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O USO DA LANTERNA TÁTICA NA INTERVENÇÃO POLICIAL ARMADA

Daniel Marobin1
Ailton Pereira Azevedo2

RESUMO: O presente artigo traz uma análise e elenca as principais técnicas, táticas
e princípios consagrados pela doutrina nacional e internacional relativamente a
atuação policial de caráter geral com o uso de lanterna em ambientes de baixa
luminosidade; apresenta princípios da intervenção policial; noções sobre
luminosidade e funcionamento da visão humana; características de uma lanterna
tática policial não integrada ao armamento para uso em atividades de segurança
pública ordinárias, além de considerações importantes sobre baterias. Através de um
rol de técnicas, táticas e princípios, o artigo invoca uma reflexão sobre o emprego da
lanterna nas situações de intervenção armada em ambientes urbanos de baixa
luminosidade durante o exercício das funções policiais genéricas. Por sua vez, as
noções sobre luminosidade, somadas a uma clara apresentação das principais
características a serem observadas nas lanternas táticas de uso policial visam
propiciar ao profissional de segurança pública uma correta escolha dos equipamentos
que mais atendam as demandas decorrentes de uma simples intervenção havida em
situações de pouca luz. O conhecimento produzido, além de ser um ponto de partida
para estudos adicionais, propicia a construção de referencial teórico básico para
policiais e instrutores de tiro policial, além de apresentar especificações técnicas para
aquisição pessoal e institucional do equipamento.

Palavras-chave: Táticas, técnicas e princípios. Intervenção policial armada. Lanterna


tática policial. Baixa luminosidade. Referencial teórico instrutores de tiro.
Especificações de lanternas.
ABSTRACT
ABSTRACT: This article presents an analysis and lists the main techniques, tactics
and principles established by national and international doctrine regarding the general
police action with the use of flashlights in low light environments; presents principles
of police intervention; notions about luminosity and functioning of human vision;
features of a non-weapon police tactical flashlight for use in ordinary public safety
activities, and important battery considerations. Through a list of techniques, tactics
and principles, the article invokes a reflection on the use of the flashlight in situations
of armed intervention in low light urban environments during the exercise of generic
police functions. On the other hand, the notions about luminosity, added to a clear
presentation of the main characteristics to be observed in the tactical flashlights of
police use aim to provide the public security professional a correct choice of equipment
that best meets the demands resulting from a simple intervention in low light situations.

1 Oficial-Aluno do Curso Avançado de Administração Policial Militar (CAAPM). Graduado em Ciências


Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul em 2006. Instrutor de Uso da
Força e da Arma de Fogo pela Brigada Militar. E-mail: dmarobin@gmail.com.
2 Major do QOEM da Brigada Militar, Orientador. Mestre em Ciências Policiais pelo Instituto Superior
Polícia e Segurança Interna em 2017, Lisboa, Portugal. E-mail: pazevedo@bm.rs.gov.br
2

The knowledge produced, besides being a starting point for further studies, provides
the construction of basic theoretical framework for police officers and police shooting
instructors, as well as presenting technical specifications for personal and institutional
acquisition of the equipment.

Keywords: Tactics, techniques and principles. Armed police intervention. Tactical


police flashlight. Low light. Referential theoretical shooting instructors. Flashlights
specifications.

1 INTRODUÇÃO

As instituições policiais de segurança pública integrantes do rol taxativo


constante no Art. 144 da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988
(CRFB), tem por missão incondicional a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, o que por si só, ressaltam a importância
das ações e os riscos impostos pelo exercício da função policial diante da realidade
social brasileira que, no ano de 2017, atingiu a marca de 65.602 homicídios
intencionais, resultando em uma taxa 31,6 mortes por 100 mil habitantes, conforme
dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada3.
Somos, inevitavelmente, um país de elevados índices criminais, não apenas
relacionados aos homicídios intencionais, como também aos próprios indicativos de
violência que exigem e condicionam a atuação das forças policiais. A exemplo disso,
podemos pontuar a quantidade de ocorrências criminais registradas apenas no
Estado do Rio Grande do Sul no ano de 2019 que atingiu o número de 1.321.3534. No
mesmo período, a Brigada Militar5 atendeu 166.572 chamados de ordem criminal que
resultaram na lavratura de boletins de ocorrência, flagrantes delitos ou captura de
foragidos. Se levarmos em consideração o fato de que aproximadamente 25% dos
chamados policiais são de origem criminal – tendo por base estudos6 efetuados em
200 cidades alemãs na década de 80 – estamos diante de 666.288 intervenções
policiais gerais, incluindo-se todo o tipo de intervenção havida em um único ano.
Como veremos adiante, situações de intervenção policial em ambientes de
baixa luminosidade tendem a ocorrer em qualquer horário do dia e não apenas em

3 BRASIL, IPEA. Atlas da Violência 2019. Brasília, 2019.


4 Programa AVANTE da Brigada Militar para gestão por resultados.
5 Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul.
6 MONET, Jean-Claude. Polícias e Sociedades na Europa. São Paulo: Edusp, 2006, p. 287.
3

horários noturnos. Ambientes não expostos à luz natural como o interior de imóveis,
subsolos, túneis, interior de veículos e outros ambientes naturais ou não, cuja baixa
luminosidade possa comportar risco à atuação policial, ocorrem indistintamente
durante um único turno de serviço.
Independentemente do horário considerado, torna-se evidente e necessária a
utilização de lanternas voltadas para a atuação policial, de acordo com os objetivos
almejados em uma ação policial, podendo ser desde uma simples inspeção
documental, até a utilização do mais intenso grau do uso da força – a força letal.
A bibliografia nacional que retrata o uso de lanternas na atividade policial,
fortemente encampada também por BETINI7, indica que do conhecimento, técnica e
constante treinamento, depende o êxito e sobrevivência do policial. O
desenvolvimento preciso e aprofundado sobre o uso de lanternas táticas policiais na
atividade de policiamento é imprescindível como forma de orientação aos nossos
policiais, especificadamente quanto a técnicas e táticas de intervenção em ambientes
de baixa luminosidade, princípios e especificações técnicas de lanternas para uso
policial.
Nos tempos atuais, a Brigada Militar não possui referencial técnico de lanternas
para uso policial na atividade de segurança pública, abrindo-se uma lacuna sobre o
tema e questionamentos sobre qual ou quais entre os diversos modelos ofertados no
mercado poderiam suprir as demandas do policial militar em sua rotina no
policiamento ordinário.
A grande variedade de modelos de lanternas disponíveis para compra – a
maioria sem qualquer relevância para o uso policial –, aliado ao desconhecimento do
policial sobre qual equipamento melhor se apresenta para o seu uso diário, tendem a
levar à uma consequência desastrosa, onde policiais se utilizam de lanternas não
apropriadas e sem quaisquer atributos táticos policiais, comportando riscos à atividade
por não atenderem a finalidade esperada e, em boa parte da vezes, adquiridas a
preços exorbitantes.
A Polícia Militar do Estado do Rio Grande do Sul, através de seus
comandantes, tem empregado constante esforços no aprimoramento da gestão
estratégica institucional, desenvolvendo no campo teórico e prático, diretrizes de
orientação aos seus diversos níveis gerenciais. Uma das medidas adotadas é o

7BETINI, Eduardo Maia. Lanterna Tática: Atividade Policial em Situações de Baixa Visibilidade.
Rio de Janeiro: Impetus, 2011.
4

planejamento estratégico para o quinquênio 2019-20238, que tem como premissa a


priorização das necessidades mais importantes e a definição das metas a serem
alcançadas. Dentre as linhas estratégicas prioritárias de gestão da Brigada Militar que
podem ser destacadas em consonância aos objetivos deste artigo estão: a
maximização da segurança do policial militar e a melhoria das suas condições de
trabalho9.
Nesse aspecto, e tendo transcorrido mais de duas décadas sem a definição
institucional de uma lanterna tática policial de porte apropriado ao uso policial na
atividade de policiamento geral, bem como a superficialidade dos treinamentos
específicos para o uso de lanternas, aliados à espantosa evolução de tecnologias de
tais equipamentos e a variedade de lanternas oferecidas no mercado (a maior parte
delas oferecendo e destacando qualidades técnicas inapropriadas para o uso policial,
errôneas e inverídicas), torna-se urgente a necessidade de um referencial teórico
sobre o tema, justificando-se o presente estudo.
O método desenvolvido foi o de pesquisa bibliográfica básica, com
levantamento de fontes teóricas principalmente livros, através de uma conduta
exploratória para apropriar-se melhor do problema a fim de gerar conhecimento para
aplicação prática dirigida ao tema do artigo; dedutivo com base na generalidade da
doutrina pesquisada e de abordagem qualitativa, uma vez que as informações trazidas
pela doutrina são campo fértil para a atual pesquisa. Quanto aos objetivos, estes são
do tipo exploratório10.
A metodologia se estabeleceu através da busca, seleção e análise de doutrinas
reconhecidas no Brasil, EUA e Itália. No Brasil, foram encontrados apenas três livros11
específicos sobre a atividade policial em ambientes de baixa luminosidade, haja visto
que são escassos os autores que discorrem largamente sobre o tema. As obras
escritas por autores norte-americanos foram selecionadas entre as principais
existentes12 em pesquisas na rede mundial de computadores e o único livro italiano13

8 Conforme Portaria n.º 758/EMBM/2019, exarada pelo Exmo. Sr. Comandante Geral da Brigada Militar
e publicada no DOE-RS de 13 de novembro de 2019, pp. 65-67.
9 Conforme estratégias prioritárias n.º 04 e n.º 09 do mapa estratégico da Brigada Militar.
10 MARCONI, Marina de Andrade e LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos da Metodologia Científica.

São Paulo: Atlas, 2003, p. 182.


11 Lanterna Tática, de BETINI, Eduardo Maia; Manual de Intervenção em Baixa Luminosidade, de

TORBES, Márcio – autor gaúcho, e Baixa Luminosidade, Técnicas e Táticas, de BOLIVAR, Enio.
12 Utilizou-se a conceituada obra de STANFORD, Andy, Fight at Night, e SEEKLANDER, Michael, no

livro intitulado The Low Light Fight – Shooting, Tactics, Combatives.


13 Obra de MASSANTINI, Riccardo e ARDOVINI, Bruno, nominada “Impiego Tattico delle Torce nella

Difesa Personale con Armi Corte e Lunghe.


5

localizado para compra serviram de base teórica para o presente artigo. Valeu-se
ainda do conhecimento pessoal do pesquisador, uma vez que conta com formação
policial militar ampla e específica sobre o uso da força e da arma de fogo. Também
foram analisados na internet Artigos, resenhas, argumentações e conceitos esparsos.

2 A INTERVENÇÃO POLICIAL

A atividade policial de segurança pública tem como princípios e fundamentos o


contido nas legislações nacionais e internacionais recepcionadas, leis, instruções e
portarias, além de simples ordens internas exaradas pelos órgãos previstos na
estrutura brasileira de segurança pública. Esses princípios e fundamentos são
definidos sob o manto de um Estado democrático de Direito e regulam a conduta legal
esperada do policial.
A ação de intervenção policial, em uma análise ampla, engloba e se apropria
de parte do poder de polícia previsto no Código Tributário Nacional Brasileiro14, de
modo que resguarda ações enquanto órgão governamental organizado politicamente,
com funções precípuas voltadas para a manutenção da ordem pública. É exercida
com o uso da força quando ensejar o caso concreto.
A referência ao uso da força policial pressupõe a observância dos aspectos
técnicos trazidos pelas normas que regulam o tema em âmbito da atuação policial no
Brasil, especificadamente aqueles conceitos que são ponto central na teoria do uso
seletivo da força policial, de onde podemos colacionar os 6 níveis doutrinários de
acordo com a Secretaria Nacional de Segurança Pública (SENASP), que por sua vez
observa os padrões internacionais e serve de referência para a formação policial em
nossa país15:
a) Presença física: É a forma mais sutil da força.
b) Verbalização: Orienta a pessoa à conduta ativa ou omissão de um fazer.
c) Controles de contato ou de mãos livres: Forma física de imposição da força
legal, onde o policial atua diretamente sobre a pessoa, conduzindo-a a uma
ação de cooperação física e/ou de controle.
d) Técnicas de submissão: forma mais intensa de controle onde ocorre a

14Art. 78 do CTN.
15BETINI, Eduardo Maia; DUARTE, Claudia Tereza Sales. Curso de uso diferenciado da força. São
Paulo: Ícone Editora, 2013.
6

imposição da força sobre o administrado em decorrência de sua resistência


a ação policial.
e) Condutas defensivas: trata-se do uso de métodos menos letais diante de
uma resistência ativa também menos letal.
f) Força letal. O policial está diante de resistência letal. Nesse nível, o
ordenamento jurídico autoriza o uso da força letal em decorrência do
elevado grau de risco e ameaça injusta existente.
Assim, intervenção policial é toda circunstância em que o Estado, através da
ação física de seus agentes legalmente investidos do poder de polícia, intercede
diante de seus administrados também presentes, impondo-lhes um fazer ou deixar de
fazer alguma coisa através do uso da força legal – da mais branda à letal – e cujos
objetivos finais são a preservação da ordem pública e a salvaguarda da vida.

2.1 Intervenção policial em ambientes de baixa luminosidade

O termo intervenção policial em ambientes de baixa luminosidade e a relação


que guarda com a atividade policial tem crédito doutrinário atribuído a TORBES 16,
tanto no prefácio, quanto ao longo de sua obra utilizada como parte referencial deste
artigo.
Das 1.321.353 ocorrências policiais de toda ordem registradas no ano de 2019
no Estado do Rio Grande do Sul, 33,24% ocorreram entre as 18h e 06h17.
SEEKLANDER18 chama a atenção para um aspecto sobre o fato de que parte
da doutrina19 cita frequentemente que 80% das ocorrências policiais em que houve
confronto armado se deram em horário noturno, considerando como tal o horário
compreendido entre às 18h e às 06h. Esclarece que, independente do horário do
confronto armado, não há presunção de que o ambiente onde se deu o confronto
esteja sob baixa luminosidade. Destaca, o mesmo autor, que a visão do policial pode
encontrar mais luminosidade durante a noite em um estacionamento iluminado do que
durante uma tarde de um dia nublado. Portanto, os dados que se vinculam a faixas de

16 TORBES, Márcio. Manual de Intervenção em Baixa Luminosidade – Low Light. Porto Alegre:
Atica, 2014.
17 Programa AVANTE da Brigada Militar para gestão por resultados
18 SEEKLANDER, Michel. The Low Light Fight-Shotting, Tactis, Combatives. California, EUA:

Createspace, 2016, p. 9.
19 MASSANTINI, Ricardo e ARDOVINI, Bruno. Impiego Tattico dele Torce nella Difesa Personale

con Armi Corte e Lunghe, Viterbo, Itália: Quatrini, 2012, p. 9.


7

horários de maior incidência de infrações penais, bem como aqueles que indicam ou
não ter havido combate armado em situação de baixa luminosidade, são relativos.
TORBES20 apresenta estatísticas originadas de estudos promovidos pela
SENASP21 em que mostram que mais de 63% das ocorrências policiais de risco e em
situações de combate armado real, se deram de alguma forma sob baixa
luminosidade, sendo dessas, 21% durante o dia.
MASSANTINI e ARDOVINI22 apontam que o combate armado cuja intervenção
policial se dá em baixa luminosidade, tem início nos primeiros 02 minutos da chegada
dos agentes ao local do confronto, tempo insuficiente para que o olho humano possa
se adaptar as condições de luminosidade escassa.
Independentemente do horário em que se deram as intervenções policiais, em
quaisquer de seus graus de intensidade do uso da força legal, a análise sobre eventual
possibilidade da intervenção ocorrer sob situações de baixa luminosidade depende
diretamente do contexto em que se desenvolvem os fatos. Ainda, poderá uma mesma
intervenção fazer com que o policial se insira em um ambiente de pouca iluminação
e, imediatamente após, venha a se deparar com plena luminosidade.
A utilização de lanternas táticas policiais, cujas características e aspectos
tecnológicos dos equipamentos serão desenvolvidos adiante neste artigo, além de
não guardar relação com estatísticas ou vincular sua imprescindibilidade aos períodos
noturnos, está voltada para outras tantas aplicabilidades que vão além daquela
relativa ao confronto armado. Nesse sentido, convém compreender o efetivo
significado do termo intervenção policial aqui exposto.
Trata-se a intervenção policial muito mais do que ações de polícia de
preservação da ordem pública. Engloba toda e qualquer atuação policial em que há
presença do Estado, materializada através de seus agentes públicos, diante de seus
administrados com o intuito de exercer parcela ou a totalidade do poder de polícia. O
espectro da ação policial permeia as 24 horas do dia, independente de horários ou
existência de ambientes pouco ou mal iluminados; atinge desde a mais singela
manifestação da força legal caracterizada pela presença policial, até o emprego letal
de armas de fogo.
Dentre os resultados obtidos pelos estudos do presente artigo, destacou-se a

20 TORBES. Op. Cit., p. 50.


21 Secretaria Nacional de Segurança Pública do Brasil.
22 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 41.
8

importância de analisarmos os princípios, técnicas e táticas para o porte e uso de


lanternas na atividade policial, tendo por justificativa as variadas finalidades possíveis
da lanterna, muitos dos quais trazidos pelas bibliografias que tratam da intervenção
em locais de baixa luminosidade pesquisados neste artigo23, e outros observados em
situações práticas da atividade policial24. Serve a lanterna para:
a) Iluminação de caminhos e ambientes para a adequada movimentação do
policial ou de terceiros.
b) Comunicação através de sinais luminosos convencionados, tais como:
utilização de código Morse; navegação por coloração de luzes; sinalização
da posição do policial; direção a seguir.
c) Buscas em situações de resgate; localização de pessoas, animais ou
objetos; buscas pessoais e veiculares.
d) Identificação de locais de risco e/ou fontes de perigo e, principalmente, de
pessoas enquanto ameaças reais.
e) Controle enquanto instrumento de menor potencial ofensivo. A
luminosidade acentuada é considerada como uma das formas e intensidade
do uso da força legal, sendo suficiente para atordoamento ou incapacitação
temporária de pessoas em situações de enfrentamento.
f) Camuflagem. Técnicas de equilíbrio de luz em situações de confronto
policial, permitem camuflar o policial, possibilitando-o se locomover em
ambientes sem ter percebida sua posição exata.
g) Objeto contundente para ações sobre o indivíduo enquanto objeto de
ataque e defesa, ou diante da necessidade de rompimento de barreiras
como janelas e vidros automotivos.
Enfim, a lanterna tática policial se volta não apenas para intervenções policiais
em ambientes de baixa luminosidade. Vai além, fazendo frente a uma infinidade de
demandas de ordem geral para o pleno e seguro exercício da atividade policial.

23 BETINI, Eduardo Maia; BOLIVAR, Enio; MASSANTINI, Riccardo e ARDOVINI, Bruno; TORBES,
Marcio; SEEKLANDER, Michael e STANFORD, Andy.
24 De acordo com as experiências do autor, não apenas nas atividades de policiamento ostensivo ao

longo da carreira policial, como também durante a prática da docência na disciplina de uso da força e
da arma de fogo institucional.
9

2.2 Noções básicas de luminosidade e funcionamento da visão

Para uma compreensão básica sobre luminosidade e respectivo funcionamento


da visão humana, devemos recorrer aos vastos campos de conhecimento da física –
através da ótica – e da medicina – através da oftalmologia, onde esta traduzida a
maioria dos fenômenos relacionados a luz e as reações óticas da visão.
Conforme o conceito de espectro visível:
“Espectro visível (ou espectro óptico) é a porção do espectro eletromagnético
cuja radiação é composta por fótons capazes de sensibilizar o olho humano
de uma pessoa normal. Identifica-se a correspondente faixa de radiação por
luz visível, ou simplesmente luz.”25

A luz visível ao olho humano pertence à faixa de frequência de ondas


eletromagnéticas compreendida entre a frequência dos tons violeta – situada abaixo
da frequência das ondas ultravioletas, invisíveis ao ser humano portanto – e os tons
vermelhos – situado nas frequências acima das ondas infravermelhas, também
invisíveis à visão humana. As ondas eletromagnéticas que não pertencem ao recorte
da luz não são visíveis aos seres humanos, onde se incluem as ondas de rádio, raios
x, micro-ondas, infravermelho ou ultravioleta.
Quando conseguimos observar um objeto que não possua luz própria, nada
mais temos do que o reflexo de ondas eletromagnéticas emitidas por uma fonte de luz
– natural ou não – que o iluminou. São refletidas para o olho humano apenas as
frequências de luz não absorvidas pelo objeto iluminado. Assim, o preto não o
enxergamos, apenas o percebemos diante da existência de contraste entre objetos
que refletem frequências de ondas eletromagnéticas que nos são visíveis.
Luminosidade pode ser conceituada, por sua vez, como:
[...] a quantidade de energia que um corpo irradia em uma unidade de
tempo.26
Trata-se da capacidade que um objeto tem em emitir ou refletir ondas
eletromagnéticas visíveis. Difere do conceito de visibilidade:
Visibilidade é o parâmetro utilizado em meteorologia para indicar a medida
da distância a que um objecto ou luz pode ser claramente percebido através
do ar. O seu valor é em geral reportado nas observações meteorológicas de
superfície e boletins METAR como a distância em metros (ou milhas) a que
um objecto pode ser avistado.[1] A visibilidade meteorológica depende da
transparência do ar e afecta todas as formas de tráfego, desde o rodoviário
ao aéreo e marítimo, e muitas outras actividades que dependem da boa

25 WIKIPEDIA. Espectro visível. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Espectro_visível> Acesso


em 26 dez. 2019.
26 WIKIPEDIA. Luminosidade. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Luminosidade> Acesso em

26 dez. 2019.
10

propagação da luz através da atmosfera. O parâmetro é uma medida da


transparência da atmosfera, não variando, para as mesmas condições
atmosféricas, com a luminosidade ou com a alternância entre a noite e o dia.27

O lúmen (lm), por sua vez, é definido28 como:


[...] medida da quantidade total de luz visível emitida por uma fonte por
unidade de tempo.
[...] é a unidade de medida de fluxo luminoso. Um lúmen é o fluxo luminoso
dentro de um cone de 1 esferorradiano, emitido por um ponto luminoso
com intensidade de 1 candela (em todas as direções).

Neste artigo, usaremos lúmen como unidade de medida para definirmos os


aspectos relacionados a intensidade ou quantidade total de luz visível emitida pelas
lanternas táticas policiais, em razão de ser essa a utilizada pelos fabricantes e pela
doutrina de combate armado em ambientes de baixa luminosidade.
Note-se que o lúmen indica a quantidade de luz ou radiação eletromagnética –
luz visível – emitida por uma fonte luminosa que produza estímulo visual em todas as
direções. As coisas, quando iluminadas, refletem as ondas cujas frequências não
absorveu, tornando-se visíveis ao olho humano.
Os olhos por sua vez, são receptores das ondas visíveis e as transformam em
impulsos nervosos que serão traduzidos pelo cérebro. A percepção das cores e da
intensidade da luz estão diretamente relacionadas as duas principais células
detectoras das ondas do espectro visível29.
a) Cones: são três tipos de cones independentes entre si e responsáveis pela
detecção das cores vermelho, verde e azul. Os cones não captam
intensidade da luz, apenas as cores.
b) Bastonetes: únicos responsáveis pela visão escotópica30, atuando tão
somente sobre a intensidade da luz e sendo incapazes de mostrar a cor dos
objetos. É sobre os bastonetes que se processa o fenômeno da adaptação
da capacidade de visão em decorrência da variação abrupta da
luminosidade sobre os olhos:
O processo de tradução do sinal luminoso em um sinal nervoso é bastante
complexo e está relacionado a mudanças na conformação estrutural do

27 WIKIPEDIA. Visibilidade. Disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Visibilidade> Acesso em 26


dez. 2019.
28 WIKIPEDIA. Lúmen. Disponível em <https://en.wikipedia.org/wiki/Lumen_(unit)> Acesso em 26 dez.

2019.
29 MUNDO EDUCAÇÃO. Quais são os limites da visão humana. Disponível em
<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/quais-sao-os-limites-visao-humana.htm> Acesso em
05.01.2020.
30 Visão produzida pelo olho em condições de baixa luminosidade. Visão fotópica, por sua vez, ocorre

em situações de visão diurna.


11

pigmento presente nos bastonetes, a rodopsina. Quando excitada pela luz,


essa proteína sofre uma rápida transição de energia, que é amplificada por
algumas moléculas circundantes. A relaxação dessa molécula é, no entanto,
um processo um pouco mais lento, cuja consequência é a persistência visual:
formam-se no nosso campo de visão “fantasmas” que duram poucos
segundos quando nossos olhos são iluminados por alguma luz muito
intensa31.

As luzes vermelha, verde e azul, visam reduzir o fenômeno da sensibilidade e


adaptação da visão no escuro, desde que sejam emitidas em níveis muito baixos de
intensidade. Intensidades elevadas dessas cores irão prejudicar a visão noturna32.
Além dos fatores externos, contribuem para a capacidade de visão da pessoa,
aspectos de ordem endógena, tais como idade; consumo de medicamentos, drogas,
álcool; estado físico, incluindo-se o cansaço mental, físico, eventuais doenças; etc.
MASSANTINI e ARDOVINI explicam que a capacidade do olho humano de se
adaptar plenamente as variações de luminosidade exigem entre 30 a 45 minutos33.
Os mesmos autores fazem referência ao fato de que, em condições de baixa
luminosidade, depois de 12 minutos que nossos olhos estão se adaptando ao escuro,
eles adquirem um aumento em torno de 15% da sua capacidade. Em 30 minutos, a
capacidade aumenta outros 15% e, em 45 minutos, uma pessoa saudável chega ao
máximo da capacidade ocular adaptativa ao escuro – tempo necessário para se
proceder à regeneração da quase totalidade das moléculas de rodopsina dos
bastonetes.
É com os mesmos autores que encontramos três técnicas que podem fazer
render ao máximo a capacidade da visão humana no escuro:
a) Técnica de adaptação ao escuro: trata-se de uma técnica básica que
consiste em permanecer no ambiente sob condições de baixa luminosidade
por um período de 30 a 40 minutos, como forma de ampliação total da
capacidade de enxergar.
b) Técnica da visão descentralizada: focalizar o objeto de interesse na parte
externa do olho, a fim de usar de maneira mais intensa os bastonetes.
c) Técnica da observação apressada: consiste em rotacionar o olho entorno
ao objeto focalizado, desenhando um “8”. O objetivo é não deteriorar a

31 MUNDO EDUCAÇÃO. Quais são os limites da visão humana. Disponível em:


<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/fisica/quais-sao-os-limites-visao-humana.htm> Acesso em 26
dez. 2019.
32 KNIFFEN, Doug. Astrolights for Visual Work. Disponível em:
<http://www.astromax.org/activities/members/kniffen.htm> Acesso em 29 dez. 2019.
33 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 29.
12

rodopsina que se encontra nos bastonetes, garantindo que em poucos


segundos um maior número de bastonetes seja utilizado.
A rodopsina, fotossensível, se esvai quando submetida à luz, reiniciando o seu
processo de recuperação novamente. Importante destacar que a vitamina A tem
participação ativa no ciclo visual, atuando nos bastonetes e na formação da
rodopsina34.

2.3 Aspectos técnicos e táticos em ambientes urbanos de baixa luminosidade

O presente item busca analisar alguns dos principais aspectos técnicos –


enquanto conjunto de conhecimentos e habilidades – e táticos – enquanto maneiras
de se empregar a técnica de acordo com a situação apresentada – em ambientes
urbanos, onde, inevitavelmente, muitas das intervenções policiais ocorrem.
Deixou-se de lado questões relativas a ambientes rurais ou não urbanos, uma
vez que se ampliaria demasiadamente os temas tratados neste artigo.
A incerteza da atuação policial diante das infinitas possibilidades de
enfrentamento de risco em intervenções cotidianas faz destacar a máxima de que um
policial poderá passar muito tempo de sua vida profissional sem sequer efetuar um
único disparo de sua arma de fogo ou passar longos períodos sem se expor a
situações de elevado risco a sua vida ou integridade física. Porém, em algum
momento, incerto, ele poderá ser testado em todos os seus limites e conhecimento
que possua, tanto no ponto de vista tático, quanto em relação aos seus equipamentos
e armamentos que usa35.
Por óbvio, deve se fazer atenção ao fato de que não há treinamento plenamente
suficiente, nem técnica ou tática integralmente eficaz, que possa definir uma resposta
precisa e clara diante da infinita realidade de cenários que o policial possa se deparar
em uma intervenção. Não há uma fórmula pronta e o conhecimento prático é difícil de
ser adquirido apenas através de teorias.
Os aspectos táticos aqui elencados buscam propiciar conhecimento mínimo
que possa servir de auxílio na atuação policial, de maneira a torná-la mais eficiente e
ajudar a produzir resultados eficazes. Destaque-se o fato de que não foram

34 WIKIPEDIA. Rodopsina. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rodopsina> Acesso em 05


jan. 2020.
35 BETINI, Eduardo Maia. Op. Cit., p. 01.
13

encontrados informações que definam uma ordem básica entre os aspectos táticos,
uma vez que se aplicam de acordo com as circunstâncias surgidas durante a
intervenção.
O binômio simplicidade/velocidade36, observado durante o exercício da
atividade policial e em treinamentos efetuados, aplicado ao tiro policial e combate
armado, tem por importância servir de pressuposto a toda e qualquer situação de
intervenção policial. Vejamos a que se refere:
a) Simplicidade: entendida como a maneira mais simples e prática de se adotar
uma ação qualquer. Podemos usar a analogia de um caminho sem desvios
ou ramificações e que leva a um resultado satisfatório diante das demandas
ou exigências apresentadas ao caso concreto. No contexto da intervenção
policial em ambientes de baixa luminosidade, a lanterna deverá atender ao
princípio da simplicidade, através de um funcionamento simples e fácil, sem
grandes alternativas de intensidade de luz ou cores, modos de emprego ou
botões de acionamento. A simplicidade esta intimamente relacionada a
aptidão que a mente tem em apresentar respostas rápidas a situações
inusitadas em condições psicológicas estressoras, já que a quantidade de
informações que uma pessoa pode dispor nessas situações é limitada, e a
lanterna deve fornecer apenas o que ela precisará.
b) Velocidade: é a grandeza física que faz com que o resultado esperado seja
atingido com maior rapidez. Como exemplo podemos citar um coldre de
saque rápido para a lanterna em que o policial não perderá tempo
acessando bolsos ou buscando o equipamento em locais que o acesso não
seja imediato; ou até mesmo a posição em que a lanterna se encontra no
colete ou cinto.

2.3.1 Análise prévia do ambiente


O policial deve compreender que “muitas coisas influenciam sua orientação
durante a dinâmica do conflito, a informação que recebe justo antes de entrar numa
situação é um agente poderoso”37. É fundamental destacar a importância da análise

36 Conceito utilizado pelo autor nos treinamentos promovidos aos efetivos da Brigada Militar,
fundamentado com base nos ensinamentos coletados ao longo da atividade policial e tendo por
referência capacitações institucionais e não institucionais enquanto instrutor de tiro policial.
37 GOOD, Ken J., apud BOLIVAR, Ênio. Baixa Luminosidade: Técnicas e Táticas. 2ª Ed. Maceió:

Jaraguá, 2018, pag. 55.


14

do cenário antes de interferir nele. O planejamento prévio38 de uma ação policial é um


dos requisitos primeiros a serem observados. É justamente na primeira análise que
se obtém informações mínimas para que se pense – ou repense – a ação de
enfrentamento a ser adotada na intervenção.
Quanto melhor for a análise prévia do ambiente, melhor será a escolha do
equipamento e mais apropriado será o uso da força policial, considerando que a
minoria das intervenções policiais resulta em confronto armado.

2.3.2 Leitura do ambiente


O ambiente onde estamos ou para o qual ingressamos deve ser plenamente
conhecido em seus possíveis riscos que podem operar contra o policial durante a sua
ação. Cantos de paredes, pilares, mobiliários, são zonas de risco que devem ser
iluminadas.
Conforme já visto acima, antes de ingressar para um ambiente menos
iluminado do que aquele que nos encontramos, convém aguardar em posição
protegida por alguns segundos para que os olhos possam se adaptar à nova
intensidade de luz existente. Caso seja possível e se esteja também em ambiente
interno, pode-se escurecer o ambiente onde se encontra, desligando a luz artificial se
existente, ou fechando portas e janelas. Tal providência, além de permitir melhor
adaptação da visão, diminui a diferença da capacidade de enxergar de quem esta no
ambiente até então mais escuro para o policial.
Ingressado em um ambiente menos iluminado, devemos adotar uma posição
defensiva e devidamente protegida de eventuais ameaças. Sendo possível, o
procedimento de varredura ou fatiamento do ambiente deve ser adotado, projetando-
se a luz de maneira intermitente e em flashes rápidos para os fundos do ambiente,
priorizando-se portas e janelas, bem como móveis ou objetos que possam ocultar
ameaças. Deve-se atentar para que a iluminação cubra toda a área vasculhada,
lateralmente e do chão para o teto. Busque no ambiente sinais que possam indicar a
presença humana, ou que tenham alguma relação direta com a própria intervenção
policial. Calçados detrás de cortinas; abas de bonés em um canto da sala e na altura
média de um homem; sombras que se projetam no chão ou paredes; reflexos em
vidros, espelhos ou superfícies similares; odores e outros fatores que possam ser

38GUIMARÃES, Laerte e MOREIRA, Juceli dos Santos. Manual Básico de Policiamento Ostensivo.
Porto Alegre: Evangraf, 2001.
15

percebidos ou sentidos pelo policial.


Uma das táticas possíveis ao se ingressar em ambientes fechados e escuros
é iluminar previamente o ambiente a ser ocupado. Tal medida apontada por
TORBES39 pode ser feita antes de se ingressar para o local, lançando-se uma lanterna
de luz difusa para dentro do ambiente ou projetando-se luz para dentro da sala de um
ponto diverso daquele onde se encontra o policial.
Pode-se ainda lançar a luz diretamente para o teto, caso esse seja de cor clara
e a lanterna emita luminosidade suficiente para refletir sobre todo o cômodo.
A iluminação de ambientes pode ser, de acordo com as condições táticas
exigidas, procedida por um segundo policial, enquanto o outro atua na varredura do
local em busca de ameaças. Ambos devem estar, preferencialmente, protegidos.

2.3.3 Identificação do abordado


A identificação da pessoa abordada é o um dos principais objetivos da
abordagem policial, condição técnica prevista nos regulamentos básicos da atividade
de segurança pública40. Os cenários de intervenção policial carregam uma infinidade
de situações, dentre as quais esta a possibilidade de múltiplos atores interagirem em
um mesmo ambiente. Ainda, sombras, pilares, folhagens e móveis podem guardar
forte semelhança com a silhueta humana, ocasionando diante de fontes estressoras,
ações precipitadas do policial.
Nesse sentido, um dos usos da lanterna é possibilitar a clara e precisa
identificação da pessoa abordada. O direcionamento do feixe de luz deve ser feito
diretamente sobre a face e peito da pessoa. Tal medida tente a causar surpresa e
consequentemente incapacitação temporária do abordado, além de bloquear a visão
sobre o policial, causando uma camuflagem sobre tudo que está posicionado atrás da
fonte de luz. O foco sobre a região do peito e face também permite visualizar as mãos
e a região da cintura da pessoa submetida à ação policial.

2.3.4 Atue em zonas menos iluminadas


MASSANTINI e ARDOVINI41 definem como uma das principais táticas

39 Informação adquirida durante curso de intervenção em baixa luminosidade ministrado por Márcio
Torbes, na cidade de Portão/RS, no ano de 2019.
40 GUIMARÃES, Laerte e MOREIRA, Juceli dos Santos. Op. Cit., p. 23 e seg.
41 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 39.
16

individuais em ambientes urbanos a atuação em pontos menos iluminados, já que o


fato de permanecer em posições ou ambientes iluminados implica em riscos elevados.
O tempo em que se permanece visível é diretamente proporcional ao tempo em que
o policial se torna alvo, além de identificar a sua posição.
Uma vez no ambiente de intervenção policial, sempre que outro fator de maior
risco não esteja presente, deve-se optar por permanecer ou percorrer pontos de
menor luminosidade. A tática consiste em possibilitar redução da visibilidade perante
eventual ameaça, bem como criar proteção do tipo cobertura42. Encontrando-se em
locais menos iluminados, amplia-se a capacidade da visão reconhecer ambientes
também menos iluminados, visualiza-se melhor as ameaças e evita-se ser
visualizado.
Ao passar por portas e janelas abertas ou fechadas, como também por locais
em que ocorra projeção de luz transversal, observe com atenção a origem ou direção
da luminosidade, de modo a evitar a construção de sombras que possam denunciar a
posição ou a própria passagem do policial pelo ambiente.

2.3.5 Use luz intermitente e varie a altura


O uso da lanterna de maneira intermitente – e não no modo estroboscópico –
em breves flashes, utilizada apenas pelo tempo suficiente para visualizar o ambiente
que é iluminado, além de desorientar o adversário, evita ao máximo denunciar a
própria localização. Uma vez localizada a ameaça, a luz deve ser mantida acionada e
não mais intermitente, a fim de evitar a evasão do abordado nos intervalos de flashes.
O uso de luz intermitente tem também a finalidade de permitir que demais
policiais que se encontram no cenário da intervenção, mudem de posição sem serem
plenamente percebidos.
Por sua vez e conforme pontuado por MASSANTINI43 o uso da lanterna no
modo estroboscópico possibilita que um policial possa se mover em ambientes por
até 8 metros sem ter a sua mudança de posição identificada. O uso estroboscópico
possibilita ainda a alteração da percepção espacial e de profundidade; dificulta a
capacidade de adaptação da visão ao escuro; causa perda da visão periférica; diminui

42 Proteção do tipo cobertura é quando o policial se encontra protegido da visão do oponente ou quando
o ofensor fica impedido de agir contra o policial, como nos casos de cobertura por fogo em situações
de combate armado. A proteção do tipo cobertura não gera proteção balística. Por sua vez, as
proteções do tipo abrigo, tendem a oferecer proteção balística.
43 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 35.
17

a audição e induz o indivíduo ao medo. A utilização no modo estrobo tem melhor


empregabilidade em situações de tomadas de assalto por grupos táticos.
Outro aspecto importante, durante o uso da lanterna, consiste em variar a altura
e a posição/lateralidade de uso, com o mesmo intuito de confundir a ameaça humana.
A técnica TORBES44 trabalha em campo prático esse conjunto de aspectos do
uso intermitente da lanterna, somado a mudança de posições e altura da luz, muito
útil no cenário da abordagem policial em ambientes escuros.

2.3.6 Mude de posição


Feita a análise sobre o cenário e verificadas as condições de movimentação do
policial no local da intervenção, sempre que possível e imediatamente após a
utilização da lanterna, o policial deverá alterar a posição em que se encontra logo
após a emissão de flashes curtos de luz ou após ter sido iluminado por alguma fonte
de luz diversa. Todas as literaturas empregadas neste artigo pontuam a necessidade
de mudança de local uma vez que tenha sido identificada a posição do policial.
A técnica tem elevada significância por ocasião de deslocamentos por
corredores, espaços amplos ou em situações de deslocamento de patrulhas. Ao
emitirmos luz, inevitavelmente, acabamos por denunciar nossa posição presumida e
assim ficamos sob o risco de eventuais ameaças. Ao mudar de posição, cria-se uma
confusão espacial em quem observa, bem como se gera a incerteza sobre o exato
local onde o policial se encontra ou por qual caminho ou direção esta se
movimentando.

2.3.7 Alinhe os 3 pontos


BOLIVAR45 oferece destaque ao considerar que todas as buscas em
intervenções policiais que impliquem risco à integridade física ou à vida do policial
devem ser procedidas em constante alinhamento de 3 pontos: a visão do policial; o
aparelho de pontaria da arma e o direcionamento do feixe de luz. Com a técnica de
alinhamento, uma vez iluminada a ameaça, o policial tem sua arma e visão aptas para
o enfrentamento caso necessário.

44 A técnica TORBES tem sido desenvolvida em treinamentos armados em ambientes de baixa


luminosidade por profissionais de segurança pública, atiradores e clubes de tiro.
45 BOLIVAR, Ênio. Baixa Luminosidade: Técnicas e Táticas. 2ª Ed. Maceió: Jaraguá, 2018, p. 139.
18

2.3.8 Técnica Flash, Fire, Fly


A técnica conhecida como “3Fs” tem sido considerada eficaz por boa parte das
literaturas que tratam de temas relacionados ao combate armado, estando presente
inclusive na doutrina de STANFORD46.
O conceitual da técnica esta intimamente ligado à tática que prima pela
mudança constante de posição após ter sido emitido feixe de luz sobre determinado
local ou direção, somada ao alinhamento em 03 pontos. A técnica pode – com o intuito
de se manter a abreviatura F.F.F. – ser traduzida como “foco, fogo e fuga”47.
O conceito é simples. Deve-se buscar primeiramente o engajamento do alvo
através da visada da arma e o acionamento da lanterna com o direcionamento do
feixe de luz sobre a região torácica e face; após, efetua-se o disparo ou os disparos
da arma de fogo em resposta à ameaça letal, priorizando-se os fundamentos do tiro48
e; logo em seguida, desliga-se a lanterna e muda-se de posição, preferencialmente
para uma das lateralidades da posição onde se encontrava. O objetivo da técnica é,
além de gerar confusão mental no agressor, não permitir que ele possa efetuar a
visada sobre o policial de maneira adequada e com isso minimizar os riscos do
combate para o policial. Obtida uma nova posição, repete-se a técnica.

2.3.9 Intervenção policial diante de veículos


A intervenção policial em situações que demandam buscas ou identificação de
pessoas dentro de veículos exige a observância de alguns aspectos importantes.
O primeiro deles consiste na compreensão de que veículos sempre guardam
possibilidades de ocultação de coisas e pessoas, criminosos ou vítimas, devendo a
atuação ser feita com cautela e redobrado cuidado.
Uma vez não atendidos os comandos para desembarque dos ocupantes do
veículo, os policiais deverão, caso necessário, se aproximar para efetuar a inspeção
de eventuais fontes de perigo existentes. Partindo-se do ponto onde obrigatoriamente
estavam protegidos e procurando manter-se nessa condição, deverá ser buscada a
parte frontal do veículo preferencialmente.
O para-brisas dianteiro possui maior transparência que os demais vidros do

46
STANFORD, Andy. Fight at Night: Tools, Techniques, Tactics, and Training for Combat in Low
Light and Darkness. Colorado: Paladin Press, 1999, p. 176.
47 BETINI e DUARTE. Op. Cit., p. 95.
48 Doutrinariamente os fundamentos do tiro são 5: posição; empunhadura; visada; esmagamento do

gatilho e respiração.
19

veículo, como também se encontra em uma inclinação ou ângulo suficiente para não
oferecer reflexo direto ao feixe de luz, sendo favorável ao policial. Ao se posicionar
para inspeção através do para-brisas dianteiro, a posição ou técnica a ser adotada
será a FBI/FBI modificada, preferencialmente. A conduta de uso da técnica FBI/FBI
modificada evita que se posicione diante do veículo, reduzindo as possibilidades de
eventual ação criminosa de atropelamento.
Durante a varredura em laterais do veículo, deverá ser evitado o
direcionamento do feixe de luz de maneira perpendicular aos vidros por conta de que
os ângulos laterais são mais propícios ao reflexo de luz direta sobre o policial,
causando-lhe ofuscamento da visão.

2.4 Princípios da intervenção policial armada em baixa luminosidade

Os princípios a seguir colocados estão baseados na doutrina pesquisada e


representam regras ou aspectos de importância genérica, mas de igual ou até mesmo
maior valor do que aqueles acima tratados enquanto técnicas e táticas em situações
de baixa luminosidade. MASSANTINI e ARDOVINI49 desenvolve alguns deles como
“táticas individuais em ambiente urbano”; STANFORD50 posiciona-os dentro do
capítulo “Táticas Low-Light”; por sua vez BETINI51 enquadra alguns dos princípios
abaixo, dentre “Os dez princípios do combate em situações de baixa visibilidade”
constantes no seu livro; TORBES52 os inclui dentro do capítulo “Os 10 mandamentos
Low Light” e BOLIVAR53 refere-se a alguns deles na parte nominada como “Regras
de ouro em baixa luminosidade”.
Os conceitos que se seguem, em razão de que em não raras vezes se mesclam
entre técnicas, táticas e princípios nas obras estudadas, foram incluídos de modo a
serem considerados princípios. Tais princípios devem ser observados em toda e
qualquer situação relacionada a intervenções em ambientes em baixa luminosidade,
independentemente da técnica ou tática a ser escolhida pelo policial no caso real.
Dentre as lições do Direito ensinadas pelo administrativista CELSO ANTONIO

49 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., pp. 39-42.


50 STANFORD, Andy. Op. Cit., pp. 137-170.
51 BETINI, Eduardo Maia. Op. Cit., pp. 73-114.
52 TORBES, Marcio. Op. Cit., pp. 55-59.
53 BOLIVAR, Enio. Op. Cit., pp. 131-146.
20

BANDEIRA DE MELO54, uma delas se destaca: dizia o autor que “violar um princípio
é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer”. Assim, os princípios
elencados se erigem a fim de sustentar normas, criar técnicas, estabelecer táticas e,
ainda que possam ser por si mesmos, pertencem a um conjunto de atenções que o
policial deve observar fielmente ao tratar de intervenções em ambientes de baixa
luminosidade.

2.4.1 Treine
Em condições estressoras, nosso organismo reage em grande parte
instintivamente e busca respostas aos problemas apresentados tendo por base o
conhecimento que detém, selecionado o que mais se apropria. Há um ditado, cuja
autoria se desconhece, que aponta a relação entre o treinamento e o sucesso na
obtenção de resultados: “quanto mais se treina, mais sorte se tem”.
Como bem pontua BOLIVAR55, não há técnica ou tática voltada para a
intervenção policial em ambientes de baixa luminosidade que responda a 100% de
todas as circunstâncias possíveis, pelo simples fato de que os fatores não são sempre
iguais. E menos chances há em resultados positivos quando técnicas e táticas não
são estudadas, treinadas, questionadas e revistas em todo o espectro que guardam.
O profissional de segurança pública deve buscar conhecer e desenvolver suas
habilidades, escolher e treinar exaustivamente com o que mais se adapta, até que
possa ter confiança e o seu corpo e mente ajam quase instintivamente. O treinamento
deve sempre ser feito de igual maneira como se opera na atividade profissional, ou
seja, devidamente armado, equipado e, se for o caso, uniformizado.
Na obra alemã, traduzida pelo Centro de História Militar do Exército dos
Estados Unidos e intitulada “Night Combat”56, encontramos referências significativas
e que destacam a importância do treinamento militar em situações de combate em
baixa luminosidade:
[...] Nos combates noturnos, aquele que está condicionado à escuridão estará
em vantagem, e o treinamento deve, portanto, esforçar-se para restaurar a
sensibilidade nativa do soldado, que tem sido embotada pela vida da cidade.
Contra um oponente em potencial que possui as características inatas de um
lutador noturno difícil, implacável e astuto, o treinamento adequado é
indispensável. Os comandantes de campo alemães, com muitos anos de
experiência prática, defendem que até 50% de todo o treinamento seja

54 MELO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo, 12ª edição. São Paulo,
Malheiros, 2000, p. 748.
55 BOLIVAR. Op. Cit., p. 72.
56 United States Army. Night Combat. Washington, D.C.: Center of Military History, 1982.
21

realizado à noite, a partir do primeiro dia de treinamento básico. Na opinião


deles, não é necessário planejar um programa de treinamento noturno
específico. Eles defendem que as características mais importantes da
programação semanal de treinamento ocorram à noite e que as lições
aprendidas durante o dia sejam repetidas e estimuladas durante as horas de
escuridão. Ao mudar parte do horário regular do dia para a noite, pode-se
alcançar o duplo objetivo de endurecer o soldado e torná-lo um lutador
noturno.
[...] Seus olhos e ouvidos devem estar condicionados a uma variedade de
impressões desacostumadas.

Quando o tema da intervenção policial em situações de baixa luminosidade for


tratado, a importância do treinamento institucional deve ser levada em consideração,
fazendo-se incluir nas escolas de formação e qualificação profissional ampla parcela
de aulas à noite e em ambientes confinados, de modo a aproximar-se da mais ampla
gama de possibilidades reais de enfrentamento armado sob pouca luz.
Dentre as técnicas apresentadas pela doutrina pesquisada, algumas deixam
de ter importância além do aspecto didático e histórico, considerando-se a evolução
dos equipamentos e o equacionamento do treinamento, sendo preferidas as
seguintes:
a) Afastadas do corpo: FBI (original e modificada).
b) Indexadas ao corpo: temple-index (indexada às têmporas); neck-index
(indexada ao pescoço); chest-index (indexada ao peito).
c) Indexadas à arma: Harries (cruzamento de mãos) e Rogers ou Surefire
(empunhadura da lanterna tipo seringa).
Considerando-se a complexidade do tema, as técnicas não serão
desenvolvidas neste artigo; porém, no quadro abaixo, adaptado das lições de
SEEKLANDER57, anotamos alguns aspectos importantes quanto aos objetivos
possíveis de serem alcançados de acordo com a técnica adotada.
Quadro de análise de técnicas para uso de lanterna e arma de fogo:
Técnicas / uso favorável de acordo com o objetivo
Objetivo Indexadas Rogers /
FBI Harries
ao corpo Surefire
1. Defender o corpo ou
Sim Sim Não Não
cabeça contra ataque físico
2. Golpear ou atrapalhar
Sim Sim Não Não
sem perder a visada da arma

57 SEEKLANDER. Op. Cit., p. 16.


22

Técnicas / uso favorável de acordo com o objetivo


Objetivo Indexadas Rogers /
FBI Harries
ao corpo Surefire
3. Iluminar outros locais ou
Sim, com
pessoas, mantendo a arma Sim Não Não
limitações
direcionada para a ameaça
4. Iluminar ou fatiar estando
Não Não Sim Sim
em posição protegida
5. Utilizar a lanterna para
Sim Sim Sim Não
romper/quebrar obstáculos
6. Efetuar varredura veicular
Sim Não Não Não
diante de para-brisas
7. Estabilizar empunhadura
Não Não Sim Sim
da arma

O quadro é apenas um referencial, devendo o treinamento estabelecer as


possiblidades de variação das técnicas e qual melhor se aplica ao empego real e/ou
de treinamento.

2.4.2 Adquira equipamentos de qualidade


Considerando-se a finalidade para qual se presta, aliado ao fato de que a vida
do policial e de terceiros em uma intervenção legal esta sendo posta à prova, a opção
por equipamentos de qualidade torna-se um princípio a ser integralmente observado.
A aquisição de lanternas táticas voltadas para a atuação policial deve atender
requisitos mínimos de qualidade. Há no mercado brasileiro e internacional produtos
de baixíssima qualidade e que não atendem as exigências de emprego profissional,
que inclusive, sob a ótica tática, podem colocar em risco a própria ação policial durante
uma intervenção. As características de tais equipamentos serão analisadas mais
adiante.

2.4.3 Tenha um equipamento reserva


TORBES58 exibe a máxima de que “quem tem uma lanterna, não tem nenhuma;

58 TORBES. Op. Cit., p. 57.


23

quem tem duas, tem uma”, destacando que as infinitas variáveis que estão presentes
em toda intervenção policial, indicam a necessidade de o policial portar, além da sua
lanterna tática, um segundo equipamento, geralmente de menores dimensões e com
características semelhantes, que possa suplantar eventual necessidade de
substituição ou perda do equipamento principal, como também servir de suporte para
outro policial. Deve ser providenciado baterias sobressalentes, mantidas em local
acessível em situações de emergência.

2.4.4 Inspecione antes de avançar


Nunca avance em ambientes de baixa luminosidade sem antes inspecionar as
áreas que possam esconder ameaças ou risco durante a intervenção policial,
principalmente áreas que estejam à retaguarda. É importante destacar que eventuais
acionamentos de luz pelo policial para identificar determinadas áreas podem indicar a
sua posição e consequente motivar a agressão ou resistência de criminosos.

2.4.5 Evite a retro iluminação


Luzes à retaguarda em ambientes de baixa luminosidade geram sombras que
indicam a presença do policial, além disso destacam sua silhueta através do que
BETINI59 chama de “emolduramento”, fenômeno que denuncia a posição e tornam a
pessoa alvo fácil de eventual agressão. Ao sair de um ambiente iluminado e ingressar
por portas ou passagens para um ambiente escuro, saia imediatamente do chamado
“cone da morte”60, movimentando-se para lateralidades da abertura que não estejam
iluminadas. Uma extrema alternativa considerada de risco calculado, é emitir intensa
luz constante à frente, buscando ofuscar a ameaça e “equalizar” o emolduramento
formado.
A retro iluminação pode ocorrer também por conta de um segundo policial
desavisado que, estando em posição recuada, venha a acionar a sua lanterna. Nesse
sentido, deve ser treinado e convencionado que a utilização de luz seja procedida
apenas pelo policial que esta à frente. Luzes eventuais, como de veículos que estejam
passando pelo local, ou reflexos que possam incidir às costas do policial merecem ser
consideradas na intervenção.

59BETINI e DUARTE. Op. Cit., p. 84.


60Em situações de combate armado, o cone da morte é tido como o ambiente ou área visível aos olhos
do oponente e, geralmente, se forma como um cone de visão diante de aberturas de portas e janelas.
24

O emolduramento do policial ocorre também no chamado horizonte perigoso,


situação na qual alguém tem destacada a sua silhueta ao percorrer elevações do
terreno cujo fundo é a linha do horizonte, causando uma “quebra” dessa linha.
BETINI61 nos traz a extensão da definição, incluindo exemplos de edificações de
coloração clara que podem contrastar com as vestimentas dos policiais, tal qual ocorre
com paredes pintadas de branco por criminosos em favelas do Rio de Janeiro e São
Paulo com o propósito de identificar a ação policial. O horizonte perigoso pode se
formar também em telhados ou quaisquer outras estruturas que tenham um fundo
homogêneo que promova tal destaque/contraste.
As posições ou técnicas de uso de lanternas que se utilizem da indexação
corporal ou que não estão conjugadas à empunhadura da arma, tendem a iluminar o
corpo do policial e a criar sombras. O uso de tais técnicas, dentro do possível, devem
ter analisadas o seu risco.

2.4.6 Domine com a luz


BETINI62 conduz ao raciocínio de que as lanternas podem e devem ser
consideradas instrumentos de menor potencial ofensivo, já que possuem aptidão para
incapacitar um indivíduo sem lhe ofender a integridade física de maneira permanente
ou letal.
O lançamento de um feixe de luz de alta intensidade, considerando uma faixa
superior a 500 lúmens em um foco concentrado, sobre os olhos de uma pessoa é
suficiente para reduzir-lhe a capacidade imediata de reação durante uma intervenção
policial, confundindo-a temporariamente. Faixas de menor intensidade de luz somente
são eficazes se o indivíduo já se encontra em ambientes com pouca luz e sua visão
está razoavelmente adaptada ao escuro, ou quando se esta muito próximo da fonte
de luz.
Durante a imposição a luz sobre os olhos do abordado provoca-se nele dor e
impossibilidade de manter os olhos abertos, há um ofuscamento que impede o
agressor de se coordenar de maneira organizada, abrindo com isso uma janela de
tempo e oportunidade suficiente para o policial reagir contra a ameaça.

61 BETINI. Op. Cit., p. 40.


62 BETINI e DUARTE. Op. Cit., p. 96.
25

2.4.7 Desenvolva disciplina de som e luzes


Em situações de intervenção policial ou combate armado em ambientes de
baixa luminosidade, é conveniente nos apropriarmos da máxima proposta por
MASSANTINI63 de que quanto intervimos em ambientes hostis, “somos metade
caçadores e metade caça”. A assertiva guarda relação direta com a necessidade de
se evitar ruídos, luzes, reflexos que possam indicar a presença do policial diante do
risco iminente.
Na obra intitulada Night Combat64, temos referência especifica quanto ao tema:
[...] As distâncias são difíceis de estimar no escuro e a posição de uma luz
distante pode, portanto, ser facilmente mal avaliada. Acendendo uma
lanterna, um fósforo ou fumando um cigarro, o soldado pode trair sua
presença mesmo a uma situação bastante distante. Os sons são transmitidos
mais claramente à noite, e o aprendiz deve aprender a diferenciar entre ruídos
comuns e aqueles que devem suscitar suspeitas.

Cabem, portanto, relacionar algumas considerações sobre a disciplina de sons


e luzes:
a) O acionamento de luzes e a emissão de sons devem ser previamente
convencionados e respeitados pela equipe.
b) Telefones celulares devem ser mantidos no silencioso, ou no máximo
configurado para vibrar, e com a face da tela voltada para o corpo de modo
a evitar emissão de luz. Rádios para comunicação seguem a mesma
recomendação.
c) Sabidamente relógios de pulso emitem luz, ou pelas telas digitais ou pela
luminescência de ponteiros, e acusam a posição da pessoa. As miras auto
iluminadas de armas (v.g. miras de trítio) causam também o mesmo efeito.
d) Óculos ou lentes sem tratamento antirreflexo podem denunciar a presença.
De igual forma, joias ou objetos de acabamento metalizado e/ou espelhado.
e) Equipamentos que possam fazer ruídos quando movimentados, tais como
algemas, chaves, coldres de pernas, podem chamar a atenção durante o
deslocamento.
f) Perfumes muito fortes, dependendo da direção do vento ou de ambientes
confinados e até mesmo de uma proximidade muito pequena, podem
denunciar a presença.

63 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 39.


64 United States Army. Night Combat. Washington, D.C.: Center of Military History, 1982.
26

2.4.8 Torne-se o outro


Ao se utilizar de determinada técnica ou empregar uma estratégica específica
durante a intervenção policial em situações de baixa luminosidade, devemos pensar
o que o nosso adversário ou pessoa conflitante com a lei esta observando e quais
podem ser as suas reações diante das atitudes do profissional de segurança pública.
MASSANTINI e ARDOVINI65 destacam o fato de que ao mudarmos o ponto de
observação, propiciamos uma visão diferente e crítica sobre a intervenção. Assim, os
deslocamentos em ambientes que impõem riscos ou guardam ameaças onde não
exista iluminação suficiente para garantir uma plena análise, devem ser feitos sem
pressa, mantendo-se, sobretudo, a calma.

3 DEFINIÇÃO DE LANTERNA TÁTICA POLICIAL

A seguir serão abordados os temas relativos à constituição das lanternas


táticas policiais e suas características mais relevantes para o uso policial básico.
Com o advento dos diodos emissores de luz (sigla LED, em inglês: light-emitting
diode) de alta potência e intensidade no final dos anos 2000, as indústrias voltadas
para a fabricação de lanternas e outros equipamentos similares de iluminação móvel
tiveram um crescimento expressivo, resultando na imensa quantidade de marcas e
modelos oferecidos hoje no mercado mundial.
Um dos objetivos deste artigo é recuperar a importância do tema, servindo de
base para futuras aquisições de lanternas não apenas pelos policiais, mas
principalmente, pela própria Instituição, como forma de ampliar a capacidade de
enfrentamento à criminalidade e minimizar os riscos da profissão.
Portanto, a apresentação clara de requisitos e aspectos técnicos minimamente
aceitos para uma lanterna tática compatível para a atividade policial militar se faz
necessária.

65 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 40.


27

3.1 Características gerais

Cabe inicialmente definirmos o conceito de objeto tático:


[...] é qualquer elemento componente de uma estratégia, com a finalidade de
se atingir a meta desejada num empreendimento qualquer.66

A compreensão de que determinados objetos sofrem adjetivação em razão da


destinação ou finalidade que possuem para um determinado objetivo ou meta guarda
estreita relação com o significado que se espera de uma lanterna tática policial.
Uma lanterna tática policial somente poderá ser classificada como tal quando,
pelas suas características de constituição, atender plenamente a finalidade ou meta
desejada durante uma intervenção policial. Uma lanterna tática policial difere de uma
lanterna tática para busca e resgate enquanto atividade de defesa civil, como difere
de uma lanterna tática para mergulho, em que pese as três serem consideradas
táticas.

3.1.1 Anatomia de uma lanterna67


As lanternas táticas policiais são compostas de vários elementos e podem ser
divididas, apropriando-se das lições de MASSANTINI68, em quatro conjuntos básicos:
a) corpo: possui a finalidade de unificar todos os elementos constitutivos da
lanterna. É geralmente formado por uma liga metálica de alumínio
aeronáutico anodizado ou por polímero de alta resistência. Em suas
extremidades possui roscas para fixação da cabeça ou sino e do botão de
acionamento, além de anéis de borracha e gel de vedação para resistência
a poeiras e infiltrações líquidas.
b) Cabeça ou sino: é a parte anterior da lanterna, local onde estão dispostos a
lente ou vidro, o refletor e a fonte de luz.
c) Tampa traseira: localizado na parte posterior. É onde está alojado o botão
de acionamento.
d) Acessórios: visam aumentar a valência tática de acordo com as exigências
de operação. São: clip para fixação; filtro de luz; cone de sinalização; difusor
de luz; alça; prolongador de corpo para aumento da quantidade de baterias;

66 WIKIPEDIA. Tática. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tática> Acesso em 27 dez. 2019.


67 Tendo por base a definição trazida por MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., p. 13.
68 MASSANTINI e ARDOVINI. Op. Cit., pp. 13-17.
28

prolongador de interruptor; anéis para empunhadura tipo seringa.

3.2 Características específicas de uma lanterna profissional

O grande avanço tecnológico na produção de lanternas e outros equipamentos


de emissão de luz visível dificultou o estabelecimento e a compreensão das
especificações e características que eram divulgadas aos consumidores e
representantes comerciais por alguns fabricantes sérios. A inexistência de
informações também era um problema em alguns casos.
Foi com o intuito de estabelecer padrões de aferição das principais
especificações de lanternas que, em 2009, a American National Standards Institute –
ANSI junto com a National Electrical Manufactorers Association – NEMA e
representantes de 14 fabricantes desses equipamentos decidiram produzir uma nota
técnica que pacificasse o tema. Estas especificações e modos de medição e
representação de resultados foram reunidos no padrão ANSI/NEMA FL 1-200969.
Houve então uma adequação dos principais fabricantes ao padrão, os quais
passaram a representar as especificações técnicas de seus produtos de forma similar.
Algumas das principais especificações padronizadas pela norma são:
a) Intensidade do feixe luminoso (Peak Beam Instensity).
b) Distância de Feixe (Beam Distance).
c) Resistência a impacto (Impact Resistance).
d) Duração da bateria (Run Time).
e) Potência (Light Output).
f) Resistência a água (Water Resistance).
As informações a seguir traduzem uma referência de características ou
atributos de uma lanterna tática do tipo não dedicada ao armamento, para uso
individual e portátil junto aos demais equipamento do policial em seu cinto ou colete.
Os requisitos mínimos selecionados referem-se a uma utilização genérica e
ordinária na atividade de segurança pública, considerando-se as mais diversas
possibilidades de uso em intervenções policiais em ambientes de baixa luminosidade.

69NATIONAL ELECTRICAL MANUFACTURERS ASSOCIATION. ANSI/NEMA FL 1-2009 – Flashlight


Basic Performance Standard. Disponível em:
<remotefile.wtoqc.com/attachments/month_1205/20120516_5be102fde635e3b68e02hT0bg5EKt5w1.
pdf> Acesso em 30 dez. 2019.
29

3.2.1 Dimensões, ergonomia e portabilidade


As dimensões devem possibilitar ergonomia de uso com apenas umas das
mãos do operador, de maneira que fique confortável e permita o manuseio
conjuntamente com o armamento em situações de saneamento de panes ou
demandas similares. Dimensões de comprimento ou espessura e peso muito elevados
impedem que a mão que sustenta a lanterna possa servir para outro uso em condições
emergenciais. Dimensões demasiadamente pequenas inviabilizam uma adaptação
maior nas mãos e impedem a utilização como ferramenta de ataque ou de ruptura.
A portabilidade esperada é que seja possível fixar a lanterna no cinto ou colete
através de coldre de saque rápido apropriado e confeccionado em polímero de alta
resistência. Os clips de fixação são relevantes principalmente para lanternas menores
e de backup, recomendando-se em ambos casos clip em “S”, já que possui mais
alternativas de fixação e uso.
Medidas recomendadas para uma lanterna nos termos deste artigo são:
a) Comprimento total entre 12cm e 15cm
b) Diâmetro da cabeça/sino entre: 2,5cm a 3,5cm
c) Peso com bateria: até 200gr
A lanterna deverá possuir estrutura antirrolamento.

3.2.2 Resistência a impactos


A resistência ao impacto é o grau em que um dispositivo resiste a danos
causados por quedas em uma superfície sólida.
O padrão mínimo tem sido a submissão a quedas em altura igual ou maior do
que 01 metro70. No contexto da atividade policial, a resistência dos materiais
constitutivos de uma lanterna tática deve ser superior a 3 metros71.
A lanterna deverá ainda possuir resistência a golpes quando utilizada para
ataque, defesa e como instrumento de ruptura de vidros ou materiais similares. Na
parte mais externa da cabeça, a lanterna deverá ser dotada de dentes ou recortes
constituídos em anel de alta resistência ou na própria cabeça. Tais dentes ou recortes
deverão servir como objeto de contusão, como também possibilitar “fuga” de
luminosidade quando posicionada com a cabeça perpendicular e em contato com uma

70Norma ANSI/NEMA FL 1-2009.


71 Considerando a possibilidade de queda por ocasião da transposição de muros, janelas ou
escadarias.
30

superfície plana qualquer (v.g.: iluminar sutilmente um mapa).

3.2.3 Impermeabilidade
Trata-se da proteção interna da lanterna de acordo com as classificações
internacionais de penetração de água. Os níveis de classes de proteção IP ou grau
de proteção IP são padrões internacionais definidos pela norma IEC 60529,
recepcionada através da norma ABNT NBR IEC 60529:2005, para classificar e avaliar
o grau de proteção de produtos eletrônicos fornecidos contra intrusão (partes do corpo
como mãos e dedos), poeira, contato acidental e água. Os códigos são assim
dispostos pela norma:

a) O primeiro numeral indica a proteção contra o acesso de pessoas as partes


perigosas do equipamento e contra objetos estranhos (V.g.: poeira). No
caso de lanternas, pode ser substituído por “X” caso não tenha sido definido.
Varia de “0” para não protegido, até “6” se à prova de poeira.
b) O segundo numeral indica a proteção contra penetração de água que possa
danificar o equipamento, sendo: 0 – não protegido; 1 – protegido contra
gotas d’água verticais; 2 – protegido contra gotas d’água verticais com
objeto inclinado a 15º; 3 – protegido contra aspersão de água; 4 – protegido
contra projeção de água; 5 – protegido contra jatos d’água; 6 – protegido
contra jatos potentes d’água; 7 – protegido contra efeitos de imersão
temporária em água e 8 – protegido contra efeitos de imersão contínua em
água.
c) A letra adicional pode se referir à proteção específica do dorso da mão, a
um dedo, a uma ferramenta ou a um fio. Não tem sido aplicado a lanternas.
d) A letra suplementar pode indicar um equipamento de alta tensão, ensaio em
água com partes perigosas móveis em movimento ou paradas e proteção
adicional. Não tem sido aplicado a lanternas.
31

O ideal para uma lanterna tática policial é proteção de acordo com a


normatização IP67/IPX7 ou superior.

3.2.4 Potência luminosa


A potência luminosa ou fluxo luminoso é expresso em lúmens (lm) e representa
o total de luz visível emitido pelo equipamento. Como paralelo de comparação
podemos considerar a luz emitida por uma lâmpada incandescente de 60W, cuja
intensidade se iguala a uma fluorescente de 16W ou 9W em LED. Todas possuem
fluxo luminoso de 806lm.
A maioria dos autores analisados neste artigo indicam como ideal um fluxo
luminoso suficiente para desorientar um indivíduo, entre 60 e 250 lúmens.
A quantificação da intensidade luminosa emitida por uma lanterna depende,
principalmente, do quanto concentrado é o seu feixe principal e o quanto há de luz no
seu feixe de derrame. A norma ANSI/NEMA FL 1-2009 define o fluxo luminoso como
sendo a quantidade total de energia luminosa emitida em lúmens, considerando-se
toda a saída angular de fontes de luz como as lanternas.
A prática no exercício da atividade policial e os treinamentos policiais
efetuados, aliados ao que foi definido pela Polícia Rodoviária Federal brasileira em
recente aquisição72 de lanternas táticas no ano de 2019 e ainda, em consonância ao
que estabeleceu o Departamento de Segurança Pública do Ministério do Interior
Italiano em edital lançado no ano de 201873 em termos de luminosidade, podemos
concluir que o fluxo luminoso de uma lanterna tática policial de uso para atividade
regular deve se situar entre 800lm e 1200lm. Emissões acima desse valor
aumentariam o consumo da bateria, exigindo uso de acumuladores de energia
maiores ou então reduziriam o tempo de uso do equipamento; no mesmo sentido,
luzes muito fortes tendem a criar o efeito “flashbulb”74. Fluxos abaixo dessa faixa
comprometem o uso em ambientes maiores ou iluminam insuficientemente os pontos
mais distantes ou que já estejam iluminados por outra fonte.

72Pregão eletrônico relativo ao processo n.º 08665.001260/2018-28.


73 POLIZIA DI STATO. Lotto n. 7. Disponível em: <https://www.poliziadistato.it/statics/14/lotto-n.-7-
torcia-tattica-portatile.pdf> Acesso em 27 dez. 2019.
74 Ocorre quando o feixe de luz reflete em superfícies claras ou espelhadas, cegando

momentaneamente o operador pela saturação dos bastonetes.


32

3.2.5 Sistema de acionamento


As técnicas atuais de uso de lanternas conjugadas com o uso de armas de fogo
baseiam-se em equipamentos cujo acionamento ocorre exclusivamente na tampa
traseira e exigem apenas o dedo polegar ou a musculatura tenar75.
O botão interruptor deverá permitir emissão de luz momentânea pela pressão
sobre si sem ocorrer o chamado “click”76 e tão logo encerrada a pressão, a luz deverá
se apagar. Além da ativação momentânea, o botão deverá permitir o acionamento
constante pela pressão final sobre si até que ocorra o “click” característico. O contato
deve ser do tipo intuitivo e o sistema elétrico da lanterna deverá possuir proteção
contra inversão de polaridade da bateria.

3.2.6 Modos de emissão de luz


Lanternas táticas policiais voltadas para o uso em situações cotidianas de
intervenção policial não devem ter variações de modos de emissão de luz que possam
confundir o operador. Quanto mais simples e rápido for o adequado acionamento da
lanterna, mais eficiente se torna o uso. Emissões de luz em várias intensidades,
codificações de S.O.S, luzes coloridas ou estroboscópicas são úteis quando temos
tempo de avaliar previamente e de modo completo os objetivos de uso da lanterna e
as finalidades da intervenção.
Portanto, a emissão de luz deverá ser de única intensidade de fluxo luminoso,
podendo se admitir outras formas desde que acionadas de maneira independente do
acionamento principal e impossibilitadas de serem selecionadas involuntariamente.

3.2.7 Concentração e difusão de luz


Ainda que a quantidade de lúmens esteja dentro dos padrões especificados
pela lanterna, suas características somente atenderão ao ideal se os padrões do feixe
e de óptica forem observados.
Uma lanterna tática policial, considerando as especificidades propostas neste
artigo, não deverá possuir sistema de zoom ou de ajuste de concentração e dispersão
de luz. Ao contrário, deverá conter duas dimensões fundamentais de iluminação77:

75 No caso de acionamento tipo seringa/técnica Surefire.


76 Click ocorre quando o botão ao ser acionado efetua definitivamente o fechamento do circuito elétrico
pela ativação da chave de liga/desliga interna. Há o acionamento permanente da luz.
77 SUREFIRE. How to Choose Weaponlights. Disponível em:
<https://www.surefire.com/how_to_choose_weaponlights> Acesso em 05 jan. 2020.
33

a) Iluminação concentrada: também chamada de iluminação central ou spot


beam. Trata-se do feixe principal que integra o núcleo da projeção de luz
sobre o objeto/pessoa, constituído pela área de um círculo. É responsável
pelo atordoamento da visão da pessoa abordada em curta/média distância
e possibilita visão ampla em longas distâncias.
b) Derrame: ou flood beam, constitui-se de parcela da luz emitida pela lanterna
e que se sobrepõe à iluminação central, ultrapassando-a em dimensão. É
formado pela área circular de luz difusa com intensidade inferior ao feixe
central, oferece uma difusão do tipo grande angular. O derrame tem como
finalidade iluminar as áreas adjacentes ao centro do feixe principal – visão
periférica – permitindo a visualização de eventuais fontes de risco durante
a intervenção e aumento da consciência situacional. Seu alcance é limitado
a distâncias curtas.
As variadas dimensões do foco central e derrame são produzidas pelo refletor
conforme figura abaixo:

3.2.8 Durabilidade e quantidade de baterias


A lanterna deverá ser alimentada por uma única bateria, fator que favorece a
agilidade nas substituições de urgência. Considerando um feixe luminoso entre 800lm
e 1200lm, a duração da bateria deverá ser igual ou superior a 01h30min na potência
máxima por tempo ininterrupto.

3.2.9 Acessórios
O funcionamento e uso normal da lanterna deverá ser independente dos seus
acessórios. Para uma lanterna tática policial os seguintes acessórios são importantes:
a) Coldre, deverá ser confeccionado em polímero e permitir o saque rápido.
b) Cone difusor, adaptado à cabeça da lanterna permite iluminação difusa.
34

c) Cone de sinalização, confeccionado na cor laranja e empregado em


sinalizações viárias.
d) Alça de retenção, permite a fixação da lanterna na mão do operador com o
intuito de empregá-la como objeto contundente para ataque ou ruptura.
e) Anéis de empunhadura tipo seringa são utilizados para a empunhadura
“Rogers / Surefire” em conjunto com arma de fogo curta.

3.2.10 Garantia
A garantia concedida pelo fabricante possibilita razoável certificação da
qualidade do produto e certeza de substituição de peças ou troca da lanterna diante
de eventuais defeitos, inclusive ocultos. A garantia mínima, em vista do custo elevado
de uma lanterna de qualidade, deverá ser igual ou superior a 05 anos78.

3.3 Baterias

As baterias, preferencialmente79, deverão ser do modelo 18650, facilmente


encontrado no comércio. Possuem alguns aspectos importantes a serem
considerados, vantagens e desvantagens.

3.3.1 Características gerais


As baterias modelo 18650 são denominadas em razão de suas dimensões
externas, cujo diâmetro é de 18mm e comprimento de 65mm.
a) Corrente de 3,6/3,7 volts.
b) Amperagem entre 2200mAh e 3600mAh.
c) São recarregáveis.

3.3.2 Vantagens80
Dentre as vantagens podemos citar:
a) Custo razoável81. Uma bateria de boa qualidade, no mercado nacional,
custa em torno de R$ 70,00 (2300mAh) a R$ 150,00 (3400/3500mAh).

78 Empresas como Surefire, Led Lenser, Streamlight, Fenix e Nitecore concedem garantia vitalícia.
79 Considerando-se que existem no mercado baterias de igual comprimento, porém de diâmetros
menores como os modelos 17650 e 16650 e que atingem amperagem máximas inferiores às 18650.
80 BROOKES, Tim. The Best 18650 Battery. Disponível em: <https://www.makeuseof.com/tag/18650-

battery/> Acesso em: 05 jan. 2020.


81 CROSSTER. Disponível em: <https://www.crosster.com.br> Acesso em: 05 jan. 2020.
35

b) Capacidade de utilização superior a 300 ciclos de recarga.


c) Boa estabilidade elétrica por serem de íons de lítio, reduzindo possibilidade
de acidentes por vazamento ou explosão, desde que acondicionadas e
manuseadas adequadamente.
d) Não possuem efeito memória (não vicia).
e) Capacidade superior de armazenamento de energia – amperagem – em
relação a outras formas como NiMH ou NiCd.

3.3.3 Desvantagens82
Como desvantagens:
a) Risco de explosão/incêndio: requer circuito de proteção para evitar
acidentes.
b) Baixa resistência térmica: degrada em temperaturas altas e tende ao
congelamento abaixo de 0º. A baixa resistência térmica implica riscos de
operação em locais muito frios e no transporte aéreo.
c) Perda da carga se armazenada por longo prazo. Após 01 ano, se
plenamente carregadas, perdem até 20% da carga. Uma bateria modelo
CR123 – não recarregável – dura até 10 anos sem perdas consideráveis de
carga, sendo consideradas ótimas para estocagem de emergência.

3.3.4 Considerações importantes


Importa destacar:
a) As baterias modelo 18650 são falsificadas em grande escala, conforme é
possível constatar em site de compras online83, no qual são ofertadas
baterias do mesmo modelo com capacidade de carga superior a 3600mAh
a preços muito inferiores aos cobrados por produtos originais e/ou de
qualidade superior. Tais baterias de baixa qualidade não possuem proteção
elétrica e quando em curto podem inflar, liberar gases, incendiar ou explodir
causando danos pessoais e materiais.
b) É possível obter baterias modelo 18650 de boa qualidade extraindo-as dos

82 CADEX ELETRONICS. How do Lithium Batteries Work? Disponível em:


<https://batteryuniversity.com/learn/article/lithium_based_batteries> Acesso em 30 dez. 2019.
83 MERCADO LIVRE. Disponível em: <https://eletronicos.mercadolivre.com.br/bateria-pilhas-
carregadores/bateria-18650> Acesso em 05 jan. 2020.
36

conjuntos de baterias de notebooks. Contudo, são baterias sem proteção


individual interna e com capacidade de carga entre 2200mAh e 2600mAh.
c) Ao pesquisar por baterias modelo 18650, devemos atentar para o fato de
que elas não comportam quantidade de energia acima de 3600mAh;
possuem peso médio de 50gr e tem custo superior a R$ 60,00 para
capacidades próximas a 2200mAh. Baterias com características diversas
não devem ser adquiridas por risco de serem falsificadas ou de péssima
qualidade.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da reflexão promovida pelo presente artigo foi possível constatar a


relevância do tema e a profundidade das informações existentes na doutrina
pesquisada, a qual inclui as poucas obras existentes de autores nacionais e algumas
de outros países.
Notou-se pela pesquisa o considerável número de ocorrências policias
registradas apenas no ano de 2019 no Estado do Rio Grande do Sul, impondo
destaque a relevância do tema ora investigado. Do montante de mais de 1,3 milhões
de ocorrências, quase 170 mil foram de ordem criminal e atendidas pela Brigada
Militar. Considerando estudos científicos, estamos diante de mais de 650 mil
intervenções policiais de caráter geral cuja atenção em segurança pública foi prestada
pelos policiais militares do Estado.
Destacou-se a importância da definição do conceito de intervenção policial,
assim considerada toda circunstância em que o Estado, através da ação física de seus
agentes legalmente investidos do poder de polícia, intercede diante de seus
administrados também presentes, impondo-lhes um fazer ou deixar de fazer alguma
coisa através do uso da força legal – da mais branda à letal – e cujos objetivos finais
são a preservação da ordem pública e a salvaguarda da vida.
Foi possível verificar que, não obstante diversas obras publicadas darem
considerável importância ao fato de que aproximadamente 80% das intervenções
ocorrerem durante o horário noturno, elas nem sempre ocorrem em situações de baixa
luminosidade, bem como, ainda que as intervenções tenham ocorrido durante o dia,
elas podem ter sido em situações de pouca luz. Tal aspecto demonstra ainda mais a
importância do policial possuir e portar uma boa lanterna e treinar adequadamente,
37

independente do horário que venha a atuar.


Concluiu-se que muitas variáveis técnicas e táticas são específicas de
determinadas situações práticas que podem ou não surgir no ambiente de intervenção
policial sob baixa luminosidade, bem como, não há uma maneira única de conduzir a
ação policial em razão das infinitas possiblidades que podem surgir diante dos olhos
do agente que intervém.
Ao serem detalhados e divididos os temas sobre técnicas/táticas e princípios
de uso de lanternas em situações de intervenção armada sob baixa luminosidade,
cujas condições devem ser observadas e treinadas de acordo com a necessidade
possível de se apresentar durante uma intervenção policial, foi possível estabelecer
um rol de aspectos teóricos imprescindíveis para o planejamento e desenvolvimento
de treinamentos policiais voltados para a capacitação dos efetivos que integram a
segurança pública, buscando a conjugação do conhecimento válido e eficaz. Tratam-
se de conjecturas e não de certezas inabaláveis, portanto, devem ser relativizadas de
acordo com a realidade factível. O binômio simplicidade/velocidade nem sempre é
observado por nossos policiais, relegando os estudos sobre o tema a um segundo
plano, quando deveriam estar como um dos primados da atuação policial.
Em capítulo próprio, sustentado por informações colacionadas da rede mundial
de computadores, no conhecimento do pesquisador e, principalmente da doutrina
analisada, as noções sobre luminosidade e funcionamento da visão humana foram
significativas para a compreensão das nossas atitudes a serem tomadas previamente,
antes de intervirmos em ambientes escuros. As considerações objetivaram corroborar
com o conjunto do artigo e focaram-se na produção de conhecimento válido para o
estudo, treinamento e constante revisão das técnicas, táticas e princípios abordados,
além de servirem como base teórica ao discorrermos sobre as características que
devem ser analisadas ao se buscar a aquisição de uma apropriada lanterna tática
policial voltada para intervenções genéricas, excluídas as objetivadas e treinadas por
grupos especiais.
A apropriação de conhecimento sobre as características adequadas que devem
ter uma lanterna tática policial protegem o profissional de segurança pública e as suas
instituições da aquisição de produtos de má qualidade, que possam impor riscos
significativos e desnecessários de serem suportados durante uma intervenção sob
baixa luminosidade. O mercado oferece vasta gama de produtos de iluminação portátil
tidas como equipamentos táticos que não o são; pelo contrário, distanciam-se da
38

finalidade policial, propagam enganosamente caraterísticas que não possuem e


ainda, cobram preços exorbitantes para o que oferecem. As especificações técnicas
e modos de medição e representação de resultados reunidos no padrão ANSI/NEMA
FL 1-2009 foram significativos enquanto sustentação normativa internacional.
Desse modo, sugere-se à título institucional ao Comando da Brigada Militar
duas considerações como resultado do presente artigo:
a) Servir como base doutrinária para os cursos de formação policial militar e
cursos de atualização profissional regulares. Contudo, deve o presente
referencial ser avaliado e chancelado por comissão de instrutores da
disciplina de Uso da Força e da Arma de Fogo com conhecimento da área
tema deste trabalho, através do Departamento de Ensino da Brigada Militar.
b) Servir de referência e promoção para aquisição institucional de lanternas
táticas policiais a serem distribuídas aos policiais como equipamento
obrigatório durante o exercício da atividade policial.
As dificuldades encontradas foram a parca doutrina escrita em língua
portuguesa à disposição no Brasil, somada à dificuldade de tradução de obras na
língua inglesa.
Os objetivos específicos de produzir referencial teórico institucional básico foi
atingido, em que pese não ter sido extensivamente apresentado todos os temas que
dizem respeito à intervenção policial armada em ambientes de baixa luminosidade.
Não foram, por conta do número de laudas exigido para a produção do artigo e
o acanhado prazo para sua confecção, investigados aspectos como: o
desenvolvimento e aplicação de questionários para obtenção das condições atuais
dos efetivos da Brigada Militar sobre lanternas táticas e sua relação com a atividade
de policiamento; aplicação prática das técnicas, táticas e princípios relacionados em
ambientes controlados; as técnicas consagradas de uso de lanternas dedicadas a
armas longas e curtas; as modalidades de treinamento policial; as propostas
institucionais de capacitação com estabelecimentos de cenários de treinamento;
outras formas de intervenção sob baixa luminosidade de tecnologia mais evoluída e
suas tendências universais; dentre outros. Tais temas poderão ser desenvolvidos por
futuros pesquisadores em complementação ao conhecimento até aqui produzido.
O referencial teórico certamente servirá de fator motivacional para pesquisas
complementares e questionamentos retificadores, além do destacado valor que
poderá agregar ao processo de ensino-aprendizagem nos cursos institucionais
39

voltados para o tiro policial e combate armado desenvolvido pelos instrutores de tiro
da Brigada Militar e corporações congêneres.
40

REFERÊNCIAS

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Diferenciado da Força UDF. São Paulo: Ícone, 2011.

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BRASIL. Lei n.º 5.172, de 25 de outubro de 1966. Institui o Código Tributário


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