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Armas do Brasil na Guerra do Paraguai

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A  Guerra  do  Paraguai,  que  se  iniciou  em  dezembro  de  1864  terminou  em  março  de  1870,  é
considerado pelos historiadores o maior conflito bélico que já ocorreu na América do Sul. Nos demais
países  participantes,  como  Argentina  e  Uruguai,    ela  é  também  denominada  de  Guerra  da  Tríplice
Aliança. No país que saiu derrotado do conflito, o Paraguai, ela é chamada de Guerra Grande.

Em  1864  havia  um  temor  generalizado  junto  ao  governo  Paraguaio  de  que  o  Império  do  Brasil  e  a
República  Argentina,  países  de  extensão  territorial  maiores  e  dotados  de  mais  recursos  naturais,
planejavam  um  sistemático  desmantelamento  de  países  menores,  presentes  na  região  chamada  de
Cone Sul. Pouco antes, em 1863, o Brasil havia interferido militarmente no vizinho Uruguai a fim de
ajudar aquele país a depor seu presidente Atanasio Aguirre, do Partido Blanco, a fim de empossar o
seu rival do Partido Colorado, Venancio Flores.

Desta forma, o presidente paraguaio Solano Lopes esperava
contar com o apoio dos blancos uruguaios e dos caudilhos
do  norte  da  Argentina  para  levar  a  cabo  um  movimento
contrário à atuação e interferência política do Brasil naquela
região.

Em  11  de  novembro  de  1864  o  Exército  Paraguaio


aprisionou  o  navio  brasileiro  Marquês  de  Olinda,  que
navegava em águas então paraguaias, embarcação onde se
suspeitava  que  houvesse  grande  quantidade  de  material
bélico.  Porém,  o  navio  transportava  o  então  presidente  da
província de Mato Grosso, Frederico Carneiro de Campos.

Algum tempo depois, o Paraguai invade o Mato Grosso e declara guerra ao Brasil em 18 de março de
1865. O Império Brasileiro reage e forma, com o apoio da Argentina e dos colorados uruguaios, agora
no poder, a chamada Tríplice Aliança, em 1º de maio de 1865.

O conflito durou mais de cinco anos, sendo que o Brasil enviou cerca de 150.000 soldados à luta, com
cerca de 50 a 60 mil perdas, a maioria delas  causada por doenças. No Paraguai calcula‑se em 300.000
pessoas mortas, entre soldados e civis, seja em combate ou devido às epidemias que se alastraram na
região.  Para  o  Brasil  este  foi  o  último  dos  grandes  conflitos  armados  envolvendo  questões
internacionais, a exemplo da Guerra da Cisplatina e Guerra do Prata.

Como esse foi o mais importante conflito bélico do qual o Brasil participou, não é de se estranhar o
Como esse foi o mais importante conflito bélico do qual o Brasil participou, não é de se estranhar o
fato de que há muitas informações equivocadas a respeito do que se utilizava como armamento, na
época.  Como,  infelizmente,  não  temos  no  Brasil  muita  cultura  histórica,  o  que  presenciamos  com
bastante  frequencia  são  pessoas  que  possuem,  há  muitos  anos,  ou  receberam  como  herança  armas
antigas, e que sem muita pesquisa e interesse, julgam por si mesmas que “as armas eram da época,
ou que participaram da Guerra do Paraguai”.

Claro  que,  como  veremos  adiante,  o  Exército  Imperial  ainda  estava  longe  de  ser  realmente
profissional  e  organizado  e  muitas  das  armas  utilizadas  por  voluntários  ou  unidades  do  próprio
Exército  não  eram,  na  verdade,  de  dotação  padrão  do  Exército.  Muita  coisa  era  improvisada  e  às
vezes,  de  propriedade  do  próprio  combatente,  fato  que  também  ocorreu  no  próprio  Exército
Confederado,  durante  a  Guerra  Civil  norte‑americana.  Porém,  muitas  vezes  nos  deparamos  com
armas  longas  ou  curtas  que,  sabidamente,  foram  construídas  ou  são  modelos  criados  em  datas
posteriores  à  Guerra  do  Paraguai,  e  que  leva  pessoas  leigas  a  julgarem‑nas  mais  valiosas  do  que
realmente são porque, supostamente, fizeram parte do conflito.

A SITUAÇÃO PRÉ­GUERRA

Segundo o Mestre em História e Curador de Armas Portáteis do Museu Conde de Linhares no Rio de
Janeiro, o Prof. Adler Homero da Fonseca, uma das maiores autoridades em história de armamento
bélico  brasileiro,  a  situação  do  armamento  utilizado  pelo  então  Exército  Imperial  até  a  nossa
Independência,  em  1822,  era  a  acentuada  presença  de  equipamentos  inglêses,  lembrando  que  a
própria  causa  da  independência  dependia  de  apoio  britânico.  Com  o  passar  dos  anos,  após  a
Independência,  a  procura  por  armamento  alternativo  se  intensificou  devido  à  falta  de  recursos
financeiros.  Os  fornecedores  alvos  eram  a  França  e  a  Bélgica.  As  armas  belgas,  principalmente  em
relação  ao  preço,  eram  as  mais  convidativas,  apesar  de  que  a  qualidade  geral  era  bem  inferior  em
relação às equivalentes britânicas.

Este  período  de  adaptação  foi  muito  complicado,  pois  o  país  não
definiu  um  plano  regulamentar  de  padronização.  Desta  forma,
comprava‑se  quase  de  tudo,  independente  de  sua  origem,  inclusive  o
que  era  oferecido  até  por  mercadores  privados.  Umas  poucas  dessas
armas  são  mais  facilmente  identificáveis  nesse  período  crítico  por
possuírem no fecho gravações com o Brasão de Pedro I ou de Pedro II.

À esquerda um fecho de fuzil Brown Bess – clique para ampliar

Pode‑se  julgar  como  arma  padrão,  neste  período  do  Império  e  da


Regência  os  mosquetes  britânicos  do  tipo  Brown  Bess,  também
conhecidos como India Pa膖ern e Short Land Pa膖ern, várias delas encontradas com as gravações PI ou
PII.

Segundo  o  historiador  Adler  Fonseca,  até  meados  de  1850,  todas  as  aquisições  de  armamentos
ficavam sob a responsabilidade de um mestre de armeiros do Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro,
que na verdade tratava‑se de um funcionário civil.
Acima, um típico exemplar do mosquete britânico “Brown Bess” em calibre .75 (adarme 12, ou 19mm), sistema
de ignição de pederneira (flintlock) e cano de alma lisa.

As opções “mais em conta” em relação ao britânico Brown Bess eram as armas de origem belga, que
normalmente  seguiam  as  linhas  de  um  projeto  francês.  Os  mosquetes  belgas  eram  em  sua  grande
maioria  no  calibre  de  17  mm,  calibre  que  substituiu  em  parte  o  padrão  anterior  de  19  mm.  As
guarnições  eram  feitas  em  latão,  detalhe  que  agradava  a  Marinha,  por  ser  um  material  bem  mais
resistente à corrosão, oriunda dos sais marinhos. As armas de sistema de pederneira continuaram em
uso  nas  tropas  do  Exército  até  meados  de  1864,  apesar  de  que  desde  1850  já  estavam  sendo
substituídas  por  mosquetes  de  percussão.  Para  a  Guerra  do  Paraguai,  o  Exército  seguiu  para  o
combate já quase totalmente equipado com essas novas armas.

Um exemplar típico de mosquete francês, de 1777, em calibre 19 mm, modelo muito copiado pelos belgas e
similar ao utilizado em larga escala pelo Exército Imperial Brasileiro

A MODERNIZAÇÃO DO EXÉRCITO

Como  já  descrito  antes,  a  década  de  1850  traria    uma  profunda  modificação  nas  forças  armadas
brasileiras  e,  principalmente,  no  Exército.  Esta  é  a  época  em  que  surge  uma  força  verdadeiramente
profissional, com o fim de antigos vícios herdados de Portugal, tais como o nepotismo e problemas
hierárquicos.  Mas  não  foi  somente  a  lei  de  promoções  de  1850,  que  criou  critérios  visando  apenas
 mérito, tempo de serviço e nível de estudos, que pode ser apontada como fator de modernização do
Exército.

Em seu trabalho sobre a história do armamento bélico brasileiro pré‑Guerra do Paraguai, Fonseca nos
diz  que  as  forças  militares  a  partir  de  1850  estavam  totalmente  reequipadas,  retreinadas  e
reorganizadas, o país com uma ordem interna consolidada, a ponto delas poderem ser usadas como
ferramenta da diplomacia imperial. As intervenções no Uruguai e Argentina em 1852‑53, no Uruguai
em  1854  e  1856,  no  Paraguai  em  1854,  novamente  no  Uruguai  em  1863,  até  o  grande  conflito  da
história brasileira, a Guerra do Paraguai, em 1864, mostram essa atuação.

Data  deste  período  a  criação  da  Comissão  de  Melhoramentos  do  Material  do  Exército,  organização
voltada  à  pesquisa  e  desenvolvimento  em  todos  os  campos  do  material  bélico.  Os  trabalhos  da
Comissão  logo  deram  resultados,  com  a  adoção  de  diversos  novos  equipamentos,  construção  de
fortalezas  de  desenho  com  base  científica,  manuais  redigidos  especificamente  para  o  Brasil  e  não
somente  textos  estrangeiros  traduzidos,  e  finalizando  com  os  primeiros  fuzis  de  retrocarga  do
Exército. Em um curto espaço de 20 anos foram experimentados– e descartados – sete diferentes tipos
Exército. Em um curto espaço de 20 anos foram experimentados– e descartados – sete diferentes tipos
de mosquetes e de carabinas, em busca de uma arma ideal. A substituição de quase todas as armas
com sistema de ignição de pederneira pelo novo sistema de percussão foi a principal mudança a ser
implementada, e a mais importante. O novo sistema era incomparavelmente superior, mais seguro,
mais confiável, a ignição da carga era quase instantânea e eliminava todos os problemas inerentes ao
“flintlock”,  como  os  constantes  ajustes  da  pedra  e  a  necessidade  de  se  colocar  pólvora  em  dois
lugares diferentes: dentro do cano e na cassoleta.

Para saber mais sobre como tudo isso funcionava, veja nosso artigo Sistemas de Ignição em Armas de
Fogo.

A CHEGADA DA “BALA MINIÉ”

Historicamente sabemos que os primeiros projéteis desenvolvidos para armas de fogo eram esferas
de chumbo, fáceis de fazer e normalmente fundidas pelo próprio dono da arma. No sistema de ante‑
carga,  popularmente  conhecido  como  “de  carregar  pela  boca”,  os  projéteis  possuíam  diâmetro  um
pouco  menor  que  o  do  cano,  para  facilitar  a  introdução  através  dele,  com  o  uso  de  um  varão.
Normalmente  colocava‑se  um  pequeno  pedaço  de  tecido  para  “embrulhar”  o  projétil.  As  armas
possuíam canos de alma lisa e as esferas ou pontas ogivais saíam do cano sem nenhum movimento
de  rotação.  A  precisão  e  o  alcance  eram  muito  baixos.  Projéteis  não  esféricos,  de  forma  ogival,  se
usados  em  armas  de  alma  lisa,  tendem  a  sair  da  trajetória  e  de  desequilibrarem  de  forma
desordenada. A maioria dos mosquetes de ação de pederneira, como os que o Brasil utilizava antes
de  1850  tinham  precisão  até,  no  máximo,  150  ou  200  metros,  mesmo  se  levando  em  conta  o
comprimento do cano, que neste caso, influía bastante.

Testes desenvolvidos na Alemanha, por volta de 1790, mostram qual era o índice de imprecisão das
armas:  um  alvo  de  30  metros  de  largura  por  1,8  metros  de  altura  (supostamente  representando  a
frente de um batalhão), serviu para as provas. A 200 metros, apenas 25% dos tiros atingiram o alvo. A
140  metros,  40%    e  a  70  metros  60%  dos  disparos  tocaram  no  alvo.  Resultados  muito  pouco
animadores, se considerarmos o tamanho do alvo e as condições ideais em que foram executados os
testes, ou seja, fora do campo de batalha, com os atiradores e alvo estáticos, sem que o inimigo e o
nervosismo  perturbassem a mira, e ainda com tempo suficiente  para que a grande quantidade de
fumaça se dispersasse.

Claude  Etiènne  Minié  nasceu  em


Paris  em  1804  e  faleceu  em  1879.
Ingressou  no  Exército  Francês  onde
chegou ao posto de capitão; era muito
conhecido pelas idéias e soluções que
costumava  oferecer  aos  oficiais  e
colegas de armas. Em 1849, intrigado
com  a  falta  de  precisão  oriunda  dos
mosquetes  com  alma  lisa,  em  uso  na
época, desenvolve um tipo de projétil
para  ser  utilizado  com  mais
facilidade em armas com cano raiado.

Desenho esquemático do projétil Minié para uso no fuzil Harpers‑Ferry de calibre .577

Devido  ao  fato  de  que  os  projéteis  usados  em  armas  de  alma  raiada  devem  possuir  um  diâmetro
Devido  ao  fato  de  que  os  projéteis  usados  em  armas  de  alma  raiada  devem  possuir  um  diâmetro
bastante justo e calibrado, para que o mesmo se agarre com firmeza nas estrias, sem derrapar, e que
também  consigam  uma  vedação  perfeita  evitando  o  escape  de  gases,  fazia  com  que  fosse  quase
impossível  de  serem  introduzidos  ao  interior  do  cano  através  da  boca,  como  é  o  sistema  de  ante‑
carga, sistema usado em todas as armas antes do advento do cartucho metálico.

O  projeto  de  Minié  consistia  em  um  projétil  de  chumbo,  expansível,  com  diâmetro  igual  ou  muito
pouco inferior ao da medida dos “cheios” das raias, para que o mesmo pudesse ser introduzido pelo
interior do cano, com auxílio de uma vareta, mas sem muito esforço. Normalmente o projétil possuía
ranhuras  que  já  eram,  previamente,  untadas  com  graxa  para  facilitar  essa  operação.  O  segredo  da
invenção consistia em uma parte ôca na porção traseira do projétil, em forma de cone. Em algumas
variantes, havia uma espécie de “tampa” de metal, encaixada nessa abertura.

Ao  ser  disparado  o  fuzil,  a  pressão  interna  da  combustão  da  pólvora  era  aplicada  sobre  a  parte
posterior do projétil, iniciando assim o movimento de expulsão do mesmo para fora do cano. Devido
ao  formato  cônico  da  traseira  do  projétil,  a  pressão  penetrando  pela  cavidade  traseira  o  fazia
expandir, ocasionando um aumento ou dilatação em seu diâmetro, forçando o projétil a agarrar‑se ao
raiamento interno do cano; o mesmo era consequentemente expulso do mesmo com um movimento
giratório.    Porém,  como  só  se  utilizava  a  pólvora  negra  nesta  época,  a  quantidade  de  resíduos
oriundos  da  queima  no  interior  do  cano  era  muito  alta  e  começava  a  dificultar  a  introdução  dos
projéteis,  depois  de  uma  certa  quantidade  de  disparos.  Isso  forçava  o  atirador  a  constantemente
limpar o interior do cano com uma vareta e escovas apropriadas. Apesar disso, o sistema era muito
vantajoso pois agora permitia precisão de tiro acima dos 150 metros, distância que, antes da Minié,
mal se conseguia acertar um soldado oponente. A Guerra Civil Americana e a Guerra dos Boshins no
Japão  foram  alguns  dos  primeiros  palcos  de  batalhas  a  testarem  e  sentirem  a  superioridade  do
sistema Minié.

Como se pode notar, a invenção era tão simples que não se necessitava sequer de projetos de armas
novas. Bastavam os mesmos projetos já existentes, mas com canos raiados, e a fundição dos projéteis
com  as  medidas  corretas.  O  sistema  Minié  foi  o  causador  de  uma  revolução  na  indústria  de
armamento.  Pela  primeira  vez  os  princípios  da  produção  em  série  e  da  padronização  permitiram  a
fabricação  em  larga  escala  de  uma  arma  de  precisão  confiável,  capaz  de  ser  distribuída  a  todos  os
soldados e não apenas a unidades especializadas de atiradores. Com o uso de armas do tipo  Minié, o
combate  de  tiro,  antes  restrito  até  uns  200  metros,  passou  a  ser  feito  em  distâncias  muito  maiores.
Assim, a alça de mira do mosquete brasileiro de fabricação belga era regulada para 825 metros e, de
fato,  o  atirador  tinha  chances  de  atingir  um  alvo  grande  (como  um  batalhão  em  linha),  a  uns  500
metros de distância, sem maiores problemas.

Um levantamento feito pelo historiador Adler Fonseca nos indica que a verdadeira expansão do uso
das  armas  do  tipo  Minié  no  Brasil  viria  em  1857,  com  a  aquisição  de  diversas  armas  de  um  novo
padrão, em calibre 14,8 mm:

Mosquetes de 17, cano liso 2,000
Mosquetes (à Minié) para Infantaria 3,000
Carabinas (à Minié) para caçadores 3,000
Mosquetões (à Minié) para Artilharia 2,000
Mosquetões (à Minié) para cavalalria 3,000
Pistolas (à Minié) 3,000
CARABINAS (CLAVINAS) BELGAS “MINIÉ”

Essa  arma  pode  ser  considerada  como  sendo  a  padrão  em  uso  na  Infantaria  do  Império,  durante  a
Guerra  do  Paraguai,  pois  foi  a  que  teve  presença  mais  maciça  em  combate.  Era  calibrada  para
projéteis  de  14,8mm  do  tipo  Minié,  e  eram  equipadas  com  baionetas  retas,  com  punho  de  latão.
Inicialmente  chegaram  ao  Brasil  com  alças  de  mira  graduadas  em  braças,  uma  antiga  medida
portuguesa, mas logo foram alteradas para o sistema métrico, que passou a vigorar no Brasil em 1864.

Uma carabina Minié de fabricação belga (foto de colecionador particular)

Cerca de 28.000 dessas armas foram enviadas ao Paraguai, sendo distribuídas entre os batalhões de
caçadores  e  para  todas  as  unidades  dos  denominados  Voluntários  da  Pátria.  Conta‑nos  Adler
Fonseca que, na linha de frente, soldados sofreram do mesmo problema de todo o sistema Minié, por
causa da existência de uma arma da mesma classe, mas de calibre diferente: o mosquete Enfield 1858.
A  solução  encontrada  para  isso  foi  a  padronização  da  munição  de  calibre  menor,  o  que  tornou  as
carabinas do modelo belga muito menos eficientes do que seria de se esperar.

Detalhe do fecho de um mosquete belga do tipo Minié, bastante similar ao modelo utilizado pelo Brasil. Consta
Detalhe do fecho de um mosquete belga do tipo Minié, bastante similar ao modelo utilizado pelo Brasil. Consta
que o mesmo fabricante belga chegou a fornecer um grande lote dessas armas também aos Estados Confederados
durante a Guerra Civil americana, onde passaram a ser conhecidos como “Brazilian Minié Muskets”

O MOSQUETE ENFIELD

O mosquete britânico denominado de Enfield Pa膖ern 1853 Musket, também conhecido como P53 era
um  fuzil  calibrado  para  projéteis  Minié  de  .577  de  diâmetro,  sistema  ante‑carga  e  ignição  por
percussão. Foi uma arma largamente utilizada pelo Império Britânico entre os anos de 1853 e 1867;
neste  último  ano,  foram  convertidos  e  substituídos  pelo  chamado  Snider‑Enfield,  já  utilizando  um
cartucho que era alimentado no sistema de retrocarga. Devido à presença das três braçadeiras de aço
ao longo da arma, era conhecida também como mosquete de “Três Bandas”. Com uma carga de 4 1/2
gramas de pólvora negra, arremessava o projétil de 34 gramas de peso a uma velocidade de cerca  de
270 metros/segundo.

Acima, o Enfield Pa膖ern 1853, denominado no Brasil de Enfield 1858, primeiramente em calibre .577 (14,6mm)
e depois convertido para pontas Minié de 14,8mm. 

O  Enfield  modelo  brasileiro,  adquirido  da  Inglaterra  em  um  grande  lote,  por  volta  de  1858,  foi
utilizado  indiscriminadamente  pelos  batalhões  de  fuzileiros,  junto  com  as  armas  belgas  minié,  mas
de calibre diferente. Como não podia deixar de ser, isso gerou uma série de confusões com relação à
distribuição de munição durante a guerra do Paraguai. Por esse motivo, foi ordenado a conversão da
arma para o calibre 14,8 mm, gerando uma arma que é chamada de modelo 1864/1865.

Além  dessa  alteração  do  calibre,  as  armas  sofreram  uma  série  de  mudanças  como  a  troca  das
guarnições das bainhas, de ferro para latão, o que também foi feito nas braçadeiras do cano da arma.
A vareta original do Enfield, que tinha uma cabeça de ferro serrilhada, foi trocada por outra de latão
como  nas  armas  belgas,  menos  propensa  a  danificar  as  raias.  As  alças  de  mira,  originalmente
calibradas e numeradas em jardas, foram posteriormente recalibradas e renumeradas, com distâncias
em metros, algo que no início causava muita confusão aos atiradores.

De qualquer forma, os dois tipos de Enfield, modificados ou não – são muito raros hoje em dia, pois
só foram usados por sete dos 79 batalhões de Infantaria durante a Guerra do Paraguai (4.320 Enfields
foram  enviadas  para  a  frente  de  batalha);  portanto,  a  arma  mais  comum  na  guerra  era  o  mosquete
belga, e não o inglês. Ambos saíram de serviço logo após o término da Guerra do Paraguai, quando a
carabina também belga Comblain, uma arma de um só tiro mas de retro‑carga, foi adotada.

O  fuzil  Enfield  1858  era  calibrado,  portanto,  para  um  projétil  de  14,66mm,  media  140mm  de
comprimento  e  pesava  3,900Kg,  com  alcance  útil  estimado  em  300  metros.  Sua  alça  de  mira  era
graduada para 1.100 metros. Um soldado bem treinado podia efetuar uma média de 2 a 4 disparos
por minuto.
CARABINA SPENCER

A carabina Spencer foi projetada pelo inventor norte‑americano Christopher Spencer, em 1860. Para a
época,  era  decididamente  uma  arma  revolucionária,  pois  se  tratava  de  uma  carabina  de  repetição,
similar em uso mas não em características ao famoso rifle Henry, também produzido a partir de 1860,
arma  essa  que  originou,  posteriormente,  as  carabinas  e  rifles  da  Winchester.  A  Spencer  era
alimentada  por  um  carregador  tubular  contido  na  coronha  da  arma,  com  capacidade  para  sete
cartuchos calibre .56‑56, cartucho com aro no sistema fogo‑circular (rim‑fire). Essa nomenclatura não
segue  os  padrões  de  hoje:  o  primeiro  valor  se  refere  ao  diâmetro  do  cartucho  em  sua  base  e  o
segundo,  o  diâmetro  na  boca  do  cartucho.  O  diâmetro  do  projétil  era  de  .52″,  mas  era  denominada
aqui como calibre 12,7mm. O cartucho era carregado com 45 grains (2.9 gramas) de pólvora negra. A
título de comparação, o posterior cartucho .44‑40 Winchester, utilizado nos rifles e carabinas modelo
1873, e posteriormente também no  modelos 1892, era carregado com 40 grains.

Acima, a carabina norte‑americana Spencer, de repetição, 7 tiros, extensivamente usada pela cavalaria do
exército norte americano na Guerra Civil, e posteriormente, adotada pela Cavalaria do Exército Brasileiro,
participando do conflito contra o Paraguai. 

O funcionamento da arma era simples: retirava‑se o varão de metal por trás da soleira, alimentava‑se
o  túnel  contido  da  coronha  com  os  cartuchos  e  em  seguida,  colocava‑se  novamente  o  varão,  o  qual
continha  uma  mola  espiral  em  seu  interior,  que  serviria  para  impulsionar  os  cartuchos  para  serem
alimentados  na  câmara.  O  movimento  de  baixar  e  subir  a  alavanca  inferior,  que  também  servia  de
guarda‑mato,  extraía  um  cartucho  disparado  da  câmara  e  alimentava  um  novo  cartucho.  Esse
movimento não armava o cão, procedimento que tinha que ser feito manualmente a cada disparo.

Havia uma peça interessante, transportada pelos soldados, denominada de Blakeslee Cartridge Box.
uma  espécie  de  caixa  hexagonal  contendo,  dependendo  do  modelo,  de  10  a  13  tubos,  com  sete
cartuchos no seu interior, que podiam ser esvaziados um a um no interior do tubo da coronha, o que
aumentava consideravelmente a cadência de tiro.
Uma antiga ilustração da carabina Spencer: 1) carabina modelo 1865 – 2a) tubo do carregador com mola e um
cartucho – 2b) Blakeslee Box com 10 tubos de 7 cartuchos cada – 3) vista do mecanismo interno. 

Alguns  outros  cartuchos  foram  utilizados  na  Spencer,  como  o  .56‑52,  .56‑50  e  os  .56‑46,  mais
raramente  utilizados.  Apesar  de  serem  quase  tão  potentes  quanto  ao  .58  utilizado  nos  fuzís  ante‑
carga  da  época,  posteriormente  se  tornaram  fracos  quando  comparados  aos  novos  cartuchos
adotados  militarmente  pelos  Estados  Unidos,  como  0  .50‑70  e  0  .45‑70.  Um  atirador  treinado
conseguia  uma  cadência  de  tiro  de  quase  20  disparos  por  minuto,  uma  marca  excepcional  quando
comparada  com  a  média  de  2  a  3  disparos  por  minuto  dos  fuzís  ante‑carga.  As  Spencer  foram  as
primeiras  armas  longas  com  um  sistema  de  repetição  a  serem  adotadas  pelo  Exército  Americano,
adquiridas  em  número  de  94.000  para  suprir  as  unidades  de  Cavalaria.  A  infantaria,  por  sua  vez,
ainda  dava  preferência  ao  preciso  e  potente  Springfield  1861,  um  mosquete  do  tipo  Minié,  o  mais
largamente  empregado  durante  a  Guerra  Civil  Americana,  fazendo  uma  dobradinha  de  muito
sucesso com o Pa膖ern 53, o Enfield 1853 tal qual usado aqui no Brasil, na Guerra do Paraguai.

No Brasil, a Spencer teve o potencial de ser um equipamento revolucionário na história da cavalaria
brasileira,  mas  este  potencial  foi  desperdiçado.  Diz‑nos  Adler  Homero  que  durante  a  Guerra  do
Paraguai, por volta de 1866, quando foram adquiridas a pedido do então Marques de Caxias, tiveram
um problema inicial com a munição. Esta não muito confiável e este fato retardou a sua distribuição
para  a  tropa.  Entretanto,  a  insistência  dos  oficiais  da  Comissão  de  Melhoramentos  do  Material  do
Exército fez com que novas tentativas fossem feitas em 1867 e os problemas iniciais superados, sendo
a arma distribuída em grande número aos esquadrões de atiradores dos Regimentos de Cavalaria.
Desenho esquemático da carabina Spencer: na fig.1, a arma se encontra carregada com 6 cartuchos no
carregador tubular e um já está alimentado na câmara, com cão armado, pronta para o disparo. Na fig.2,
alavanca de manejo se encontra aberta, mostrando um cartucho já posicionado sobre o alimentador, cartucho
que será impulsionado para a câmara assim que se fechar a alavanca. 

Por ser uma arma de retrocarga, era possível ao atirador recarregá‑la enquanto estava deitado (todas
as armas de carregar pela boca exigiam uma postura ereta, tornando o atirador um bom alvo para o
inimigo).  Ao  mesmo  tempo,  o  fato  de  ser  uma  arma  de  repetição,  dava‑lhe  uma  cadência  de  fogo
prática de 3 a 5 vezes maior que as armas de carregar pela boca. Pela primeira vez a cavalaria tinha
condições  de,  em  um  combate  de  tiroteio,  derrotar  um  número  igual,  ou  até  maior  de  soldados  de
infantaria armados com mosquetes ou carabinas de percussão, de um só tiro. O pessoal da cavalaria
podia, com bastante prática adquirida com o tempo, atirar repetidamente com a Spencer, em plena
cavalgada.

Relatos  históricos  contam  que  “no  combate  de  São  Solano,  a  6  de  setembro  de  1868,  um  grupo  de  57
cavalarianos armados com aquelas carabinas, resistiram intrepidamente a uma força de quase 500 homens da
cavalaria inimiga, em cujas fileiras faziam destroços, e sustentaram o mesmo ataque até a chegada de reforços“.
E também “…no combate de Isla‑Tay em 3 de outubro de 1867, e no de Tatayba, em 21 do mesmo mês, que foi
um  bem  combinado  ataque  para  destruir  a  cavalaria  inimiga,  as  nossas  clavinas  à  Spencer  obtiveram
maravilhosos resultados com seus rápidos e mortíferos tiros, e derrotaram completamente o inimigo, que nunca
conseguiu fazer uma só carga, como mesmo afirmaram alguns dos seus oficiais prisioneiros“.

Carabina do tipo Spencer, cópia produzida pela Falisse & Trapmann, de Liège, Bélgica, adquirida pelo Império
Brasileiro após a Guerra do Paraguai

Posteriormente  à  guerra,  em  1872,  o  Exército  já  tinha  adotado  uma  nova  arma  de  repetição  para  a
Posteriormente  à  guerra,  em  1872,  o  Exército  já  tinha  adotado  uma  nova  arma  de  repetição  para  a
Cavalaria, os rifles de repetição Winchester modelo 1866, mas os oficiais continuaram por um longo
período a preferir a Spencer, por causa da fama que ela adquiriu na Guerra do Paraguai. O sucesso
dela foi tanto que, em 1873, outra encomenda foi feita, desta vez à Bélgica, junto a Union Armurière
Belge, um consórcio de fabricantes daquele país, dentre eles a Falisse & Trapmann, de Liège.

A carabina Winchester modelo 1866, de calibre .44 de fogo circular “rim‑fire”

Na verdade, a fábrica da Spencer nos Estados Unidos já havia encerrado suas atividades e os direitos
de  fabricação  foram  adquiridos  por  outra  companhia,  que  na  verdade  não  desejava  prosseguir  na
fabricação  da  arma.  A  Spencer  sucumbiu  ao  tremendo  sucesso  e  à  inquestionável  qualidade  e
praticidade  dos  rifles  e  carabinas  da  Winchester.  Veja  nosso  artigo  sobre  as  carabinas  e  rifles
Winchester e conheça um pouco mais sobre a presença dessas armas no Brasil.

Acima, a carabina norte‑americana Winchester, modelo 1873, em calibre .44‑40, o primeiro modelo da marca a
utilizar um cartucho de fogo‑central. O Exército Norte‑Americano nunca a adotou, mas tanto índios como
“cow‑boys” a adoravam. 

Em 1877, surgiu uma última variante da Spencer aqui no Brasil, resultado de uma modificação feita
localmente,  quando  se  ordenou  a  transformação  de  todas  as  armas  que  utilizavam  cartuchos  do
sistema  fogo‑circular  para  o  sistema  de  fogo‑central.  Essa  operação  foi  executada  na  Fábrica  de
Armas  da  Conceição,  na  grande  maioria  das  armas,  tanto  que  hoje  em  dia  é  muito  difícil  de  se
encontrar  uma  Spencer  que  não  tenha  sido  modificada.  As  Spencers,  usadas  a  partir  de  1872  nas
companhias  isoladas  de  cavalaria  continuaram  em  serviço  até  cerca  de  1890,  quando  foram
substituídas pelas carabinas derivadas do fuzil de Comissão Alemã de 1888.

Porém,  já  em  1873  o  Exército  decidiu  por  regulamentar  o  uso  da  carabina  belga  Comblain  calibre
11mm,  monotiro,  arma  essa  que  se  tornaria  histórica  no  Brasil  e  que  brevemente  será  alvo  de  um
artigo específico, aqui em Armas Online.

ARMAS CURTAS
Nos  anos  iniciais  da  Guerra  do  Paraguai,  o  Exército  Imperial  do  Brasil  ainda  utilizava  algumas
pistolas de pederneira como armas de uso pessoal de oficiais. Mesmo após a introdução do sistema
Minié, algumas armas curtas já no sistema de percussão foram adquiridas, tanto em alma lisa como
raiadas.  Em  1872,  o  Império  negociou  com  a  Inglaterra  a  compra  de  2.000  pistolas  Enfield,
provenientes  de  arsenais  daquele  país,  numa  época  em  que  essas  armas  já  eram  consideradas
obsoletas.

A  bem  da  verdade,  anos  antes  da  eclosão  da  guerra  o  Exército  já  vinha  experimentando  alguns
revólveres,  se  bem  que  essas  armas  eram  destinadas  unicamente  a  uso  de  oficiais.  Pistolas  de
percussão e de tiro simples continuaram a ser usadas por mais alguns anos pelas praças, pelo menos
até 1882, ou seja, bem depois da guerra ter terminado, época em que foram adquiridos os primeiros
lotes dos revólveres belgas Nagant.

Pistola inglesa Enfield Pa膖ern 1856 em calibre .577, adquirida pelo Brasil quando já eram consideradas armas
obsoletas

Vale  a  pena  refletirmos  um  pouco  sobre  como  a  realidade  brasileira  de  armamentos  do  Exército
estava  longe  dos  padrões  europeus  e  principalmente,  dos  norte‑americanos.  Só  como  exemplo,  a
Guerra Civil americana iniciou‑se em 1861 e terminou em 1865, menos de um ano após, portanto, do
começo  do  conflito  da  América  do  Sul.  Mas  cerca  30  anos  antes,  em  1836,  Samuel  Colt  já  havia
projetado  e  lançado  seu  primeiro  revólver,  o  modelo  Paterson,  de  6  tiros  e  utilizando  sistema  de
percussão. Em 1860, pouco antes de estourar a Guerra Civil, o Exército Americano já havia adotado o
revólver Colt de percussão, o modelo Army, e praticamente todos os oficiais e até alguns sargentos o
utilizaram durante a guerra. Portanto, é de se estranhar como, até meados de 1870, ainda se pensava
em comprar pistolas de sistema de ante‑carga no Brasil.

Fonseca nos diz que há uma dúvida histórica, sobre quando se adotaram os primeiros revólveres no
Brasil.  Há  alguns  indicativos  que  apontam  para  uma  distribuição  limitada  de  revólveres  Colt  do
modelo Navy (1851), supostamente para os oficiais que voltaram de Caseros (há documentos sobre
uma entrega de, pelo menos, duas caixas de “pistolas” vindas dos EUA em novembro de 1852).
Revólver Colt de percussão, modelo Navy de 1851, em calibre .36

Pode  ser  viável  que  outra  compra  tenho  acontecido  depois  disso,  talvez  antes  da  adoção  oficial  do
revólver  Lefaucheux.  Entretanto,  um  parecer  da  Comissão  de  Melhoramentos  dava  a  impressão  de
que  revólveres  Colt  e  Lefaucheux  já  estavam  sendo  utilizados  por  aqui.  O  autor  acredita  que  a
quantidade  adquirida  de  revólveres  Colt  mod.  Navy  foi  muito  pequena,  suficiente  talvez  para
equipar uma ou outra unidade do Exército, devido ao seu preço não competitivo, e pelo fato de que
são armas muito raras de serem encontradas no Brasil.

Acima, o revólver de percussão Colt, modelo Navy (Marinha) de 1851, em calibre .36, 6 tiros, com sua caixa
original, lata de espoletas, moldeira e polvorinho (Foto de coleção particular) 

Em 1858, o governo imperial realmente decidiu adotar o revólver sistema Lefaucheux, conhecido nos
Em 1858, o governo imperial realmente decidiu adotar o revólver sistema Lefaucheux, conhecido nos
anais  do  Exército  como  modelo  1858,  que  foi  a  primeira  arma  curta  militar  a  utilizar  cartuchos
metálicos no país.  Eles  tiveram  uma  longa  história  no  país,  distribuídos tanto na Marinha como no
Exército, mas não foi considerado uma arma confiável. O sistema de Lefaucheux foi desenvolvido em
1828,  na  França.  Seu  inventor  foi  Casimir  Lefaucheux,  nascido  em  1802  na  cidade  de  Bonnétable  e
falecido em Paris, em 1852. Sua patente do cartucho metálico data de 1827, e baseou grande parte de
seu projeto no trabalho de seu conterrâneo Jean Samuel Pauly, em meados de 1812.

Seu primeiro cartucho consistia de um tubo de papelão cheio de pólvora cuja extremidade final era
um copo de latão. O projétil era cônico e feito de chumbo maciço. Internamente, no copo de latão, era
montado  um  pequeno  reservatório  com  uma  mistura  fulminante,  muito  similar  às  espoletas  que  já
eram utilizadas na época, que seria detonada por um pino que ali se apoiava. Esse pino era exposto
 alguns milímetros, através de um orifício lateral na parte traseira do cartucho; daí origina‑se o nome
do sistema: “pin‑fire“.

Em  1846,  o  cartucho  projetado  por  Casimir  foi  aperfeiçoado  pelo  seu  conterrâneo  M.  Houiller,  que
desenvolveu  um  novo  cartucho,  agora    inteiramente  feito  de  latão  mas  mantendo  a  idéia  de
Lefauchex  quanto  ao  sistema  de  ignição.  Em  1858,  os  revólveres  do  sistema  Lefauchex  foram
adotados  pelo  Governo  Francês,  e  também  por  aqui,  tornando‑se  assim  os  primeiros  cartuchos  de
metal a serem utilizados militarmente por um governo.

   

À esquerda temos um esquema de como era montada a espoleta no interior do cartucho e seu respectivo pino. Na
foto central e da direita, cartuchos Lefauchex de calibre 12mm para uso em revólveres militares.

A  detonação  ocorria  quando  o  cão  da  arma,  agindo  pela  parte  superior  do  tambor,  atingia  o  pino
pressionando‑o  para  dentro.  Com  esse  impacto,  o  pino  esmagava  a  mistura  fulminante,  a  qual
detonava  e  iniciava  a  queima  da  pólvora.  A  desvantagem  deste  sistema  consistia  no  fato  de  que  os
cartuchos,  quando  inseridos  na  arma,  tinham  sempre  que  tomar  uma  posição  fixa,    que  era
determinada pelo pino. Os cartuchos não tinham aro (“rimless“) e eram esses pinos que serviam de
apoio para eles se fixarem no interior das câmaras. Além disso, como o pino era muito protuberante,
um  impacto  acidental  poderia  detonar  o  cartucho  ao  ar  livre.  Outro  problema  desse  cartucho  era  a
sua  má  vedação,  pois  água  poderia  penetrar  em  seu  interior  através  da  pequena  folga  existente  no
furo do pino.
Um típico revólver do sistema Lefaucheux de fabricação belga, modelo similar aos que foram adotados pelo
Império a partir de 1858 

Mesmo  assim,  armas  do  sistema  “pin‑fire”  foram  largamente  utilizadas  em  conflitos  na  Europa  e
foram muito disseminadas nos Estados Unidos, durante a Guerra Civil. Uma quantidade enorme de
revólveres e pistoletes usando a munição de Lefaucheux foi fabricada, apesar de suas desvantagens
quanto  à  segurança.  Entretanto,  era  inegável  ser  um  sistema  de  carregamento  muito  mais  rápido  e
fácil  do  que  uma  arma  de  percussão  de  antecarga,  principalmente  se  contasse  com  capacidade  de
vários disparos, como nos revólveres de tambor, alguns modelos com mais de 10 tiros.

Revólver belga muito similar ao Dumontier adotado pelo Exército Brasileiro em 1858, no sistema Lefaucheux

Não  se  sabe  precisamente  qual  modelo  de  revólver  sistema  Lefaucheux  foi  adotado  em  1858.
Manuais do Exército, da época, ilustram um revólver Dumontier, embora deixavam patente de que
não  era  o  padrão,  e  sim,  similar.  Acredita‑se  que  diversos  fabricantes  foram  fornecedores  para  o
governo. Sòmente em 1873 que os revólveres Lefaucheux começaram a ser substituídos pelos Gèrard,
denominados de Revólver Modelo 1873. A Marinha continuou usando os revólveres Lefaucheux até
meados de 1882.
O revólver Gèrard foi o primeiro revólver a ser usado no Brasil que utilizava cartucho de metal de
O revólver Gèrard foi o primeiro revólver a ser usado no Brasil que utilizava cartucho de metal de
ignição  de  fogo  central,  bem  mais  confiável  que  os  “pin‑fire”  de  Lefaucheux.  Usava  um  esquisito
sistema de abertura basculante para cima, através do uso de duas braçadeiras laterais. A vantagem
desse mecanismo era a extração simultânea de todos os cartuchos, assim que o cano e tambor eram
basculados  para  cima.  O  carregamento  também  era  feito  nessa  posição,  sendo  mais  rápida  a
introdução  dos  cartuchos  nas  câmaras.  O  cartucho  utilizado  era  o  .380  Short  Revolver,  ou  9X17R,
carregado  com  pólvora  negra,  cartucho  que  se  popularizou  muito  aqui  no  Brasil,  utilizado  nas
populares garruchas de dois canos.

O revólver foi projetado e patenteado em 1870 pelo armeiro belga Théophile Gèrard e foi produzido
principalmente  por  duas  empresas:  a  Manufacture  Liegeoise  e  por  Jules  Kaufmann.  Segundo  o
historiador Adler Fonseca, aqui no Brasil, após a Guerra do Paraguai, novas encomendas do Gèrard
foram  feitas,  em  1892,  1895,  1897  e  1898  (dos  fabricantes  Schaeffer  Kaufmann  e  Jules  Kaufmann),
continuando a arma a ser distribuída apenas aos oficiais e inferiores, sendo que um grande número
foi  comprado  –  pelo  menos  1.000  em  1892  e  1.300  em  1898,  tendo  em  vista  algumas  das  faturas  de
recebimento  preservadas  no  Arquivo  Nacional.  O  que  se  sabe  é  que  em  1899,  havia  2.665  deles  em
depósito no Arsenal de Guerra do Rio de Janeiro, sem contar as armas em outros depósitos e em uso
nas  unidades.  Curiosamente,  estes  revólveres  eram  muito  mais  complicados  que  os  Nagant
distribuídos  aos  soldados,  custavam  menos  do  que  esses  últimos:  41  francos  contra  50  dos  Nagant.
Atribuímos este fato à delicadeza do mecanismo que, como apontou a Comissão de Melhoramentos
do Material, era feito de peças bem mais fracas que os revólveres de soldados.

O revólver Gèrard continou em uso no Exército Brasileiro até 1906, quando foi fechado o contrato de
aquisição de 5.000 pistolas Parabellum da empresa alemã DWM.

Revólver Gèrard, adotado em 1873, um projeto de Théophile Gèrard, armeiro belga da cidade de Liège. Essa
arma, produzida pela Manufacture Liegeoise,  pertence à um colecionador brasileiro. 

ARGENTINA, PARAGUAI E URUGUAI

Em termos de contingente humano, a história nos conta que, por ocasião da assinatura do Tratado da
Em termos de contingente humano, a história nos conta que, por ocasião da assinatura do Tratado da
Trílpice  Aliança,  as  forças  conjuntas  desses  três  países  somavam  1/3  das  forças  paraguaias.  O
Paraguai  contava  com  60.000  homens  arregimentados.  O  Brasil  não  possuía  nem  12.000  homens
treinados,  o  Uruguai  com  3.000  e  a  Argentina  com  cerca  de  8.000  homens.  Entretanto,  com  a
modernização do Exército a partir de 1850, o Brasil, pelo menos no que toca às armas portáteis, tinha
o arsenal mais moderno.

Algumas  das  armas  de  fogo  utilizadas  pelo  Exército  Argentino  no  conflito,  eram  oriundas  da
Espanha,  mosquetes  de  pederneira  de  1777.  Durante  a  reconquista  de  Buenos  Aires,  tomada  pelos
ingleses,  diversos  fuzis  Brown  Bess  britânicos  foram  capturados.  Nos  anos  de  1810  a  1862  uma
verdadeira bagunça se instaurou, com a utilização de diversas armas de calibres diferentes entre si,
como modelos de fuzis franceses de 17,5mm. Em 1865, após testes na linha de frente com alguns fuzis
ingleses  Enfield,  os  mesmos  que  o  Brasil  utilizava,  encomendou‑se  uma  grande  aquisição  dessas
armas,  bem  como  de  carabinas  Spencer  e  Sharp,  norte  americanas,  o  também  norte‑americano
Springfield  1861  de  alma  raiada  (Minié)  bem  como  uma  (sim,  só  uma!)  metralhadora  Gatling,
adquirida em 1867.

No Paraguai a situação não era muito diferente da Argentina: algumas armas longas de sistema de
pederneira ainda foram utilizadas no começo dos conflitos. Em 1863, o Exército Paraguaio utilizava
mosquetes  de  alma  lisa,  de  percussão,  como  o  francês  Saint‑Etiènne  modelo  1854  de  calibre  18mm.
Durante  os  anos  do  conflito  as  forças  foram  sendo  reequipadas  com  fuzís  e  carabinas  do  sistema
Minié,  denominados  oficialmente  de  Nº  1  e  Nº  2,  em  calibre  18mm,  que  permaneceram  em  uso  até
meados de 1875, quando  se  iniciou  no  país  um  processo  de  modernização das armas de infantaria,
visando a substituição das ante‑cargas para o uso de cartuchos metálicos.

Para  se  aprofundar  no  assunto  da  História  do  Armamento  Bélico  Brasileiro,  acesse  o  site  Armas
Brasil,  do  historiador  Adler  Homero  da  Fonseca,  curador  de  armas  portáteis  do  Museu  Conde  de
Linhares, do Rio de Janeiro. O acesso pode ser pelo link que se encontra abaixo de nossa listagem de
artigos ou pelo link www.armasbrasil.com.

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Wri膖en by Carlos F P Neto

18/11/2012 às 18:40

5 Respostas

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Não se fala dos fuzis que os mercenários alemães os BRUMER trouxeram da Alemanha e que
foram os primeiros com cartuchos e de alma raiada.. Atirando com precisão bem mais longe do
que os velhos mosquetes de carregar pela boca de alma lisa. Assim os BRUMER veteranos
alemães conseguiram fora de combate a artilharia Argentina e depois do Paraguai… Vide

Brumers livro do Cel Juvencio saldanha jr Edigal editora Rua Riachuelo 1291 Porto Alegre email
Brumers livro do Cel Juvencio saldanha jr Edigal editora Rua Riachuelo 1291 Porto Alegre email
martinslivreiro@gmail.com……Já D Pedro I tinha trazido mercenários alemães e seu filho D Pedro
II idem…..Esses ultimos apelidados Brumer dos quais tive parentes e conheci descendentes

Bel Nelson Korb

06/05/2016 at 18:18

O膖avio, os revólveres Gèrard foram trazidos para cá durante várias oportunidades; houveram
importações deles até o ano de 1898, ainda durante o Império. Paralelamente, tanto Marinha como
Exército também utilizavam os Nagant, em calibre .44. Mesmso com o contrato brasileiro firmado
com a DWM, para fornecimento de 5.000 pistolas Parabellum, em 1906, os dois revólveres ainda
continuaram utilizados, mas os Gèrard se foram mais rapidamente. Os Nagant duraram mais
tempo em serviço, conjuntamente com as Lugers, até 1937, com a substituição (mas não total)
pelos Smith & Wesson DA 1917.

Carlos F P Neto

04/11/2015 at 16:49

Olá Carlos, quais outras armas curtas o Brasil adquiriu após o revolver Gèrard até a compra das
P‑08?

O膖avio Brunno

04/11/2015 at 3:29

Alan, pode enviar suas fotos para armasonline@gmail.com. Obrigado.

Carlos F P Neto

18/04/2014 at 13:06

Bom dia, Meu nome é Alan e ganhei uma arma que me parece ser uma Winchester model. 1873,
44‑40 . A arma está oxidada superficialmente, porém tem todas as peças e seus mecanismos
funcionam perfeitamente. para onde posso enviar fotos? quanto custa em media uma arma dessas
em boas condições? quanto custa restaura‑la?

Alan

18/04/2014 at 2:38

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