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23/03/2023

Direito Civil IX: Sucessões


2023 – Moisés C. Castro

AULA 2:
Modalidades de Sucessão
Legítima e Testamentária

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MODALIDADES DE SUCESSÃO
•De acordo com o Código Civil, são duas modalidades: a
sucessão legítima e a sucessão testamentária:
•CC, art. 1.786 – “A sucessão dá-se por lei ou por disposição de
última vontade.”

•1. Sucessão legítima: sucessão que decorre da lei.


•2. Sucessão testamentária: por disposição de última vontade,
que decorre de testamento.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•Ab intestato significa “sem testamento”.
•Trata-se da sucessão que ocorre quando não existe
testamento ou se existir um testamento, este for considerado
inválido.
•Nesse caso, a sucessão será deferida de acordo com a lei, por
isso chama-se sucessão legítima.

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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•CC, art. 1.788 – “Morrendo a pessoa sem testamento,
transmite a herança aos herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá
quanto aos bens que não forem compreendidos no testamento;
e subsiste a sucessão legítima se o testamento caducar, ou for
julgado nulo.”

•Adiantando o tema, a feitura de um testamento precisa


observar diversas regras para que tenha validade. Mesmo que
exista um testamento, deve cumprir diversos requisitos.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•O testamento é um negócio jurídico, ou seja, um ato de
autonomia privada e manifestação livre da vontade de um
agente e que visa a produzir, criar, modificar, extinguir relações
ou efeitos jurídicos.

•Para a validade de um negócio jurídico, como o testamento,


devem-se observar o plano de existência, o plano de validade
e o plano de eficácia.

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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•No plano da existência: observam-se os seguintes
pressupostos: agente (testador), manifestação da vontade
(autonomia privada), objeto (bens) e forma (conforme lei).
•No plano da validade: agente capaz, vontade manifestada
livremente, objeto lícito possível, determinado ou determinável
e forma prescrita e não proibida em lei.
•No plano da eficácia: condição, termo e encargos lícitos.
Veremos que o testamento pode ser feito sob condições.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•Se o testamento não observar esses pressupostos será nulo.
•Testamento revogado: o próprio testador revoga o testamento
anterior ou produz outro testamento ulterior, que revoga o
anterior. Testamento é disposição de última vontade.
•Testamento caduco: é o testamento ineficaz por uma causa
ulterior – falta de beneficiário nomeado pelo testador, falta dos
bens deixados no testamento, inexistência do herdeiro
nomeado etc.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•A sucessão legítima pode ocorrer em três situações:
•a. Totalmente legítima ou sem testamento: não há testamento.
Chamam-se os herdeiros legítimos na ordem da vocação
hereditária do art. 1.829, CC, para receberem a totalidade da
herança.

•b. Totalmente legítima com testamento inválido: há testamento,


mas este é inválido. Os herdeiros legítimos recebem a
totalidade da herança, na ordem do art. 1.829, CC.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•c. Sucessão simultânea legítima e testamentária: a pessoa
morre e deixa testamento válido para parte da herança. Serão
chamados à sucessão os herdeiros legítimos e testamentários,
obedecendo às disposições (regras) do testamento e a ordem
da vocação hereditária do art. 1.829, CC.

•Os herdeiros testamentários receberão a parte da herança que


lhes cabe e os herdeiros legítimos, o restante da herança não
compreendido no testamento.
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1. SUCESSÃO LEGÍTIMA OU AB INTESTATO


•Na sucessão legítima existe uma ordem da vocação
hereditária, quando a lei estabelece que tipo de herdeiro
deverá ser chamado primeiro a suceder. São quatro classes de
herdeiros:
• CC, art. 1.829 – “A sucessão legítima defere-se na ordem
seguinte: I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge
sobrevivente... II - aos ascendentes, em concorrência com o
cônjuge; III - ao cônjuge sobrevivente; IV - aos colaterais.”

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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•Também chamada de sucessão por disposição de última
vontade.

•CC, art. 1.857 – Toda pessoa capaz pode dispor, por


testamento, da totalidade dos seus bens, ou de parte deles,
para depois de sua morte.

•O testamento pode se apresentar em três formas: a)


testamento; b) legado; e, c) codicilo.
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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•a. Testamento: o testador deixa sua herança ou parte dela a
pessoas certas e determinadas. Observe que, aqui, o testador
dispõe da herança, percentualmente, ou seja, não faz distinção
de bens. Exemplo: 20% para João, 80% para Maria.

•b. Legado: o testador deixa, a título singular, um bem


específico, coisa certa e individuada a pessoa certa e
determinada. Exemplo: Apartamento do Leblon para João,
Casa em Campos do Jordão, para Maria.
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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•c. Codicilo: é a manifestação de última vontade, de forma
escrita, em que a pessoa pode estabelecer disposições para
serem cumpridas após a sua morte, que sejam referentes ao
seu funeral, doações de pequenas quantias em dinheiro, bens
pessoais móveis, roupas ou objetos de pequeno valor.
 CC, art. 1.881 – “Toda pessoa capaz de testar poderá, mediante escrito particular seu, datado e
assinado, fazer disposições especiais sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a
certas e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como
legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal.”

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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•O codicilo pode ser um documento escrito na agenda, uma
carta, ou, até mesmo, um documento registrado em cartório.

•Exemplos: Disponho que o meu corpo seja cremado com o


caixão enrolado na bandeira do Cruzeiro.

•Minha furadeira para o vizinho José.


•Mil reais para o morador de rua João.
•Meu anel de plaquinha para minha sobrinha Maria.
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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•Liberdade para testar: em regra, o CC adota o princípio da
liberdade relativa, ou seja, o testador não poderá dispor da
totalidade da herança, apenas de uma parte dela, quando
houver herdeiros necessários ou obrigatórios.

•No entanto, a liberdade para testar será plena quando não


houver herdeiros necessários.

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2. SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
•Art. 1.789 – Havendo herdeiros necessários, o testador só
poderá dispor da metade da herança.
•CC, art. 1.846 – Pertence aos herdeiros necessários, de pleno
direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.
•Art. 1.845 – São herdeiros necessários os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge [e os companheiros, STF, Recursos
Extraordinários 878.694/MG; 646.721/RS].

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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•É a parte da herança reservada aos herdeiros necessários
também chamados de herdeiros obrigatórios ou reservatários.
Representa a metade do patrimônio particular do autor, que
deve ser calculada no momento da transmissão da herança.
•A legítima é calculada sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, ou seja, no momento da morte do de
cujus. Cada herdeiro necessário terá a sua parte legítima.

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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•CC, art. 1.847 – Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens
existentes na abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as
despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, o valor dos
bens sujeitos a colação.
L = (B – D – F + C)
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B = bens, direitos e obrigações D = Dívidas
F = Despesas com Funeral C = Bens sujeitos à colação
L = Legítima
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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•Bens sujeitos à colação: os herdeiros devem trazer para a
partilha o valor daqueles bens recebidos em doação antes do
falecimento do de cujus.
•Adiantamento de herança: CC, art. 544. A doação de
ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro,
importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
•Obs.: Como adiantamento de herança, a doação entrará no
cálculo futuro, no momento da partilha.
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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•CC, art. 2.002 – Os descendentes que concorrerem à
sucessão do ascendente comum são obrigados, para igualar
as legítimas, a conferir o valor das doações que dele em vida
receberam, sob pena de sonegação.

•Sonegação: perda do direito hereditário sobre aquele bem


sonegado (cf. CC, art. 1.992). O herdeiro que não informar o
valor da doação será penalizado e perderá o direito à partilha
desse bem, específico e sonegado.
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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•O instituto da colação tem algumas regras bem específicas,
que vamos estudar mais à frente, a partir do art. 2002, CC., no
contexto do Inventário.

•A colação obriga o herdeiro que recebeu doação em vida do


autor da herança a igualar as legítimas dos outros herdeiros,
com o fim de harmonizar a partilha, no momento da abertura
da sucessão.

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PARTE LEGÍTIMA DA HERANÇA


•A parte legítima corresponde à metade do patrimônio particular
do autor da herança, que é indisponível, não pode ser objeto
de testamento e nem de doação.

•A outra metade constitui a parte disponível: a que o autor da


herança poderá dispor em testamento ou realizar doação para
herdeiros necessários em vida, sem que essa doação constitua
adiantamento de herança, mas o doador precisará dizer isto no
instrumento de doação (cf. art. 2006, CC).
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DOAÇÃO INOFICIOSA
•Art. 549, CC: Nula é também a doação quanto à parte que
exceder à de que o doador, no momento da liberalidade,
poderia dispor em testamento.

•Essa liberalidade (doação) é nula porque prejudica a reserva


ou a legítima, que pertence aos herdeiros necessários.

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DOAÇÃO INOFICIOSA
•Calcula-se o valor da parte indisponível no momento da
doação, considerando o valor do patrimônio no momento da
liberalidade e, ainda, a existência dos herdeiros necessários.
Não havendo herdeiro necessário, não há falar em doação
inoficiosa.

•A Ação Declaratória de Nulidade da Parte Inoficiosa da Doação


é também chamada de “Ação de Redução”.

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DOAÇÃO INOFICIOSA
•Flávio Tartuce (Migalhas, 30/09/2020) entende que por se tratar
de nulidade absoluta, posto que de ordem pública, essa ação
deva ser considerada imprescritível, podendo ser intentada a
qualquer tempo, cf. art. 169 (negócio nulo não convalesce pelo
decurso do tempo).

•No entanto, prevalece o entendimento dominante


jurisprudencial pela prescrição, aplicando-se o prazo geral de
10 anos, cf. CC, do art. 205, posto que não há prazo previsto.
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PARTE LEGÍTIMA E REGIME DE BENS


•Outra observação importante diz respeito às doações entre
cônjuges.

•Estas implicam adiantamento da herança ou adiantamento da


legítima apenas no caso de bens particulares de cada um,
pois, quanto aos bens comuns, os cônjuges não são herdeiros
reciprocamente, mas, sim, meeiros. Por essa razão, as
doações entre cônjuges devem respeitar o regime de bens do
casamento.
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PARTE LEGÍTIMA E REGIME DE BENS


• Comunhão universal de bens: o patrimônio do casal será
dividido em duas meações – uma para cada
cônjuge/companheiro.
•O testador somente poderá dispor em testamento da metade
da sua meação. A outra metade constitui a legítima.
• Se não houver herdeiros necessários, o testador poderá
dispor integralmente a totalidade dos seus bens.

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PARTE LEGÍTIMA E REGIME DE BENS


• Comunhão parcial de bens: há o patrimônio particular de
cada cônjuge, adquirido antes do casamento, e o patrimônio
comum, adquirido depois do casamento. O patrimônio comum
será dividido em duas meações – uma para cada cônjuge.

• Metade da sua meação mais a metade do seu patrimônio


particular constituem a legítima, que não poderá ser objeto de
testamento, pois está reservada aos herdeiros necessários.

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PARTE LEGÍTIMA E REGIME DE BENS


• Separação de bens: cada cônjuge possui o seu patrimônio
particular – não há meação:
• O testador somente poderá dispor em testamento da metade
do seu patrimônio particular. A outra metade constitui a
legítima.
• Não havendo herdeiros necessários, o testador poderá dispor
integralmente da sua herança.

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TIPOS DE HERDEIROS
•1. Herdeiro testamentário ou legatário: constituído por
disposição de última vontade (testamento, legado ou codicilo).

•2. Herdeiro legítimo: indicado pela lei conforme a ordem da


vocação hereditária (art. 1.829, CC): descendentes,
ascendentes, cônjuges (companheiros) e colaterais.

•*Cuidado!: colaterais são legítimos, mas não são necessários.

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TIPOS DE HERDEIROS
•3. Herdeiros Necessários ou Obrigatórios: também chamados
de “reservatários ou legitimatários”. De acordo com o art.
1.845, do CC, são herdeiros necessários: os descendentes, os
ascendentes e o cônjuge/companheiro. A estes herdeiros é
reservada a “legítima”, metade dos bens do autor da herança
que não pode ser disposta em testamento.

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TIPOS DE HERDEIROS
•4. Herdeiros Facultativos: são os herdeiros colaterais, não-
obrigatórios, que podem ser excluídos da sucessão pelo
testamento. Serão chamados à sucessão apenas quando não
houver herdeiros necessários e não forem excluídos por
testamento.

•CC, art. 1.850 – Para excluir da sucessão os herdeiros


colaterais, basta que o testador disponha de seu patrimônio
sem os contemplar.
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TIPOS DE HERDEIROS
•CC, art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente, nas
condições estabelecidas no art. 1.830, serão chamados a
suceder os colaterais até o quarto grau.

•Irmãos, bilaterais ou unilaterais (colaterais de segundo grau);


os tios e sobrinhos (colaterais de terceiro grau); e, os primos,
tios-avós e sobrinhos-netos (colaterais de quarto grau).

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Sobrinho-
neto

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OBSERVAÇÕES
•1. Não confunda a “legítima” (parte da herança que não pode
entrar no testamento) com “sucessão legítima” (modalidade de
sucessão ab intestato, sem testamento).

•2. Os colaterais não são herdeiros necessários, por isso não


têm direito à legítima, mas são herdeiros legítimos, pois entram
no rol dos herdeiros chamados à sucessão do art. 1.829.

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OBSERVAÇÕES
•3. Os colaterais são facultativos, pois só herdarão se não
houver algum herdeiro necessário ou se o testador não deixou
testamento que os exclua. Também não recolherão a herança
quando esta for decretada vacante.

•4. O testador poderá excluir plenamente da herança os


herdeiros colaterais (facultativos), mas não poderá excluir
totalmente os herdeiros necessários.
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OBSERVAÇÕES
•5. Além da legítima (metade a que têm direito), os herdeiros
necessários poderão ser contemplados no testamento com os
bens constantes da outra metade. Os herdeiros necessários
poderão ser herdeiros legítimos e testamentários, ao mesmo
tempo.
•CC, art. 1.849 – O herdeiro necessário, a quem o testador
deixar a sua parte disponível, ou algum legado, não perderá o
direito à legítima.
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