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Fuzis e Carabinas na I e II Grandes Guerras

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Dando continuidade à nossa série de artigos sobre armas portáteis, curtas ou longas, que foram utilizadas pelos países mais
importantes  que  participaram  da  I  e  II  Grandes  Guerras,  pretendemos  descrever  agora,  de  forma  resumida,  as  principais
características das armas longas portáteis, sejam elas fuzís ou carabinas, de repetição ou semi‑automáticas, que participaram
dos maiores conflitos armados da história, a Primeira Grande Guerra (1914‑1918) e a Segunda Guerra Mundial, que teve seu
início em setembro de 1939 e que se encerrou em 1945. O teatro de operações deste último conflito foi imenso, abrangendo
praticamente  toda  a  Europa,  parte  da  Ásia,  Japão  e  norte  da  África,  com  diversos  países,  aliados  ou  não,  participando  de
forma direta ou indireta, dos combates.

O  uso  das  armas  longas  em  combate  tem  conotação  bem  diferente  da  que  ocorria  com  as  armas  curtas.  As  curtas  são,
tradicionalmente,  voltadas  à  proteção  e  defesa  individual,  ao  contrário  dos  fuzís  ou  carabinas  que  atuam  de  forma  mais
ostensiva e para o ataque, seja ele feito em grupo ou individualmente, devido ao seu maior poder de fogo e maior alcance
efetivo.  Neste  artigo  não  entraremos  no  âmbito  de  armas  automáticas  de  uso  coletivo  ou  portáteis  como  as  sub‑
metralhadoras e as metralhadoras leves ou pesadas, pois à estas dedicaremos um outro artigo exclusivo. Não se pretende
aqui descrever todas as armas utilizadas por um determinado país, o que demandaria um artigo longo demais; a intenção é
enumerar a principal ou as principais armas, aquelas que foram utilizadas em toda a duração dos conflitos e com grande
participação entre as tropas.

ALEMANHA

A Alemanha, graças à engenhosidade de Herr Peter Mauser, teve o privilégio de poder contar, nas duas Grandes Guerras,
com um dos mais respeitados, confiáveis, resistentes e duráveis fuzis de repetição até hoje produzidos. Seu projeto era tão
bem  elaborado  que  serviu  de  inspiração  para  a  grande  maioria  dos  fuzis  de  ação  por  ferrolho  desenvolvidos  em  outros
países, depois dele. Para entendermos melhor a evolução do fuzil Mauser, vamos retroceder até 1841, quando a arma longa
padrão da Prússia e do Exército Imperial Alemão era o fuzil Dreyse, projetado por Johann Nikolaus von Dreyse, chamado
popularmente de “needle‑gun” – isso se deve ao sistema pouco comum de percussão que se empregava nos seus cartuchos.
O Dreyse utilizava um cartucho de papelão tendo numa das extremidades um projétil de chumbo de 15,4mm de diâmetro.
Esse projétil possuía uma espoleta montada em sua base, de forma que para ser atingida, o ferrolho possuía um percussor
em formato de longa agulha, a qual perfurava a base do cartucho, atravessava toda a carga de pólvora e atingia a espoleta
montada na base do projétil.

 O fuzil Dreyse “needle‑gun”, adotado pela Prússia em 1841 – o primeiro fuzil militar de retrocarga e ação por ferrolho rotativo

Apesar de ter sido utilizado na Guerra Franco‑Prussiana e era, na sua época, um dos primeiros fuzís de retrocarga a serem
utilizados  militarmente,  haviam  problemas  crônicos  em  seu  projeto,  principalmente  no  cartucho,  inimigo  ferrenho  da
umidade, além de problemas de corrosão que atacava a agulha do percussor, pois a combustão da pólvora se dava com essa
agulha no interior do cartucho. Desta forma, substituiu‑se o Dreyse pelo Mauser 1871, adotado pelo governo com o nome de
Gewehr 71. Foi incorporado às fileiras militares do Império Germânico, com exceção da Bavária.   Foi um dos primeiros fuzis
Gewehr 71. Foi incorporado às fileiras militares do Império Germânico, com exceção da Bavária.   Foi um dos primeiros fuzis
de cartucho metálico, de repetição, que fizeram sucesso no mundo, tendo chegado à casa de pouco mais de um milhão de
armas fabricadas. Era um fuzil de ação por ferrolho, um só cartucho disparado de cada vez, no calibre 11mm (11,15X60R),
com carga de pólvora negra.

O  fuzil Mauser modelo 1871

O enorme cartucho 11,15X60R, utilizado nos fuzis Mauser 1871 e 1871/84

Em 1884, a Mauser, em conjunto com o engenheiro Alfred von Kropatschek desenvolveu, sobre o projeto original do M1871,
um  novo  fuzil,  agora  de  repetição,  com  carregador  tubular  sob  o  cano,  no  mesmo  calibre  de  11mm,  com  capacidade  para
oito cartuchos. Foi denominado oficialmente de Gewehr 1871/84 e rapidamente iniciou‑se a substituição do fuzil 1871, por
essa  inovação.  A  possibilidade  que  se  abria  agora,  aos  soldados,  equipados  com  um  fuzil  de  repetição,  com  recurso  de
disparar 8 tiros sem recarregar e de forma muito rápida, entusiasmou sobremaneira os governantes do Império Germânico.

     

Acima, detalhes da ação do Mauser 71/84

Na foto acima, três gerações de fuzís utilizados pela Alemanha, de 1871 a 1888 – o Mauser 1871, o Mauser 1871/84 e o Comission Rifle
(Gewehr 1888)

Entretanto, essa alegria iria durar pouco. Em 1886, os franceses, “eternos rivais” do Império Germânico, passaram a utilizar
Entretanto, essa alegria iria durar pouco. Em 1886, os franceses, “eternos rivais” do Império Germânico, passaram a utilizar
o  primeiro  fuzil  de  repetição  do  mundo  que  empregava  um  cartucho  de  calibre  baixo,  alta  velocidade  e  carregado  com  a
última  novidade:  a  pólvora  sem  fumaça.  Tratava‑se  do  fuzil  Lebel  modelo  1886,  em  calibre  8mm  X  60R.  Sem  conseguir
engolir  em  seco  essa  “revolução  tecnológica”  dos  franceses,  imediatamente  uma  Comissão  Alemã    foi  designada  para
desenvolver  um  novo  cartucho  rival  ao  8mm  Lebel,  bem  como  uma  nova  arma  que  o  utilizaria.  Nasceria  desta  corrida
tecnológica o então denominado fuzil da Comissão Alemã de 1888, ou simplesmente Gewehr M 1888. Ao contrário do que
muitos acreditam, o fuzil 1888 não é um Mauser e sim, um híbrido que utilizava ação similar ao Mauser 71/84 mas com um
carregador tipo Mannlicher para 5 cartuchos. Veja aqui um artigo dedicado exclusivamente à essa arma.

O Comission Rifle 1888, primeiro fuzil a ser adotado pela Alemanha usando cartucho com pólvora sem fumaça 

O Exército Imperial Alemão utilizou o fuzil 1888 mesmo após a adoção do Mauser 1898, dez anos depois. Mesmo durante a I
Guerra o modelo 88 conviveu com os infantes alemães em diversas de suas unidades e em várias localidades, embora com o
passar do tempo começou a ser relegado à segundo plano, destinado à servir em tropas de retaguarda e de segundo escalão.

Acima, um grupo dos “Bavarian Landswehr” posa para uma fotografia, em 1915, portando seus fuzís mod. 1888

Entretanto, durante a atividade da Comissão Alemã em 1888 desenvolvendo o seu próprio fuzil, Paul Mauser desenvolvia
duas variantes de uma mesma arma, com ação totalmente remodelada e que foi oferecida à Espanha, em 1893, apresentando
inclusive um novo cartucho de calibre mais baixo, o 7mm X 57, o famoso 7mm Mauser que o Brasil também adotaria, em
1894. Esse novo fuzil fez enorme sucesso onde foi vendido, em diversos países como México, Chile, Uruguai, China, Pérsia e
África do Sul, além do Brasil e Espanha.

Desgostosos com o desempenho e de vários problemas inerentes ao projeto do modelo 88, em 5 de abril de 1898 o Governo
Alemão  resolve  adotar  o  Mauser  modelo  1898,  uma  evolução  mais  reforçada  do  modelo  1893,  com  condições  de  suportar
cartuchos de pressão mais elevada. Para isso, foram acrescentados reforços no fechamento do ferrolho. Além disso, para não
fugir ao padrão do cartucho já em uso, Mauser fez uma pequena alteração no 8mm já existente, aumentando o diâmetro do
projétil de .318″ para .323″ de polegada e com formato pontiagudo (spiퟸ�er) ao invés do arredondado. Nascia então o famoso
cartucho 7,92mm X 57mm JS, mais rápido e potente que o antecessor.
O Infanteriegewehr M1898, em calibre 7,92X57mm, arma padrão da Alemanha na I Guerra

O  fuzil  Mauser  M1898  rapidamente  começou  a  ser  distribuído  às  tropas,  de  forma  que  na  eclosão  da  I  Grande  Guerra  os
soldados da Alemanha Imperial entraram nos campos de batalha já equipados com essa arma. O Mauser 1898 demonstrou
ser  talvez,  por  sua  robustez,  precisão,  cartucho  bem  acertado  e  confiabilidade,  o  melhor  fuzil  de  infantaria  utilizado  na  I
Guerra. Sem desmerecer seus competidores mais próximos, como o norte‑americano Springfield 1903 e o britânico S.M.L.E
Nº  1  MK  III,  indubitavelmente  o  Mauser  reunia  todas  as  excelentes  características  responsáveis  por  fazer,  deste  fuzil  um
padrão  em  sua  classe,  facilmente  comprovado  pela  sua  dotação  em  dezenas  de  países  pelo  mundo  afora.  O  Lee‑Enfield
inglês  era,  sem  dúvida,  em  excelente  fuzil  mas  utilizava  um  cartucho  beirando  a  obsolescência.  O  Springfield  1903,  como
veremos mais abaixo, convenhamos, era “quase” um Mauser, com seu projeto bastante baseado neste último.

Em 1935, o Tratado de Versalhes, assinado após a rendição da Alemanha e que incluía uma série de limitações aos países
derrotados, muitas delas relativas à produção de armas de fogo, já não estava sendo levado muito à sério pelas comissões
responsáveis por armamento, do já então atuante governo nazista. Algumas limitações contidas no Tratado eram aplicadas
ao comprimento de cano de armas longas e curtas, capacidade de munição, alcance e calibre. Mas não foi só por esse motivo
que,  neste  ano,  a  Wehrmacht  adota,  como  arma  padrão  da  infantaria,  a  carabina  Mauser  baseada  no  fuzil  M1898,
denominada  de  Karabiner  98K,  o  “K”  proveniente  da  palavra  Kurz,    que  significa  curta.  A  bem  da  verdade,  o  Exército  já
estava  indo  na  direção  certa  quando  preferia  utilizar  um  fuzil  mais  curto,  bem  mais  fácil  de  manobrar  em  locais  mais
apertados, além do que provou‑se, durante as batalhas, o quão era desnecessário alguns centímetros a mais no comprimento
do  cano.  Isso  pouco  representava  na  eficiência  em  combate,  onde  a  maior  utilização  da  arma  era  feita  a  relativa  curta
distância.

A Kar98, como era designada, possuía um comprimento total de 1,11 metros, contra 1,25m do fuzil
de onde derivava, e peso total de 3,700 Kg contra os 4,090 do fuzil. Parece pouco mas fazia uma
grande diferença na maneabilidade e facilidade de uso. Tal qual o G’98, a carabina era uma arma
de repetição, sistema de ferrolho rotativo, alimentada por um clipe de 5 cartuchos, encaixado em
uma abertura na parte traseira da armação. Após os cartuchos serem empurrados para dentro do
carregador, com o uso do polegar, a lâmina era descartada e os cartuchos se alojavam um ao lado
do outro, no sistema bifilar (tres de um lado e dois de outro).

 À esquerda, o clipe de cinco cartuchos 7,92mmX57

O cartucho era o mesmo do fuzil, já utilizado na I Guerra, o Patrone 7,92mm X 57 JS, um  potente
cartucho  com  projétil  pontiagudo,  que  atingia  velocidade  de  cerca  de  770  metros/segundo.  O
carregador da carabina Mauser era totalmente embutido na coronha, mas com uma tampa inferior que podia ser removida
para se proceder à limpeza ou inspeção da mola. O sistema também permitia a inclusão de cartuchos um a um, sem uso do
clipe. O ferrolho possuía a alavanca de manejo curvada para baixo, ao invés da alavanca reta do fuzil, o que era, sem dúvida,
muito mais confortável e rápido de manejar, e por isso, a coronha contava com um rebaixo usinado na posição da alavanca.

Versão “sniper” da Mauser 98K, padrão da Alemanha na II Guerra, com mira telescópica Zeiss ZF‑41

A alça de mira, posicionada  logo à frente da culatra, diretamente sobre o cano, era regulável em altura, graduada de 100 até
2.000  metros,  através  de  uma  corrediça  móvel,  mas  não  possuía  ajuste  lateral.  A  massa  de  mira  era  fixa,  e  possuía  um
dispositivo  de  proteção  contra  impactos,  que  fazia  também  o  papel  de  um  tampão  para  proteção  do  cano.  A  coronha  era
feita em madeira laminada (compensado) que, apesar de mais pesada que a normal, possuía mais resistência às intempéries
e empenamento. Alguns exemplares chegaram a utilizar até o olmo e a nogueira, mas não em período de guerra. A soleira
era feita de chapa de aço, de boa espessura, e com muita resistência à impactos. Muitas vezes a carabina servia até como uma
espécie  de  ferramenta,  muitas  vezes  para  arrombar  ou  quebrar  portas  e  janelas,  de  forma  que  essa  soleira  necessitava,
realmente, ser resistente.
Na foto acima, os dois lados da carabina Mauser 98K – detalhe para a “meia telha” sobre o cano, diferente da telha inteira usada nos
nossos fuzis 1908, e o encaixe na coronha para afivelamento da bandoleira.

A bandoleira era montada do lado esquerdo, e não abaixo da arma, como no fuzil. Na parte traseira da coronha havia uma
fenda  destinada  à  fixação  da  bandoleira.  Abaixo  do  cano  havia  um  alojamento  que  comportava  uma  vareta  de  limpeza,  a
qual, quando rosqueada à mais duas, completava o comprimento total do cano. A baioneta era montada em um suporte tipo
trilho, abaixo da boca do cano. Essa baioneta era designada de S84/98 III, com lâmina de 252 mm e comprimento total de 385
mm. Durante a guerra outros tipos de baioneta foram desenvolvidos para essa arma. Esse mesmo suporte para a baioneta
servia para se montar um lança‑granadas. 

           

À esquerda, carregamento de um Mauser 1898 com o clipe de cinco cartuchos – à direita, cartuchos posicionados com o clipe ainda na
posição de encaixe. O ato de se fechar o ferrolho também ocasionava a expulsão do clipe de sua posição. 

Entretanto,  mesmo  utilizando  um  dos  melhores  fuzis  dentre  os  adotados  pelos  países  participantes  do  conflito,  a
desvantagem era muito grande defronte aos infantes do Exército Norte Americano, praticamente 100% equipados com fuzis
semi‑automáticos, os M1 “Garand”. O que compensava de certa forma essa desvantagem era a prática alemã de utilização
maciça de sub‑metralhadoras nos  seus batalhões e de tropas das SS: as MP‑38 e as MP‑40 (veja artigo sobre essas armas aqui
em nosso site). Porém, o alcance efetivo de sub‑metralhadoras ainda é bem inferior ao dos fuzis, mas não deixava de ser uma
compensação.

Em 1940, por solicitação frequente do próprio exército, os fabricantes Mauser e Walther apresentaram suas versões para um
fuzil  semi‑automático.  Os  modelos  avaliados  foram  designados  de  G41(M)  e  G41(W),  respectivamente.  Em  ação,  ambos
apresentaram diversos problemas, principalmente o modelo da Mauser. O “calcanhar de aquiles” de ambos era o sistema de
tomada de gases no cano e o cilindro de ação, para destrancar a culatra. O modelo da Mauser teve vida curta e a Walther,
resolveu dedicar mais tempo no projeto, na tentativa de corrigir o problema.

Acima, o Gewehr 41(W), apresentado pela Walther, alimentado por carregador com capacidade para 10 cartuchos calibre 7,92mm X 57.
Acabou sendo o escolhido para equipar as tropas por ser mais confiável que seu oponente, da Mauser. 
O Mauser G41, dos quais não foram produzidos mais de 7.000 armas , com seu estranho ferrolho posicionado na parte traseira da culatra
– por questões de custo, muitas peças eram comuns às Mauser 98K, como coronha, soleira, alça de mira, fuste, braçadeiras, etc. 

Um Gewerhr 41(W) na versão “sniper”  com mira telescópica

A  comissão  alemã  designada  para  avaliar  esse  projeto,  a  HWaA  (Heereswaffenamt),  havia  determinado  uma  série  de
exigências; a mais controversa delas era que a arma não poderia possuir peças móveis externas. Para isso, em se tratando de
arma semi‑automática, a alavanca de ferrolho deveria ser do tipo “flutuante”, ou seja, movida para se carregar o primeiro
cratucho,  mas  não  poderia  se  movimentar  durante  os  disparos.  Outra  exigência:  a  arma  deveria  ter  uma  alternativa  de
funcionamento manual, caso houvesse algum tipo de engripamento. A Mauser, famosa por sua obcessão quanto à excelência
de seus mecanismos, levou essas exigências da HWaA à sua totalidade, embora essa atitude tenha sido a responsável pelo
fracasso do projeto. O fuzil tornou‑se muito complicado, caro de ser produzido e sujeito à problemas de funcionamento. A
Walther,  por  sua  vez,  que  decidiu  contrariar  as  exigências  da  Comissão,  produziu  um  projeto  melhor  e  mais  simples.  Em
combate, provou que tomou a decisão acertada. Acredita‑se que a produção total dos G41 seja em torno de 120.000 armas.

Combatente alemão na frente russa, leva às costas seu G41.

O  cartucho  utilizado  em  ambas  as  versões  do  G41W  era  o  padrão  7,92mm  X  57  Mauser,  inteligentemente  mantido  por
questões  de  compatibilidade.  Entretanto,  o  desenho  contemplava  um  carregador  fixo,  que  com  a  capacidade  dobrada  em
relação aos Mausers de repetição, eram carregados por cima utilizando‑se dois clipes de 5 cartuchos, os mesmos dos Mauser,
o que ocasionava uma lentidão  considerável nessa operação. Apesar de terem equipado algumas unidades alemãs na frente
russa,  o  G41W  teve  pela  frente  a  difícil  missão  de  enfrentar  um  concorrente  muito  bom,  o  fuzil  semi‑automático  russo
Tokarev modelos SVT‑38 e SVT‑40, bem mais confiáveis e mais baratos de se fabricar. Justamente sobre esses concorrentes é
que a Walther se baseou para desenvolver um novo fuzil, o Gewehr 43, que começou a ser distribuído às tropas entre 1943 e
1944.
O fuzil semi‑automático Gewehr 43W, fabricado pela Walther, uma evolução muito bem vinda e altamente satisfatória do G41.

O  G43,  além  de  resolver  os  problemas  relativos  à  tomada  de  gases,  comuns  no  G41,  apresentava  uma  enorme  vantagem
sobre  seu  antecessor,  principalmente  em  tempo  de  guerra:  a  facilidade  de  ser  produzido  e  seu  mais  baixo  custo.  A  esta
altura,  a  Alemanha  não  podia  se  dar  ao  luxo  de  equipar  sua  infantaria  com  armas  bem  acabadas;  o  importante  era  a
produtividade em ação, independente de sua aparência. Apesar disso, os G43 possuíam acabamento aceitável. Lado a lado
com  o  G41,  o  G43  era  uma  outra  arma:  como  produção  em  massa,  era  muito  mais  fácil  de  ser  fabricado,  com  poucos
processos de usinagem; seu carregador era destacável e podia ser carregado fora da arma, contando com a capacidade de 10
cartuchos.  O  sistema  de  tomada  de  gases  para  destrancamento  do  ferrolho,  foi  muito  melhor  projetado  e  a  arma  oferecia
algumas versões oferecendo encaixe para lunetas. Infelizmente, sua produção em série só começou em Outubro de 1943 e a
sua  distribuição  às  tropas  de  linha  de  frente  sofriam  tremendo  atraso  por  questões  logísticas.  O  sonho  da  Wehrmacht  de
equipar toda a sua tropa com um fuzil semi‑automático, tal qual os Estados Unidos, caiu por terra. Não havia mais tempo
para isso.

Como  grande  esforço  de  guerra,  alguns  outros  fabricantes  além  de  Walther  produziram  esse  fuzil,  inclusive  grande  parte
deles fabricados no campo de concentração de Buchenwald, utilizando mão de obra escrava. Acredita‑se que grande parte
desses fuzis foram sabotados. Vários exemplares, apreendidos pelos soldados norte‑americanos após a libertação do campo,
provaram ser inconfiáveis e imprecisos. Mesmo tendo entrado no cenário bélico da II Guerra quase no final do conflito, o
G43 conseguiu provar que se tratava de um projeto bem elaborado, resistente e confiável, que abriria as portas de uma nova
geração de fuzis de assalto alemães, que ainda conseguiram participar nos anos finais da guerra.

Acima, um G43 experimental, de produção da Fábrica de Itajubá, no ano de 1954

Embora não tenhamos muitos dados a respeito, o que infelizmente é causado pela evasividade ou falta de interesse da Imbel
em  compartilhar  informações  históricas,  em  meados  da  década  de  50,  mais  precisamente  em  1954,  engenheiros  da  então
Fábrica  de  Itajubá  tiveram  a  oportunidade  de  estudar  essa  arma  e  inclusive  produzi‑la  em  caráter  limitado,  talvez  com  a
intenção de que pudessem interessar às Forças Armadas Brasileiras. Hoje, conhecem‑se exemplares desse fuzil em mãos de
colecionadores e negociantes de armas nos Estados Unidos, oferecidos como uma raridade.

NASCE O FUZIL DE ASSALTO

Durante todo o conflito da II Guerra ficou bem claro para todos os países participantes de que algo teria que ser mudado, e
urgente,  na  principal  ferramenta  da  infantaria.  A  Alemanha  percebeu,  bem  como  a  Inglaterra,  e  a  duras  penas,  como  foi
problemático o atraso no desenvolvimento de um fuzil semi‑automático. O único país que contou com essa modernidade foi
os Estados Unidos, que praticamente entrou na Guerra armado de um fuzil semi‑automático em quase toda a sua totalidade
de efetivos. No caso da Alemanha, vimos acima que os G41 e G43 entraram tardiamente na luta, com uma participação pífia
nos campos de batalha.
Entretanto,  desde  o  início  dos  conflitos,  o  eminente  projetista  Hugo  Schmeisser,  em  conjunto  com  a  C.G.  Haenel,  já
nos campos de batalha.
Entretanto,  desde  o  início  dos  conflitos,  o  eminente  projetista  Hugo  Schmeisser,  em  conjunto  com  a  C.G.  Haenel,  já
trabalhavam em uma arma com características inéditas, que sem terem a real noção, iria provocar uma revolução no conceito
de fuzil de infantaria dali para a frente, no mundo inteiro. Em 1940, a fabricante Walther, empresa com muita engenhosidade
e  famosa  pela  qualidade  dos  produtos  se  juntou  ao  esforço  conjunto  de  desenvolver  a  nova  arma.  A  Walther  também  já
possuía, em seus planos, o desenvolvimento de um cartucho menor para uso em armas automáticas.

O  projeto  da  nova  arma  baseava‑se  em  princípios  básicos:  poder  de  fogo,  leveza,  portabilidade,
cartucho  eficiente  mas  não  volumoso,  pouco  recuo  e  consequentemente  maior  controle  de  fogo,
peças de produção rápida e barata e utilização de materiais leves e baratos. Tudo isso junto parecia
algo impossível de se conseguir, numa época em que os pesados fuzis de ferrolho usavam coronhas
de  madeira  e  abusavam  de  dispendiosas  operações  de  usinagem  em  materiais  de  primeira
qualidade.

A intenção era, em resumo, a produção em larga escala de uma arma versátil, barata, que poderia
substituir tanto o fuzil convencional, fosse ele semi‑automático ou de repetição, bem como as sub‑
metralhadoras,  juntando‑se  em  uma  só  arma  as  características  importantes  de  ambas:  precisão,
potência, alcance efetivo, portabilidade e o poder de fogo das sub‑metralhadoras.

Os cartuchos 7,92mmX57 Mauser e o novo 7,92mmX33

O  primeiro  resultado  desse  projeto  foi  a  MKb‑42  (Machinen  Karabiner  42),  um  modelo  fabricado
pela  Haenel  e  um  outro  pela  Walther,  com  as  designações  (H)  e  (W)  respectivamente,  utilizando  um  novo  cartucho
denominado  de  7,92mmX33,  que  era  essencialmente  um  7,92mmX57  Mauser  encurtado.  Tanto  Haenel  como  Walther
produziram um lote dessas armas que foram entregues à algumas unidades do Exército da frente russa, na segunda metade
de  1942.  O  MKb‑42  era  um  fuzil  semi‑automático  com  seletor  para  disparos  totalmente  automáticos,  funcionando  no
princípio de tomada de gases obtida por um orifício bem próximo à boca do cano, que destrancava um ferrolho um pouco
complicado, de cabeça rotativa. A arma funcionava com o sistema de ferrolho fechado.

Em 1943, o Governo Alemão havia determinado, e segundo consta, por ordens do próprio führer, que a fabricação de armas
portáteis  deveria  se  limitar  à  uma  lista  já  pré‑definida,  lista  na  qual  não  constava  uma  nova  “nomenklatur“,  como  a  de
“Machinen Karabiner”. Entretanto, indo contra essa determinação, em virtude de que haviam obtido excelente retorno da
frente de batalha em relação à essa arma, decidiu‑se tocar o projeto em frente, mas com o novo nome de “Machinen‑Pistole”,
denominação  já  empregada  nas  sub‑metralhadoras,  armas  que  constavam  da  tal  lista  de  permissões.  Resolvido
o imbloglio político, a MP‑43, na verdade a mesma MKb‑42 sofreu alguns aperfeiçoamentos, na medida em que os técnicos
avaliavam o seu comportamento nos campos de batalha. Essas modificações geraram  pequenas variações denominadas de
MP‑43/1 e Mp‑43/2.

Acima, a MKb 42 da Haenel, em calibre 7,92mmX33, talvez o primeiro “fuzil de assalto” da história

Em 1944 a designação da arma foi novamente alterada para MP‑44, praticamente sem mudança alguma no projeto. Nesta
época, um episódio controverso chegou aos ouvidos dos altos dirigentes do Partido Nazista: uma tropa alemã, isolada na
frente  russa,  em  vias  de  ser  massacrada  pelo  Exército  Vermelho,  consegue  ser  “bombardeada”  com  uma  carga  de  MP‑44
providencialmente  enviada  à  eles  por  via  aérea,  presente  de  Hermann  Göring  e  da  sua  Luftwaffe.  Com  os  novos  fuzis  em
mãos,  a  tropa  consegue  com  maior  facilidade  abrir  caminho  por  entre  tropas  russas,  atingindo  a  liberdade.  Alguém
convenceu o führer a disparar ordens para a produção em massa dessa nova maravilha. Provavelmente o novo nome dado à
ela,  Sturmgewehr  44  (StG.44),  que  pode  ser  traduzido  toscamente  como  fuzil  de  assalto,  tenha  saído  da  máquina  de
propaganda  nazista.  Literalmente,  a  palavra  alemã  sturm  significa  tempestade.  Estima‑se  em  quase  500.000  armas
produzidas  neste  final  de  conflito,  mas  dificilmente  pode‑se  afirmar  que  a  chegada  dessas  novas  armas  nas  mãos  da
infantaria pode ter colaborado, de alguma forma, a mudar o curso da guerra.
O Sturm Gewehr 44 em calibre 7,92mmX33, cuja fabricação ficou à cargo da Haenel, Walther e da Mauser – tarde demais para mudar o
curso da história

O StG 44 era um fuzil operado a gás, com fogo seletivo e carregadores destacáveis. A armação era fabricada em chapa de aço
estampado, com uso de soldas em algumas junções. O conjunto gatilho e mecanismo de disparo era articulado no resto da
armação, nos moldes do que se usa até hoje (M‑16 e M4, por exemplo), facilitando a desmontagem e limpeza. O sistema de
tiro  era  com  o  ferrolho  fechado,  que  permite  melhor  controle  e  precisão  em  tiro  a  tiro.  Possuía  uma  tampa  de  proteção
articulada sobre a janela de ejeção e a mola recuperadora era alojada dentro da coronha de madeira, outra solução que se
emprega até hoje na maioria dos fuzis modernos.

Uma das versões mais estranhas e absurdas desta arma, ainda mais partindo da conhecida
engenhosidade  alemã,  foi  o  modelo  chamado  “Krummer‑Lauf“,  equipado  com  um  cano
curvado em cerca de 30º, que felizmente não foi produzido em número significante. Era
equipado com uma mira, na verdade um engenhoso conjunto de espelhos, que permitia
ao atirador mirar e atirar em um alvo através de uma esquina, por exemplo, sem se expor.

A  munição  utilizada  neste  modelo  era  o  mesmo  cartucho  do  fuzil  normal,  porém  com
menor  carga  propelente,  que  reduzia  a  velocidade  para  cerca  de  300  metros/seg,
minimizando o tremendo atrito que deveria ocorrer no cano da arma.

À esquerda, um sargento do Exército Americano arrisca utilizar um StG 44 Krummerlauf, através de uma janela.

Em  resumo,  o  StG  44  pode  não  ter  tido  tempo  de  participar  ativamente  de  campanhas  importantes  na  II  Guerra,  mas
indubitavelmente foi a arma que abriu as portas para um conceito de arma de infantaria totalmente novo. Caindo de posse
dos soviéticos, como aconteceu com frequencia nos últimos anos da frente russa, foi parar nas mãos de Mikhail Kalashnikov,
um projetista e mecânico russo, então com cerca de 26 anos. Alguns anos depois, em 1947, e baseando‑se no mecanismo e
soluções do StG 44, Kalashnikov apresenta ao Governo Soviético sua nova arma, que se tornaria o fuzil padrão do Exército
Vermelho  a  partir  dali,  com  a  denominação  de  AK‑47  (Avtomat  Kalashnikov  47),  hoje  o  mais  difundido  e  copiado  fuzil  de
assalto no mundo.

O fuzil russo Avtomat Kalashnikov 1947, o AK‑47, baseado no projeto do StG 44 e utilizando um cartucho muito similar, o 7,62mmX39
– sem a sofisticação da engenharia alemã, mas extremamente confiável e resistente. 
UNIÃO SOVIÉTICA

MOSIN‑NAGANT 1891

Durante  nossos  trabalhos  no  site  Atiradores  &  Colecionadores,  meu  amigo  e  co‑fundador  do  site  José  Renato  M.  Figueira
desenvolveu um excelente trabalho sobre o fuzil que, durante duas guerras mundiais, equipou o Exército Russo, primeiro na
era  Czarista  e  depois  na  União  Soviética.  Essa  arma  é  o  fuzil  Mosin‑Nagant,  desenvolvido  em  1891  pelos  seus  criadores,
Coronel  Sergei  Ivanovich  Mosin  e  o  belga  León  Nagant,  sendo  o  primeiro  o  idealizador  do  sistema  de  trancamento  e  o
segundo, o projetista do carregador.

Nascia assim, e com um certo atraso em comparação às outras nações, o primeiro fuzil de repetição em pequeno calibre e
com carga de pólvora sem fumaça a ser usado naquele país. O cartucho utilizado nessa arma era o 7,62mmx54R,  o também
chamado 3–Lineyaya Vintovka Obr 1891 (3–Линейaйa Винтовкa Обр 1891), tal como é grafado no alfabeto cirílico. Era um
cartucho do tipo “rimmed“, ou seja, com aro na sua base e utilizando um projétil pontiagudo de 7,62mm de diâmetro. Para o
carregamento  dos  cinco  cartuchos  era  utilizado  um  clipe  de  metal,  sistema  muito  comum  em  outros  fuzis  da  época.  A
nomenclatura  “3  linhas”  é  oriunda  do  sistema  de  medidas  utilizado  pela  Rússia  na  época  czarista,  onde  uma  “linha”
equivale a 2,54 mm, ou seja, 1/10 de polegada. Portanto, “3 linhas” equivale a 7,62mm.

Acima, clipe metálico para cinco cartuchos 7,62mm X 54R

Nas cargas militares que eram utilizadas na época, atingia por volta de 850 metros/seg. de velocidade na boca do cano e por
volta  de  3.600  joules  de  energia.  Era  sensivelmente  mais  lento  e  menos  potente  do  que  seus  similares  da  época,  como  os
7,92mm X 57 alemão e o britânico .303 British, cartuchos esses um pouco mais longos do que o russo. Lembrando aqui que
essa geração de cartuchos era a primeira, militarmente utilizada, a ser carregada com pólvora sem fumaça. O cartucho que
teve o privilégio de ser o primeiro deles, foi o francês 8mm Lebel (8mm X 50R).
O cartucho 7,62mmX54 R e suas dimensões

Os dois lados do fuzil Mosin‑Nagant M1891 em sua concepção original

Tratava‑se  de  um  fuzil  de  ação  de  ferrolho  bem  tradicional,  com  abertura  em  90º  e  trancamento  frontal,  muito  similar  a
outros existentes na sua época, como os italianos Carcano e o alemão Gewehr 1888. O magazine para cinco cartuchos é bem
parecido com o desenvolvido por Mannlicher, e possui uma tampa com dobradiça para permitir ser aberto por baixo. Era
municiado via um clipe de metal, encaixado por cima da culatra com o ferrolho aberto; o carregador é do tipo monofilar. Sua
coronha  em  madeira  era  bem  reforçada  e  de  boa  qualidade,  no  estilo  “ingles”,  sem  punho‑pistola.  O  ferrolho  era  de
concepção um pouco complicada demais, desnecessariamente dotado de muitas peças. Na parte posterior possuía um aro
serrilhado, de boa pegada, que possibilitava o engatilhamento da arma sem necessitar abrir o ferrolho, caso já houvesse um
cartucho  na  câmara.  Além  disso,  quando  o  aro  era  rotacionado,  servia  de  trava  de  segurança,  atuando  diretamente  no
percussor da arma.

  

Detalhes interessantes do Mosin‑Nagant – a tampa do carregador articulada e o ferrolho aberto (Foto J.M. Figueira.)

O  maior  fabricante  dessa  arma  foi  o  Arsenal  de  Tula,  situado  nas  proximidades  de  Moscou,  seguidos  dos  arsenais  de
Sestroryetsky e de Izhevsk. Entretanto, a demanda do governo russo era muito alta, algo em torno de dois milhões de fuzis,
e  a  soma  de  esforços  desses  arsenais  não  conseguiria  supri‑la.  Por  este  motivo,  e  graças  às  boas  relações  que  o  governo
imperial russo tinha com a Europa Ocidental, fechou‑se contratos com a fabricante francesa Chatellerault, para fornecimento
de cerca de 500.000 armas e com as empresas S.I.G. (Suíça) e a fabricante austríaca Waffenfabrik Steyr.
Acima, detalhe da ação do Mosin‑Nagant – o ressalto junto à alavanca do ferrolho servia como elemento de trancamento, bem como de
guia‑corrediça quando o mesmo era aberto

Logo após o término da guerra contra o Japão, em 1905, e que foi vencida por este último país que havia sido recentemente
modernizado, o estoque dos fuzis na Rússia estavam novamente baixos e o Governo Imperial pediu ajuda aos americanos; a
Remington Arms e a Westinghouse produziram cerca de 1.500.000 armas. Entretanto, com a eclosão da Revolução Russa em
1917 e o assassinato de toda a família imperial, o embargo imposto pelos países aliados ao novo governo soviético impediu o
fornecimento  posterior  dessas  armas.  Cerca  de  300.000  peças  sobraram  no  estoque  dos  fabricantes  americanos,  que
conseguiram vendê‑los para o governo de seu país para serem utilizados em treinamento de soldados. Muitos desses fuzis,
adquiridos pela National Rifle Association foram convertidos para o cartucho americano .30‑06 Springfield.

Historicamente, é interessante o fato que durante todos os anos após
a  Revolução  de  1917  até  a  década  de  30,  o  governo  comunista  da
União  Soviética  sequer  tenha  pensado  em  substituir  esse  fuzil  por
outro,  mais  moderno,  com  tantas  opções  que  poderia  ser  copiadas,
prática aliás que era empregada pelos soviéticos em diversos outros
produtos, desde eletro‑domésticos até veículos.

O  autor  na  década  de  70,  em  visita  à  uma  coleção  particular,  com  um
exemplar de Mosin‑Nagant 91/30.

Além  do  que,  o  Mosin‑Nagant  era  uma  espécie  de  “herança”


maldita, oriunda dos tempos czaristas, tão odiados e menosprezados
pelos  revolucionários.  Alguns  projetos  de  fuzis  semi‑automáticos
foram  levados  à  cabo  a  partir  da  década  de  30,  mas  nunca  levados
muito à sério até às vésperas da II Guerra.

Alguns anos antes, em 1930, modificações foram feitas no projeto original gerando melhorias significativas: foi denominado
de M1891/30. Apesar de que, após a invasão, a produção dos fuzis tenha sido afetada pelo mal acabamento geral, isso não
influenciou no desempenho da arma em combate.

Um ano depois, foi idealizado um fuzil “sniper” baseado no Mosin‑Nagant 91/30 denominado de 1891/31, equipados com
lunetas  telescópicas  fixas  de  3,5X  de  aumento.  Esses  rifles  foram  extensivamente  usados  na  sangrenta  e  bestial  batalha  de
Stalingrado, onde surgiram dois excelentes atiradores de tocaia, que se transformaram em heróis nacionais: Vasili Zaitsev e
Ivan  Sidorenko.  Ironicamente.  um  fuzil  russo  Mosin‑Nagant,  nas  mãos  de  um  finlandes,  Simo  Häyhä,  matou  mais  de  500
soldados soviéticos. O mais impressionante nisso é que Simo não utilizava mira telescópica.

O Mosin‑Nagant na versão “sniper” modelo 91/31 – note a alavanca do ferrolho curvada, para evitar interferência com a luneta, ao se
manusear o ferrolho
Em 1938 foi introduzida uma versão mais curta, uma carabina, nos moldes do que alguns outros países já estavam buscando,
manusear o ferrolho
Em 1938 foi introduzida uma versão mais curta, uma carabina, nos moldes do que alguns outros países já estavam buscando,
ou seja, maior portabilidade e melhor maneabilidade em locais reduzidos. Essa carabina já havia tido uma antecessora, em
1910,  usada  por  batalhões  de  cavalaria  e  oficiais  de  engenharia,  mas  não  chegou  a  ser  produzida  em  grande  número.  A
carabina  M38  foi  baseada  no  fuzil  1891/30,  do  qual  herdava  toda  a  ação  e  o  carregador,  modificando‑se  somente  o
comprimento do cano. De 1939 a 1945 a produção ficou a cargo do arsenal de Izhevsky e a partir de 1940, também produzida
em Tula. O comprimento total da M38 era de 1,00 m, contra os 1,21m do fuzil M91/30. A carabina não aceitava a montagem
de baioneta e posteriormente à ela, os soviéticos introduziram outra carabina, com pequenas modificações, o modelo 44, a
qual  possuía  uma  interessante  baioneta  articulada,  mas  fixa  à  arma  lateralmente.  No  fuste  do  modelo  44  usinaram  um
encaixe para que a lâmina ali ficasse parcialmente recolhida.

A carabina Mosin‑Nagant M38, versão mais curta do fuzil M91/30

Quando  a  União  Soviética  foi  invadida  pela  Alemanha  em  22  de  junho  de  1941,  no  que  concerne  à  arma  longa  de  uso
individual do infante, a União Soviética se viu armada exclusivamente com esses fuzis e os ainda pouco disponíveis fuzis
Tokarev,  como  veremos  adiante.  Ao  final  da  II  Guerra,  cerca  de  17  milhões  de  fuzis  do  modelo  91/30  haviam  sido
produzidos nos arsenais russos, distribuídos entre as suas variações existentes.

A seguir, uma tabela com as variações produzidas sobre o modelo original de 1891 do fuzil Mosin‑Nagant. 

Fuzil Fuzil Fuzil Fuzil “Sniper” Carabina Carabina


Versão Carabina 1944
M1891 Dragoon M1891 M1891/30 M1891/30 1910 M1938
Comprimento 1304,8mm 1238,2mm 1231,9mm 1231,9mm 1016,0mm 1016,0mm 1016,0mm
4,030 Kg(com
Peso 4,360 Kg 3,970 Kg 3,950 Kg 5,130 Kg 3,300 Kg 3,460 Kg
baioneta fixa)
Vista explodida de um fuzil Mosin‑Nagant 1891/30

Acima, uma coleção de quase todas as variações disponíveis do Mosin‑Nagant 

O Tokarev SVT 38 e SVT 40

Fuzil semi‑automático Tokarev SVT‑38 calibre 7,62mm X 54

A exemplo de quase todos os países beligerantes na II Guerra, a União Soviética também não contava com um fuzil semi‑
automático para equipar a totalidade, ou pelo menos, a grande maioria de suas tropas. Um projeto desenvolvido em 1938,
antes da eclosão da guerra, pelo engenheiro Fiodor Tokarev, havia participado de uma espécie de competição organizada
pelo  governo,  com  a  aprovação  de  Josef  Stalin,  a  fim  de  se  escolher  um  projeto  de  fuzil  de  infantaria  semi‑automático.  O
vencedor  desta  contenda  foi  um  fuzil  projetado  por  Sergei  Simonov,  que  foi  aceito  pelo  governo  com  a  denominação  de
vencedor  desta  contenda  foi  um  fuzil  projetado  por  Sergei  Simonov,  que  foi  aceito  pelo  governo  com  a  denominação  de
AVS‑36. Infelizmente para Simonov, não tardou para que diversos problemas surgissem em sua arma, levando o governo,
novamente,  a  ressucitar  o  tal  “campeonato”.  Tokarev  apresentou  sua  arma  novamente,  e  uma  vez  aprovada,  passou  a  ser
adotada pelo Exército Vermelho como SVT‑38 (“Samozaryadnaya Vintovka Tokareva – 38″).

Detalhe superior do STV‑40 com o ferrolho aberto, onde se pode ver os cartuchos posicionados escalonadamente, numa conformação
bifilar. 

O fuzil de Tokarev tinha seu funcionamento baseado na tomada de gases no interior do cano, solução empregada pelo fuzil
norte‑americano  Garand  e  ainda  hoje,  presente  em  quase  todos  os  fuzis  de  sucesso  utilizados  no  mundo.  Anteriormente
Tokarev já havia tentado aperfeiçoar um fuzil baseado no sistema de recuo simples, mas sem muito sucesso. A produção do
SVT‑38  iniciou‑se,  ainda  timidamente,  nos  arsenais  de  Tula,  em  1939.  Uma  da  diferenças  fundamentais  do  sistema  de
Tokarev em comparação com o fuzil de John Garand era a posição do pistão coletor de gases, em cima do cano e não abaixo,
como  era  no  fuzil  americano.  A  coleta  de  gases  era  feita  por  um  orifício;  os  gases  acionavam  um  pequeno  pistão  que  era
movido  para  trás,  em  um  curso  de  pouco  mais  de  20  milímetros.  Esse  movimento  do  pistão  pressionava  uma  vareta  que
destrancava  a  culatra  e  permitia  sua  abertura.  Seu  cartucho  era  o  7,62mmX54  e  a  capacidade  de  seu  carregador,  que  era
destacável, era de 10 cartuchos.

Soldados soviéticos na linha de frente, durante a II Guerra – ao fundo vemos os Mosin‑Nagant em ação e em primeiro plano, ao lado da
metralhadora Maxim M1910, um fuzil SVT‑40.

O sistema interno de disparo era bem simples e funcional, e a desmontagem era facilitada para poder ser executada sem uso
de  ferramentas;  em  campo,  sua  manutenção  e  limpeza  eram  feitas  sem  muitos  problemas  pelos  próprios  soldados.  Na  II
Guerra, o SVT‑38 estreou contra os alemães na chamada Operação Barbarrossa, em junho de 1941. Infelizmente a arma não
se comportou de forma adequada e muitos soldados até a abandonavam pelo caminho, assim que conseguissem botar a mão
em um velho Mosin‑Nagant, perdido pelas redondezas. Oficiais e técnicos atribuíam as falhas a problemas de treinamento e

manutenção inadequadas. Cerca de 150.000 fuzis foram produzidos. No final de 1941 entrou em produção um modelo mais
manutenção inadequadas. Cerca de 150.000 fuzis foram produzidos. No final de 1941 entrou em produção um modelo mais
bem  elaborado,  com  a  promessa  de  corrigir  falhas  de  seu  antecessor;  era  o  modelo  SVT‑40.  Além  do  arsenal  de  Tula,  as
fábricas  situadas  em  Ishevsk  e  Kovrov  se  lançaram  à  produção  da  arma,  cujas  mudanças  efetuadas  no  projeto  original
prometiam  facilitar  o  processo  de  fabricação.  Em  1943  o  Arsenal  de  Tula  também  produziu  uma  versão  com  tiro  seletivo,
totalmente  automática,  denominada  de  AVT‑40,  mas  foi  fabricado  em  pequena  quantidade  e  muito  poucos  chegaram  em
mãos da tropa.

Fuzil semi‑automático Tokarev SVT‑40, sucessor do SVT‑38, no mesmo calibre 7,62mm X 54

Com  os  revezes  iniciais  da  guerra  contra  a  Alemanha,  milhares  desses  fuzis  foram  perdidos  nos  campos  de  batalha;
ironicamente, os alemães que não dispunham de fuzis semi‑automáticos em quantidade, capturavam os SVT dos inimigos
mortos e passavam a utilizá‑lo contra os próprios russos. A produção dos SVT continuou durante a guerra, mas os arsenais
ainda reclamavam de problemas técnicos de produção. Em 1942, o arsenal de Ishevsk resolver parar de produzir os SVT e
voltou a fabricar os Mosin‑Nagant. Apesar disso, acredita‑se que mais de 1.500.000 fuzis tenham sido fabricados de 1939 até
o final da guerra. De qualquer forma, apesar de não ter sido um sucesso, o projeto do SVT tinha seus méritos, de forma que
serviu de inspiração para diversos fuzis semi‑automáticos no após guerra, como ocorreu com o belga F.N. modelo 1949.

ITÁLIA

PARAVICCINI‑CARCANO M1891

Este fuzil, muitas vezes denominado equivocadamente de Mannlicher‑Carcano, foi adotado pelas forças armadas italianas
em 1891, desenvolvido pelo projetista Salvatore Carcano, do Arsenal de Turim, em 1890. O General Paraviccini, do Arsenal
de Terni, era o chefe da equipe de projetistas e líder do projeto, daí seu nome constar da nomenclatura da arma. O fuzil foi
baseado, em parte, no sistema de Mannlicher, quanto ao seu carregador, mas lembra também em vários aspectos o fuzil da
Comissão  Alemã  de  1888,  o  Gewehr  88.  Seu  cartucho  era  o  6,5mmX52,  um  estojo  sem  aro  protuberante  (rimmless),  o  que
denota  uma  tendência  avançada  para  a  época.  Este  cartucho  utilizava  um  projétil  de  ponta  arredondada  de  160  grains  de
peso e podia atingir cerca de 2.400 pés/seg,. de velocidade.

Fuzil Paraviccini‑Carcano Modelo 1891 em calibre 6,5mmX52, com sua baioneta, arma padrão do Exército Italiano nas duas Grandes
Guerras.

O M91 era um fuzil de ação por ferrolho rotativo, estilo já utilizado e consagrado por diversas armas de sua época, como os
Mauser  71/84,  o  German  Comission  de  1888,  os  russos  Mosin‑Nagant  e  os  Lebel  franceses.  O  ferrolho  era  bem  resistente,
com dois ressaltos na sua base e com a alavanca de manejo servindo como terceira trava. A exemplo dos G88 alemães e dos
Mosin,  utilizava  um  clipe      metálico  de  6  cartuchos  para  a  inserção  dos  mesmos  em  um  carregador  baseado  no  sistema
Mannlicher;  esse  clipe  podia  ser  inserido  na  arma  por  qualquer  uma  de  suas  extremidades  e  permanecia  no  interior  do
carregador até a utilização do último cartucho, quando então era ejetado através de uma abertura existente na base.

Durante  a  I  Guerra  Mundial  o  M1891,  em  todas  as  suas  versões,  foi  a  arma  longa  padrão  do  Exército  Italiano.  Antes  da
eclosão  da  II  Guerra,  a  Itália  chegou  a  fornecer  para  o  Exército  Imperial  do  Japão  os  fuzis  M1891  até  que,  por  ocasião  da
invasão da China, toda a produção dos fuzis Arisaka foram requisitadas pelo Exército. Até 1937, o governo japonês manteve
um contrato com a Itália de fornecimento dos fuzis M91 para a Marinha Japonesa.

Durante a Campanha do Norte da África em 1924 e na Guerra da Abissínia em 1934, o fuzil foi
Durante a Campanha do Norte da África em 1924 e na Guerra da Abissínia em 1934, o fuzil foi
duramente  criticado  e  a  maior  parcela  de  culpa  recaía  exatamente  sobre  o  seu  cartucho,  que
provou  ser  ineficaz  e  pouco  potente.  Apesar  disso,  o  fuzil  foi  largamente  empregado  pelo
Exército  Italiano  em  algumas  versões  mais  curtas  ,  como  a  Carabina  denominada  de  TS
(“Truppe  Speciali”),  utilizadas  pela  unidades  de  artilharia  e  de  cavalaria.  As  versões  fuzil,
mosquetão  e  carabina  serviram  as  unidades  do  Exército  Italiano  até  cerca  de  1938,  quando
surgiu a decisão de se empregar um novo cartucho, mais moderno e potente: o 7,35mmX51. A
partir daí os fuzis e carabinas Carcano passaram a ter nova denominação, a de M1891/38.

À esquerda o clipe de 6 cartuchos calibre 6,5mmX52, do tipo Mannlicher

A II Guerra Mundial também apanhou os italianos de surpresa sendo que, em 1940, não havia
cartuchos  7,35mm  em  quantidade    suficiente  para  abastecer  todas  as  tropas.
Consequentemente, os cartuchos 6,5mm foram chamados de volta à ativa, sendo que diversos fuzis 7,35mm do modelo 38
tiveram  seus  canos  substituídos  pelos  de  calibre  6,5mm.  Além  disso,  alguns  M38  tiveram  seus  canos  substituídos  para  o
cartucho alemão 7,92mmX57, principalmente os que supriram as tropas da África do Norte. Entretanto, o Governo Italiano
não tinha condições de massificar a produção dessas armas M91/38 em larga escala, e nem transformar os antigos modelos
1891  para  utilizarem  os  novos  cartuchos.  Foi  neste  ambiente  caótico  que  o  8º  Exército  Italiano,  sob  comando  de  Ítalo
Gariboldi,  enfrentou  os  primeiros  combates  na  trágica  frente  russa,  solidário  ao  Exército  Alemão,  conforme  ordens  de
Mussolini.

  Com  o  término  da  II  Guerra,  o  Exército  Italiano  passou  a  adotar  o  US  Rifle  M1  (Garand)  como  arma
regulamentar,  fornecidos  inicialmente  pelos  Estados  Unidos  e  posteriormente  ,  a  partir  de  1950,
produzidos  sob  licença  na  Itália  pela  Bere埘�a,  com  a  utilização  de  ferramental  enviado  pelo  Governo
Americano, material esse utilizado pela Winchester durante o esforço de guerra. Esses fuzis ganharam a
designação de Modelo 1952 e posteriormente tornaram‑se mais conhecidos por BM59.

Ironicamente,  e  que  depois  se  tornaria  uma  tragédia  americana,  uma  grande  parte  dos  fuzis  Carcano
sobreviventes  do  conflito  foram  enviados  em  massa  aos  Estados  Unidos,  e  lá  vendidos  como  sobras  de
guerra a preços irrisórios. Nas décadas de 50 a 60 os modelos Carcano 1891 e 1891/38 eram vendidos em
diversas lojas de armas, especializadas em sobras de guerra, por cerca de 10 dólares.

À esquerda os cartuchos 6,5mmX52 e o seu substituto 7,35mmX51

De maneira geral, os fuzis italianos não eram armas muito apreciadas pelos norte‑americanos, tal como os
Arisaka japoneses. Dentre os demais representantes de armas oriundas da II Guerra estavam os Mausers
alemães,  esses  sim,  bem  mais  valorizados  e  procurados.  Mas,  mesmo  sem  contarem  com  o  prestígio  de
qualidade e de precisão encontrados nas armas alemãs, e por razões que até hoje ainda permanecem sem
resposta, uma carabina Paraviccini‑Carcano M91/38 utilizada nos campos da Europa veio cair nas mãos de um ex‑fuzileiro
naval norte‑americano, Lee Harvey Oswald, que a adquiriu através de um anúncio da loja Klein Sporting Goods de Chicago,
Illinois, que havia sido publicado na revista American Rifleman, uma tradicional publicação da National Rifle Association.
  Recebeu  a  encomenda  pelo  Correio  em  12  de  março  de  1963,  pagando  a  importância  de  US$  19,95.  Junto  com  a  arma,
encomendou  uma  simples  luneta  fixa  de  4X  de  aumento.  Além  disso,  Oswald  ainda  adquiriu  um  punhado  de  munições
calibre 6,5mmX52 de fabricação americana, da Western Cartridge Co.

As razões do porque Lee Oswald tenha optado pelo uso tanto de um fuzil como de munição consideradas obsoletas, mesmo
durante  seu  uso  na  II  Guerra,  devem  ter  ido  com  ele  para  o  túmulo.  Qualquer  ex‑fuzileiro  naval  americano,  com  o
treinamento  que  recebeu  durante  seu  serviço,  e  em  sã  consciência,  teria  escolhido  “a  dedo”  algo  muito  mais  eficiente  e
garantido, ainda mais num país como os Estados Unidos, onde a oferta de armas bem superiores à que usou era, e ainda é,
algo corriqueiro.
Acima, dois exemplares da carabina Carcano TS M91, uma delas com sua baioneta.

M91 rifle M91 carbine M38 short rifle


Caliber 6.5×52 mm 6.5×52 mm 7.35×52 mm
Overall length 1295 mm 952 mm 1015 mm
Barrel length 780 mm 450 mm 540 mm
Weight, empty 3.8 kg 3.4 kg with integral bayonet 3.4 kg
Magazine capacity 6 rounds in en bloc clip

FRANÇA

LEBEL 1886

Em  1884,  e  contando  com  apenas  30  anos,  o  químico  francês  Paul  Marie  Eugène  Vieille  apresenta  um  novo  tipo  de
propelente baseado em nitrocelulose, invenção essa que revolucionaria o mundo bélico dali para a frente. A nova “pólvora
sem fumaça” substituiria, doravante, a pólvora negra, utilizada desde então em todos os cartuchos existentes, militares ou
não. Prometia quase tres vezes mais energia com a mesma quantidade, maior velocidade, ausência quase total de fumaça e
drástica diminuição da corrosão interna de canos e mecanismos. Não só cartuchos de armas portáteis se beneficiariam dela,
como também os cartuchos de artilharia. Aproveitando dessa descoberta, o Exército Francês passa a adotar, em 1886, uma
nova arma: o primeiro fuzil no mundo, adotado oficialmente, a utilizar um cartucho carregado com pólvora sem fumaça.

Esse fuzil era o Lebel, modelo 1886, e o cartucho era o 8mm Lebel (8mmX50R), um cartucho com aro (“rimmed”)
e  com  uma  conicidade  muito  pronunciada,  utilizando  um  projétil  de  ponta  arredondada  de  8mm  de  diâmetro,
encamizado.  O  novo  cartucho  nasceu  na  prancheta  do  Tenente‑Coronel  Nicolas  Lebel  e  que  acabou  tendo  seu
nome  perpetuado  na  arma  que  o  utilizava.  Posteriormente  esse  cartucho  foi  modificado,  por  volta  de  1898,
utilizando um projétil bi‑ogival denominado de “balle‑D”, em homenagem ao seu projetista, o capitão Desaleux.

À esquerda o cartucho 8mmX50R Lebel “balle‑D”

O  fuzil  possui  um  ferrolho  similar  ao  que  se  utilizava  no  seu  antecessor  Gras,  de  1874,  e  contava  com  um
carregador  tubular  para  oito  cartuchos,  posicionado  sob  o  cano,  nos  moldes  do  fuzil  alemão  Mauser  71/84.  Na
medida em que o ferrolho era manejado para trás e uma cápsula vazia era extraída, um novo cartucho era elevado
do tubo inferior para dentro da câmara, e assim sucessivamente.

Em  alguns  aspectos  isso  lembra  o  mesmo  sistema  utilizado  pelo  projetista  norte‑americano  John  Browning,  no
rifle Winchester (sistema de alavanca) modelo 1884. Este sistema de carregador, apesar de ter gozado de tremendo sucesso
nas  carabinas  e  rifles  Winchester,  tinha  seus  inconvenientes.  Os  cartuchos  dispostos  em  fila  no  tubo  do  carregador
mantinham  as  pontas  dos  projéteis  pressionando  as  espoletas  dos  cartuchos  anteriores;  o  tubo,  estando  totalmente
carregado, aumentava ainda mais a pressão da mola espiral e assim, corria‑se o risco de uma explosão dentro do carregador.
Após  a  introdução  da  “balle‑D”,  pontiaguda,  desenvolveu‑se  uma  espoleta  mais  resistente  e  espessa,  por  medidas  de
segurança.

As Winchester não sofriam muito deste problema pois utilizavam cartuchos com projéteis de chumbo e de ponta chata, pelo
menos até o lançamento do modelo 1894 em calibre 30‑30W. Porém, se isso realmente acontecia, acredita‑se que deviam ser
eventos esporádicos.

Acima o fuzil francês Lebel Model 1886 em calibre 8mmX50R
Acima o fuzil francês Lebel Model 1886 em calibre 8mmX50R

Outro problema do carregador era a utilização de uma longa mola espiral dentro do tubo, destinada a pressionar os
cartuchos para trás na medida em que eram utilizados. Com o uso, essa longa mola apresentava fadiga e os últimos
cartuchos costumavam enroscar na hora de serem alimentados. A entrada de poeira ou mesmo de água suja de lama,
detalhe mais que comum nas trincheiras da I Guerra, causavam o engripamento dos cartuchos no interior do tubo, que era
uma peça um pouco complicada de limpar.

O fuzil pesava cerca de 4,400 KG totalmente municiado, com comprimento total de 1,42 m. A partir de 1887 a produção
desse fuzil se iniciou a cargo da Manufacture D’Armes Chatellerault e a partir de 1900, contando com os  fabricantes M.A.S.
(Manufacture D’Armes St. Etiènne) e a M.A.T. (Manufacture D’Armes de Tulle).

Detalhe da caixa de culatra e ferrolho aberto do Lebel 1886, onde se pode ver o carregador sob o cano

Oficialmente o Lebel 1886 permaneceu na ativa até 1936, e durante a I Guerra sofreu algumas modificações, que tentavam
corrigir  ou  melhorar  diversos  problemas  técnicos  que  a  arma  apresentava  ao  longo  de  sua  utilização.  Versões  foram
apresentadas  para  uso  de  unidades  de  cavalaria,  em  formato  mais  curto,  como  a  carabina  Model  1886R35,  que  diminuiu
consideravelmente o comprimento total da arma para cerca de 1,30 cm. Mesmo após 1936 o fuzil chegou a ser bastante visto
e utilizado, até mesmo na II Guerra, principalmente por tropas de retaguarda e pela Resistência Francesa.

BERTHIER

Durante a I Guerra os fuzís Lebel eram suplementados no serviço de algumas tropas pelo fuzil Berthier, que foi introduzido
em uso no Exército Francês em 1902. Da mesma forma que o Lebel, utilizava o mesmo cartucho 8mmX50R e uma ação de
ferrolho  praticamente  idêntica,  porém,  apresentando  um  carregador  vertical  embaixo  do  ferrolho,  com  capacidade  para  3
cartuchos, municiado por um clipe especial que se mantinha no interior da arma até ser descarregado. Para as tropas, essa
diferença  de  capacidade  de  8  (Lebel)  para  3  cartuchos  entre  uma  arma  e  outra,  era  drástica,  lembrando  que  os  exércitos
inimigos contavam com os Mauser  G.98 municiados com 5 cartuchos. Futuramente uma revisão no desenho aumentou a
capacidade de 3 para 5 cartuchos, sendo que o carregador, agora, podia ser visto parcialmente pela parte inferior da arma.

Acima o fuzil Berthier modelo 1902, capacidade de 3 cartuchos calibre 8mmX50R – nota‑se  a abertura retangular sob o fuzil, por onde
Acima o fuzil Berthier modelo 1902, capacidade de 3 cartuchos calibre 8mmX50R – nota‑se  a abertura retangular sob o fuzil, por onde
caía o clipe municiador após o último cartucho ser carregado.

Os  fuzís  Berthier  modelo  1902  e  1907  eram  derivados  dos  chamados  “Mousquetons”  modelo  1890  e  1892,  com  poucas
modificações porém, menos pesados. Tropas francesas os utilizaram em larga escala no Senegal e na Indochina. Sobre o seu
rival Lebel, o Berthier apresentava uma maneabilidade um pouco superior, principalmente no que se referia às miras, mais
largas e altas, propiciando uma melhor visada. O modelo 1907/15, mais comumente denominado de modelo 1916, foi o que
apresentou  o  carregador  com  capacidade  aumentada  para  5  cartuchos,  muito  similar  ao  carregador  tipo  Mannlicher,
utilizado que era em vários outros fuzis militares de sua época, como o russo Mosin‑Nagant e o italiano Carcano.

         

Acima e à esquerda, detalhe do fuzil Berthier 1904/15 com seu carregador ampliado de 3 para 5 cartuchos – à direita, o clipe de 3
cartuchos do Berthier 1902

Após  a  I  Guerra  Mundial,  técnicos  militares  franceses  decidiram,  e  já  com  um  certo  atraso,  pela  substituição  do  cartucho
8mm X 50R por um mais moderno, visto que o mesmo, por seu desenho demasiadamente cônico e com um aro em sua base,
não era muito apropriado para ser utilizado nos novos projetos de armas longas militares que estavam em pauta, tanto para
fuzis  semi‑automáticos  como  para  metralhadoras.  Em  1929,  técnicos  militares  introduziram  um  cartucho  bem  mais
moderno,    o  7,5mm  Model  1929  (7,5mm  X  54),  que  começou  a  ser  utilizado  nas  metralhadoras  FM  24/29  bem  como  em
alguns remanescentes de fuzis Berthier que foram convertidos para uso deste novo cartucho.

Detalhe da ação do fuzil Berthier 1916 que, como se pode perceber, é muito similar à do fuzil Lebel 1886 – note como a alavanca de manejo
também age como elemento de trancamento do ferrolho.

MAS 36
MAS 36

Em 1936, a Manufacture D’Armes de Saint Etiènne inciou a produção de um novo fuzil utilizando um novo cartucho pouco
mais curto do que já havia sido desenvolvido em 1924 (7,5mm X 57), para a metralhadora leve FM 24/29: o cartucho era o
7,5mm X 54. Comparado ao 8mm Lebel esse novo cartucho era “futurístico”. A intenção da M.A.S. era permitir ao Exército a
substituição gradativa e total dos fuzis Lebel e Berthier pelo Modèle 36.  Baseado nos modernos cartuchos rivais da época,
como o 7,92mmX57 alemão e o 7,5mm suíço, o novo cartucho não possuía aro (“rimless”) e era de perfil pouco cônico, o que
lhe permitia a utilização em armas automáticas com muito mais facilidade.

Acima o fuzil francês MAS modelo 36, em calibre 7,5mm X 54

Baseado  em  comparações  inevitáveis  com  fuzis  utilizados  por  diversos  outros  países  na  II  Guerra,  a  M.A.S.  chegou  a
absorver algumas das boas características de cada um para estabelecer o que seria um “fuzil ideal” para suprir o Exército
Francês: o sistema de ferrolho com trancamento traseiro eras similar ao inglês Lee‑Enfield (o que eliminava problemas de
acúmulo  de  sujeira  próximo  à  câmara);  a  alça  de  mira  tipo  “peep‑sight”  e  a  alavanca  de  manejo  curvada  para  a  frente,
alinhada  com  a  tecla  do  gatilho,  similar  ao  U.S.  Enfield  1917  e  o  magazine  embutido  (integral),  para  cinco  cartuchos,
alimentado  por  um  clipe  externo,  similar  ao  Mauser  98  alemão.  Tudo  isso  culminou  com  um  fuzil  muito  estranho,
deselegante  até,  mas  bem  resistente  e  confiável.  O  que  ainda  causa  estranheza  foi  a  teimosia  dos  projetistas  que  ainda
insistiram, naquela época, em produzir um fuzil dotado de coronha seccionada e com baixa capacidade de munição.

Detalhe da caixa de culatra e do ferrolho do MAS 36

O  MAS  36  não  possuía  nenhum  dispositivo  de  segurança,  por  um  lado  um  problema  sério  para  ser  transportado  por
soldados com um cartucho na câmara; por outro lado, eliminava o problema de  se esquecer de destravar a arma na hora
“H”, o que costumava acontecer mais do que se imagina.

Durante a II Guerra, problemas financeiros impediam a produção do fuzil M36 em larga escala, de forma que o Exército não
conseguiu se livrar totalmente dos seus arcaicos fuzis, a não ser em determinadas unidades e tropas da linha de frente, para
onde os novos MAS eram preferencialmente enviados.

O cartucho 7,5mm X 54 do fuzil MAS 36.

Curiosamente, vários fuzis M36 caíram em mãos de tropas alemãs, que aliás tinham essa característica de
Curiosamente, vários fuzis M36 caíram em mãos de tropas alemãs, que aliás tinham essa característica de
“adotar” o armamento e a munição disponível nos países ocupados, por problemas puramente logísticos.
Inteligentemente, sabiam que era mais produtivo continuar utilizando o armamento e munição nativos,
evitando  drenar  a  produção  alemã  preferencialmente  enviada  para  a  linha  de  frente,  bem  como  o
transporte  do  material.  Esse  estranho  procedimento  ocorreu,  inclusive,  na  Polônia,  na  anexação  da
Áustria e na ocupação da Tcheco‑Eslováquia e Bélgica. Essas armas recebiam as nomenclaturas padrão
utilizadas  na  Alemanha,  de  modo  que  o  fuzil  MAS  36  era  denominado  de  Gewehr  242(f).  A  letra  entre
parênteses significava o país “fornecedor” do equipamento, no caso “Frankreich” (França).

Após  a  II  Guerra  o  MAS  36  enfrentou  combates  nos  conflitos  insurgentes  da  Indochina  e  Algéria,  bem  como  na  Crise  do
Canal de Suez. O MAS 36 serviu o Governo Francês até por volta de 1960, inclusive suprindo as forças militares em países
colonizados.  Quando  do  surgimento  do  fuzil  semi‑automático  MAS  49,  finalmente  ele  abandonou  as  fileiras,  levando
consigo o fato de ter sido o último projeto de um fuzil de repetição desenvolvido para uso militar.

Fuzil MAS 36, produção em época de guerra, exibindo um péssimo acabamento – as peças em aço eram pintadas de preto, ao invés de
oxidadas quimicamente.

Vista explodida do fuzil MAS 36, mostrando a caixa de culatra e carregador em uma só peça, e coronha seccionada em duas partes 

REINO UNIDO

Em 1888 o Império Britânico resolve aposentar os veneráveis fuzis Martini‑Henry, de um só tiro e de grande calibre, por um
Em 1888 o Império Britânico resolve aposentar os veneráveis fuzis Martini‑Henry, de um só tiro e de grande calibre, por um
fuzil de repetição por ação de ferrolho, a exemplo do que ocorria em praticamente todos os exércitos do mundo. Para tanto,
contou  com  um  projeto  desenvolvido  pelo  projetista  James  Paris  Lee,  um  escocês  criado  no  Canadá  e  que  se  tornou,
posteriormente, cidadão americano.

Lee idealizou um fuzil de repetição utilizando um ferrolho com trancamento na parte posterior e não na parte frontal, como
nos Mausers. Este tipo de ação traz vantagens e desvantagens e a seu favor conta com maior facilidade de limpeza e menos
resíduos infiltrados nos rebaixos existentes na proximidade da câmara, tal qual nos Mauser. O sistema de trancamento de
Lee também favorecia um manejo mais rápido, pois o curso do ferrolho pode ser mais curto e o ângulo de rotação para abri‑
lo era de cerca de 60º, ao invés dos 90º do Mauser. Além disso, a posição da alavanca de manejo era inédita para a época,
localizada na parte posterior da arma, um pouco atrás da posição do gatilho. O cartucho desenvolvido para esse fuzil foi o
denominado .303 British, que nesta época ainda não utilizava a nova pólvora sem fumaça, recém inventada na França.

Fuzil britânico M.L.M. (Magazine Lee‑Metford) de 1888, em calibre .303 British, o precursor de uma arma que se tornaria venerável no
Império Britânico

O carregador deste fuzil, que podia ser removido (outra característica inédita), comportava 8 cartuchos e necessitava ter um
perfil trapezoidal em virtude do cartucho .303 ser dotado de aro (“rimmed”), outra característica que ia na contra‑mão da
tendência mais avançada de cartuchos sem aro, já existentes na época, como o caso do 7,92mmX57, utilizado no fuzil alemão
Gewehr 1888. O raiamento do cano, em número de sete, foi projetado pelo engenheiro William Ellis Metford, e o sobrenome
de cada um deles originou a nomenclatura utilizada nessa arma. O Lee‑Metford foi produzido até meados de 1906.

Acima, mais um magnífico exemplar do “Long‑Lee” britânico em calibre .303 British

Já em 1895, por exigência de comissões técnicas do Exército Britânico, James Lee modificou o seu projeto, para que a partir
de agora utilizasse o mesmo cartucho .303 carregado com cordite ao invés de pólvora negra. Para tanto, o raiamento tinha
que ser modificado e, aproveitando‑se da oportunidade, reforçar toda a estrutura para suportar as pressões mais elevadas, e
modificar o carregador para comportar 10 cartuchos, numa disposição bifilar. Este detalhe deu ao novo fuzil a vantagem de
possuir a maior capacidade de munição existente em armas deste tipo, durante vários anos.

Detalhe da ação do S.M.L.E Mk IV
Detalhe da ação do S.M.L.E Mk IV

Entretanto,  o  raiamento  desenvolvido  por  Metford  não  mais  se  adequava  ao  novo  cartucho,  que  agora  desenvolvia  muito
mais  velocidade  que  o  anterior.  Portanto,  entra  em  cena  o  Royal  Small  Arms  Factory  (RSAF),  localizada  em  Enfield,  uma
fábrica de armas pertencente ao governo que desenvolve um novo raiamento, resultando no fuzil Lee‑Enfield Mk I, também
denominado  de  MLE  (Magazine  Lee‑Enfield).  Popularmente  ele  era  também  denominado  de  “Long  Lee”,  para  não  ser
confundido com a próxima geração de fuzis, mais curtos, que viria ocorrer alguns anos depois.

O fuzil Short Magazine Lee Enfield (S.M.L.E.) Nº 1 MK IV em calibre .303 sem carregador

Pouco antes da I Guerra, e baseado em experiências e ocorrências percebidas pelos militares na Guerra dos Boers, o arsenal
de  Enfield  desenvolve  uma  arma  com  uma  dimensão  intermediária  entre  um  fuzil  e  uma  carabina,  cerca  de  3o  cm.  mais
curto que o M.L.E. Com um comprimento total de 1,13m, a nova arma foi chamada se fuzil curto, ou “short rifle“. Aliás, nota‑
se sempre uma confusão entre alguns autores, que se confundem com a nomenclatura da arma: S.M.L.E (Short, Magazine Lee‑
Enfield).  A  palavra  “short”  (curto),  no  caso,  se  refere  ao  fuzil  e  não  ao  carregador,  ou  seja,  “Lee‑Enfield  Curto,  com
Magazine”. De 1903 a 1909, vários Lee‑Metford foram transformados em S.M.L.E., com canos mais curtos e com as coronhas
modificadas.  A  produção  do  que  se  pode  chamar  de  Enfield  “definitivo”  iniciou‑se  em  1907,  com  o  modelo  MK  III,
denominado oficialmente de S.M.L.E. Nº 1, MK III.

Acima, os dois lados de um veterano de várias guerras, nas mãos dos soldados da Comunidade Britânica – o S.M.L.E. Nº 1 Mk III em
calibre .303

Desta data em diante, o Nº 1 MK III passa a ser o fuzil padrão das tropas britânicas, mantendo quase todas as características
herdadas do Lee‑Metford, com melhoramentos feitos no sistema de pontaria e uma alteração executada na caixa de culatra
que permitia o municiamento de forma alternativa do carregador, pela parte de cima, utilizando‑se clipes. Ainda assim, o
carregador  para  10  cartuchos  permanecia  removível,  permitindo  aos  soldados  a  opção  de  portar  alguns  deles,
sobressalentes, e devidamente municiados, algo que nenhum fuzil de repetição de sua época era capaz de fazer. Sua silhueta
é marcante, com sua peculiar coronha de perfil baixo e um pseudo punho‑pistola; era construída em duas partes e seu fuste
e telha cobriam totalmente a extensão do cano. Na opinião do autor, trata‑se do mais elegante e atraente fuzil de sua época.
Outro exemplar do belíssimo S.M.L.E. Nº 1 Mk III com sua bandoleira de lona

Durante a I Guerra, o suprimento de armas estava muito comprometido e o arsenal de Enfield não contava com capacidade
suficiente de suprir todas as tropas britânicas. Um novo projeto havia sido desenvolvido por Enfield, baseado em parte no
projeto do Lee‑Enfield, mas com algumas simplificações e modificações, tornando‑o um fuzil de fabricação menos onerosa e
complicada;  esta  nova  arma  denominou‑se  de  Pa埘�ern  13.  Durante  a  guerra,  um  acordo  entre  os  Estados  Unidos  e  a  Grã‑
Bretanha para fornecimento de aramamento possibilitou que um novo fuzil derivado do Pa埘�ern 13, denominado de Pa埘�ern
14, fosse produzido por algumas empresas norte‑americanas como a Remington, Eddystone e Winchester. Essa produção se
iniciou em 1916 e a arma ganhou a denominação americana de U.S. Enfield M1917, que também acabou por ser utilizado por
tropas americanas na I Guerra. Veja o capítulo sobre as armas utilizadas pelos Estados Unidos, neste mesmo artigo.

O fuzil americano U.S. Enfield 1914, ou Pa埘�ern 14 para os britânicos, utilizados por ambos os países na I Guerra Mundial

O Pa埘�ern 14 começou a ser distribuído entre as tropas britânicas a partir de 1917, mas não caiu muito no gosto dos soldados,
mais acostumados com o S.M.L.E, o qual era um pouco mais leve, dispunha do dobro da capacidade de munição e possuía
um ferrolho com ação mais rápida do que o “similar” norte‑americano. Apesar de parecida, a coronha do Enfield 17 era feita
em uma só peça.

Soldados britânicos dando de beber à prisioneiros alemães, portando seus S.M.L.E. de baioneta calada.

Pouco antes da eclosão da II Guerra, o S.M.LE. passou por uma série de mudanças experimentais que resultaram no fuzil
denominado de Rifle Nº 4 MK I, adotado em 1939. O fuzil Nº 4 MK I possuía alça de mira posicionada na parte posterior da
culatra,  aos  moldes  do  Pa埘�ern  14  e  utilizava  um  sistema  de  cano  flutuante,  destinado  a  melhorar  a  precisão  e  menos
suscetível a deformações oriundas da umidade e empenamento comuns em coronhas. Seu cano também era mais pesado e
reforçado do que o do Fuzil Nº 1 MK III. Essa arma chegou a ser produzida no Canadá e nos Estados Unidos (Savage Arms e
Long Branch), por conta do esforço conjunto de guerra.
Fuzil britânico Lee‑Enfield Nº 4 MK I, adotado em 1939 – ferrolho e carregador eram idênticos ao fuzil Nº 1 MK III

Em 1943 criou‑se uma versão mais leve e mais curta baseada no Nº 4, que recebeu a denominação de Lee‑Enfield Nº 5 MK I,
apelidado  de  “jungle  carbine“,  ou  carabina  para  uso  na  selva.  Na  verdade,  tratava‑se  de  um  fuzil  bem  mais  condizente  e
indicado para a guerra na selva, devido a sua maior portabilidade, menor peso e pouco comprimento. Foi retirada a telha
superior dianteira do Nº 4, mantendo‑se a telha da parte traseira, e a alça de mira utilizada do Nº 4 foi mantida.

Acima, dois exemplares da carabina Lee‑Enfield Nº 5 MK I “Jungle‑Carbine”

O S.M.L.E e suas derivações foram produzidos até cerca de 1956 e a produção foi sendo diminuída gradativamente até 1974.
Chegou‑se a produzir uma versão do fuzil, em 1960, para utilizar o cartucho 7,62mm X 51 NATO, mas isso exigiu diversas
mudanças além do cano, como alterações no ferrolho, extrator e no carregador. Uma fábrica indiana chegou a produzir esse
fuzil até meados da década de 80.

O veterano e idolatrado fuzil S.M.L.E. ficou em serviço de Sua Majestade Britânica e utilizado em quase toda a Comunidade
de  1909  a  1974,  quando  se  iniciou  a  substituição  gradativa  pelos  modernos  fuzis  L1A1,  similares  ao  belga  F.N.  FAL,  em
calibre  7,62mm  X  51  NATO.  Foram  portanto,  quase  60  anos  de  serviços  prestados,  participando  ativamente  das  duas
Grandes Guerras, além dos  diversos conflitos armados ocorridos em colônias do Império. A silhueta do soldado britânico
portanto o seu S.M.L.E. é muito mais que um ícone, é a afirmação de um projeto bem elaborado e confiável, no qual centenas
de  milhares  de  combatentes  britânicos  depositaram  sua  confiança  e  sua  vida.  Até  os  dias  de  hoje  comenta‑se  que,  na
Inglaterra,  estando‑se  no  meio  de  diversos  veteranos  de  guerra,  a  maneira  mais  fácil  de  arrumar  uma  grande  encrenca  e
confusão é afirmar que o Lee‑Enfield não era preciso ou que não se tratava de uma arma confiável.

JAPÃO

Desde 1898 que o Exército Imperial Japones estava adotando o fuzil de repetição Arisaka Tipo 38, que havia substituído o
obsoleto fuzil Murata. O Tipo 38 foi desenvolvido pelo projetista Coronel Nariakira Arisaka, em 1898, um projeto claramente
inspirado nos fuzis Mauser alemães. Entretanto, o Tipo 38 usava um cartucho relativamente fraco, 0 6,5mm X 50 que, desde
a Guerra com a China, nos anos 30, os militares japoneses já haviam percebido sua inferioridade quando comparados ao 8 X
57mm Mauser,  então utilizado pelos inimigos.

Mediante  um  estudo  conjunto  entre  engenheiros  militares  e  o  Arsenal  Imperial,  resolveu‑se  pela  dotação  de  um  novo
cartucho,  o  7,7mm  X  58,  com  balística  muito  superior  ao  seu  antecessor  e  bem  similar  ao  7,92mm  X  57  alemão.  Para  esse
novo cartucho, o Coronel Arisaka desenvolveu um novo fuzil, o Tipo 99, ainda assim muito parecido e baseado no Tipo 38 e
nas ações de ferrolho da Mauser.

Um carregador do Tipo 99 com cartuchos 7,7mm X 58
Um carregador do Tipo 99 com cartuchos 7,7mm X 58

Apesar da semelhança com o Mauser, o fuzil Arisaka possuía algumas características diferentes,
como alças de mira (algumas até dotadas de dispositivos que ajudavam no cálculo da velocidade
de aviões (!!), o sistema de engatilhamento do ferrolho e a trava de segurança, bem diferente da
tradicional “orelha” utilizada pelos Mauser. Essa trava era um grande aro redondo e recartilhado,
na  parte  traseira  do  ferrolho,  que  era  girada  para  a  esquerda  ou  direita  usando‑se  a  palma  da
mão.

Porém, uma das características únicas do Tipo 99 e que não era bem aceita, era a sua tampa do
ferrolho,  algo  realmente  desnecessário,  destinada  a  evitar  a  entrada  de  sujeira  no  mecanismo.
Devido  ao  fato  de  que,  com  o  tempo,  ela  acabava  com  muita  folga  e  fazia  muito  barulho,  os  soldados  simplesmente  a
arrancavam e jogavam fora. O problema com os dois calibres existentes, um do fuzil Tipo 38 e outro do Tipo 99 gerou quase
que um caos, logisticamente falando, durante a II Guerra. Por falta de condições de atender a demanda só com o Tipo 99, o
Exército ainda empregava em algumas de suas tropas o Tipo 38, tentando evitar que as mesmas divisões recebessem as duas
armas e evitar confusão de calibres.

Na  prática  isso  não  funcionou,  pois  com  o  caos  reinante  após  1943  e  1944,  vários  soldados  japoneses  lutavam  lado  a  lado
com fuzis 38 e 99, utilizando cartuchos diferentes. Não é preciso muito esforço para imaginar o que acontecia. Apesar de que
os  Tipo  99,  de  manufatura  em  tempo  de  guerra  eram  muito  mal  acabados,  não  resta  dúvida  de  que  esse  fuzil  era
extremamente resistente e reforçado, apesar de seu comprimento longo demais para uso em guerras de selva, por exemplo.
Por esse motivo, algumas variações do Tipo 99 em versão carabina, mais curtas, foram implementadas durante a guerra.

 
Acima, o fuzil japonês Arisaka Tipo 99, em calibre 7,7mm X 58

Detalhes do Tipo 99 e sua estranha trava de segurança, um disco serrilhado para ser acionado com a palma da mão.

As  últimas  armas  produzidas  no  final  da  guerra  eram  tremendamente  mal  acabadas,  faltando  acabamento  superficial  do
aço, sem a soleira da coronha, miras rudimentares, marcas de usinagem aparentes e madeira de péssima qualidade. Alguns
desses  fuzis  são  perigosos  para  uso,  hoje  em  dia.  Há  vários  casos  na  campanha  americana  no  Pacífico  que  relatam  a
“explosão” de alguns desses fuzis em mãos de soldados americanos que gostavam de experimentá‑los. Durante a guerra o
Japão  também  produziu  milhares  de  Tipo  99  para  fins  de  treinamento,  onde  as  peças  de  metal  nem  recebiam  tratamento
adequado contra desgaste e corrosão. Talvez por essas histórias é que esse fuzil granjeou tão má fama durante a guerra, de
certa forma desmerecida.

Uma carabina derivada do fuzil Tipo 99 em calibre 7,7mm X 58
Uma carabina derivada do fuzil Tipo 99 em calibre 7,7mm X 58

Durante  a  Guerra  chegou‑se  a  desenvolver  no  Japão  um  projeto  de  fuzil  semi‑automático  baseado  no  M1  Garand  norte‑
americano.  Protótipos  foram  construídos  e  denominado  de  Tipo  4,  que  era  a  versão  preliminar,  e  o  Tipo  5,  a  versão  mais
definitiva.  Interessante  citar  que  um  dos  pontos  fracos  do  Garand  serviu  como  inspiração  para  não  se  incorrer  no  mesmo
erro: o magazine com clipe ejetável. No Tipo 5, optaram por um carregador incorporado que era municiado por dois clipes,
em sequencia, de 5 cartuchos, os mesmos clipes do tipo Mauser que eram utilizados nos Arisaka Tipo 99. Foram feitos pouco
mais  de  200  protótipos  e  que  mostraram  diversos  problemas  durantes  os  testes.  A  guerra  acabou  para  o  Japão  antes  que
essas armas tivessem chance de entrar em combate.

Fuzil semi‑automático japonês Tipo 5, baseado no M1 Garand – acervo do National Firearms Museum

ESTADOS UNIDOS

Entrando no conflito só a partir do ataque japonês ao arquipélago do Havaí, em 7 de dezembro de 1941, os Estados Unidos
tiveram uma grande vantagem de poder ter tempo suficiente para se equiparem, além do fato de que seu parque industrial
já estava em plena capacidade de produção bélica, encarregado que era do fornecimento de armamento e equipamentos aos
países  aliados.  Assim  sendo,  os  EUA  foram  privilegiados  quanto  ao  seu  arsenal  e  partiram  para  o  teatro  do  Pacífico  e
Europeu muito bem equipados.

Voltando  um  pouco  na  história,  a  dotação  do  primeiro  fuzil  de  repetição  por  ação  de  ferrolho  feita  pelos  Estados  Unidos
ocorreu em 1892, com o fuzil Krag‑Jörgensen, em calibre .30‑40, escolhido que foi por uma comissão militar localizada em
Governors  Island,  Nova  York,  dentre  mais  de  50  outros  modelos  testados  como  os  Lee,  Mannlicher,  o  alemão  Mauser  e  o
suíço  Schmidt‑Rubin.  Inusitadamente  foi  da  longínqua  Noruega  que  veio  a  arma  que  acabou  vencendo  a  contenda,
projetada pelos engenheiros Ole Herman Krag e Erik Jörgensen.

O fuzil norte‑americano Krag‑Jörgensen, em calibre .30‑40

Uma das características mais marcantes e diferenciadas dessa arma era o seu sistema de carregador, que era o que se podia
chamar  de  tipo  “caixa”,  ou  “box‑magazine“.  A  alimentação  dos  cartuchos  se  dava  através  de  uma  espécie  de  tampa
articulada, na lateral da arma, e a capacidade era de cinco cartuchos. O mais interessante desse sistema que, ao contrário de
qualquer outro fuzil de ação de ferrolho existente, permitia a inclusão de cartuchos adicionais, a qualquer momento, e sem
precisar abrir o ferrolho.

Outro  detalhe  era  o  sistema  denominado  de  “cut‑off  magazine“,  que  consistia  em  uma  placa  deslizante  que  podia  ser
posicionada  acima  dos  cartuchos  no  interior  do  carregador,  evitando  que  os  mesmos  fossem  levados  à  câmara.  Era  uma
opção para o uso da arma em tiro único, sem que houvesse necessidade de se estar com o carregador vazio. O Arsenal de
Springfield  produziu  cerca  de  500.000  fuzis  Krag  entre  os  anos  de  1894  a  1904.  Serviu  razoavelmente  bem  o  Exército
Americano na Rebelião dos Boxers, nas Filipinas e na Guerra Hispano‑Americana. Nesta última guerra o fuzil Krag provou
Americano na Rebelião dos Boxers, nas Filipinas e na Guerra Hispano‑Americana. Nesta última guerra o fuzil Krag provou
ser bem inferior operacionalmente aos que eram utilizados pelo outro lado da contenda, os espanhóis, já equipados com os
fuzis Mauser de 1893 em calibre 7mm X 57.

Detalhe do sistema de ferrolho e carregador do fuzil Krag‑Jörgensen – o ferrolho era bem similar ao sistema Mauser de 1893, porém mais
frágil. 

Detalhe do carregador tipo caixa do Krag‑Jörgensen, com sua tampa lateral aberta para carga ou descarga

O fuzil tinha dois problemas principais que incomodavam os técnicos militares: a lentidão para se municiar o carregador e a
fragilidade do sistema de ferrolho, com um só ressalto de trancamento, que não suportava cartuchos com maiores pressões
internas. O cartucho .30‑40 Krag, que como indica a nomenclatura era carregado com 40 grains de pólvora sem fumaça, não
era  muito  potente  em  comparação  com  similares  já  usados  na  Europa,  como  o  7,92mm  X  57  Mauser.  Em  1899  tentou‑se
implementar um cartucho mais potente nessa arma mas isso resultou em problemas técnicos. Chegaram a  desenvolver um
sistema  de  carregamento  para  ele,  utilizando‑se  clipes  similares  aos  da  Mauser,  mas  também  sem  muito  sucesso.  Após  a
Guerra  Hispano‑Americana  de  1898  o  Governo  Americano  decidiu  que  era  hora  de  mudar,  principalmente  porque
perceberam a eficácia e confiabilidade dos fuzis Mauser modelo 1893, em uso pela força inimiga.

SPRINGFIELD M1903

Aproveitando  o  período  pós  guerra,  em  1899,  o  Departamento  de  Guerra  dos  Estados  Unidos  teve  a  chance  de  estudar
Aproveitando  o  período  pós  guerra,  em  1899,  o  Departamento  de  Guerra  dos  Estados  Unidos  teve  a  chance  de  estudar
atentamente alguns exemplares dos fuzis Mauser 1893 capturados durante o conflito. Depois de vários protótipos, produziu‑
se  em  1901  uma  versão  quase  definitiva  da  arma,  muito  similar  ao  seu  rival  alemão.  Essa  similaridade,  apesar  de  alguns
pequenos detalhes, ocasionou posteriormente o pagamento de royalties, pelo Governo Americano, à empresa Mauser‑Werke,
na Alemanha, algo em torno de US$ 200.000,00 em valores da época.

Depois de vários testes e algumas modificações oriundas de problemas de manufatura e funcionamento, esse novo projeto
foi  finalmente  aceito  e  em  21  de  junho  de  1903,  as  Forças  Armadas  Norte‑Americanas  finalmente  adotaram  o  fuzil
Springfield,  denominado  oficialmente  de  U.S.  Rifle  Caliber  .30‑03  Model  1903,  uma  arma  de  ação  de  ferrolho  similar  à
utilizada pela Mauser, alimentação por clipe de 5 cartuchos efetuada por cima da arma, com o ferrolho aberto.

O fuzil Springfield modelo 1903, em calibre .30‑06, e seu clipe estilo Mauser, contendo 5 cartuchos.

Por volta de janeiro de 1905 já se haviam produzidos mais de 80.000 fuzís no arsenal de Springfield, pertencente ao Governo
Americano.  Ainda  neste  ano,  o  próprio  presidente  Theodore  Roosevelt,  um  aficionado  por  armas,  sugeriu  algumas
mudanças  na  alça  de  mira  e  no  formato  e  encaixe  da  baioneta.  Além  disso,  uma  modificação  muito  mais  importante  foi
efetuada.  Um  novo  cartucho,  ligeiramente  modificado,  foi  introduzido  em  substituição  ao  .30‑03:  era  o  nascimento  do
cartucho .30‑06 Springfield, cartucho que acompanhou as Forças Armadas americanas até a década de 60. A maior diferença
entre esses dois cartuchos estava no projétil, anteriormente de ponta arredondada e pesando 220 grains, substituído por um
projétil pontiagudo de 150 grains que atingia 2,800 pés/segundo de velocidade. Os fuzis anteriores tiveram que passar por
um processo de remanufatura, principalmente ajustes na alça de mira, para se adequarem à balística do novo cartucho.

Apesar  de  ser  considerado  por  muitos  como  uma  cópia,  é  inegável  que  o  espírito  inventivo  dos  engenheiros  americanos
colaborou,  e  muito,  para  até  podermos  afirmar  que  a  cópia  superava  o  original  em  vários  aspectos.  Tiveram  a  chance  de
corrigir  detalhes  que  poderiam  ser  considerados  como  falhas,  no  projeto  Mauser.  Naquele  fuzil,  por  possuir  o  ressalto
traseiro do percussor liso, a arma só consegue ser engatilhada levantando‑se e baixando‑se a alavanca de manejo do ferrolho.
No Springfield, em caso de falha de munição, por exemplo, o infante podia optar só por puxar o ressalto do percussor para
tráz, visto que o mesmo possuía uma forma anelar e era recartilhado em toda a sua volta.
Detalhe do ressalto traseiro do percussor, recartilhado para facilitar ser armado sem o uso da alavanca de manejo.

Outra importante modificação foi efetuada no sistema de retém do ferrolho. No fuzil Mauser, a peça responsável por isso
possui tão somente a função de reter o ferrolho dentro da armação, bem como servir de alojamento para o ejetor. Uma vez
essa  peça  articulada  para  fora,  o  ferrolho  pode  ser  retirado  da  arma.  No  Springfield,  os  projetistas  idealizaram  uma  tecla
articulada  com  tres  posições:  uma  das  posições  “ON”,  a  superior,  é  a  de  uso  normal,  que  retém  o  ferrolho  em  seu  curso
máximo.

Detalhe da tecla lateral, seletora de tiro “um a um” e de uso normal

Na posição central, o ferrolho pode ser retirado da arma. Na posição “OFF”, inferior, o curso total do ferrolho é limitado,
mas  ainda  assim  permite  a  extração  de  um  cartucho  deflagrado,  mas  não  consegue  realimentar  a  arma  com  um  cartucho
contido no carregador. A intenção dessa posição é permitir ao atirador poder municiar a arma com cartuchos inseridos de
forma avulsa, manualmente, num sistema de tiro‑a‑tiro, e sem utilizar a carga de 5 cartuchos contida no carregador.

O clipe municiador de 5 munições também não consegue ser inserido na arma com essa tecla na posição “OFF”.
Detalhe do ferrolho e caixa de culatra do Springfield M903 – muito similar às ações da Mauser, mas também, muito bem reforçadas. Note
o grande ressalto existente na lateral  do cilindro do ferrolho, agindo como mais um elemento de trancamento.

Apesar  de  ter  sido  utilizado  largamente  como  o  fuzil  de  dotação  do  Exército  Americano  na  I  Grande  Guerra,  juntamente
com seu companheiro, o fuzil Enfield 1917, o Springfield ainda chegou a ser utilizado no início da II Guerra, por algumas
unidades  no  Pacífico,  Norte  da  África  e  mesmo  na  Europa,  devido  ao  fato  de  que,  no  ataque  surpresa  de  Pearl  Harbor,  o
fuzil  semi‑automático  M1  “Garand”  ainda  não  estava  totalmente  disseminado  pelas  tropas.  Em  1942  os  principais
fornecedores dessa arma ao governo eram, além do Arsenal de Springfield, a Remington e a Smith‑Corona Typewriter Co.,
com sua fábrica em Siracusa, Nova York.

Esses fuzís enfrentaram  problemas  de  corrosão  interna  em  seus  canos,  principalmente os que participaram de campanhas


nas selvas do Pacífico. O uso de espoletas corrosivas e o excesso de umidade na região castigaram efetivamente o raiamento
dessas armas, sendo que grande maioria delas foram recolhidas para a substituição dos mesmos. Os U.S. Marines (Fuzileiros
Navais) o utilizaram na batalha de Guadalcanal e os Rangers do Exército Americano até o preferiam em detrimento ao novo
Garand, para uso em algumas missões específicas.

Porém, após Guadalcanal, os U.S. Marines perceberam rapidamente que uma batalha de selva como aquela era muito mais
propícia para fuzis semi‑automáticos do que para os de repetição, de forma que, rapidamente, o Governo tentou corrigir o
problema enviando os novos Garand, primeiramente para os Rangers e posteriormente para as demais unidades.

Nota‑se também que o fuzil Springfield fez parte do equipamento padrão fornecido pelo Exército Norte Americano à Força
Expedicionária Brasileira, anexada que foi ao V Exército, para operar no teatro de guerra a partir de 1944, na Itália. Apesar
de  que  o  fuzil  semi‑automático  Garand  também  ter  sido  utilizado  pela  FEB,  consta  que  a  maioria  dos  nossos  pracinhas
utilizaram o M1903 nos campos de batalha.

O coronel Gilberto Pessanha, que, como capitão foi comandante da companhia de Manutenção Leve da FEB, responsável por
suprimentos, às Unidades de Combate e de Serviço, exceto o material especializado da Engenharia” (BIBLIEX, 2001, vol. 8, p.
80),  relata  que  “Apesar  de  todo  o  nosso  empenho  junto  à  Base  Peninsular,  muitos  itens  de  material,  em  vista  de  se  terem
tornado “críticos”, devido ao recompletamento das unidades americanas para a invasão do sul da França, deixaram de ser
recebidos  ou  tiveram  redução  nas  quantidades  a  serem  distribuídas  “,  e  dá  como  exemplo  os  fuzis  automáticos  Garand  –
“básico  das  unidades  de  Infantaria,  como  arma  individual,  foram  substituídos,  na  maior  parte,  por  fuzis  “de  repetição”
Springfield, semelhante ao nosso Mauser – 1908”.

U. S. ENFIELD 1917 

Com a eclosão da I Grande Guerra, os Estados Unidos ingressaram no conflito com o Springfield 1903. Um problema surgiu,
entretanto.  Não  havia  quantidade  suficiente  de  fuzis  deste  modelo  para  equipar  toda  a  tropa.  Isso  levou  o  Governo
Americano a tomar uma atitude emergencial e utilizar um substituto, recorrendo ao fuzil Enfield modelo 1917, que já estava
sendo produzido para a Inglaterra sob contrato, mas em calibre .303 British. Essa arma se denominava Pa埘�ern 1914. Para se
evitar problemas de suprimentos com essa mudança de cartuchos, resolveu‑se alterar o ferramental e começar a produzir os
então denominados Enfileld 1917, em calibre padrão .30‑06.

Acima, o fuzil U.S. Enfield mod. 1917
Acima, o fuzil U.S. Enfield mod. 1917

Inicialmente  os  Enfield  começaram  a  ser  enviados  às  tropas  americanas  que  estavam  situadas  na  França.  Em  virtude  de
alguns contratempos de adaptação dos soldados com o novo fuzil, o que era perfeitamente normal, a imprensa americana da
época  chegou  a  divulgar  que  o  Governo  Americano  estava  equipando  os  seus  soldados  com  uma  arma  de  qualidade  e
desempenho inferior, o que não era absolutamente verdade.

Esse  fuzil  era  muito  bem  construído  e  robusto,  mas  excessivamente  pesado  em  relação  ao
Springfield.  Entretanto,  provou  nos  campos  de  batalha  na  Europa  as  suas    muito  boas
características, oriundas de um bom projeto.

O Enfield 1917 possuía o mesmo sistema de carregamento via clipes de 5 cartuchos (apesar
de  que  seu  carregador  comportava  seis  cartuchos,  que  podia  ser  inserido  posteriormente);
seu  ferrolho  com  alavanca  de  desenho  pouco  comum  era  muito  confortável  e  de  rápido
manejo,  e  ainda  dotado  de  excelente  alça  de  mira  regulável  em  altura,  localizada  na  parte
posterior da culatra. Os fabricantes principais do 1917 foram a Remington Arms Co. (Illinois),
a  Winchester    Repeating  Arms  (Connecticut)  e  a  Eddystone  Rifle  Plant,  subsidiária  da
Remington na Pensilvânia.

Detalhe da bem elaborada alça de mira, considerada bem superior em relação à do Springfield 1903

Durante os anos de conflito, esses dois fuzis conviveram nos campos de batalha, mas com a produção dos Springfield 1903
aumentando  dia  a  dia  com  a  participação  de  vários  fabricantes,  a  presença  deles,  no  cenário  da  guerra,  era  muito  mais
significativa.

Mesmo  assim,  estima‑se  que  logo  após  a  armistício,  cerca  de  1.100.000  fuzis  Enfield  1917  haviam  sido  enviados  à  Europa,
cerca de 800.000 para equipar as tropas regulamentares e por volta de 60.000 para os fuzileiros navais. O restante ficava na
reserva,  guardados  em  arsenais.  Nos  meses  iniciais  da  II  Guerra,  em  1939  e  1940,  os  Enfiled  1917  ainda  eram  vistos  em
grande quantidade nos diversos centros de treinamento do Exército Americano, e acredita‑se que no início da participação
americana, no final de 1941, essas armas ainda eram utilizadas para essa finalidade.

Detalhe do ferrolho (com seu desenho único) e culatra do fuzil Enfield M1917 – note as grandes “orelhas” laterais para a proteção da
muito boa alça de mira e o bem posicionado dispositivo de segurança.
Soldado americano descansa em um cemitério, num raro momento de paz e uma chance de dar uma boa verificada em seu Enfiled 1917.

Com o fim da guerra, os EUA continuaram fabricando o Springfield M1903 sendo que por volta de 1919, cerca de 3.000.000
de fuzis estavam em circulação nos arsenais do Exército, Marinha e Aeronáutica. Com fama de ser muito preciso, o M1903
acabou se tornando um excelente fuzil para uso de snipers, os atiradores de elite do Exército e da Marinha.

Entretanto, em meados de 1920, o Departamento de Guerra Americano voltou a dar ênfase
a  um  velho  sonho  que  alimentava  já  a  algumas  décadas;  o  desenvolvimento  de  um  fuzil
semi‑automático, com maior poder de fogo e eficiência nos mais variados tipos de combate,
que viria a  se tornar a arma padrão do infante norte‑americano.

E  foi  então  que  a  partir  dessa  época  o  U.S.O.D.    (United  States  Ordnance  Department)
começou  a  avaliar  vários  protótipos  de  fuzis  semi‑automáticos,  dentre  eles  o  Thompson
Semi‑Auto  Rifle,  desenhado  pelo  mesmo  projetista  da  famosa  sub‑metralhadora,  e  o  fuzil
Roth.

O Roth utilizava um sistema denominado de “primer‑system”, usando um cartucho dotado
de  uma  espoleta  especial  que,  ao  se  projetar  para  fora  da  cavidade  durante  o  disparo,
impulsionava um pequeno êmbolo no ferrolho para possibilitar o destrancamento e abrir a
culatra.  Era  um  sistema  complicado  e  não  muito  confiável.  Pior,  exigindo  um  cartucho
totalmente  diferente  dos  comuns,  deixava  o  governo  com  um  problema  de  criar  mais  um
cartucho diferente do .30‑06, que já estava mais do que consolidado nas Forças Armadas. 

À esquerda, Jean Garand e seu primeiro protótipo.

Porém, e felizmente, entrou em cena um projeto de um desconhecido canadense, oriundo da província de Quebec, nascido
em  família  francesa,  chamado  Jean  Cantius  Garand,  que  se  muda  para  os  EUA  ainda  na  puberdade.  Mais  tarde,  já
como funcionário do arsenal de Springfield, Garand começou a trabalhar no projeto de um novo fuzil que viria a ser tornar,
por volta de 1936, em um padrão para a época. A esta altura, Jean Garand ainda não tinha a exata noção do impacto de seu
projeto; tornar‑se, sem dúvida alguma, no melhor, mais eficiente e confiável fuzil semi‑automático utilizado na II Guerra.

 US RIFLE M1 GARAND
A importância dessa arma para o Exército Americano e talvez, até, pelo impacto que teve no desfecho de diversas batalhas,
faz  do  Garand  um  verdadeiro  ícone  no  universo  dos  fuzis  militares.  Portanto,  temos  aqui  em  nosso  site  um  capítulo
dedicado exclusivamente à essa magnífica arma, sem sombra de dúvida o melhor e mais eficiente fuzil utilizado no conflito,
por qualquer dos países envolvidos.

Originalmente Jean C. Garand havia desenvolvido seus protótipos para uso do calibre .276 Petersen, que não era o calibre
padrão do Exército Americano. Foi só por volta de 1930 que o Gen. Douglas MacArthur, então chefe do Staff do Aberdeen
Proving Group,  afortunadamente, pediu para que Garand alterasse o fuzil para o cartucho .30‑06 Springfield.  Durante os
anos de 1931 e 1932, Garand trabalhou árduamente para melhorar e solucionar alguns problemas de quebras de ferrolho e
mal funcionamento em geral. Em Agosto de 1933, o protótipo denominado de T1E2 foi enviado para testes de campo nas
unidades de cavalaria e infantaria do Exército.

Diversos  problemas  foram  relatados  e  mais  uma  vez,  modificações  tiveram  de  ser
feitas.  Finalmente,  em  9  de  janeiro  de  1936,  o  fuzil  foi  oficialmente  adotado  pelo  Governo
Norte‑Americano com o nome oficial de U.S. Rifle Caliber .30, M1. tornando‑se o primeiro fuzil
semi‑automático  a  ser  adotado  como  arma  regulamentar  por  qualquer  país  do  mundo,  até
então. O início da produção em massa foi meio conturbado, com diversos problemas que, aos
poucos,  foram  sendo  solucionados.  Por  volta  de  1939,  a  produção  normalizada  já  era  uma
realidade e o Arsenal de Springfield já produzia os fuzis a razão de cem por dia. O componente
mais  crítico  da  arma  ainda  era  o  cilindro  e  êmbolo  de  gas,  o  que  ainda  em  1940,  forçava
algumas alterações.

Foto: o controverso clipe de metal para 8 cartuchos

Com o ingresso dos USA no teatro de operações do Pacífico, após o incidente de Pearl Harbor
em dezembro de 1941, a indústria americana partiu para a produção em massa do M1, a todo o
vapor,  envolvendo  além  do  Arsenal  de  Springfield  tradicionais  fabricantes  de  armas
americanos como Remington, Winchester e Harrington & Richardson, dentre outros.

Desta forma, os Estados Unidos se tornou o único país do conflito, tanto do lado aliado ou não, a possuir praticamente toda
a  sua  infantaria  equipada  com  um  fuzil  semi‑automático.  Isso  dava  aos  Estados  Unidos  uma  significativa  vantagem  no
poder de fogo da infantaria contra o inimigo, lembrando que a Alemanha, Itália e Japão utilizavam fuzis de repetição, em
mãos da maioria dos combatentes. No caso da Alemanha, a presença de armas como os Gewehr 41 e 43 era muito tímida
perante o que se via no lado do combatente americano. No cenário aliado, tanto França, Inglaterra como Rússia também não
possuíam este tipo de arma equipando a maior parte de seus infantes.

O  fuzil  Garand  M1  é  uma  arma  semi‑automática,  sem  opção


para  tiro  seletivo;  isso  quer  dizer  que  mesmo  se  mantendo
pressão sobre o gatilho, após um disparo, é necessário que se
alivie  a  pressão  e  se  pressione  novamente  para  efetuar  o
disparo seguinte.

Seu sistema de recuo se baseia na tomada ou aproveitamento
parcial  dos  gases  oriundos  da  combustão  da  pólvora  para
executar  o  ciclo  completo  da  arma,  ou  seja,  a  ejeção  do
cartucho deflagrado e a inserção de novo cartucho na câmara.

Na foto, um detalhe do sistema de “coleta” de gases por um orifício no cano, pouco antes do projétil abandonar o interior do cano .

No caso do M1, essa tomada é feita através de um orifício bem próximo à boca do cano, na parte inferior do mesmo. Parte
dos  gases  penetrando  por  esse  orifício  entram  em  um  cilindro  vedado  onde  se  move  um  êmbolo,  ou  pistão,  o  qual  é
pressionado para traz e ligado a uma espécie de varão. O deslocamento deste varão libera o ferrolho, fazendo‑o girar uns 20
graus  no  sentido  anti‑horário  e  liberar  seus  dois  ressaltos  dos  respectivos  encaixes  nas  paredes  da  armação.  O  fuzil
empregava  um  clipe  de  metal  com  capacidade  de  8  cartuchos,  que  era  inserido  pela  parte  superior  do  ferrolho.  Uma  vez

encaixado, o ferrolho se fechava já com a inserção de um cartucho na câmara. Após o último disparo, o clipe era ejetado para
encaixado, o ferrolho se fechava já com a inserção de um cartucho na câmara. Após o último disparo, o clipe era ejetado para
fora, por cima, com um ruído característico que se tornou uma marca desse fuzil e motivo para controvérsias, pois o inimigo
aprendeu que, ao ouvir aquele ruído, a arma estaria descarregada.

Durante  toda  a  atuação  das  Forças  Armadas  Norte‑Americanas  na  II  Guerra,  de  1941  a  1945,  com  milhões  de  fuzis
produzidos e distribuídos entre as tropas, o Garand teve uma reputação irrepreensível. Mesmo com alguns problemas, pois
além  do  problema  dos  clipes  (a  arma  não  funcionava  sem  o  uso  desses  clipes)  e  o  problema  crônico  de  entupimento  do
pistão de gás por excesso de resíduos de pólvora, nada disso tira de John Garand e de sua excelente arma o brilho e fama
que  conseguiu  angariar  ao  longo  de  vários  anos  de  serviço  e  participação  maciça  em  dois  grandes  conflitos.  Após  a  II
Guerra, o Garand ainda esteve presente na Guerra da Coréia e mesmo a partir de 1959, quando começou a ser substituído
pelo M14, (a bem da verdade o mesmo fuzil com alguns melhoramentos), ainda participou em menor escala na Guerra do
Vietnã.

É inquestionável a importância que essa arma teve para a história mundial e principalmente para os Estados Unidos; cabe
notar  aqui  que  até  hoje,  o  Marine  Corps  dos  USA  ainda  utiliza  o  M1  Garand,  em  solenidades  de  gala  ou  cerimônias  de
acompanhamento e escolta do presidente Norte‑Americano. Sem dúvida, uma grande honra oferecida à uma arma ímpar e
venerável, que reinou absoluta nos campos de batalha da Europa.

Para saber mais, acesse o artigo exclusivo sobre o Garand M1, aqui mesmo, em nosso site.

BROWNING AUTOMATIC RIFLE (BAR)

Esta  é  outra  arma  que,  embora  não  tão  importante  como  o  Garand,  serviu  como  equipamento  de  apoio  à  guarnições  e
batalhões do exército, principalmente visando cobrir a deficiência que os EUA tinham no campo das metralhadoras leves.
Como ocorre com o Garand, temos em nosso site um artigo específico para ele.

Um  pouco  antes  dos  Estados  Unidos  entrarem  em  combate  na  I  Guerra,  já  era  assunto  corriqueiro  no  Departamento  de
Guerra  americano  de  que  o  contingente  a  ser  enviado  à  Europa  não  dispunha  de  uma  arma  automática  leve,  de  tiro
contínuo,  destinada  à  proteção  e  ao  chamado  tiro  de  cobertura.  A  metralhadora  Browning  calibre  .30‑06  não  era,
decididamente, uma arma que se podia chamar de portátil. A metralhadora Benet‑Mercie, usada na Guerra do México, havia
provado sua baixa sustentação de tiro e falta de confiabilidade.

Uma  alternativa  que  chegou  a  ser  implantada  já  em  campos  de  batalha  foi  o  fuzil‑metralhador  francês  C.S.R.G.,  mais
conhecido como Chauchat, do qual falamos em nosso artigo sobre o M1 Garand. Infelizmente, o uso do Chauchat resultou
em  um  enorme  fracasso,  devido  ao  péssimo  desempenho  dessa  arma  em  mãos  dos  soldados  americanos.  Essa  arma  era
denominada C.S.R.G., iniciais que significam Chauchat, Suterre, Ribeyrolle et Gladiator. Os tres primeiros nomes são os dos
seus projetistas e o último, do fabricante da arma, Établissements des Cycles “Clément‑Gladiator”, um fabricante francês de
bicicletas.    Apesar  de  sua  aparência  estranha,  era  bem  revolucionário  em  sua  concepção,  tanto  que  fazia  enorme  sucesso
militar no cenário da I Guerra mas, curiosamente, só nas mãos dos franceses.

Acima, um fuzil metralhador C.S.R.G. em calibre 8mm Lebel, (8mmX50R) e adotado pelos Estados Unidos em 1917

O modelo enviado aos USA para posteriormente ser distribuído às tropas foi adaptado para o calibre .30‑06 Springfield,  ao
O modelo enviado aos USA para posteriormente ser distribuído às tropas foi adaptado para o calibre .30‑06 Springfield,  ao
invés do padrão 8mm X 50R, cartucho que era utilizado pela França em seus fuzis de repetição Bertier e Lebel. Essa arma
atuava no sistema de longo recuo, utilizando um ferrolho com trancas rotativas. A modificação para o cartucho .30‑06, muito
mais potente que o original 8mm, não lhe fez muito bem e assim, padecia de numerosos engasgues. Era, a bem da verdade,
uma monstruosidade com 1,09 metro de comprimento e 9Kg de peso.

Acima, soldado norte‑americano lança mão da sua fiel e infalível “nineteen‑eleven”, a Colt 1911 cal.45, depois de ter lutado algum tempo
com um outro “inimigo”, o fuzil Chauchat

O modelo mais comum possuía um carregador em forma de meia lua, muito trabalhoso de municiar e capacidade para 16
cartuchos. Um dos modelos utilizados pelos Estados Unidos usava um carregador retilíneo para 30 cartuchos. A arma teve
sua avant‑première em 21 de outubro de 1917, na região de Sommerville. Relatos da época fazem alusão à alguns soldados
norte‑americanos,  que  optavam  por  abandoná‑los  na  lama  das  trincheiras,  trocando‑os  pelos  simples,  mas  mais  efetivos,
fuzis Springfield M1903. Os americanos o chamavam de Show‑Show ou até mesmo de Shoo‑Shoo, mas esses nomes eram
muito menos utilizados do que outros tantos mais, os quais prefiro omitir aqui. Eu creio que essa arma não possui rival, na
história  do  armamento  bélico  utilizado  nos  Estados  Unidos,  quanto  à  péssima  fama  adquirida  em  combate.  O  carregador
meia‑lua possuía enormes janelas laterais, desenvolvidas para que o atirador pudesse acompanhar melhor a capacidade de
cartuchos restantes. Entretanto, lama, areia e cascalhos eram o que as trincheiras mais ofereciam de pior aos soldados e às
suas  armas,  e  esses  carregadores  se  entupiam  com  isso.  Além  do  mais,  eram  frágeis  e  entortavam  facilmente  quando
derrubados ao chão.

A freqüencia de engasgues dessa arma era imensurável; a bem da verdade, o Chauchat não prometia um mal funcionamento
constante;  ele  realmente  garantia  isso.  Tornou‑se  assim  num  grande  fracasso,  o  que    acelerou  mais  ainda  o  plano  de  se
desenvolver, com a máxima urgência, uma nova arma para subst

Diante desse quadro, em 1917, surge a figura do brilhante projetista John Browning, que apresenta um projeto de um fuzil‑
metralhador,  ou  fuzil  automático  propriamente  dito.    Uma  simulação  executada  com  tiro  automático  de  varredura  sobre
supostas  tropas  inimigas,  em  campo  aberto,  deixou  a  platéia  tão  extasiada  e  entusiasmada  que  até  esqueceram‑se  do  fato
muito importante que, até aquele momento, somente uma arma daquele tipo existia.

A metralhadora de Browning, refrigerada à ar, também foi rapidamente adotada em serviço, logo após a demonstração. Para
John Browning, o episódio foi uma espécie de coroação pelos seus méritos, mais que merecida, pois não era praxe para o
pessoal do Departamento de Ordenança adotar uma nova arma com tanta facilidade. A empresa Colt Firearmrs, a Marlin‑
Rockwell e posteriormente a Winchester passaram a produzir o então chamado BAR (Browning Automatic Rifle) a toque de
caixa, para tentar suprir a demanda requerida pelo governo.
Acima os tres modelos básicos do Fuzil Automático Browming: modelo 1918, 1918A1 e 1918A2 – neste último, note o monopé
incorporado abaixo da coronha e o bipé montado na dianteira. 

Apesar de que somente em setembro de 1918 o fuzil chegou às mãos de soldados norte‑americanos na França, ainda assim
deixou  uma  significante  impressão  nos  militares  aliados,  sendo  que  a  própria  França  encomendou  15.000  dos  fuzis
Browning para substituir os seus tradicionais Chauchat. O próprio filho de John Browning, o 2º Tenente Val Allen Browning
promoveu  diversas  sessões  de  demonstração  da  arma  aos  aliados.  Assim,  verdadeiramente,  o  B.A.R.  não  chegou  a  ter
participação em muitas ações nos campos de batalha da I Guerra; entrou em cena um pouco tarde, e  havia até uma certa
relutância  do  próprio  Exército  dos  Estados  Unidos  em  distribuí‑lo  às  tropas,  para  evitar  que  caíssem  em  mãos  inimigas.
Apesar disso, acredita‑se que cerca de 85.000 armas participaram do conflito.

Durante  o  curto  período  de  paz  na  Europa,  de  1918  a  1939,  as  Forças  Armadas  Norte‑Americanas  foram  introduzindo
gradativamente o B.A.R. em suas fileiras. A Marinha americana e o grupo de Fuzileiros Navais também adotaram a arma;
interessante  citar  que  nos  arsenais  dos  navios,  cada  exemplar  do  fuzil  era  acompanhado  de  um  cano  sobressalente.  Na
Marinha, os fuzis chegaram a se manter em serviço até meados de 1960 e chegaram a participar dos conflitos no Haiti e na
Nicarágua.

Após a entrada dos Estados Unidos na II Guerra Mundial, o Departamento de Ordenança já havia definido, em 1938, que o
BAR  M1918A2  fosse  adotado  como  arma  regular    e  destinado  a  equipar  um  homem  de  um  batalhão  composto  de  oito
soldados,  esses  últimos  portando  basicamente  o  fuzil  M1  Garand.  Porém,  todos  esses  integrantes  possuíam  treinamento
básico no manuseio do B.A.R. para o caso do seu atirador ser morto ou ferido. Algumas unidades de infantaria equipavam
os  batalhões  com  mais  de  um  “BAR  man“,  como  eram  então  chamados  seus  atiradores,  e  um  ou  dois  asssitentes  (ammo
bearers) transportando carregadores municiados extras.

Com  o  uso  constante  nos  campos  de  batalha,  alguns  problemas  começaram  a  surgir  com  os  fuzis,  a  começar  com
emperramentos constantes no mecanismo de retardo da cadência de fogo. Técnicos que analisavam esses casos chegaram a
conclusão de que isso era devido ao costume dos soldados limparem a arma na posição vertical, com a coronha apoiada no
solo,  e  todo  o  resíduo  de  solvente,  óleo  adentravam  o  mecanismo  que  era  montado  na  coronha.  Outro  fator  grave  era  o
entupimento e a corrosão dos componentes da regulagem de tomada de gases, que ao contrário do que ocorreu no Garand,
nunca foram substituídos por peças feitas em aço inoxidável.

Apesar  de  todos  esses  percalços,  estivessem  nas  mãos  de  soldados  nos  campos  da  Europa  como  de  marines  nas  ilhas  do
Pacífico,  o  B.A.R.  ,  sem  dúvida  alguma,  marcou  sua  presença  na  história  da  guerra.  Cumpre  ressaltar  que  essas  armas
continuaram  em  serviço  na  Guerra  da  Coréia,  onde  com  a  ajuda  de  outros  fabricantes  como  a  Royal  Typewriter  Co.  de
Hartford, o governo supriu as forças americanas com mais de 60.000 armas. Os problemas com os componentes da tomada

de  gases  do  cano  continuaram,  sendo  que  esforços  foram  dispendidos  no  sentido  de  eliminá‑los,  o  que  ocorreu  com  a
de  gases  do  cano  continuaram,  sendo  que  esforços  foram  dispendidos  no  sentido  de  eliminá‑los,  o  que  ocorreu  com  a
substituição  das  peças  por  outras  descartáveis,  feitas  em  nylon,  o  que  também  evitava  o  tedioso  trabalho  de  constantes
desmontagem do conjunto para limpesa.

Fuzil Automático Browning M1918A2 em calibre .30‑06 Springfield

Seu peso descarregado era de cerca de 8,8 Kg, dependendo da versão e de seus acessórios instalados, com o comprimento ao
redor de 1,22 m. De acordo com suas versões, a cadência de disparos poderia variar de 300 a 650 tiros por minuto; em alguns
modelos,  essa  velocidade  podia  ser  selecionada  através  de  uma  chave,  inclusive  com  a  opção  de  tiro  semi‑automático.  A
opção  de  trabalhar  com  o  ferrolho  aberto,  característica  muito  comum  em  metralhadoras  e  em  quase  todas  as
submetralhadoras, serve para se evitar o efeito denominado de “cook‑off“, ou seja, o aquecimento demasiado de um cartucho
repousado na câmara muito quente, podendo o mesmo entrar em auto‑detonação. Entretanto, o sistema de ferrolho aberto
não é muito bom no aspecto de precisão, devido ao seu deslocamento muito grande na hora do disparo.

Veja muito mais detalhes, inclusive sobre o funcionamento desta arma, aqui mesmo, em nosso artigo exclusivo.

US M1 CARBINE

A idéia de prover os oficiais de baixo escalão do Exército dos Estados Unidos com uma arma leve, facilmente transportada e
com muito bom poder de fogo, a fim de suprir as desvantagens inerentes do uso de uma só arma curta de defesa, no caso a
pistola Colt 1911, não começou exatamente durante a guerra, e sim, por volta de 1938. Já naquele tempo o Departamento de
Ordenança do Governo dos USA já havia requerido formalmente o desenvolvimento de uma carabina semi‑automática para
uso de oficiais, que daria à eles uma arma de maior alcance e precisão do que uma pistola. Entretanto, só em 1941 que a ideia
foi levada adiante, e o projeto foi lançado oficialmente, abrindo essa participação para diversos fabricantes de armas.

Acima, os dois lados de uma arma cativante e muito apreciada pelos oficiais americanos na II Guerra – a carabina .30 M1

Inicialmente a Winchester Repeating Arms não apresentou e nem se interessou em participar do projeto, uma vez que estava
muito ocupada às custas de aperfeiçoar e começar a produzir os protótipos do seu Military Rifle M2 em calibre .30‑06, apesar
de que, como sabemos, o M1 Garand já havia sido escolhido como o fuzil padrão do Exército. Mas, tal qual outras armas
similares, o M2 seria uma alternativa ao Garand. Com a ajuda de David Williams, um assassino confesso que ainda estava
cumprindo pena mas que já havia trabalhado em um projeto de um fuzil semi‑automático, a Winchester terminou o projeto
M2, anteriormente iniciado por Ed Browning, irmão do já falecido e lendário John Browning, e submeteu‑o à apreciação dos

Fuzileiros Navais.  O sistema de pistão a gás de pouco recuo usado neste fuzil, que era um projeto de Williams, juntamente
Fuzileiros Navais.  O sistema de pistão a gás de pouco recuo usado neste fuzil, que era um projeto de Williams, juntamente
com o desenvolvimento de um cartucho menor e mais leve que o .30‑06, foram a mola mestra para o primeiro protótipo da
carabina.

Carabina .30M1 de produção pós‑II Guerra – note o engate para baioneta sob o cano

Com  relação  ao  novo  cartucho,  a  Winchester  já  havia  desenvolvido  um,  mas  nesta  época  já  obsoleto,  o
denominado  32  Winchester  Self  Loading,  utilizado  em  uma  das  primeiras  carabinas  semi‑automáticas  desse
fabricante. Sobre esse cartucho a Winchester criou um novo e mais moderno, para uso na nova carabina, com um
projétil de 7,7 mm de diâmetro, 110 grains de massa e com uma velocidade inicial de quase 1.900 pés/seg. Era um
cartucho  totalmente  sem  aro  (rimless)  e  levemente  cônico,  mas  não  a  ponto  de  obrigar  o  uso  de  um  carregador
curvo.  De  acordo  com  o  solicitado  pelo  governo,  a  capacidade  do  carregador  deveria  ser  de,  no  mínimo,  15
cartuchos. A energia desse cartucho era cerca de duas vezes maior do que o .45ACP da Colt 1911, mas com cerca
de 3 vezes menos potência do que o .30‑06 do Garand. Seu uso efetivo se situava em torno de 200 metros, muito
mais extenso, portanto, que o geralmente empregado numa pistola, algo em torno de 50 metros.

À esquerda o cartucho .30M1

Ao  examinar  o  fuzil  M2,  que  já  era  muito  parecido  com  a  futura  carabina  M1,  o  Major  René  Studler,  do
Departamento de Material Bélico, imaginou que seria possível executar uma redução de dimensões naquela arma, uma vez
que utilizaria um cartucho bem menor, daí resultando uma arma bem mais leve e menor. A meta de peso a ser atingida era
algo em torno dos 2,200Kg. William Roemer mais quatro outros engenheiros da Winchester começaram a trabalhar sobre a
idéia  de  Williams  e  no  novo  cartucho  .30.  O  resultado  foi  apresentado  aos  técnicos  do  Exército,  que  acharam  a  arma
excelente. Dado o sinal verde, a Winchester começou a aprimorar o projeto com a ajuda de Williams e, em outubro de 1941, a
fábrica foi comunicada oficialmente que a carabina havia sido a escolhida dentre outros modelos concorrentes, testados que
foram exaustivamente.

O desenho final, juntando‑se todas as soluções e idéias de diversos técnicos e engenheiros, resultou em uma arma muito bem
construída, com um sistema de ferrolho rotativo e de tomada de gases na porção mediana do cano, muito similar ao do M1
Garand, e mais do que eficiente e resistente para o cartucho empregado. A arma foi muito bem aceita no Exército e pelas
tropas  em  atividade  na  II  Guerra,  pela  grande  maneabilidade,  capacidade  de  munição  aceitável,  carregador  destacável  e
miras  ajustáveis  lateralmente  e  verticalmente,  do  tipo  “peep‑sight”.  Os  oficiais  subalternos  e  algumas  vezes  até  mesmo
sargentos  em  comando  de  pelotão  a  utilizavam  com  bastante  frequencia.  Seu  baixo  recuo  permitia  uma  sequencia  de
disparos em alta velocidade, quase sem ser necessária a correção da visada, o que era quase impossível de se conseguir com
um fuzil M1. Seu peso ficava em torno de 2,400Kg descarregada, com um comprimento de 90 cm.

Detalhe da culatra da carabina M1, com a alça de mira tipo “peep‑sight” – a similaridade com a culatra do fuzil M1 Garand é inequívoca
Acima a carabina .30M1A1 com coronha “esqueleto” dobrável e a M1 com a bolsa de lona para dois carregadores adicionais

Além da M1, mais tres versões produzidas em tempo de guerra se destacam: a M2, a M3 e a M1A1, esta última dotada de
coronha dobrável, para uso de unidades de paraquedistas. A M2 tinha um dispositivo seletivo para fogo contínuo ou semi‑
automático.  Para  tanto,  foi  equipada  com  um  carregador  maior,  para  30  cartuchos.  Devido  ao  dobro  da  capacidade  do
carregador  normal,  o  de  30  era  ligeiramente  curvado  para  a  frente,  pois  agora  a  leve  conicidade  do  cartucho  já  fazia  uma
certa diferença. A M3 era, na verdade, igual à M2 mas com trilhos adaptadores para montagem de luneta. Um interessante
acessório era uma bolsa de lona, presa por tiras elásticas à coronha, que permitia transportar dois carregadores adicionais de
15  cartuchos.

Carabina .30 Versão M2, com seletor para tiro semi‑automático ou automático, com carregador para 30 cartuchos – uma carabina com
pretensões de sub‑metralhadora

Durante o esforço de guerra a produção se distribuiu entre vários fornecedores, como a General Motors, IBM, Underwood,
Quality Hardware & Machine Co., Rock Ola, Inland Mfg. Division (outra divisão da GM), entre outras. Estima‑se em cerca
de 6 milhões de carabinas .30M1 produzidas, o que concede à essa arma a honra de ser a arma militar mais produzida nos
USA até hoje. A Winchester fabricou por volta de 900.000 armas,  mas a maior produtora foi a Inland, com mais de 2.000.000
de carabinas produzidas.

Não se tem relatos em grande escala de problemas ou críticas dessa arma quando participando do
teatro  de  operações  na  II  Guerra,  exceção  feita  em  alguns  casos  onde  a  potência  do  cartucho
deixava um pouco a desejar. O que precisa‑se levar em conta é que essa carabina, geralmente na
mão de um comandante de batalhão, lutava lado a lado com o Garand, o que deixaria mais óbvio a
desvantagem  de  seu  pequeno  cartucho.  Porém,  a  maneabilidade  e  a  capacidade  de  15  cartuchos
amenizava essa situação, de alguma forma.

Um  caso  interessante  é  o  que  ocorreu  com  o  Major‑General  James  M.  Gavin  (foto),  que  era  o
comandante  da  82ª  Airborn  Division  do  Exército  Norte‑Americano,  durante  a  desastrada
Operação “Market‑Garden”, em Setembro de 1944, onde a intenção era despejar uma quantidade,
que até hoje nunca foi superada em nenhuma guerra, de paraquedistas na região de Arnhem, na
Holanda,  para  evitar  que  os  alemães  tomassem  e  destruíssem  as  pontes  sobre  o  rio  Reno.  Esta
operação foi uma conjunção de esforços do Exército Britânico, Canadense, Norte‑Americano e até
uma brigada de paraquedistas polonesa.

O  Gen.  Gavin,  contando  nesta  ocasião  com  37  anos  de  idade,  era  o  mais  jovem  general  do  exército.  Ele  havia  sofrido  um
incidente  de  tiro  com  sua  M1  em  uma  de  suas  missões  anteriores,  de  forma  que  preferia  utilizar  o  bem  mais  incômodo,
porém potente, fuzil Garand M1 em suas missões posteriores.
Nessa foto acima, vemos o Major General James Gavin se preparando para embarcar para a Holanda, com sua pistola Colt
1911 na cintura e seu fuzil Garand. Abaixo, o fuzil M1 utilizado pelo general, exposto em um museu pertencente ao Exército
Americano. O general nova‑iorquino faleceu em Maryland, em 1990, com 82 anos de idade.

Carabina M1 de fabricação Rock Ola
Detalhe da culatra de uma M1 de fabricação Underwood

O  Exército  Americano  ainda  utilizou  as  M1  e  M2  na  guerra  da  Coréia  mas  em  bem  menor  escala,  e  também  equipou
algumas de suas unidades nos primeiros anos da guerra do Vietnã. Aliás, rapidamente, foi percebido nesses últimos teatros
de operações as vantagens da carabina, no que se referia à leveza e tamanho, muito mais apropriadas para a guerra na selva
do que um fuzil de tamanho padrão como era o Garand. Entretanto, além de já contar com os M14, mais curtos que o fuzil
M1 e já sendo introduzidos os novos M16, a carabina M1 não teve quase nenhuma participação naquele conflito. Após as
guerras, a Winchester e a Inland continuaram com a produção endereçada às vendas para o mercado civil norte‑americano,
que aliás foram muito boas. Ainda hoje existem fabricantes norte‑americanos dessa arma, como a Auto Ordnance, a antiga
fabricante das sub‑metralhadoras Thompson. Em sua fábrica de Worcester, MA, produzem uma cópia fiel da carabina M1
em tres variações, uma delas com coronha dobrável.

Vista explodida da U.S. M1 Carbine .30M1 – um projeto eficiente, confiável e simples de manutenção

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Wri埘�en by Carlos F P Neto

01/10/2012 às 15:35

8 Respostas
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Romão, está dentro de nossos planos, em breve. Grande abraço.

Carlos F P Neto

05/11/2015 at 9:51

Ja que você fez essa ótima matéria sobre fuzis seria possível e de bom grado também fazer uma matéria sobre
metralhadoras e submetralhadoras da primeira e segunda guerras. Serei grato se fissese

romaobrzinski@outlook.com.br

04/11/2015 at 22:12

Robson, não temos conhecimento disso. Grato pelo contato.

Carlos F P Neto

07/05/2015 at 23:06

ola., vejo que vcs entendem de armas, gostaria de saber se há algum fuzil calibre 352 usado pelas forças armadas
brasileiras, se houver quais as especificaçoes. obrigado

Robson Jesus

07/05/2015 at 18:01

Mateus, realmente o AVT soviético foi produzido no arsenal de Tula em 1943, mas não chegou a ser distribuído às tropas
em grande quantidade. Grato pelo depoimento e um abraço.

Carlos F P Neto

03/12/2013 at 19:43

Acho que os russos tinham um modelo automático da svt‑40,o nome era avt‑40. E o interessante é que ainda no final da
segunda guerra, os alemães ainda usavam o gewehr 71,mas esses eram usados pelos volkssturm.

Mateus Fontenelle

03/12/2013 at 12:15

Mateus, realmente os japoneses desenvolveram um fuzil similar ao Garand, o Tipo 4 e depois o Tipo 5. Interessante que,
tecnicamente, havia um ponto que era até melhor do que o Garand. O carregador era integral, municiado com dois clipes
sucessivos de 5 cartuchos, os mesmos clipes do tipo Mauser que eram usados no Arisaka. Porém, não tiveram tempo de
solucionar os problemas durante os testes.

Carlos F P Neto

29/11/2013 at 16:37

Pelo que eu me lembro os japoneses tinham um projeto de uma arma que seria semelhante ao m1 garand, na verdade era
uma cópia dela.Seu nome é fuzil tipo 4 ou 5 pelo que eu tinha visto.

Mateus Fontenelle

29/11/2013 at 12:45

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