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CAPÍTULO XV

DOS PROCEDIMENTOS DE JURISDIÇÃO VOLUNTÁRIA

Seção VI
Da Herança Jacente
Os artigos 738 a 743 trazem o procedimento relativo à herança jacente, que
visa a arrecadação, pelo juiz, dos bens do falecido que não tenha sucessores
legítimos ou testamentários conhecidos, sendo os bens arrecadados postos sob
a guarda, conservação e administração de um curador até a entrega ao sucessor
legalmente habilitado ou a declaração de vacância.

É de ser destacada a previsão do artigo 741 sobre a possibilidade de publicação


do edital expedido depois de concluída a arrecadação, na rede mundial de
computadores, no sitio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na
plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, observados os prazos do
dispositivo.
Art. 738. Nos casos em que a lei considere jacente a herança, o juiz em cuja comarca tiver domicílio o falecido procederá
imediatamente à arrecadação dos respectivos bens. (Art. 1819 do CC).
Art. 739. A herança jacente ficará sob a guarda, a conservação e a administração de um curador até a respectiva entrega
ao sucessor legalmente habilitado ou até a declaração de vacância.
§ 1º Incumbe ao curador:
I - representar a herança em juízo ou fora dele, com intervenção do Ministério Público; (credores)
II - ter em boa guarda e conservação os bens arrecadados e promover a arrecadação de outros porventura existentes;
III - executar as medidas conservatórias dos direitos da herança;
IV - apresentar mensalmente ao juiz balancete da receita e da despesa;
V - prestar contas ao final de sua gestão.
§ 2º Aplica-se ao curador o disposto nos arts. 159 a 161 .

Do Depositário e do Administrador
Art. 159. A guarda e a conservação de bens penhorados, arrestados, sequestrados ou arrecadados serão confiadas a
depositário ou a administrador, não dispondo a lei de outro modo.
Art. 160. Por seu trabalho o depositário ou o administrador perceberá remuneração que o juiz fixará levando em conta a
situação dos bens, ao tempo do serviço e às dificuldades de sua execução.
Parágrafo único. O juiz poderá nomear um ou mais prepostos por indicação do depositário ou do administrador.
Art. 161. O depositário ou o administrador responde pelos prejuízos que, por dolo ou culpa, causar à parte, perdendo a
remuneração que lhe foi arbitrada, mas tem o direito a haver o que legitimamente despendeu no exercício do encargo.
Parágrafo único. O depositário infiel responde civilmente pelos prejuízos causados, sem prejuízo de sua responsabilidade
penal e da imposição de sanção por ato atentatório à dignidade da justiça.
Art. 740. O juiz ordenará que o oficial de justiça, acompanhado do escrivão ou do chefe de secretaria e do curador, arrole os
bens e descreva-os em auto circunstanciado.
§ 1º Não podendo comparecer ao local, o juiz requisitará à autoridade policial que proceda à arrecadação e ao arrolamento
dos bens, com 2 (duas) testemunhas, que assistirão às diligências.
§ 2º Não estando ainda nomeado o curador, o juiz designará depositário e lhe entregará os bens, mediante simples termo
nos autos, depois de compromissado.
§ 3º Durante a arrecadação, o juiz ou a autoridade policial inquirirá os moradores da casa e da vizinhança sobre a
qualificação do falecido, o paradeiro de seus sucessores e a existência de outros bens, lavrando-se de tudo auto de
inquirição e informação.
§ 4º O juiz examinará reservadamente os papéis, as cartas missivas e os livros domésticos e, verificando que não apresentam
interesse, mandará empacotá-los e lacrá-los para serem assim entregues aos sucessores do falecido ou queimados quando
os bens forem declarados vacantes.
§ 5º Se constar ao juiz a existência de bens em outra comarca, mandará expedir carta precatória a fim de serem
arrecadados.
§ 6º Não se fará a arrecadação, ou essa será suspensa, quando, iniciada, apresentarem-se para reclamar os bens o cônjuge
ou companheiro, o herdeiro ou o testamenteiro notoriamente reconhecido e não houver oposição motivada do curador, de
qualquer interessado, do Ministério Público ou do representante da Fazenda Pública.
Art. 741. Ultimada a arrecadação, o juiz mandará expedir edital, que será publicado na rede mundial de computadores, no
sítio do tribunal a que estiver vinculado o juízo e na plataforma de editais do Conselho Nacional de Justiça, onde
permanecerá por 3 (três) meses, ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, por 3 (três) vezes com
intervalos de 1 (um) mês, para que os sucessores do falecido venham a habilitar-se no prazo de 6 (seis) meses contado da
primeira publicação.
§ 1º Verificada a existência de sucessor ou de testamenteiro em lugar certo, far-se-á a sua citação, sem prejuízo do edital.
§ 2º Quando o falecido for estrangeiro, será também comunicado o fato à autoridade consular.
§ 3º Julgada a habilitação do herdeiro, reconhecida a qualidade do testamenteiro ou provada a identidade do cônjuge ou
companheiro, a arrecadação converter-se-á em inventário.
§ 4º Os credores da herança poderão habilitar-se como nos inventários ou propor a ação de cobrança.
Art. 742. O juiz poderá autorizar a alienação:
I - de bens móveis, se forem de conservação difícil ou dispendiosa;
II - de semoventes, quando não empregados na exploração de alguma indústria;
III - de títulos e papéis de crédito, havendo fundado receio de depreciação;
IV - de ações de sociedade quando, reclamada a integralização, não dispuser a herança de dinheiro para o pagamento;
V - de bens imóveis:
a) se ameaçarem ruína, não convindo a reparação;
b) se estiverem hipotecados e vencer-se a dívida, não havendo dinheiro para o pagamento.
§ 1º Não se procederá, entretanto, à venda se a Fazenda Pública ou o habilitando adiantar a importância para as despesas.
§ 2º Os bens com valor de afeição, como retratos, objetos de uso pessoal, livros e obras de arte, só serão alienados depois
de declarada a vacância da herança.
Art. 743. Passado 1 (um) ano da primeira publicação do edital e não havendo herdeiro habilitado nem habilitação pendente, será
a herança declarada vacante.
§ 1º Pendendo habilitação, a vacância será declarada pela mesma sentença que a julgar improcedente, aguardando-se, no caso
de serem diversas as habilitações, o julgamento da última.
§ 2º Transitada em julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, o companheiro, os herdeiros e os credores só poderão
reclamar o seu direito por ação direta. (1824 CC).

Entre o prazo da herança inicialmente declarada Jacente até ela se tornar Vacante, se houverem herdeiros colaterais, estes
deverão se habilitar até o prazo final dela ser declarada Vacante, depois os herdeiros colaterais não mais podem reivindicar a
herança, o mesmo não ocorre com os herdeiros não colaterais (chamados de necessários), que podem vir a exigir a herança após
ela ser declarada vacante (até 5 anos da data de sua abertura), só que agora deverá interpor uma Ação Direta, a qual será a
denominada Petição de Herança.
AGRAVO DE INSTRUMENTO AÇÃO DE INVENTÁRIO RITO ATINENTE À HERANÇA JACENTE
SENTENÇA QUE DECLARA A VACÂNCIA DA HERANÇA PETIÇÃO NOS AUTOS DE HERDEIROS
COLATERAIS QUE PRETENDEM A ANULAÇÃO DOS ATOS CONSUMADOS E AVOCAÇÃO À AÇÃO DE
INVENTÁRIO POR ELES PROPOSTA IMPOSSIBILIDADE EXEGESE DO ARTIGO 1.158 DO CPC
RECLAMAÇÃO DE DIREITO POR MEIO DE AÇÃO PRÓPRIA. À luz do artigo 1.158 do Código de
Processo Civil, transitada em julgado a sentença que declarou a vacância, o cônjuge, os herdeiros
e os credores só poderão reclamar o seu direito por ação direta. Assim, não tendo os herdeiros
se habilitado no prazo estabelecido na lei processual sentença que declara a vacância - referente
à herança jacente e vacante, findo está o procedimento, cessando a competência do juiz da
arrecadação de bens, devendo os pretensos herdeiros por meio de ação própria defenderem os
alegados direitos, não havendo que se falar em nulidade dos atos processuais já consumados.
AGRAVO DE INSTRUMENTO NÃO PROVIDO Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. (TJ-PR
8731915 PR 873191-5 (Acórdão), Relator: Gamaliel Seme Scaff, Data de Julgamento: 23/05/2012,
11ª Câmara Cível).
AGRAVOS REGIMENTAIS. PROCESSUAL CIVIL. EXAME DE MATÉRIA CONSTITUCIONAL, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL.
DESCABIMENTO. HERANÇA JACENTE. BEM DEVOLVIDO AO ESTADO APENAS COM A SENTENÇA DE DECLARAÇÃO DA
VACÂNCIA. PRECEDENTES DO STJ. REEXAME DE PROVAS, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. INVIABILIDADE. 1. Em vista da
clara delimitação constitucional das competências do STJ e do STF, incumbindo a estes Órgãos de superposição,
respectivamente, a guarda da Lei Federal e da Constituição, a decisão ora recorrida - que manteve o decidido pelo Tribunal
de origem - limitou-se a analisar a controvérsia pelo enfoque infraconstitucional, de modo que, se o recorrente entende que
houve violação da Constituição por parte dos órgãos da Justiça Comum, deveria ter interposto oportuno recurso
extraordinário para o egr. STF, sob pena de preclusão. Precedentes do STF. 2. "O bem integrante de herança jacente só é
devolvido ao Estado com a sentença de declaração da vacância, podendo, até ali, ser possuído ad usucapionem. Incidência
da Súmula 83/STJ". (AgRg no Ag 1212745/RJ, Rel. Ministro SIDNEI BENETI, TERCEIRA TURMA, julgado em 19/10/2010, DJe
03/11/2010) 3. Quanto aos honorários sucumbenciais, arbitrados no valor de R$ 8.000,00 (oito mil reais), a serem arcados
pelos ora recorrentes, não se mostram exorbitantes, sendo certo que cuida-se de demanda iniciada no longíquo ano de
1986. Como é evidente que os honorários arbitrados não são exorbitantes, a Súmula 7/STJ impõe óbice intransponível à sua
revisão. 4. Agravos regimentais não providos. (AgRg no AREsp 126.047/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA
TURMA, julgado em 26/11/2013, DJe 03/12/2013).
Seção VIII
Das Coisas Vagas

Art. 746. Recebendo do descobridor coisa alheia perdida, o juiz mandará lavrar o respectivo
auto, do qual constará a descrição do bem e as declarações do descobridor.

§ 1º Recebida a coisa por autoridade policial, esta a remeterá em seguida ao juízo competente.

§ 2º Depositada a coisa, o juiz mandará publicar edital na rede mundial de computadores, no


sítio do tribunal a que estiver vinculado e na plataforma de editais do Conselho Nacional de
Justiça ou, não havendo sítio, no órgão oficial e na imprensa da comarca, para que o dono ou o
legítimo possuidor a reclame, salvo se se tratar de coisa de pequeno valor e não for possível a
publicação no sítio do tribunal, caso em que o edital será apenas afixado no átrio do edifício do
fórum.

§ 3º Observar-se-á, quanto ao mais, o disposto em lei.


Trata do procedimento sobre as coisas
vagas, que objetiva encontrar o dono ou
legítimo possuidor das coisas encontradas,
mediante a publicação de edital.
CC
Da Descoberta
Art. 1.233. Quem quer que ache coisa alheia perdida há de restituí-la ao dono ou legítimo possuidor.
Parágrafo único. Não o conhecendo, o descobridor fará por encontrá-lo, e, se não o encontrar, entregará a
coisa achada à autoridade competente.
Art. 1.234. Aquele que restituir a coisa achada, nos termos do artigo antecedente, terá direito a uma
recompensa não inferior a cinco por cento do seu valor, e à indenização pelas despesas que houver feito
com a conservação e transporte da coisa, se o dono não preferir abandoná-la.
Parágrafo único. Na determinação do montante da recompensa, considerar-se-á o esforço desenvolvido
pelo descobridor para encontrar o dono, ou o legítimo possuidor, as possibilidades que teria este de
encontrar a coisa e a situação econômica de ambos.
Art. 1.235. O descobridor responde pelos prejuízos causados ao proprietário ou possuidor legítimo,
quando tiver procedido com dolo.
Art. 1.236. A autoridade competente dará conhecimento da descoberta através da imprensa e outros
meios de informação, somente expedindo editais se o seu valor os comportar.
Art. 1.237. Decorridos sessenta dias da divulgação da notícia pela imprensa, ou do edital, não se
apresentando quem comprove a propriedade sobre a coisa, será esta vendida em hasta pública e,
deduzidas do preço as despesas, mais a recompensa do descobridor, pertencerá o remanescente ao
Município em cuja circunscrição se deparou o objeto perdido.
Parágrafo único. Sendo de diminuto valor, poderá o Município abandonar a coisa em favor de quem a
achou.
Do Achado do Tesouro

Art. 1.264. O depósito antigo de coisas preciosas, oculto e de cujo dono não
haja memória, será dividido por igual entre o proprietário do prédio e o que
achar o tesouro casualmente.

Art. 1.265. O tesouro pertencerá por inteiro ao proprietário do prédio, se for


achado por ele, ou em pesquisa que ordenou, ou por terceiro não autorizado.

Art. 1.266. Achando-se em terreno aforado, o tesouro será dividido por igual
entre o descobridor e o enfiteuta, ou será deste por inteiro quando ele mesmo
seja o descobridor.
MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA ATO JUDICIAL. HIPÓTESE DE CABIMENTO. DEPÓSITO JUDICIAL. FAVORECIDO CITADO
POR EDITAL. AUTOS ARQUIVADOS. LEVANTAMENTO DE QUANTIA PENDENTE. RESOLUÇÃO 16/2016. DECLARAÇÃO DE COISA
VAGA. APLICABILIDADE. PUBLICAÇÃO DE EDITAL NECESSIDADE. ARTIGO 746, § 2º, CPC. DIREITO LÍQUIDO E CERTO.
COMPROVAÇÃO. 1. Trata-se de mandado de segurança impetrado pela Curadoria Especial em que se postula a anulação de
ato judicial que, a pretexto de concretizar o comando no artigo 23, inciso IV e parágrafo único, da Resolução nº 16/2016,
declarou como coisa vaga o depósito judicial efetivado em favor de empresa citada por edital em ação de consignação em
pagamento transitada em julgado e determinou a perda do crédito em favor da União. 2. A despeito de ser vedada a
impetração de mandado de segurança para impugnação de decisão judicial transitada em julgado (art. 5º, inciso III, da Lei
nº 12.016/2009 e Súmula nº 268 do STJ) e como sucedâneo de recurso (inciso II do citado dispositivo legal e Súmula nº 267
do STJ) ou de ação rescisória, admite-se seu cabimento para defesa de direito líquido e certo diante da alegação de que o
ato judicial confrontado é irrecorrível ou se reveste de ilegalidade, abuso de poder ou teratologia. 3. A concessão da ordem
postulada em mandado de segurança pressupõe, em linhas gerais, a comprovação, por meio de prova pré-constituída, da
existência de um direito líquido e certo violado ou em risco de ser violado, em decorrência de ilegalidade ou abuso de
poder por parte de uma autoridade. 4. Considerada a impossibilidade de manter-se os autos arquivados no qual consta
depósito pendente de levantamento, em função do disposto no artigo 23, inciso IV, da Resolução nº 16/2016, a declaração
de coisa vaga mostra-se plenamente cabível nesta situação, à luz do disposto no art. 140 do CPC e art. 4º da Lei de
Introdução às Normas do Direito Brasileiro, haja vista a semelhança prática existente com a identificação de bens perdidos,
revelando-se a declaração de coisa vaga como uma solução jurídica eficaz aos casos em que determinado bem, por
qualquer motivo, não alcança seu proprietário. 5. Impõe-se, no entanto, observar a regra do artigo 746, § 2º, do Código de
Processo Civil que estabelece a necessidade de publicação de edital para que o dono ou o legítimo possuidor a reclame. 6.
Uma vez constatado que a decisão de declaração do depósito judicial como coisa vaga não foi devidamente publicada e não
foi antecedida da publicação de edital, conclui-se pela ofensa ao princípio da publicidade e do devido processo legal,
impondo-se a sua cassação. 7. Segurança parcialmente concedida.
(TJ-DF 07023054620208070000 DF 0702305-46.2020.8.07.0000, Relator: CESAR LOYOLA, Data de Julgamento: 18/05/2020,
2ª Câmara Cível, Data de Publicação: Publicado no PJe : 06/06/2020 . Pág.: Sem Página Cadastrada.)

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