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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA

MUNDIAL

“A guerra nada mais é que a continuação da política por outros meios.”


Karl Von Clausevitz

JAIME FLORENCIO DE ASSIS FILHO*


Capitão de Mar e Guerra (Refo-FN)

SUMÁRIO

Introdução
O Brasil no período 1914-1917
Poder Naval brasileiro no período 1914-1917
Acontecimentos significativos no período de neutralidade
Fatos navais e as ações decorrentes
O Brasil preparando-se para lutar ao lado dos Aliados
No cumprimento da missão
A Divisão Naval em Operações de Guerra (DNOG)
Considerações finais
Anexo

INTRODUÇÃO em assuntos diversos e específicos, sem


dar uma noção geral do uso do nosso

H á poucos anos, tive oportunidade de


ver publicado na Revista Marítima
Brasileira um artigo sobre a Marinha
Poder Naval.
Ainda que seja importante saber cada
vez mais sobre a nossa Marinha na 2a GM,
de Guerra (MG) na Segunda Guerra é também interessante conhecer como foi
Mundial (2a GM). Minha motivação para a participação do Brasil na Primeira Guer-
elaborá-lo, naquele momento, devia-se à ra Mundial (1a GM), sobretudo das nossas
necessidade de divulgação do emprego forças militares. Embora estas tenham
de toda a MG no conflito, pois a maioria sido empregadas por um curto período, é
dos artigos a que tivera acesso focava necessário maior divulgação em âmbito

* Realizou o Curso de Comando e Estado-Maior no United States Marine Corps, Quantico, Virgínia, Estados
Unidos da América, em 1992.
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interno, pois as informações restringem-se, onde se desenvolviam os conflitos bélicos,


no tocante à Força Naval, às Ordens do influenciaram a opinião de parcela do
Dia emitidas para informar os feitos da povo brasileiro das grandes capitais, que
Divisão Naval de Operações em Guerra se alinhava com a ideia de participar do
(DNOG). Alguns autores realçaram muito esforço de guerra no Velho Mundo.
bem, em suas obras, o envolvimento do Vale recordar que, no início da con-
País naquela que passou a ser nominada tenda, existiam dois grupos oponentes: a
de “Grande Guerra”, mas tais obras são de Tríplice Entente e a Tríplice Aliança, ou
pouca repercussão atualmente. Potências Centrais. O primeiro era uma
Este artigo tem o propósito de mostrar aliança militar constituída por Reino Uni-
como a Nação se encontrava desde o início do2, França e Império Russo; o segundo,
do conflito, que tendia a ser de curta dura- uma coligação entre o Império Austro-
ção, mas que se estendeu por quatro anos, -Húngaro, Itália3 e Alemanha (Império
até a assinatura do armistício, em 1918. Alemão) e, posteriormente, ainda no
Daremos destaque a alguns acontecimen- início dos combates, o Império Otomano.
tos ocorridos no período de neutralidade, Enquanto os germânicos apoiavam o
nos preparativos e na atuação da MG e a Império Austro-Húngaro, o reino inde-
citações às atividades que envolveram o pendente da Sérvia, do qual fazia parte,
pessoal do Exército Brasileiro (EB) no tinha o apoio dos russos, de origem eslava
teatro europeu, aí incluídos aviadores, como os sérvios. Mais tarde, por diversas
bem como militares e civis do seu Servi- razões, o Brasil e outros países alinharam-
ço de Saúde. As ações desenvolvidas no -se à Tríplice Entente, doravante citada
teatro de operações asiático não serão aqui como “Aliados”.
abordadas, assim como as suas possíveis
implicações no cotidiano brasileiro. O BRASIL NO PERÍODO 1914-1917

INTRODUÇÃO O País vivia, havia poucos anos, uma


República notabilizada pela “política do
Desde o assassinato do Arquiduque café com leite”, alternando a Presidência
Francisco Ferdinando1 e de sua esposa, em entre políticos dos Estados de São Paulo e
Sarajevo, capital da Bósnia Herzegovina, Minas Gerais. Em pouco mais de 20 anos,
em junho de 1914, fato que deu início à várias revoltas já haviam desgastado os
Grande Guerra, até outubro de 1917, o governos da República Velha4, entre as
envolvimento do governo brasileiro no quais as mais importantes foram as revoltas
conflito foi nulo, pois focava-se na preser- da Vacina5, da Armada (1893 a 1894), de
vação e manutenção da sua neutralidade. Canudos (1896 a 1897), Federalista (1893),
Todavia notícias oriundas da Europa, da Chibata (1910) e do Contestado (1912).

1 Herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro.


2 Em razão das pesquisas realizadas, veremos em diversas situações os termos Reino Unido, Grã-Bretanha e
Inglaterra empregados como se fossem uma só nação ou com o mesmo significado.
3 A Itália, conquanto signatário da Tríplice Aliança, recusou-se a participar da guerra. Todavia, em 1915,
entrou no confronto ao lado dos integrantes da Tríplice Entente.
4 Nome atribuído ao período republicano de 1889 a 1930.
5 Motim popular ocorrido em novembro de 1904, na cidade do Rio de Janeiro – então capital do Brasil –,
decorrente da lei que estabeleceu a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola.

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Em 1914, o Poder Executivo estava da Cruz Vermelha. Ademais, promovia


entregue ao Marechal Hermes da Fonse- manifestações públicas e organizava pe-
ca, em seu último ano de Presidência. O tições no Congresso para protestar contra
mineiro Venceslau Brás Pereira Gomes os atos atrozes e as violações dos direitos
assumiu o comando da Nação a 15 de no- internacionais pelos alemães.
vembro, na vigência do período de neutra- Do lado oposto estavam os chamados
lidade, estabelecida no governo anterior6, germanófilos, muitas vezes insuflados
e decidiu, desde então, manter o País pelas ponderações da Legação8 alemã
afastado dos assuntos bélicos europeus, e de seus consulados, espalhados em
mesmo sob pressões de grupos influentes vários Estados brasileiros. Defendiam a
diante da opinião pública. Um deles era manutenção da neutralidade, em oposição
liderado pelo ex-senador pela Bahia Ruy aos “aliadófilos”, como eram conhecidos.
Barbosa, derrotado nas eleições presi- Como ministro das Relações Exteriores,
denciais de 1910, que, usando de sua boa Lauro Muller, de origem germânica, fre-
fluência no parlatório, conseguia agitar quentemente negava sua predileção pela
várias camadas da sociedade brasileira. Alemanha. Após algumas intercorrências,
Outro brilhante orador e adepto da causa ao final de 1917 demitiu-se do cargo,
dos Aliados, o ex-ministro da Fazenda de passando-o a Nilo Peçanha.
Venceslau, João Pandiá Calógeras, dizia: A imprensa da Capital Federal também
“O próprio brio ordena não esperarmos o alinhava-se entre as partes. Enquanto os
convite para colaborarmos, temos de com- jornais A Noite e Jornal do Commércio
parecer nos campos de batalha. Façamo-lo eram pró-Aliados, A Tribuna era pró-Ale-
voluntariamente, sem coação nem delon- manha. O Jornal do Brasil e o Correio
gas, que são argumentos contra nós”.7 da Manhã mantinham-se neutros. Pró-
Em verdade, passado algum tempo, -Aliados e pró-germânicos pagavam para
a guerra despertou maior entusiasmo ver nos periódicos seus intentos difundi-
nos brasileiros, notadamente a favor dos dos, pois o jornal era o mais eficaz meio
membros da Tríplice Entente, com ma- de comunicação em massa da época – o
nifesta simpatia pelos franceses. A Liga rádio só viria a se tornar popular em 1922.
Brasileira pelos Aliados, fundada em Em julho de 1916, Ruy Barbosa,
março de 1915, consolidou essa posição em discurso proferido na Faculdade de
com a adesão de influentes personalidades Direito de Buenos Aires, onde se encon-
nacionais, entre senadores, deputados trava por ter sido nomeado pelo governo
federais, críticos literários e poetas, como brasileiro para chefiar a delegação pre-
Olavo Bilac. Para presidente da Liga, foi sente às comemorações do centenário
escolhido Ruy Barbosa, seu grande arauto. da independência argentina, acendeu o
De maneira geral, a Liga agia no sen- estopim para as mais ferrenhas discussões
tido de ampliar a simpatia pela causa dos sobre o seu novo conceito de neutralidade,
Aliados, manter os laços culturais com a apresentado naquela ocasião, que desa-
França e promover ajuda aos combaten- gradou profundamente o governo alemão.
tes no front de batalha, com o concurso Apesar disso, o Presidente manteve-se no

6 Conforme o Decreto no 11.037, de 4 de agosto de 1914.


7 Extraído de: CALÓGERAS, Pandiá. Problemas de Administração. Edição Brasiliana, volume 24, 1938.
8 Missão diplomática imediatamente inferior à Embaixada.

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firme propósito em primeiro solucionar carestia era uma das mais importantes
os problemas internos deixados pelo seu causas das paralisações, provocada por:
antecessor, do qual fora vice. Por razões aumento da inflação; política de expor-
socioeconômicas e financeiras, ignorou os tação, com aumento na saída de carnes
anseios candentes de seus opositores pela e cereais; impossibilidade de importa-
participação do Brasil no conflito. ção do trigo; monopólio do crédito por
O Brasil, totalmente dependente da ex- bancos estrangeiros; impostos e tantos
portação do café, controlava quase 80% da outros fatores.
oferta mundial. Contudo esse percentual
vinha caindo regularmente, despencando PODER NAVAL BRASILEIRO
mais ainda em 1917, primeiro pelo blo- NO PERÍODO 1914-1917
queio naval imposto pela Inglaterra aos
navios transportando produtos oriundos No início e ao longo do conflito, a MG
de países neutros; segundo, pela proi- estava constituída, basicamente, por na-
bição, mais tarde, por esse mesmo país, vios construídos em cumprimento ao Pro-
da compra do grão, alegando que o fazia grama de Reaparelhamento Naval (PRN)
para importar produtos vitais aos seus de 1904, alterado em 1906 pelo então
reais interesses, aproveitando melhor os ministro da Marinha (MM) Alexandrino
espaços disponíveis a bordo. de Faria Alencar, além de outras unidades
Para compensar as perdas na exporta- navais, remanescentes do século XIX.
ção do café, em vista dos baixos preços O PRN brasileiro, aprovado pelo
provocados pelos fatos acima narrados, Decreto no 1.568, de 24 de novembro de
foi preciso usar o artifício de queimar 1906, previa a aquisição de dois encoura-
milhões de sacas, de modo a alcançar çados dreadnoughts de 19.500 toneladas,
preços negociáveis. Sentiu-se também um encouraçado dreadnought 9 de 28.000
maior dificuldade nas importações de ton, três cruzadores de 3.150 ton, dez
produtos manufaturados europeus. Agra- contratorpedeiros de 560 ton e três sub-
vando mais a situação, o governo federal marinos. Em janeiro de 1913, contratou-se
ainda despendia esforços na repressão à a compra de um navio-tênder de submer-
Guerra do Contestado (1912-1916), no síveis, em adendo ao Programa Naval de
sul do Brasil, na região fronteiriça entre 1904. O navio foi incorporado em abril de
Paraná e Santa Catarina. 1917 e recebeu o nome de Ceará.
Simultaneamente, o governo lutou A composição dos meios navais da MG
contra greves das classes trabalhadoras, no período de 1914 a 1917 pode ser vista
cujo auge ocorreu em 1917, frequen- no Quadro do Anexo 1. Nele constam
temente promovidas por operários das as seguintes unidades incorporadas por
indústrias têxteis de São Paulo e Rio conta do referido programa (mantida a
de Janeiro, que vivenciavam uma fase grafia da época):
crescente de desenvolvimento decorrente – Encouraçados: Minas Geraes e São
do início da industrialização nacional. A Paulo;

9 O Encouraçado Rio de Janeiro não chegou a ser recebido. Por não satisfazer mais à ideia concebida no
PRN de 1906, antes de sua conclusão, em 1914, foi vendido à Turquia, que o batizou de Sultan Osman
I. Com a eclosão da 1a GM, foi confiscado pelo governo inglês e passou a ser o HMS Agincourt, tendo
participação na Batalha Naval da Jutlândia, em 1916.

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– Submarinos10 classe Foca: F1, F2 com dificuldade, como veremos, apesar


e F3; e dos esforços envidados para seu rigoroso
– Contratorpedeiros classe Pará: cumprimento. Como exemplo, elencamos
Amazonas (CT-1), Pará (CT-2), Piauhy o caso da canhoneira alemã Eber, que foi
(CT-3), Rio Grande do Norte (CT-4), Pa- detida em Salvador, pois, antes de aportar,
rahyba (CT-5), Alagoas (CT-6), Sergipe auxiliou com pessoal e equipamentos na
(CT-7), Paraná (CT-8), Santa Catarina transformação de um mercante alemão em
(CT-9) e Mato Grosso (CT-10). corsário, em águas brasileiras próximas à
Ilha da Trindade. Por falta de uma vigilân-
ACONTECIMENTOS cia cerrada, a embarcação acabou sendo
SIGNIFICATIVOS NO PERÍODO destruída por seus próprios tripulantes
DE NEUTRALIDADE três anos depois, quando da declaração
de Estado beligerante do Brasil.
Conforme mencionado, o governo de Uma das primeiras providências adota-
Venceslau Brás estava focado em resolver das na fase de neutralidade foi a ocupação,
os problemas internos do País. Tão logo em maio de 1916, da Ilha da Trindade,
iniciada a guerra, até então desabitada,
o Brasil expediu as visando impedir que
regras de neutrali-
dade que pretendia
Tão logo iniciada a Grande ali estacionassem,
como um possível
adotar, como não Guerra, o Brasil expediu ponto de apoio,
prestar nenhum au- as regras de neutralidade navios corsários e
xílio militar e não submarinos em ope-
exportar material de que pretendia adotar, como rações no Atlântico
guerra aos países be- não prestar nenhum auxílio Sul. As dificulda-
ligerantes. Ou seja, des encontradas nas
navios armados só
militar e não exportar manobras para essa
poderiam entrar em material de guerra aos empreitada, com o
nossos portos em países beligerantes concurso do Cruza-
situação de arribada dor Barroso, foram
força (definida no descritas em artigo
Decreto no 11.037, de 4 de agosto de do Almirante Jorge da Silva Leite11 na Re-
1914), não podendo exceder a 24 horas, a vista Marítima Brasileira do 3o trimestre
não ser em situação de força maior. de 1987, em que ele comenta também a
Destaque-se, no Artigo 17 do decre- participação, em 1917, de tenentes em-
to, que a simples passagem de navios barcados em navios mercantes nacionais,
de guerra e presas dos beligerantes por na qualidade de instrutores militares,
águas territoriais do litoral brasileiro não para adestrar as guarnições no emprego
comprometeria a nossa neutralidade. As de canhões de médio e pequeno calibres
regras estabelecidas foram atendidas instalados na popa. Ademais, foi realizado

10 Na realidade eram submersíveis, que diferem dos submarinos pela sua baixa autonomia quando submersos.
Na maioria das vezes, mergulhavam apenas para atacar, navegando quase sempre na superfície devido
a sua baixa disponibilidade de ar para a tripulação.
11 O Almirante Jorge da Silva Leite participou da 1a GM embarcado no Contratorpedeiro Piauhy.

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um reforço na guarnição de Fernando de vezes utilizado como meio de ameaça,


Noronha, que, na época, prestava-se como obrigando-nos, muitas vezes, a importar
presídio do Estado de Pernambuco. o produto dos EUA. De uma certa forma,
Nossa neutralidade, aparentemente, as pressões inglesas se manifestavam em
foi respeitada até 1917, momento em que vários campos, como econômico, políti-
entramos no conflito, mas esse respeito co, financeiro, diplomático, naval e até
não se deu de forma tranquila. Na ver- moral, exigindo, neste mister, vantagens
dade, desde o desenrolar da contenda no não oferecidas a outros beligerantes nos
teatro de operações europeu, o Brasil foi termos da neutralidade.
envolvido em um jogo de ações diplomá- A nefasta interferência inglesa em
ticas impertinentes que, às vezes, chegava assuntos brasileiros ficou patente, com
aos limites de invasão à nossa soberania, o cunho comercial e financeiro de que
tanto por parte dos ingleses quanto dos se revestiu a Grande Guerra, quando foi
franceses e, em menor escala, pelos bloqueada a entrada no Canal da Mancha
Estados Unidos da América (EUA). Era com instalação de minas, impedindo que
uma grande orques- os nossos mercantes
tração, de fundo to- chegassem à Holan-
talmente comercial Desde o desenrolar da da e aos países nór-
e financeiro, sob a dicos, grandes con-
regência desses go- contenda no teatro de sumidores do nosso
vernos, que mais operações europeu, o Brasil café. Na sequência,
pareciam estarem
tratando com uma
foi envolvido em um jogo eles aumentaram a
exportação de chá
de suas colônias. de ações diplomáticas da Índia e de cacau
Deles proviam po- impertinentes que, às vezes, para o continente
sições e intenções europeu, em uma
nada democráticas, chegava aos limites de clara demonstração
de elevado cunho invasão à nossa soberania de que esses produ-
imperialista. tos poderiam subs-
A economia e o tituir o nosso grão,
desenvolvimento do Brasil dependiam em tão importante para nossas exportações,
muito dos ingleses. A maior parte de nos- excluindo-o dos mercados da Europa Cen-
sas dívidas eram para com os seus bancos, tral. Chegaram ao cúmulo de considerar o
e seus cidadãos detinham títulos estaduais café contrabando de guerra.
e municipais cujo capital de aquisição fora Um tema que se estendeu até entrarmos
empregado no financiamento de estradas em guerra foi o pedido negado pelo gover-
de ferro, transportes urbanos etc. Aproxi- no brasileiro na revenda, para a Inglaterra,
madamente 60% da tonelagem de carga do de uma remessa de aproximadamente
nosso comércio interno e externo eram re- 400 mil unidades de fuzis Mauser 1908,
alizados em navios ingleses. Da Inglaterra comprados na Alemanha em 191212, pelo
provia mais da metade de nossas impor- governo do Marechal Hermes. Em con-
tações, principalmente o carvão, muitas trapartida, diante da recusa, o governo de

12 Com o desencadear das contendas, boa parte das compras (fuzis, canhões e lanças para a cavalaria) não
chegou ao Brasil.

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Sua Majestade interferiu, usando como país, os Aliados acordaram em Paris a


intermediários nossos credores ingleses, implementação da Lista Negra, aprova-
para que efetuássemos os pagamentos dos da pelo Parlamento inglês no início de
empréstimos com esses armamentos, fato 1916, sob o título de “Lei do Comércio
este não consumado. Diante a negativa com o Inimigo”, que visava prevenir que
brasileira, as pressões continuaram for- cidadãos ou firmas britânicas mantives-
temente com ações revanchistas, como, sem relações comerciais com súditos
por exemplo, a condenação e o fuzila- inimigos. Os que foram assim conside-
mento, em outubro de 1915, de Fernando rados passaram a integrar a Lista, cuja
Buschmann – brasileiro registrado no aplicação, no Brasil, causou violentos
Consulado do Brasil na França – e o protestos contra a Inglaterra.
aprisionamento por 403 dias, e posterior Em suma, todas as empresas e cidadãos
deportação, do escritor José do Patrocí- de nacionalidade ou descendência alemã
nio Filho, brasileiro nato na Inglaterra. estavam proibidos de negociar com os
Ambos foram acusados de espionagem ingleses. Não satisfeitos, os cônsules inter-
em favor da Alemanha. feriram nos seus distritos consulares, com
A França, o terceiro maior parceiro ameaças de incluir na lista firmas de outras
comercial do Brasil, depois da Inglaterra nacionalidades que viessem a negociar
e da Alemanha, não agiu diferente, pois com seus inimigos, extrapolando suas atri-
também exercia seu poder de pressão buições como representantes da Inglaterra
quando estavam em discussão os seus no Brasil. Tal situação só foi atenuada com
interesses, como, por exemplo, o fato de a entrada do Brasil na guerra.
termos estocados no porto de Havre, no Nas relações diplomáticas com os
início da guerra, 1,2 milhões de sacas de EUA, as interferências foram menores.
café sem poderem ser negociadas, pois seu Após 1865, o comércio com os norte-
governo dispôs-se a pagar valores irrisó- -americanos era muito bom, com ligeira
rios. Havia também a coação das chama- vantagem para o Brasil no cômputo das
das “missões francesas financeiras”, com exportações e importações. Mais da me-
forte influência na nossa imprensa, com tade do nosso café exportado era por eles
sugestões e propostas indecorosas, como a consumido, motivo pelo qual buscavam
de realizar troca de unidades navais como uma reciprocidade, com um volume maior
forma de pagamento de compromissos de importação de seus produtos. No entan-
externos, ou com a requisição dos navios to, as pressões dos britânicos e o receio da
alemães internados nos portos nacionais, nossa diplomacia de tornar-se dependente
desde o início das ações bélicas. A relação de mais uma nação influente obstaram, na
da França com países mais fracos pode ser época, o intento norte-americano.
avaliada por ocasião da Conferência de Somente após a proclamação da Re-
Paz, quando deixou transparecer sua ín- pública, em 1891, foi assinado um acordo
dole imperialista perpetrada por gestos de concedendo privilégios aduaneiros aos
arrogância e falta de grandeza, ao se opor produtos norte-americanos. Em 1894,
à nossa solicitação pela posse dos navios devido à ajuda dos EUA prestada durante
alemães requisitados durante a guerra. a Revolta da Armada, em auxílio ao Presi-
Sob a alegação de empregar contra dente Floriano Peixoto, o Brasil abando-
a Alemanha artifícios econômicos dis- nou o neutralismo praticado no Império e
poníveis, de modo a enfraquecer aquele adotou uma política mais proeminente em

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relação àquele país. Com o Barão do Rio terra, Estados Unidos e França. Todos,
Branco na pasta das Relações Exteriores, sem exceção, impuseram sem nenhuma
no período de 1902 a 1912, iniciou-se um consideração, como se fôssemos seus
processo de mudança de rumo da nossa súditos, condições inaceitáveis para uma
política externa em relação aos países eu- nação soberana. Isso se deu na política
ropeus, partindo-se para uma maior apro- do café, nas condições financeiras para
ximação com os americanos – a chamada empréstimos, no bloqueio e nos arrestos
“aliança especial”, sobretudo por causa da de navios, nos abusos de representantes
forte rivalidade com a vizinha Argentina. diplomáticos, na imposição da Lista Negra
As relações ficaram um pouco es- pelos ingleses, no boicote à exportação
tremecidas entre 1912 e 1913, devido à do café etc. Somam-se a tudo isso os
questão que ficou conhecida como “truste perigos na navegação proporcionados
do café”, que terminou de modo satisfa- pelos submarinos (U-boats13), bem como
tório, em virtude da boa atuação do nosso as acirradas lutas internas deflagadas pela
embaixador em Washington, Domício imprensa, os efeitos causados por grupos
da Gama, e por iniciativa do Presidente partidários pela paz e outros belicistas
americano, Woodrow Wilson. Após esse e algumas decisões administrativas sem
impasse, a situação retornou ao status quo sucesso. Este era o cenário em que nos
anterior à crise. encontrávamos ao final de 1917.
No início do conflito na Europa, em
1914, os americanos estavam envolvidos FATOS NAVAIS E AS AÇÕES
com a revolução mexicana, em apoio à DECORRENTES
derrubada do governo ditatorial do Gene-
ral Victoriano Huerta e, logo em seguida, Na Europa, os embates terrestres
à perseguição a Pancho Villa. Nessas haviam chegado a um estado insólito
questões, o Presidente Wilson vislumbrou de estagnação, provocado pela tática de
a possibilidade de apoio dos países latino- emprego de trincheiras na frente ocidental
-americanos, em especial do Brasil, na do conflito. No mar, corsários alemãs ata-
solução da crise, porém não obteve adesão cavam as linhas comerciais dos Aliados.
para a sua causa. Sem que houvesse alte- O Almirante Von Tirpitz, comandante da
rações nas relações entre os dois países, Marinha Imperial alemã, visava alcançar
eles mantiveram a condição de grandes o domínio marítimo com o emprego da
consumidores do nosso café, enquanto nós sua moderna esquadra de alto-mar, que,
importávamos o seu carvão, pois, além do embora inferior em quantidade, era, no
nacional não ser de boa qualidade, havia seu entender, mais técnica e adestrada
as restrições anteriormente citadas quanto do que a inglesa. Para isso, aguardava o
à aquisição do carvão inglês. momento certo para um engajamento em
Diante dos fatos, é possível constatar batalhas decisivas. Os U-boats ainda não
que, durante o período de nossa neutra- tinham participado de forma expressiva,
lidade, que durou até outubro de 1917, contudo aumentavam, gradativamente,
ocorreram outros embates, todavia de sua influência nos mares, atacando a frota
conotações comerciais e diplomáticas, mercante e militar dos ingleses. Respeita-
travados, unilateralmente, com Ingla- vam, no entanto, a neutralidade dos países

13 U-boat é uma abreviação de unterseeboot, palavra alemã que significa “pequeno barco debaixo de água”.

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assim declarados, para evitar uma possível normas praticadas por navios neutros. A
entrada dos EUA ao lado dos Aliados. notícia, ao chegar ao Brasil, ensejou a
A situação nos mares mudou com a der- eclosão de manifestações nas capitais. No
rota estratégica alemã na Batalha Naval da Rio Grande do Sul, predominantemente
Jutlândia, travada de 31 de maio a 1o de ju- em Porto Alegre, alguns estabelecimentos
nho de 1916, após o que sua esquadra ado- comerciais de propriedade de alemães
tou a estratégia fleet in being, preservando ou de seus descendentes foram pilhados,
seus navios nas bases do Mar Báltico (Kiel invadidos e queimados, enquanto no Rio
e Danzig, por exemplo), o que decretou o de Janeiro as pessoas desfilavam pelas ruas
fim da participação do Almirante Tirpitz, em protesto, realizando atos semelhantes
substituído posteriormente. aos ocorridos no extremo sul do País.
A posteriori, o Império Alemão ex- Lauro Muller não resistiu às pressões e,
pediu, em 31 de janeiro de 1917, uma contrário a uma possível mudança de ati-
Notificação de Bloqueio (conhecida pelo tude do governo em prol dos americanos,
Ministério da Relações Exteriores do Bra- renunciou ao cargo em 3 de maio. Dois
sil em 9 de fevereiro), sob o argumento dias após, Nilo Peçanha assumiu a pasta,
de dar uma resposta ao povo alemão ao prenunciando alterações na política exter-
empregar todos os recursos disponíveis na em apoio aos EUA.
para acelerar o desfecho da guerra, dando Os protestos brasileiros encaminhados
ênfase ao emprego maciço dos U-boats. à Embaixada e aos Consulados alemães,
Entre outros temas, tal notificação sus- em razão das ações que determinaram
pendia algumas restrições, antes obede- o naufrágio do Paraná, não surtiram
cidas nas operações de mar, como, por efeito algum. Como consequência, em
exemplo, intimação prévia, verificação 11 de abril, o Brasil rompeu as relações
de carga e auxílio a náufragos de países comerciais e diplomáticas com a Ale-
neutros, ou seja, decretava um bloqueio manha e tomou posse, posteriormente,
irrestrito no mar. O governo brasileiro dos navios alemães surtos em portos
protestou, na data do recebimento, contra brasileiros. À MG foi atribuída a tarefa de
a decisão alemã. salvaguardá-los, para evitar as já iniciadas
Em 3 de abril de 1917, o vapor brasi- depredações. Esses navios foram alvos
leiro Paraná, pertencente à Companhia de de disputas entre os Aliados para que o
Comércio e Navegação, carregado com Brasil os cedesse para transporte de tropa
café e navegando no Canal da Mancha, e material, entre outros fins, e a decisão
foi torpedeado e afundado por um sub- foi tomada em 6 de dezembro de 1917, em
marino alemão a poucas milhas do Cabo favor dos franceses14, somente após nossa
Barfler, na França, resultando na morte entrada na guerra.
de três tripulantes. Na ocasião, o navio Em 6 de abril, o Congresso americano
deslocava-se em marcha reduzida, com já havia declarado estado de guerra à
as luzes de navegação acessas e com o Alemanha, por não ter concordado com o
nome do País bem visível, além de ostentar bloqueio supramencionado e pelos torpe-
a bandeira brasileira, de acordo com as deamentos de alguns de seus navios. Em

14 Após a retirada dos ingleses e norte-americanos da disputa, o Brasil assinou um convênio com a França
para o afretamento de 30 navios ex-alemães, pelo prazo de um ano, a partir de 31 de março de 1918. Em
contrapartida, além do pagamento pelo frete, os franceses se comprometeram a comprar, durante a vigência
do convênio, 100 milhões de francos em mercadorias nacionais e mais dois milhões de sacas de café.

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decorrência, o governo brasileiro expediu Cruzadores Bahia, Rio Grande do Sul e


o Decreto no 12.458, de 25 de abril, que Barroso; e Iate16 José Bonifácio.
manteve as regras de sua condição de – Do Centro, com base operacional no
neutralidade com os EUA. Esse decreto Rio de Janeiro (DF), comandada, inicial-
foi revogado mais tarde, como reflexo da mente, pelo Contra-Almirante Francisco
nova política externa. de Mattos e composta pelos Encouraçados
O bloqueio alemão continuou de forma Minas Geraes e São Paulo e pelos Contra-
implacável. Na sequência de afrontamen- torpedeiros Amazonas, Pará, Parahyba,
tos, em 20 de maio foi afundado o vapor Alagoas e Paraná.
Tijucas, em frente ao porto francês de – Do Norte, com base operacional em
Brest, e, dias após, o Lapa, porém sem Belém (PA), comandada pelo Contra-
vitimar tripulantes em ambos os casos. -Almirante João Carlos Mourão dos
Apesar desses fatos, o Brasil manteve Santos. Tinha como navios destacados os
sua neutralidade. O Presidente Vences- Contratorpedeiros Piauhy e Santa Catari-
lau Brás encaminhou nota ao Congresso na, os Encouraçados Floriano e Deodoro,
descrevendo os recentes acontecimentos os Cruzadores República e Tiradentes e os
e exaltando a implementação de algumas navios Juruá, Acre, Missões, Jutaí, Tefé e
medidas de segurança. Com base no De- Amapá, da Flotilha do Amazonas. A esta
creto Legislativo no 3.266, de 1o de junho Divisão Naval foi atribuída a tarefa de
de 1917, tornando sem efeito o Decreto reforçar a segurança da Ilha de Fernando
no 12.548, foram expedidos dois outros15, de Noronha.
que, em síntese, estabeleciam: a requisi- No porto do Rio de Janeiro, dois con-
ção de todos os navios mercantes alemães tratorpedeiros patrulhavam as áreas de
em portos nacionais, passando aqueles aproximação da barra. Foram instaladas
a serem empregados convenientemente, uma barragem, constituída de minas
ostentando o nosso pavilhão, tão logo submarinas entre as fortalezas da Lage e
alcançassem condições para navegar, o de Santa Cruz, e redes de cabos de aço.
que demandou protestos alemães; e a sus- Com o afundamento, em 18 de outubro,
pensão da neutralidade diante da França, e o sequestro do comandante e despenseiro
da Grã-Bretanha, da Rússia, da Itália, do do Mercante Macau (ex-alemão Paladio)
Japão e de Portugal. por um U-boat, o Presidente encaminhou
Durante o período de neutralidade, a nova mensagem ao Congresso, que, por
Marinha, apesar da precariedade de seus sua vez, expediu o Decreto no 3.361 de
meios, passou a realizar, a partir de julho, 26 de outubro de 1917, sancionado por
o patrulhamento do litoral e a defesa do Venceslau Brás, proclamando o estado de
Rio de Janeiro, organizada e dividida em guerra contra o Império Alemão. Nossos
três Divisões Navais: portos, a partir de então, estavam dispo-
– Do Sul, com base em São Francisco níveis e abertos aos navios aliados. Mais
do Sul (SC), sob o comando do Contra- tarde, foram ainda afundados os navios
-Almirante (CA) Pedro Max Fernando Acary e Guayba, ambos em 4 de novembro
de Frontin, constituída pelos Contrator- de 1917, na Ilha de São Vicente, em Cabo
pedeiros Rio Grande do Norte e Sergipe; Verde, e Taquari, em 2 de janeiro de 1918.

15 Decretos nos 12.501 (2 de junho de 1917) e 12.533 (28 de junho de 1917).


16 Incorporado em 1915, atuava como navio-tênder, portanto sem valor militar.

68 RMB1oT/2021
O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Após a descrição parcial de vários ser mitigada. Para conduzi-lo de volta a


eventos ocorridos na fase de neutralidade, uma posição econômica satisfatória, por
vale a indagação: afinal, o que nos levou a entender que não existiam problemas
participar das ações a favor dos Aliados? internos e que o planeta passava por uma
Não se pode afiançar o verdadeiro motivo, situação estabilizada de paz, decidiu-se
porém um dos principais17 pode ter sido a reduzir ao máximo os orçamentos das pas-
determinação política para a conquista de tas militares. Desde então e até 1917, com
um assento no Congresso da Paz, o que pequena exceção no governo de Hermes da
nos permitiria entrar para a relação dos Fonseca, tal situação reduziu enormemente
países mais influentes do planeta, além de o poderio militar brasileiro, nos aspectos
pleitear a posse dos navios alemães retidos de preparo e prontificação de pessoal e
nos nossos portos, entre outros. Segundo material (armamentos, munição etc.).
Pandiá Calógeras, a participação simples, Por volta de 1910, o efetivo do EB não
com fornecimento de gêneros alimentícios passava de 25 mil homens, espalhados
e matérias-primas, obtenção de lucros e por todo o País, mal equipados e pratica-
sem a presença de soldados no front, seria mente sem treinamento adequado, com
uma grande ofensa ao País, levantando várias unidades com efetivos reduzidos
dúvidas “sobre o valor moral e militar e limitadas à realização de exercícios de
dos seus filhos”, além de considerar um ordem unida e tiro, com vistas a manter
abandono aos Aliados. a disciplina, contudo de baixo valor
operacional caso fosse necessário o seu
O BRASIL PREPARANDO-SE emprego. No governo de Hermes da
PARA LUTAR AO LADO DOS Fonseca, a designação de militares para
ALIADOS cursos e treinamentos na Alemanha não
foi suficiente para modificar as condições
O governo brasileiro optou, inicial- da Força terrestre para atuar nos campos
mente, pelo caminho de não participar de batalha. Em razão dessa grave situação,
diretamente no conflito; não obstante, essa somada ao temor de uma possível crise no
concepção foi alterada para um emprego sul do País, que poderia desencadear uma
limitado de forças militares. Mas como intervenção federal, devido à grande quan-
enfrentaríamos essa situação? Estava o tidade de imigrantes alemães e descenden-
País pronto para essa empreitada? Ao lon- tes, a hipótese de envio de tropas do EB
go desta narrativa, já foi possível constatar à Europa foi descartada, preservando-as
que não tínhamos, naquele momento, e para ações na região meridional do País.
tampouco a curto prazo, preparo para um Na MG, a situação não era diferente,
enfrentamento imediato nos mares e nos uma vez que os meios navais, conforme
campos de batalha. apresentado, eram constituídos por uni-
Para entendermos melhor o estado dades remanescentes do século XIX e
operacional das nossas forças, é preciso da Esquadra fruto do PRN de 1906, que,
retroceder no tempo. Quando Campos à época de nossa entrada no conflito,
Sales assumiu a Presidência da República, já estavam obsoletas, devido à rápida
em 1898, o País encontrava-se envolto em evolução tecnológica naval advinda
uma grave crise econômica, que precisava da Segunda Revolução Industrial, com

17 Ver O Brasil e a Primeira Guerra Mundial, de Francisco Luiz Teixeira Vinhosa.

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

graves problemas de manutenção. Isto pudesse atuar a grandes distâncias das


sem considerar o despreparo, naquele bases existentes no País.
momento, do elemento humano no trato Em resumo, a maioria dos navios
com os equipamentos e armamentos des- ficava nos portos, sem se lançar ao mar
sa Esquadra, pela falta de adestramento para adestramento, pelas mesmas razões
mínimo necessário das guarnições, pois apresentadas em relação à decadência da
estas não tinham os conhecimentos bási- Força Terrestre, válidas também para a
cos para a operação de meios dotados de Força Naval. Pandiá Calógeras, depois
sofisticados recursos. Adicionalmente, de passar pelas pastas da Agricultura e da
não existiam bases operacionais no Norte Fazenda no governo de Venceslau Braz,
e no Sul do Brasil com recursos para a elaborou, em 1918, um relatório inti-
prestação de serviços que só podiam ser tulado “Problemas da Administração”,
feitos pelo Arsenal de Marinha do Rio no qual relata, entre outros aspectos, os
de Janeiro. E mais, a frota dependia do motivos pelos quais as Forças Armadas
carvão para o seu deslocamento, situação se encontravam, no ato da decretação
essa praticamente inexistente nos meios do estado de beligerância, em estado
navais das grandes potências, que já con- tão lastimável.
sumiam óleo combustível. Essa lacuna Logo após emitido o decreto que revo-
gerou um esforço redobrado no plane- gou a neutralidade com os EUA, o minis-
jamento logístico para que a Esquadra tro da Marinha, Alexandrino de Alencar,

Delegação de oficias brasileiros na França


(Comissão de Estudos, Operações de Guerra e Compra de Material), janeiro de 1918

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

prontificou-se, junto ao almirante norte- NO CUMPRIMENTO DA MISSÃO


-americano William Banks Caperton18, a
assumir uma parcela do patrulhamento no A Missão Médica Militar, criada pelo
Atlântico Sul, empregando suas divisões Decreto no 13.092, de 10 de julho de 1918,
do Norte, Centro e Sul, com o propósito foi integrada por médicos, farmacêuticos,
de evitar o estabelecimento de bases para pessoal de Secretaria e Intendência e
submarinos alemães na costa brasileira. por 31 praças do EB, estas destinadas à
Essa foi a primeira participação militar guarda e à vigilância das dependências
no conflito, como beligerante. do futuro hospital, que contaria com 500
Apesar da grave situação das unidades leitos, instalados em um edifício na Rue
navais, durante a reunião da Comissão de Vaugirard, em Paris, local de um antigo
Interaliada em Paris, de 30 de novembro convento jesuíta19. A chefia dessa equipe
a 3 de dezembro de 1917, portanto com o foi atribuída ao médico José Tomás Na-
País já em estado de guerra, o representan- buco de Gouveia (deputado federal eleito
te do Brasil, ministro plenipotenciário na pelo Rio Grande do Sul), que ficaria às
França Olinto Magalhães, recomendado ordens do General Aché.
pelo ministro da Relações Exteriores, Em agosto daquele ano, todos os inte-
ofereceu o envio de uma Divisão Naval grantes da Missão embarcaram no navio
para cooperar com as unidades navais francês La Plata com destino a Dacar, no
que combatiam nos mares europeus. Dias Senegal20, lá chegando a 5 de setembro,
mais tarde, a Inglaterra aceitou o ofere- quando já se encontrava ali a DNOG, da
cimento e consultou, por intermédio do qual trataremos mais adiante. Muitos dos
seu Almirantado, sobre a possibilidade membros da Missão foram vitimados pela
de a divisão ser constituída de cruzado- gripe espanhola, e alguns vieram a falecer.
res ligeiros e destróieres para atuar sob A Missão, coroada de êxito, foi extinta em
as ordens de um vice-almirante inglês. fevereiro de 1919, apesar dos inúmeros
Nilo Peçanha respondeu que o Brasil apelos para a sua manutenção, levando-
recebera com entusiasmo a oportunidade -se em conta o reconhecimento de que
de colaborar com os Aliados. Na mesma tal atitude poderia nos favorecer durante
ocasião, acordou-se a participação de uma a Conferência de Paz. Seis meses mais
equipe de aviadores na Inglaterra e de uma tarde, os médicos militares remanescentes
Missão Médica Militar. Os feitos do nosso na capital francesa retornaram ao Brasil, e
representante em Paris sintetizam bem as instalações foram doadas para a Escola
a aplicação da máxima de Clausewitz, de Medicina da Universidade de Paris.
citada na abertura deste artigo. Sabedor Embora tenha tido pouca divulgação,
da situação de abandono de nossas for- logo em seguida à entrada do Brasil no
ças militares, ofereceu a participação da conflito, em dezembro de 1917, foi criada a
Marinha brasileira, por motivos único e Comissão Brasileira de Estudos, Operação
exclusivos de cunho político. de Guerra e Compra de Material – Missão

18 Comandante em chefe da Esquadra do Pacífico, encarregada do patrulhamento da costa leste da América


do Sul durante a 1a GM. Aportou no Brasil após a revogação de neutralidade diante dos EUA.
19 Já existia em Paris o Hospital Franco-Brasileiro, mantido por cidadãos brasileiros residentes na França,
cujo pessoal foi absorvido pela Missão Médica.
20 Ainda como parte da África Ocidental Francesa.

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Aché, integrada por militares brasileiros francês. Durante as ações, foi promovido
e enviada à França, em janeiro de 1918, a capitão por bravura, o que, mais tarde, o
sob o comando do General Napoleão Fe- qualificaria para atingir a mais alta patente
lipe Aché, para operar junto ao Exército do EB, o posto de marechal.
francês, conhecer as modernas técnicas Segundo Luiz Vinhosa, em O Brasil e
de organização e combate empregadas no a Primeira Guerra Mundial, obra funda-
front ocidental e inteirar-se da doutrina mentada em documentos oficiais, o envol-
militar francesa e de seus armamentos, vimento de aviadores brasileiros iniciou-se
visando a uma possível aquisição pelo com um terrível equívoco, que levou um
EB. Fruto dos trabalhos dessa comissão, bom tempo para ser desfeito, motivado
que continuou com atribuições após o por um comentário do Rei George V, que,
armistício, o Brasil contratou, em 1919, a em 27 de novembro de 1917, recebeu em
vinda da Missão Francesa para disseminar audiência o ministro brasileiro Fontoura
conhecimentos para as escolas militares da Xavier. Ao dizer que via com bons olhos
nossa Força Terrestre. Em contrapartida, o Brasil combatendo com os Aliados, o
o País daria preferência à França na com- monarca sugeriu o envio de aviadores à
pra de armas e equipamentos bélicos em Inglaterra para instruções, mas tal suges-
futuras negociações. tão foi interpretada como uma sugestão à
Entre as diversas ações realizadas pelos participação do Brasil em ações aéreas.
integrantes da Comissão, consta a partici- O fato distorcido foi apresentado ao
pação de oficiais brasileiros incorporados Itamaraty como um convite do rei e logo
em unidades do Exército francês, que divulgado pela imprensa. No entanto, o
combatiam na frente ocidental – região rei na Inglaterra não tinha poder de de-
da França e Bélgica. O Tenente Chris- cisão, situação que prevalece até os dias
tóvão de Castro Barcelos, por exemplo, de hoje. O Foreign Office22, ao conhecer
comandou um pelotão do 17o Regimento a matéria, tratou de informar ao governo
de Dragões – Infantaria a Cavalo – quando brasileiro que os aviadores não poderiam
da perseguição a tropas alemãs que se participar por diversas razões, como, por
evadiam da Bélgica. Finda a 1a GM, per- exemplo, excesso de pessoal e carência
maneceu na França para cursar a Escola de equipamentos, que não pareciam ser os
Militar de Saint-Cyr, retornando ao Brasil reais problemas, dado que havia um alto
em 1919. O militar teve uma carreira número de baixas de aviadores em com-
promissora e rápida, sendo promovido a bate. O ministro das Relações Exteriores
general de brigada em setembro de 1932. avaliou que um recuo diante dessa situa-
Outra grande participação junto ao ção deixaria o governo em maus lençóis,
Exército francês foi a do Segundo-Tenente pois os aviadores já estavam prontos para
José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque21, a missão. Depois de muitas conversas e
integrante da Comissão supramenciona- telegramas, em nome da antiga amizade
da, que estagiou na Escola Militar em entre os dois países, ficou autorizada a ida
Saint-Cyr e, em 1918, foi designado para de dez aviadores, mas para treinamento.
comandar um pelotão de um esquadrão Ao final, seguiram para a Inglaterra
do 4o Regimento de Dragões do Exército seis oficiais aviadores (um deles do

21 Era sobrinho de Epitácio Pessoa, Presidente da República de 1919 a 1922.


22 Equivalente ao Ministério das Relações Exteriores.

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

Exército) formados pela Escola de Avia- estenderam após o armistício. Ao final de


ção Naval e outros três da Marinha, sem 1918, oficiais e praças da Marinha foram
qualquer experiência com a aviação23. O para a Itália a fim de frequentar uma escola
primeiro grupo partiu em 8 de janeiro de de aviação. Sem entrar em combate, a
1918, e o segundo em 26 do mesmo mês, equipe, liderada pelo Capitão de Corveta
a bordo dos paquetes Barrow e Amazon, Protógenes Guimarães, realizou diversas
respectivamente. Os oficiais chegaram na atividades, dentre as quais destacamos as
época de criação da Real Força Aérea Bri- instruções na Escola de Observadores Mi-
tânica (RAF), resultado da fusão do Royal litares, na Escola de Aviação do Exército
Naval Air Service, da Marinha Real, e do italiano (curso de caça e acrobacia) e na
Royal Flying Corps, do Exército. Escola de Aviação Naval em Taranto, com
Os treinamentos iniciais foram re- o concurso de hidroaviões, na execução de
alizados em hidroaviões (aerobotes), patrulhas antissubmarino e ataques com
exceção feita ao Tenente De Lamare, bombas e torpedos.
mais experiente, que seguiu direto para Essas diversas participações renderam
a instrução com aeronaves baseadas em ao Brasil, após o armistício, a cooperação
terra. Todavia sofreu dois acidentes, sem norte-americana com o concurso de mili-
ferimentos. Em outros, as consequências tares para ministrar instrução na Escola de
foram mais graves: um causou no Te- Aviação Naval, tendo como consequência
nente Olavo um traumatismo craniano, a criação dos cursos de Mecânico Naval
deixando-o fora de ação até o armistício; de Aviação e Marinheiro Especialista de
outro ceifou a vida do piloto Eugênio Aviação. Mais tarde, após uma disputa
Posolo, após um choque de aeronaves. com a Grã-Bretanha, recaiu para os EUA
Ao final, já brevetados, os pilotos foram o envio de uma Missão Militar visando
designados para patrulhas antissubmarino instruir, modernizar e reorganizar nossa
no Canal da Mancha. Antes, porém, dois Força Naval, com contrato efetivado em
pilotos contraíram a gripe espanhola e Washington, a 6 de novembro de 1922.
permaneceram internados até o final dos Positivamente, sem qualquer chance
combates, quando retornaram ao Brasil de envolvimento bélico com o concurso
a bordo do Tênder Belmonte. Cada um do EB como tropa constituída, a Marinha
dos aviadores que lá permaneceu até o iniciou uma corrida para preparar unida-
armistício custou aos cofres públicos des navais e pessoal e melhorar as insta-
1.000 libras esterlinas, como forma de lações de apoio para sua prontificação,
pagamento das despesas e indenização em atendimento ao que fora acordado nas
por avarias provocadas nas aeronaves. conversações de Paris. Assim, logo ao iní-
A presença de aviadores não ficou cio de 2018 foi constituída a Força Naval
restrita à Inglaterra. Os Tenentes Mario que deslocar-se-ia à Europa – nominada
Godinho e Fileto da Silva Santos e o Su- Divisão Naval em Operações de Guerra
boficial Joaquim da Silva Júnior seguiram (DNOG) –, conforme Aviso Ministerial
para os EUA para estágio no US Naval Air no 501 de 30 de janeiro, do ministro da
Service e, posteriormente, participaram Marinha, Almirante Alexandrino Faria
de patrulhamentos antissubmarino que se de Alencar. O comando da DNOG foi

23 Na página 263 de História Naval Brasileira, Volume Quinto, Tomo 1B, tem-se a informação da ida de
13 oficiais para a Inglaterra.

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

atribuído ao Contra-Almirante Pedro – CT Rio Grande do Norte (CT-4) –


Max Fernando de Frontin, que assumiu CC José Felix da Cunha Menezes;
o cargo a 9 de fevereiro. A essa Divisão – CT Parahyba (CT-5) – CC Manoel
caberia a tarefa de patrulhar a área marí- José Nogueira Gama24/Capitão-Tenente
tima delimitada pelo triângulo Dakar-São Alberto de Lemos Bastos; e
Vicente-Gibraltar. – CT Santa Catarina (CT-9) – Adal-
berto Guimarães Bastos.
A DIVISÃO NAVAL EM Após a designação dos navios da
OPERAÇÕES DE GUERRA DNOG, o Almirante Frontin providenciou
o preenchimento de claros em pessoal
Com a criação da DNOG, iniciaram-se (oficiais foram escolhidos pelo critério de
os preparativos visando constituí-la efe- voluntariado) e o planejamento das fainas
tivamente, bem como preparar um plano de prontificação das unidades navais, vi-
logístico de alta complexidade para sanar sando ao cumprimento da missão imposta.
as carências existentes de material sobres- Os reparos necessários foram realizados
salente e, principalmente, no abastecimento no Arsenal de Marinha do Rio de Janei-
de combustível (o carvão), levando-se em ro, considerado antiquado, sem pessoal
conta a longa distância a percorrer até o habilitado e sem suprimento regular de
teatro de operações europeu, onde atuaria. sobressalentes. Todavia era o único capaz
Em sequência, a fim de garantir o de atender às solicitações.
cumprimento da missão, saltava aos olhos Diante de tantos óbices e conforme
a necessidade de treinamento das tripula- solicitação do comandante da Divisão,
ções designadas para os navios da DNOG, à DNOG foram incorporados o Tênder
que passou a ser constituída pelos navios Belmonte25 e o Rebocador Laurindo Pitta,
a seguir relacionados. Estão elencados ambos para atender, primordialmente, às
também os nomes de seus respectivos fainas de suprimento de carvão durante a
comandantes quando da saída do Rio de travessia até a África, entre outras. Ao in-
Janeiro e dos posteriores substitutos, por tegrarem-se, os navios estavam sob o co-
ocasião das intempestivas mudanças de mando, respectivamente, do CC Benjamin
comando, por diversos motivos, inclusive Goulart (e depois dos Capitães-Tenentes
a gripe espanhola. Manoel Inácio Brício Guilhon e Milcíades
– Cruzador Rio Grande do Sul (C-11), Portela Alves26) e do Primeiro-Tenente
o capitânia – Capitão de Corveta (CC) Nelson Simas de Sousa, substituído mais
José Machado de Castro e Silva; tarde pelos Capitães-Tenentes Heitor
– Cruzador Bahia (C-12) – Capitão Perdigão e Clodoveu Gomes.
de Fragata Tancredo de Gomensoro/CC O estado de prontificação em que se
Benjamin Goulart; encontravam os navios não era nada alvis-
– Contratorpedeiro (CT) Piauhy (CT- sareiro. O Tênder Belmonte necessitou de
3) – CC Alfredo de Andrade Dodsworth/ muitas reformas para sua transformação
CT Mario Emílio de Carvalho; de mercante para navio de guerra, em con-

24 Acometido por doença em Cherbourg, França, retornou ao Brasil, deixando o comando com o seu imediato.
25 Ex-Valésia – navio alemão arrestado e semissabotado, que necessitou de grandes reparos e consertos para
se transformar em navio-tênder.
26 Anos mais tarde, já como integrante do Quadro de Oficiais do Corpo de Fuzileiros Navais, veio a exercer
o cargo de comandante-geral.

74 RMB1oT/2021
O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

dições de prestar apoio logístico às unida- Na questão adestramento, consta no


des da DNOG. Os contratorpedeiros não livro Repositório de Nomes dos Navios
foram projetados para travessias longas e da Esquadra Brasileira a participação,
afastadas de suas bases, mas agora teriam em setembro de 1913, de um exercício
de enfrentar tal situação. Os cruzadores, com a Esquadra na região da Ilha de São
também obsoletos, apresentavam sérias Sebastião (SP), assistido pelo Presidente
deficiências nas turbinas de propulsão da República e pelo ministro da Marinha
e tubulações dos condensadores, que e comitiva, a bordo do Navio-Transporte
necessitavam de substituição, itens estes Carlos Gomes, do qual participaram, ain-
sem estoques no País. O Rio Grande do da, as seguintes belonaves: Encouraçados
Sul, designado capitânia, ficou retido em Minas Geraes, São Paulo, Floriano e De-
Santos, em dezembro de 1917, sem poder odoro; Cruzadores Barroso, Bahia e Rio
acompanhar os navios da Divisão Naval. Grande do Sul; Cruzadores-Torpedeiros
Em outra ocasião, em plena singradura, Tupy, Tamoyo e Tymbira; e Contrator-
necessitou de reparos nos condensadores. pedeiros Amazonas, Pará, Rio Grande
Conforme descrito em O Brasil e a Pri- do Norte, Alagoas, Parahyba, Sergipe,
meira Guerra Mundial, durante uma con- Paraná, Piauhy e Santa Catarina. Toda-
ferência realizada na Escola Naval, em 23 via quatro anos já haviam se passado e a
de outubro de 1940, DNOG precisava se
o futuro Almirante atualizar e adestrar-
Renato de Almeida Antes do adestramento, -se para as novas
Guilhobel, partícipe situações.
do conflito, inicial- as guarnições careciam Para aumentar o
mente a bordo do de conhecimentos para grau de aprestamen-
Rio Grande do Sul, to, foram progra-
manifestou-se da se-
operar, com eficiência mados, no Rio de
guinte forma: e eficácia, os sistemas Janeiro, exercícios
de bordo na Ilha Grande e
Organizada ao largo da Baía de
que foi a Divisão Guanabara, tão logo
[...] o almirante iniciou a fase prepara- os navios fossem transmitindo ao coman-
tória para pôr os navios em estado de do o término dos reparos mais urgentes,
navegar e suportar as longas travessias quando poder-se-ia, então, cumprir o que
que se anunciavam até a base que fora programado para adestramento das
lhes havia sido designada: Gibraltar. guarnições, que careciam de conhecimen-
Começou para ele, que arcava com a tos para operar, com eficiência e eficácia,
responsabilidade imensa de conduzir a os sistemas de bordo. Durante essa fase,
bom termo esta espinhosa missão, um foram realizados intensos exercícios, que
verdadeiro calvário: tudo eram dificul- contemplaram fainas internas, comunica-
dades; não havia nos arsenais o material ções navais, tiros de artilharia, táticas e
preciso para os reparos de urgência formaturas no mar, entre outros.
que se faziam necessários; o regime Lembra-se que, à época de construção
de economia se antepunha a todas as dos navios do PRN de 1906, os submari-
necessidades que surgiam e era preciso nos ainda não eram utilizados como arma
sanar sem gastar e sem pedir [...]. bélica; portanto, em 1917, as técnicas e

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

os meios antissubmarino não eram de importantes para o planejamento da logís-


conhecimento das guarnições. Tampouco tica de abastecimento.
os navios eram dotados de hidrofones ou Findo todos os preparativos no Rio de
de qualquer sensor para detenção subma- Janeiro, os navios da DNOG deixaram
rina, as cargas de profundidade, segundo o porto do Rio de Janeiro em 2018, de
o Estado-Maior da Armada, não eram forma faseada, com destino a Fernando
eficientes e nem havia, ainda, a adoção de de Noronha, de onde partiriam para a
regras adequadas de lançamento. Europa. Antes, porém, os cruzadores e
Entre tantas precariedades, a que mais os contratorpedeiros deveriam dirigir-se,
preocupava era a escassez de combustí- respectivamente, para Recife e Natal. No
vel, pois todos os navios eram movidos a dia de zarpar, o Cruzador Rio Grande do
carvão, insumo dependente de importação Sul recebeu a bordo, para as despedidas
da Inglaterra e dos EUA27, que apresenta- formais, o Presidente Venceslau Brás, o
vam índices de consumos diferenciados. Ministro Alexandrino de Alencar e outras
Tanto que, nos grandes deslocamentos, autoridades.
em fase posterior da prontificação, os co- Segue-se um quadro que apresenta a
mandantes receberam ordens para medir cinemática de movimento das unidades
o consumo de suas máquinas e atualizar navais, até atingirem o Arquipélago de
suas correspondentes tabelas, dados esses Fernando de Noronha.

Chegada/Saída
Navio Saída Destino Chegada Observações
Salvador

Piauhy 7 maio 10 maio/21 maio Natal 24 maio

Parahyba 7 maio 10 maio/12 junho Natal 15 junho 24 julho – Saída com


destino ao ponto de
R. G do Norte 28
9 maio 12 maio/12 junho Natal 17 julho
rendez- vous
Santa Catarina 9 maio 13 maio/21 maio Natal 24 maio
25 julho – Partida
R. G do Sul 11 maio 14 maio/20 junho Recife 24 junho
para Fernando de
Bahia 11 maio 14 maio/20 junho Recife 24 junho Noronha

Belmonte 6 julho – Recife 13 julho

24 julho – fundeio
Laurindo Pitta 8 julho ND/ND Salvador ND
em F. Noronha

ND – Não determinado

27 O carvão nacional continha muito enxofre e não era adequado para o uso nos navios.
28 Em 14 de junho, o CT Rio Grande do Norte atracou no Recife para carregamento de mantimento para todos
os contratorpedeiros, ali permanecendo por mais de um mês.

76 RMB1oT/2021
O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

O Tênder Belmonte deixou o Rio de da borda aguentavam sacos de carvão,


Janeiro carregado de carvão, mantimentos até a altura do convés da caixa de fu-
e sobressalentes, então existentes, direto maça contendo cerca de 50 toneladas
para Recife, enquanto o Laurindo Pitta suplementares. [...] A DNOG estava
partiu para Fernando de Noronha, esca- pronta para zarpar. Todos estavam
lando em Salvador. aptos para a guerra. E a guerra, na
As escalas e permanências em Sal- verdade, ia ter início.
vador, Recife e Natal serviram para a
realização de melhoramentos finais para Durante a singradura, os navios segui-
a grande travessia, fazendo uso de recur- ram as regras de escurecimento durante a
sos próprios e locais, bem como para os noite e singravam os mares em dispositivo
adestramentos finais, com destaques para de cruzeiro realizando zigue-zagues, pron-
o tiro sobre alvo rebocado. Cabe ressaltar tos para assumir dispositivos de batalha.
que o consumo de combustível continuava Graças à adoção de regras de segurança e
sendo o ponto nevrálgico da Divisão, tanto de carregamento suplementar de carvão,
que, no deslocamento para o Nordeste, o uma série de fainas foi executada, sendo
Rio Grande do Norte ficou à matroca a as mais recorrentes as transferências de
60 milhas de Salvador, sem combustível, carvão, a partir do Rebocador Laurindo
sendo, na ocasião, auxiliado pelo Piauhy, Pitta e do Tênder Belmonte, para os navios
já atracado na capital baiana, o qual de- da Divisão, realizadas em alto-mar, com
mandou em seu socorro, rebocando-o até o grandes possibilidades de ocorrência de
porto em condições desfavoráveis de mar. acidentes. Outras consistiram na locali-
Conforme a tabela apresentada, em 24 zação e busca do Laurindo Pitta, que se
de julho, à exceção do Laurindo Pitta, que desgarrou da Divisão, num rebate falso
já se encontrava fundeado no arquipéla- de submarino e no mal desempenho do
go, os navios deixaram os portos em que Rio Grande do Sul, que precisou atracar
estavam para se reunirem em uma deter- no Belmonte para recebimento de água e
minada coordenada (rendez-vous), de carvão. Faina idêntica aconteceu com o
onde partiriam para Fernando de Noronha. Bahia, que, adicionalmente, apresentou,
Sanados todos os problemas, a DNOG por duas vezes, vazamento de tubos do
demandou, em 1o de agosto, o porto de condensador.
Freetown, na Serra Leoa, localizada no A DNOG chegou ao primeiro destino
litoral africano. Tudo o que podia ser feito acompanhada do encouraçado inglês
e treinado, com as devidas limitações, Britânia, que o recepcionara na manhã de
foi implementado, o que demonstrou a 9 de agosto, quando ali atracou e perma-
determinação de nosso pessoal em melhor neceu por 14 dias. Na primeira oportuni-
representar o Brasil. dade, o Almirante Frontin apresentou-se
O estado de prontificação foi descrito da ao Almirante Dawson Lees Sheppard,
seguinte forma pelo Almirante Prado Maia: comandante do 9o Esquadrão de Cruzado-
res da Marinha Real, a quem passou a se
No dia 31 de julho, sacos de carvão, subordinar. Depois de expor as normas a
empilhados, enchiam os conveses do serem seguidas pela Divisão Naval, ouviu
Bahia e do Rio Grande do Sul, em de seu comandante superior que nenhum
suplementação às carvoeiras atopeta- item necessitaria ser alterado, pois todos
das. Nos destróieres, tábuas ao longo estavam perfeitos.

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O BRASIL DURANTE A PRIMEIRA GUERRA MUNDIAL

A força deixou Freetown com destino inglês, o Contratorpedeiro Piauhy30, cuja


a Dacar após recompletar seus estoques tripulação naquele momento era a que
de mantimentos e sobressalentes e efeti- apresentava menores problemas de saúde,
var pequenos reparos. Durante a travessia, foi destacado e designado a prestar auxí-
o tempo não favoreceu, pois foram dias lio à força naval portuguesa no entorno
de muitas chuvas, que prejudicaram a das Ilhas de Cabo Verde, deixando o
observação e a navegação, realizada em porto em 9 de setembro. No regresso, a
um litoral repleto de bancos de areia dis- 19 outubro, reintegrou-se à DNOG, que
tanciados em até 90 milhas da costa. A deixou Dacar rumo a Gibraltar somente
má qualidade do combustível tampouco em 3 de novembro, com apenas quatro
favoreceu o bom desempenho das máqui- navios. O Rio Grande do Sul e o Rio
nas, e o tempo ruim prejudicou as fainas Grande do Norte ali permaneceram para,
de combustível no mar. Finalmente, em respectivamente, substituição de tubos de
26 de agosto, numa manhã de tempo bom, condensadores perfurados e reparação de
a DNOG entrou na área portuária, prote- avaria em um dos eixos. O Laurindo Pitta
gida por minas e redes antissubmarino, recebeu ordens de regressar ao Brasil, e o
com previsão de atracação pelo tempo Belmonte, por falta de disponibilidade de
mínimo necessário a docagens, limpeza navios mercantes, foi empregado para o
de cascos em alguns navios, pequenos transporte de trigo, a pedido do represen-
consertos e reabastecimento de água, tante da França.
carvão, mantimentos etc. A DNOG, operando com o Cruzador
Infelizmente, em 6 de setembro, talvez Bahia como capitânia, chegou em Gibral-
por falha do serviço médico da Divisão tar31 em 10 de novembro. No dia seguinte
Naval, estourou a bordo dos navios a foi assinado o armistício, não havendo,
gripe espanhola, provavelmente adqui- portanto, a chance de uma participação
rida em Freetown, assolando de forma mais efetiva, sob o ponto de vista ope-
agressiva e brutal todas as guarnições29, racional. Não obstante, a convite dos
deixando um saldo de 156 mortos, que países vitoriosos, a DNOG participou dos
foram sepultados em Dacar. festejos comemorativos pela conquista da
Com todos os problemas enfrentados paz, visitando vários países. Na Inglater-
no combate à gripe espanhola, ao final o ra, o Almirante Frontin, comandantes de
Almirante Frontin constatou que o estado navios e diversos oficiais foram recebidos
operacional de seus navios era lastimável, pelo Rei George V. Em Cherburgo, Fran-
o que o fez emitir um relatório ao chefe do ça, encontraram-se com o Belmonte, que
Estado-Maior da Armada, no qual criticou fazia um carregamento de carvão Cardiff.
o material empregado pelo Arsenal de Ma- Depois a Divisão rumou para Lisboa e,
rinha quando dos reparos no Rio de Janeiro. logo após, regressou à base em Gibraltar.
Durante a permanência na capital Em março, o Bahia e os contratorpedeiros
senegalesa, por solicitação do almirante mostraram bandeira em Spezia, na Itália.

29 Sugere-se a leitura do depoimento do Capitão-Tenente Orlando Marcondes Machado, transcrito em História


Naval Brasileira, Volume Quinto, Tomo 1B, Serviço de Documentação da Marinha, Rio de Janeiro,
1997, pp. 267-273.
30 Foi necessário o reforço de pessoal bem de saúde de outros navios.
31 Estava previsto um ponto de encontro da DNOG com o encouraçado inglês Britânia, para juntos entrarem em
Gibraltar. Entretanto, a Divisão se atrasou e o Britânia foi atacado e afundado por um submarino alemão.

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A DNOG iniciou seu regresso ao Brasil Entretanto enfrentou por vários anos,
partindo de Gibraltar em 28 de abril de no campo diplomático, os impulsos
1919 e escalando em São Vicente, onde imperialistas dos ingleses e franceses
aguardou a chegada do Rio Grande do e, em menor grau, dos americanos. No
Norte, que se atrasara, assim como do campo interno, além do Contestado, se
Belmonte, que se integrariam à Força. Na deparou com políticos e personalidades
singradura até Fernando de Noronha, a proeminentes, que incentivaram, durante
Divisão passou pelos mesmos problemas a neutralidade, a participação do Brasil na
ocorridos no seu deslocamento para a guerra. Felizmente, o governo de Vences-
África, porém sem o perigo de ataques lau Brás a sustentou o quanto pode, até o
de submarinos. momento em que o Império alemão iniciou
Em 23 de maio, atracou em Recife, uma campanha de agressão com os seus
onde já se encontra- U-boats, promoven-
va o Rio Grande do do afundamento
Sul, sendo recebida Os integrantes da DNOG dos navios da frota
festivamente pela mercante brasileira,
população local. A 4
não puderam mostrar prejudicando ainda
de junho, demandou o seu valor no teatro de mais nossa comba-
a cidade do Rio de operações, mas perante lida economia.
Janeiro, chegando Depois de decla-
em 9 de junho, sob o povo brasileiro deram rar estado de guerra
a escolta de vários provas de determinação, aos alemães e ali-
navios, quando en- nhar-se aos Aliados,
tão desfraldou a flâ-
honradez e devoção em decisão tomada
mula de “Fim de em atender ao chamado tempestivamente
Comissão”. Missão da Nação nos encontros de
cumprida32. Paris, o Brasil acor-
dou a participação
CONSIDERAÇÕES FINAIS de forças militares no Velho Continente,
a despeito das precaríssimas condições
Como vimos, no início da 1a GM o em que se encontravam suas Forças Ar-
País atravessava, havia algum tempo, madas. Ao EB foram confiadas missões
graves crises, principalmente de ordem que dependiam somente dos seus recursos
social e econômica. Suas Forças Arma- humanos especializados, que foram cum-
das, relegadas a segundo plano desde o pridas a bom termo e de forma gloriosa.
governo de Campos Sales, não tinham Entretanto, coube à MG o fardo maior em
material de reposição, equipamentos, honrar as cores nacionais.
armamentos e tampouco recursos hu- Como nas participações anteriores em
manos em condições operacionais para eventos históricos nacionais, os bravos
um enfrentamento de crises externas, homens do mar receberam essa missão e
sobretudo em simultâneo com as que se empenharam com o máximo vigor para
combatia internamente, como a Revolta cumpri-la, fazendo uso do que tinham em
do Contestado. disponibilidade de navios de guerra, recur-

32 O Aviso ministerial no 3.053, de 25 de junho de 1919, dissolveu a DNOG.

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sos humanos, equipamentos e sobressa- um dos intentos do Brasil foi alcançado,


lentes básicos e iniciando a prontificação com a participação de uma comissão nas
da Divisão Naval de Operações de Guerra, conferências de Paz, que deram origem
constituída para integrar as forças navais ao Tratado de Versalhes.
aliadas em operações no Atlântico Norte. Entretanto as lições aprendidas durante
Enfrentando problemas de obsoles- o desenrolar dos acontecimentos não ser-
cência de seus meios navais, deficiência viram, absolutamente, para mudar a per-
de recursos humanos proficientes, bases cepção da classe política e de governantes
de apoio inadequadas, dificuldade de para promover ações que valorizassem
obtenção de combustível e falta de verbas as Forças Armadas, em observância, a
orçamentárias, a DNOG, a duras penas, tempo e a hora, aos preceitos e princípios
ao chegar a um nível de prontificação de guerra, tão milenares e sempre atuais,
mínima necessária, rumou para a África necessários ao emprego e à manutenção
em julho de 1918. Enfrentou problemas de forças militares em condições de per-
no seu deslocamento, sendo o maior deles manente prontidão.
a gripe espanhola. Todavia, apesar do Prontidão. Esse é o princípio de guerra
atraso que a epidemia acarretou para a que não foi observado antes e nem depois
Divisão chegar ao seu destino – Gibraltar do conflito, pois conhecemos o estado em
–, ela não foi capaz de obstar nossos com- que se encontravam o Exército Brasileiro
batentes em perseguir, com abnegação, o e a Marinha de Guerra em 1939, quando
cumprimento da missão imposta. Infeliz- irrompeu a Segunda Guerra Mundial.
mente, alcançou Gibraltar na véspera da Hoje continuamos, em pleno século
assinatura do armistício. XXI, desdenhando os mais elementares
Os integrantes da DNOG não puderam princípios de guerra. Mas, com todos os
mostrar o seu valor no teatro de operações, óbices ainda existentes para alcançarmos
mas perante o povo brasileiro deram um grau de excelência na prontidão das
provas, mais uma vez, de determinação, Forças Armadas, à altura da defesa de
honradez ao juramento prestado ante nossos interesses, estaremos silentes,
o pavilhão nacional e de devoção em prontos e guarnecidos para atender ao
atender ao chamado da Nação. Ao final, chamado da Nação.

1 CLASSIFICAÇÃO PARA ÍNDICE REMISSIVO:


<GUERRAS>; Defesa; Primeira Guerra Mundial;

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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em: https://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1910-1919/decreto-11037-4-agosto-1914-
-575458-publicacaooriginal-98652-pe.html. Acesso em: 8 de jun. 2020.
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iniciado pelo Império Alemão contra o Brasil. Disponível em: https://www2.camara.leg.
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ANEXO
Navios da Esquadra brasileira em 1914

Navio Lançamento Incorporação Deslocamento Baixa


E Minas Geraes* 10 set 1908 18 abr 1910 1953
21.500 ton
E São Paulo* 19 abr 1909 12 jul 1910 1951
CT-1 Amazonas* 11 jul 1908 31 dez 1909 ND
CT-2 Pará* 11 jul 1908 31 dez 1909 1936
CT-3 Piauhy* 11 jul 1908 31 dez 1909 1944
CT-4 Rio Grande do Norte* ND ND ND
CT-5 Parahyba* 11 jul 1908 31 dez 1909 640 ton ND
CT-6 Alagoas* 07 set 1909 28 fev 1910 (máximo) 1939
CT-7 Sergipe* 25 mai 1910 ND 1944
CT-8 Paraná* 1909 ND 1933
CT-9 Santa Catarina* 27 out 1909 ND 1944
CT-10 Mato Grosso* 22 jan 1909 1910 1946
E Floriano jun 1899 31 dez 1900 1934
3.162 ton
E Deodoro 1898 20 jun1898 1924
C Bahia * 20 jan 1909 1910 1945 Naufrágio
3.150 ton
C Rio Grande do Sul* 20 abr 1909 1910 1948
CT Tupy 14 nov 1896 out 1897 1.037 ton 1915
CT Tamoyo nov 1895 nov 1896 1.070 ton (leve) 1916
CT Tymbira ND 1896 1.190 ton ND
NTr Carlos Gomes 33 ND 1897 1.843 ton 1923
F-1 11 jun 1913 11 dez 1913 1933
F-3 9 nov 1913 16 mar 1914 250 ton 1933
F-5 4 jan 1914 6 jun 1914 1933
C Barroso 1896 25 ago 1896 3.446 ton 1931
C Tiradentes 1892 ND 705 ton 1919
C República 1892 ND 1.231 ton 1920
C Tamandaré 1890 1897 4.537 ton 1915
Tênder Ceará 7 set 1915 28 abr 1917 3.500 ton 1946
Iate José Bonifácio ND ND ND Tênder
Flotilha do Amazonas 2 canhoneiras e 2 avisos
Flotilha do Mato Grosso 1 monitor e 2 avisos

Legenda: F – Submarinos classe Foca


E – Encouraçado NTr – Navio-Transporte
C – Cruzador ND – Não disponível
CT – Contratorpedeiro * Pertencente ao PRN de 1906

33 Em 1917, foi classificado como navio-mineiro.

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