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DIREITO DAS SUCESSÕES

Prof.ª Patrícia Alves


EMENTA
2. SUCESSÃO HEREDITÁRIA
2.1. A herança e meação: diferenciação
2.2. Administração da herança
2.3. Herança jacente e herança vacante
2.4. Aceitação e renúncia da herança
2.5. Excluídos da sucessão: indignidade sucessória e deserdação
2.6. Ação de petição de herança

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2.1. A HERANÇA E MEAÇÃO: DIFERENCIAÇÃO
◦ A herança é o conjunto de bens que é formado quando
alguém morre. O falecimento do autor da herança faz com
que o conjunto de bens constitua a herança, que será
repassada aos sucessores.
◦ Essa herança é que forma o espólio, o qual poderá estar
em juízo, sem, entretanto, ter personalidade jurídica.
◦ O espólio constitui uma universalidade jurídica, com
natureza de ente despersonalizado, que, entretanto, tem
legitimidade para estar em juízo (art. 75, VII, do CPC).

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2.1. A HERANÇA E MEAÇÃO: DIFERENCIAÇÃO
◦ Conforme disposição expressa do Código Civil, o direito à
sucessão aberta e o direito à herança constituem bens
imóveis por determinação legal, mesmo que a herança
seja constituída exclusivamente por bens móveis (art. 80,II,
CC).
◦ Além disso, a herança é um bem indivisível, ou seja, antes
da partilha há um condomínio pro indiviso. Nesse caso, o
art. 793 do CC consagra que o direito à sucessão aberta
pode ser objeto de cessão, mas é exatamente pelo fato de
a sucessão aberta ser considerada bem imóvel por
determinação legal que essa cessão deve ser feita por
escritura pública.
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2.1. A HERANÇA E MEAÇÃO: DIFERENCIAÇÃO
◦ A herança é instituto de Direito Sucessório e a meação
instituto de Direito de Família.
◦ A meação decorre do regime de bens no casamento ou do
contrato escrito entre companheiros (ou se inexistir
contrato escrito, de determinação legal – art. 1.725 do CC)

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2.1. A HERANÇA E MEAÇÃO: DIFERENCIAÇÃO
◦ Exemplificando, imaginemos que uma pessoa é casada pelo
regime da comunhão parcial de bens e durante o
casamento alcança, com a esposa, um patrimônio total de 2
milhões de reais.
◦ Caso essa pessoa faleça, tem-se que, em razão do regime
(Direito de Família), um milhão de reais constituirá a
meação, de forma que o outro um milhão será a herança a
ser partilhada entre os herdeiros (Direito das Sucessões).
Essa é a distinção básica entre herança e meação.

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2.2. ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
◦ O Código Civil, no art. 1796 estabelece o prazo de 30 dias, a
contar da abertura da sucessão, para que haja a abertura
do inventário do patrimônio hereditário.
◦ O CPC, no art. 611, estabelece que o processo de inventário
e partilha deve ser instaurado dentro de 2 meses, o que dá
aproximadamente 60 dias, a contar da abertura da
sucessão, devendo ser finalizado nos 12 meses
subsequentes, podendo esse prazo, justificadamente, ser
prorrogado de ofício ou a requerimento das partes.

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2.2. ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
◦ Como se vê, o CPC estabelece prazo diferenciado do CC.
◦ Considerando que o CPC é norma de igual hierarquia do CC,
porém posterior, temos uma revogação da disposição do
CC, prevalecendo o prazo do CPC (revogação tácita).
◦ A administração do inventário cabe ao inventariante.

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2.2. ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
◦ O art. 1.797 CC diz que até que haja o compromisso do
inventariante, a administração caberá a um administrador
provisório, de acordo com uma ordem sucessiva que é
estabelecida pela lei:
◦ - primeiramente, esta administração provisória caberá ao
cônjuge ou companheiro;
◦ - caso não seja a hipótese, pelo herdeiro que estiver na
posse ou na administração daquele bem;
◦ - se houver mais de um herdeiro na posse daquele bem,
será o administrador provisório o mais velho;

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2.2. ADMINISTRAÇÃO DA HERANÇA
◦ - se não for o caso, será o testamenteiro o administrador
provisório;
◦ - não havendo testamenteiro, será administrador
provisório uma pessoa de confiança do juiz.
◦ É importante destacar que esse rol é meramente
exemplificativo, pois, no caso concreto, outra pessoa
poderá se mostrar mais adequada para administrar
provisoriamente os bens.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ Por vezes, o falecido pode não ter deixado herdeiros para
receber esses bens. Assim, prevê a lei que, nessa hipótese,
os bens passarão ao Município ou Distrito Federal.
◦ Nessa linha de raciocínio, o estudo da herança jacente e
vacante refere-se às etapas pelas quais a herança passa
quando inexistem herdeiros legítimos (ou estes tenham
renunciado à herança), de forma que os bens deixados pelo
falecido são devolvidos ao Município ou ao Distrito Federal.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ É importante destacar que é possível a convivência da
herança jacente com a herança testamentária. Isso
ocorrerá quando o falecido, que não tenha qualquer
herdeiro, deixar testamento que contemple apenas parte
dos bens.
◦ Quando não há herdeiros habilitados ou os que poderiam
ser renunciam o direito, a herança fica sem titularidade, já
que para o Poder Público não se aplica o Princípio de
Saisine.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ Como corolário, segue-se a possibilidade de usucapião
desses bens durante o período em que estão na condição
de jacente (1ª etapa), ou seja, até ser declarada a vacância
(2ª etapa), os bens estão sujeitos à usucapião.
◦ Com a declaração de vacância, os bens passam à
propriedade resolúvel do Poder Público e ficam nessa
condição por 5 anos. Somente após o prazo de 5 anos, a
contar da sentença que declara a herança vacante, é que os
bens passam ao patrimônio definitivo do Poder Público.
◦ Assim, temos:

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ a) Herança jacente: o art. 1.844CC estabelece que, não
sobrevivendo cônjuge ou companheiro, nem parente
algum sucessível, ou tendo sobrevivido, mas tendo havido
a renúncia à herança, será devolvido ao Município ou ao
Distrito Federal, se localizada nas respectivas
circunscrições, ou à União, quando situada em território
federal a propriedade à herança.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ Nessa hipótese, os bens deixados pelo falecido ficarão sob a
guarda de um curador até a sua entrega a um sucessor que
venha a se habilitar.
◦ Se não houver ninguém para se habilitar, os bens ficarão
com esse curador até a última etapa de devolução dos bens
ao Município ou DF, que é a etapa em que a herança é
declarada vacante.
◦ Antes disso, ela é considerada jacente, pela ausência inicial
de cônjuge, companheiro, descendentes ou ascendentes,
bem como de colaterais, sendo, então, submetida aos
cuidados do curador. Se não aparecer ninguém habilitado a
suceder, a herança é declarada jacente.
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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA
VACANTE
◦ O art. 738 do CPC estabelece que nos casos em que a lei
considerar jacente a herança, o juiz, em cuja comarca tinha
domicílio o falecido, procederá imediatamente à
arrecadação dos respectivos bens.
◦ Já o art. 740 do CPC determina ao oficial de justiça,
acompanhado de testemunhas, que arrole os bens do
falecido, descrevendo-os num auto circunstanciado.
◦ Eventualmente, se o juiz não puder comparecer ao local por
meio do oficial de justiça, irá requisitar que a autoridade
policial proceda à arrecadação e ao arrolamento desses
bens com a presença de duas testemunhas.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ Se for por oficial de justiça, basta que esteja acompanhado
do curador. Se for por autoridade policial, serão necessárias
duas testemunhas.
◦ O §2º do art. 740 do CPC prevê que não estando ainda
nomeado um curador, o juiz irá designar um depositário
para cuidar dos bens. Durante a arrecadação, o juiz ou a
autoridade policial que estiver fazendo a arrecadação, vai
inquirir os vizinhos e moradores da vizinhança para saber
quem era o falecido, onde estão ou se existem sucessores,
além de saber se há mais bens em nome do de cujos.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ O art. 740, §5º, CPC diz que, se constar a existência de bens
em outra comarca, deverá o juiz determinar a expedição de
carta precatória para que tais bens sejam arrecadados
também.
◦ Feitas essas diligências, serão expedidos editais para
tentativa de localização de sucessores legítimos.
◦ Perceba-se que, com todas essas diligências, ainda estamos
na fase da herança jacente.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ O art. 741 do CPC diz que, ultimada a arrecadação, o juiz mandará
expedir edital, o qual será publicado na internet, permanecendo
nos sítios de tribunal, CNJ, por 3 meses, a fim de que os sucessores
venham a se habilitar no prazo de 6 meses a contar do início da
publicação.
◦ Se for verificada a existência de um sucessor ou de um
testamenteiro em lugar certo, será feita sua citação, sem prejuízo
do edital que procurará outros sucessores também.
◦ Quando o falecido for estrangeiro, este fato deverá ser
comunicado à autoridade consular. A ideia é de que haja outros
mecanismos para encontrar ou procurar outros herdeiros.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ b) Herança vacante: decorrido 1 ano da publicação dos
editais, sem que haja herdeiros que tenham se habilitado,
ou que estejam pendentes de habilitação, a herança
jacente será declarada vacante.
◦ Essa declaração de vacância tem caráter de definitividade,
de forma que, transitada em julgado a sentença que
declarou a vacância, o cônjuge ou companheiro, os
herdeiros, ou credores do falecido só poderão reclamar o
seu direito numa ação própria, não podendo mais se
habilitarem no autos do procedimento de vacância.

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2.3. HERANÇA JACENTE E HERANÇA VACANTE
◦ A propriedade, no caso, é resolúvel, já que os interessados
poderão buscar o direito em ação própria. Porém, esse
direito somente poderá ser perseguido no prazo de 5 anos
da sentença de vacância, já que após esse prazo, os bens
passam ao patrimônio definitivo do Poder Público
(Município, Distrito Federal ou da União, conforme o caso).
◦ A transferência, no caso, só ocorre com a sentença de
vacância (propriedade resolúvel), não se aplicando, como já
visto, o princípio de saisine.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Pelo Princípio de Saisine, temos que desde a abertura da
sucessão, ou seja, desde a morte do autor da herança, há
transmissão imediata da titularidade dos bens e
obrigações que constituem a herança.
◦ Todavia, ninguém é obrigada a permanecer na titularidade
desses bens e/ou obrigações. Daí que a lei faculta a
aceitação ou não da transmissão da herança.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Nesse sentido, aceitar significa confirmar a transmissão da
herança.
◦ O art. 1.804 CC diz que aceita a herança, a transmissão ao
herdeiro torna-se definitiva.
◦ Por outro lado, não haverá a transmissão quando há
renúncia à herança feita pelo herdeiro.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ A aceitação pode assumir diferentes formas:
◦ • aceitação expressa: ocorre quando o herdeiro ou
testamenteiro faz uma declaração expressa de que aceita a
herança;
◦ • aceitação tácita: pode ser que o herdeiro ou
testamenteiro não faça essa declaração expressa no sentido
de aceitar a herança, mas atue, no mundo dos fatos, como
se herdeiro fosse. Assim, a aceitação tácita decorre da
prática de atos próprios da qualidade de herdeiro;

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA
HERANÇA
◦ • aceitação presumida: o art. 1.807 CC diz que o
interessado em que o herdeiro declare se aceita, ou não, a
herança, poderá, 20 dias após a abertura da sucessão,
requerer ao juiz que num prazo razoável, não superior a 30
dias, venha nele a se manifestar o herdeiro sobre a
aceitação ou não da herança. Neste caso, o silêncio
importa em aceitação.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Quando a hipótese for de renúncia à herança, ela deverá
ser expressa e constar de escritura pública ou termo
judicial, lembrando que, como visto, a herança é
considerada bem imóvel, e, como tal, a transferência
depende de forma especial.
◦ Existem duas modalidades de renúncia à herança:

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ • renúncia abdicativa: é aquela em que o herdeiro, não
querendo a herança, dela abre mão em favor do monte, ou
seja, favorecendo todos os demais coerdeiros. Nesse caso,
não existe a incidência do ITBI contra o renunciante;
◦ • renúncia translativa: nessa hipótese, o herdeiro, não
pretendendo a herança, cede os seus direitos em favor de
determinada pessoa, incidindo o ITBI neste caso.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ O art. 1.808 CC estabelece que não se pode aceitar ou
renunciar a herança em partes, de forma fracionada.
◦ Ex.: não há como aceitar apenas o ativo e recusar o passivo,
bem como não se pode aceitar ou recusar herança sob
condição ou a termo (Ex.: aceita a herança se passar na
OAB).

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Existe exceção à regra sobre impossibilidade de
fracionamento na aceitação, senão vejamos:
◦ - O §1º do art. 1.808 diz que o herdeiro, a quem se testarem
legados, pode aceitar o legado e renunciar a herança, ou
mesmo aceitar a herança e renunciar o legado.
◦ - O §2º diz que o herdeiro, chamado na mesma sucessão a
mais de um quinhão hereditário, sob títulos sucessórios
diversos, pode livremente deliberar quanto aos quinhões
que aceita e aos que renuncia.
◦ Tanto a aceitação e como a renúncia são atos irrevogáveis
(art. 1.812 CC).

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ O principal efeito da renúncia está no art. 1.810 CC, que
estabelece que, na sucessão legítima, a parte do
renunciante vai acrescer aos outros herdeiros da mesma
classe. Se ele for o único herdeiro da classe, será devolvida
aos da classe subsequente.
◦ Ex: Maria, solteira, sem descendentes ou ascendentes, que
falece deixando três irmãos: João, Pedro e José. Nessa
hipótese, caso Pedro renuncie a sua parte na herança, será
redistribuída sua parte para os outros dois irmãos. Se todos
os irmãos renunciarem as suas respectivas partes, serão
chamados os sobrinhos, que integram a próxima classe.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ A renúncia gera um tratamento ao renunciante como se
ele nunca tivesse existido como pessoa (relativamente aos
bens da herança).
◦ Quando há renúncia, os herdeiros do renunciante não
podem exercer o direito de representação, pois para a
herança, é como se o renunciante nunca tivesse existido. Se
nunca existiu, seus herdeiros não o representam.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Ex: se Pedro renuncia à herança, seus filhos não podem
representá-lo. Isso porque para a herança passar aos seus
filhos, ainda que por direito de representação, seria
necessário que ele tivesse existido e morrido (e para a
herança, aquele que renuncia é considerado como se nunca
tivesse existido).
◦ Feita a renúncia, aquele que renunciou é apagado como se
nunca tivesse existido. Os bens passam, então, para os
demais herdeiros de mesma classe

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Se o renunciante for o único legitimado da sua classe, ou
se todos de uma mesma classe renunciarem à herança,
vem a sucessão por direito próprio, vindo a sucessão por
cabeça da classe subsequente.
◦ Ex.: na hipótese narrada, se todos os irmãos de Maria
renunciarem a herança, os sobrinhos de Maria herdarão por
direito próprio.

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2.4 ACEITAÇÃO E RENÚNCIA DA HERANÇA
◦ Na hipótese de um herdeiro renunciar à herança,
prejudicando terceiro que é seu credor, esse credor
prejudicado poderá, com autorização judicial, aceitar a
herança em nome daquele que havia renunciado.
◦ É o que dispõe o artigo 1.813 CC, que visa evitar fraudes.
Haverá, na hipótese, habilitação do credor no inventário.
◦ Pagas as dívidas do renunciante aos seus credores
habilitados no inventário, prevalecerá a renúncia quanto ao
remanescente, lembrando que a renúncia é irrevogável.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Quando do estudo das hipóteses de exclusão da sucessão,
é fundamental estabelecer a diferença prévia entre
indignidade e deserdação.
◦ São institutos muito próximos e se relacionam com a
prática de atos incompatíveis com o direito de suceder.
Por conseguinte, são sanções civis àqueles que não se
comportaram bem com o autor da herança.
◦ Diferente da renúncia, o indigno é considerado como se
fosse pré-morto. Ou seja, é considerando como existente,
porém pré-falecido, de modo a permitir que seus
descendentes o representem.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ A indignidade se relaciona tanto aos herdeiros legítimos,
como testamentários, e, ainda, aos legatários, de modo
que qualquer um deles, reconhecidos os atos indignos,
pode ser afastado da sucessão.
◦ A especificidade da situação do legatário é que a
indignidade para esse caso é hipótese de caducidade do
legado (art. 1.939, IV, CC).

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ As hipóteses de indignidade estão previstas no art. 1.814 CC e seu
reconhecimento depende de sentença, sendo os efeitos do
reconhecimento pessoais (art. 1.816 CC).
◦ Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I - que houverem sido autores, co-autores ou partícipes de homicídio
doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se tratar,
seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II - que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança
ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro;
III - que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o
autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade.
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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ A ação de indignidade sucessória poderá ser proposta por
qualquer interessado, mas também poderá ser proposta
pelo MP, quando envolver questão de ordem pública.
◦ O prazo decadencial para a ação que visa reconhecer a
indignidade sucessória é de 4 anos, a contar da abertura da
sucessão.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Já a deserdação é um instituto, que embora bem próximo
da indignidade, dele se diferencia porque é feita por
testamento, a partir da vontade do autor da herança.
◦ É ele quem, apontando a conduta tida como inadequada
para um herdeiro, irá excluí-lo da sucessão.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Atente-se para o fato de a deserdação se referir aos
herdeiros necessários, que seriam obrigatoriamente
contemplados pela legítima.
◦ Não abarca os herdeiros facultativos, porque a exclusão
destes é feita com sua não contemplação no testamento.
◦ Como não são protegidos pela legítima, caso o autor da
herança não tenha herdeiros necessários, poderá, para
afastar os herdeiros facultativos da sucessão, dispor de
todos os bens, sem os contemplar, não sendo, por
conseguinte, necessária a deserdação.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Os art. 1.962 e 1.963 do CC trazem hipóteses que
autorizam a deserdação dos descendentes por seus
ascendentes ou ascendentes por seus descendentes:
- quando houver a prática de ofensa física a essas pessoas;
- quando houver injúria grave entre essas pessoas;
- quando houver relações ilícitas com madrasta, padrasto,
companheiro, esposa, do filho ou do neto;
- quando houver o desamparo praticado por essas pessoas, em
decorrência de uma alienação mental ou de grave enfermidade
do prejudicado.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ As hipóteses elencadas no art. 1.814 do CC podem ser
indicadas no testamento para deserdação dos herdeiros
necessários, mas as hipóteses de deserdação indicadas nos
arts. 1.962 e 1.963 do CC não se aplicam à indignidade
sucessória.
◦ Ao herdeiro instituído, ou a quem aproveite essa
deserdação, vai incumbir o ônus de provar a veracidade da
causa que foi alegada pelo testador para confirmar a
deserdação na ação de confirmação de deserdação. A
deserdação deve necessariamente ser confirmada em juízo.
◦ O prazo decadencial para essa ação de confirmação é de 4
anos, a contar da abertura do testamento.
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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Em relação à indignidade, o art. 1.816 do CC estabelece que
são pessoais os efeitos da exclusão. Isto significa que os
descendentes do herdeiro excluído vão sucedê-lo, como se
ele estivesse morto antes da abertura da sucessão.
◦ Isto também acontecerá se os filhos forem menores, mas,
nesse caso, o excluído da herança não terá direito ao
usufruto dos bens recebidos na herança, tampouco direito
à sucessão eventual desses bens, caso um de seus filhos
venha a morrer.
◦ Essa regra também será aplicada ao caso de deserdação.

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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO
◦ Vale ressaltar que são válidas as alienações onerosas e os
atos de administração praticados pelo herdeiro antes da
sentença que o excluiu da qualidade de herdeiro,
tutelando-se, assim, a boa-fé de terceiros.
◦ Admite-se ainda a reabilitação do indigno por força de
testamento ou por outro ato autêntico, evidenciando-se o
perdão pelo autor da herança.
◦ O art. 1.818 CC prevê a reabilitação tácita, a qual se dá
quando o autor da herança contempla o indigno como
testamenteiro, quando ele já conhecia a causa dessa
indignidade.
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2.5 EXCLUÍDOS DA SUCESSÃO: INDIGNIDADE E
DESERDAÇÃO

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2.6 AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
◦ A ação de petição de herança é o meio pelo qual a pessoa
pode reclamar sua condição de herdeiro.
◦ Trata-se, portanto, de ação que tem por escopo ver-se
reconhecido como herdeiro para participação na sucessão
por morte de alguém, pode ser promovida mesmo quando
já tenha havido a efetiva divisão dos bens deixados pela
morte do autor da herança.

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2.6 AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
◦ Estabelece o artigo 1.824 CC que “o herdeiro pode, em ação
de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu
direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou
de parte dela, contra quem, na qualidade de herdeiro, ou
mesmo sem título, a possua”.
◦ Acrescenta o art. 1.825 CC, que essa ação de petição de
herança, ainda que exercida por um só dos herdeiros,
poderá compreender todos os bens hereditários.

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2.6 AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
◦ Diz o artigo 1.827 CC que o herdeiro pode demandar os
bens da herança, mesmo em poder de terceiros, sem
prejuízo da responsabilidade do possuidor originário pelo
valor dos bens alienados.
◦ Isso decorre do fato de a herança ser bem imóvel para os
efeitos legais, de modo que a ação, na hipótese, tem
natureza real, permitindo que o herdeiro demande os bens
mesmo que estejam em poder de terceiros.

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2.6 AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
◦ A regra, então, é a possibilidade de o herdeiro real
(reconhecido como tal na ação de petição de herança)
buscar os bens da sucessão em poder de quem quer que
estejam, inclusive de terceiros.
◦ Porém, a própria legislação faz ressalva à hipótese do
terceiro de boa-fé que tenha adquirido o bem a título
oneroso (art. 1.827, parágrafo único, CC). Nesse caso, são
eficazes as alienações feitas, a título oneroso, pelo herdeiro
aparente a terceiro de boa-fé.

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2.6 AÇÃO DE PETIÇÃO DE HERANÇA
◦ Em outras palavras, se a pessoa que detinha a posse da herança for
um herdeiro aparente, os atos que este praticou a título oneroso e
de boa-fé são considerados válidos e eficazes.
◦ Aplica-se, aqui, a Teoria da Aparência, pela qual há que se
reconhecer válido e eficaz o ato praticado por aquele que
aparentava ser o detentor do direito.
◦ A alternativa que resta ao herdeiro real (reconhecido como tal na
ação de petição de herança) é pleitear do herdeiro aparente o que
recebeu da venda do bem para o terceiro de boa-fé.
◦ A ação de petição de herança está sujeita ao prazo prescricional de
10 anos.

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REFERÊNCIAS
◦ DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias, 13ª
edição. Salvador: Juspodivm, 2020.
◦ DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. 15. ed. São
Paulo: Saraiva, 2010.
◦ LOBO, Paulo Luiz Netto. Direito Civil: famílias. 7. ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2017.
◦ ___________________ Do poder familiar. In: DIAS, Maria
Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha (Coord.). Direito de
Família e o Novo Código Civil. 3. ed. Belo Horizonte: Del
Rey/IBDFAM, 2004.

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