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Pistolas e Revólveres na I e II Grandes Guerras (Rev. 1)

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Neste  artigo  pretendemos  descrever,  de  forma  resumida,  as  principais  características  das  armas
curtas,  sejam  elas  revólveres  ou  pistolas  semi‑automáticas,  que  participaram  dos  dois  maiores
conflitos armados da História, a I e a II Grandes Guerras, a primeira com início em 1914 e terminando
em 1918, e a última com início em setembro de 1939 e encerrando‑se em 1945. O teatro de operações
destes  conflitos  foi  imenso,  sendo  que  a  II  Guerra  abrangeu  praticamente  toda  a  Europa,  parte  da
Ásia, Japão e norte da África, com diversos países aliados ou não, participando de forma direta ou
indireta, dos combates.

Neste artigo não entraremos  no  âmbito  de  armas  automáticas  de  uso  coletivo ou portáteis como as


sub‑metralhadoras  e  as  metralhadoras  leves  ou  pesadas,  pois  à  estas  dedicaremos  um  outro  artigo
exclusivo.  Não  se  pretende  aqui  descrever  todas  as  armas  utilizadas  por  determinado  país,  o  que
demandaria  um  artigo  longo  demais;  a  intenção  é  enumerar  a  principal  ou  as  principais  armas,
aquelas que foram utilizadas em toda a duração dos conflitos e com grande penetração nas tropas.

O  uso  das  armas  curtas  em  combate  visa,  tradicionalmente,  a  proteção  e  defesa  pessoal  de  seus
portadores.  Sozinha,  num  âmbito  mais  abrangente  de  armas  militares  em  geral,  ela  não  tem  muita
importância e não decide uma batalha. Devido ao pouco alcance e limitada quantidade de munição,
ela é realmente destinada a uso individual, raramente mudando de uma forma ou de outra o curso
dos acontecimentos.

De  maneira  quase  generalizada  nos  diversos  países  que  participavam  dos  conflitos,  a  pistola  ou
revólver  eram  destinados  como  arma  de  porte  pelos  oficiais  e  em  alguns  casos,  aos  sargentos  ou
cabos quando em comando de patrulhas. O soldado raso geralmente portava somente armas longas,
como os fuzis, carabinas e submetralhadoras.

Longe  de  querer  aqui  filosofar  sobre  a  velha  polêmica  envolvendo  pistolas  e  revólveres  quanto  aos
seus  méritos  e  qualidades  individuais,  temos  que  reconhecer  que  a  pistola  se  tornou,  a  partir  da  I
Guerra, a arma leve de porte militar por excelência, substituindo o revólver em praticamente todos os
exércitos envolvidos, embora ainda esses dois tipos de arma conviveram juntos por um longo tempo.
A grosso modo, e aos olhos dos técnicos e burocratras que enfiam suas idéias guela abaixo sobre o
que  se  deve  utilizar  ou  não  num  conflito  bélico,  as  pistolas  demonstraram  mais  vantagens  que  os
revólveres, principalmente em alguns pontos cruciais: a velocidade do disparo, a maior quantidade
de  munição  em  uma  só  carga,  a  facilidade  de  se  recarregar  e  a  maior  penetração  dos  projéteis,
geralmente encamizados. Mas, precisamos lembrar que essa situação foi analisada no início do século
passado, onde a variedade de armas e tipos de munições existentes era muito mais limitada que hoje.

Militarmente  falando,  as  pistolas  só  começaram  a  participar  ativamente  a


Militarmente  falando,  as  pistolas  só  começaram  a  participar  ativamente  a
partir  de  1900.  Até  então,  a  hegemonia  nas  armas  curtas  ficava  ao  cargo  dos
revólveres  e  mesmo  com  o  passar  das  primeiras  décadas  do  século  XX,  eles
ainda  permaneceram  em  uso,  em  alguns  casos,  convivendo  lado  a  lado  com
suas  rivais,  em  maior  ou  menor  escala.  Isso  praticamente  ocorreu  em  quase
todos  os  grandes  exércitos  da  época,  como  Inglaterra,  Estados  Unidos,
Alemanha,  França,  Itália  e  Rússia.  As  principais  nações  envolvidas  e  que
realmente participaram com suas Forças Armadas no combate, estão listadas
a seguir, com o seu respectivo armamento portátil utilizado.

ALEMANHA

A  Alemanha  foi  um  dos  primeiros  países  do  mundo  a  adotar  uma  pistola  semi‑automática  como
arma curta regulamentar para suas Forças Armadas, em substituição à um revólver, o Reichsrevolver
modelo 1879; foi a pistola Parabellum P‑08 (Luger), no ano de 1908; porém, antes disso a Suíça,  já em
1900, havia adotado a mesma arma para seu Exército, embora em outro calibre.

Em  1893,  o  alemão  naturalizado  norte‑americano  Hugo  Borchardt  (pron.  Bork‑Hardt),  retornou  à
Alemanha,  vindo  dos  USA  onde  trabalhou  na  Sharps  e  na  Singer.  Agora,  trabalhando  junto  à
empresa  berlinense  Ludwig‑Loewe  ,  patenteia  o  que  seria  a  primeira  pistola  semi‑automática  a  ser
produzida em série e com relativo sucesso comercial. Apesar de sua aparência estranha e desajeitada,
grangeou uma certa reputação no mercado civil, mas não despertou o interesse dos militares como
era a intenção do fabricante. A pistola se denominava oficialmente de Selbstladepistole C93.

A pistola Borchardt de 1893 (C93), em calibre 7,65mm, com sua coronha montada

A Loewe enxergou logo que a arma teria que passar por uma remodelação para alavancar as vendas.
Apesar de que Hugo Borchardt, de certa forma, se recusava a fazer alterações em um projeto que ele
julgava  ser  perfeito  e  devido  à  crise  financeira  por  que  passava  a  Ludwig  Loewe,  Georg  Luger,  na
época consultor técnico da empresa, foi encarregado de desenvolver modificações no projeto original.
O  que  na  verdade  ocorreu  é  que  as  mudanças  foram  tantas  que  Luger  acabou  por  projetar,
praticamente, uma nova arma.

Do desenho de Borchardt, Luger manteve o sistema de culatra com ação do tipo joelho “toggle‑joint“,
o  carregador  inserido  dentro  da  empunhadura  e  o  sistema  de  disparo.  Para  deixar  a  arma  mais
balanceada, optou por um cano mais curto e eliminou a grande protuberância traseira, característica

marcante da C93, que servia como alojamento para a mola recuperadora do ferrolho, feita em lâmina
marcante da C93, que servia como alojamento para a mola recuperadora do ferrolho, feita em lâmina
de  aço;  Luger  transferiu  essa  mola  para  a  parte  posterior  da  empunhadura,  localizada  atrás  do
alojamento do carregador.

Assim  sendo,  em  1899,  Luger  apresenta  seu  primeiro  protótipo  que  foi  testado  por  uma  comissão
especial  do  Exército  Alemão,  mas  de  imediato  recebendo  uma  restrição  com  referência  ao  cartucho
empregado,  um  7,65mm  pouco  mais  curto  que  o  cartucho  usado  na  antecessora  Borchardt.    O
cartucho  7,65mm  utilizado  por  Borchardt  (foto  à  esquerda)  foi  o  mesmo  que  inspirou  a  criação,
poucos anos depois, do 7,63mm Mauser, usado nas pistolas Mauser C96; porém, o 7,65mm Borchardt
possuía menor velocidade e energia.

Para  o  seu  projeto,  Luger  decidiu  diminuir  o  comprimento  do  cartucho  em


cerca  de  4mm,  para  possibilitar  o  desenho  de  um  carregador  mais
estreito, pois ele incluiria o novo posicionamento da mola de recuperação na
parte posterior da empunhadura (foto à direita). As diferenças balísticas entre
os dois cartuchos eram poucas e o poder de parada (“stopping‑power“) não era
muito  alto  em  ambos,  o  que  gerou  críticas  do  pessoal  do  Exército,  ainda
acostumados  com  o  grande  calibre  de  seus  antigos  Reichsrevolver  modelo
1879, que utilizavam um cartucho de calibre 10,6mm.

À esquerda, o cartucho 7,65mm Borchardt e o 7,65mm Parabellum

Em 1900, a D.W.M. (Deutsche Waffen und Munitionsfabrik), empresa formada
pela  união  da  Ludwig  Loewe  com  a  Deutsche  Metallpatronenfabrik  Lorenz
em 1896, e criada por Isidor Loewe após a morte de seu irmão Ludwig, inicia
a  produção  em  série  da  pistola,  que  foi  chamada  de  Parabellum,  que  também  era  o  endereço
telegráfico da empresa. NA: Parabellum, palavra oriunda da frase em latim, “Si vis Pacem, Para Bellum”, de
autoria do romano Publius Flavius Renatus, que significa “Se queres a paz, prepara‑te para a guerra.

A pistola Luger, pela sua importância histórica e por ter se tornado um verdadeiro ícone no mundo
todo, será brevemente alvo de um artigo nosso, dedicado especificamente à ela.

A pistola possuía o sistema de culatra trancada, liberada por curto recuo do cano, usando um sistema
de ação de joelho similar ao da metralhadora projetada por Sir Hiram Maxim e era exatamente igual
ao  empregado  por  Borchardt  (veja  nosso  artigo  sobre  Sistemas  de  Culatras,  neste  site).  Apesar  de
funcionar bem, exige mais peças móveis e pinos nas articulações, que com o tempo poderiam gerar
algumas folgas e desgastes. Porém, a qualidade do material empregado nestas armas era tão boa que
raramente  se  observa  alguma  dessas  pistolas  apresentando  desgastes  nessas  peças,  mesmo
exemplares que foram exaustivamente utilizados. Possuía uma trava de segurança na empunhadura
e uma alavanca lateral que na verdade servia para evitar que a trava da empunhadura fosse acionada,
ou seja, uma trava para uma outra trava.

Ao contrário do projeto original de Borchardt, a Parabellum era uma arma estéticamente muito mais
bonita,  elegante,  bem  balanceada,  com  um  ângulo  de  empunhadura  acentuado,  sendo  esta
empunhadura  considerada  por  muitos  atiradores  como  a  melhor  e  a  mais  ergonômica  das
encontradas  em  todas  as  demais  pistolas  militares.  Seu  carregador  era  para  8  cartuchos,  tanto  no
calibre 7,65 mm como no 9mm, e ficava inserido dentro da armação, podendo ser extraído mediante
um botão retém localizado convenientemente perto do gatilho, acionado pelo polegar. O gatilho era
uma  bela  peça,  larga  e  confortável,  posicionada  numa  das  melhores  distâncias  em  relação  à  parte
posterior da arma que se conhece em armas militares.

Talvez  os  dois  maiores  problemas  da  Parabellum  eram  o  mecanismo  de  disparo,  parcialmente
Talvez  os  dois  maiores  problemas  da  Parabellum  eram  o  mecanismo  de  disparo,  parcialmente
exposto do lado esquerdo da arma, que poderia acumular muita sujeira e engripar, e o seu sistema de
culatra  de  ação  de  joelho  “toggle‑joint“,  que  aliás  foi  o  motivo  principal  alegado  pela  comissão  dos
testes norte‑americanos de 1907, para que não se adotasse essa arma. Tanto o sistema de culatra como
de  disparo  exigiam  tolerâncias  mínimas  de  fabricação  e  ajustes  perfeitos,  o  que  fazia  da  arma  uma
das mais dispendiosas já fabricadas.

O  que  os  americanos  não  gostaram  do  sistema  “toggle‑joint”  é  que  nele,  a  mola  recuperadora  é
incapaz de fechar totalmente o ferrolho quando o mesmo partir de qualquer posição que não seja do
seu  batente  final.  Como  a  Luger  engatilha  o  percussor  quase  no  curso  final  de  fechamento  do
ferrolho,  o  mesmo  só  se  fecha  totalmente  pelo  impulso  oriundo  de  seu  curto  completo,  ou  seja,
quando solto desde a abertura máxima.

Exemplificando,  se  erguermos  o  ferrolho  da  Luger  um  pouco  só  para  cima,  o  suficiente  para
engatilhar  a  arma  e  o  soltarmos,  ele  não  se  fechará  sozinho  a  partir  dessa  posição,  pois  a  mola
recuperadora, neste estágio, não consegue vencer a força da mola do percussor.

Pistola Parabellum modelo 1900, em calibre 7,65mm Parabellum, modelo fornecido à Suíça sob contrato

Mas voltando à história, um ano depois do nascimento da arma, em 1901, a Suíça aprovou a pistola
para uso em seus exércitos e fechou um contrato de fornecimento de 3.000 peças, em calibre 7,65mm
Parabellum. Nesta mesma época os Estados Unidos adquiriram 1.000 pistolas, destinadas a testes de
campo.

Em 1902, George Luger resolve projetar um novo cartucho, agora em calibre 9mm, visando atender
aos  apelos  militares;  o  cartucho  tinha  as  mesmas  dimensões  traseiras  do  7,65mm,  possibilitando
assim que as pistolas Parabellum se adaptariam a qualquer um deles com a simples troca do cano. A
cápsula era levemente cônica (diâmetro frontal menor do que o do fundo), solução muito empregada
em  pistolas  semi‑automáticas  para  diminuir  travamentos  do  cartucho
dentro  da  cãmara  no  momento  da  extração.  Esse  novo  cartucho,
denominado  de  9mm  Parabellum  (9×19),  viria  se  tornar  o  cartucho  de
maior  sucesso  em  uso  no  mundo,  em  pistolas  semi‑automáticas,
adotado  oficialmente  pelos  países  da  OTAN,  substituindo  inclusive,  em  1985,  o  venerável  cartucho
.45  ACP,  utilizado  pelos  Estados  Unidos  desde  1911.  Com  esse  novo  cartucho  em  produção,  Luger
produz algumas pistolas neste calibre e as submete à comissão avaliadora do Exército Alemão, que

passa  a  testar  a  nova  arma  em  campos  de  provas  e  nas  suas  próprias  tropas.  No  ano  de  1904  a
passa  a  testar  a  nova  arma  em  campos  de  provas  e  nas  suas  próprias  tropas.  No  ano  de  1904  a
marinha alemã, depois de estar examinando a pistola desde 1902, adota a arma mas um modelo com
cano mais longo (6″) e com alça de mira graduada.

Em  1906  George  Luger  promove  alterações  em  seu  projeto  de  1900,  as  únicas  e  últimas  mudanças
executadas  nesta  arma.  As  Lugers  possuem  somente  dois  modelos  básicos,  o  1900  e  o  1906,
denominados  na  comunidade  colecionista  de  “Old  Model”  e  “New  Model”,  porém  cada  um  deles
com  várias  alternativas  de  comprimento  de  cano  e  usando  trava  de  empunhadura  ou  não.  As
principais mudanças do 1900 para o 1906 foram a troca da mola recuperadora, de lâmina de aço para
espiral,  as  “orelhas”  laterais  que  são  apoio  para  se  armar  o  ferrolho,  mudaram  de  semi‑lisas  para
totalmente  recartilhadas  e,  finalmente,  o  extrator.  A  partir  de  1906,  quando  há  um  cartucho  na
câmara, a parte superior do extrator se destaca  mais para fora, servindo como um alerta, tanto pelo
tato como visualmente de que arma se encontra carregada. Aliás, as faces laterais do extrator, quando
estavam visíveis, exibiam a palavra em alemão “GELADEN”, que significa “carregada”. Nas pistolas
dos contratos brasileiros e portugues, a gravação era a palavra “CARREGADA”.

No decorrer deste tempo, a D.W.M. consegue fechar diversos contratos de fornecimento e a pistola
começaca a fazer um sucesso inquestionável. Dentre vários países, Portugal e Brasil encomendaram
essas  armas  para  uso  em  seus  exércitos,  sendo  que  o  Brasil  fez  uma  aquisição,  em  1906,  de  5.000
pistolas em calibre 7,65mm Parabellum, muitas delas ainda presentes em coleções individuais e em
bom estado de conservação.

O ano de 1908 jamais seria esquecido por George Luger nem pelas Forças Armadas Alemãs, uma vez
que foi quando, finalmente, a Parabellum foi adotada oficialmente como arma de uso individual do
Exército. A partir daí, sua nomenclatura oficial passou a ser P.08,  ou “Pistole 08”, nomenclatura essa
que designa o ano de dotação e não o modelo da arma, que na verdade era o de 1906.

Pistola Luger (Parabellum) modelo 1906, adotada pelo Exército Alemão em 1908, em calibre 9mmX19

A P.08 era basicamente o modelo 1906 mas com cano de 4″ de comprimento, com 6 raias, alça de mira
fixa,  sem  a  trava  de  segurança  na  empunhadura  e  com  um  encaixe  na  parte  inferior  posterior  da
empunhadura  para  a  adaptação  de  uma  coronha.  Alguns  anos  depois,  a  arma  teve  seu  batismo  de
fogo com a entrada da Alemanha na I Guerra Mundial, onde provou ser uma ótima pistola. Com o
término  da  guerra  e  a  derrota  da  Alemanha,  o  Tratado  de  Versalhes  lançou  contra  os  países
derrotados uma série de restrições quanto ao fabrico de material bélico. Dentre eles, havia a limitação
de  calibres  em  armas  curtas  que  seria  fixado  no  máximo  em  8mm  e  o  comprimento  de  cano,
de  calibres  em  armas  curtas  que  seria  fixado  no  máximo  em  8mm  e  o  comprimento  de  cano,
no máximo de 3″ 5/8. Para a D.W.M. isso não causou problemas maiores, pois simplesmente os canos
seriam  encurtados  de  4″  para  3″  5/8  e  o  calibre  a  usar  seria  o  já  existente  7,65mm  Parabellum.  O
modelo  chamado  de  1923  era  justamente  esse,  que  passaria  a  ser  distribuído  às  tropas,  as  quais
também estavam restritas a um contingente máximo de 100.000 homens.

Entretanto,  contratos  estrangeiros  como  os  da  Suíça  e  o  da  Holanda  continuaram  mantendo  a
produção  ocupada.  A  partir  de  1930,  um  relaxamento  natural  das  restrições  do  tratado  já  eram
observadas. A D.W.M. já não mais existia com esse nome, mas sim como Berlin‑Karlsruhe Industrie
Werke (B.K.I.W.). Outros fabricantes da pistola foram surgindo na Alemanha, como a Simson & Co.,
da  cidade  de  Suhl.  Ainda  em  1930,  a    B.K.I.W.  foi  incorporada  pelo  mesmo  grupo  que  detinha  a
maioria das ações da Mauser Werke, de Oberndorf. Todo o maquinário foi transferido de Berlin para
a  Oberndorf,  e  a  Mauser,  doravante,  passou  a  ser  a  maior  fornecedora  das  pistolas  Parabellum,
apesar de que continuou utilizando a marca registrada da D.W.M. até 1934.

Em  1933,  os  nazistas  assumem  o  governo  na  Alemanha  e  a  partir  daí  as  restrições  impostas  pelo
Tratado  de  Versalhes  foram  descaradamente  desobedecidas  e  o  novo  governo  iniciou  um
investimento de grande monta em material bélico. Com a invasão da Polônia pela Alemanha em 1939
se  inicia  o  maior  conflito  armado  da  história.  A  pistola  Luger  entra  na  guerra  ainda  como  a  arma
individual  padrão  da  Wermacht,  da  Kiegsmarine  e  da  Luftwaffe,  exército,  marinha  e  aeronáutica
respectivamente, bem como utilizada pelas tropas independentes como as S.S.

Desde 1937 a casa Carl Walther, cujas pequenas pistolas modelos PP e PPK já eram muito utilizadas e
apreciadas  como  armas  de  defesa  pessoal  por  oficiais  das  forças  armadas,  cortejava  o  Governo
Alemão  com  o  intuito  de  fornecer  uma  nova  arma,  em  substituição  às  P.  08.  Neste  ano,  a  Walther
submete à testes de campo seu modelo HP, que foi muito bem aceito e elogiado pela comissão, pois
tratava‑se de uma pistola com características avançadas e sem alguns dos problemas críticos que as
Luger  costumavam  apresentar,  como  falhas  de  operação  devido  à  excesso  de  sujeira,  óleo  e  poeira,
que  facilmente  penetravam  no  mecanismo  muito  justo  e  parcialmente  exposto  da  arma.  Uma  certa
intolerância em relação à munição também era um caso sério na Luger, pois em tempos de guerra a
qualidade  e  a  inspeção  final  são  muito  desprezadas,  o  que  resultava  cartuchos  mal  feitos  que  não
funcionavam bem na pistola.
 
A pistola Walther P38 em calibre 9mm Parabellum

A  comissão  alemã,  que  pouco  antes  da  guerra  já  estudava  a  substituição  das  pistolas  Luger  acaba
então,  em  1938,  por  adotar  a  pistola  da  Walther,  que  passou  a  receber  a  denominação  de  P.  38,  ou
seja, Pistole 38. A substituição em tempo de guerra foi feita paulatinamente, sendo que a nova pistola
necessitava ser fabricada por outros fornecedores, pois só a Carl Walther não possuía condições para
suprir toda a demanda. Sendo assim, além da Walter, a arma passou a ser produzida pela Mauser e
pelo arsenal de Spreewerke.

As marcas de códigos de identificação usadas eram “480″ e “ac” para as feitas pela Walther, “svw” e
“byf”  para  a  Mauser  e  finalmente  “cyq”  para  Spreewerke.  A  Walther  produziu  583.000  pistolas
durante a guerra, em sua fábrica de Zella‑Mehlis; a Mauser se encarregou de fabricar 340.000 armas e
o arsenal de Spreewerke cerca de 285.000. A partir de 1942 foi encerrada definitivamente a produção
de pistolas Parabellum pela Mauser Werke A.G., o que a fez dedicar‑se integralmente ao fabrico das
P‑38.

Como  projeto  de  pistola  semi‑automática,  a  P38  tinha  características  muito  interessantes.  Foi  a
primeira  pistola  a  ser  adotada  por  um  exército  dotada  do  sistema  de  dupla‑ação,  onde  o  primeiro
cartucho poderia ser mantido na câmara e ao utilizar a arma, bastaria puxar o gatilho, como em um
revólver.  Além  disso,  apresentava  um  eficiente  sistema  de  trava  de  culatra,  uma  janela  de  ejeção
grande  o  suficiente  para  evitar  travamentos,  um  cão  externo  e  um  sistema  de  trava  de  segurança
eficiente, soluções similares às usadas pelas pistolas Bere냍a modernas.

Saiba mais sobre a história e detalhes desta arma em nosso artigo, aqui.

Além  das  pistolas  de  maior  potência  efetiva,  era  comum  entre  os  oficiais  de  patentes  mais  altas,
talvez  pela  própria  discrição  que  se  impunha,  o  uso  de  pistolas  semi‑automáticas  de  menor  porte.
Dessa forma, uma das preferidas era a Walther no modelo PP ou PPK, seguida da Mauser HSc, uma
pistola  muito  avançada  para  sua  época,  de  dupla‑ação  (como  as  Walther  PP  e  PPK).  A  sigla  HSc
significa Hahn‑Selbstspannerpistole Modell c, ou seja, Pistola de Dupla‑Ação Modelo C.
Acima, a pistola Mauser HSc em calibre 7,65mm Browning. 
As duas pistolas que conviveram lado a lado no Exército Alemão durante a II Guerra: a Parabellum P‑08 e a
Walther P‑38, ambas em calibre 9mm Parabellum, na foto com suas culatras abertas.

Seja como for, e controvérsias à parte, com excessão dos Estados Unidos, a Alemanha era o país mais
bem  servido  de  pistolas  semi‑automáticas  durante  a  II  Guerra.  Além  de  possuir  “em  casa”  duas
excelentes armas, era prática comum durante a ocupação dos diversos países da Europa, a “adoção”
de  armas  neles  fabricadas  e  que  possuíam  boas  qualidades,  como  ocorreu  durante  a  invasão  da
Áustria,  Bélgica,  Polônia  e  Tchecoslováquia,  onde  as  forças  alemãs  incorporaram  as  pistolas  Steyr‑
Hahn 1911, Browning (FN) 1935, a Vis 35 (Radom) e as pistolas CZ (27 e 39), respectivamente.

ÁUSTRIA

A Áustria foi anexada ao III Reich antes do início da II Guerra, em 1938. Porém, antes da I Guerra, a
Áustria era parte do então Império Austro‑Húngaro, que agregava diversos países além da própria
Áustria e a Hungria, tais como a Tchecoslováquia e Bósnia‑Herzegovínia. Após a derrota na I Guerra,
juntamente com a aliada Alemanha, em 1918, o Império foi totalmente desmembrado e vários países
componentes se declararam independentes.

Em  1906  foi  apresentada  ao  governo,  para  testes  e  avaliação,  a  pistola  Roth‑Steyr  em  calibre  8mm
Steyr,  projeto  desenvolvido  pelo  engenheiro  tcheco  Karel  Krnka  em  conjunto  com  o  fabricante  de
munições  Georg  Roth.  Após  a  aprovação  da  arma  em  1907,  a  mesma  passou  a  ser  adotada
oficialmente como Repetierpistole M7. Entretanto, Roth não possuía instalações nem estrutura para

fornecimento  das  pistolas  em  larga  escala.  O  governo  então  contratou  a  Österreichische
fornecimento  das  pistolas  em  larga  escala.  O  governo  então  contratou  a  Österreichische
Waffenfabriksgesellschaft (OEWG) localizada na cidade de Steyr, Áustria e também a FEG, na cidade de
Budapest. De 1908 ao início da guerra em 1914, quase 100.000 pistolas foram produzidas.

A pistola Roth‑Steyr em calibre 8mm, utilizada pelo Império Austro‑Húngaro durante a I Grande Guerra

Antes de 1912, praticamente todas as unidades de cavalaria do Exército Imperial estavam equipadas
com essa pistola, que teve grande aceitação por parte dos militares. A pistola possuía características
interessantes para a época; possuía um carregador fixo embutido na empunhadura, com capacidade
de 10 cartuchos calibre 8mm (8X19),  cartucho  esse  desenvolvido
especificamente para essa arma por Georg Roth.

Balisticamente o cartucho 8mm Steyr não era considerado muito
potente,  podendo  ser  situado  em  uma  posição  entre  o  7,65mm
Browning  e  o  9mm  Browning  Curto,  o  conhecido  .380  ACP.  Porém,  várias  munições  fabricadas
contavam com projéteis encamizados em aço, como o da foto à esquerda, o que aumentava em muito
o poder de penetração mas, por outro lado, causava um desgaste prematuro no raiamento dos canos. 
Mesmo  com  um  cartucho  não  muito  potente,  a  pistola  utilizava  um  interessante  sistema  de
trancamento de culatra, baseado no recuo e na rotação do cano em 90º, cujas estrias em alto relevo se
encaixavam  em  rebaixos  usinados  na  armação  para  manter  cano  e  armação  solidários  no  momento
do disparo.

Utilizava um carregador tipo clipe para 10 cartuchos. Com o ferrolho aberto, encaixava‑se o clipe em
um  engate  existente  sobre  a  armação  e  em  seguida,  usando‑se  o  polegar,  pressionava‑se  uma  guia
para baixo, inserindo assim todos os cartuchos para o interior do carregador. Após a retirada do clipe
a culatra se fechava inserindo o primeiro cartucho na câmara.
Detalhe do carregamento da Roth‑Steyr, com o clip encaixado na armação – após os cartuchos serem inseridos, o
pente era retirado e o ferrolho se fechava, posicionando um cartucho na câmara.

Em 1911 o engenheiro Krnka apresentou um novo modelo de pistola, baseado em várias soluções que
ele  mesmo  já  havia  empregado  na  modelo  1907,  como  o  sistema  de  cano  rotativo  para  se  trancar  a
culatra, o carregador fixo no interior da empunhadura e o mesmo sistema de clipe de se carregar por
cima. Em 1912, depois de ter sido aceita pelos órgãos do governo, a pistola foi adotada para substituir
a Roth‑Steyr que era, sem dúvida, um projeto bem mais antiquado.
Pistola Steyr‑Hahn modelo 1912, em calibre 9mm Steyr, adotada em substituição ao modelo 1907

A  Steyr‑Hahn  possuía  um  desenho  bem  mais  moderno  que  sua  antecessora,  claramente  inspirado
nos projetos de Browning, como os modelos Colt 1902 e 1905, mas não se sabe o porque da insistência
do  projetista  em  ainda  manter  soluções  já  consideradas  ultrapassadas  na  época,  como  o  uso  de
magazine fixo ao invés de se utilizar um carregador do tipo destacável.

O  sistema  de  trancamento  de  culatra  (locked‑breech)  era  bem  interessante,  consistindo  em  um  cano
giratório,  composto  de  estrias  helicoidais  e  de  dois  engates  que  se  encaixavam  na  armação  e  no
ferrolho, respectivamente. Na ocasião do disparo, e com o curto recuo desse cano (cerca de 8.0 mm),
seu movimento giratório fazia com que os engates do cano se soltassem do ferrolho, liberando assim
seu movimento.

A maior falha de projeto dessa arma foi, sem dúvida, o seu sistema de carregador fixo embutido na
empunhadura, visto que algumas pistolas de uso militar, como a Parabellum, a Colt 1905 e mesmo a
1911  já  possuíam  carregadores  destacáveis.  O  municiamento  tinha  que  ser  feito  através  de  uma
lâmina (clipe), muito similar à utilizada nos fuzis Mauser e na pistola Mauser C96, com capacidade
de 8 cartuchos, que se encaixava em um recesso na parte superior do ferrolho. Uma vez empurrados
os  cartuchos  para  o  interior  da  arma,  esse  clipe  era  retirado  para  que  o  ferrolho  se  fechasse.  Era
possível  se  municiar  a  arma  sem  a  utilização  de  um  clipe,  mas  o  trabalho  requeria  uma  certa
habilidade.  Os  clipes  não  ocupavam  muito  espaço  mas  era  comum  os  cartuchos  posicionados  nas
extremidades se soltarem dos mesmos.

Devido  à  importância  histórica  dessa  arma,  e  por  suas  peculiares  características,  Armas  On  Line
dedicou a ela um artigo específico, que você pode acessar aqui.
POLÔNIA

Até a década de 30, as forças militares da Polônia eram guarnecidas por uma miríade de pistolas de
diversas  procedências,  como  as  Browning,  Colt,  Steyr,  Mauser  e  revólveres  Nagant.  Visando  uma
padronização,  diversos  projetistas  e  engenheiros  foram  convidados  pelo  Governo  Polonês  a
desenvolver e apresentar um projeto de uma pistola semi‑automática a ser adotada pelo Governo. Os
engenheiros  poloneses  Piotr  Wilniewczyc  e  Jan  Skrzypińsky  apresentaram  seu  projeto,  uma  pistola
denominada de WiS,  um  anacronismo  baseado  nos  nomes  dos  inventores, e que foi levado à testes
em 1935 juntamente com pistolas da italiana Breda, da alemã Mauser e uma da fábrica suéca Skoda.

Devido  a  um  empate  técnico  entre  a  pistola  da  Skoda  e  a  WiS  e  provavelmente  por  motivos
patrióticos,  decidiu‑se  adotar  a  WiS  como  arma  padrão  do  Exército.  A  produção  da  arma  foi
destinada  à  Fabryka  Broni  Lucznik  w  Radomu,  de  onde  o  nome  Radom  é  originário  e  pelo  qual  a
pistola ficou mais conhecida mundialmente. A denominação correta da arma mudou depois para Wz
35  Vis.  Wz  é  a  abreviatura  de  “wzór”  (Modelo)  e  WiS  foi  substituído  por  Vis,  palavra  latina  que
significa “força”.

A pistola WiS em calibre 9mm Parabellum, dotação do Exército Polonês a partir de 1935

O desenho era claramente inspirado na Colt 1911 de John Browning, com algumas modificações. Era
muito bem construída, com materiais de primeira qualidade e foi considerada por muitos estudiosos
uma das melhores armas de sua época, apesar de não ter sido popularizada fora da Polônia. Usava o
sistema de trava de culatra idêntico ao da Browning Hi‑Power 1935, por curto recuo do cano, possuía
uma trava de segurança na empunhadura e outra trava localizada no lado esquerdo do ferrolho, que
quando baixada, primeiro retraía o percussor para o interior do ferrolho e depois liberava o cão para
desarmar, permitindo um desengatilhamento seguro com um cartucho na câmara. Outro dispositivo
que se assemelha à trava usada na Colt 1911, montado do lado esquerdo da armação, era utilizado
somente para facilitar a desmontagem da arma. O cão era de formato redondo e recartilhado, e ficava
ligeiramente confinado no interior do ferrolho para evitar enroscos.

Foram  produzidas  até  1945  cerca  de  360.000  pistolas,  que  foram  também  utilizadas  pelos  alemães
Foram  produzidas  até  1945  cerca  de  360.000  pistolas,  que  foram  também  utilizadas  pelos  alemães
após  a  ocupação  da  Polônia.  A  arma  pesava  960  gramas  descarregada,  com  cano  de  12  cm  e  um
comprimento  total  de  17,6  cm.,  capacidade  do  carregador  de  8  cartuchos.  Após  a  guerra,  a  Polônia
passou a utilizar as pistolas russas TT‑33 (Tokarev) por influência do Pacto de Varsóvia. Em 1992, a
empresa    Lucznik  Arms  Factory  de  Radom  fabricou  um  pequeno  lote  de  27  armas  só  para
distribuição a colecionadores.

UNIÃO SOVIÉTICA

Antes da II Guerra, o Exército Russo era um adepto ao uso dos revólveres para equipar suas tropas,
algo  aliás  muito  comum  em  diversos  países  participantes  do  conflito.  Apesar  de  que  as  pistolas  só
começaram a surgir  no  cenário  militar  depois  de  1900,  claro  que  o  domínio anterior dos revólveres
permaneceu  ainda  por  muito  tempo.  Durante  muitos  anos  o  Exército  Imperial  Russo  usou  os
excelentes  revólveres  Smith  &  Wesson  adquiridos  dos  USA  em  grande  quantidade,  fornecidos  em
calibre .44 S&W Russian, e posteriormente os revólveres Nagant modelo 1895 fabricados na Bélgica e
depois localmente, em calibre 7,62mmX38R.

Em  1904  e  1905  esses  revólveres  foram  utilizados  em  grande  escala  na  guerra  Russo‑Japonesa  e
acredita‑se  que  armas  como  essa  tenham  sido  a  utilizadas  pelos  assassinos  de  toda  a  família  dos
Romanov, ocorrida na adega do palácio imperial em Yekaterinburg.

Revólver Nagant de fabricação russa, de 7 tiros, calibre 7,62mmX38R, adotado pela Rússia Czarista em 1895

Os  revólveres  Nagant  foram  adquiridos  inicialmente  de  Liège,  na  Bélgica,  mas  logo  a  produção  foi
transferida  para  a  Rússia.  devido  à  grande  demanda  para  substituir  os  revólveres  Smith  &  Wesson
modelo  1874.  Os  projetistas  belgas  Léon  e  Émile  Nagant  já  eram  bem  conhecidos  e  estimados  pelo
Czar  Nicolau  II  e  seus  serviços  eram  levados  em  alta  conta  pelos  militares  imperiais,  devido
principalmente ao trabalho conjunto desenvolvido por eles e pelo engenheiro russo Mosin no  projeto
do fuzil Mosin‑Nagant modelo 1891, que equipou o exército russo até a II Guerra Mundial.

Esse  revólver  possuía  uma  característica  única,  criada  pelo


Esse  revólver  possuía  uma  característica  única,  criada  pelo
engenheiro Henri Pieper, que consistia em um mecanismo dedicado à
avançar o tambor em direção ao cano em cada disparo, a fim de selar
a abertura normalmente existente nos revólveres (o vão que fica entre
o tambor e o cano) por onde há escapes de gases que geram ruído e,
teóricamente, diminuem um pouco a potência do cartucho.

Ao lado, detalhe do tambor de 7 câmaras e seus recessos que se encaixam no
cano.

Apesar  de  ser  uma  idéia  interessante,  obriga  a  arma  a  ter  um


complicado  mecanismo,  deixando  o  sistema  de  dupla‑ação  particularmente  pesado  pois,  além  do
esforço de  acionar  o cão e girar o tambor, o que é comum a todos os revólveres, ainda necessita que
o  tambor  seja  empurrado  para  a  frente.  Além  disso,  estudos  recentes  provaram  que  a  perda  de
potência  pelo  gap  existente  entre  tambor  e  cano  de  todos  os  revólveres  modernos  é  insignificante,
abaixo de 5%, o que não justifica complicar a arma por esse motivo, bastando compensar a perda com
uma carga propelente maior.

O  cartucho  de  aro  (rimmed)  desenvolvido  pelos  Nagant


era, particularmente, diferente. O projétil era encamizado
e  ficava  confinado  no  interior  do  cartucho,  dando  a
impressão  de  que  foi  pressionado  acidentalmente  para
dentro. A cápsula tinha um pequeno estrangulamento na
parte  frontal  para  manter  o  projétil  fixo  em  seu  interior.
Esse  estrangulamento  era  necessário  para  que  se
encaixasse  na  parte  posterior  do  cano  e  quando  era
disparado, selava a pequena folga ainda existente.

Apesar do comprimento do cartucho que era de 38mm, sua balística era comparável a um cartucho
7,65mm Browning (.32 Auto) da atualidade, medíocre para finalidades militares.

Um fato curioso merece menção aqui: essa particularidade de evitar os escapes de gases entre tambor
e  cano  também  cooperava  para    uma  pequena  redução  de  ruído,  um  detalhe  que  de  certa  forma
inviabiliza  até  hoje  o    uso  de  silenciadores  em  revólveres.  Em  1909,  o  americano  Hiram  Maxim
patenteou o primeiro silenciador eficaz que se tem notícia, e os russos aproveitaram a idéia para usar
esse dispositivo nos revólveres Nagant, o que ocorreu em muito pouca quantidade na duas Guerras
Mundiais.
Esquema do funcionamento do sistema selador de escape de gases usado no revólver Nagant

Após a Revolução Socialista de 1917, militarmente falando, os soviéticos nunca foram adeptos nem
de pistolas nem de revólveres, preferindo as sub‑metralhadoras, uma particularidade que prioriza a
ação  ofensiva  mais  do  que  a  defensiva.  Porém,  diversas  unidades  do  exército  apreciavam  poder
contar com uma arma leve para defesa pessoal para uso em alguma situação de emergência.

Uma comissão militar, chamada de Conselho Militar Revolucionário, foi formada para dar início ao
desenvolvimento  de  uma  arma  portátil  mais  moderna,  para  substituir  os  antiquados  revólveres
Nagant  modelo  1895.  Tradicionalmente,  pelo  menos  até  a  II  Guerra,  os  soviéticos  preferiam  copiar
projetos  já  existentes  ao  invés  de  desenvolverem  por  sua  própria  conta.  De  modo  geral,  faziam
algumas modificações sobre o projeto que serviu de base, normalmente para reduzir custos e facilitar
a  fabricação.  O  acabamento  nunca  foi  uma  prioridade,  posto  que  a  grande  maioria  das  armas
fabricadas por eles eram toscas. Porém, elas davam bem conta do recado e funcionavam a contento, e
isso era o que importava.
A pistola Tokarev TT 30, com talas de madeira

A  pistola  Tokarev  TT30  (Tula  Tokarev  30)  não  era  uma  excessão.  Seu  idealizador  foi  Fedor
Vasilyevich Tokarev, oficial dos regimentos cossacos nascido em 1871 e falecido em 1996. Claramente
se inspirando no desenho e nas soluções da pistola Browning modelo 1903, Tokarev procedeu a uma
série  de  mudanças  visando  a  simplicidade  e  deixando  de  lado  os  cosméticos.  Assim  sendo,  a  TT30
tinha uma aparência bem similar à Browning, mas com mecanismo de disparo totalmente diferente,
optando por montá‑lo num bloco separado.

Porém, a Browning 1903 era uma pistola sem trancamento de culatra (blowback), o que levou Tokarev
a usar um sistema idêntico ao da Colt 1911, com o cano articulando sobre uma biela e com engates
que se encaixavam em recessos usinados no ferrolho. O cão era externo mas parcialmente encoberto e
sem arestas, provavelmente para evitar enroscos nas vestimentas pesadas dos soldados. O sistema de
diparo era de ação simples, ou seja, a arma necessitava ser engatilhada antes do primeiro disparo.

Não  tinha  travas  de  segurança  de  nenhuma  espécie,  mas  contava  com  um  dispositivo  “hold‑open“,
que  travava  o  ferrolho  na  posição  aberta  após  o  último  cartucho  disparado.  O  carregador  para  8
cartuchos  era  retirado  por  um  botão  situado  perto  do  guarda‑mato,  acionado  pelo  polegar  do
atirador, aos moldes da Colt 1911.

O calibre utilizado foi o 7,62mm Tokarev (7,62mmX25), praticamente idêntico ao 7,63mm Mauser, de
alta  velocidade  e  boa  potência,  mas  com  poder  de  parada  limitado,  considerado  bem  inferior  ao
.45ACP da Colt.
Pistola Tokarev em calibre 7,62X25 mm adotada oficialmente pelo Exército Vermelho na II Guerra utilizando
telas de ebonite com a estrela de 5 pontas ao centro.

Detalhe da pistola TT30 desmontada, onde se percebem o ferrolho, cano, carregador e armação bem similares à
Detalhe da pistola TT30 desmontada, onde se percebem o ferrolho, cano, carregador e armação bem similares à
Browning 1903 e à Colt 1911 – à direita, o bloco onde se situava o mecanismo de disparo.

Após alguns anos, e visando facilitar ainda mais os processos e reduzir custos de manufatura, a TT30
é substituída pela TT33, com mínimas alterações internas. A produção durante a guerra foi bem alta,
suprindo  a  maior  parte  das  unidades  da  infantaria  soviética  mas  não  chegaram  a  substituir  os
revólveres Nagant em sua totalidade.

A  pistola  TT33  foi  extensivamente  copiada  na  China  e  passou  a  ser  usada  também  pela  Hungria,
Polônia,  Egito,  Iugoslávia,  Coréia  do  Norte,  Paquistão  e  em  mais  de  30  paises  da  Ásia,  África  e
Oceania. Indubitavelmente não era uma  arma bem acabada nem muito atraente, mas a pistola tinha
um  índice  de  confiabilidade  muito  grande  e  o    mais  importante,  de  tudo,  era  fácil  e  barata  de
produzir.  A  partir  de  1954,  quando  cessou  a  sua  produção  na  U.R.R.S.,  o  governo  começou  a  sua
substituição  pela  pistola  Makarov,  em  calibre  9mmX18,  um  projeto  baseado  na  alemã  Walther
modelo PP. Estima‑se a produção das TT30 e 33, só na União Soviética, em cerca de 1.700.000 armas.

Pistola Makarov, adotada pela URRS em 1951 para substituir a TT30, usando um cartucho de calibre
9mmX18mm, gatilho de dupla ação, culatra no sistema “blowback”; essa arma não permitia o uso do cartucho
9mm Parabellum, muito potente para ela.

ITÁLIA

A  Itália  sempre  contou  com  muita  tradição  e  muito  boa  fama  na  fabricação  de  armas,  sendo  que  a
Bere냍a, por exemplo, é a mais antiga fabricante de armas ainda em existência, em atividade desde o
ano de 1400 e com comprovação baseada em documentação existente desde 1526. Como não podia

deixar de ser, a Bere냍a foi a mais importante fornecedora de armas para o Exército Italiano, com suas
deixar de ser, a Bere냍a foi a mais importante fornecedora de armas para o Exército Italiano, com suas
pistolas,  sub‑metralhadoras  e  metralhadoras.  A  arma  pessoal  preferida  pelo  oficial  italiano  era  a
pistola Bere냍a modelo 1934.

Pistola Bere냍a M. 1934 calibre .380 ACP, ou 9mm Browning Curto, adotada pelo Exército Italiano

Essa pistola era de desenho bem simples, sistema de culatra “blow‑back”, pois utilizava um cartucho
que não necessitava de sistema de culatra trancada, o 9mm Browning Curto, o conhecido .380 ACP.
Não  resta  dúvida  de  que  se  tratava  de  um  dos  cartuchos  mais  fracos  a  serem  adotados  por  algum
exército, com exceção do 7,65mm Browning usado pela França, mas na realidade a pistola mais servia
como arma de defesa pessoal dos oficiais do que para entrar em combate, propriamente dito.

A qualidade do produto era muito alta, uma marca registrada do fabricante que sempre esmerou na
fabricação de suas armas. Foi apresentada e adotada pelo Exército Italiano em 1934, passando a ser
denominada  de  M1934.  Posteriormente  lançou‑se  o  modelo  1935,  arma  praticamente  idêntica,  mas
em calibre .32 Auto, ou 7,65mm Browning, cartucho por demais ineficiente para uso militar. Um fato
interessante  é  a  marcação  que  se  encontra  nas  armas  fabricadas  durante  o  regime  fascista  de
Mussolini. Esse regime criou um calendário próprio, alternativo ao Gregoriano, iniciando em 28 de
outubro  de  1922  (data  da  chamada  Marcha  sobre  Roma),  de  forma  que  uma  pistola  fabricada  em
1939,  como  a  da  ilustração  acima,  trazia  a  marcação  XVII  (17),  ou  seja,  décimo‑sétimo  ano  do
calendário.

O modelo 1934 tinha boas características, como o ainda hoje tradicional ferrolho com grande abertura
O modelo 1934 tinha boas características, como o ainda hoje tradicional ferrolho com grande abertura
de ejeção, o que facilita bastante o ciclo da arma, martelo externo e trava de segurança ao alcance do
polegar do atirador. Entretanto, apesar de que após o último disparo o ferrolho parasse aberto, ao se
retirar o carregador o mesmo se fechava, o que atrasava um pouco a velocidade de carregamento. O
modelo 1934 foi feito até 1991, com pouco mais de 1 milhão de armas produzidas.

Soldados  aliados,  tanto  norte‑americanos  como  ingleses  apreciavam  muito  essa  pequena  mas
excelente  pistola,  de  modo  que  ela  era  constantemente  surrupiada  de  oficiais  italianos  mortos  ou
aprisionados,  e  posteriormente  utilizadas  pelos  soldados  aliados  como  arma  destinada  ao  porte
dissimulado.

Uma outra pistola, participante das duas guerras mundiais, foi a Glisenti, em calibre 9mm, fabricada
a partir de 1910 pela Real Fabricca d’Armi Glisenti, indústria fundada por Giovanni Glisenti em 1860.
Seu cartucho, de uso exclusivo dela, era na verdade cópia do alemão 9mm Parabellum, porém com
uma carga menos potente. O uso do cartucho 9mm Parabellum nessas pistolas expõe o atirador a um
risco muito grande.

A pistola Glisenti M1910 em calibre 9mm Glisenti, adotada pelo Exército de 1910 a 1934, quando foi
substituída pela Bere냍a. Porém, continuou em serviço após essa data devido à escassez de pistolas produzidas
em época de guerra. Nota‑se nas placas da empunhadura, feitas de ebonite, o brasão da Casa dos Sabóias. 

Os  italianos  já  haviam  utilizado  em  razoável  quantidade  as  pistolas  Mauser  C96,  cujo  contrato  de
cerca  de  5.000  armas  havia  sido  assinado  em  1899.  Porém,  após  essa  aquisição  nunca  mais  houve
outra, de forma que a quantidade de pistolas Mauser existentes se tornou pequena com o início da I
Guerra Mundial. Desta maneira, a firma Meccanica Bresciana Tempini, de Brescia, se encarregou de
produzir  em  série  a  pistola  Glisenti,  uma  vez  que  em  1906  Glisenti  abandonou  o  negócio,
transferindo seu maquinário e desenhos para a Tempini. A pistola pesava vazia cerca de 800 gramas e

utilizava um sistema de trava de culatra oscilante, uma espécie de bloco articulado em um eixo que se
utilizava um sistema de trava de culatra oscilante, uma espécie de bloco articulado em um eixo que se
encaixava  na  parte  inferior  do  ferrolho.  A  capacidade  do  carregador  era  para  7  cartuchos.  Convém
lembrar aqui que a Glisenti não é uma pistola no sistema “Locked‑ Breech” (culatra trancada), e sim,
uma variação do sistema do tipo ação retardada (retarded‑blowback).

Possuía  um  interessante  sistema  de  segurança,  muito  similar  ao  utilizado  pelas  pistolas  Tipo  14
japonesas:  na  parte  frontal  da  empunhadura,  logo  abaixo  do  guarda‑mato,  havia  uma  peça  com
acabamento ranhurado, que era pressionada para dentro ao se empunhar a arma, destravando desta
forma o curso da tecla do gatilho. Quanto ao cartucho, a idéia da Tempini era utilizar o próprio 9mm
Parabellum, o que depois de alguns testes se mostrou potente demais. Tempini então reduziu a carga
do cartucho 9mm Parabellum em cerca de 25% e padronizou dessa forma o seu cartucho.

Desenho esquemático da pistola Glisenti, onde se pode notar o bloco oscilante que age como trava de culatra

As  talas  de  empunhadura  eram  feitas  de  ebonite,  material  similar  ao  baquelite,  porém  frágeis  ao
ponto de sempre se quebrarem em qualquer queda que a arma sofria sobre uma superfície rígida. Por
esse  motivo,  algumas  delas  passaram  a  ser  fornecidas  com  placas  de  nogueira  zigrinada,  mas  sem
ostentar o escudo dos Sabóias. Outra coisa interessante era uma peça em formato de chave, que ficava
armazenada em um dos lados da empunhadura e só acessível após a retirada de uma das talas, peça
essa que servia para se desmontar o ferrolho da arma.

O cartucho 9mm Parabellum era fartamente encontrado na Europa durante a II Guerra, de modo que
O cartucho 9mm Parabellum era fartamente encontrado na Europa durante a II Guerra, de modo que
os  italianos  não  abriam  mão  de  utilizá‑los  de  vez  em  quando  nas  pistolas  Glisenti,  apesar  dessa
prática ser rigorosamente proibida dentro do Exército. O que acabava acontecendo é que a arma, com
o uso constante daqueles cartuchos, acabava causando acidentes sérios, como o desprendimento total
do ferrolho no momento do disparo, atingindo o rosto do atirador. Fatos assim só contribuíram para
piorar  a  fama  da  pistola  e  ela  acabou  fazendo  juz  a  um  apelido  jocoso  e  até  mesmo  injustiçado:  “a
Luger dos pobres”.

FRANÇA

Esse  é  outro  país  com  pouca  ou  quase  nenhuma  tradição  no  desenvolvimento  de  pistolas  semi‑
automáticas, de forma que conviveu por muitos anos com os revólveres equipando suas tropas. Até o
ano de 1892 a França utilizava um revólver de construção robusta e de grande calibre, o 11mmX17R;
tratava‑se do Chamelot Delvigne modelo 1873, produzido pela Manufacture D’Armes de St. Etiènne.
Seu  cartucho  era  carregado  com  pólvora  negra,  com  tambor  fixo  e  com  carregamento  e  a  extração
feitas com um cartucho de cada vez.

Revólver Chamelot‑Delvigne de 1873, utilizado pelo Exército Francês até cerca de 1940, mesmo com a dotação
do Modelo 1892.

Porém, a partir de 1892 foi adotado um dos revólveres que mais de destacaram em uso militar e que
permaneceu  em  serviço  por  muito  tempo:  o  Modelo  de  Ordenança  1892,  conhecido  erroneamente
como  revólver  Lebel.  Este  revólver  foi  desenvolvido  por  uma  comissão  nomeada  pelo  governo
francês  e  adotado  como  arma  regulamentar  do  exército  em  1892.  Apesar  de  ter  sido  levemente
inspirado  no  seu  antecessor,  é  um  revólver  bem  mais  moderno,  de  dupla‑ação,  de  tambor
inspirado  no  seu  antecessor,  é  um  revólver  bem  mais  moderno,  de  dupla‑ação,  de  tambor
escamoteável (swing‑out cilinder) com capacidade para 6 cartuchos. Possuía um cano de 4″ e um peso
de 940 gramas quando municiado.

O  cartucho  é  denominado  de  8mm  Lebel,  o  que


provavelmente ocasionou o fato da arma ser chamada por este
nome;  foi  originalmente  produzido  para  uso  com  pólvora
negra (carga de 0,79 gramas – 13 grains) e posteriormente, na
primeira  década  do  século  XX,  foi  modificado  para  uso  com
pólvora sem fumaça (carga de 0,30 gramas – 5 grains). Possui 37 mm de altura total, com o cartucho
medindo  27  mm.  Utiliza  um  projétil  encamizado  em  cobre  de  7,8  gramas  de  peso,  com  velocidade
inicial  em  torno  de  225  m/seg.,  um  projétil  sub‑sônico,  portanto.  Sua  potência  é  baixa  para  uma
utilização militar, ficando num patamar similar a de um cartucho 7,65mm Browning.

O revólver Modèle d’Ordenance, 1892 em calibre 8mm, fabricação de Saint‑Etiènne

Era uma arma bem construída, com materiais de primeira qualidade, produzida principalmente pela
Manufacture d’Armes de Saint Étienne, tradicional e importante fabricante de armas da França. Sua
armação  era  fechada,  nos  moldes  dos  revólveres  Smith  &  Wesson  e  Colt  norte‑americanos,  com
tambor  que  se  escamoteava  para  o  lado  direito,  lado  contrário    ao  dos  americanos.  A  extração  dos
cartuchos  era  feita  por  uma  caneta  e  uma  estrela  que  expulsava  todos  os  cartuchos  de  uma  só  vez.
Possuía  um  interessante  sistema  que  permitia  que  a  tampa  lateral  que  cobre  todo  o  mecanismo,
incluindo  o  guarda‑mato,  podia  ser  articulada    como  uma  dobradiça,  expondo  assim  as  peças
internas para desmontagem ou limpesa.
Detalhe do revólver M1892 com sua placa lateral escamoteada, exibindo o mecanismo interno

Interessante  citar,  como  curiosidade  histórica,  que  esse  revólver  foi  importado  pela  antiga  Força
Pública do Estado de São Paulo, nas décadas de 20 e 30, e em razoável quantidade para equipar os
policiais  da  corporação.  No  começo  dos  anos  50,  começaram  a  ser  gradativamente  substituídos  por
revólveres nacionais, fabricados pela Taurus, em calibre .38 SPL. Ainda hoje se encontram excelentes
e bem conservados espécimens dessa arma, em mãos de ex‑oficiais da corporação, além do que são
muito apreciados pelos colecionadores.

Esse revólver serviu o Exército Francês, independente de sua baixa potência, por muitos anos, desde
a I Guerra até meados da II Guerra Mundial, quando a França resolveu aposentá‑los e adotar pistolas
semi‑automáticas,  das  quais  a  primeira  delas  foi  a  MAB  1935  utilizando  o  fraco  cartucho  7,65mm
Browning, ou .32 Auto. Porém, a primeira pistola utilizada pelo Exército não foi a MAB. Durante os
anos que antecederam a I Grande Guerra, a França assinou um contrato de fornecimento de 40.000
pistolas  da  fabricante  norte‑americana  Savage,  do  modelo  1907,  também  em  calibre  7,65mm
Browning.
Pistola Savage mod. 1907 – foto do modelo enviado à França, que tinha a argola de fixação do fiel incorporada à
empunhadura e um indicador de cartucho carregado na câmara

A  pistola  MAB  1935  era  baseada  no  modelo  10/22  da  F.N.  belga,  um  projeto  original  de  Browning,
com  pequenas  modificações  na  aparência  externa  da  empunhadura  e  a  colocação  de  uma  trava  de
segurança e do botão para extrair o carregador em uma posição mais cômoda, ao alcance do polegar
do atirador. Foi produzida na Manufacture d’Armes de Bayonne até cerca de 1963, e utilizada pelas
forças militares e policiais da França inclusive após a II Guerra, como no conflito da Hindochina e na
Guerra do Vietname. Uma variação um pouco menor foi produzida e destinada à venda no comércio
para uso por civís, denominada de modelo C.

É evidente que o calibre é considerado inadequado para defesa, ainda mais para uso militar ou em
combate.  Durante  a  II  Guerra,  com  a  França  ocupada  pela  Wehrmacht,  passou  a  ser  utilizada  por
alguns  membros  ligados  ao  Partido  Nazista  e  até  mesmo  pelo  Exército,  sendo  que  várias  delas  são
encontradas  com  marcações  de  prova  alemãs,  apesar  de  que  algumas  dessas  pistolas  foram,
claramente,  marcadas  após  a  guerra  por  comerciantes  inescrupulosos,  tentando  transformar  uma
pistola comum em um ítem atrativo para colecionadores.
Acima a pistola MAB modelo D em calibre 7,65mm Browning

Lado direito da pistola MAB modelo D, onde claramente se percebe a semelhança com a F.N. modelo 10/22

Outra pistola que foi adotada pouco antes da II Guerra era mais adequada ao uso militar, por utilizar
um cartucho um pouco mais potente do que o da MAB, apesar de não ser padrão e nunca ter sido
utilizado  por  qualquer  outra  pistola  no  mundo:  o  cartucho  7,65mm  French  Long.  Essa  arma  se
denominava  Pistolet  Modèle  1935.  Ela  foi  projetada  especificamente  para  participar  de  testes  de
utilizado  por  qualquer  outra  pistola  no  mundo:  o  cartucho  7,65mm  French  Long.  Essa  arma  se
denominava  Pistolet  Modèle  1935.  Ela  foi  projetada  especificamente  para  participar  de  testes  de
avaliação  a  serem  conduzidos  pela  Commission  d’Experiences  Techniques  de  Versailles,  que  a  partir  de
1935 iniciou os trabalhos para escolher a arma que seria adotada pelas Forças Francesas.

A pistola Modelo 1935A produzida pela S.A.C.M.

Seu  projeto  é  de  autoria  do  então  Capitão  Charles  Pe냍er,  que  trabalhava  na  Société  Alsacienne  de
Constructions  Mécaniques  de  Cholet  (SACM)  baseado  no  sistema  de  trava  de  culatra  de  Browning.
Inicialmente a arma aprovada foi a modelo 1935A, das quais foram produzidas cerca de 10.700 antes
da ocupação alemã na II Guerra. Após a ocupação a produção
da pistola continuou sob supervisão alemã como “Pistole 625
(f)”, sendo que a letra (f) é oriunda da palavra Frankreich, que
é como os alemães se referem à França.

Apesar dela disparar um cartucho não muito potente, a arma
utilizava  o  sistema  de  tranca  de  culatra  similar  à  Colt  1911,
mas ao invés de utilizar as duas tradicionais ranhuras sobre o
cano, que se encaixavam em recessos no ferrolho, Pe냍er optou
por  aumentar  o  diâmetro  da  câmara  para  que  ela  mesma  se
encaixasse  na  abertura  da  janela  de  ejeção,  solução  mais
simples  e  que  é  usada  hoje  em  dia  em  várias  pistolas,  como
exemplo nas austríacas Glock e nas nacionais Taurus 24/7.

Uma  prova  da  qualidade  e  virtudes  do  projeto  é  a  que,  após  a  guerra,  a  empresa  suíça  SIG
(Schweizerische Industrie Gesellschaft) adquiriu os direitos de produzir a arma naquele país, sendo o
ponto de partida para o projeto da pistola SIG modelo P210.

À  esquerda,  tres  épocas  de  cartuchos  franceses:  o  8mm  Lebel  do  revólver  de  ordenança,  o  7,65mm  Long  e  o
7,65mm Browning.

Uma outra variante foi produzida, além da modelo 1935A: era o modelo 1935S, que  foi apresentado
Uma outra variante foi produzida, além da modelo 1935A: era o modelo 1935S, que  foi apresentado
com  diversos  aperfeiçoamentos  técnicos,  permitindo  processos  de  fabricação  mais  baratos  e  um
desenho de empunhadura retilíneo, o que a deixou mais ainda parecida com a Colt 1911.

Uma pistola modelo 1935S, produzida durante a II Guerra pela M.A.C.

Durante  o  período  de  guerra,  a  produção  das  pistolas  1935A  e  1935F  foram  entregues  a  diversas
outras  fábricas  francesas,    que  eram  concorrentes  entre  si  na  época  de  paz,  tais  como  a  MAS
(Manufacture d’Armes de Saint‑Étiènne), a M‑F (Manufacture Française d’Armes et Cycles de Saint Étiènne),
a    SAGEM  (Societé  d’Applications  Generales  d’Electricité  et  de  la  Mecanique)  e  a  MAC  (Manufacture
Nationale  d’Armes  de  Chatellerault),  essa  última  a  que  mais  quantidade  produziu,  cerca  de  56,000
armas.
 
Acima uma pistola MAC 1935S desmontada, onde se percebe a similaridade com a Colt 1911 de Browning. Veja
no detalhe, o cano sem as ranhuras encontradas nas Colt 1911.

REINO UNIDO

Antes  da  II  Guerra  Mundial,  a  preferência  britânica  recaía  invariavelmente  em  seus  revólveres.  Os
principais revólveres ingleses envolvidos nos dois conflitos foram os Webley & Sco냍 e os Enfield. A
Inglaterra,  um  país  tradicionalmente  conservador,  sempre  relutou  um  pouco  em  aceitar  mudanças
quaisquer  que  fossem,  de  uma  maneira  geral.  Isso  causou  diversos  transtornos  nos  dois  conflitos
mundiais,  onde  a  presença  de  armamento  antiquado  gerava  muitas  críticas  de  dentro  e  fora  do
âmbito  militar,  haja  visto  a  relutância,  por  exemplo,  em  se  adotar  a  sub‑metralhadora  Thompson
oferecida pelos USA e inicialmente recusada, porque “o Exército não necessitava de uma arma que
era utilizada por gângsters”.
Revólver Webley & Sco냍 Mark III em calibre .455

Os revólveres Webley eram venerados pelos militares inglêses e sempre tiveram participação ativa e
muito  confiável  em  todos  os  conflitos  gerados  pela  expansão  territorial  do  Império  Britânico,
espalhados por diversas regiões do mundo e com os mais diferentes climas e ambientes. Apesar de
seu desenho já ser obsoleto na II Guerra, os revólveres Webley não costumavam deixar seus usuários
na  mão,  fossem  convivendo  com  a  areia  nos  desertos  do  norte  da  África  ou  debaixo  de  chuva  e  na
lama das úmidas selvas da Birmânia.

Foi adotado pelo Império Britânico em 1887, com o nome oficial de Pistol Webley Mark I B.L. Revolver,
substituindo os revólveres Enfield Mark I de 1879, que disparavam somente cartuchos com pólvora
negra, no calibre .476. O Mark I utilizava o calibre .442, mais tarde substituído pelo .455 nos Mark II,
bem antes da introdução do modelo Mark VI em 1915. O Webley & Sco냍 serviu até 1963 em diversas
unidades do Exército, mesmo com a presença de outras armas adotadas posteriormente a II Guerra.
Trata‑se de um revólver de dupla‑ação, modelo “top‑break”, ou seja, de abrir por cima. Com o cano
basculando para baixo, o extrator automático expulsa de uma só vez os seis cartuchos deflagrados do
interior do tambor, o que é uma operação muito rápida e prática. Nesta posição, o tambor pode ser
recarregado  com  facilidade,  pois  suas  seis  câmaras  estão  expostas  ao  mesmo  tempo.  O  revólver
também pode ser utilizado em ação simples, engatilhando‑se manualmente o martelo a cada tiro, o
que permite uma pressão menor sobre o gatilho, pois em dupla‑ação, além do curso ser longo, ele é
bastante duro.
Revólver Webley & Sco냍 Mark IV, em calibre .455

O  modelo  Mark  IV  e  o  Mark  VI  foram  os  mais  utilizados  durante  a  II  Guerra,  pelos  oficiais  e
graduados  do  Exército.  Possuía  versões  com  canos  de  4″,  6″  e  7  1/2″,  pesava  cerca  de  1,100Kg
desmuniciado e o comprimento total era de 28cm. Embora não comum durante a guerra, uma versão
dos modelos Mark VI foi fabricada no calibre .380‑200, armas essas adotadas por algumas unidades
da Polícia Britânica até bem pouco tempo.

Um Webley & Sco냍 do modelo Mark VI, o mais utilizado na II Guerra Mundial, também em calibre .455

O  cartucho  .455  Webley,  no  início  carregado  com  pólvora  negra,  foi  a  partir  da  versão  Mk  II
O  cartucho  .455  Webley,  no  início  carregado  com  pólvora  negra,  foi  a  partir  da  versão  Mk  II
carregado  com  cordite,  um  tipo  de  pólvora  sem  fumaça,  onde  atingia  cerca  de  700  pés/seg  de
velocidade;  apesar  dessa  relativa  baixa  velocidade,  tinha  um  bom  poder  de  parada  (“stopping‑
power”), comparado até ao .45 AR norte americano.

Revólver Webley Mark VI (foto do autor)
Vista explodida do revólver Webley Mark VI

O  peso  do  projétil  podia  variar  de  220  grains  (14  gramas)  a  265  grains  (17  gramas)  em  versões  que
iam  do  totalmente  feito  em  chumbo,  semi  canto‑vivo,  até  mesmo  uma  jaquetada.  Embora  hoje  seja
considerado um cartucho obsoleto, ainda há diversos fabricantes na Europa que o produzem, como a
Fiocchi e a Gecco.

O revólver Webley, principalmente devido ao seu peso, um bom
O revólver Webley, principalmente devido ao seu peso, um bom
balanço  e  munição  não  excessivamente  potente,  era  uma  arma
relativamente fácil de controlar e mesmo pessoal não muito bem
treinado conseguia resultados bem satisfatórios com ele.

Apesar  de  ter  sido  exaustivamente  usado  e  testado  em  diversos


campos  de  batalha,  na  II  Guerra  os  revólveres  Webley  estavam,
aos  poucos,  sendo  substituídos  pelos  um  pouco  mais  modernos
revólveres  Enfield,  particularmente  o  modelo  Nº  2  Mark  I,  em
calibre  .38‑200.  Esse  revólver  foi  adotado  pelo  Exército  Britânico
em 1936 e permaneceu em serviço até cerca de 1957.

Seu  projeto  era  baseado  nos  revólveres  Webley  mas  foi  tanto  internamente  como  externamente
modificado  pela  Real  Fábrica  de  Armas  Portáteis  de  Enfield.  É  inegável  a  semelhança  do  novo
mecanismo  do  Enfield  com  os  revólveres  da  Smith  &  Wesson  norte‑  americanos.  A  eliminação  do
guarda‑mato, agora formando uma peça única com a armação, eliminando‑se assim um excesso de
peças, mais a tampa lateral para desmontagem, são exemplos bem claros dessa similaridade. O novo
formato da empunhadura também foi claramente inspirado nos Smith & Wesson.

Infelizmente em alguns aspectos o trabalho da Enfield afetou profundamente o humor dos soldados
que o portavam, pois seu gatilho era ainda mais pesado e duro do que de seus antecessores. Alguns
modelos  do  revólver  eram  produzidos  com  a  cabeça  do  martelo  eliminada,  a  fim  de  impedir  o
enrosco  em  qualquer  tipo  de  saliências  comuns  à  ambientes  confinados,  como  dentro  de  viaturas  e
carros  de  combate.  Com  isso,  a  arma  não  permitia  nem  o  uso  em  ação  simples,  caso  fosse  a
necessidade de se obter um tiro mais preciso.

O revólver Enfield Nº 2 Mark I, versão com martelo cortado para evitar que a arma enroscasse em alguma
saliência
Diagrama mostrando o mecanismo interno do Enfield Nº 2 Mk I

É  curioso  imaginarmos  por  que  razão  os  militares  britânicos  resolveram  substituir  os  revólveres
Webley,  com  seu  eficiente  cartucho  .455  por  um  outro  revólver,  superior  na  simplicidade  e  na
facilidade de construção, mas com um calibre fraco como era o .380‑200, na verdade quase o mesmo
cartucho  americano  .38  S&W,  conhecido  erroneamente  como  .38  Smith  &  Wesson  Curto.  Este
cartucho,  também  conhecido  na  Inglaterra  como  .380  Revolver,  era  bem  menos  potente  que  o
cartucho .38 Special, que já estava em uso por unidades da Força Aérea Norte Americana.

Aliado  ao  fato  de  serem  famosos  pela  pouca  precisão,  devido  ao  gatilho  duro,  vários  combatentes
britânicos preferiam, na primeira oportunidade, trocá‑los até mesmo pelos Webley .455 ou pelos mais
preferidos Smith & Wesson americanos, fornecidos por esse fabricante à Inglaterra durante a guerra.
O sistema de abertura “top‑break” foi mantido, igual à dos Webley, ao invés de se adotar a opção do
tambor escamoteável (swing‑out cilinder) usada nos Colt e Smith & Wesson americanos.
Enfield Nº 2 Mark I, versão com o martelo tradicional, que possibilitava seu uso em ação simples, melhorando a
precisão.

Porém,  o  cenário  até  então  dominado  pelos  dois  revólveres  estava  mudando.  Algumas  unidades
aero‑terrestres e de comandos já estavam utilizando uma das melhores pistolas concebidas até aquela
data: a Browning modelo 1935, também chamada de “Hi‑Power”, em calibre 9mm Parabellum, com
carregador com capacidade de 13 cartuchos, fabricada no Canadá pela firma Inglis e na Bélgica pela
Fabrique  Nationale  D’Armes  de  Guerre.  Porém,  com  a  ocupação  deste  último  país  pelas  forças
alemãs, somente o Canadá tinha condições de continuar fornecendo a arma. Para saber mais detalhes
sobre esta arma, e devido à sua importância no cenário militar e mesmo no uso civil, temos um artigo
bem abrangente aqui.

A Browning Hi‑Power 1935, calibre 9mm Parabellum, capacidade de 13 cartuchos, modelo dotado com mira
A Browning Hi‑Power 1935, calibre 9mm Parabellum, capacidade de 13 cartuchos, modelo dotado com mira
tangencial como os fornecidos para algumas unidades britânicas

Além  da  utilização,  embora  mais  ou  menos  limitada,  da  pistola  Browning  1935,  o  Reino  Unido
também empregou a pistola semi‑automática Webley & Sco냍, apesar de que, com excessão da Royal
Navy que a adotou em 1912, ela nunca foi padrão no Exército. Porém, em tempos de guerra, muitas
coisas  mudam,  mesmo  na  Inglaterra,  de  modo  que  as  Webley  em  calibre  .455  Webley  Auto  foram
parar nas mãos de vários combatentes.

Essa  pistola  foi  apresentada  para  testes  ao  Small  Armas


Comitee em 1910, órgao responsável por analisar e aprovar a
utilização de armas pelas forças militares. Como foi aprovada
nos  testes,  apesar  do  pouco  entusiasmo  dos  examinadores,
acabou  sendo  recomendada  para  uso  na  Marinha  Britânica  a
partir de 1912. Posteriormente, acabou indo equipar membros
da  Royal  Horse  Artillery  e  do  Royal  Flying  Corps.  A  pistola
possuía  uma  aparência  um  pouco  estranha,  com  um  ferrolho
de  formato  quadrado  e  a  empunhadura  em  um  ângulo  não
muito anatômico.

Porém,  tinha  qualidades,  como  uma  construção  robusta,  relativa  simplicidade  de  mecanismo  e
empregava um cartucho potente com bom “stopping‑power”, baseado que foi no .455 utilizado nos
revólveres. A balística geral deste cartucho era similar ao .45 ACP em uso nas Colt 1911.

Entretanto,  com  o  suprimento  de  cerca  de  39.500  pistolas  Colt  mod.  1911A1  que  o  governo  norte‑
americano promoveu nos tres primeiros anos da I Guerra, e pela superioridade inegável que as Colt
possuíam  sobre  as  Webley,  essas  pistolas  foram  muito  pouco  presentes  no  cenário  de  combate  na
Europa.

A  Webley  era  uma  pistola  semi‑automática,  com  capacidade  para  7  cartuchos  em  um  carregador
inserido  na  empunhadura,  com  disparo  sistema  ação  simples,  ou  seja,  necessitava  ser  engatilhada
manualmente antes do primeiro tiro.
Pistola semi‑automática Webley & Sco냍 em calibre .455 Webley Auto e seu carregador (coleção particular)
A Webley & Sco냍 calibre .455 Webley Auto

O  sistema  de  culatra  da  Webley  era  tipo  “locked‑breech”,  usando  um  interessante  método  onde  o
cano, ao recuar, baixava alguns milímetros no interior da armação, através de ressaltos inclinados ali
existentes, que coincidiam com rebaixos usinados na face interna da armação. Possuía uma trava de
coronha, solução que foi muito bem aceita por diversos projetistas de pistolas militares, como a Colt
1911 e a Parabellum, pois evitava de alguma forma o disparo acidental da arma quando não estivesse
sendo empunhada. Seu peso era de 1,110 Kg descarregada, comprimento total de 216 mm e com cano
de 127 mm.

JAPÃO

Outro país não muito adepto do uso de armas curtas entre seus guerreiros, sendo que muitos oficiais
japoneses eram vistos, muitas vezes, portando mais espadas do que pistolas, o Japão foi um dos mais
desafortunados países em relação ao seu armamento como um todo. Nenhuma arma curta ou longa
que equipava o exército japonês podia ser digna de ser muito elogiada.

Com  relação  às  suas  armas  curtas,  o  Japão  adotou  para  uso  de  seus  oficiais  duas  pistolas  que
possuíam, além do nome em comum e cada uma a seu modo, características bem estranhas: foram a
pistola Tipo 14 e a pistola modelo 94.
A Tipo 14, acima ilustrada, projetada por Kijiro Nambu, claramente inspirada na aparência da pistola
alemã Parabellum, não tinha mais nada em comum com aquela arma além da semelhança. Utilizava
um pequeno e fraco cartucho de calibre 8mm, com baixo poder de parada, muito similar em desenho
com o 7,63mm Mauser, mas longe de ter as qualidades deste último.

Das  pistolas  alemãs  Parabellum  (Luger),  produzidas  desde  1900,  a  Nambu  herdou  o  formato  e  o
ângulo  de  inclinação  da  empunhadura,  a  peça  que  serve  de  base  do  carregador,  o  guarda‑mato
circular e até o cartucho que disparava. Porém, as semelhanças terminam por aí. Mecanicamente, são
armas  completamente  diferentes.  A  Nambu  não  utiliza  o  peculiar  ferrolho  articulado  de  ação  de
joelho, como nas Lugers. Na verdade, usa até uma solução muito mais simples; um ferrolho feito em
uma só peça e com uma mola recuperadora posicionada do lado esquerdo do mesmo.

A  pistola  modelo  modelo  94  (foto  acima)  é  designada  por  muitos  estudiosos,  como  a  pior  pistola
militar  semi‑automática  já  construída.  Projetada  pelo  mesmo  oficial  japonês  Kijiro  Nambu,  foi  uma
alternativa  encontrada  para  a  substituição  do  Tipo  14,  de  fabricação  muito  mais  cara  e  demorada.
Utilizava o mesmo e ineficiente cartucho 8mm Nambu de sua antecessora.
Utilizava o mesmo e ineficiente cartucho 8mm Nambu de sua antecessora.

O  ferrolho  da  94  era  feito  em  duas  peças.  A  peça  que  recuava  propriamente  dita  tinha  como
dispositivo de parada uma pequena lingueta transversal, algo considerado frágil, mesmo tendo em
conta que o cartucho era fraco e a arma possuía uma trava de culatra. A desmontagem era um pouco
mais complicada que a Tipo 14 e aí poderia ocorrer algo perigoso: na remontagem, a arma poderia
ser  completamente  montada,  mas  sem  a  trava  de  culatra.  Como  se  tratava  de  uma  peça  pequena,
seria até fácil perdê‑la num local confuso e nem se dar conta dela ao montar. O resultado podia ser
catastrófico  pois  a  pistola  se  converteria  numa  “blow‑back”,  ou  seja,  o  ferrolho  poderia  ser  ejetado
para fora da arma bem na direção do rosto do atirador.

Apesar da popularidade da arma junto aos oficiais do Exército, ela nunca foi considerada taticamente
importante  em  batalhas.  Num  exército  onde  os  oficiais  se  sentiam  mais  seguros  usando  suas
tradicionais espadas e outras armas de lâmina, oriundas de herança de família, uma arma como esta,
de  precisão medíocre  e  qualidade  duvidosa,  era  mais  um  “traste”  para ser carregado ou talvez útil
para se cometer suicídio em caso de ser aprisionado, do que algo em que se poderia confiar a vida em
um campo de batalha.

As pistolas Nambu mereceram um capítulo à parte em nosso site. Para conhecer melhor essas armas,
acesse o artigo por aqui.

ESTADOS UNIDOS

Os Estados Unidos da América tiveram sua estréia na II Guerra no teatro do Pacífico, após o ataque
japonês  à  Pearl  Harbor,  no  final  de  1941.  Entretando,  desde  1911  suas  forças  militares  já  contavam
com  uma  das  melhores  e  mais  famosas  pistolas  até  hoje  fabricadas,  a  Colt  modelo  1911  em  calibre
.45ACP.

Toda a saga e desenvolvimento dessa arma são minuciosamente descritos aqui em nosso site, em dois
artigos distintos a saber:

A Colt 1911 História e Desenvolvimento e A Colt 1911 – Os testes de 1907

Nesses  dois  artigos  descrevemos  a  evolução  e  desenvolvimento  da  arma,  sua  participação  histórica
em  todos  os  conflitos  mundiais  e  finalmente  a  sua  dotação  oficial  como  arma  regulamentar  do
Exército  Norte‑Americano,  com  os  testes  de  campo  iniciados  em  1907  e  terminados  em  1911,  em
Springfield, Massachussets.

Entretanto,  cabe  aqui  um  resumo  da  situação  pré‑guerra  dos  Estados  Unidos.  Adotada  em  1911,a 
Colt  participou  já  da  I  Grande  Guerra,  seja  nas  mãos  dos  norte‑americanos  como  nas  mãos  de
soldados  britânicos.  No  começo  da  II  Guerra,  o  Governo  dos  USA  traçou  um  plano  de  cooperação
com  a  Inglaterra,  de  forma  que  passou  a  fornecer  àquele  país  uma  quantidade  considerável  de
revólveres Smith & Wesson em calibre .38 bem como de pistolas Colt 1911 em cal. 45ACP.
Pistola Colt 1911A1 em calibre .45ACP, arma padrão regulamentar dos Estados Unidos de 1911 a 1974

Com a entrada dos USA na guerra, todo o esforço de produção de armamentos era necessário agora
para  suprir  a  demanda  do  próprio  país.  Além  da  pistola  1911,  o  Exército  e  Aeronáutica  utilizaram
revólveres,  basicamente  tres  modelos,  um  da  Colt  e  dois  da  Smith  &  Wesson.  Mesmo  depois  da
adoção  da  1911  pelo  Exército,  a  Aeronáutica  continuou  utilizando  em  grande  quantidade  os
revólveres  da  Smith  &  Wesson  em  calibre  .38  Special.  Era  um  modelo  muito  similar  ao  comercial,
vendido  pela  empresa  no  mercado  civil  e  fornecido  para  a  maioria  das  unidades  policiais  norte‑
americanas.

Uma arma confiável, de porte médio, mas
com  um  calibre  não  muito  indicado  para
uso  militar,  com  seu  projétil  de  chumbo.
Porém,  devido  à  sua  utilização,  visando
mais  a  defesa  pessoal  de  seus  pilotos  do
que  combater  numa  frente  de  batalha,  o
revólver  até  que  cumpria  bem  sua
finalidade.

À esquerda, o Smith & Wesson .38 SPL e seu
coldre de couro

Devido  à  uma  real  necessidade  ou  até


mesmo de preferências pessoais, unidades
de  cavalaria  mecanizada  do  Exército
gostavam  de  revólveres  mais  do  que  de
pistolas, como se uma tradição desde os tempos da cavalaria montada ainda permanecesse viva entre
seus  membros.  Essas  unidades  foram  as  que  mais  utilizaram  dois  revólveres,  ambos  em  calibre
.45ACP,  que  foram  testados  em  1907  juntamente  com  várias  pistolas  e  que,  apesar  da  adoção  da
pistola Colt, não foram deixados de lado. Um deles era o Smith & Wesson DA 1917, originalmente em
calibre  .45ACP,  revólver  de  armação  grande,  construção  robusta  e  esmerada,  com  durabilidade  e
confiança à toda prova. Na verdade era uma modificação do já existente Second Model Hand Ejector
em calibre .44 Smith & Wesson.

Seu  sistema  de  gatilho  era  de  dupla‑ação,  cilindro  rebatível  com  capacidade  de  6  cartuchos.
Seu  sistema  de  gatilho  era  de  dupla‑ação,  cilindro  rebatível  com  capacidade  de  6  cartuchos.
Originalmente projetado para usar a mesma munição da pistola, o cartucho .45ACP, ele necessitava
de um jogo de dois clipes meia‑lua, onde os culotes dos cartuchos eram fixados, a fim de possibilitar
a  extração.  Porém,  podia  disparar  a  contento  a  mesma  munição  sem  uso  da  meia‑lua,  pois  os
tambores possuíam o ressalto necessário para o apoio da cápsula, mas a extração dos cartuchos era
feita manualmente, pois a estrela de extração não engastava nessas cápsulas.

Uma  solução  encontrada  para  evitar  o  uso  desses  adaptadores  foi  desenvolver  um  outro  tipo  de
cartucho,  mas  contando  com  um  aro  (rimmed),  carregado  com  projétil  de  chumbo  e  com  carga
propelente equivalente ao .45 da pistola, denominado de .45 Auto Rim.

Acima, exemplar do revólver Smith &Wesson do Contrato Brasileiro de 1937 com o brasão da República 

Os anos de serviço militar do M1917 não se encerraram após a I Guerra. Cerca de 175.000 revólveres
foram fornecidos ao Exército dos Estados Unidos. Em 1937, a exemplo do que também ocorreu com a
pistola Colt Modelo 1911A1, o Governo Brasileiro encomendou 25.000 revólveres à fábrica da Smith
&  Wesson.  Esses  revólveres  foram  distribuídos  aos  quartéis  de  diversos  estados  brasileiros,  e  todos
vinham gravados com o Brasão de Armas da República, e a data de 1937 estampados do lado direita
da  arma.  A  alça  de  mira  era  ligeiramente  modificada  em  relação  ao  Smith  &  Wesson  fornecido  ao
Governo Americano, e as talas da empunhadura, em nogueira americana, foram fornecidas lisas ou
também  zigrinadas  (igual  ao  do  modelo  comercial  americano),  com  o  medalhão  da  fábrica,  em
alumínio,  incrustado  em  sua  parte  superior.  O  acabamento  era  a  oxidação  padrão  “dull‑black”,
brilhante, e o gatilho e cão, em “case‑hardened”. 
Smith & Wesson DA 1917 do modelo Contrato Brasileiro de 1937

Composição artística do revólver S&W 1917 do Contrato Brasileiro e caixa de cartuchos cal. 45 Auto, produzida
Composição artística do revólver S&W 1917 do Contrato Brasileiro e caixa de cartuchos cal. 45 Auto, produzida
pela CBC na década de 60 para o Ministério da Guerra. Abaixo, os clipes “meia‑lua” e medalhas. Nesta foto o
Brazão da República não está bem visível devido à iluminação incidente.

O outro revólver adotado pelo Exército Americano era o não menos famoso Colt New Service M1909,
também  em  calibre  .45ACP,  arma  igualmente  robusta  e  extremamente  resistente,  de  tamanho  um
pouco mais avantajado do que os da Smith & Wesson. Foram produzidos cerca de 350.000 revólveres,
fornecidos não só ao Exército Americano como também ao Canadense e Britânico, entre 1898 e 1946.
Diversos  cartuchos  foram  disponibilizados  para  essa  arma,  além  do  .45ACP:  .476  Enfield,  .455
Webley, .45 Colt, .44‑40 Winchester, .38 SPL e .357 Magnum. No caso da utilização do .45ACP, o Colt
New Service aceitava os mesmos clipes meia‑lua desenvolvidos pela Smith & Wesson.

O Colt New Service 1917 em calibre .45 ACP

Ambos  os  revólveres  granjeavam  de  enorme  popularidade  e  reporta‑se  até  o  fato  de  alguns
combatentes  preferirem  utilizá‑lo  no  lugar  da  Colt  1911,  talvez  por  tradição  ou  até  mesmo  pelas
indiscutíveis  vantagens  que  um  revólver  possui  sobre  uma  pistola  semi‑automática,  a  mais
importante  delas  a  confiabilidade  e  a  maior  rapidez  de  poder  ser  disparado  novamente,  após  um
incidente de nega ou falha do cartucho.

De  qualquer  forma,  e  encerrando  aqui  a  nossa  lista  de  países  participantes  do  conflito,  não  resta
dúvida de que a II Guerra Mundial veio selar definitivamente a utilização militar das pistolas semi‑
automáticas sobre os revólveres, como arma individual ofensiva ou de defesa pessoal, uma tendência
iniciada  mesmo  antes  da  guerra  e  que  tornou‑se  hoje,  padrão  em  todas  as  forças  militares  em
atividade.

*** *** ***

Wri냍en by Carlos F P Neto

16/05/2011 às 20:45
16/05/2011 às 20:45

14 Respostas

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Prezado Carlos,

Sobre a fabricação de armas sem número de série, os fabricantes não o admitem, mas o fato é que
algumas são assim produzidas. São as chamadas armas “sanitizadas”, cujo objetivo é a
comercialização para países que sofram algum tipo de embargo. Quanto à Smith & Wesson, soube
de pelo menos duas submetralhadoras M‑76, apreendidas aqui no Brasil, onde a perícia constatou
que se tratavam de peças nessa configuração. Soube, também, de uma carabina Puma apreendida
em Minas Gerais, onde a perícia constatou que a arma não foi numerada ao sair da fábrica. Em
armas curtas ainda não soube de casos assim.

Erick Tamberg

01/06/2016 at 16:37

Edimar, pode enviar as fotos para nosso e‑mail armasonline@gmail.com. No entanto, avaliações e
identificações são cobradas, valor de R$ 40,00 por arma. Abraços.

Carlos F P Neto

04/05/2016 at 19:33

BOA NOITE! TENHO 3 ARMAS QUE PERTENCERAM AO MEU AVO FALECIDO A 70 ANOS,
EU ESTOU COM 77 ANOS, PORTANTO AS ARMAS SÃO ANTIGAS, 1 REVOLVER, 1
REVOLVER PISTOLA, E UMA PISTOLA, GOSTARIA DE ENVIAR FOTOS DAS ARMAS PARA
SUA APRECIAÇÃO, É POSSIVEL?, ABRAÇO EDMAR BATISTA.

EDIMAR RIBEIRO BAPTISTA

04/05/2016 at 19:04

Stefan, saudações. Por gentileza, leia antes a nossa Política de Avaliações e Identificações, no
menu do site. Obrigado.

Carlos F P Neto

24/01/2016 at 18:37

Boa tarde, sou proprietário de um revólver Smith wesson de calibre 32, longo, cromado e placas
de empunhar em madrepérola, fabricado na Alemanha pela CGHaenel. Gostaria de saber
detalhes da concessão americana, e até que data foi fabricado.

Stefan Kulina Neto

21/01/2016 at 15:35

Paloma, mande‑nos um email para armasonline@gmail.com. Grato.

Carlos F P Neto
Carlos F P Neto

27/08/2015 at 11:10

Olá, estou realizando um projeto integrador de curso na minha faculdade, onde preciso fazer a
abertura de uma empresa fictícia; e optamos inicialmente pela indústria bélica. Como inicialmente
seria apenas uma empresa nacional e precisamos”dominar” 5% do mercado, optamos por fabricar
armas leves, revólveres ou pistolas. O problema é que estamos com várias dúvidas no processo de
fabricação, poderia me ajudar de alguma forma?

Obrigada.

Paloma

27/08/2015 at 0:13

Olá, Carlos!

Sobre os revólveres militares, é interessante notar a comparação que o autor britânico John Weeks
faz entre os Enfield e os Smith & Wesson: segundo ele, os Enfield requeriam um “pulso de
Hércules” para acionar o gatilho, porém, conseguiam percutir eficazmente a munição feita às
pressas em tempo de guerra. Enquanto os Smith & Wesson “Victory Model” eram mais macios e
precisos, eles frequentemente negavam fogo com munição militar, pois a maciez do gatilho
resultava em uma percussão fraca.

Quanto ao revólver francês Modelo 1892, os últimos registros de seu uso em combate são do final
dos anos 60, tendo sido capturados exemplares nas mãos dos vietcongues. Recordo‑me de dois
filmes onde esse revólver aparece:

– “Os Boinas Verdes”, com John Wayne (aparece num quadro de armas capturadas logo no início
do filme);

– “O Dia do Chacal”, com o ator Edward Fox (não o lixo do remake com Bruce Willis): um 1892 é
usado no fuzilamento do coronel Jean‑Baptiste Bastien‑Thiry (este fato foi real) para o tiro de
misericórdia.

Erick Tamberg

27/07/2015 at 12:59

Rafael, saudações. Você possui CR com apostilamento de coleção há quanto tempo? Abraços.

Carlos F P Neto

04/02/2015 at 10:00

Dentre outros objetos da Segunda Guerra, tenho interesse em adquirir uma Walther P38 de um
colecionador no exterior. É possível? quais seriam os passos legais para isso?
obrigado

Rafael

03/02/2015 at 21:31

Lenoir, todos os revólveres do contrato com a S&W vieram com numeração serial. A S&W nunca
Lenoir, todos os revólveres do contrato com a S&W vieram com numeração serial. A S&W nunca
produziu uma arma sequer sem numeração serial, a exemplo de sua rival Colt. Se algum
exemplar desses revólveres estiverem sem numeração, foram raspadas. Muitos deles também
possuem, no “backstrap” uma segunda numeração de controle, provavelmente do Arsenal de
Gusrra, mas não são todos.

Carlos F P Neto

11/11/2014 at 17:20

Boa Tarde Carlos.
Isso mesmo. Gostaria de saber se todas as armas saíam de fábrica com a numeração de série, como
nos casos das armas mais modernas.
Estou fazendo uma tese de que essas armas não podem ser consideradas como arma de uso
restrito, somente levando em conta o calibre. O que me chamou a atenção é que raramente são
encontrados os números de série. Por isso a questão.
Obrigado pela atenção.
Abraço
Lenoir

lenoir

11/11/2014 at 16:08

Lenoir, saudações. Quais revólveres a que se refere? Os Smith & Wesson do contrato brasileiro de
1937?

Carlos F P Neto

11/11/2014 at 15:44

Boa Tarde!. Excelente material para os curiosos como eu ou até mesmo para os maiores
conhecedores do assunto.
Esses revólveres da S & W, que vieram para o Brasil nessas remessas possuíam numeração ou
somente a descrição do fabricante e local de fabricação?
Caso não consigam responder, onde eu poderia obter essas informações?
Grato pela atenção e se puderem ajudar nas questões ficarei imensamente agradecido!
Abraço
Lenoir

lenoir

10/11/2014 at 19:56

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