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….
Alegou, para tanto e em suma, que:
- O pai da requerente e do 1.º requerido, MDP, faleceu em 12-07-
2014, com 92 anos de idade, no estado de casado em primeiras
núpcias com MHP, em comunhão geral de bens;
- Desse casamento nasceram 2 filhos: MMP, requerente, e JP, 1º
requerido;
- À morte de MDP sucederam-lhe como herdeiros o cônjuge
sobrevivo, MHP, e os 2 filhos;
-A escritura de habilitação de herdeiros foi outorgada em 29-07-
2014;
- Em 09-01-2017, faleceu MHP, tendo sido outorgada escritura de
habilitação de herdeiros em 16-01-2017, de onde resulta a
designação da ora requerente como cabeça-de-casal;
- O Requerido AP é filho da Requerente e a Requerida MP é
sobrinha de MDP, filha do seu irmão;
- No dia 05-06-2013, MDP e MHP, pais da Requerente e do 1º
Requerido e avós do 2º Requerido, AP, outorgaram, cada um, um
testamento público no Cartório Notarial de Arganil onde
declararam, nomeadamente, que “para pagamento da dívida que, no
presente momento, o seu casal tem para com o seu filho JP,
proveniente de empréstimos que este lhe foi fazendo entre o ano de
mil novecentos e noventa e nove e o ano de dois mil e dois, lega-lhe a
quantia de trezentos e quarenta e dois mil seiscentos e quarenta e
cinco euros; se o dinheiro existente à data do seu falecimento for
insuficiente para pagamento da mencionada dívida, lega ao referido
filho os bens imóveis abaixo referidos em primeiro e segundo lugares.
Na eventualidade de se vir a verificar a situação descrita em segundo
lugar, se o valor fixado na avaliação dos imóveis referidos exceder o
valor em dívida à data do seu falecimento, o legatário fica com o
encargo de entregar metade do remanescente ao neto dele testador
AP. Que os legados acima referidos ficam sem efeito se a obrigação
for cumprida até à data do falecimento dele testador. Que lega ainda,
em nua propriedade, ao mencionado filho JP e ao neto AP, e em
usufruto ao seu referido cônjuge”, os bens imóveis acima
identificados;
- A vontade real dos testadores não correspondia de facto à vontade
por eles declarada no testamento, sendo que, testadores e os
beneficiários da herança destes, sabiam que a dívida que
declararam existir ao seu filho JP nunca existiu, pelo que nada
havia a restituir e os testadores não pretenderam instituir os JP e
AP como seus legatários e não pretenderam deixar-lhes os prédios
identificados nas alíneas a) a f), facto este conhecido de toda a
família, incluindo dos requeridos;
- A disposição visava antes beneficiar a sua filha, a requerente;
- Pretenderam os testadores, por via da conjugação do testamento
com os acordos complementares de 27/02/2013 e do que acima se
transcreve, instituir o seu neto como fiduciário dos bens deles
testadores, que estes pretendiam fossem recebidos pela sua filha
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multa e indemnização.
*
6. Por despacho datado de 20-01-2023, foi determinada a
notificação da requerente para se pronunciar, em 10 dias, sobre as
oposições, pronúncia que a requerente efetuou, por requerimento
entrado em juízo em 09-02-2023.
*
7. Após, em 16-02-2023, foi proferido despacho onde,
nomeadamente, se lê o seguinte:
“1.
1.1.
MMP, intentou o presente procedimento cautelar especificado de
arrolamento contra:
JP,
AP e
MP,
Pedindo que, sem audição prévia dos Requeridos, seja decretado o
arrolamento dos seguintes bens/direitos:
a) Prédio misto sito à Estrada da Moura — Coja, freguesia de Coja,
concelho de Arganil, descrito na Conservatória do Registo Predial de
Arganil sob o n.º …;
b) Prédio urbano sito à Vinha da Sobreira — Coja, dita freguesia de
Coja, descrito na Conservatória do Registo Predial de Arganil sob o
número …;
c) Prédio urbano sito ao Olival do Casal, referida freguesia de Coja,
descrito na Conservatória do Registo Predial de Arganil sob o n.º …;
d) Prédio urbano sito ao Paço, mencionada freguesia de Coja,
descrito na Conservatória do Registo Predial de Arganil sob o n.º …;
e) Metade da Fração autónoma designada pela letra “D” do prédio
urbano sito em Santa Isabel — Rua D. João V — número …, …-A e
…-B, freguesia de Santa Isabel, concelho de Lisboa, descrito na
Conservatória do Registo Predial de Lisboa sob o número …;
f) Metade do direito a mil e quinhentos, vinte e um mil novecentos e
oitenta e um avos do prédio rústico denominado Murtinhais, sito em
Alfarim, freguesia de Sesimbra (Castelo), concelho de Sesimbra,
descrito na Conservatória do Registo Predial de Sesimbra sob o n.º
….
1.2.
Por despacho proferido a fls.171 dos autos, foi indeferido o pedido de
dispensa de citação prévia e ordenada a citação dos requeridos para
apresentarem oposição, o que fizeram.
Na sua oposição, os requeridos suscitam a incompetência deste
tribunal em razão do território.
Cumpre, porque se trata de um dos pressupostos processuais,
apreciar:
Dispõe o n.º 1 do artigo 78.° do CPC que o arrolamento tanto pode ser
requerido no tribunal onde deva ser proposta a acção respectiva,
como no do lugar onde os bens se encontrem ou, se houver bens em
várias comarcas, no de qualquer destas.
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*
8. Não se conformando com o referido despacho, dele apela a
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às coisas arroladas.”
Nos termos do art.º 404.º, n.º 1, do CPC, o arrolamento pode ser
requerido por qualquer pessoa que tenha interesse na conservação
dos bens ou documentos.
O arrolamento constitui uma providência cautelar de garantia, a
qual visa impedir o extravio, a ocultação ou a dissipação de bens,
móveis ou imóveis, ou de documentos.
Conforme referem Lebre de Freitas e Isabel Alexandre (Código de
Processo Civil Anotado, Vol. 2.º, Coimbra Editora, p. 156),
“[a]rrolar significa inscrever em rol (Cândido de Figueiredo,
Dicionário). A ideia de arrolamento está por isso ligada à de
existência duma pluralidade de bens que se pretende acautelar. (…)
Se estes estiverem identificados e apenas se discutir a titularidade do
direito (real ou de propriedade intelectual) sobre eles, ou se são ou
não devidos (como objecto de obrigação de dare ou facere), a
providência adequada é inominada, cabendo ao caso o procedimento
cautelar comum. Não importa já descrever ou especificar os bens,
mas apenas apreendê-los e depositá-los ou entrega-los a título
provisório ao autor”.
Trata-se de “uma medida de carácter conservatório que pode
apresentar-se sob duas vertentes: como medida destinada a assegurar
a manutenção de certos bens litigiosos, enquanto a questão da
titularidade do direito sobre eles não for decidida na ação principal;
como medida destinada a garantir a persistência de documentos
necessários para provar a titularidade do direito a discutir na ação
principal” (assim, Abrantes Geraldes, Paulo Pimenta e Luís Filipe
Pires de Sousa; Código de Processo Civil Anotado, Vol. I, 3.ª ed.,
Almedina, 2022, pp. 516-517).
Na primeira vertente ou modalidade, “apresenta algumas
semelhanças com o arresto, tendo em conta a latitude dos bens sobre
que pode incidir e o modo de execução, dele diferindo quanto á
situação de perigo que visa prevenir: em lugar do perigo de perda da
garantia patrimonial, tende a eliminar o risco de extravio, de
ocultação ou de dissipação de bens litigiosos. Por outro lado, ainda
que no procedimento cautelar comum se possam inserir providências
gerais que consistam na apreensão de bens ou na sua entrega a um
fiel depositário, o arrolamento visa especificamente assegurar a
permanência de bens que devem ser objecto de «especificação» no
processo principal (…)” (assim, António Santos Abrantes Geraldes,
Temas da Reforma do Processo Civil, Vol. IV, Almedina, 2003, pp.
264-265).
Deste modo, “se uma pessoa tem ou pretende ter direito a
determinados bens e mostra que certos factos ou circunstâncias fazem
nascer o justo receio de que o detentor ou possuidor deles os extravie
ou dissipe antes de estar judicialmente reconhecido, de forma
definitiva, o seu direito aos mesmos bens, estamos perante a
ocorrência que justifica o uso (…) do arrolamento” (assim, Alberto
dos Reis, Código de Processo Civil Anotado, Vol. II, 3ª Edição,
Coimbra Editora, p. 105).
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362º, nº 2, do CPC).
Para além disso, o requerente deve igualmente alegar factos que
permitam demonstrar a existência de um receio fundado de
extravio, ocultação ou dissipação de bens ou de documentos (o qual
se presume, nos arrolamentos especiais, a que se refere o artigo
409.º do CPC, relativamente aos quais, não é aplicável o disposto no
n.º 1 do artigo 403.º do CPC).
Os requisitos – cumulativos - da providência de arrolamento (não
especial) são, pois, os seguintes:
a) A probabilidade da existência de um direito sobre bens ou
documentos (o designado “fumus boni iuris”, requisito
indispensável ao decretamento da providência cautelar, que se
traduz na possibilidade de antever a aparência do direito invocado
pelo requerente à conservação de bens ou documentos); e
b) O justo receio (“periculum in mora”) de extravio, ocultação ou
dissipação de bens ou de documento (ou seja, que haja receio
justificado de que tais bens ou documentos possam ser extraviados
ou dissipados).
Relativamente à probabilidade da existência de um direito sobre
bens ou documentos, “torna-se necessário que o requerente alegue e
faça prova sumária da titularidade de um direito sobre os bens ou
documentos que pretende arrolar, ou seja, exige-se que o requerente
demonstre um interesse jurídico relevante na conservação desses
mesmos bens ou documentos (art.º 405º, n.º 1). Se esse direito
depender de ação proposta ou a propor, o requerente deve igualmente
convencer o tribunal da provável procedência do pedido
correspondente. Exige-se, por isso, um “direito aparente”, o qual
pode estar já constituído e reconhecido ou a aguardar pela sua
declaração em ação judicial pendente ou a propor” (assim, Marco
Carvalho Gonçalves; Providências Cautelares; 4ª ed., Almedina,
2023, pp. 260-261).
O arrolamento deve ser indeferido liminarmente, porque
injustificado, se o requerente não invocar algum direito sobre o
bem que pretende arrolar, limitando-se a alegar o risco da sua
dissipação (neste sentido, o Ac. do STJ de 14-10-1997, Pº 97B599,
rel. ROGER LOPES).
De todo o modo, a lei não exige um juízo de certeza quanto à
propriedade do bem a arrolar, sendo suficiente a mera aparência de
titularidade do direito (assim, o Acórdão do Tribunal da Relação do
Porto de 10-10-1991, Pº 9150386, rel. MÁRIO CANCELA).
Quanto ao segundo requisito, o arrolamento só pode ser decretado
se se verificar justo receio de extravio, ocultação ou dissipação dos
bens/documentos.
O justo receio de extravio ou de dissipação de bens envolve uma
aceção de temor, acompanhado de incerteza, e que constitui um
facto não consumado a produzir no futuro, posto que presumível
(cfr., Acórdão do STJ de 20-01-1977, Pº 066456, rel. DANIEL
FERREIRA).
De todo o modo, conforme sublinha Marco Carvalho Gonçalves
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