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BRIGADA MILITAR

Comandante-Geral da Brigada Militar


Coronel QOEM Vanius Cesar Santarosa

Direitos exclusivos da Brigada Militar

Equipe de Colaboradores
Maj QOEM Robinson Luiz Flores
Maj QOEM Rodrigo Betat Machado
Cap QOEM Luciano da Silveira Johann
Cap QOEM Ricardo Nicoloso

Revisor
Major QOEM Oberdan do Amaral Silva

Formatação

Cap QOEM Ricardo Nicoloso


Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 6

2. BASE LEGAL .......................................................................................................... 7

2.1. Constituição Federal, de 05 Out 1988 ....................................................... 7

2.2. Decreto-Lei N.º 3.688, de 03 Out 1941 (Lei das Contravenções Penais) .. 7

2.3. Decreto-Lei N.º 3.689, de 03 Out 1941 (Código de Processo Penal) ........ 7

2.4. Decreto-lei nº 1.002, de 21 de Out de 1969 (Código de Processo Penal


Militar) ...................................................................................................................... 7

2.5. Lei Nº 13.869, de 05 Set de 2019 (Abuso de Autoridade) ......................... 7

2.6. Lei N.º 5.172, de 25 Out 1966 (Código Tributário Nacional) ...................... 8

2.7. Lei nº 8.653, de 10 Mai de 1993 ................................................................ 8

2.8. Lei 9.503, de 23 Set 1997 (Código de Trânsito Brasileiro) ......................... 8

2.9. Lei nº 13.060, de 22 Dez 2014 (Disciplina o Uso dos Instrumentos de Menor
Potencial Ofensivo pelos Agentes de Segurança Pública, em todo o território
nacional) .................................................................................................................. 8

2.10. Constituição Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, de 05 Out 1989


................................................................................................................................. 8

2.11. Decreto Nº 8.858, de 26 de Set de 2016.................................................. 8

2.12. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 Dez 2010 (Estabelece Diretrizes


sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública) .................................. 8

3. CONCEITOS BÁSICOS .......................................................................................... 8

3.1. Poder de Polícia......................................................................................... 8

3.2. Abordagem Policial .................................................................................... 9

3.3. Fundada suspeita ...................................................................................... 9

3.4. Busca pessoal ........................................................................................... 9

3.5. Identificação ............................................................................................... 9

3.6. Veículo Automotor ...................................................................................... 9

3.7. Motocicleta ............................................................................................... 10

3.8. Equipe de Força Tática ............................................................................ 10


3.9. Comandante de Guarnição ou de Equipe de Força Tática ...................... 10

3.10. Motorista ................................................................................................ 10

3.11. Segurança à retaguarda ........................................................................ 10

3.12. Segurança - anotador ............................................................................ 10

4. FINALIDADE DA ABORDAGEM POLICIAL .......................................................... 11

5. PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM ............................................................................ 11

5.1. Segurança ............................................................................................... 12

5.2. Surpresa .................................................................................................. 12

5.3. Rapidez.................................................................................................... 12

5.4. Ação Vigorosa .......................................................................................... 12

5.5. Unidade de Comando .............................................................................. 12

6. AVALIAÇÃO DE RISCOS ...................................................................................... 12

7. PROCEDIMENTOS COMUNS ANTERIORES À ABORDAGEM .......................... 13

7.1. Verificação inicial ..................................................................................... 13

7.2. Planejamento ........................................................................................... 13

7.3. Plano de ação .......................................................................................... 14

7.4. Localização .............................................................................................. 14

7.5. Ordem de parada e estacionamento do veículo a ser abordado ............. 14

7.6. Posicionamento da viatura ....................................................................... 14

8. POSIÇÕES DO ARMAMENTO DE PORTE PARA ABORDAGEM ........................ 15

8.1. “Posição 1” ou “Mão na arma” ................................................................. 15

8.2. “Posição 2” ou “pronto - baixo retido frontal”............................................ 16

8.3. “Posição 3” ou “pronto - baixo” ................................................................ 17

8.4. “Posição 4” ou “pronto” ............................................................................ 17

9. NORMAS GERAIS DE CONDUTA EM ABORDAGENS POLICIAIS ..................... 18

10. ABORDAGEM POLICIAL POR GUARNIÇÃO COM DOIS POLICIAIS ............... 19

11. ABORDAGEM POLICIAL POR EQUIPE COM QUATRO POLICIAIS.................. 23

11.1. Abordagem a automóvel ........................................................................ 23


11.2. Abordagem à motocicleta ...................................................................... 28

12. ABORDAGEM POLICIAL POR EQUIPE COM TRÊS POLICIAIS ....................... 31

13. ABORDAGEM POLICIAL COM A ARMA DE FOGO NO COLDRE ..................... 32

14. ENCERRAMENTO DA ABORDAGEM POLICIAL ............................................... 33

15. PROCEDIMENTO EM CASO DE ACOMPANHAMENTOS E CERCOS ............. 33

15.1. Considerações gerais ............................................................................ 33

15.2. Fatores................................................................................................... 34

15.3. Procedimentos ....................................................................................... 34

15.4. Decisão de tiro ....................................................................................... 36


Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 6

1. INTRODUÇÃO

Dentre as competências atribuídas às Polícias Militares, previstas no art.


144 da Constituição Federal e replicadas na Constituição Estadual, a abordagem
constitui-se em um dos momentos mais comuns da interface entre policiais e
cidadãos, nos quais os procedimentos adotados variam de acordo com as
circunstâncias e a avaliação prévia do policial sobre a pessoa abordada.
Caracterizada como um ato administrativo, derivado do Poder de Polícia,
com os atributos da imperatividade, coercibilidade e auto executoriedade, a
abordagem é um tipo de intervenção proativa, característica da polícia preventiva, que
ocorre durante as atividades de policiamento, envolvendo a interceptação de pessoas
e veículos e que objetiva a verificação acerca da identidade daquelas e da situação
documental do veículo, podendo estar relacionada, ou não, a uma determinada
infração penal.
Tal ato, típico da polícia preventiva, para ser válido, deve partir de órgão
competente, observando a forma que lhe for peculiar, tudo diante de uma situação de
fato e de direito que diga respeito à atividade policiada, devendo, finalmente, ser lícito
o seu objeto, ser legal a sua finalidade, a qual deve permear toda a concretização do
ato de abordar, desde a formação da conduta suspeita, até o objetivo imutável de
promover a segurança e de proteger a sociedade, que é o fim deste ato de
interferência.
Além disso, merece destaque o fato de que a abordagem, ao mesmo tempo
em que se constitui em uma ação policial rotineira, dela podem advir situações
inusitadas que requeiram o uso da força em todas as suas gradações, na medida em
que tal intervenção policial está diretamente relacionada ao comportamento e ao grau
de resistência oferecido pelo suspeito.
Nesse espectro, em breve análise sobre o modus operandi da criminalidade
atual, perceberemos que, na grande maioria dos delitos, são utilizados veículos
automotores, seja para deslocamento até o local onde o ilícito será praticado, seja
para facilitar a fuga e garantir o anonimato aos delinquentes, não sendo arriscado
afirmar-se que, em mais da metade dos roubos a pedestre, o meio de transporte
escolhido será a motocicleta, em razão de possuir maior fluidez no trânsito, mesmo
em situações de congestionamentos das vias; possibilidade de transitar em becos,
escadarias e vielas, além de realizar conversões rápidas em espaços reduzidos.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 7

Destarte, este caderno técnico visa orientar o procedimento policial militar


frente aos principais e mais comuns tipos de abordagem a veículo, contribuindo para
o aumento da segurança individual do policial e dos demais atores nela envolvidos,
direta ou indiretamente, apresentando padrões de conduta, embora não estanques e
impositivos, uma vez que a previsibilidade de tal ação não pode ser alcançada no
todo, devendo ser respeitada a autonomia e discricionariedade dos militares estaduais
quanto à tomada de decisões de acordo com as circunstâncias que lhe são postas,
desde que adequadas aos parâmetros técnicos e legais.

2. BASE LEGAL

2.1. Constituição Federal, de 05 Out 1988

Art. 5º - Dos direitos e garantias individuais e coletivos;


Art. 144 - Inciso V; § 5.º - Competência das Polícias Militares.

2.2. Decreto-Lei N.º 3.688, de 03 Out 1941 (Lei das Contravenções Penais)

Artigo 68 - (Recusa de Dados Sobre a Própria Identidade ou Qualificação).

2.3. Decreto-Lei N.º 3.689, de 03 Out 1941 (Código de Processo Penal)

Art. 240 ao 249 – Aspectos legais da busca pessoal;


Art. 301 ao 303 – Prisão em flagrante.

2.4. Decreto-lei nº 1.002, de 21 de Out de 1969 (Código de Processo Penal Militar)

Art. 180 a 182 – Busca pessoal

2.5. Lei Nº 13.869, de 05 Set de 2019 (Abuso de Autoridade)

Art. 12 – Deixar de comunicar a prisão;


Art. 13 – Constrangimento;
Art. 16 – Deixar de identificar-se ao preso;
Art. 21 – Confinamento de criança ou diferente sexo em mesmo
compartimento;
Art. 23 – Inovar artificiosamente;
Art. 33 – Exigir informação ou obrigação.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 8

2.6. Lei N.º 5.172, de 25 Out 1966 (Código Tributário Nacional)

Art. 78 – Poder de Polícia.


Art. 100 – Normas Complementares.

2.7. Lei nº 8.653, de 10 Mai de 1993

Art. 1º - Transporte de presos.

2.8. Lei 9.503, de 23 Set 1997 (Código de Trânsito Brasileiro)

Art. 29, inciso VII - Prerrogativas dos veículos policiais nas vias públicas.
Anexo I – Dos conceitos e definições.

2.9. Lei nº 13.060, de 22 Dez 2014 (Disciplina o Uso dos Instrumentos de Menor
Potencial Ofensivo pelos Agentes de Segurança Pública, em todo o território
nacional)

Art. 2º - Uso dos instrumentos de menor potencial ofensivo.

2.10. Constituição Estadual do Estado do Rio Grande do Sul, de 05 Out 1989

Art. 129 – Competências da Brigada Militar.

2.11. Decreto Nº 8.858, de 26 de Set de 2016

Art. 1º - Uso de algemas.

2.12. Portaria Interministerial nº 4.226, de 31 Dez 2010 (Estabelece Diretrizes


sobre o Uso da Força pelos Agentes de Segurança Pública)

Anexo I – As diretrizes sobre o uso da força e armas de fogo pelos agentes


de segurança pública.

3. CONCEITOS BÁSICOS

3.1. Poder de Polícia

É a faculdade discricionária de que dispõe a Administração Pública para


condicionar e restringir o uso e gozo de bens ou direitos individuais, em benefício da
coletividade ou do próprio Estado.
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3.2. Abordagem Policial

É a intervenção policial que objetiva interceptar determinada pessoa, a pé


ou em veículo, a fim de identificá-la e/ou submetê-la à busca pessoal, de cujo ato
poderá, ou não, resultar outras ações decorrentes, como orientação, advertência,
prisão, notificação por infração de trânsito, apreensão de coisas ou outras que a
situação determine.

3.3. Fundada suspeita

É a convicção devidamente fundamentada no somatório de circunstâncias


objetivas e subjetivas que indiquem que determinada(s) pessoa(s) esteja(m) portando
ilícito penal, que esteja em situação que faça presumir ser autor de infração penal, ou
ainda, seja encontrado, logo depois, com instrumentos, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração. São requisitos legais para que seja procedida a
busca pessoal, de acordo com o art. 244 do Código de Processo Penal.

3.4. Busca pessoal

O ato desenvolvido por autoridade policial, através de exame corporal ou


de elementos externos sob a posse do revistado, motivada por fundada suspeita de
que este traga consigo elementos que comprovem a realização de crimes, devendo
ser realizada com a observância da finalidade pública, dos direitos individuais e da
razoabilidade em sua feitura, podendo caracterizar abuso ou constrangimento
qualquer excesso a esta interpretação.

3.5. Identificação

Compreende os procedimentos necessários para obter os dados que


individualizam determinada pessoa, com base em suas características pessoais
(nome, idade, filiação, naturalidade), aspectos físicos particulares (sexo, cor, altura,
peso aproximado, tatuagens) ou circunstanciais (vestimentas, adereços, tipo de
cabelo, barba, etc.), com base em informações documentais, consultas a bancos de
dados digitalizados ou constatadas diretamente pelo policial.

3.6. Veículo Automotor

Todo veículo a motor de propulsão que circule por seus próprios meios e
que serve, normalmente, para o transporte viário de pessoas e coisas, ou para a
tração viária de veículos utilizados para o transporte de pessoas e coisas.
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3.7. Motocicleta

Veículo automotor de duas rodas, com ou sem side-car, dirigido por


condutor em posição montada.

3.8. Equipe de Força Tática

É a fração elementar no patrulhamento tático motorizado. Idealmente


comandada por oficial ou sargento, composta de, no mínimo, 3 (três) e, no máximo, 5
(cinco) policiais militares, incluindo seu comandante.

3.9. Comandante de Guarnição ou de Equipe de Força Tática

É o policial militar mais antigo da guarnição ou equipe. Quando embarcado,


ocupa assento ao lado do motorista. É quem opera o rádio veicular, salvo quando
desembarcado. E, ainda, quem aciona os dispositivos visuais e sonoros da viatura
policial. Também designado como 1º Homem (1ºH).

3.10. Motorista

É o policial militar devidamente habilitado para a condução de viatura


policial militar, sendo sua atenção especialmente voltada para essa atribuição. Por
esse motivo, patrulha sempre com a arma de porte no coldre, e somente aciona os
dispositivos sonoros e luminosos da viatura, ou opera o rádio veicular nas paradas e
estacionamentos quando estiver o comandante desembarcado. Também designado
como 2º Homem (2ºH).

3.11. Segurança à retaguarda

É o policial militar experiente que toma assento no banco traseiro da viatura


policial, atrás do motorista. Também designado como 3º Homem (3ºH).

3.12. Segurança - anotador

É o policial militar menos experiente que toma assento no banco traseiro


da viatura policial, atrás do comandante. Também designado como 4º Homem (4ºH).
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4. FINALIDADE DA ABORDAGEM POLICIAL

Como visto anteriormente, a abordagem policial se constitui em uma das


formas de exteriorização do Poder de Polícia do ente estatal, tendo a mesma estrutura
de qualquer outro ato administrativo, devendo respeitar os requisitos essenciais de
finalidade, competência, motivo, forma e objeto.
Dentre estes requisitos imutáveis, a finalidade de uma abordagem policial
deve ser sempre a de promover a segurança e de proteger a sociedade, objetivo único
deste ato de interferência do Estado na vida dos cidadãos, podendo, conforme as
circunstâncias, apresentar as seguintes especificidades:
a) Averiguar: normalmente se processa para esclarecimento de algum
comportamento incomum ou inadequado por parte de um cidadão ou na disposição
de objetos e instalações;
b) Advertir: é todo ato de interpelar o cidadão encontrado em conduta
inconveniente, buscando, na abordagem, a mudança de atitude, a fim de evitar o
cometimento de qualquer ilícito penal (contravenção ou crime);
c) Orientar: é o ato de prevenir a ocorrência de delitos ou de infrações de
qualquer ordem, através do esclarecimento ao cidadão sobre os procedimentos
adequados que deverá seguir;
d) Prender: é o ato de cerceamento da liberdade individual, seja porque
encontrado nas situações que possibilitem a sua prisão em flagrante delito, seja por
existência de determinação judicial nesse sentido;
e) Assistir: é todo auxilio prestado ao público, eventual e não compulsório,
que embora não constituam um dever legal, repercutem favoravelmente para a
imagem da Instituição; ou
f) Autuar: é tanto o registro documental das informações pertinentes à ação
policial, para fins estatísticos (BMMob), quanto os atos formais eventualmente
decorrentes da abordagem, como as lavraturas do BO-COP, BO-TC e AIT.

5. PRINCÍPIOS DA ABORDAGEM

Os princípios da abordagem lhe conferem certas limitações e fornecem


diretrizes que facilitam a sua correta compreensão e interpretação, relacionam-se
entre si e devem ser seguidos em todas as circunstâncias. São eles:
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 12

5.1. Segurança

O Policial Militar deve cercar-se de todas as cautelas necessárias visando


minimizar qualquer risco a sua integridade física ou de terceiros.

5.2. Surpresa

É o ato de abordar uma pessoa, de forma a surpreendê-la, não


possibilitando reação ou fuga. O fator surpresa, além de contribuir decisivamente para
a segurança dos executores da abordagem, é um dissuasor psicológico da
resistência.

5.3. Rapidez

A surpresa da abordagem está proporcionalmente ligada à rapidez com que


é desencadeada e executada. Quanto mais rápida a ação, maior a surpresa e menor
a possibilidade de reação.

5.4. Ação Vigorosa

É a ação enérgica e resoluta, por parte do Policial Militar, caracterizada por


uma postura corporal firme e uma adequada entonação da voz, demonstrando
domínio da situação e equilíbrio emocional, sem, contudo, incorrer em arbitrariedades.

5.5. Unidade de Comando

Ao se realizar uma abordagem, certos comandos verbais devem ser


emitidos visando o perfeito entendimento, por parte do abordado, das ações que deva
realizar. Este princípio consiste em se ter um comando único na ação, evitando, assim,
conflitos de ordens e mantendo o controle das ações desenvolvidas.

6. AVALIAÇÃO DE RISCOS

Qualquer intervenção policial, seja a mais simples ou a de maior


complexidade, deve ser precedida de uma análise criteriosa das informações, de
forma que sejam organizadas, trabalhadas e transformadas em dados, aplicando-se
a metodologia de avaliação de risco.
A primeira análise a ser feita pelo policial é aquela relativa à identificação
dos direitos e garantias violados ou na iminência disso. Para tanto, numa abordagem
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 13

a veículo, deve observar, dentre outros aspectos, a presença de crianças, gestantes


e idosos no interior daquele; se o local e as condições da via oferecem segurança
para a realização desse tipo de intervenção, o comportamento do condutor
(cooperativo ou resistente), presença de reféns, dentre outras circunstâncias
específicas.
Ainda dentro dessa análise, o policial deve considerar as características de
cada tipo de veículo automotor que será abordado (de transporte de passageiros ou
cargas; de duas ou quatro rodas; número de portas), o que influenciará, sobremaneira,
na definição dos pontos de risco e das ameaças a serem monitoradas.
Dentre outras medidas importantes para avaliar os riscos a que estará
exposto, o policial deve analisar a quantidade e as características físicas dos
ocupantes, correlacionando aquela situação fática com as informações que
previamente já dispunha.
Deve, também, consultar a placa para averiguar se o veículo se encontra
em situação regular, buscar identificar se existe algum outro veículo dando cobertura
ou acompanhando aquele que está sendo abordado, atentar para a hipótese de algum
material do interior do veículo ter sido dispensado nas imediações e, por fim,
considerar a possibilidade da existência de armas de fogo naquele cenário.
Assim, nos momentos que precedem a abordagem, quanto mais
específicas forem as respostas às questões anteriores e as informações colhidas,
mais precisa será a classificação de risco, contribuindo para o preparo e para a adoção
de um nível de alerta adequado, além de subsidiar a elaboração de um plano de ação
mais eficaz, se assim a situação exigir.

7. PROCEDIMENTOS COMUNS ANTERIORES À ABORDAGEM

7.1. Verificação inicial

Sempre que possível, antes de qualquer outro procedimento de abordagem


ao veículo, os policiais devem solicitar ao Posto Diretor de Rede (PDR) as informações
cadastrais relativas àquele, bem como os dados pessoais de seu proprietário, seus
antecedentes policiais e demais informações julgadas pertinentes.

7.2. Planejamento

De posse das informações acima referidas, deverá ser feita uma análise
preliminar da intervenção, avaliando o nível de risco e fatores circunstanciais (fato
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 14

motivador, local, horário, perfil policial e quantidade de pessoas envolvidas, etc.), ao


término da qual se decidirá qual o tipo de abordagem adequado à situação.

7.3. Plano de ação

Considerando-se todos os quesitos já verificados no planejamento, se for o


caso, ainda serão feitos ajustes no plano tático para a prática da abordagem policial.

7.4. Localização

Informação, ao seu PDR, acerca da exata localização da viatura e


confirmação das características do veículo que será abordado (marca, tipo, cor e
placas), uma vez que tais informações permitirão o conhecimento prévio desta ação
policial e dos dados preliminares do veículo alvo, possibilitando o apoio de outras
guarnições, caso necessário.

7.5. Ordem de parada e estacionamento do veículo a ser abordado

Caso o veículo a ser abordado esteja em movimento, a guarnição deve


exteriorizar, de forma clara e inequívoca, por meio do acionamento das luzes de
emergência da viatura e/ou toques curtos na sirene, a intenção de que aquele deve
estacionar para ser fiscalizado.

7.6. Posicionamento da viatura

A viatura deverá ser estacionada à retaguarda do veículo abordado, a uma


distância de três a cinco metros, sendo importante que tal distância não seja tão menor
ao ponto de não proporcionar a devida segurança e adequada mobilidade dos
policiais, tampouco maior, dificultando o domínio visual e verbal da situação.
Também, a viatura deverá ser estacionada de modo que o seu farol
dianteiro direito fique alinhado com a placa traseira daquele, permitindo, com isso, à
noite, a “cortina de faróis”, ou seja, a utilização do reflexo do sistema de iluminação
dianteira da viatura nos espelhos retrovisores, interno e esquerdo, do veículo
abordado, a fim de ofuscar a visão dos seus ocupantes.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 15

Figura 1 - Posicionamento da viatura em relação ao veículo abordado

Sob os pontos de vista tático e estratégico, esse posicionamento da viatura,


além de dar celeridade no desembarque e embarque dos policiais, permite que a
viatura policial seja utilizado como abrigo, uma vez que o bloco do motor, as rodas e
as demais partes dianteiras oferecerão uma certa proteção física aos policiais contra
eventuais disparos de arma de fogo.
De outra sorte, facilitará o controle visual das portas e janelas do veículo,
ofertando uma posição segura para emprego das técnicas de verbalização por parte
do Comandante, que terá a melhor posição tática em relação ao motorista do veículo
abordado.

8. POSIÇÕES DO ARMAMENTO DE PORTE PARA ABORDAGEM

8.1. “Posição 1” ou “Mão na arma”

Posição em que o policial empunha sua arma de fogo com a mão forte,
mantendo-a no coldre, liberando o dispositivo de retenção do coldre permanecendo
em condições de sacá-la. Importante que volte a travar o dispositivo caso não haja
necessidade de saque. Essa posição pode ser utilizada, por exemplo, em situações
em que a abordagem seja para mera orientação ou advertência, sem necessidade de
busca pessoal.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 16

Figura 2 – Posição 1, visão frontal Figura 3 - Posição 1, visão lateral

8.2. “Posição 2” ou “pronto - baixo retido frontal”

Posição em que o policial empunha sua arma de fogo, mantendo esta com
o cano aproximadamente a 45º (quarenta e cinco graus) em relação ao solo, cotovelos
flexionados junto ao corpo, permitindo uma postura policial não demasiada ofensiva,
ao mesmo tempo em que permite uma reação imediata, no caso de uma agressão
atual ou iminente que justifique o emprego de força letal. Pode ser utilizada, por
exemplo, como “posição de segurança”, depois de realizada a busca pessoal no(s)
abordado(s), tendo avaliado e optado, o policial militar, por não colocar a arma no
coldre.

Figura 4 - Posição 2, visão frontal Figura 5 – Posição 2, visão lateral


Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 17

8.3. “Posição 3” ou “pronto - baixo”

Posição em que o policial empunha sua arma de fogo, com os cotovelos


estendidos, apontando-a para a base da possível fonte de risco. Permite uma postura
policial um pouco mais ofensiva, além de ampla visão do(s) abordado(s),
possibilitando, ainda, uma reação imediata no caso de agressão atual ou iminente que
justifique o emprego de força letal. Em regra, deve ser utilizada como padrão quando
da tomada de posição na abordagem em que decorra busca pessoal.

Figura 6 – Posição 3, visão frontal Figura 7 – Posição 3, visão lateral

8.4. “Posição 4” ou “pronto”

Posição em que o policial empunha sua arma de fogo, com os cotovelos


estendidos, apontando-a diretamente para a região torácica do abordado, permitindo
uma postura policial ofensiva, pronta para o disparo de incapacitação, no caso de uma
agressão atual ou iminente que justifique o emprego de força letal. Deve ser utilizada
sempre que, na avaliação do policial militar, a ação do abordado represente ou possa
representar grave risco a sua integridade física.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 18

Figura 8 – Posição 4, visão frontal Figura 9 – Posição 4, visão lateral

9. NORMAS GERAIS DE CONDUTA EM ABORDAGENS POLICIAIS

a) Em regra, a aproximação da guarnição/equipe deve sempre observar a


técnica preconizada neste caderno;
b) A verbalização deve ser realizada de forma impositiva, objetiva, clara e
educada;
c) A disciplina com relação ao controle do cano e do (não) acionamento do
gatilho deve ser rigorosamente observada durante toda a ação;
d) As mãos do(s) abordado(s) deve(m) ser especialmente mantidas sob
controle visual;
f) O campo de tiro de cada policial militar também merece especial atenção,
a fim de que se evitem tragédias;
g) A escolha do local apropriado onde se dará a abordagem, em regra, é
feita pela guarnição/equipe, e não pelo(s) abordado(s). Devem ser evitados, por
exemplo, locais com intenso trânsito de pedestres, bares, escolas, pontos de ônibus,
locais de trânsito intenso, sobre viadutos, locais com aglomerações de pessoas, etc);
h) A busca pessoal, em regra, inicia - se pela cintura;
i) Em situação de acompanhamento e flagrante delito por crime de maior
potencial ofensivo, ou, ainda, quando houver ilícito que envolva grave risco à
integridade física dos policiais militares, a ordem de deslocamento para retaguarda do
veículo será precedida de ordem para que o(s) abordado(s) deite(m) em decúbito
ventral (tórax ao solo), com braços e pernas estendidas, ocasião em que se realizará
a algemagem e, posteriormente, a busca pessoal;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 19

Figura 10 – Abordagem em situação de acompanhamento e flagrante delito

j) Em situações em que o suspeito alegar impossibilidade física de


desembarcar, e o comandante da guarnição/equipe identificando a necessidade,
determinará que este permaneça com as mãos acima da cabeça, até que ele mesmo,
ou outro policial militar, se aproxime e verifique a situação;
k) O(s) pertence(s) do(s) abordado(s), em regra, não devem ser colocados
no solo. Tampouco guardados, ainda que momentaneamente, em bolsos da farda ou
capas táticas dos policiais militares;
l) O(s) documento(s) do(s) abordado(s) antes de apresentado(s) ao policial
militar, havendo possibilidade, deve(m) ser retirado(s) do plástico pelo próprio
abordado.

10. ABORDAGEM POLICIAL POR GUARNIÇÃO COM DOIS POLICIAIS

a) O Comandante (1ºH) aciona o sinal sonoro, o motorista (2ºH) posiciona


a viatura com o farol direito em linha reta à placa do veículo abordado, parando
aproximadamente de 3 a 5 metros de distância deste;
b) A guarnição permanece “semidesembarcada”; o Comandante (1ºH) e o
Motorista (2ºH) permanecem abrigados pelo vão de suas portas;
c) O Comandante (1ºH) anuncia a abordagem: “polícia! atenção ocupantes
do veículo! Mãos acima da cabeça! Motorista, desligue o veículo! Motorista,
desembarque com as mãos atrás da cabeça! Vire de costas para mim! Venha para
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 20

parte de trás do veículo!” – em caso de haver mais tripulantes, deve se fazer todo
procedimento individualmente até que todos desembarquem.

Figura 11 - Posicionamento da guarnição e dos abordados antes da busca pessoal

d) O comandante (1ºH), então, questiona: “motorista, há mais alguém no


veículo?”
e) Não havendo, o comandante (1ºH) vai até o veículo abrigado pela coluna
da porta traseira direita deste, abrindo – a e verificando se há mais alguém.

Figura 12 - Verificação por parte do comandante da guarnição

f) Feita a conferência, o comandante (1ºH) retrai até a roda dianteira direita


da viatura policial, onde permanece na segurança para que o motorista (2ºH) inicie a
busca pessoal;
g) O motorista (2ºH) coloca a arma no coldre e, na sequência, procede a
busca da esquerda para direita;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 21

Figura 13 - Posicionamento para realização da busca pessoal

h) Caso seja encontrado objeto ilícito que caracterize a prisão em flagrante


por crime de maior potencial ofensivo, ou exigindo a situação para segurança dos
policiais e/ou do(s) infrator(es), ordena-se que o(s) abordado(s) deite(m) ao solo e
procede-se a algemagem, busca pessoal e, após, condução à Delegacia de Polícia,
se for o caso;
i) Realizada a busca pessoal, o comandante (1ºH) vai para calçada na
linha do capô do veículo abordado ordenando aos abordados que se posicionem a
sua lateral esquerda, em linha com os braços para trás;
j) O motorista (2ºH) de posse da chave do veículo abre o porta-malas para
rápida verificação e após procederá à busca veicular;

Figura 14 - Rápida verificação no porta malas

k) O comandante (1ºH) questiona o condutor se há drogas, armas, valores


ou algo ilícito dentro do veículo;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 22

l) O comandante (1ºH) então determina a apresentação da documentação


do veículo e do condutor, bem como solicita a identificação dos abordados – caso os
documentos estejam dentro do veículo, o motorista (2ºH) os apanha e entrega ao
Comandante (1ºH), não sendo permitido que o (s) abordado(s) retorne(m) ou mexa(m)
no interior do veículo antes do final da abordagem;
m) O comandante (1ºH) informa que será procedida a busca no veículo e
que o condutor pode acompanhá-la visualmente de onde está;
n) O motorista (2ºH) inicia a busca veicular. Caso seja encontrado algo
ilícito na busca veicular, o comandante (1ºH) deve ser informado de forma discreta;
o) Em seguida, o comandante (1ºH) iniciará a realização de perguntas
atinentes à situação do veículo e dos abordados;
p) Após rápida inspeção documental realizada pelo comandante (1ºH), os
documentos são repassados ao motorista (2ºH) para consulta;

Figura 15 - Consulta sobre os abordados

q) Terminada a consulta sobre os abordados, o motorista (2ºH) realizará a


inspeção veicular;
r) Encerrados os procedimentos de busca e identificação das pessoas e
do veículo abordado, e nada sendo constatado de ilícito, o comandante (1ºH)
encerrará a abordagem, explicando o motivo e buscando conscientizar os ocupantes
do veículo para importância deste tipo de intervenção policial, a fim de deixar ao
cidadão uma boa imagem da Brigada Militar;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 23

Figura 16 - Fechamento da abordagem sem novidades

s) Por fim, a equipe retrai para a viatura permanecendo até que o(s)
ocupante(s) do veículo embarque(m) e desloque(m). Deve-se proceder à segurança
do(s) abordado(s) até a saída deste.

Figura 17 - Guarnição aguardando a saída dos abordados

11. ABORDAGEM POLICIAL POR EQUIPE COM QUATRO POLICIAIS

11.1. Abordagem a automóvel

a) O comandante (1ºH) aciona o sinal sonoro; o motorista (2ºH) posiciona


a viatura com o farol direito em linha reta à placa do veículo abordado, parando
aproximadamente de 3 a 5 metros de distância deste;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 24

b) A equipe permanece “semidesembarcada”. O comandante (1ºH) e o


motorista (2ºH) permanecem abrigados pelo vão de suas portas, enquanto o
segurança à retaguarda (3ºH), como o seu próprio nome sugere, observa o respectivo
perímetro, ao mesmo tempo em que o segurança – anotador (4ºH) cerra ao lado do
comandante (1ºH), abrigado pela porta dianteira da viatura;

Figura 18 - Posicionamento inicial da equipe com quatro policiais

c) O comandante anuncia a abordagem: “polícia! Atenção ocupantes do


veículo! Mãos acima da cabeça! Motorista, desligue o veículo! Motorista,
desembarque com as mãos acima da cabeça e vire de costas para mim! Venha para
parte de trás do veículo!” - caso haja mais tripulantes, fazer todo procedimento
individualmente até que todos desembarquem.

Figura 19 – Ordem de desembarque aos abordados


Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 25

d) Após a saída do último tripulante sob às ordens do comandante (1ºH),


este, ainda, questiona: “Motorista, há mais alguém no veículo?”
e) Não havendo, o segurança – anotador (4ºH) vai até o veículo abordado,
abrigado pela coluna da porta traseira direita deste; abre a porta verificando se há
mais alguém; informa ao comandante a situação e retrai até a frente da viatura;

Figura 20 – Verificação realizada pelo segurança-anotador (4ºH)

f) Então, o comandante (1ºH) e o motorista (2ºH) vão até as rodas


dianteiras da viatura fazendo a segurança para que o segurança – anotador (4ºH)
inicie a busca pessoal;

Figura 21 – Posicionamento da equipe e abordados para busca pessoal


Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 26

g) O segurança – anotador (4ºH) coloca a arma no coldre e procede a busca


da direita para esquerda;
h) Caso seja encontrado objeto ilícito que caracterize a prisão em flagrante
por crime de maior potencial ofensivo, ou exigindo a situação para segurança dos
policiais e/ou do(s) infrator(es), ordena-se que o(s) abordado(s) deite(m) ao solo e
procede-se a algemagem, busca pessoal e, após, condução à Delegacia de Polícia,
se for o caso;
i) Realizada a busca pessoal, o comandante (1ºH) vai para calçada na
linha do capô do veículo abordado, próximo à roda dianteira deste, ordenando aos
abordados que se posicionem a sua lateral esquerda, em linha com os braços para
trás; o segurança à retaguarda (3ºH) se posiciona na calçada, à esquerda dos
abordados, abrigado pela viatura;
j) O segurança – anotador (4ºH) de posse da chave do veículo, juntamente
com o motorista (2ºH), abre o porta-malas para rápida verificação. Após a abertura, o
motorista (2ºH) retorna para roda dianteira direita da viatura enquanto o segurança –
anotador (4ºH) procederá à busca veicular;

Figura 22 - Rápida verificação no porta malas

k) O motorista (2ºH) fecha as portas e vidros da viatura voltados para a rua


e permanece junto a roda dianteira direita desta para ouvir a rede rádio e realizar o
fechamento do vão entre a viatura e o veículo visando evitar a fuga dos abordados;
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 27

Figura 23 – Posicionamento da equipe e abordados para busca veicular

l) O comandante (1ºH) informa que será procedida a busca no veículo e


que o condutor pode acompanhá-la visualmente de onde está;
m) O comandante (1ºH) questiona o condutor se há drogas, armas, valores
ou algo ilícito dentro do veículo;
n) O comandante (1ºH) também determina a apresentação da
documentação do veículo e do condutor, bem como a identificação dos abordados -
caso os documentos estejam dentro do veículo, o segurança – anotador (4ºH) os
apanha e entrega ao comandante (1ºH), não sendo permitido que o abordado retorne
ou mexa no interior do veículo antes do final da abordagem;
o) Enquanto isso, o segurança – anotador (4ºH) inicia a busca veicular.
Objetos que mereçam atenção devem ser entregues ao comandante (deve ser evitado
o excesso de materiais). Caso seja encontrado algo ilícito na busca veicular, o
comandante deve ser informado de forma discreta;
p) Terminada a busca pessoal, o segurança - anotador (4ºH) realizará a
inspeção veicular;
q) Encerrados os procedimentos de busca e identificação das pessoas e
do veículo abordado, e nada sendo constatado de ilícito, o comandante (1º H)
encerrará a abordagem explicando o motivo desta, buscando conscientizar os
ocupantes do veículo para importância deste tipo de intervenção policial, a fim de
deixar ao cidadão uma boa imagem da Brigada Militar;
r) Por fim, a equipe retrai para a viatura permanecendo até que o(s)
ocupante(s) do veículo embarque(m) e desloque(m). Deve-se proceder à segurança
do(s) abordado(s) até a saída deste do local da abordagem.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 28

Figura 24 - Posicionamento da equipe aguardando o deslocamento dos abordados

11.2. Abordagem à motocicleta

A movimentação dos policiais segue a mesma da abordagem de


automóveis, conforme as imagens do item anterior. Os procedimentos a seguir
também podem ser realizados por guarnição com dois policiais, mantendo – se o
padrão de funções e movimentação da abordagem a automóvel constante no “item 9”
deste caderno, adaptados às particularidades relativas à motocicleta que abaixo serão
demonstradas.
a) O comandante (1ºH) aciona o sinal sonoro, o motorista (2ºH) posiciona
a viatura com o farol direito em linha reta à placa da motocicleta abordada, parando
aproximadamente de 3 a 5 metros de distância desta;
b) A equipe permanece “semidesembarcada”, o comandante (1ºH) e o
(2ºH) permanecem abrigados pelo vão de suas portas; o segurança à retaguarda (3ºH)
atento ao seu perímetro de cobertura e o segurança - anotador (4ºH) cerra ao lado do
Comandante (1ºH), abrigado pela porta dianteira da viatura;
c) O comandante (1ºH) anuncia a abordagem: “polícia! Mãos acima da
cabeça! Condutor, desligue a motocicleta, baixe o pé da moto e desembarque! De
costas para mim, venha para parte de trás da motocicleta!” (caso haja outro tripulante,
este desembarca primeiro depois o condutor). Não deve ser permitida a retirada do
capacete.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 29

Figura 25 - Posição inicial

d) Posicionados os abordados, o segurança - anotador (4ºH), o


comandante (1ºH) e o motorista (2ºH) vão até as rodas dianteiras da viatura realizando
a segurança para que o segurança - anotador (4ºH) inicie a busca pessoal;
e) O segurança – anotador (4ºH) coloca a arma no coldre e procede a
busca pessoal;

Figura 26 - Posicionamento para busca pessoal

f) Neste ato deve, o segurança - anotador (4ºH), realizar a busca nos


indivíduos e, ao término, solicitar que o último revistado desafivele o capacete para
que o próprio segurança - anotador (4ºH) o retire e realize a inspeção;
g) Feita a busca pessoal, simultaneamente, o motorista (2ºH) fechas as
portas e vidros da viatura voltados para a rua e permanece junto à roda dianteira
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 30

direita da viatura com atenção à rede rádio e para realizar o fechamento do vão entre
a viatura e a motocicleta visando evitar a fuga dos abordados. O comandante (1ºH)
vai para calçada na linha da frente da motocicleta ordenando aos abordados que se
posicionem a sua lateral esquerda, em linha com os braços para trás. O segurança –
retaguarda (3ºH) se posiciona na calçada, abrigado pela viatura;
h) O comandante (1ºH) questiona se há drogas, armas, valores ou algo
ilícito junto ao chassi da motocicleta;
i) Depois, determina a apresentação da documentação da motocicleta e
do condutor, bem como solicita a identificação dos abordados;
j) Ato contínuo, o comandante (1ºH) informa que será procedida a busca
da motocicleta e que o condutor pode acompanhá-la visualmente de onde está;
k) O segurança – anotador (4ºH) inicia a busca na motocicleta;

Figura 27 - Posicionamento para busca veicular

l) Após rápida inspeção dos documentos o comandante os entrega ao


motorista (2ºH) para verificar a situação dos abordados e da motocicleta via rede rádio;
m) Terminada a busca na motocicleta, realizar-se-á a inspeção veicular
pelo segurança – anotador (4ºH);
n) Encerrados os procedimentos de busca e identificação das pessoas e
do veículo abordado, e nada sendo constatado de ilícito, o Comandante (1ºH)
encerrará a abordagem explicando o motivo e buscando conscientizar os tripulantes
do veículo para importância deste tipo de intervenção policial, a fim de deixar ao
cidadão uma boa imagem da Brigada Militar;
o) Por fim, a equipe retrai para a viatura permanecendo até que o(s)
ocupante(s) da motocicleta embarque(m) e desloque(m). Deve-se realizar a
segurança do(s) abordado(s) até a saída deste(s) do local.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 31

12. ABORDAGEM POLICIAL POR EQUIPE COM TRÊS POLICIAIS

a) Nas abordagens realizadas por guarnições ou equipes que possuam três


integrantes onde haja a necessidade de busca pessoal, proceder-se-á da mesma
forma que com quatro integrantes, com uma única diferença: o segurança à
retaguarda (3ºH) acumula as funções do segurança – anotador (4ºH). Ou seja, realiza
inicialmente a segurança à retaguarda, mas quando extraídos os abordados do
veículo, realiza as buscas. Também fica para o segurança à retaguarda, a tarefa de
realizar a varredura do interior do veículo abordado quando tratar – se de automóvel,
depois que os abordados estiverem posicionados, conforme a letra “e” do “item 10.1”
deste caderno.

Figura 28 - Posição inicial

b) Outra diferença nesse tipo de abordagem que merece ser destacada é


o posicionamento do motorista (2ºH), que deve acumular atribuições, fazendo também
às funções de segurança à retaguarda, além das suas, especialmente no momento
em que é iniciada a busca no veículo pelo terceiro - homem até o final das demais
inspeções pela equipe.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 32

Figura 29 - Posicionamento para busca veicular realizada pelo segurança (3ºH)

13. ABORDAGEM POLICIAL COM A ARMA DE FOGO NO COLDRE

Nas abordagens realizadas por guarnições ou equipes onde não haja


caracterizada a fundada suspeita e o objetivo seja apenas o de orientar, advertir ou,
até mesmo, a fiscalização de documentos de trânsito, a tomada de posição dos
policiais militares pode, mediante avaliação destes, dar – se com as armas de fogo no
coldre, na “posição 1”, mediante cobertura mútua, e aproximação pela coluna central
do veículo, obrigando motorista e passageiro a virarem – se para dialogar com os
agentes da Lei.

Figura 30 – Aproximação do motorista Figura 31 – aproximação do comandante


Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 33

14. ENCERRAMENTO DA ABORDAGEM POLICIAL

Esta última fase da abordagem policial é aquela em que são ultimadas as


providências quanto à prisão dos abordados, no caso de um flagrante delito ou por
determinação judicial ou, ainda, será procedida a liberação daqueles na hipótese de
não-confirmação da suspeita.
Neste último caso, o contato final dos policiais com os cidadãos é
determinante para o pleno êxito da intervenção, eis que se constitui na oportunidade
em que serão informados os motivos daquele procedimento e quando deverá ser
reforçado o papel preventivo da Brigada Militar, objetivando, com isso, angariar a
simpatia e, ao mesmo tempo, retirar o caráter repressivo que emoldura qualquer ação
fiscalizadora desse tipo.
Com relação às medidas de âmbito interno, o encerramento de uma
abordagem a veículo compreende a devida comunicação dos resultados ao
DCCI/Sala de Operações, bem como de suas medidas decorrentes, como
encaminhamento das partes à polícia judiciária para lavratura de flagrante,
preenchimento dos documentos operacionais e outras específicas, de acordo com
cada situação.
Salienta-se, por fim, a necessidade de que em qualquer situação, mesmo
diante da inexistência de qualquer irregularidade, seja lavrado o respectivo Boletim de
Atendimento, com a descrição minuciosa da abordagem e a qualificação das partes
envolvidas, servindo, tal documento, como um registro formal de tal intervenção
policial.

15. PROCEDIMENTO EM CASO DE ACOMPANHAMENTOS E CERCOS

15.1. Considerações gerais

O acompanhamento que estamos tratando nada mais é do que a


perseguição de natureza policial em que ocorre uma tentativa de fuga (recusa da
ordem de parada). Normalmente, nestes casos, o indivíduo imprime altíssima
velocidade e suas manobras e reações são imprevisíveis, merecendo total atenção às
técnicas de direção ofensiva e defensiva. Todo acompanhamento traz risco à
incolumidade pública, ainda que de forma momentânea e localizada. Por este motivo,
exige-se uma resposta rápida, técnica e conjunta.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 34

15.2. Fatores

Para o êxito no acompanhamento e cerco de delinquentes há de se


considerar quatro fatores principais que influenciam neste tipo de ocorrência:
a) Condições do tempo: variáveis como noite-dia, chuva-neblina, verão
(época que as pessoas saem mais às ruas), etc.
b) Condições do terreno: fatores físicos da área de atuação como
extensão, plano, montanhoso, pontos e vias de fuga (estradas, favelas, matagais, etc);
c) Método: existência prévia de planos estratégicos, com linhas de ação
gerais e específicas. Ex.: onde atuará cada guarnição. O que modular na rede de
rádio, etc.
d) Critérios da ação: no processo de tomada de decisão as ações a serem
implementadas deverão obedecer aos critérios da ação:
NECESSIDADE: realmente é necessária à adoção de determinada
medida?
VALIDADE: a ação terá efetividade, alterará o status anterior?
ACEITABILIDADE DO RISCO: a conduta a ser implementada é aceitável
sob o aspecto ético, moral ou legal?
Há de ter consciência dos objetivos da atuação visando a proteção da
comunidade e o cumprimento da lei. Existem inocentes envolvidos em todo
acompanhamento, por exemplo, os transeuntes, moradores ou mesmo reféns, pois
quem empreende fuga geralmente não está preocupado com terceiros.

15.3. Procedimentos

a) O Oficial de Serviço poderá fazer um croqui resumido da área de


patrulhamento (incluindo vias de acessos principais, favelas e outros pontos de
interesse) onde se fará a distribuição estratégica das viaturas;
b) Traçar o plano geral de cerco da área. Recomenda-se analisar este
plano com o efetivo de serviço;
c) O cerco inicia-se, muitas vezes, antes das viaturas saírem da unidade,
ou seja, elas devem ser distribuídas estrategicamente e seus componentes instruídos;
d) O Oficial de Serviço deve enumerar na instrução as causas possíveis de
um acompanhamento: veículo produto de roubo, roubo com refém, pessoa sem
habilitação, roubo de veículo, embriagues, etc;
e) O Oficial de Serviço também deve ajustar com os comandantes de
guarnição/equipe a correta verbalização na rede de rádio, dentro do esperado
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 35

equilíbrio emocional, modulando características do veículo, local e sentido tomado,


quantidade de ocupantes e motivo da fuga, se souber, etc;
f) A tentativa de fuga se constata quando após todos os sinais de parada
serem dados, houver a recusa de parada com o veículo aumentando a velocidade e
tentando despistar a guarnição/equipe. Ocorrendo a insistência na fuga, deve ser
solicitado o apoio para o cerco;
g) A viatura que acompanha, transmite os dados conforme o item “e”, e na
pausa das suas transmissões, as demais guarnições/equipes deverão modular
informando prefixo, local e rumo que estão tomando;
h) O Oficial de Serviço coordena o cerco através de rede de rádio, sempre
promovendo a atualização das localizações das guarnições/equipes, dando prioridade
àquela que se encontra no visual com o veículo em fuga;
i) Caso haja necessidade e possibilidade de outros tipos de apoio, o
comandante deverá acioná-los, (aéreo, batalhão de área, etc.);
j) O DCCI/SOP deve ser comunicado do acompanhamento para alertar a
OPM local e vizinhas para auxílio no fechamento de vias e acessos, diminuindo a
possibilidade de fuga;
k) O mais importante em um cerco não é a proximidade física da viatura
com o veículo perseguido e sim a visualização constante e o envio de informações
precisas e atuais. A velocidade da viatura tem como razão não perder de vista o
fugitivo através de um deslocamento seguro à guarnição/equipe e demais usuários da
via;
l) As zonas de vulnerabilidade social merecem uma atenção especial
durante o acompanhamento, por serem, nesses locais, as vias mais estreitas e
sinuosas, além do que o fluxo de crianças é constante;
m) Em se obtendo êxito na interceptação do veículo e dos fugitivos, deve
se proceder a abordagem seguindo os procedimentos previstos neste caderno,
comunicando de imediato o fato através da rede de rádio;
n) Ao se confirmar a interceptação do veículo através da rede de rádio, as
demais viaturas deverão reduzir suas velocidades adequando-se a nova situação;
o) O Oficial de Serviço deverá comparecer no local para verificar o
desdobramento da ocorrência;
p) Por fim, ainda deve ser observado se, durante o acompanhamento, os
ocupantes do veículo não se desfizeram de objetos que possam ensejar novas buscas
por outras guarnições/equipes.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 36

15.4. Decisão de tiro

A decisão de tiro é individual assim como a sua responsabilidade por seus


danos devendo estar sempre, em primeiro lugar, amparada legalmente. Além disso, é
importante que se reforce que o tiro efetuado embarcado e em movimento tem a
incidência de diversas variáveis que prejudicam sua eficácia. A precisão, por exemplo,
resta prejudicada considerando a oscilação do cano durante o deslocamento da
viatura, intensificando-se de acordo com o terreno. Normalmente há pessoas
inocentes em via pública que podem acabar sendo atingidas. Além disso, há ocasiões
em que criminosos em fuga acabam conduzindo reféns que correm o risco de serem
vitimados pelos disparos dos policiais. Considerando estes aspectos, como regra
geral, não devem ser efetuados disparos durante os acompanhamentos.
No entanto, em situações extremas que caracterizem a legítima defesa dos
próprios policiais militares ou de terceiros, ao decidir pela realização de disparos, os
seguintes parâmetros devem ser observados:
a) Avaliação do campo de tiro: para a realização de disparos de arma de
fogo, o campo de tiro deve estar livre, ou seja, não deve haver policiais militares ou
pessoas não envolvidas com a ocorrência entre o atirador e o alvo, bem como nas
proximidades deste;
b) Avaliação quanto às condições de tempo e lugar: não devem ser
efetuados disparos em locais e horários com grande circulação de pessoas.
c) Identificação do agressor: os disparos devem ter sempre o objetivo de
cessar a injusta agressão, atual ou iminente, contra agressor identificado e
determinado. Os disparos não são realizados contra o veículo com o propósito de
pará-lo, ou de advertir o condutor.
d) O motorista nunca efetua disparos: qualquer que seja a direção do
alvo agressor, em hipótese alguma, o motorista deve sacar a arma de fogo e efetuar
disparos com a viatura em movimento. A atenção deste policial militar deve estar
totalmente voltada para a condução da viatura.
Por fim, cabe ressaltar que mesmo sendo a realização de disparos durante
cercos e acompanhamentos, medida criteriosa e excepcional, a utilização da arma de
fogo nesses casos deve ser devidamente treinada, estimulando – se sempre, e na
medida do possível, a observação dos critérios acima elencados.
Caderno Técnico - Abordagem a Veículos 37

VANIUS CESAR SANTAROSA - Cel QOEM


Comandante Geral da Brigada Militar
(Publicada no BG nº 089, de 12 de maio de 2021)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BETAT, Rodrigo Machado. Os fundamentos da doutrina de patrulhamento tático


motorizado e as Patrulhas Especiais. Revista Unidade n. 72: Porto Alegre, 2012.

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BRIGADA MILITAR DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - Nota de Instrução


Operacional Nº 024.1/EMBM-PM3/2006. Disponível em:
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______________ Caderno Técnico, Abordagem a Veículos. Porto Alegre, 1ª Ed.


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______________ Caderno Técnico, Abordagem Policial de Pessoas a Pé. Porto


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CAMPOS, Alexandre Flecha (Org.). Manual prático do instrutor: tiro policial


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Notas do Curso de Patrulhamento Tático e Ações Especiais de Polícia, 1º


Batalhão de Polícia de Choque – ROTA, PMESP, 2019.

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POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DE MINAS GERAIS – Manual Técnico-Profissional


nº 3.04.04/2013-CG – Abordagem A Veículos, Belo Horizonte, 2ª Ed., 2013.

_______________ Manual Técnico-Profissional nº 3.04.02/2013-CG – Tática


Policial, Abordagem a Pessoas a Tratamento às Vítimas, Belo Horizonte, 2ª Ed.,
2013.

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______________ Manual De Força Tática, 2011.

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