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DIREITOS REAIS

POSSE AQUISIÇÃO CONSERVAÇÃO E


PERDA

Prof. Esp. Warlley Alexandro Lima Costa


Especialista em Direito civil e Direito Público e Privado
Mestrando em Direitos Fundamentais e Evolução Social
A definição do momento em que se adquire a posse se
mostra extremamente relevante em razão dos efeitos dali
decorrentes, especialmente no que tange à contagem do
prazo para a aquisição da propriedade por usucapião
(CC, arts. 1.238 e 1.242), à deflagração dos mecanismos
processuais de tutela possessória (CC, art. 1.210), e à
disciplina da percepção de frutos (CC, art. 1.214).
Contagem de prazo para usucapião

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem oposição,
possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro no
Cartório de Registro de Imóveis.

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,


contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por
dez anos.
Deflagração dos mecanismos processuais de tutela possessória

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se
tiver justo receio de ser molestado.
Disciplina da percepção de frutos

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos
frutos percebidos.
Por se tratar de situação eminentemente fática, “adquire-se a
posse desde o momento em que se torna possível o exercício,
em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes à
propriedade” (CC, art. 1.204)
Da sistemática apresentada, a transmissão da posse pode se dar de
duas formas nodais:
Originária Derivada

Quando há um contato direto Quando há uma intermediação


entre a pessoa e a coisa. pessoal, sendo o principal
exemplo a tradição (entrega da
coisa – traditio).
É originária a posse que ocorre sem qualquer vinculação com possuidor
anterior. a)Ocupação ou apreensão de “res nullius”, coisa sem dono, de
ninguém, que nunca foi mencionada (ex. concha, pescado e etc.).
b)Ocupação ou apreensão de “res derelictae”, coisa abandonada, que teve
dono mas foi abandonada (ex. sofá jogado no lixo).

É derivada a posse quando decorre de transmissão da posse de um


sujeito a outro. Há um ato ou negócio jurídico bilateral (compra e venda,
depósito, comodato etc.). Podendo também decorrer de LEI
(morte/sucessão, Também é posse derivada da lei, por exemplo, a dos
frutos que caem em meu terreno, provenientes de árvore do vizinho (art.
1.284).
A derivada pode se subdividir em:

a) Tradição: Entrega ou transferência voluntária da coisa. - Simbólica: -


Traditio longa manu – O adquirente da posse não recebe de fato a coisa,
mas apenas algo que a simbolize, tal qual um contrato (por ele
cumprido), que será o suficiente para ratificar a transmissão da posse.
Ex.: Alguém que mora no Paraná compra uma casa na Bahia. -
Consensual: entrega ficta da coisa. - Traditio brevi manu – Acontece nas
situações em que o indivíduo, já sendo possuidor direto ou detentor da
coisa, adquire também o domínio e, consequentemente, a posse plena.
Ex.: comodatário que compra a coisa que tem consigo
A derivada pode se subdividir em:

b) Constituto Possessório (cláusula constituti): É o inverso da traditio


brevi manu. Acontece quando uma pessoa aliena determinada coisa, mas
retém para si ou para terceiro, a posse direta dela, ficando a posse
indireta para aquele que adquiriu o domínio do bem (tradição ficta). Arte.
1.267, parágrafo único: “subentende-se a tradição quando o transmissor
continua a possuir pelo constituto possessório (...)”. Enunciado n. 77 do
CJF (I Jornada de Direito Civil): “a posse das coisas móveis e imóveis
também pode ser transmitida pelo constituto possessório”
A derivada pode se subdividir em:

c) Acessio possessionis: Forma de aquisição da posse, em que o novo possuidor


somará seu tempo de posse com o tempo de seus antecedentes, como se fosse uma
continuação possessória. Também chamada de acessão temporal da posse, é
especialmente invocada para fins da contagem do lapso temporal exigido para o
adiamento de pleito por usucapião. Diz o artigo 1.206 do Código Civil que a posse
transmite aos herdeiros ou legatários do possuidor com os mesmos caracteres. (CC,
arts. 1.207 e 1.243).

Exemplo: Possuidor primitivo (9 anos de posse) + Possuidor novo (1 ano de


posse)________ = 10 anos. Prazo de usucapião ordinária.
USUCAPIÃO EXTRAORDINÁRIA Possibilidade de um dos
herdeiros usucapir o imóvel pela prescrição aquisitiva e pela
posse exclusiva com "animus domini", afastando os demais
herdeiros Preenchimento dos pressupostos básicos - Requisitos
necessários a caracterizar a usucapião cumpridos Procedência
da ação RECURSO PROVIDO.
Quem pode receber uma posse (art. 1.205):

I- Pela própria pessoa que a pretende, desde que tenha capacidade de fato
(ou de exercício) para praticar o ato de aquisição da posse.

II- Pelo representante legal (pais, tutor ou curador) ou pelo representante


convencional (instrumento de mandato),

III- Por terceiro sem mandato, situação que exigirá futuro ato de
ratificação da aquisição por parte daquele que é o real destinatário da
posse
Conservação da posse:

A posse é conservada pelo tempo em que o indivíduo mantém a


possibilidade de exercer um dos poderes inerentes à propriedade (teoria
objetiva de Ihering). O Código Civil brasileiro não trata da conservação
da posse, mas é certo que situações de mero impedimento ao exercício da
posse, em razão de caso fortuito ou força maior, não implicarão em
perda.
Perda da posse

“Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do


possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196 ”

Posse cessa quando cessam os atributos relativos à propriedade


Perda da posse

CC/1916, “Art. 520. Perde-se a posse das coisas: I - Pelo abandono. II -


Pela tradição. 86 III - Pela perda, ou destruição delas, ou por serem
postas fora de comércio. IV - Pela posse de outrem, ainda contra a
vontade do possuidor, se este não foi manutenido, ou reintegrado em
tempo competente. V - Pelo constituto possessorio ”

• Rol taxativo, ao contrário do CC/2002


• CAIO MÁRIO DA SILVA PEREIRA - perde-se a posse:

▫ Perda da própria coisa


▫ Destruição ▫ Posse de outrem
▫ Abandono ▫ Tradição
▫ Constituto possessório
▫ Coisa fora do comércio
“Art. 1.224. Só se considera perdida a posse para quem não presenciou
o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou,
tentando recuperá-la, é violentamente repelido ”

• Possuidor esbulhado só perde a posse se não toma as medidas


necessárias
• Institutos da supressio e do venire contra factum proprium
APELAÇÃO CÍVEL. POSSE (BENS IMÓVEIS). AÇÃO DE REINTEGRAÇÃO DE
POSSE. NÃO PREENCHIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. Para obter a
proteção possessória, incumbe ao autor provar a sua posse, o esbulho
praticado pela parte adversa e a sua data, bem como a perda da posse.
PERDA DA POSSE. ABANDONO DO IMÓVEL. O abandono do imóvel
implica perda da posse, o que inviabiliza a pretensão deduzida em ação
de reintegração de posse. No caso concreto, não foram preenchidos os
requisitos legais pelo autor, resultando inviável o deferimento da
proteção possessória pleiteada. APELAÇÃO DESPROVIDA. (Apelação Cível
Nº 70078538154, Décima Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS,
Relator: Marco Antonio Angelo, Julgado em 27/09/2018).

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