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ENTENDENDO A DINÂMICA E

AJUSTANDO O TREINAMENTO
RODRIGO WILSON
MELO DE SOUZA
COORDENADOR GERAL DE PLANEJAMENTO E
OPERAÇÕES DA FORÇA NACIONAL DE
SEGURANÇA PÚBLICA
A máxima escrita ao lado, muito
presente no meio policial, apesar de sua
Você lutará da maneira
autoria e origem serem desconhecidas, como treinou, portanto
expressa o que é necessário para o treine da maneira como
adequado treinamento de tiro policial. pensa em lutar
Infelizmente, a maioria dos treinamentos
policiais que ocorrem no Brasil é
direcionado para o “como deveria ser” ao
invés de “como acontece ou pode
acontecer”.

Essência primária da sobrevivência policial:


treinar alinhado com a realidade que irá encontrar
nas ruas e de acordo com a sua rotina

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Além de uma adequada capacitação técnica, há outros
fatores inerentes à preparação do policial que serão
imprescindíveis para a sua sobrevivência aos confrontos
armados, mas que são muito negligenciados nos
treinamentos policiais no Brasil.São eles:

Condição Resposta Adequação


Psicológica Fisiológica de Cenários
É necessário conhecer a Como reage o Treinar nos piores
fundo como raciocinam as organismo de uma cenários que um
pessoas “sob fogo”, ou seja, pessoa sob intenso policial pode
quais são as alterações e estresse nas situações realmente
influências psicológicas que de alto risco ou morte encontrar,
podem ser constatadas nas iminente. Quais serão simulando da
situações de confronto. as mudanças forma mais
fisiológicas autônomas realista possível as
que se processam no situações de
policial e que são confronto.
essenciais para o
desenvolvimento dos
treinamentos mais
realistas.

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Condição ideal do treinamento policial

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As reações que uma pessoa
experimenta ao se deparar com uma
ameaça iminente e súbita são
completamente autônomas. A resposta a
essa ameaça normalmente será de
enfrentamento (luta) ou de fuga, e isso
ocorre em razão das reações químicas que
se processam no interior do organismo A regra fundamental da
como um reflexo ao medo, sendo sobrevivência policial:
caracterizados pela diminuição das mantenha as coisas simples!
habilidades motoras, confusão mental,
alterações auditivas e visuais e aceleração
dos batimentos cardíacos.

Quando um policial se encontra em


um estado de extremo alerta, ao se
deparar com uma ocorrência de confronto
Sucesso na sobrevivência
armado, perderá a habilidade motora fina,
onde a destreza digital (dedos) ficará
seriamente afetada. Isto significa que ele
necessitará realizar todas as suas ações de
manejo da arma com movimentos
“grandes” e simples. Então, evite a
complexidade de movimentos em seus
treinamentos.

Pergunto: em situações de
confronto imediato, como se sairá o
Simplicidade de movimentos
policial que deve abrir vários dispositivos
de segurança antes de deixar a sua arma
em condições de disparo? Qual será o
desempenho do policial que terá que
desativar a minúscula tecla da trava de sua
arma antes do disparo?.

O reflexo de luta/fuga entrará em


curto-circuito com o treinamento se não
se treina com estes efeitos em foco.

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Nas situações de confronto armado, o policial pode sentir dificuldade para tomar decisões críticas e
uma certa incapacidade de manter o foco mental enquanto o seu cérebro estiver em
hipervelocidade. A capacidade intelectual para analisar situações ficará comprometida sendo
necessário recorrer às respostas condicionadas. O principal objetivo de qualquer programa de
treinamento deve se direcionar para que estas respostas condicionadas sejam as mais adequadas.
Em um tiroteio não haverá tempo para um “debate” mental entre o que está condicionado, por
ser fisiologicamente mais natural, e o que foi treinado. Em suma, o treinamento de tiro policial
deve capacitar o cérebro do policial para, em situações de elevado estresse por ocasião de um
confronto armado, considerar quando disparar ao invés de como disparar.

Dentre as diversas alterações fisiológicas que um policial poderá estar passivo quando envolvido
em um confronto armado (além da perda da habilidade motora fina), alguns são mais
característicos e frequentes, sendo as alterações visuais as que merecem maior atenção quando
da necessidade de se adaptar os treinamentos:

Interferências Alteração na
Visuais Acuidade Acústica
A atenção do policial estará atraída As percepções acústicas costumam ficar
diretamente para a origem da ameaça, e tudo o mais severamente alteradas, podendo ocorrer o bloqueio de
que estiver localizado fora desta “linha de visão” alguns sons mais altos e o destaque para outros menos
passará despercebido. Muitos instrutores chamam significantes. É muito comum relatos de policiais que,
esta alteração fisiológica de “visão em túnel”. Essa durante tiroteios, deixaram de ouvir os apelos e
excessiva focalização da ameaça, com a diminuição orientações dos companheiros.
da capacidade de visão periférica, é decorrente da
dilatação das pupilas, que é uma alteração fisiológica
que se processa de forma autônoma nas situações
de estresse agudo por ocasião dos confrontos
armados. Esta condição visual também impossibilita
que o policial consiga visualizar com nitidez as miras
da arma, por isso a necessidade de diminuir a
importância que os instrutores dispensam aos
alinhamentos de miras. Um policial deve ser capaz de
apresentar uma boa qualidade de tiro disparando
exclusivamente com os dois olhos abertos e o foco
no alvo.

Estado de Excitação Hipervelocidade


Geral Cerebral
Aumento na velocidade dos batimentos Ocasionará distorções de tempo e distância. É
cardíacos, aceleração da frequência respiratória, comum ouvir policiais relatarem que o tiroteio durou
sudorese, tremores musculares e dormência nas vários minutos quando na realidade não passou de
extremidades dos membros (dedos). poucos segundos.

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Os instrutores de tiro policial devem entender a fundo estes sintomas de estresse de confronto
para que tenham reais condições de direcionar treinamentos mais adequados e conectados com a
realidade das ruas, e não só a realidade dos estandes. Devem buscar minimizar a vulnerabilidade
dos policiais a estes efeitos de alerta mantendo as coisas simples, uniformizando as práticas de
manejo das armas e estabelecendo respostas condicionadas confiáveis.

Ao contrário do que acontece nos EUA, onde o FBI mantém os dados estatísticos de todos os
confrontos policiais ocorridos em território americano nas últimas décadas, aqui no Brasil não
temos qualquer informação estatística sobre os confrontos policiais, tornando impossível um
melhor direcionamento dos treinamentos e destacando, em consequência, a importância de
instrutores com experiências de confrontos reais. Os instrutores de tiro policial jamais poderão
confundir as metodologias próprias desta disciplina com as do tiro esportivo; seus objetivos são
completamente distintos.

Considerando que aqui no Brasil não temos dados confiáveis sobre os confrontos armados
policiais, usarei as informações americanas para elencar as principais características destes
confrontos:

Mais de 80% dos Os tiroteios tendem a ser A maioria dos tiroteios Aproximadamente 70%
confrontos ocorrem em curtos e violentos. A envolvem suspeitos em dos confrontos ocorrem
distâncias inferiores a 7 maioria ocorre em apenas movimento. O policial em ambientes com pouca
metros; destas, mais de poucos segundos. Por isso deve aliar velocidade e iluminação. Lembre-se de
50% ocorrem a menos de dispare de forma rápida e precisão nos seus treinar adequadamente
2 metros. Nestas com precisão. disparos e buscar com baixa luminosidade,
situações serve o alternativas de pois as dificuldades de
conselho do renomado treinamento àquela manter a qualidade de tiro
instrutor de tiro policial velha fórmula de alvo nesta situações é
americano Gabriel Suarez: parado comum nos bastante alta. Aprenda a
“você deve aumentar a estandes. conciliar a utilização da
sua distância em relação Raramente os marginais arma e da lanterna.
à ameaça e minimizar sua agem sozinhos.
exposição a esta; quanto Aprender a coordenar
maior for a distância, uma reação eficiente
maior será a vantagem nestas situações, com a
para o atirador consciência da
especializado; qualquer importância tática de se
um pode ter sorte em movimentar
uma distância de 5 pés adequadamente, deve
(1,52 metros) mas a sorte ser uma constante nos
é um dos fatores treinamentos.
incontroláveis em um 8

combate”.
Precisamos lutar para que se assentem
bases doutrinárias de treinamento,
unificando critérios e modernizando as
técnicas e táticas, para tornar os agentes
de segurança pública profissionais mais
seguros no emprego das armas de fogo.
Reciclar devidamente os muitos
instrutores é essencial, mas só isto não é
suficiente, temos que evitar as arcaicas
instruções que se apresentam
impossíveis de realizar em situação real
de enfrentamento e que só são eficientes
nos estandes de tiro e a distâncias que
não se assemelham à dos
enfrentamentos reais.

Temos que desterrar os velhos medos e


mitos que “assombram” a imensa
maioria dos instrutores policiais, esses
mitos e lendas urbanas que são
transmitidas ao longo dos tempos de
instrutor para alunos. Também devem
ser esquecidos os ensinamentos de
muitas posições ou técnicas que não
guardam umas com as outras a mínima
semelhança e que forçam o aluno a
aprender vários nomes de técnicas e, por
sua vez, inúmeras formas de proceder.

O segredo em um novo método de


treinamento está em defender técnicas
simples, que se adaptem a diferentes
situações e que sejam adotadas de forma
natural, além de permitirem uma fácil
transição de uma para a outra, de acordo
com a distância do agressor, o ambiente,
etc. O objetivo final desta metodologia
estará em permitir que o policial, em
situações de máximo estresse, em
confrontos reais, possa se sobressair com
mais facilidade, mesmo que tenha tido
apenas o treinamento básico.
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EXPERIÊNCIA DO AUTOR COMO INSTRUTOR
Material teórico que é
Armamento e Tiro - 1994
parte integrante do
CFAP - Curso de Formação de Soldados de Fileiras livro Sobrevivência
Armamento e Tiro Policial – 1995 a 1997
Policial, de autoria do
APMGEF - Curso de Formação de Oficiais TC PM/FN Rodrigo
Pistola Tática/Tiro sob Estresse – 2003 a 2006
Wilson Melo de
Casa Militar - Curso de Proteção de Autoridades e Souza, que será
Dignitários
publicado em breve.
Armamento e Tiro Policial - 2007
Curso de Formação de Soldados de Fileiras

Manuseio e Condução de Armas Longas - 2008


5º Estágio de Rádio-Patrulhamento e Abordagens Policiais
Táticas

Escolta e Guarda - 2008


3º Curso de Operações de Choque

Segurança e Proteção de Dignitários - 2008


Curso de Formação de Guardas Municipais de Maracanaú Permitida a reprodução parcial
ou a difusão do arquivo digital
Gestão de Eventos Críticos – 2009 e 2012 nas redes sociais, desde que
Curso de Formação Profissional da PMCE citada a fonte.
Tiro Policial Defensivo – 2009 a 2018
Curso de Formação Profissional da PMCE

Tiro Policial – 1994 a 2017


Instrutor de diversos cursos e treinamentos em várias
Unidades da PMCE (PRE, 4ª CPG, 6º BPM, BPChoque, CPM,
etc)

Sobrevivência Policial
Inúmeros treinamentos realizados para efetivos policiais
diversos.

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