Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Sucessões
Profª. Maitê Damé
I – SUCESSÃO EM GERAL
1. Abertura da sucessão
A sucessão se abre com o óbito. No exato momento da morte há a abertura da
sucessão e a transmissão da herança (bens, dívidas, créditos e obrigações) deixada
pelo falecido aos herdeiros (princípio da saisine) – art. 1.784.
Não há herança de pessoa viva, embora possa ocorrer a sucessão do ausente.
São, portanto, pressupostos da sucessão:
a) que o de cujus tenha falecido;
b) que lhe sobreviva herdeiro.
Se o autor da herança estiver vivo, não há sucessão. Assim, só se abre a
sucessão havendo óbito real ou presumido.
Em termos de morte civil, existem três modalidades: a) morte real; b) morte
presumida sem declaração de ausência; c) morte presumida com declaração de
ausência.
a. Morte real
Aquela que se dá com corpo presente, ou seja, existe a materialidade (morte
natural, por atropelamento, por um tiro, cerebral, ...). Neste caso, necessário um laudo
médico, atestando a morte, para a elaboração do registro do óbito.
1
II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for
encontrado até dois anos após o término da guerra.
Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente
poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo
a sentença fixar a data provável do falecimento.
1 TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 13.
2TARTUCE, Flávio. Direito civil: direito das sucessões. V. 6. 9.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, p. 14-
20.
2
Uma vez que tenham sido arrecadados os bens do ausente, o art. 745, CPC/2015
determina que seja publicado edital na internet, no site do Tribunal de Justiça e na
plataforma de editais do CNJ, onde deverá permanecer por 1 ano. Não havendo site, a
publicação deve ocorrer, de dois em dois meses, no órgão oficial e na imprensa da
Comarca.
Passado 1 ano da arrecadação dos bens do ausente e da nomeação do curador,
a sucessão provisória poderá ser aberta pelos herdeiros. Se o ausente tiver deixado
representante, o prazo para abertura da sucessão provisória é de 3 anos após a
arrecadação. Essa é a previsão do art. 26, CC:
Art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele
deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os
interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a
sucessão.
O CPC/2015, contudo, traz a previsão, no § 1.º do art. 745, que o edital fará a
previsão de prazo e, no final deste prazo, é que poderá ser requerida a abertura da
sucessão provisória.
§ 1º Findo o prazo previsto no edital, poderão os interessados requerer a
abertura da sucessão provisória, observando-se o disposto em lei.
3
sucessão provisória, cumpre ao Ministério Público requerê-la ao juízo
competente.
§ 2º Não comparecendo herdeiro ou interessado para requerer o inventário até
trinta dias depois de passar em julgado a sentença que mandar abrir a
sucessão provisória, proceder-se-á à arrecadação dos bens do ausente pela
forma estabelecida nos arts. 1.819 a 1.823.
Art. 29. Antes da partilha, o juiz, quando julgar conveniente, ordenará a
conversão dos bens móveis, sujeitos a deterioração ou a extravio, em imóveis
ou em títulos garantidos pela União.
4
Art. 35. Se durante a posse provisória se provar a época exata do falecimento
do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão em favor dos
herdeiros, que o eram àquele tempo.
5
arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, se
localizados nas respectivas circunscrições, incorporando-se ao domínio da
União, quando situados em território federal.
3
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito das sucessões. 6.ed. São Paulo: Saraiva,
2012, p. 34.
6
da presunção da morte simultânea é que, não tendo havido tempo ou oportunidade
para a transferência de bens entre os comorientes, um não herda do outro.
EXEMPLO:
Num mesmo acidente morrem marido e mulher sem filhos. Com a regra, a
sucessão de cada um é regulada como se o comoriente jamais tivesse morrido. Venosa
demonstra a vital importância da comoriência:
[...] já que a pré-morte de um casal, por exemplo, tem implicações no direito
sucessório. Se faleceu primeiro o marido, transmitiu a herança à mulher; se
ambos não tivessem descendentes ou ascendentes, e a mulher falecesse
depois, a herança iria para os herdeiros dela, ou seja, seus colaterais. O oposto
ocorreria se provasse que a mulher falecera antes. Tal situação pode ocorrer
em casos de catástrofes, acidentes ou mesmo por coincidência. Para evitar os
entraves das presunções de pré-morte, portanto, o Código presume
comoriência, isto é, o falecimento conjunto (VENOSA, 2012, p. 13)
7
se aos herdeiros independentemente de qualquer formalidade (desde logo, portanto).
Para que haja a transmissão é preciso que:
a) o herdeiro exista ao tempo da morte;
b) que a esse tempo não seja incapaz de herdar – a capacidade sucessória é
verificada no momento da morte.
A importância de saber o momento da morte é para que seja definida a lei que
regula a sucessão e a capacidade (legitimidade) para suceder, nos termos do art. 1.787,
CC:
Art. 1.787. Regula a sucessão e a legitimação para suceder a lei vigente ao
tempo da abertura daquela.
8
Desta forma, a capacidade de suceder é a do tempo da abertura da sucessão
(momento da morte) e, além disto, o lugar onde se abre a sucessão é o do último
domicílio do de cujus. Nestes termos:
Art. 1.785. A sucessão abre-se no lugar do último domicílio do falecido.
9
importando mais o local do óbito para a definição do lugar em que se abre a
sucessão.
Estrangeiro:
Na sucessão de bens de estrangeiros, há uma disciplina especial. No caso de
bens de estrangeiros, situados no Brasil, aplica-se, via de regra, a lei do último domicílio
do falecido (lei estrangeira), salvo se a lei brasileira for mais favorável ao cônjuge ou
filhos brasileiros (o benefício é para situações em que o falecido for casado com
brasileiro ou tiver filhos brasileiros). Significa dizer que a lei protege o direito do cônjuge
e dos descendentes em prejuízo de outros herdeiros (ascendentes, colaterais).
5. Espécies de sucessão
O art. 1.786 define que a sucessão dá-se por lei ou por disposição de última
vontade.
10
a. Legítima
Decorre da lei; obedece a ordem da vocação hereditária (1.829) - ab intestato
(bens fora do testamento, testamento nulo) – art. 1.788. A sucessão legítima será
sempre a título universal, pois os herdeiros recebem a totalidade dos bens do falecido,
ou, uma fração ideal (não localizada) do patrimônio. Desta forma, os herdeiros
participam da totalidade do ativo e do passivo.
b. Testamentária
Decorre da manifestação da última vontade - bens abarcados pelo testamento (é
válido apenas sobre a quota disponível – 50% da sua parte). O falecido não tem o poder
de dispor livremente e integralmente do seu patrimônio. Havendo herdeiros necessários
(cônjuge, ascendentes e descendentes – 1.845), fica limitado pela liberdade de testar
disposta no art. 1.789, CC. O poder de dispor integralmente só ocorre na hipótese de
herdeiros facultativos.
c. Simultânea:
A sucessão será simultaneamente legítima e testamentária quando houver
testamento e o extinto tiver herdeiros necessários.
RESUMO
Legítima Havendo herdeiros necessários, sem testamento.
Havendo herdeiros necessários, com testamento que tenha
caducado ou sido declarado nulo.
Testamentária Havendo testamento ou legado.
Simultânea Quando houver herdeiros necessários e, ao mesmo tempo,
testamento válido.
11
um legado).
e. Sucessão contratual
Apesar de não existir herança de pessoa viva (art. 426), é possível a sucessão
contratual, sendo vedado o pacto sucessório. Porém, excepcionalmente, podem em
vida, a teor do art. 2.018, os ascendentes partilharem o seu patrimônio entre os
descendentes por escritura pública (com anuência de todos os descendentes):
Art. 2.018. É válida a partilha feita por ascendente, por ato entre vivos ou de
última vontade, contanto que não prejudique a legítima dos herdeiros
necessários.
f. Sucessões irregulares
Sucessão irregular ou anômala é aquela que não obedece às normas próprias e
à ordem da vocação hereditária. A CF/88 estabelece, no art. 5.º, XXXI, o benefício ao
cônjuge ou filhos brasileiros, na sucessão de bens de estrangeiros situados no Brasil,
permitindo a aplicação da lei pessoal do de cujus, se mais favorável.
6. Espécies de sucessores
Herdeiro ou sucessor é aquele que será beneficiado com o patrimônio deixado
pelo falecido. O herdeiro pode ser legítimo ou testamentário.
a. Herdeiro legítimo:
O herdeiro legítimo é o que consta na ordem da vocação hereditária, indicada pela
lei. Art. 1.829, CC e 1.790 (união estável). Classificam-se como necessários
(descendentes, ascendentes e cônjuge) e facultativos (colaterais e companheiros ou
conviventes). É chamada a sucessão que resulta da lei.
i. Necessários (legitimário ou reservatário):
É o descendente ou ascendente sucessível e o cônjuge (art. 1.845, CC), isto é,
todo parente em linha reta não excluído da sucessão por indignidade ou deserdação
(ou renúncia). Os herdeiros necessários não podem ser privados por disposição de
última vontade. Sua existência impede que o testador disponha a totalidade de seus
bens. A eles é reservada a legítima (metade da herança).
Segundo o art. 1.846, pertence aos herdeiros necessários a metade dos bens da
herança (legítima). A legítima corresponde, portanto a metade dos bens da herança
12
deixada pelo falecido, após a retirada da meação (se houver) e pagas as dívidas e
despesas de funeral. Assim, ao lado da expressão herdeiros necessários surge a ideia
de legítima e de porção disponível, conceitos que estão todos interligados.
Nesse sentido, o art. 1.789 afirma que havendo herdeiros necessários “o testador
só pode testar a metade da herança”. Não existindo herdeiros necessários (ascendente,
descendente e cônjuge) o testador pode dispor de 100% de seus bens. IMPORTANTE:
durante a vida há a liberdade de alienar, onerosamente, todo o patrimônio existente,
não deixando nada de herança. O que não pode haver é doação de todo o patrimônio
ou excedendo a parte da liberalidade para um dos filhos.
Cálculo da legítima
O art. 1.847 traz a forma de cálculo da legítima. A legítima é calculada sobre a
meação do falecido, representada pelos bens existentes a época da abertura da
sucessão.
Art. 1.847. Calcula-se a legítima sobre o valor dos bens existentes na abertura
da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se,
em seguida, o valor dos bens sujeitos a colação.
13
Patrimônio de R$ 100.000,00
Regime de bens: comunhão universal
Cônjuge sobrevivente = meação 50% R$
50.000,00 Herança = 50% R$ 50.000,00
Dívidas do de cujus = R$ 10.000,00
Funeral = R$ 5.000,00
Total de despesas = R$ 15.000,00
50.000,00 – 15.000,00 = 35.000,00
Parte disponível = ½ R$ 35.000,00 / 2 = 17.500,00
Legítima = a outra metade + eventuais bens doados em vida como adiantamento de legítima.
14
Herança ≠ meação herança é o patrimônio e dívidas que sobram após a
exclusão da meação. Ex.: regime de CUB. Dos 100% do patrimônio pertencente ao
casal, 50% é meação e 50% é herança (sobre estes 50% é que será calculada a
liberdade de testar).
Nesse sentido, a legítima é o limitador do poder de dispor. A legítima é sagrada e
inatingível (art. 1.961).
i. Facultativos:
Ao lado dos herdeiros necessários, encontram-se os facultativos, que são os
colaterais até 4º grau. A existência de herdeiros facultativos não impede a disposição
em testamento de todos os bens pelo testador, assim considerado a sua parte
disponível.
Conforme se verá mais adiante, também é herdeiro facultativo o companheiro
sobrevivente, pois, ao contrário do cônjuge, que não pode ser excluído da herança por
ser herdeiro necessário, o companheiro pode ser excluído através de testamento.
2. Herança e espólio
A herança é conjunto patrimonial que é transmitido em razão do falecimento de
alguém. Deve-se destacar que a herança inclui tanto os bens, quanto os créditos e
dívidas existentes em nome do falecido.
A herança constitui o espólio, que é o titular do patrimônio. O espólio é um ente
despersonalizado, uma massa patrimonial ou universalidade de coisas, até a
individualização pela partilha. É utilizado sob o prisma processual. Ao espólio é
reconhecida legitimidade ativa e passiva e o seu representante é o inventariante ou,
antes de sua nomeação, pelo administrador provisório (art. 75, VII, CPC/2015).
15
O espólio responde pelas dívidas do falecido até a partilha e dentro dos limites
da herança. O espólio tem legitimidade para propor ação de despejo de imóveis de
propriedade do falecido. Após a partilha, cada herdeiro responderá pela dívida, dentro
das forças de seu quinhão. Realizada a partilha, o espólio deixa de existir, pois
desaparece a universalidade patrimonial.
Em razão disto, prevê o art. 1.793, CC, que apenas por escritura pública pode
haver a transmissão da herança (escritura pública de cessão de direitos hereditários).
Trata-se de requisito essencial para a validade do ato jurídico. Além disto, há a
necessidade de outorga do cônjuge do herdeiro, para a validade do ato (art. 1.647., I,
CC).
Art. 1.793. O direito à sucessão aberta, bem como o quinhão de que disponha
o co-herdeiro, pode ser objeto de cessão por escritura pública.
16
Contudo, enquanto não operada a partilha, os herdeiros são todos coproprietários
e co-possuidores da herança, tendo a regulação de seus direitos, conforme as
disposições relativas ao condomínio. Assim, como se trata de um condomínio, cada
herdeiro tem os mesmos direitos e deveres com relação ao todo, de modo que um
herdeiro não tem mais ou menos direitos ou deveres sobre bens específicos da
herança. Significa dizer que nenhum herdeiro pode “se apossar” de um bem
determinado, em detrimento dos demais herdeiros. Neste caso, qualquer herdeiro que
se sentir prejudicado pode se utilizar das ações possessórias para assegurar sua posse
(arts. 1.825 e 1.827, CC).
A partir dessa noção de indivisibilidade, pergunta-se, é possível que algum
herdeiro aliene a herança? Sim, cada herdeiro pode alienar ou ceder, mas somente sua
quota ideal, ou seja, pode transferir a terceiro seu quinhão, mas não pode ser
transferida parte certa e determinada da herança. É nesse sentido a disposição do art.
1.793, § 2.º, CC: “é ineficaz a cessão, pelo coerdeiro, de seu direito hereditário sobre
qualquer bem da herança considerado singularmente”. Neste caso, se o herdeiro
alienar sua quota parte sobre o bem X, esta cessão só terá eficácia se, com a partilha,
o herdeiro, de fato, receber o bem X.
Mas, como são aplicadas as regras do condomínio, o coerdeiro pode alienar,
respeitando a preferência estabelecida no art. 504, CC.
17
registrado no CRI). Porém, o cessionário se investe instantaneamente nos direitos
alienados, devendo, quando da abertura do inventário, se habilitar.
O Herdeiro único e universal pode ceder, também, no todo ou em parte. Se for
universal, o herdeiro-cedente nada mais terá a ver com a herança (persiste, é óbvio,
sua responsabilidade perante o cessionário até a efetividade do título hereditário:
partilha averbada).
Forma e objeto
O direito à sucessão aberta é considerado bem imóvel e, nesse sentido, para que
seja realizada a cessão, deve ser feita por escritura pública, com outorga uxória como
condição de validade do negócio jurídico (art. 1.793; art. 1.647, I; art. 166, IV).
Não quer dizer que a cessão não possa ser feita, mas dependerá da concordância
dos demais herdeiros. Ex.: “cede para Fulano de Tal os direitos hereditários que tem
por falecimento de XXX, sobre o imóvel Y”. Dependerá da concordância/liberalidade
dos demais co-herdeiros. Isto acontece, normalmente, quando os herdeiros fizeram a
partilha de forma amigável, dividindo entre eles os bens existentes.
18
Direito de acrescer
A cessão realizada abrange apenas os direitos hereditários existentes no
momento da cessão. Se depois de realizada houver, em favor do cedente, substituição
ou direito de acrescer (em razão de renúncia de um co-herderio, p. e.x.), os direitos daí
resultantes não estarão compreendidos na cessão realizada anteriormente
(GONÇALVES, 2012, p. 58).
O herdeiro cedente, conforme art. 504, caput e § 1º, deve dar ciência aos herdeiros
condôminos, para exercício de prelação (preferência). Nesse sentido, o art. 1.794, CC
traz a determinação de que:
Art. 1.794. O co-herdeiro não poderá ceder a sua quota hereditária a pessoa
estranha à sucessão, se outro co-herdeiro a quiser, tanto por tanto.
Caso não tenha sido dado o direito de preferência à algum co-herdeiro, este
poderá, nos termos do art. 1.795, CC, exercer este direito a posteriori:
Art. 1.795. O co-herdeiro, a quem não se der conhecimento da cessão, poderá,
depositado o preço, haver para si a quota cedida a estranho, se o requerer até
cento e oitenta dias após a transmissão.
Este direito deverá ser exercido em até 180 dias após a ciência da alienação. E
se mais de um herdeiro quiser exercer o direito de preferência? Neste caso, segundo
Tartuce (2012, p. 18) deverá o quinhão cedido ser distribuído entre eles, na proporção
de suas quotas hereditárias:
Art. 1.795. Parágrafo único. Sendo vários os co-herdeiros a exercer a
preferência, entre eles se distribuirá o quinhão cedido, na proporção das
respectivas quotas hereditárias.
19
abertura do inventário.
- Quando for feito inventário extrajudicial, pode-se realizar a cessão de direitos
no mesmo dia da escritura de inventário. Basta que todos os impostos (transmissão)
estejam pagos.
- Pela força dos § § 2º e 3º do art. 1.793, o cedente não responde pela evicção,
a menos que ceda bens inexistentes, ou que não lhe pertençam, em relação à sua
quota-parte. Esta regra decorre do princípio da indivisibilidade da herança e do caráter
aleatório da cessão.
- A cessão depende da anuência conjugal (na hipótese de casados) porque a
cessão é translativa. Havendo resistência do cônjuge ou companheiro em anuir à
cessão, possível a busca do suprimento judicial de consentimento. Exceção: art. 1.647:
alienar, fazer doação, prestar fiança ou aval (Regime da Separação de Bens);
- O cessionário, responde como responderia o cedente, pelo passivo da herança
(até o limite do quinhão).
- A cessão pode sofrer desconstituição Judicial, quando eivada de qualquer dos
vícios de consentimentos;
- A ação anulatória deve ser promovida em autos próprios. Pode ocorrer a
suspensão do inventário ou não (depois de decidida a questão, faz-se, então, uma
sobrepartilha).
- Os direitos testamentários ou legatários podem ser transferidos por cessão.
- Quando o cônjuge cede a totalidade, chamamos de cessão da universalidade
de Bens que compõe a meação. O cônjuge sobrevivo pode ceder parcialmente.
20
salvo se houver inventário demonstrando o valor dos bens herdados (art. 796,
CPC/2015). Como o inventário é um levantamento dos bens, créditos e débitos
existentes em nome do falecido, apura-se o valor das dívidas e o valor dos bens
necessários ao pagamento delas. Só serão partilhados os bens ou valores que
restarem após o pagamento das dívidas existentes (GONÇALVES, 2012, p. 54).
4
São Paulo: Lei Estadual 10.705/2000; Minas Gerais: Lei Estadual: 14.941/2003; Maranhão: Lei
Estadual .912/1998.
21
Art. 614. O administrador provisório representa ativa e passivamente o espólio, é obrigado a trazer
ao acervo os frutos que desde a abertura da sucessão percebeu, tem direito ao reembolso das despesas
necessárias e úteis que fez e responde pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa.
Mas quem será o administrador provisório? O art. 1.797, CC traz o rol daqueles
que podem ser administradores provisórios:
Art. 1.797. Até o compromisso do inventariante, a administração da herança
caberá, sucessivamente:
I - ao cônjuge ou companheiro, se com o outro convivia ao tempo da abertura
da sucessão;
II - ao herdeiro que estiver na posse e administração dos bens, e, se houver
mais de um nessas condições, ao mais velho;
III - ao testamenteiro;
IV - a pessoa de confiança do juiz, na falta ou escusa das indicadas nos incisos
antecedentes, ou quando tiverem de ser afastadas por motivo grave levado ao
conhecimento do juiz.
Questão que não é pacífica é a obediência ou não a esta ordem. Há decisões que
flexibilizam e permitem que a nomeação do administrador provisório seja distinta desta
ordem do art. 1.797, CC. Outras, contudo, entendem que deva ser, rigorosamente,
obedecida.
O art. 1.798 trata da legitimidade para suceder, estabelecendo que aqueles que
22
estiverem vivos ou concebidos no momento da abertura da sucessão serão legitimados
a receber a herança.
Art. 1.798. Legitimam-se a suceder as pessoas nascidas ou já concebidas no
momento da abertura da sucessão.
23
herdeiro, porque considera-se que estava concebido quando o genitor faleceu e, além
disto, há a questão da igualdade trazida pelo art. 227, § 6.º, CF (TARTUCE, 2012, p.
25).
A III Jornada de Direito Civil, realizada em 2004, aprovou o enunciado 267, do
Conselho da Justiça Federal e do Superior Tribunal de Justiça sobre o tema:
Enunciado 267 - Art. 1.798: A regra do art. 1.798 do Código Civil deve ser
estendida aos embriões formados mediante o uso de técnicas de reprodução
assistida, abrangendo, assim, a vocação hereditária da pessoa humana a
nascer cujos efeitos patrimoniais se submetem às regras previstas para a
petição da herança.
Para que alguém possa suceder, não basta invocar a ordem da vocação
hereditária. Devem ser preenchidas algumas condições (VENOSA, 2012, p. 53):
a) deve ser pessoa – animais não podem suceder. O que pode haver é o
testador impor ao herdeiro testamentário um encargo de cuidar de um animal em
específico.
b) deve estar viva – pode já estar concebido na época da morte e terá direito se
nascer com vida e, então, tornar-se-á herdeiro desde a concepção.
c) deve ser capaz – é a aptidão específica para a herança, a legitimação. Assim
não basta existir no momento da morte, tem de ser legítimo, pois se o autor da herança
tiver deixado descendente, os ascendentes, mesmo que vivos, não serão legítimos;
d) não pode ter sido declarada indigna – aquele que praticar atos contra o
autor da herança, que sejam presumidos incompatíveis com os sentimentos de afeição
real ou presumida.
24
desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão;
II - as pessoas jurídicas;
III - as pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob
a forma de fundação.
No inciso I, o legislador abre exceção à regra geral, possibilitando que filhos não
concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que estas estejam vivas quando
da abertura da sucessão, venham a ser herdeiros testamentários. É a chamada prole
eventual ou o concepturo.
Mas, se, por exemplo, o testador instituir cláusula no testamento, contemplando o
filho não concebido de sua filha (seu eventual neto, portanto) e, quando a sucessão for
aberta sua filha estiver morta, caducará a disposição testamentária.
Dispõe o art. 1.800, CC que depois de feita a partilha os bens serão entregues a
um curador nomeado pelo juiz:
Art. 1.800. No caso do inciso I do artigo antecedente, os bens da herança serão
confiados, após a liquidação ou partilha, a curador nomeado pelo juiz.
§ 1º Salvo disposição testamentária em contrário, a curatela caberá à pessoa
cujo filho o testador esperava ter por herdeiro, e, sucessivamente, às pessoas
indicadas no art. 1.775.
§ 2º Os poderes, deveres e responsabilidades do curador, assim nomeado,
regem-se pelas disposições concernentes à curatela dos incapazes, no que
couber.
§ 3º Nascendo com vida o herdeiro esperado, ser-lhe-á deferida a sucessão,
com os frutos e rendimentos relativos à deixa, a partir da morte do testador.
§ 4º Se, decorridos dois anos após a abertura da sucessão, não for concebido
o herdeiro esperado, os bens reservados, salvo disposição em contrário do
testador, caberão aos herdeiros legítimos.
Deve ser destacado o § 4.º, que estabelece que se até dois anos após a abertura
da sucessão não for concebido o herdeiro esperado, os bens reservados caberão aos
herdeiros legítimos.
Quem deve existir no momento da morte do autor da herança são os pais do
beneficiado, não este, que, na hipótese, sequer precisa estar concebido (GONÇALVES,
2012, p. 73).
IMPORTANTE: Também deve ser salientado que essa disposição do art. 1.799,
I, CC, aplica-se tanto a filhos biológicos, quanto a filhos adotivos, em razão da igualdade
estabelecida pela CF, no art. 227, § 6º.
25
situação:
Em princípio não se pode falar em direitos sucessórios daquele que foi
concebido por inseminação artificial post mortem, uma vez que a transmissão
da herança se dá em consequência da morte (CC, art. 1.784) e dela participam
as “pessoas nascidas ou já concebidas no momento da abertura da sucessão”
(art. 1.798).
A questão, no entanto, é tormentosa e cabe à doutrina e à jurisprudência
fornecer subsídios para sua solução. A doutrina brasileira se inclina no sentido
de negar legitimação para suceder aos filhos havidos por métodos de
reprodução assistida, quer na hipótese de a morte do ascendente preceder à
concepção, quer na de implantação de embriões depois de aberta a sucessão.
Solução favorável à criança ocorreria se houvesse disposição legislativa
favorecendo o fruto de inseminação post mortem.
[...]
[...]se o Código Civil de 2002 trata os filhos resultantes de fecundação artificial
homóloga, posterior ao falecimento do pai, como tendo sido “concebidos na
constância do casamento”, não se justifica a exclusão de seus direitos
sucessórios. Entendimento contrário conduziria à aceitação da existência, em
nosso direito, de filho que não tem direitos sucessórios, em situação
incompatível com o proclamado no art. 227, § 6.º, da Constituição Federal.
O inciso II, do art. 1.799, CC permite que também as pessoas jurídicas possam
ser beneficiadas no testamento. Desta forma, qualquer pessoa pode ser contemplada
no testamento, tanto física quanto jurídica, simples ou empresária, de direito público ou
privado.
O inciso III, do art. 1.799, CC permite que o testador beneficie uma fundação que,
nos termos do art. 62, pode ser criada por escritura pública ou testamento. Neste último
caso, segundo Gonçalves (2012, p. 77), “por ainda não existir a pessoa jurídica
idealizada pelo testador, aberta a sucessão os bens permanecerão sob a guarda
provisória da pessoa encarregada de instituí-la, até o registro de seus estatutos, quando
passará a ter existência legal”.
A doutrina admite que o testador deixe bens para uma pessoa jurídica existente
de fato, mas não de direito. São os casos das sociedades de fato, nos termos do art.
986, CC. O que se deve perceber é que estas pessoas jurídicas existem, já estão
atuando, ainda que não tenham seus documentos constitutivos registrados. O que não
se permite é que o testador beneficie pessoa jurídica que, sequer existe de fato.
Se, contudo, os bens destinados para constituir a fundação forem insuficiente e o
testador não dispuser de forma diversa, deverão os bens serem destinados a outra
fundação que tenha finalidade igual ou semelhante (art. 63, CC). OBSERVAÇÃO: Já
caiu questão no exame de ordem sobre esta situação!
26
b. Pessoas que não podem ser nomeados herdeiros testamentários, nem
legatários
O art. 1.801 menciona que outras pessoas não podem ser nomeadas herdeiras,
nem legatárias:
Art. 1.801. Não podem ser nomeados herdeiros nem legatários:
I - a pessoa que, a rogo, escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou
companheiro, ou os seus ascendentes e irmãos;
II - as testemunhas do testamento;
III - o concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver
separado de fato do cônjuge há mais de cinco anos;
IV - o tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se
fizer, assim como o que fizer ou aprovar o testamento.
Assim, mesmo com as proibições dos arts. 1.801, 1.798, 1.799, I, se forem
contempladas pessoas neles contantes, de forma direta ou mediante simulação, as
disposições testamentárias serão NULAS.
A nulidade da deixa testamentária pode revestir-se de duas formas: a) o
testador dissimulada a liberalidade sob a aparência de contrato oneroso; ou b)
recorre a interposta pessoa para beneficiar o proibido de suceder
(GONÇALVES, 2012, p. 84).
27
Para exemplificar a situação:
a) o testador confessa ser devedor de obrigação inexistente, ou alega ter
prometido à venda certo bem, afirmando já ter recebido o preço acordado;
b) o testador utiliza um “testa de ferro” para realizar a operação que tinha em
mente;
c) o testador, com intenção de beneficiar a concubina, institui o pai da mulher,
beneficiando-a, indiretamente.
É lícita, contudo, a deixa ao filho do concubino, se também o for do testador (art.
1.803).
9. Aceitação da herança
Com o falecimento abre-se a sucessão e a transmissão opera-se desde logo. A
aceitação revela a anuência do beneficiário em receber a herança. Assim, o
recebimento da herança é facultativo, pois o beneficiário poderá deliberar (aceitar ou
renunciar) seu direito. A aceitação (ou adição) da herança é o ato pelo qual o herdeiro
concorda com a transmissão dos bens do de cujus, que ocorreu, por lei, no momento
da abertura da sucessão.
Obs: Enquanto não manifestada a aceitação, entrementes, não é definitiva a
transmissão, no que foi claro o Código em seu art. 1.804 CC. Embora se de a
transmissão imediata, a aceitação vem a ser uma confirmação da aquisição que
se dá a partir da abertura da sucessão.
Espécies de aceitação:
O art. 1.805, estabelece as duas formas de aceitação: expressa e tácita.
a) Expressa - É a manifestada por escrito, público ou particular, de que o
beneficiário deseja receber a herança.
b) Tácita - É a que prevalece (Art. 1805, segunda parte, CC). A aceitação tácita
resulta de qualquer ato que demonstre a intenção de aceitar a herança, atos
compatíveis com caráter de herdeiro:
28
c) se o herdeiro concorda com a avaliação, ou contesta;
d) se o herdeiro efetua cobrança de dívidas do espólio;
e) se requer a abertura do inventário;
f) quando paga dívida dos de cujus com numerário proveniente do espólio;
g) quando doa bens da herança;
h) que pratica atos que vão além de simples atos de conservação e
administração e que impliquem, necessariamente, a intenção de aceitar;
i) o silêncio do herdeiro, quando notificado para se manifestar (art. 1.807).
Art. 1805, §1º, CC: “não exprimem aceitação da herança os atos oficiosos, como
o funeral do finado, os meramente conservatórios, ou os de administração e guarda
interina”. Esses atos são praticados de forma altruísta, sem o intuito de aceitar a
herança.
ATOS OFICIOSOS = praticados de forma desinteressada, com objetivo de prestar
favor.
ADMINISTRAÇÃO E GUARDA PROVISÓRIA = praticados pelo herdeiro para
atender a uma necessidade premente, sem intenção de tê-los para si.
Art. 1805, §2º, CC: a cessão pura e simples para os demais coerdeiros também
não importa aceitação da herança – equivale a uma renúncia (GONÇALVES, 2012, p.
91).
c) Presumida - É o que ocorre no caso do art. 1807, CC, quando algum
interessado em saber se o herdeiro aceita ou não a herança faz requerimento ao juiz,
após passados 20 dias da abertura da sucessão, para que lhe intime a dizer, em prazo
não superior a 30 dias, se aceita ou não a herança (GONÇALVES, 2012, 91). Nesse
caso, o silêncio é interpretado como manifestação da vontade (aceitação presumida).
Percebe-se, então, que a aceitação tácita difere da presumida, pois esta
última depende da provocação de um terceiro interessado, enquanto que a
primeira resulta “de atos próprios da qualidade de herdeiro”.
Todavia, quem seriam esses interessados?
a) Os demais herdeiros;
b) As pessoas que, em caso de não aceitação, serão promovidas à condição de
herdeiros;
29
c) Algum credor.
- credores – não poderá haver renúncia com prejuízo aos credores. Nesse caso,
os credores poderão aceitar a herança em nome do renunciante, a fim de evitar a fraude
(art. 1.813, CC). Neste caso os credores, com autorização do juiz do inventário, aceitam
a herança, recebem o quinhão hereditário do renunciante (na proporção da dívida) e,
havendo saldo, os demais bens/valores serão entregues aos demais herdeiros que
seriam beneficiados com a renúncia. O saldo não será devolvido ao renunciante.
c) Aceitação parcial ou condicional: Não pode haver aceitação parcial. Nesse
sentido, temos que interpretar o art. 1808, caput e §1º, CC, pois trata da questão de um
mesmo herdeiro ser:
- herdeiro universal de um título e;
- legatário de um título singular.
30
Art. 1.808. Não se pode aceitar ou renunciar a herança em parte, sob condição
ou a termo.
§ 1º O herdeiro, a quem se testarem legados, pode aceitá-los, renunciando a
herança; ou, aceitando-a, repudiá-los.
Irrevogabilidade da aceitação
O Código Civil, em seu art. 1.812, define a irrevogabilidade da aceitação e de
renúncia. Assim, realizada a aceitação (expressa ou tácita ou presumida) não haverá
possibilidade de revogar tal ato, de modo que a aceitação gera efeitos imediatos e
definitivos.
Anulação da aceitação
Assim, depois de realizada a aceitação, se for verificado que o aceitante não é o
herdeiro, como por exemplo, chamar-se à sucessão os colaterais e, depois, verificar-se
a existência de filhos, deverá ser declarada a ineficácia da aceitação, devolvendo-se a
herança a quem de direito. Se, contudo, o inventário já tiver sido julgado, como
homologação da partilha, apenas com a ação de petição de herança é que será possível
reivindicar o que lhe cabe.
31
chama-se renúncia ou repúdio. Os efeitos da renúncia retroagem a data da abertura da
sucessão. Não se presume, pois é negócio formal e não está sujeita a condição ou
termo.
A renúncia tem como características: é unilateral, gratuita, irretratável e formal.
Não é possível haver promessa de renúncia.
Segundo o art. 1.806, CC, deve ser feita por instrumento público ou termo nos
autos, sendo, portanto, vedada a renúncia tácita. Necessita de uma ação, de uma
atividade por parte do herdeiro renunciante. Trata-se, pois, de negócio solene.
Características da Renúncia:
Rizzardo aponta as principais características da renúncia, acompanhando o
entendimento doutrinário dominante:
a) A unilateralidade, por não depender da vontade de outros herdeiros.
b) A abstratividade, isto é, a ausência de motivações. Não é colocada nenhuma
razão, e muito menos vem mencionado algum pagamento, posto que aí a figura seria
cessão.
c) A indivisibilidade, porquanto a renúncia se opera em relação à herança, e
não a um bem, continuando o herdeiro a concorrer na partilha do restante do patrimônio.
A lei não admite renúncia parcial (art. 1.808).
d) Ato jurídico puro, ou seja, sem depender de condições ou termo. Art. 1.808
CC.
e) Gratuita, jamais se permitindo algum pagamento ou uma compensação, sob
pena de confundir-se, então, com a cessão de direitos.
32
f) Efeito retroativo, valendo a contar da morte do autor da herança. Arts. 1.784
e 1.804.
g) O formalismo, que é de rigor, nunca se acolhendo que seja reconhecida à
renúncia por manifestação verbal, nem por instrumento particular. A renúncia deve ser
feita por instrumento público ou termo judicial (art. 1.806). Não há presunção de
renúncia ou renúncia tácita. Deve ser expressa e formal.
33
por seu representante legal - curador), a menos que obtenha a autorização judicial. Não
basta capacidade genérica, sendo necessária também a de alienar. Feita renúncia
por mandatário, deve este exibir procuração com poderes especiais para renunciar (art.
661, § 1.º, CC).
d) não pode ser feita antes de aberta à sucessão. O óbito é que deflagra o
processo sucessório e as questões relativas à qualidade de herdeiro.
e) sendo casado o herdeiro, há necessidade do consentimento do cônjuge -
exceto no regime da separação absoluta (art. 1.647, I). A outorga de consentimento do
cônjuge é indispensável para a validade da renúncia, pois o direito à sucessão aberta
é considerado bem imóvel (art. 80, II). Se o cônjuge nega-se a dar o consentimento, o
juiz poderá supri-lo, conforme art. 1.648, CC.
Art. 1.648. Cabe ao juiz, nos casos do artigo antecedente, suprir a outorga,
quando um dos cônjuges a denegue sem motivo justo, ou lhe seja impossível
concedê-la.
34
descendentes do renunciante não podem representá-lo porque ele nada recebeu.
RENÚNCIA E REPRESENTAÇÃO NÃO VIVEM JUNTAS!
Efeitos da Renúncia:
Muitas são as implicações do ato de renunciar, irradiando alguns efeitos, em
especial, a exclusão do herdeiro renunciante de forma ampla e definitiva.
a) Exclusão, da sucessão, do herdeiro renunciante: o RENUNCIANTE é
tratado como se nunca tivesse sido herdeiro (retroage à data da abertura da
sucessão, ou seja, desde o óbito). O renunciante é afastado da sucessão (art. 1.810
e 1811). NÃO CABE, PORTANTO, DIREITO DE REPRESENTAÇÃO.
b) direito de acrescer: a parte do renunciante passa imediatamente à dos
outros herdeiros da mesma classe, nos termos do art. 1810, CC.
35
B herdeiro renunciante
C herdeiro renunciante
36
e) Se todos os herdeiros da mesma classe renunciarem, os filhos (netos do
autor da herança) serão chamados a suceder por direito próprio, por cabeça (art. 1811,
CC). Neste caso, mesmo que o falecido tiver deixado vários filhos, todos renunciantes,
e cada um deles com quantidade diversa de filhos, cada neto do autor da herança
receberá em partes iguais, como se os seus pais jamais tivessem existido (serão, todos
eles, herdeiros de mesma classe e, neste caso, não há diferença no percentual da
herança). Se ele for o único descendente e renunciar, essa renúncia não atinge aos
netos, que herdam em condição própria, caso esses não existam, são convocados os
ascendentes...
A, B e C = herdeiros renunciantes
X, H, L e Y herdam por direito próprio ou cabeça. Não há diferença de percentual na
herança, neste caso.
37
substituto no testamento, caso o beneficiário não aceite a herança ou legado:
38
Quadro comparativo
RENÚNCIA CESSÃO
Antes de aceitar a herança Após aceitar a herança
Expressa Expressa
Escritura pública ou termo nos autos Somente por escritura pública
Repúdio total da herança Cessão pode ser parcial ou total
Não pode haver renúncia em favor de pessoa A cessão é em benefício de pessoa ou pessoas
determinada – operada a renúncia a quota parte determinadas
divide-se entre os demais herdeiros
Irrevogável Irrevogável
Admite retratação em caso de vício de vontade –
mas é caso de anulação ou nulidade.
Renunciada a herança o herdeiro fica como se nunca Cessionário assume posição equiparável a de
tivesse existido herdeiro e este segue tendo direitos sobre direito
de acrescer e substituição
39
O art. 1.814, CC traz expressas as causas que importam na exclusão do herdeiro
considerado indigno. Trata-se de situações taxativas, não se admitindo qualquer tipo
de interpretação expansiva.
Para Gonçalves (2012, p. 112), a exclusão por indignidade pressupõe:
a) seja o herdeiro ou legatário incurso em casos legais de indignidade;
b) não tenha sido reabilitado pelo de cujus;
c) haja uma sentença declaratória da indignidade.
A prova do fato e da culpabilidade é feita no curso da ação civil. Não é preciso que
já tenha havido condenação criminal. Contudo, se já tiver sido condenado no crime,
40
não mais se discute no cível sobre quem é o autor do fato (a sentença penal transitada
em julgado faz coisa julgada no cível). Também, se o autor do fato tiver sido absolvido
no criminal, não poderá ser declarado indigno no juízo cível.
Além da sanção cível – exclusão por indignidade – o autor dos atos atentatórios
contra a vida do autor da herança ou ascendentes ou descendentes seus, sofrerá,
ainda, as sanções penais cabíveis.
E se houver sentença criminal absolvendo o réu (herdeiro), por inimputabilidade?
E se o juiz, absolver o réu pela inexistência do fato?
Nestes casos, a sentença criminal faz coisa julgada no cível, ou seja, civilmente a
exclusão ou a tentativa desta não surtirá efeitos (art. 935, CC). Portanto, a sentença do
juízo criminal impede que no cível se reconheça a indignidade.
Por outro lado, verifica-se que a lei exige que o homicídio seja voluntário. Exclui-
se, portanto, o homicídio culposo, decorrente de imprudência, imperícia e negligência.
O dolo é essencial para o reconhecimento da exclusão do herdeiro.
41
confiança do testador ou falsificando a manifestação de vontade, deve responder pelo
ato, ensejando o afastamento da sucessão pelo reconhecimento da indignidade, em
autos apartados. Algumas situações fáticas:
a) herdeiro constrange o de cujus a testar;
b) herdeiro impede-o de revogar testamento anterior;
c) herdeiro suprime testamento cerrado ou particular dele;
d) herdeiro elabora testamento falso;
e) herdeiro cientemente, pretende fazer uso de testamento falsificado.
42
O prazo para a propositura da ação é de 4 anos contados da abertura da
sucessão – art. 1.815, § único.
H – herdeiro indigno.
A e B – herdarão por representação (no lugar de seu pai, como se ele nunca
tivesse existido).
Com isto:
X – recebe 1/3 Y – recebe 1/3
A e B – dividem o 1/3 que caberia a seu pai.
43
sucessão, com a sentença, os efeitos retroagem até esta data, de forma que o
legislador determina que o indigno seja considerado premorto (com isto, não há a
incidência de imposto sobre a quota parte do indigno, ou seja, se este tiver filhos,
não haverá ITCD sobre o seu recebimento e ITBI sobre a transmissão para seus filhos).
c) perda dos frutos e rendimentos: nos termos do art. 1.817, §único, o herdeiro
excluído deve restituir os frutos e rendimentos que tenha obtido até a declaração de
indignidade, mas tem direito a ser ressarcido das despesas com a conservação dos
bens.
44
Reabilitação do indigno – art. 1.818, CC
12.1 Deserdação
A deserdação é uma causa de exclusão pela qual o autor da herança, através de
disposição de última vontade – testamento – exclui de sua sucessão o herdeiro
necessário que tenha praticado atos moralmente censuráveis e previstos na lei civil.
IMPORTANTE: só se aplica aos herdeiros necessários (descendentes,
ascendentes e cônjuge), que ficam privados de sua legítima, sem atingir a meação.
45
Trata-se de uma pena civil que é aplicada pelo próprio autor da herança, através
de testamento.
Características da deserdação
a) o arbítrio do autor da herança não é ilimitado (incondicionado); precisa seguir
os pressupostos legais e limites.
b) o autor deve mencionar a causa constitutiva e determinante da deserdação,
entre as indicadas na lei (para permitir a defesa e o contraditório);
c) deve ser clara e expressa; atendendo os requisitos legais;
d) não existe deserdação tácita, virtual ou implícita;
e) o testador pode retratar a deserdação (por testamento). EX: não vale simples
reconciliação; precisa cancelar, ou fazer um novo testamento, seguindo o rito
anteriormente adotado.
f) o testamento que é anulável (nulo), torna ineficaz a cláusula de deserdação;
g) condição ou termo são inconciliáveis com a deserdação;
ex: Ameaças, em relação ao herdeiro fazer ou deixar de fazer algo, sob pena de
ser deserdado, não têm o poder nem a legalidade para deserdar.
h) o excluído da sucessão não tem direito ao usufruto e à administração dos
bens (art. 1816, parágrafo único, CC);
i) não há proibição de deserdação parcial (sanção proporcional à gravidade da
ofensa, apesar de não estar pacífica tal posição);
j) o herdeiro que falece antes do testador não pode ser deserdado (implicaria na
quebra do princípio da pessoalidade, alcançando os descendentes do punido. A pena
é personalíssima). No entanto, existe a possibilidade de deserdar o neto, vinculada a
pré-morte do filho, condicionada aos mesmos requisitos supracitados.
46
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou
incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da
herança de dispor livremente de seus bens por ato de última vontade.
47
se admite outra forma. A deserdação deve ser expressa, embora não hajam
expressões sacramentais. O perdão ao deserdado só pode ser concedido em novo
testamento.
Efeitos da deserdação:
O art. 1.816, CC afirma que os efeitos da exclusão são pessoais. Apesar de não
haver previsão expressa para a deserdação, aplica-se este mesmo dispositivo, tendo
em vista que o objetivo da indignidade e da deserdação é o mesmo.
- Privação em todo ou parte, da legítima, sendo o deserdado havido como se
morto fosse;
- É de índole pessoal a sanção;
- Aos ascendentes não cabe a representação;
- Os descendentes recolhem a herança por direito de representação;
48
naturalmente.
INDIGNIDADE DESERDAÇÃO
Decorre de lei, que prevê a sanção nos casos de Decorre da vontade do autor da herança que, em
prática de atos previstos no art. 1.814, CC. testamento, pune o responsável.
Nem sempre os fatos são anteriores à morte do Os suportes fáticos são anteriores à morte do autor
autor da herança da herança.
Os herdeiros do indigno recebem sua parte Os herdeiros do não legitimado não recebem
49
Contudo, para que isto ocorra, devem ser observados alguns procedimentos.
Quando abre-se a sucessão e o de cujus não deixou herdeiros, nem testamento
conhecido, diz-se que a herança é jacente (art. 1.819).
A herança JAZ enquanto não se apresentam herdeiros do falecido para reclamá-
la. Assim, o Estado determina, para evitar o perecimento da herança, que haja a sua
arrecadação para que, ao fim, seja entregue aos herdeiros que se apresentem e
tenham legitimidade para suceder.
Somente depois de realizadas as diligências legais, ainda não aparecerem
herdeiros, é que a herança será declarada vacante, para o fim de ser incorporada ao
patrimônio do Poder Público.
Existem, portanto, duas fases: a jacência e a vacância.
HERANÇA JACENTE: Assim, quando aberta a sucessão verifica-se que o de
cujus não deixou testamento, nem tem herdeiros, diz-se que a herança é JACENTE
(art. 1.819, CC). Mesmo quando haja herdeiro sucessível, enquanto não se souber da
sua existência, a herança será jacente.
HERANÇA VACANTE: depois que o Estado arrecadou os bens, com o intuito de
impedir o perecimento da riqueza, depois de realizadas as diligencias a fim de verificar
a existência de herdeiros, se restar demonstrado não existirem herdeiros sucessíveis,
a herança jacente será declarada VACANTE.
Casos de jacência:
Para que se configure a jacência deve haver – art. 1.819, CC:
a) ocorrência do óbito;
b) sem deixar testamento conhecido ou ser este caduco. Neste caso, tem-
se duas situações:
Sem testamento:
a. Inexistência de herdeiros conhecidos
b. Renúncia da herança por todos os herdeiros
Com testamento:
50
c) sem deixar herdeiro legítimo (art. 1829);
d) com herdeiros que renunciaram;
e) com herdeiros ausentes (ou, com beneficiários não conhecidos).
Cabe ao curador:
Art. 739, § 1o Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do
Ministério Público;
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a
arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2º Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161.
51
Finalizada a arrecadação, serão expedidos editais, nos termos do art. 741,
CPC/2015 – na internet, site do tribunal e na plataforma do CNJ, devendo permanecer
por 3 meses. Em não havendo o site, a publicação deverá ocorrer na imprensa da
Comarca, por 3 vezes, com intervalos de 1 mês entre cada uma.
Havendo herdeiro habilitado, a arrecadação converte-se em inventário (art. 741,
§ 1.º, § 3.º, CPC/2015).
Declaração de vacância
Não havendo herdeiro habilitado, após um ano da publicação do edital, a herança
será declarada vacante (art. 743, CPC/2015).
Será VACANTE a herança quando, depois de todas as diligências, inclusive com
a publicação de editais, passado um ano, não houverem herdeiros sucessíveis
habilitados. Há uma exceção: se todos os chamados a suceder renunciarem a
herança, será, desde logo, declarada vacante (art. 1.823, CC), sem que haja a fase de
jacência.
Uma vez sendo declarada, por sentença, a vacância, o cônjuge, companheiro ou
herdeiros só poderão reclamar seu direito através de ação de petição de herança (art.
743, § 2.º, CPC/2015).
Após a declaração de vacância, podem os credores pedir o pagamento das
dívidas reconhecidas, nos limites da força da herança (art. 1.821, CC + art. 741, § 4.º,
CPC/2015).
Mas essa declaração de vacância não faz com que os bens da herança se
incorporem, desde logo, ao patrimônio do Município ou Distrito Federal (se localizados
nos seus territórios) ou à União (se localizados em território federal). Para tanto, o art.
1.822, CC prevê o prazo de 5 anos da abertura da sucessão.
52
reconhecida (filho a ser reconhecido de uma relação extraconjugal do de cujus).
Nesse caso, para que esse herdeiro possa ter seu direito reconhecido e, então,
receber parcela que lhe cabia na universalidade, deverá ingressar com uma ação
judicial. Esse é o caso da petição de herança.
EXEMPLOS:
1. Alguém que se aposse ilegalmente da herança ou de parte dela;
2. Herança que é recolhida por parentes mais afastados do falecido e o
interessado é de grau mais próximo, de classe preferencial;
Filho 1 = pré-morto.
Filho 2 = desaparecido – não se sabe da existência
Neto 1, 2 e 3 = herdarão por direito próprio, pois a classe anterior (dos filhos) não
existe = 1/3 para cada um.
Neto 1 = pré-morto sua quota parte será divida entre Bisneto 1.1 e 1.2.
Quanto o Filho 2 for “descoberto”, terá direito de pleitear a herança (sua quota
parte). Neste caso, ficará com a ½ da herança e a outra ½ será dividida entre os
herdeiros de Filho 1.
Conceito:
A petição de herança é uma ação, oferecida pelo herdeiro preterido, no sentido
de que lhe seja deferida a quota parte que lhe cabe, por direito. Trata-se, pois, do meio
jurídico pelo qual o herdeiro (excluído por qualquer razão – não se sabia da existência,
53
por exemplo) pode se utilizar para garantir sua condições e o acesso aos bens deixados
pelo falecido (art. 1824, CC)
A ação visa, portanto, o reconhecimento da qualidade de herdeiro e a satisfação
quanto ao acervo hereditário, ou seja, contemplar o herdeiro – autor da ação – com sua
quota parte na herança. Necessita, contudo de uma ação de estado, ou seja, de uma
ação que objetive a declaração do parentesco.
A petição de herança tem dúplice objetivo:
a) o reconhecimento judicial da qualidade do herdeiro ou a condição de herdeiro
(qualidade sucessória);
b) a proclamação do princípio de que, sendo vários os herdeiros, qualquer deles
pode demandar a totalidade da herança.
RESUMO:
PETIÇÃO DE HERANÇA REIVINDICATÓRIA
Universal Singular
Pretende a devolução da herança como um todo Pretende a devolução de coisas destacadas,
ou em quota ideal singulares e determinadas
Visa o reconhecimento da qualidade de herdeiro Visa o reconhecimento do direito de propriedade
sore determinada coisa
Proposta pelo herdeiro a ser reconhecido Proposta pelo legatário, por exemplo
54
Legitimidade para propor a ação:
LEGITIMIDADE ATIVA: A lei fala: “o herdeiro pode”, isto significa, que o herdeiro
legítimo ou testamentário ostentam a qualidade, a titularidade ativa. Tem legitimação
ativa, também, o síndico, o administrador, o testamenteiro, o curador, o companheiro
(a), etc.
a) O inventariante;
b) O testamenteiro;
c) O filho em ação de Investigação de Paternidade (de forma cumulada);
d) Herdeiro testamentário excluído da sucessão;
e) O companheiro sobrevivo;
f) Parentes do de cujus excluídos por outros titulares;
g) O curador da herança do morto;
h) Herdeiros não necessários preteridos pelos testamentários;
i) Filho não reconhecido pelo pai;
j) Síndico/administrador da falência do morto;
LEGITIMIDADE PASSIVA: Será réu nessa ação, aquele que estiver na posse da
herança como se fosse herdeiro, aparentando uma qualidade e assumindo a posição
de herdeiro, sem o ser verdadeiramente.
a) Herdeiro aparente (possuidor dos bens hereditários);
b) Terceiro estranho à sucessão causa mortis;
c) Herdeiro que possua por outro título (usucapião).
d) Estado (quando há herança jacente)
Efeitos da sentença:
Reconhecida a qualidade hereditária do autor da petição de herança, transmite-
se a titularidade do patrimônio deixado em seu favor. Com a procedência da ação e o
trânsito em julgado há o reconhecimento da ineficácia da partilha em relação ao autor
da ação, sendo dispensada sua anulação. Bastará o requerimento de retificação da
partilha realizada anteriormente.
Esses efeitos também são diferentes com relação ao possuidor de boa e má-fé e
quanto ao terceiro adquirente:
55
Possuidor:
Aquele que possua os bens, com o julgamento da petição de herança, deverá
devolvê-los, com todos os acessórios. Responderá por perdas e danos e pelos frutos
que tiver colhido, salvo direito de retenção, se estiver de boa-fé.
Art. 1.826. O possuidor da herança está obrigado à restituição dos bens do
acervo, fixando-se-lhe a responsabilidade segundo a sua posse, observado o
disposto nos arts. 1.214 a 1.222.
Parágrafo único. A partir da citação, a responsabilidade do possuidor se há de
aferir pelas regras concernentes à posse de má-fé e à mora.
Já o possuidor de má-fé:
a) Art. 1216, CC – pelos frutos colhidos e percebidos (e pelo que deixou de
perceber por culpa);
b) responde pela perda e deterioração da coisa, a que não der causa (art. 1218);
c) não tem direito de retenção de benfeitorias (nem levantar as voluptuárias); as
necessárias serão ressarcidas (art. 1218, 1220, 1222).
Terceiro adquirente:
A questão que se discute é se a alienação feita pelo herdeiro aparente é válida ou
não.
Art. 1.827. O herdeiro pode demandar os bens da herança, mesmo em poder
de terceiros, sem prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo
valor dos bens alienados.
Parágrafo único. São eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo
herdeiro aparente a terceiro de boa-fé.
56
O Dispositivo regula a hipótese do bem não se encontrar nas mãos do possuidor,
mas de terceiros.
Se a alienação tiver sido feita a título gratuito, os bens devem ser devolvidos ao
herdeiro, de imediato.
Contudo, se o negócio tiver sido realizado pelo terceiro adquirente e pelo herdeiro
aparente a título oneroso, se o adquirente estiver de boa-fé, será válido o negócio.
O art. 1.828 prevê que o herdeiro aparente de boa-fé tem seus atos protegidos
por lei em benefício de terceiros de boa fé:
Art. 1.828. O herdeiro aparente, que de boa-fé houver pago um legado, não
está obrigado a prestar o equivalente ao verdadeiro sucessor, ressalvado a
este o direito de proceder contra quem o recebeu.
57
oneroso, pelo herdeiro aparente a terceiro de boa-fé. Obs: não a título gratuito, só a
oneroso, art. 1.828 CC.
II – SUCESSÃO LEGÍTIMA
A sucessão legítima é subsidiária da sucessão testamentária. Nestes termos, o
art. 1.788, CC dispõe:
Art. 1.788. Morrendo a pessoa sem testamento, transmite a herança aos
herdeiros legítimos; o mesmo ocorrerá quanto aos bens que não forem
compreendidos no testamento; e subsiste a sucessão legítima se o testamento
caducar, ou for julgado nulo.
58
1. Ordem da vocação hereditária - arts. 1.829 a 1.850.
Com o falecimento do de cujus, a herança transmite-se desde logo aos herdeiros.
Mas esse chamamento ocorre através de uma sequência, denominada ordem da
vocação hereditária. Há, portanto, uma relação preferencial, quando uns excluem os
outros de classe subsequente.
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
II - aos ascendentes, em concorrência com o cônjuge; III - ao cônjuge
sobrevivente;
IV - aos colaterais.
Desta forma, se “A”, solteiro, falece, deixando filho e pai vivos, a sucessão regular-
se-á da seguinte forma: o filho recebe toda a herança do pai e, seu avô (pai do falecido),
nada receberá, pois a classe mais próxima exclui a mais remota.
59
Art. 1.836. Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os
ascendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente.
§ 1º Na classe dos ascendentes, o grau mais próximo exclui o mais remoto,
sem distinção de linhas.
Art. 1.840. Na classe dos colaterais, os mais próximos excluem os mais
remotos, salvo o direito de representação concedido aos filhos de irmãos.
60
– Recebe por direito próprio – por
a. Descendentes
Os filhos herdam por direito próprio, por cabeça ou per capita, recebendo quotas
iguais e, os netos herdam por estirpe, a não ser que todos os filhos já faleceram. Nesse
caso, os netos, por estarem no mesmo grau, herdam por cabeça ou direito próprio
(sucessão avoenga).
EXEMPLOS:
61
2. Por estirpe:
b. Ascendentes
Na falta de descendentes, são chamados à sucessão os ascendentes. Não se
admite o direito de representação na linha ascendente (art. 1.852).
§ 1º - mais próximo exclui o mais remoto, sem distinção de linhas;
Pai = ½ da herança.
Mãe = ½ da herança.
62
Se, contudo, A falece, deixando a mãe viva e sendo o pai premorto, mesmo que
tenha avós paternos vivos, sua mãe recolherá toda a herança.
5
Em 10/05/2017 o STF reconheceu repercussão geral em que entende inconstitucional a diferenciação
na sucessão do cônjuge e do companheiro.
*** ver decisões do STF nos RE 646721 e RE 878694
63
Assim, traz a grande inovação do Código em matéria de sucessões, em relação à
condição do cônjuge: a concorrência com descendentes (no Regime da Comunhão
Parcial, com bens particulares, etc..) e a concorrência com ascendentes
(desimportando o regime de bens).
CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTES: condicionado ao regime;
A concorrência do cônjuge sobrevivente com os descendentes do de cujus vai
depender do regime matrimonial de bens. Não haverá concorrência se o cônjuge
sobrevivente tiver sido casado (com o falecido) pelo regime da comunhão universal de
bens (1.667) ou pelo regime da separação obrigatória (1.641), ou se, no regime da
comunhão parcial (1.658), o autor da herança não houver deixado bens particulares.
CONCORRÊNCIA COM ASCENDENTES: independente do regime.
64
Concorrência do cônjuge sobrevivente com os DESCENDENTES
O art. 1.829, I estabelece que:
Art. 1.829. A sucessão legítima defere-se na ordem seguinte:
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se
casado este com o falecido no regime da comunhão universal, ou no da
separação obrigatória de bens (art. 1.640, parágrafo único); ou se, no regime
da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado bens particulares;
Exemplo:
- Patrimônio de R$100.000,00
- Meação: R$ 50.000,00
- Legítima: R$ 50.000,00
- A = R$ 25.000,00
- B = R$ 25.000,00
65
b) Regime de Separação Obrigatória de Bens: 2ª exceção - Art. 1.641 – 1.687
A segunda hipótese excetuada pelo legislador (art. 1.829, inc. II) é aquela em que
o regime adotado do casamento foi o da Separação Obrigatória de bens, por força da
lei. Neste caso, aplica-se a súmula 377 do STF, de forma que, ao final do casamento
(por morte ou divórcio), haverá a comunicação do patrimônio adquirido de forma
onerosa durante a união. Desta forma, o cônjuge sobrevivente terá direito a meação
destes bens. Há discussão, quanto a aplicação da súmula, sobre a necessidade de
prova do esforço comum ou não. Não há uniformidade jurisprudencial. Desta forma, o
cônjuge sobrevivente receberá a metade dos bens comuns e, quanto aos particulares,
não terá direito a nada.
66
quota calculada sobre todo espólio, ou somente com relação aos bens
particulares deixados pelo falecido?”
EXEMPLO:
Cônjuge
Meação – 50% sobre bens comuns
Herança – ¼ (25%) sobre bens
particulares
Filhos
Bens comuns = ¼ para cada
Bens particulares = 18,75% para cada
67
EXEMPLOS:
Patrimônio: R$ 10.000,00 (particulares)
R$ 100.000,00 (aqüestos)
Herança: R$ 60.000,00 (50 +10).
Art. 1.832
Cônjuge = 50% de meação + 1/4 da herança
em concorrência
Filhos = dividem ¾ da herança = 15% para
cada um
68
Há duas situações diferentes: filiação comum e filiação exclusiva do autor da
herança. Desta forma, a concorrência ficará da seguinte forma:
FILHOS COMUNS = herdará em partes iguais (até 3 filhos) ou, se tiver mais de
3 filhos (4, por exemplo), o cônjuge sobrevivente herdará, no mínimo, ¼ da herança.
FILHOS EXCLUSIVOS DO AUTOR DA HERANÇA = o cônjuge sobrevivente
herda em partes iguais (independentemente do número de filhos).
Se os descendentes forem exclusivos do autor da herança, não sendo
descendentes comuns, o cônjuge sobrevivente não terá direito à ¼ da herança (bens
particulares), cabendo-lhe, tão somente, quinhão igual ao que couber a cada um dos
filhos.
Isto aplica-se, também, nos casos em que houver concorrência com herdeiros
netos. Exemplo:
69
b) metade: se houver um só ascendente ou maior for o grau.
Pai = 1/3
Mãe = 1/3
- Pai = ½
Neste caso, mesmo que o bem seja deferido, pelo inventário, a outro herdeiro,
70
caberá ao cônjuge o direito real de habitação, sendo, então, vedada a venda deste
imóvel (desde que seja o único daquela natureza a inventariar).
71
Neste caso, o sobrinho, representando o pai pré-morto (irmão do de cujus), herda
por estirpe. Apenas o(s) filho(s) de irmãos do morto podem representar os pais (os
netos, não pode, conforme art. 1.840).
Irmãos herdam para direito próprio (cabeça), enquanto seus descendentes por
representação (por estirpe).
2. Herdeiros necessários
O art. 1.845, CC estabelece quem são os herdeiros necessários:
Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o
cônjuge.
1. descendentes
2. ascendente
3. cônjuge (o companheiro não é herdeiro necessário, mas sim, facultativo)
Herdeiros necessários são os que não podem ser afastados da sucessão legítima
por vontade do autor da herança. Possuem a garantia da legítima.
Legítima: a porção (a metade) que a lei reserva aos Herdeiros Necessários, sobre
o acervo existente, quando da abertura da Sucessão.
Cláusulas restritivas
O autor da herança, conforme determina o art. 2.014, CC pode definir quais os
bens e valores que comporão os quinhões hereditários de cada herdeiro:
Art. 2.014. Pode o testador indicar os bens e valores que devem compor os
quinhões hereditários, deliberando ele próprio a partilha, que prevalecerá,
72
salvo se o valor dos bens não corresponder às quotas estabelecidas.
Assim, apenas se houver justa causa é que essas cláusulas poderão ser
estabelecidas pelo de cujus via testamento. Essa justa causa deve ser trazida pelo de
cujus no testamento. Ex.: incomunicabilidade, pois o cônjuge do herdeiro necessário é
um caçador/caçadora de dotes, pq o cônjuge do herdeiro possui filho fora do casamento
e, em razão do regime da comunhão universal, esse filho acabará por herdar o
patrimônio do de cujus, etc. Inalienabilidade e incomunicabilidade, pois o herdeiro é
consumidor compulsivo e aposta em jogos de azar, etc.
Art. 1.849.
Art. 1.849. O herdeiro necessário, a quem o testador deixar a sua parte
disponível, ou algum legado, não perderá o direito à legítima.
73
testamentária.
3. Direito de representação
Existem duas maneiras diferentes de suceder:
a) Por direito próprio/cabeça;
b) Por representação.
74
Pressupostos (requisitos):
1) A morte do representado: não há representação de herdeiro vivo. Exceção:
ter sido declarado deserdado, indigno ou ausente. Não cabe na renúncia.
2) Parentesco em linha descendente: o representante deve ser descendente do
representado, ou, EXCEPCIONALMENTE, colateral – filho do irmão (sobrinho) do autor
da herança. A descendência é a civil e não apenas a biológica (adoção, também).
3) Capacidade sucessória do representante em relação ao representado:
(legitimação para herdar). Deve ter legitimação para herdar. Ex. O filho substitui o pai
morto na herança do avô (linha descendente); ou filho substitui o pai pré-morto na
sucessão de um tio (linha colateral). Importante ressaltar a isonomia Constitucional:
igualdade dos filhos.
Efeitos
A representação produz dois efeitos:
1) O representante (representantes) só pode herdar o que herdaria o
representado, se vivesse (se vivo fosse) (art. 1854, CC). A porção é a mesma;
2) O quinhão do representado partir-se-á por igual entre os representantes
(art. 1855, CC).
3) O renunciante à herança de uma pessoa pode inobstante representá-la na
sucessão de outra. Na renúncia, os descendentes do abdicante não herdam por direito
de representação (art. 1856, CC). Assim, os efeitos da renúncia não passam da
herança à qual houve manifestação de repúdio.
4) Os representantes estão obrigados a trazer à colação os bens doados ao
representado pelo autor da herança (art. 1791); quando os netos, representando os
pais, sucedem os avós, serão obrigados a trazerem colação, para igualdade de
legítima;
5) O representante é considerado um herdeiro legítimo (e necessário...
75
colaterais, não), com todos os direitos inerentes (direito da saisina – art. 1572 – 1.784),
sendo igualitária sua posição relativamente aos co-herdeiros.
6) A responsabilidade do representante por dívidas do espólio se sujeita ao
benefício do inventário – responde por elas até o limite do quinhão;
7) A quota hereditária do representante não responde pelas dívidas do
representado, mas pelas do autor da herança.
8) O direito de representação se opera na sucessão legítima (excepcionalmente,
na testamentária, quando será chamada de substituição.
76
- os filhos de irmão unilateral (sobrinhos do “de cujus”) recebem metade do que
receberão os tios.
- os filhos de irmão unilaterais recebem metade do que receberão os filhos de
irmão germanos.
EXEMPLOS:
1º Exemplo: Se o de cujus deixa três irmãos, sendo que um deles já falecido com
filhos, a herança será dividida em três partes, cabendo uma para cada irmão vivo e a
terceira deverá ser repartida entre os sobrinhos que herdarão por representação.
Receberão a parte que caberia ao pai, se vivo fosse.
2º Exemplo: o de cujus deixa um (1) irmão vivo; um irmão (pré-morto) com dois
filhos e outro irmão (pré-morto) com três filhos. Divide-se em três partes iguais,
correspondente às três estirpes.
3º Exemplo: o de cujus deixa 3 irmãos vivos, 1 irmão pré-morto com filhos e outro
irmão pré-morto sem filhos. Divide-se em quatro (4) partes.
4º Exemplo: o de cujus deixa três irmãos vivos; um irmão pré-morto com filhos;
outro irmão pré-morto, com um filho pré-morto que tem um filho vivo. Divide- se em
quatro (4) partes... sobrinho-neto não herda.
Linha Ascendente
Art. 1852: O direito de representação se dá na linha reta descendente; mas nunca
na linha ascendente. Se um filho, ao falecer, deixa o pai vivo e a mãe já se encontra
falecida, sem quaisquer herdeiros descendentes, o progenitor vivo será contemplado
com toda herança. Os progenitores maternos nada herdarão.
77
renunciarem, os filhos dos herdeiros renunciantes virão ao inventário por direito próprio,
recebendo a herança por cabeça, isto porque, o ato do renunciante tem caráter pessoal,
não se estendendo aos filhos.
1. Conceito:
A noção de testamento está clara no art. 1.857 e 1.858 do Código Civil, sendo
considerado um “ato personalíssimo e revogável pelo qual alguém dispõe da totalidade
dos seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte” (GONÇALVES, 2012, p.
228).
Art. 1.857. Toda pessoa capaz pode dispor, por testamento, da totalidade dos
seus bens, ou de parte deles, para depois de sua morte.
§ 1o A legítima dos herdeiros necessários não poderá ser incluída no
testamento.
§ 2o São válidas as disposições testamentárias de caráter não patrimonial,
ainda que o testador somente a elas se tenha limitado.
Art. 1.858. O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer
tempo.
78
Assim, para que o testamento tenha validade jurídica é preciso:
* capacidade de testar do testador
* capacidade de receber do herdeiro instituído ou legatário
* ato jurídico revestido das formalidades legais
Mas essa noção do art. 1.857 limita a vontade do testador a disposições de caráter
patrimonial. Contudo, sabe-se que o testamento serve, também, para disposições de
caráter diferente do patrimonial:
• Reconhecimento de filhos fora do casamento (art. 1.609, III)
• Nomeação de tutor para filho menor (art. 1.729, § único)
• Reabilitação do indigno (art. 1.818)
• Instituição de fundação (art. 62)
• Imposição de cláusulas restritivas se houver justa causa (art. 1.848).
2. Características:
a) Ato personalíssimo: é privativo do autor da herança. Não se admite
testamento por procuração.
b) Ato revogável (mudado a qualquer tempo): a expressão revogável é mais
adequada e correta; é a principal característica dos testamentos. A revogabilidade é da
essência do testamento.
c) Negócio jurídico unilateral: aperfeiçoa-se com a vontade única do testador.
Não há a necessidade de manifestação da vontade do beneficiário.
d) Unipessoal: um só agente pode testar, num só ato. O testamento de mão
comum é defeso em lei, visa garantir a liberdade das disposições e evitar o pacto
sucessório - proibido art. 1.863 CC. Assim é vedado o testamento conjuntivo (mão
comum), feito por duas ou mais pessoas, seja simultâneo (disposição conjunta para
beneficiar terceira pessoa), recíproco (instituindo benefícios mútuos) ou correspectivo
(disposições em retribuição de outras correspondentes). Nada impede, contudo, que o
casal faça cada um seu testamento em que um deixa os bens para o outro. O que não
pode é isso ser feito em um mesmo ato. Podem fazer, no mesmo momento, mas em
atos diferentes.
e) Solene: é um negócio jurídico não apenas formal, mas provido de
79
formalidades essenciais, prescritas em lei. A solenidade assegura a existência, a
validade e a eficácia. O formalismo constitui garantia e salva-guarda à liberdade de
testar.
80
testamento. O art. 104 do CC trata da validade do negócio jurídico:
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.
Além desses requisitos gerais, para o testamento ainda são exigidos os requisitos
da inteligência e da vontade, de compreender e de querer, ou seja, a possibilidade de
compreender o caráter e os efeitos do ato e querer praticá-los.
A regra, portanto é a capacidade e a incapacidade é a exceção, de forma que a
capacidade se presume e a incapacidade se prova.
Nesse sentido, o art. 1.860 dispõe:
Art. 1.860. Além dos incapazes, não podem testar os que, no ato de fazê-lo,
não tiverem pleno discernimento.
Parágrafo único. Podem testar os maiores de dezesseis anos.
O dispositivo legal dispõe sobre os que não podem testar, por não terem
discernimento, de forma que se subentende que todos os demais possuem capacidade
para testar. Assim, podem testar os cegos e os analfabetos, por exemplo. A norma do
art. 1.860 é restritiva e só abrangem os casos específicos, não permitindo interpretação
extensiva.
81
embriaguez, uso de entorpecente, etc. Trata-se de uma situação transitória.
Observação:
• A capacidade deve ser verificada no momento da elaboração do testamento.
• Na dúvida, decide-se pela validade do ato, em respeito ao princípio do in dubio
pro capacitate.
• Os Tribunais (STF, especialmente) têm entendido que para a decretação da
nulidade de testamento deverá haver prova inequívoca da incapacidade do testador.
82
c. Impugnação da validade do testamento (art. 1.859)
A validade do testamento só pode ser discutida/questionada após a morte do
testador. Enquanto estiver vivo, não há o que se discutir, mesmo porque o testamento
pode ser alterado.
Assim, prevê o art. 1.859 que extingue-se em 5 anos o prazo para impugnar a
validade do testamento, contando da data do seu registro. O lapso quinquenal é
contado da Ação de Registro, Abertura e Cumprimento do Testamento (arts. 735 a 737
do CPC/2015). A ação de Registro só pode ser proposta a partir do óbito.
Por sua vez, o art. 1.909 afirma que são anuláveis as disposições testamentárias
que sejam viciadas por erro, dolo ou coação, extinguindo-se em 4 anos o direito de
anular a disposição a partir do momento em que o interessado tiver conhecimento do
erro.
Significa dizer, portanto, que, ainda que se trate de um testamento nulo (realizado
sem a observância da forma legal ou que o testador deliberou mediante dolo) só pode
ser anulado até 4 anos após a ciência do vício.
83
patrimônio.
Correspectivo: quando o benefício outorgado por um dos testadores ao outro
retribui vantagem correspondente.
Não se impede, porém, que, SEPARADAMENTE, marido e mulher façam
testamento um para o outro. Pode até ser na mesma data, com termos semelhantes,
mas em ATOS DISTINTOS, separados.
3. Leitura do Testamento. Tão logo seja redigito o testamento, este deve ser
lido pelo Tabelião, na presença do testador e das testemunhas ou pelo testador, na
presença do Tabelião e das testemunhas. Esse requisito é fundamental e serve para
que se verifique a coincidência da vontade do testador e o que se encontra expresso
no testamento. Deve ser feito em ato contínuo, de forma que as testemunhas
acompanhem todo o processo (declaração do testador, redação e leitura). No caso do
cego (art. 1.867) a leitura deve ser feita duas vezes: uma pelo Tabelião e outra por uma
das testemunhas (designada pelo testador). Não pode fazer testamento público o surdo
e o surdo-mudo. Podem fazê-lo o surdo, o analfabeto, o cego e o alfabetizado.
4. Assinaturas. Depois de lido o testamento, deve ser coletada a assinatura do
testador, das testemunhas e do Tabelião.
84
Cumprimento, registro e abertura do testamento:
Realizado o testamento público, deve-se, com o falecimento do testador, se
realizar o registro do testamento. Isto é feito através de uma ação judicial através da
qual o portador do traslado do testamento (ou de uma certidão) pede ao juiz que
determine o cumprimento do mesmo. Art. 736, CPC/2015.
Requisitos:
O art. 1.868, CC estabelece os requisitos e formalidades do testamento cerrado.
O testamento cerrado se compõe de algumas fases:
a) a elaboração do testamento. O Tabelião pode escrever e aprovar o
testamento (1.870). Assinatura do testamento é imprescindível. Entrega ao Tabelião,
acompanhado de 2 testemunhas. Requer a lavratura do auto de aprovação (art. 1.869).
b) entrega do testamento. O testamento deve ser entregue pessoalmente pelo
testador ao tabelião, constituindo-se de ato personalíssimo, não admitindo a utilização
de portador.
c) Participação das testemunhas. As testemunhas participam do ato de entrega
do testamento, mas não precisa que conheçam o seu conteúdo.
85
d) Lavratura do auto de aprovação pelo Tabelião. Depois de aprovado, o auto de
aprovação será lido pelo oficial e assinado pelas Testemunhas, Testador e Tabelião. O
auto de aprovação deve vir, conforme o art. 1.869, CC, logo após a última palavra do
testador. A solenidade de aprovação deve ser feita sem interrupções.
e) Cerramento. Trata-se da última fase do testamento cerrado. O tabelião dobra
a cédula e costura-a com cinco pontos de retrós e lança pingos de lacre sobre cada
um. Se houver o rompimento do lacre pelo testador, não terá validade o testamento. Se
for feito o rompimento contra a vontade do testador, deverão os interessados
demonstrar ao juiz tal fato, para que não anule o ato.
86
Requisitos:
O art. 1.876 apresenta os requisitos e formalidades do testamento particular.
a) Deve ser escrito e assinado pelo testador.
b) Inquirição das testemunhas em juízo (confirmar o testamento);
c) Pode ser feito em idioma estrangeiro;
d) A lei permite que terceira pessoa redija, pois pode ser datilografado;
e) Se for escrito a mão, deverá ser feito pessoalmente pelo testador.
f) Uma testemunha pode confirmar (Leite, 393).
g) Leitura e assinatura de 3 testemunhas
e. Testemunhas instrumentárias
A atuação das testemunhas no testamento tem a função de conferir validade ao
ato.
Em princípio, todas as pessoas capazes, podem ser testemunhas. Contudo, o art.
228, CC determina as pessoas que não podem ser testemunhas (cuidado com as
alterações do Estatuto da Pessoa com Deficiência):
Art. 228. Não podem ser admitidos como testemunhas:
I - os menores de dezesseis anos;
II - (Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) III -
(Revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência) IV - o
interessado no litígio, o amigo íntimo ou o inimigo capital das partes; V - os
cônjuges, os ascendentes, os descendentes e os colaterais, até o terceiro grau
de alguma das partes, por consangüinidade, ou afinidade.
§ 1º Para a prova de fatos que só elas conheçam, pode o juiz admitir o
depoimento das pessoas a que se refere este artigo.
87
§ 2º A pessoa com deficiência poderá testemunhar em igualdade de condições
com as demais pessoas, sendo-lhe assegurados todos os recursos de
tecnologia assistida. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência)
Formas:
- é hológrafo; simplificada; sem formalidades;
- é válido datilografado, desde que datado e assinado pelo testador;
- não exige testemunhas;
- pode ser escrito por meios mecânicos (jurisprudência dominante);
- deve ser escrito pelo disponente ou por terceiro;
- não exclui a forma pública, embora indique a particular.
Execução:
As mesmas regras do testamento particular. Se público ou cerrado, segue-se as
normas de execução destes (art. 737, § 3.º, CPC/2015).
Art. 1885 – Se fechado, para manter secreto, a abertura se processa como o
testamento cerrado: será aberto pelo juiz que fará registrar.
88
Consequências:
Art. 1.882 – O codicilo pode ser autônomo, ou pode existir como parte integrante
de um testamento.
- Não revoga testamento. Por este é revogável (1.884);
- É revogável por outro codicilo;
- Mais de um codicilo: Na dúvida, vale a última disposição;
- É válido exista ou não testamento;
- Sendo o codicilo parte integrante ou complementar do testamento, anulado ou
revogado este, deixa de existir aquele;
- As regras da capacidade no testamento valem para o codicilo.
Seu registro e cumprimento se dará de acordo com o art. 737, § 3.º, CPC/2015,
obedecendo as regras do testamento particular.
a. Marítimo
É a declaração de última vontade, feita a bordo de navios, embarcações: em alto
mar. Pode ser feito pelos tripulantes ou pelos passageiros (art. 1.888). Justifica- se em
caso de emergência e necessidade. Não prevalece se a embarcação estiver em local
onde o testador poderia ter desembarcado e testado de forma ordinária (art. 1.892).
Caducará se o testador não morrer em viagem, nem nos 90 dias subsequentes ao seu
desembarque em terra, onde possa fazer, na forma ordinária, outro testamento (art.
89
1.891).
Requisitos
- viagem realizada em navio nacional (extensão do território nacional);
- navio de guerra ou mercante (transporte de pessoas de um porto a outro).
- testador esteja a bordo do navio.
- cédula testamentária seja registrada no diário de bordo.
- testamento fique sob a guarda do comandante.
Formas
- na forma do Público ou cerrado;
- exige apenas duas testemunhas;
- será lavrado, em regra, pelo Comandante;
- se o testador não puder assinar, alguém assina a rogo;
- o registro do testamento será no diário de bordo: parágrafo único, do art. 1888.
Formas e requisitos
- público ou cerrado, nos termos do art. 1.888, CC
- requisitos: os mesmos do marítimo.
- o comandante não se envolve na elaboração do testamento pois está
conduzindo a aeronave.
Caducidade: Efemeridade
Art. 1.891 – Caducará: Tem eficácia temporal e condicional:
a) não morrer na viagem;
b) 90 dias subsequentes ao desembarque não testar da forma ordinária
c) É nulo o testamento feito em portos – neste caso, poderia ser feito através de
90
uma forma ordinária de testamento. Tem que ser em alto mar (Art. 1892).
Requisitos
- Que a Força esteja “em campanha” (dentro ou fora do país) – mesmo missão
de paz.
- Que o testador esteja participando da guerra, em campanha, sem
possibilidade de se afastar para realizar o testamento pela forma ordinária.
- Qualquer pessoa envolvida – civil ou militar.
- Que não haja, no local, um tabelionato onde o testador possa dispor de seus
bens através de testamento público.
- Que a situação de perigo seja real.
Formas
Pode ser de 3 formas: público, cerrado ou nuncupativo.
- Público: o comandante da tropa ou diretor do hospital ou oficial de saúde
funcionará como tabelião. Lavrado perante duas testemunhas ou por três, caso o
testador não saiba assinar (uma delas assinará a rogo).
- Cerrado: o testador entregará o escrito, devidamente assinado, ao oficial de
patente mais acima, que o datará, indicará o lugar em que lhe foi apresentado,
assinando-o com as duas testemunhas, devolvendo-o ao apresentante.
- Nuncupativo: é feito de viva voz, perante duas testemunhas, por alguém que
esta empenhada em combate ou ferida, ou seja, a pessoa está exposta a risco de vida
e impossibilitada de usar a forma escrita. Se findar a guerra ou o testador convalescer,
91
cessarão os motivos que autorizam esta forma de testamento.
As declarações são feitas a duas testemunhas: que devem escrevê-las e
confirmar em juízo. É exceção e possui o risco, pois se o testador falecer, ficará
nas mãos das testemunhas.
a. Interpretação do testamento:
b. Regras proibitivas:
92
• Instituição de herdeiro sob condição captatória: Art. 1.900, I
Ex.: lego tal quantia para Fulano se ele me contemplar em seu testamento.
Ex.: deixo a Fulano, que instituo como meu herdeiro, o quanto ele me transmitir
em seu testamento.
Essa vedação é em razão de que a instituição de herdeiro deve ser através da
plena liberdade e vontade do testador e, sendo possibilitada essa hipótese, poderia
haver influência do captador sobre o testador.
• Referência a pessoa incerta: Art. 1.900, II
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido, mas
sim do terceiro, que determinaria quem seria beneficiado.
• Beneficiar ao herdeiro, ou a outrem, da prerrogativa de fixar o valor do
legado: Art. 1.900, IV
É simples. Neste caso, não seria uma liberalidade personalíssima do falecido.
Quem deve fixar o valor do legado é o testador e não terceiro, ainda que a sua ordem.
93
Ex.: A, B e C são meus herdeiros, cada um com a proporção que Fulano decidir.
• Beneficiar às pessoas indicadas nos arts. 1.801 e 1.802: Art. 1.900, V
c. Regras permissivas:
• Nomeação pura e simples: art. 1897
Puro e simples: não tem condição suspensiva e nem resolutiva. Não há qualquer
encargo, condição ou contraprestação.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, que receberá x% da minha herança.
• Nomeação sob condição: art. 1897
Condição é acontecimento futuro e incerto do qual depende a eficácia do negócio
jurídico.
Ex.: deixo minha casa para Marcelo se ele me sobrevier.
Se houver uma condição suspensiva a aquisição do direito pelo herdeiro
dependerá do implemento da condição. O implemento da condição terá efeito retroativo
(ex tunc). Se não houver o implemento da condição, a cláusula testamentária caducará.
Ex.: Fulano receberá “x valor” mensal enquanto for estudante de direito.
Neste caso, havendo uma condição resolutiva, se Fulano parar de estudar, não
mais receberá o valor definido pelo testador.
• Nomeação com a imposição de encargo: art. 1897
A herança pode vir subordinada a um encargo que o beneficiário deverá cumprir,
caso aceite a herança.
Ex.: instituo Fulano como meu herdeiro, que receberá x% do meu patrimônio, com
o encargo de alimentar Cicrano até os 24 anos de idade.
Há discussão doutrinária e jurisprudencial quanto ao descumprimento do encargo
94
e a perda da validade da disposição testamentária. A maioria da doutrina entende que,
descumprido o encargo, os interessados deverão propor ação judicial para que seja
declarada a ineficácia da deixa testamentária.
• Disposição motivada: art. 1897
É possível a nomeação de herdeiro por certo motivo. O testador ao nomear
alguém como seu beneficiário não é obrigado a indicar o motivo, mas, caso queira, não
pode haver a confusão com obrigação modal (de encargo), pois se trata de fatos
passados.
Ex.: nomeio Fulano como meu herdeiro, pois foi ele quem salvou a vida do meu
filho no acidente de carro sofrido em 2006.
• Disposição com cláusulas de inalienabilidade: art. 1.911
O art. 1.911 dispõe sobre a possibilidade de o testador estabelecer ônus ou
gravame sobre os bens que integram a herança. Essa cláusula de inalienabilidade que
pode ser imposta, traz como consequência a impenhorabilidade e a incomunicabilidade
desses bens.
Trata-se, portanto, da transferência do domínio de forma limitada.
Quando se faz a interpretação do art. 1.911 em conjunto com o art. 1.848, verifica-
se que a restrição imposta ao testador de justa causa, refere-se tão somente a
imposição de cláusulas para a legítima. Quanto ao testamento ou legado, não há a
imposição de justa causa.
95
8. Rompimento do testamento
Ocorre a ruptura do testamento quando “há a superveniência de uma
circunstância relevante, capaz de alterar a manifestação de vontade do testador, como,
verbi gratia, o surgimento de um herdeiro necessário” (Gonçalves, p. 457)
Enquanto a revogação depende da vontade do testador, o rompimento independe
de sua vontade, sendo determinado pela lei.
96
9. Revogação do testamento
CADUCIDADE – o ato perde a validade por uma causa que o esvazia, ou em
razão de um fato que lhe retira o objeto.
NULIDADE – há um vício, embora as consequências sejam idênticas: deixa de
existir a disposição testamentária, ou se invalida, ou perde todo o efeito. Entretanto, a
nulidade depende de declaração judicial, enquanto a revogação é ato unilateral.
REVOGAÇÃO – O testamento é essencialmente revogável. Trata-se de mudança
na redação feita pelo próprio testador.
a. Espécies de revogação
REVOGAÇÃO EXPRESSA: dá-se mediante a confecção de novo testamento,
onde é indispensável mencionar a revogação do anterior, ou parte dele. Observa-se a
mesma solenidade pra a celebração (art. 1.969 CC). Não é necessário que a revogação
seja efetuada por outro testamento da mesma modalidade, mas, necessariamente, tem
de ser feita por outro testamento. Ex: testamento marítimo pode revogar público;
cerrado pode revogar particular.
REVOGAÇÃO TÁCITA: decorre do surgimento de novo testamento, cujos dizeres
e o conteúdo apresentam-se incompatíveis com o anterior. Ante a contradição,
permanece sempre a disposição mais recente. O simples fato de existir novo
testamento não significa que tenha revogado o anterior. Ambos podem coexistir, desde
que não sejam contraditórios, ou seja, desde que se complementem.
b. Formas de revogação:
Segundo o art. 1.970, CC, a revogação do testamento pode se dar de forma total
ou parcial.
1) Total = revogação pura e simples: declara-se, em novo testamento, a
revogação do anterior, não fazendo qualquer limitação ou reserva.
2) Parcial: limita-se ao tópico atingido – art. 1.970 CC
3) A revogação de um testamento, mas existindo outro, sem que a este haja
alguma referência, leva a concluir quanto à revogação de apenas um, perdurando o
outro.
4) A revogação do testamento de reconhecimento de filho é válida.
97
Contudo, revoga-se o testamento, não a declaração de reconhecimento – esta é
intangível – única forma irrevogável do testamento.
5) O novo testamento não atinge os legados, pois estes são especificações dos
bens.
c. Efeitos da revogação:
- priva-se o testamento de qualquer eficácia, se total, ou da eficácia na parte
atingida, se parcial;
- passa a vigorar a sucessão (legítima) hereditária, em todos os seus efeitos.
98
Haja dolo, ou simplesmente pacto sucessório nas disposições captatória, a
instituição está viciada, porque contraria a liberdade essencial às disposições de última
vontade, e transforma em convocação o que a lei quer que seja espontânea
manifestação unilateral.
a. Situações OU Classificação:
Legado de coisa alheia – não pode o testador legar coisa certa que não lhe
pertença no momento da abertura da sucessão (art. 1.912).
Exceções:
Art. 1.912 – será válido o legado de coisa alheia, se a coisa, mesmo não
pertencendo ao testador na época do testamento, após o testamento, vier a integrar o
patrimônio do testador.
Art. 1.913 – o testador determina que o herdeiro entregue bem seu (dele herdeiro)
a terceira pessoa. Trata-se, na verdade, de um encargo que, se não cumprido, equivale
à renúncia.
Art. 1.915 – confuso. Como deve o herdeiro cumprir o legado.
Legado de crédito. Art. 1.918 – trata-se de uma cessão de crédito, em que o
legatário substitui o testador e primitivo credor e pode promover a respectiva cobrança.
Legado de alimentos. Art. 1.920 – engloba o sustento, a cura, o vestuário e a
casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. Via de regra,
cabe ao testador fixar o valor. Caso não o faça, o Juiz deverá fixar estes alimentos,
atendendo para as forças da herança e para as necessidades do alimentário. Exemplo:
compelir herdeiro a pagar alimentos a terceiros.
99
mãe, os descendentes e o cônjuge do incapaz (art. 1.802 CC). Ex.: não podem suceder
as pessoas definidas no art. 1.801.
c. Direito de Pedir:
Desde a morte do testador o legatário tem direito de pedir a coisa deixada por
legado art. 1.923 CC.
100
testamentária, pois na sucessão legítima o direito de representação impede a aplicação
deste instituto, salvo os casos de direito de renúncia.
Exemplos:
Sucessão testamentária:
Se o falecido tiver deixado 10% de seu patrimônio (ou uma casa) para A e B, a
herança será dividida: 90% (por sucessão legítima), entra A, B e C (30% para cada um);
10% entre A e B. Como, neste caso, o testador não deixou expresso como seria a
divisão dos 10% entre A e B, caso B faleça, A receberá todos os 10% (pelo direito de
acrescer). Diferente será se o falecido disser: “Deixo 10% do meu patrimônio para A e
B, em parte iguais” (ou em qualquer percentual definido). Neste caso, não haverá o
direito de acrescer.
Desta forma, o direito de acrescer, na sucessão testamentária, ocorrerá na
hipótese do art. 1.941, CC – caso do exemplo acima – ou, ainda, no caso do art. 1.942,
CC – quando os nomeados em conjunto receberem uma só coisa (legado) ou quando
esta não puder ser dividida sem risco de desvalorização.
101
Art. 1.941. Quando vários herdeiros, pela mesma disposição testamentária,
forem conjuntamente chamados à herança em quinhões não determinados, e
qualquer deles não puder ou não quiser aceitá-la, a sua parte acrescerá à dos
co-herdeiros, salvo o direito do substituto.
Art. 1.942. O direito de acrescer competirá aos co-legatários, quando
nomeados conjuntamente a respeito de uma só coisa, determinada e certa, ou
quando o objeto do legado não puder ser dividido sem risco de desvalorização.
b. Fundamentos:
a) Decorrência da vontade presumida do testador – quando nomeia vários
beneficiários pela mesma disposição testamentária, para toda a herança ou parte dela,
sem determinar a porção de cada um; ou quando deixa a vários legatários a mesma
coisa ou parte dela. Presume-se que ele desejava que se um faltasse, os demais
ficassem com a herança.
b) Quando ocorre o direito de acrescer, o acréscimo é forçado, pois não pode o
beneficiário (co-herdeiro ou co-legatário) aceitar sua parte e renunciar ao direito de
acrescer. Ademais, nos termos do art. 1.943, § único, os co- herdeiros ou co-legatários,
aos quais acresceu o quinhão daquele que não quis ou não pôde suceder, ficam
sujeitos às obrigações ou encargos que o oneravam.
c. Pressupostos:
Para que ocorra o direito de acrescer, alguns pressupostos ou requisitos devem
estar presentes:
a) Nomeação de vários herdeiros ou legatários na mesma disposição
testamentária;
b) Atribuição sem discriminar as porções ou o quantum, no mesmo bem ou
102
porção de bens.
c) A falta ou impossibilidade de herdar de um herdeiro ou legatário instituído no
testamento.
d) O testamento não pode ter indicado uma pessoa determinada para que, na
falta do herdeiro ou legatário, receba sua parte – não pode haver substituto.
e) Indivisibilidade do bem, no caso de legados.
f) Indeterminação das quotas hereditárias.
Deve-se destacar que só haverá direito de acrescer nas conjunções real e mista.
Na verbal não há, pois o testador especifica o quinhão de cada um. Fica expressa a
vontade do testador de que cada um receba a quota que ele determinou.
103
f. Direito de acrescer entre legatários:
Arts. 1.941/1.942 CC: há um ou mais bens especificados, mas todos os legatários
são nomeados para o recebimento em comum deste patrimônio, em que não é possível
sua divisão (deterioração).
- inexiste acréscimo no legado em dinheiro (por ser genérico).
- também, no legado de alimentos (ao necessitado);
- o acrescentamento abrange-lhes os ônus (1.943, CC).
g. Legado de usufruto
Testamento institui o exercício do usufruto em favor de duas ou mais pessoas. O
usufruto é o direito de usar e gozar da coisa, por tempo certo ou vitaliciamente. Haverá
o direito de acrescer quando a nomeação for conjunta, sem especificação das quotas.
Assim, são requisitos: a) que haja a nomeação conjunta, sem especificar as frações em
que incide o usufruto; b) sempre sobre um bem individuado.
a. Substituição vulgar
Quando o testador designa uma ou mais pessoas para ocupar o lugar do herdeiro
ou legatário que não quiser ou não puder aceitar o benefício.
104
Trata-se de uma instituição condicional (que só ocorre que o beneficiário não
puder ou não quiser receber) e subsidiária (só produz efeitos se a disposição principal
não produzir efeitos). Estabelece a vocação direta, pois o substituto herda diretamente
do falecido.
A substituição vulgar pode ser:
a) Simples ou singular, um só substituto para um ou muitos herdeiros instituídos
b) Coletiva ou plural, quando há mais de um substituto a ser chamado
simultaneamente
b. Substituição fideicomissária
Trata-se das situações nas quais o testador estabelece um beneficiário, mas com
a incumbência de, após, por sua morte, ou em vida, transmitir o bem a outra pessoa,
inclusive sob certa condição.
Existem três figuras: a) Fideicomitente – o instituidor, testador, doador; b)
Fiduciário (ou gravado) – que recebe o bem para, após, efetuar a transmissão; c)
Fideicomissário (ou substituto) – pessoa que recebe o bem quando da morte do
fiduciário.
O testador fixa o tempo do fideicomisso: vitalício (até a morte do fiduciário); a
termo (em tempo prefixado pelo testador) ou condicional (se depender de
implementação de alguma condição resolutiva).
Trata-se de uma vocação dupla, pois tanto o fiduciário, quanto o fideicomissário
se tornam titulares da herança. O fiduciário enquanto estiver vivo ou não ocorrer a
condição ou termo. O fideicomissário após estes períodos.
Há direito de acrescer – art. 1.956, CC: Se o fideicomissário aceitar a herança
ou legado, terá direito a receber também aquilo que acresceu aos fiduciários.
É proibido o fideicomisso sucessivo, ou seja, não pode o testador deixar o bem
105
para A, com o dever de, com sua morte, transmitir para B e este, para C. A cláusula
não será totalmente nula. Quando A falecer, B adquirirá a propriedade do bem.
106
legítima. Desconta, visto que mencionou, primeiro do sobrinho.
14. Testamenteiro:
Testamenteiro é o executor do testamento. É a pessoa que o de cujus encarrega
de fazer cumprir suas disposições de última vontade.
a. Espécies de testamenteiro:
O testamenteiro pode ser:
• Instituído: quando o testador o nomeia
• Dativo: quando não havendo testamenteiro nomeado ou, se o nomeado
recusar a testamentaria, o juiz nomeia alguém para o encargo – art. 735, § 4.º,
CPC/2015.
b. Nomeação do testamenteiro:
O testamenteiro pode ser nomeado no próprio testamento ou codicilo. O testador
pode, ainda, instituir um ou vários testamenteiros para atuar em conjunto ou em
separado. Se não houver testamenteiro, o cumprimento do testamento deverá ser
107
cumprido pelo cônjuge ou companheiro sobrevivente ou qualquer herdeiro. Se não
houver testamenteiro, o juiz nomeará dativo, obedecendo a ordem (§ 4.º, art. 735,
CPC/2015).
c. Aceitação do encargo:
A pessoa que é nomeada testamenteira pode aceitar ou não o encargo. Em se
tratando de um múnus privado ninguém é obrigado a exercer.
d. Atribuições do testamenteiro:
108
procurador (1.985) e mandatário (1.764)
1.986, CC - Mesmo conteúdo – responsabilidade solidária dos testamenteiros
aceitantes.
IV – INVENTÁRIO E PARTILHA
1. Inventário
Aberta a sucessão com o falecimento do autor da herança, seu patrimônio é,
desde logo, transmitido aos herdeiros legítimos e testamentários, de acordo com o art.
1.784, CC. Como a herança é transmitida “como um todo unitário”, é preciso que seja
feita a individualização de cada quota parte dos herdeiros, a fim de terminar com o
109
estado de comunhão. Nesse sentido, deve-se instaurar o processo de inventário, para
que seja possível realizar a partilha dos bens e individualização dos quinhões
hereditários.
Inventário significa achar, encontrar. Utilizada juridicamente no sentido de
enumerar e catalogar aquilo que “foi encontrado”, que pertence, neste caso, ao falecido.
O procedimento de inventário é previsto no art. 610 e seguintes do CPC/2015.
2. Inventário negativo
Mesmo que não existam bens, é possível que seja feito o processo de inventário.
Serve, tão somente, para comprovar que aquele que faleceu não possui bens a
inventariar.
Ex.: art. 1.523, I – causa suspensiva – viúvo que não deu partilha aos filhos não
deve casar – regime da separação obrigatória de bens (art. 1.641, I). É possível que
esta penalidade não seja imposta se restar comprovado que não haverá prejuízo aos
filhos. A forma de fazer essa prova é o inventário negativo.
Será dada abertura ao inventário, feita a pesquisa de bens e a sentença judicial
declarará a inexistência de bens a serem partilhados.
3. Inventário conjunto
Em situações excepcionais é possível que seja realizado o inventário de duas
pessoas ao mesmo tempo, no mesmo processo, visando a economia processual.
HIPÓTESES: Art. 672, CPC/2015 – identidade de herdeiros, herança deixada pelos
dois cônjuges ou companheiros ou dependência de uma das partilhas em relação à
outra.
4. Dispensa de Inventário
Dependendo dos bens que componham o acervo hereditário o inventário pode ser
dispensado – Lei 6.858/80 - Pagamento, aos Dependentes ou Sucessores, de Valores
Não Recebidos em Vida pelos Respectivos Titulares – FGTS (Fundo de Garantia por
Tempo de Serviço) e PIS-PASEP (Fundo de Participação) – art. 666, CPC/2015.
Outros bens:
- bens que o de cujus tenha apenas a posse – não é necessário fazer inventário
– aquisição originária da propriedade – uscucapião.
110
- contas poupança – se o de cujus tiver um segundo titular na conta, este
poderá sacar os valores, ainda que a jurisprudência tenha uma tendência a deferir só
a metade dos valores.
- Alvará judicial: em sendo necessário o levantamento de importâncias em
dinheiro ou venda de algum bem antes de completado o inventário, é possível que as
partes façam requerimento em juízo de alvará judicial para tal fim. Normalmente a
justificativa utilizada é o pagamento das custas do inventário, impostos, taxas, etc.
5. Inventário Judicial
O inventário judicial é divido em:
a) inventário judicial pelo rito tradicional – arts. 610 a 658, CPC/2015;
b) inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário – art. 659, CPC/2015;
c) inventário judicial pelo procedimento do arrolamento comum – art. 664,
CPC/2015.
111
A ação de abertura do inventário deve ser instruída com a certidão de óbito do de
cujus e procuração para o advogado.
O requerimento de abertura do inventário será instruído com a certidão de óbito
do de cujus (obrigatório – art. 615, § único, CPC/2015) e procuração outorgada ao
advogado que assina a petição. Poderá, ainda, conter:
- certidão de casamento do de cujus;
- cédula testamentária;
- certidões de nascimento, ou outro documento, dos herdeiros;
- certidões dos imóveis, etc.
Foro competente
O foro competente para processamento do inventário é o foro do último domicílio
do de cujus, mesmo que os herdeiros residam em localidade diversa (arts. 1.785 e
1.796, CC e art. 48, CPC/2015).
Administrador provisório
Até que seja nomeado inventariante e este preste compromisso, a administração
da herança ficará a cargo do administrador provisório nomeado pelo juiz (art. 613,
CPC/2015). Este tem a função de representação do espólio, devendo trazer ao acervo
frutos percebidos, tendo direito de ser reembolsado pelas despesas necessárias.
Responde por danos a que der causa (art. 614, CPC/2015).
Nomeação de inventariante
Ingressando os herdeiros com o processo do inventário, o juiz despachará e
nomeará o inventariante, que prestará compromisso e as primeira declarações (prazo
de 20 dias) (art. 620, CPC/2015). A função do inventariante é administrar os bens do
espólio, sendo seu representante legal até que a partilha seja efetivada.
A ordem preferencial 6 de pessoas que podem ser nomeadas inventariante é
trazida pelo art. 617, CPC/2015:
Art. 617. O juiz nomeará inventariante na seguinte ordem:
I - o cônjuge ou companheiro sobrevivente, desde que estivesse convivendo
com o outro ao tempo da morte deste;
II - o herdeiro que se achar na posse e na administração do espólio, se não
6
O STJ entendeu que esta ordem é preferencial e não absoluta (REsp 402.891)
112
houver cônjuge ou companheiro sobrevivente ou se estes não puderem ser
nomeados;
III - qualquer herdeiro, quando nenhum deles estiver na posse e na
administração do espólio;
IV - o herdeiro menor, por seu representante legal;
V - o testamenteiro, se lhe tiver sido confiada a administração do espólio ou
se toda a herança estiver distribuída em legados;
VI - o cessionário do herdeiro ou do legatário; VII - o inventariante judicial, se
houver;
VIII - pessoa estranha idônea, quando não houver inventariante judicial.
113
Primeiras declarações
Com a nomeação do inventariante, deverá prestar as primeiras declarações no
prazo de 20 dias. Essas primeiras declarações deverão conter (art. 620, CPC/2015):
I - o nome, o estado, a idade e o domicílio do autor da herança, o dia e o
lugar em que faleceu e se deixou testamento;
II - o nome, o estado, a idade, o endereço eletrônico e a residência dos
herdeiros e, havendo cônjuge ou companheiro supérstite, além dos respectivos
dados pessoais, o regime de bens do casamento ou da união estável;
III - a qualidade dos herdeiros e o grau de parentesco com o inventariado; IV
- a relação completa e individualizada de todos os bens do espólio,
inclusive aqueles que devem ser conferidos à colação, e dos bens alheios que
nele forem encontrados, descrevendo-se:
a) os imóveis, com as suas especificações, nomeadamente local em que se
encontram, extensão da área, limites, confrontações, benfeitorias, origem dos
títulos, números das matrículas e ônus que os gravam;
b) os móveis, com os sinais característicos;
c) os semoventes, seu número, suas espécies, suas marcas e seus sinais
distintivos;
d) o dinheiro, as joias, os objetos de ouro e prata e as pedras preciosas,
declarando-se-lhes especificadamente a qualidade, o peso e a importância;
e) os títulos da dívida pública, bem como as ações, as quotas e os títulos de
sociedade, mencionando-se-lhes o número, o valor e a data;
f) as dívidas ativas e passivas, indicando-se-lhes as datas, os títulos, a origem
da obrigação e os nomes dos credores e dos devedores;
g) direitos e ações;
h) o valor corrente de cada um dos bens do espólio.
114
Essa citação é dispensada se todos os herdeiros já estiverem representados nos
autos ou se comparecerem espontaneamente.
Fase de impugnações:
Concluídas as citações as partes poderão impugnar alguma declaração prestada
pelo inventariante, no prazo de 15 dias, nos termos do art. 627, CPC/2015.
Se a impugnação for julgada procedente, o juiz determinará que as declarações
sejam retificadas.
Em caso de haver uma questão que demande produção de provas que não a
documental, especialmente no que se refere ao art. 627, III, CPC/2015 – contestar a
qualidade de herdeiro – o juiz deverá remeter o impugnante para as vias ordinárias
(dilação probatória) e suspender o inventário (art. 627, § 3.º, CPC/2015).
Últimas declarações:
Depois de aceita a avaliação dos bens ou resolvidas possíveis impugnações à
avaliação, o inventariante deverá prestar as últimas declarações (art. 636, CPC/2015),
quando poderá descrever bens que, porventura tenham sido esquecidos (mesmo que
por desconhecimento). As partes serão ouvidas sobre as últimas declarações, podendo
alegar a sonegação de bens pelo inventariante somente depois da última declaração
feita por ele, de que não existem outros bens a inventariar (art. 621, CPC/2015).
115
b. Inventário judicial pelo rito do arrolamento sumário:
É uma forma simplificada de inventário-partilha, quando todos os herdeiros são
maiores, capazes e a partilha é amigável.
Nesse caso, quando da abertura do inventário já são juntados todos os
documentos necessários, prova da quitação do imposto, partilha, etc, e o juiz apenas
homologa, nos termos do art. 2.015, CC.
Como é um procedimento sumário, é desburocratizado e, nesse sentido, o art.
660, CPC/2015 dispensa a lavratura de termos de quaisquer espécies.
6. Inventário administrativo:
A lavratura da Escritura Pública de Inventário trata de uma forma facultativa. Não
há obrigatoriedade da partilha extrajudicial. Assim, se todos forem capazes e
concordes, o inventário e a partilha poderão ser feitos no Tabelionato de Notas (art.
610, § 1.º, CPC/2015).
Requisitos/pressupostos:
Todos capazes (capacidade de todos os interessados) e de acordo (ausência de
litigiosidade). Não pode envolver incapazes, nem existir testamento. Objetiva
desburocratizar e agilizar o procedimento judicial de inventário e partilha.
Se o testamento já foi anulado, pode ser feito o inventário extrajudicial, fazendo
constar da Escritura as informações da ação anulatória transitada em julgado.
Os herdeiros e meeiros são representados por advogado (indispensável,
conforme art. 610, § 2.º, CPC/2015) e devem assinar a Escritura.
Se por todos reconhecida a União estável do falecido, poderá o companheiro
sobrevivente promover o inventário extrajudicial. Do contrário, via judicial e com
116
reconhecimento.
A opção pela via extrajudicial, poderá, inclusive, ser solicitada durante o trâmite
do procedimento judicial do inventário (arrolamento), mediante a suspensão ou
desistência.
Na via judicial existe a fixação da limitação em face da competência territorial:
local do óbito/último domicílio do de cujus. No âmbito extrajudicial, a escolha do
Tabelião é liberalidade das partes, não se condicionando ao domicílio, situação dos
bens ou local do óbito.
7. Sonegados:
Aberto o inventário, é dever do inventariante apresentar as primeiras e últimas
declarações, com a indicação e caracterização dos bens a serem partilhados. Caso o
inventariante ou algum herdeiro não descreva algum bem, intencionalmente, de forma
a desfalcar o ativo do espólio, cometerá o delito civil de sonegação, sujeitando-se às
penas dos arts. 1.992 e 1993, CC.
“Sonegados são os bens ocultados maliciosamente, enquanto sonegação é a
conduta de quem age deste modo, negando informações necessárias ao conhecimento
do monte-mor, com isto, desviando ou deixando de restituir os bens da herança. (Nader,
2007, p. 577)”.
São diversas as hipóteses de sonegação.
Sonegação – omissão ou ocultação dolosa;
Intenção maliciosa de ocultar os bens do espólio e fraudar a expectativa dos
herdeiros.
Penas:
Os arts. 1.992 e 1.993 do CC determinam as penas aplicadas; ao herdeiro que
sonegar – perderá o direito que teria sobre o bem, devendo restituí-lo, bem como aos
seus frutos; se o sonegador for o inventariante, ainda será removido da inventariança.
A pena é civil. Remoção do inventariante (art. 622, VI, CPC/2015) e perda do bem
sonegado, que é imposta por sentença.
A pena só poderá ser imposta em ação ordinária (LEITE, p. 724). Se o sonegador
for testamenteiro perde direito à vintena e é removido do cargo de inventariante.
117
Para que tenha cabimento a ação de sonegados não é preciso que o sonegador
negue a restituição dos bens, mas que tão somente não os descreva, estando tais bem
em seu poder, ou em poder de terceiros, com sua ciência.
118
Constituem-se em encargos da herança:
1. Despesas funerárias;
2. Vintena do testamenteiro;
3. Dívidas do falecido;
4. Cumprimento dos legados.
Antes da partilha, podem os credores pedirem ao juiz o pagamento das dívidas
vencidas e exigíveis (art. 642, CPC/2015).
9. Colação
Instituto de origem romana, a colação é reunião dos bens recebidos pelo(s)
descendente(s), a título de liberalidade (doação), antes da abertura da sucessão.
O que exceder a metade disponível, para cálculo das legítimas, devem ser
conferidos na parte indisponível.
ART. 2002 - Apenas os descendentes estão sujeitos a colação.
ART. 2003 - A colação visa igualar as legítimas dos descendentes e do cônjuge
sobrevivente.
Art. 621, § único, CPC/2015 – os bens a serem colacionados terão seu valor
calculado pelo valor do tempo da abertura da sucessão (para óbitos ocorridos após a
entrada em vigor desta lei). No caso de óbitos ocorridos antes de março de 2016, aplica-
se a regra do art. 2004 – O valor da colação é aquele atribuído na liberalidade; se não
tiver valor, por ocasião da partilha, se estimará o valor da época da liberalidade( os
bens serão avaliados com base no valor do tempo da liberalidade); as benfeitorias,
frutos e rendimentos são do donatário, “que responde pelos danos e perdas que eles
sofrerem” (§§ 1º e 2º, do art. 2004).
a. Dispensa da colação.
“O doador pode dispensar o donatário da colação, determinando que a
liberalidade saia de sua metade disponível, contanto que a doação não exceda o valor
da quota disponível, comutado o seu valor ao tempo da doação” (Gonçalves, p. 542).
119
ART. 2005 – Contanto que não excedam a parte disponível (sua metade),
computada ao tempo da liberalidade (doação).
Deve ser expressa tal condição, em que pese inexistir forma sacramental.
Se a doação não exceder a parte disponível, não há que falar em colação. Se
exceder, o excesso deve ser colacionado. (Cf. LEITE, p. 770).
10. Partilha
Terminado o inventário, partilham-se os bens entre os herdeiros e cessionários,
separando-se a meação do cônjuge sobrevivente. É a forma de terminar com a
comunhão dos bens, com o condomínio (salvo se não for possível dividir o bem –
quando deverá ficar em condomínio, sendo, apenas, definido o percentual de
propriedade de cada herdeiro sobre o bem).
120
simplificado.
Procedimento: ver arts. 647 a 658, CPC/2015
b. Forma de partilha:
ART. 2014 – ART. 2015 –
a) Escritura Pública;
b) Termo nos autos do inventário;
c) Escrito particular homologado;
ART. 2016 – se houver divergência ou algum herdeiro for incapaz. Nestes casos,
a partilha judicial é obrigatória, sendo a divisão determinada pelo juiz, respeitando os
valores e proporcionalidade das quotas.
c. Plano de partilha:
Melhor critério: bom senso, equilíbrio, igualdade possível.
Sempre que os herdeiros divergirem as partes formularão ao juiz pedido de
quinhão e o juiz deliberará. Deverá ser apresentado o esboço da partilha que deverá
ser efetivada pelo juiz.
ART. 2017 – Igualdade possível: quanto à natureza, valor e qualidade.
Igualdade é equidade. Princípio fundamental da partilha.
121
Neste caso, se o juiz tiver de decidir a partilha, normalmente optará pela mais
justa e equânime possível (provavelmente, dividir tudo entre todos).
d. Partilha em vida:
A partilha em vida é aquela feita pelo pai ou qualquer ascendente, via escritura
pública ou testamento, mas que não pode prejudicar a legítima dos herdeiros
necessários.
ART. 2018 – Partilha em vida: possibilidade de ser fazer a partilha em vida ou por
testamento, reservada a legítima dos herdeiros necessários.
ART. 2019: Divisão Cômoda: Venda Judicial: Divisão do valor apurado:
“Dos bens insuscetíveis de divisão cômoda”: bens que não o couberem na
meação do cônjuge (ou companheiro) ou no quinhão do herdeiro, serão vendidos
judicialmente.
a) venda judicial;
b) cessão de direitos;
c) partilha-se o valor apurado.
d) Parágrafo Primeiro: adjudicação a todos. Um, dois ou três podem requerer a
adjudicação (total das quotas). Não se fará a venda se os herdeiros requerem a
adjudicação.
ART. 2020 – divisão dos frutos percebidos é fundamental. Podem ser partilhados
em aditamento. Respondem por dano (dolo ou culpa) deram causa.
ART. 2021 – Bens litigiosos, remotos, liquidação morosa ou difícil: poderá ser feita
a partilha dos outros e, a sobrepartilha dos demais, “com o consentimento da maioria
dos herdeiros”.
e. Sobrepartilha:
ART. 2022 –
122
a) Os bens sonegados ficam sujeitos a sobrepartilha;
b) quaisquer outros que se tiver ciência após a partilha.
Se a partilha foi feita com dolo ou outro vício de consentimento, cabe ação de
anulação e, não sobrepartilha.
Art. 2.024 – Evicção: parcial ou total. A garantia dos quinhões é devida sempre,
pouco importante se a partilha é amigável ou não. O evicto será indenizado pelos co-
herdeiros (2.026).
123