:
1. Liberdade de contratar: a parte escolhe com quem contratar.
2. Liberdade contratual: as partes escolhem o conteúdo do contrato
(ausente nos contratos de adesão).
Princípio do Consensualismo

A vontade livre e consciente é um dos pilares do negócio jurídico. Aqui,


como regra, vale a máxima: “o que um não quer, dois não fazem

O Princípio do Consensualismo tem como objetivo esclarecer a exigência


do acordo mutuo para a perfeita formação do contrato, isto é, o contrato
exige o consenso das partes, ou ainda, o contrato sustenta-se no acordo de
vontade das partes.

Em primeiro lugar, o contrato é um negócio jurídico bilateral. Por isso, deve


respeitar o consenso mutuo para que tenha validade.

Para o doutrinador Orlando Gomes, “no Direito hodierno vigora o princípio do


consentimento, pelo qual o acordo de vontades é suficiente à perfeição do
contrato. Em princípio, não se exige forma especial” (GOMES, Orlando.
Contratos, 26º Ed, Rio de Janeiro: Editora Forense. 2007, p. 37)

Vale frisar que o mesmo doutrinador lembra que isto não significa que todos os
contratos são simplesmente consensuais, pois alguns possuem sua eficácia
vinculada a determinadas solenidades prescritas em Lei, por exemplo,
o contrato de compra e venda de bem imóvel (art. 1.245 do Código Civil).

Princípio da Função Social do Contrato

Segundo o art. 421 do CC/02, “a liberdade de contratar será exercida em razão


e nos limites da função social do contrato”.

Para Orlando Gomes, “a locução função social traz a ideia de que o contrato
visa a atingir objetivos que, além de individualizados, são também
sociais” (GOMES, Orlando. Contratos. 26ª ed. Rio de Janeiro: Forense. 2007.
p. 48).
Tema de grande importância nos concursos públicos é a dupla eficácia da
Função Social do Contrato.

A Função Social do Contrato impõe uma leitura contratual à luz da coletividade.

Neste contexto, há uma mitigação do “pacta sunt servanda” (Princípio da Força


Obrigatória).

Eficácia Interna (entre as partes)

A eficácia interna da função social do contrato levanta os seguintes efeitos:

1. Tendência de conservação contratual (enunciado 22 do CJF – e.g. Teoria


do Adimplemento Substancial);
2. Vedação a onerosidade excessiva;
3. Proteção da parte vulnerável na relação (e.g., art. 423 e 424 – Contrato
de adesão)
4. Nulidade de cláusulas antissociais (e.g. Súmula 302 do STJ – nula
cláusula de plano de saúde que veda internação);
5. Proteção à Dignidade da Pessoa Humana (enunciado 23 do CJF).
Eficácia Externa (que transcende as partes)

1. Proteção dos Direitos Difusos e Coletivos;


2. Tutela externa do crédito – o contrato pode gerar efeito perante terceiros.

Princípio da Força Obrigatória do Contrato (“pacta sunt servanda”)

É o princípio segundo o qual “o contrato faz lei entre as partes”.

Trata-se de modelo desenhado no Estado Liberal cuja ideia primeira,


encabeçada por Adam Smith, era “o mercado se autorregula” (mão invisível),
não cabendo ao Estado intervir nas relações.

Entretanto, conforme já fora mencionado, o dirigismo contratual (intervenção do


Estado nas relações contratuais), sustentado pelo Estado Neoliberal, é o
modelo adotado hoje.
Tal fato, ao lado da Função Social do Contrato, vem mitigando, paulatinamente,
o Princípio da Força Obrigatória.

Princípio da Boa-fé objetiva

Em Direito Civil, estudam-se, basicamente, 2 espécies de boa-fé: a boa-fé


subjetiva (pauta-se na intenção) e a boa-fé objetiva (pauta-se na conduta).

Esta ultima é a que se verifica no plano dos contratos.

Karl Larenz associou a conduta aos deveres anexos ou laterais de conduta.

Tais deveres são inerentes a qualquer contrato, sem a necessidade, contudo,


de estarem expressos no instrumento.

Por esse motivo, a violação dos deveres anexos gera a violação positiva do
contrato (“positiva” porque, embora a parte tenha cumprido os termos do
contrato, deixou de cumprir um dever implícito – dever de conduta – violando a
Boa-fé e, por conseguinte, o próprio contrato).

Quais são os deveres anexos?

1. Dever de Informar;
2. Dever de Cuidado;
3. Dever de Respeito;
4. Dever de Lealdade;
5. Dever de Transparência;
6. Dever de Colaboração;
7. Dever de Cooperação;
8. Dever de mitigar o próprio prejuízo.

Quais são as funções da Boa-fé Objetiva?

 1º Função de Interpretação (art. 113 do CC/02): O princípio é a luz que


ilumina o caminho do interprete. Neste cenário, por se tratar de princípio,
a boa-fé auxilia a interpretação da norma que deverá caminhar no sentido
mais favorável aquele que esteja de boa-fé.
 2º Função de Controle (art. 187 CC/02): Aquele que viola a boa-fé
objetiva comete abuso de direito. O tema é também estudado no âmbito
da responsabilidade civil.
 3º Função de Integração (art. 422 CC/02): A Boa-fé objetiva integra todas
as fases da formação do contrato (pré-contratual, contratual e pós-
contratual).

Conceitos parcelares da boa-fé objetiva

Além da importante contribuição da Karl Larenz, é muito importante conhecer


os conceitos parcelares da boa-fé.

Trata-se de trabalho brilhante desenvolvido pelo professor português Menezes


Cordeiro.

São conceitos parcelares da boa-fé objetiva:

1. “supressio”: É a perda de um direito ou posição jurídica frente ao não


exercício. Não confunda “supressio” com prescrição.
2. “surrectio”: É o surgimento de um direito diante das práticas, usos e
costumes.
3. “tu quoque”: A ideia primeira aqui é “não faça com os outros o que você
não gostaria que fizessem com você”. Para Flávio Tartuce, o tu
quoque “significa que um contratante que violou a norma jurídica, não
poderá, sem a caracterização do abuso de direito, aproveitar-se dessa
situação anteriormente criada pelo desrespeito” (TARTUCE,
Flávio. Manual de Direito Civil. Vol. único. São Paulo:Método. 2012. p.
545)
4. “exceptio doli”: é a defesa contra o dolo alheio. É o caso, por exemplo, da
Teoria da Exceção do contrato não cumprido (art. 476 do CC/02). Em
contratos bilaterais (com deveres para ambas as partes), a parte não
pode exigir que a outra cumpra seu dever se não cumpriu seu próprio
dever.
5. “venire co proprium”: é a vedação do comportamento contraditório.

Princípio da Relatividade dos Efeitos Contratuais

O novo enfoque existencialista consignado na CF/88 (Constituição Social)


quebra o paradigma patrimonialista (vide resumo “obrigações”).

Neste cenário, a ideia de vinculo obrigacional é substituída pela ideia de


relação jurídica, pois os efeitos gerados na obrigação não se restringem às
partes da relação.

O Direito das Obrigações está intimamente ligado aos contratos.

Assim, a fácil perceber que o Princípio da Relatividade dos efeitos contratuais


(o contrato gera efeito, apenas, inter partes – entre as partes) vem, também,
sendo mitigado.

Há 4 grandes exceções ao princípio em análise que devem ser apontadas aqui:

 Estipulação em favor de terceiro: ex. Seguro de Vida – note que o


contrato tem como objetivo o benefício de terceiro estranho a relação
jurídica.
 Promessa de fato de terceiro: Aqui, um contratante promete a outro uma
conduta alheia.
 Contrato com pessoa a declarar: No contrato há uma cláusula que faculta
a parte nomear terceiro com que o contrato definitivo será celebrado.
 Eficácia externa da função social do contrato

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