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2.

O CONTRACTO
2.1 NOCAO DE CONTRACTO
O vocábulo contrato deriva da palavra romana “contractus” que significa contrair.
No direito romano utilizavam-se também outras expressões para designar os contratos:
convenctio (de convenção), e pacto ( de pacis si, estar de acordo.)
Podemos definir contrato como negócio jurídico resultante de um acordo de vontades que produz
efeitos obrigacionais.
Ulpiano (Digesto) dizia acertadamente que os contratos representavam o mútuo consenso das
partes sobre o mesmo objeto - “duorum pluriumve in idem placitum consensus”.
Para que possamos entender perfeitamente o conceito de contratos é fundamental o entendimento
do que vem a ser um negócio jurídico e o que significa a produção de efeitos obrigacionais.
Negócio jurídico é toda ação ou omissão humana cujos efeitos jurídicos acarretam a criação,
modificação, conservação ou extinção de direitos. Sendo o contrato um negócio jurídico, temos
de recorrer à teoria geral do negócio jurídico presente na parte geral entre os artigos 217º e 294º.
O artigo 294º apresenta a nulidade como a principal solução jurídica para os contratos celebrados
em contravenção de normas jurídicas imperativas, a não ser que a lei comine outra sanção .
Efeito obrigacional é o liame jurídico entre os contratantes, pelo qual uma das partes pode
exigir da outra a prestação correspondente.
O contrato deve ser distinguido de outros acordos não contratuais. Podemos celebrar os mais
diversos acordos sem valor jurídico, isto é, sem vinculação jurídica das partes. Aquilo que
distingue esses acordos dos contratos é precisamente a relevância e a eficácia jurídica. Assim
sendo, podemos dizer que um contrato é um encontro de declarações de vontade contrapostas
tendentes a uma regulamentação juridicamente vinculante. As partes comprometem-se a cumprir
aquilo que autorregularam entre si.
No liberalismo, nomeadamente nos primeiros códigos civis (código de Seabra em Portugal e o
Code Civile em França), é dado destaque à autonomia da vontade praticamente sem limites.
Aquilo que caracteriza a ordem jurídica liberal é a quase ausência de normas imperativas que
limitem a autonomia das partes. Estamos a falar sobretudo do direito de propriedade enquanto
direito absoluto e as próprias liberdade contratual e liberdade negocial enquanto valores
absolutos.
O grande princípio desta ordem jurídica é “qui dit contractuel, dit juste” (o que é contratual é
justo), a ideia de contrato enquanto sinónimo de justiça. Parte-se do pressuposto que aquilo que
as partes fazem resultar da sua autorregulamentação de interesses é justo, e assim o é por ser
livre.
Hoje, considera-se que já não é apenas a vontade das partes que as pode vincular, mas que há
outros valores que se podem impor, como o princípio da dignidade humana. Daí que hoje o
direito privado tenha diversas normas imperativas que são normas públicas para garantir diversos
valores ainda que contra a vontade das partes. Como é o caso do direito do arrendamento ou do
trabalho.
Assistiu-se, deste modo, a uma evolução de uma total liberdade e autonomia contratual para a
situação em que há normas imperativas que limitam a autonomia das partes obedecendo a
valores de ordem pública. É de notar que estes valores já estavam presentes, mas não como
valores autónomos, eram antes elementos da garantia da coincidência entre a vontade real e a
vontade declarada.
O Estado começou a intervir para assegurar a justiça contratual aquando do surgimento da ideia
de contraente débil que passa a ser protegido por certas normas. Contraentes débeis são, por
exemplo, os aderentes que são contraentes que manifestam a sua vontade limitando-se a aderir a
cláusulas contratuais gerais. Estes fatores levaram mais tarde à garantia constitucional da
autonomia privada.
Assim sendo, o contrato de hoje já não é o contrato do liberalismo, existindo normas que limitam
a autonomia e a liberdade contratual, outrora praticamente absoluta. De qualquer forma, o grande
princípio do direito privado continua sempre a ser a ideia de liberdade e autonomia, ao contrário
do direito público, onde vigora o princípio da competência, só sendo possível aquilo que for
expressamente permitido.
No domínio privado, tudo o que não for proibido é permitido. O princípio básico da liberdade
contratual vem expresso no artigo 405.º do CC. A disposição seguinte, o artigo 406º CC, sobre a
eficácia dos contratos consagra o princípio pacta sunt servanda, segundo o qual o contrato deve
ser pontualmente cumprido, isto é, ponto por ponto, não só na sua letra, mas também na sua
razão de ser de acordo com o princípio da boa fé. Assim concluímos que este princípio tem de
ser entendido também em termos materiais, não só literalmente. Este artigo estipula ainda o
princípio da eficácia inter partes, sendo que, à partida, o contrato apenas vincula as partes que o
celebraram.
2.3 CARACTERÍSTICAS
-Transitoriedade: Os contratos, via de regra, são transitórios. Geralmente têm vida curta, porém
podem ser duradouros, mas nunca permanentes
-Valor econômico: o contrato em geral é apreciável financeiramente (possui valor econômico),
pois é através desta estimativa que se viabiliza a responsabilização da parte inadimplente
judicialmente, caso este não seja adimplido.
2.4 REQUISITOS
Um contrato não surge do nada. Para que um contrato exista, é necessário haver alguns
requisitos:
1. Capacidade dos contraentes( artigos…
2. Mútuo consenso;
3. Legitimidade
4. Prestação
5. Objeto lícito, possível, determinado ou determinável.
6. Forma prescrita ou não defesa em lei. (forma pode ser verbal ou escrita)

2.5 EFEITOS
- Obrigatoriedade: o contrato faz lei entre as partes.
- Irretratabilidade: nenhuma das partes pode, arbitrariamente, desfazer o contrato.
-Intangibilidade: inalterabilidade, não admitindo, de ordinário, modifica-ções sem o
consentimento da parte contrária.
-Efeito pessoal: em relação ao objeto, o contrato cria obrigações de natureza pessoal. O credor
exige do devedor o cumprimento da prestação sob pena de perdas e danos

2.6 CLASSIFICAÇÃO:
Maria Miranda enaltece que os contratos se classificam-se em função da sua formação, das
obrigações que originam, das vontades que podem trazer para as partes, da realidade da
contraprestação, dos requisitos exigidos para a sua formação, do papel que tomam na relação
jurídica, do modo de execução, do interesse, que tem a pessoa com quem se contracta e sua
regulamentação legal ou não. Em face desses elementos teremos Contratos Consensuais, aqueles
que se tornam perfeitos pelo simples consentimento das partes, consideram-se formadas pela
simples proposta e aceitação. Exemplo: Compra e venda.
a) Reais- aqueles que só se completam se alem do consentimento, houver entrega da coisa que
lhe serve de objecto. Exemplo: Depósito, doação, mutuo, penhor.
b) Unilaterais- unilaterais são aqueles em que apenas uma das partes assume a obrigação, um
dos contratantes é exclusivamente credor, enquanto o outro é exclusivamente devedor. Exemplo:
Comodato, mútuo, doação. Bilaterais- aqueles em que ambas as partes assumem a obrigação,
essa obrigação é reciproca, cada uma das partes fica adstrita a uma prestação, exemplo: Compra
e venda.
c) Gratuitos- aqueles que só beneficiam uma das partes envolvidas, geralmente todo contrato
unilateral é gratuito. Exemplo: Doação pura e simples. Onerosos- onerosos beneficiam ambas as
partes, causando proveito a estas. Exemplo: Locação Compra e venda.
d) Cumulativos –são contractos onerosos em que as prestações de ambas as partes são certas.
Cada uma das partes recebe, ou entende que recebe uma contraprestação ou mais ou menos
equivalente. Exemplo: Compra e venda, Locação. Aleatórios- são contractos onerosos nos quais
a prestação de uma ou de ambas as partes fica na dependência de um caso fortuito de um risco.
Exemplo:Seguro,Jogo,Aposta.
-Efeito pessoal: em relação ao objeto, o contrato cria obrigações de natureza pessoal. O credor
exige do devedor o cumprimento da prestação sob pena de perdas e danos
3. PRINCÍPIOS CONTRATUAIS
Antes de serem editados, os contratos devem obedecer uma série de princípios, para que
nenhuma das partes saia lesionada ,proporcionando mais segurança e liberdade aos contratantes.
O maior principio que deve ser obedecido é o da dignidade da pessoa humana( DPH), pois ele
traduz um valor fundamental de respeito.
Para um estudo mais eficiente, é necessária uma análise detalhada dos princípios que mais se
destacam na Teoria Geral dos Contratos. Os princípios podem ser divididos em duas categorias
distintas: em princípios liberais (ou clássicos) e em princípios sociais. A primeira categoria,
herdamos dos séculos XVIII e XIX, e engloba os princípios da autonomia da vontade, da
obrigatoriedade contratual e o da relatividade dos efeitos dos contratos. A segunda categoria, por
sua vez, abarca o princípio da função social do contrato e o da boa-fé objetiva.
3.1 Princípios liberais do direito contratual
O princípio da autonomia da vontade ( artigo 405 CC): Autonomia da vontade significa a
liberdade das partes de contratar, de escolher o tipo e o objeto do contrato e de dispor o conteúdo
contratual de acordo com seus próprios interesses, lembrando que essa autonomia não é absoluta,
devendo respeitar algumas limitações em normas de ordem pública e nos princípios socais
(FIUZA, 2003, p.306; MIRANDA, 2008, p.2; TARTUCE, 2015, p.566-567).
Princípio da obrigatoriedade contratual ( artigo 406 CC): significa que o contrato faz lei entre
as partes, ou seja, preconiza que tem força de lei o estipulado pelas partes. É o dever da
veracidade, conhecido como pacta sunt servanda, força obrigatória do estipulado no pacto,
devendo assim, os contratos serem cumpridos. da relatividade dos efeitos do contrato.
Princípio da relatividade dos efeitos contratuais (nr. 2 artigo 406 CC): tal princípio
fundamenta-se na ideia (em regra), de que os efeitos do contrato só devem produzir efeitos inter
partes, ou seja, entre as partes, àqueles que manifestaram a vontade, sem afetar terceiros. Em
outras palavras, o vínculo contratual deve ser apenas entre as partes contratantes, ficando apenas
elas obrigadas a cumprir o objeto do contrato (TARTUCE, 2015, p.597).
3.2 Princípios Socias do direito contratual
Principio da a função social do contrato- Todos os contratos celebrados devem cumprir um
fim social. Ou seja, apesar de ser um contrato individual, seus objetivos não podem ferir de
nenhuma maneira o interesse social.
Principio da boa-fé objetiva: diz que as partes devem se comportar de boa fé desde as
conversações, à celebração do contrato e ao cumprimento deste. As partes devem praticar
honestidade, retidão e lealdade entre si, ( artigo 227 CC) .
Contudo neste trabalho vamos nos ater-se somente ao principio da função social do contracto.
4. PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
O princípio da função social determina que os interesses individuais das partes do contrato
sejam exercidos em conformidade com os interesses sociais, sempre que estes se apresentem.
Não pode haver conflito entre eles pois os interesses sociais são prevalecentes. Qualquer contrato
repercute no ambiente social, ao promover peculiar e determinado ordenamento de conduta e ao
ampliar o tráfico jurídico.
Para Miguel Reale o contrato nasce de uma ambivalência, de uma correlação essencial entre o
valor do indivíduo e o valor da coletividade. “O contrato é um elo que, de um lado, põe o valor
do indivíduo como aquele que o cria, mas, de outro lado, estabelece a sociedade como o lugar
onde o contrato vai ser executado e onde vai receber uma razão de equilíbrio e medida”
No período do Estado liberal a inevitável dimensão social do contrato era desconsiderada para
que não prejudicasse a realização individual, em conformidade com a ideologia
constitucionalmente estabelecida; o interesse individual era o valor supremo, apenas admitindo-
se limites negativos gerais de ordem pública e bons costumes, não cabendo ao Estado e ao direito
considerações de justiça social.
Os direitos e faculdades individuais não são imiscíveis às necessidades sociais, uma vez que o
indivíduo só pode construir a sua vida em sociedade. Consequentemente, o contrato não é
impermeável às condicionantes sociais que o cercam e que são por ele próprio afetadas. É um
fato social do qual os terceiros não estão nem devem estar indiferentes. O contrato não deve ser
visto como uma relação jurídica que só interessa às partes contratantes, porém como fenômeno
transcendente aos seus interesses, cujos efeitos devem ser ampliados sempre que tal extensão
tenha por fim garantir a previsibilidade e a segurança das relações contratuais.
O contrato é, portanto, um verdadeiro instrumento de convívio social e de preservação de
interesses da coletividade, visando à conservação da espécie. Além disso, promove a
aproximação, pelo dinamismo das permutas, dos polos extremos do processo econômico, quais
sejam, a produção e o consumo. É com o respaldo no contrato, que a sociedade, preservada
organicamente, encontra a trilha do desenvolvimento sem sobressaltos.
A funcionalização atribui ao contrato uma determinada finalidade a ser cumprida, que não
corresponde apenas aos anseios individualistas dos contratantes. Fala-se em um poder-dever, de
forma que a faculdade de se obrigar está umbilicalmente associada ao cumprimento do fim por
meio do qual o interesse em questão é juridicamente protegido. Não há impedimentos para que
as pessoas naturais ou jurídicas concluam o negócio no escopo de realizar os mais diversos
valores.
“O que se exige é que o acordo de vontades não se verifique em detrimento da coletividade, mas
represente um dos meios primordiais de afirmação e desenvolvimento”. Este princípio representa
a coadunação do interesse privado ao interesse público e corresponde ao rompimento do padrão
retributivo de justiça representado pela velha noção do suum cuique tribuere, (dar a cada um o
que é seu), consagrada pelos romanos e pelos pensadores medievais.

4. DA NÃO OBSERVÂNCIA DO PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO


Antes de entrar no âmbito dessa matéria, faz-se necessário revisar alguns pontos previamente
abordados. O contrato há de ser construído e executado observando todos os princípios
anteriormente relacionados – mas principalmente os de cunho social – e a sociedade em que se
insere, já que seus efeitos podem ser tanto internos quanto externos.
Internos, pois a relação contratual vincula as partes, tecendo obrigações entre elas. Externos,
pois o alcance dessas obrigações podem atingir terceiros, e por consequência, a sociedade. Isso
se dá principalmente se uma das partes não observa o princípio da função social do contrato.
Vale notar que prejuízos a terceiros, decorrente do descumprimento do dispositivo legal que rege
e estabelece os parâmetros para que o princípio seja aplicado só são possíveis por conta da
existência do dispositivo art. 294, CC.,280 De certo, não existiria a ilicitude sem o determinado
artigo.
Paulo Nalin disciplina que a ausência ou a não observância da função social durante qualquer
etapa da relação contratual – seja no ajuste do contrato ou na sua execução – deverá levar o juíz a
considerar como nulo aquele negócio jurídico. Nesse caso, o contrato se torna inapto a produzir
quaisquer efeitos que dêem à relação jurídica qualquer tipo de validade.

O PROBLEMA DOS CONTRATOS DE ADESÃO


O CONTROLE DAS CLÁUSULAS ABUSIVAS
CONCLUSAO
Em jeito de conclusão podemos afirmar que chegamos a conclusão quês os contratos são
instrumentos da nossa vida e podemos mesmo dizer que todos os dias celebramos vários
contratos sem sequer darmos por isso. O contrato é o instrumento jurídico fundamental que
corresponde à ideia de liberdade e autonomia privada. É um negócio jurídico bilateral que carece
de um acordo de vontades entre duas ou mais partes. Por outras palavras, é um encontro de duas
ou mais declarações de vontade.
No contrato temos um encontro de vontades tendo em vista uma regulamentação que vai estar na
base daquilo que tem de ser cumprido por ter sido estabelecido pela liberdade contratual, ideia
base do princípio pacta sunt servanda.

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