Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Seu Portal sobre Armas, Tiro e Colecionismo na WEB
O Calibre 8mm Mauser (7,92×57)
with 16 comments
Nenhum calibre com designação métrica é responsável por mais confusão do que o denominado de
8mm Mauser. Apesar de que 8mm é uma denominação que abrange uma grande família de
cartuchos europeus, sua simples menção nos remete, incondicionalmente, ao cartucho 8X57mm
Mauser, militarmente utilizado pela Alemanha nas duas Grandes Guerras. Este cartucho, que
recebeu a nomenclatura oficial de Patronen 7,92X57 JS, é a maior causa da desinformação existente
com relação a essa medida.
Ele foi oficialmente adotado pela Comissão do Exército Imperial Alemão por volta de 1888, quando o
fuzil “híbrido” Mannlicher‑Mauser, modelo 1888 (veja nosso artigo aqui, em Armas on‑Line), se
tornou o fuzil oficialmente adotado pela Alemanha com a denominação oficial de “Gewehr 1888 kal.
7,9X57mm J”. O diâmetro original do projétil era de .318 centésimos de polegada, equivalente à
8,077mm e a letra “J”, que em alemão equivale à nossa letra “I”, significava “Infanterie” (Infantaria).
Alguns autores afirmam que o desenho básico do cartucho foi inspirado no calibre 7,5mm Suíço, sem
culote (rimless), utilizado nos fuzis Schmidt‑Rubin.
O Fuzil da Comissão Alemã (German Comission Rifle), Gewehr 1888, fabricação Ludwig Loewe, a arma que
lançou o calibre 8mm Mauser. (foto do autor, coleção particular)
Porém, o 7,9X57 J não tem o mérito de ter sido o primeiro cartucho de fuzil militar a ser empregado
nesta medida. Os créditos vão para os franceses, que em 1886 adotaram o cartucho Lebel 8X50mm R,
provavelmente o primeiro cartucho militar do mundo, para fuzis, utilizando pólvora sem fumaça
(figura 1). Esse novo propelente foi desenvolvido pelo químico Paul Vielle, que o denominou de
“Poudre B”. Além da presença mínima de fumaça, esse tipo de pólvora deixava bem menos resíduos
no interior do cano e era muito pouco corrosiva. Essa inovação desencadeou uma tendência mundial
em se adotar calibres com diâmetros menores, de maior velocidade e utilizando‑se da pólvora sem
fumaça. Lembramos aqui que, até a adoção do 7,9X57J, a Alemanha utilizava o calibre 11mm Mauser,
oficialmente chamado de 11X60mm R, em seus fuzis Mauser 1871/84 e ainda carregados com pólvora
negra.
Porém, o cartucho francês diferia bastante de seu atual concorrente alemão, pelo fato de possuir
Porém, o cartucho francês diferia bastante de seu atual concorrente alemão, pelo fato de possuir
culote (rimmed), ser mais curto e mais cônico, com um projétil de .323” (8,204mm) de diâmetro. Esse
desenho, quando utilizado em um carregador vertical, ocasionava uma curvatura acentuada e
dificultava o desenvolvimento de carregadores maiores. Mas ele também foi o pioneiro na utilização
de projéteis tipo “spi␌�er” (pontiagudos), ao qual deram o nome de “balle D”.
Figura 1: O clipe metálico do Fuzil e das Carabinas Berthier cal. 8mm Lebel,
mod.1916, e seus cinco cartuchos com projéteis pontiagudos. Note a curvatura
do carregador em virtude do formato cônico do cartucho.
Esse clipe permanecia na arma até o último cartucho quando então se soltava através de uma
abertura inferior. Na verdade, o clipe fazia parte do magazine. Não durou muito tempo para que
percebessem que esse detalhe seria uma das grandes desvantagens dessa arma, pois a mesma não
poderia ser utilizada sem os clipes, o que não ocorria com os modelos da Mauser que a sucederam, a
não ser que fosse municiada com um cartucho por vez.
No projeto inicial do cartucho, a pólvora empregada nesses novos cartuchos era a Ro�weil 91/93,
formulação que, depois de algum tempo, deixou patente características negativas como ocasionar
corrosão acentuada e rápida nos canos dos fuzis G’88.
Mas, falamos mais sobre esse fuzil, em outro artigo aqui no nosso site, pois ele bem que merece um
capítulo à parte. Dez anos se passaram para que a mesma Comissão Alemã resolvesse adotar uma
nova arma para uso do exército, dessa vez desenvolvida por Paul Mauser, da Waffenfabrik Mauser
AG, de Oberndorf: o fuzil Mauser mod. 1898. Inicialmente, por questões de praticidade e
conveniência, o mesmo cartucho do mod. 88 foi mantido.
Porém, em 1905, aquela Comissão resolveu modificar o cartucho para utilizar um projétil “spi␌�er”,
com diâmetro de .323” ao invés dos .318” originais. Esse “novo” cartucho ganhou então a
denominação oficial de 7,9X57mm JS. A razão pela qual não se manteve o mesmo diâmetro, mesmo
com o uso de projétil pontiagudo, ainda hoje é um mistério. Na época, essa mudança foi encarada
como uma reação alemã ao projeto do 8mm Lebel. Balisticamente o cartucho alemão já era, em
muitos aspectos, superior ao francês, tanto em velocidade como em alcance, precisão e potência.
Figura 2: O clipe metálico do Fuzil mod. 88 e seus cinco cartuchos 7,9X57J, com projéteis “rounded” de .318”
de diâmetro.
A aparência “moderna” e as características de
desempenho desse cartucho atingiram em
cheio a mente de atiradores e caçadores,
criando um verdadeiro furor entre eles, bem
como nos fabricantes de rifles esportivos.
Conseqüentemente, uma versão “rimmed” foi
prontamente desenvolvida para uso em rifles
de dois canos (“Double Rifles”) e também nos
combinados, especialmente as do tipo “drilling” (um cano raiado sobreposto por dois canos de alma
lisa). Esportivamente, esses cartuchos – “rimmed” ou não – ganharam a denominação mais simples
de 8X57mm JR e de 8X57mm JS, respectivamente, praticamente não havendo diferença balística entre
esses dois e seu similar militar.
Entretanto, essa pequena modificação de diâmetro do projétil foi mais além das conseqüências
imaginadas pela Comissão. Os atiradores esportivos e caçadores, proprietários de rifles e carabinas
derivadas do modelo 88, foram advertidos quanto ao risco de utilizarem a nova munição em suas
armas. Como a quantidade utilizada de modelos 88 ainda era muito grande no Exército, alguns
arsenais procederam a uma alteração nas câmaras, para que se adequassem ao novo cartucho; uma
letra “S” passou a ser estampada sobre a câmara desses rifles para diferenciá‑los dos originais.
Quando a Alemanha adotou o modelo ‘98, haviam em estoque milhões de cartuchos com projéteis
“rounded” de .318”. Porém, verificou‑se que pela pouca diferença de medida (cerca de 0,13mm) e a
própria tolerância de fabricação dos canos, os novos Mausers ’98 poderiam utilizar a munição antiga,
sem problemas maiores. O inverso, entretanto, continuava não sendo aconselhável.
Lado a lado os cartuchos 7,92mmX57J, com projétil de .318″ de diâmetro e o mais recente 7,92mmX57JS, com
projétil de .323″ de diâmetro.
Para contornar o problema, muitos fuzis e rifles de dois canos foram fabricados de acordo com o
diâmetro de .321”, medida essa que facilitava o uso dos dois tipos de munição. Além disso, a
conversão feita nos Gew’ ’88 pelos arsenais alemães possibilitou que milhares destas armas
continuassem a ser utilizadas, principalmente em tropas de segunda linha e nas forças coloniais.
Militarmente, desencadeou‑se uma verdadeira corrida atrás de mais velocidade e maior precisão em
calibres de fuzis, sendo que os Estados Unidos começaram a trabalhar na substituição de seu .30‑40
Krag por um cartucho mais rápido, primeiro com o advento do .30‑03 em 1903, rápidamente
substituído por sua versão aperfeiçoada em 1906, o famoso .30‑06.
A Inglaterra, como de praxe, já utilizava o calibre .303 em seus fuzis S.M.L.E., os Lee‑Enfield, cujo
cartucho já atingia a velocidade de 2.440 pés/segundo, cerca de 740 m/s. Para os técnicos britânicos,
isso era mais do que suficiente para uso em combate. Além disso, a ação de ferrolho dos Enfield não
permitia mais um acréscimo substancial de energia no cartucho, apesar dela ser mais que
suficientemente segura para o .303.
(Foto) Da esquerda para a direita: 8X57 JR (rimmed) da RWS, um 8X57 semi encamisada, 8X57de fabricação
norte americana Remington, um 7,9X57JS militar de 1944 (.323″) e um 7,9X57J (.318”). Note o quarto
cartucho, feito em aço, de 1944.
Ao final dessa contenda, o cartucho campeão com projétil de maior velocidade não acabou ficando
entre os países considerados potências militares e sim, no nosso Brasil, quando o país adotou o
calibre 7X57mm Mauser, em 1908, com seus 900 m/s de velocidade (2.970 pés/seg), justamente em
substituição ao uso do 8X57R nos Gewehr ’88, utilizados aqui .
O calibre com medida de 8mm, seja ele o
substituição ao uso do 8X57R nos Gewehr ’88, utilizados aqui .
O calibre com medida de 8mm, seja ele o
cartucho Mauser ou não, tornou‑se muito
popular na Europa no pós Primeira Guerra.
Países como Áustria, Suécia, Dinamarca e
Alemanha, através de suas inúmeras fábricas,
projetaram uma grande gama de cartuchos
civis, a maior parte deles caindo no
esquecimento após algumas décadas, como
acabou acontecendo com o 8X60 RS Mauser,
8X58 R Krag, 8X56 Steyr Mannlicher, 8X64
Brenneke, 8X58 Sauer, 8X63 Sueco, e muitos
outros, cuja lista completa preencheria aqui
várias linhas.
Os mesmos cartuchos acima, na mesma ordem, exibindo suas inscrições.
O mais importante de tudo é que, mesmo tendo nascido no término do século XIX, hoje com quase
120 anos de idade, o calibre 8mm tornou‑se um dos mais utilizados mundialmente, seja militar ou
esportivamente, gerando enorme quantidade de outros excelentes cartuchos, utilizados em armas
igualmente excelentes.
Wri�en by Carlos F P Neto
05/08/2009 às 17:08
16 Respostas
Subscribe to comments with RSS.
Kaleb, nenhuma outra, só mesmo cartchos para o calibre original da arma.
Carlos F P Neto
19/03/2016 at 23:34
tenho um mauser 7,92 qual outra munição moderna posso colocar nele, pois ta raro de achar a
munição propria dele, tenho varias da segunda guerra mundial de onde meu avô trouce ele, mas
tenho que recarrega‑las para usar, pois raramente encontro.
mustafah kaleb
mustafah kaleb
19/03/2016 at 22:37
Jefferson, não são. Ambos foram desenvolvidos para o fuzil Mauser, o primeiro tem projétil de
7mm de diâmetro e o outro, 8mm. Os estojos possuem ambos 57mm de altura, porém a altura e
inclinação dos “ombros” não são as mesmas.
Carlos F P Neto
18/08/2014 at 17:40
o calibre 7×57 é o mesmo que o 8×57?
jefferson
17/08/2014 at 21:35
Flávio, essa munição não está mais em produção no Brasil.
Carlos F P Neto
14/03/2014 at 22:49
tenho uma carabina da cbc cal 310, e não consigo munições para ela. como fazer para adquirir
flavio
14/03/2014 at 18:27
Maurício, sem foto do mesmo e suas medidas, principalmente altura total e diâmetro do projétil,
não tem como.
Carlos F P Neto
24/01/2013 at 13:46
Bom dia
Achei um cartucho com as inscrições F O I * 3 *
Tem como identificar o origem? Obrigado
Mauricio
24/01/2013 at 10:48
Paulo Sérgio, sim, realmente a CBC fabricou espingardas neste calibre denominado de 8mm
Brazilian Velox, também chamado de .310 Remington Skeet, hoje obsoleto e não mais fabricado.
Carlos F P Neto
18/01/2013 at 17:05
Sr Carlos , aqui no Brasil foi ou é fabricada alguma arma no cal.8mm ? Encontrei uma da CBC
com essa inscrição e cujo cartucho .22 fica folgado .O proprietário me disse que além de ser 8mm
também é de fogo circular como a .22 .Procede esta informação ou se trata de alguma adaptação?
Forte abraço
paulo sergio fiore
paulo sergio fiore
17/01/2013 at 23:53
Augusto, catálogos são normalmente fornecidos pelos fabricantes e será necessário entrar em
contato com eles, procurando os endereços na WEB. Grato pelo contato.
Carlos F P Neto
05/01/2013 at 17:20
caro amigo,
Sou um mero vspp por natureza, e também um mendigo quando o assunto é armas de fogo.
busco não somente está atualizado quanto as armar atuais e seu site momentaneamente saciou
minha fome de conhecimento por armas antiga. Porém, gostaria de saber como consigo catalogo
mais especifico sobre as armas, antiga ou atuais
augusto
05/01/2013 at 15:33
O cartucho 8mm Mauser não é obsoleto; ainda é fabricado tanto nos EUA como na Europa. No
caso específico deste fuzil, a produção pela Loewe se encerrou em 1896 e não possuo dados sobre
a produção na Steyr. Aqui no Brasil creio ser difícil convencer o DFPC de que essa arma é
obsoleta; de qualquer modo, seria necessário ter o CR de colecionador mesmo que fosse
considerado obsoleto, onde a arma não precisa ser registrada e sim, somente apostilada.
Carlos F P Neto
02/10/2012 at 16:30
Por ser um calibre onde no mercado nacional ou internacional não encontra munição, é
considerado obsoleto? Qual a última fabricação deste fuzil? É necessário ter registro no exercito
para quem é colecionador?
Mário Sérgio Galles
02/10/2012 at 10:06
Prezado Levy, muito interessante seus comentários e muito obrigado pela colaboração tão bem
enunciada.
Carlos F P Neto
02/05/2012 at 12:44
Prezado sr. Carlos.
Possivel razão para aumento do diâmetro externo do projetil JS 8mm Mauser:
O então novo projétil bi‑ogival JS (154 grain) tinha 35% da área de abraçamento do projétil J (227
grain, ogival) e foi necessario aumentar o seu diâmetro para dar um engrasamento melhor
(aumentar a altura do sulco produzido pelo raiamento no projétil, ou seja, aumentar a altura das
raias) para estabiliza‑lo adequadamente. Há notícias de que as tentativas de projétil JS com o
diâmetro igual ao do J (8.08 mm/.318″) não foram bem sucedidos.
Não poderiam resolver simplesmente diminuindo o diâmetro das brocas (que correspondem ao
alto das raias), pois isso resultaria em superpressão se empregassem cartuchos J em canos assim
alto das raias), pois isso resultaria em superpressão se empregassem cartuchos J em canos assim
feitos.
Ao aumentar o diâmetro do JS para 8,204 (.323″), pode‑se dispara‑lo seguramente nos antigos
fuzis J Gew.98 (militares) somente aumentando o freebore (espaço na câmara que o projétil
percorre, no disparo, antes de tocar nas raias), operação relativamente simples, já que re‑raia‑los
seria praticamente impóssível.
Ao desenvolverem o novo projétil JS optaram, possivelmente por essas razões, por não modificar
as máquinas para furar os canos, mantendo o diâmetro nominal de 7,92 mm nas brocas de furação
(bore diâmeter) nos canos padrão JS. Apenas os botões das máquinas de raiar tiveram seus
diâmetros adequadamente aumentados (diâmetro do fundo das raias) para produzirem canos JS.
Enfim, os responsáveis pelo desenvolvimento do cartucho com projétil JS conseguiram uma
solução de compromisso relativamente simples para adota‑lo com sucesso.
O mesmo ocorreu com o nosso 7mm Mauser, havendo cartuchos com projéteis J (ogival) e JS
quando necessitou‑se adequa‑lo ao projétil bi‑ogival com cauda de bote, cujo arrasto menor dava‑
lhe alcance útil muito maior.
Levy Pereira
01/05/2012 at 23:09