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POLÍTICA EXTERNA DO

SEGUNDO REINADO NO
PERÍODO IMPERIAL

O Segundo Reinado foi um importante período para o processo de consolidação interna do projeto político da aristocracia rural e
escravista brasileira, que se afirmou definitivamente no poder após o turbulento processo de constituição do Estado nacional. O
desenvolvimento da economia cafeeira, a partir da segunda metade do século XIX, favoreceu o predomínio político da elite
aristocrática.

Quanto à política externa, o Brasil, que, por sua extensão territorial, já usufruía de posição privilegiada no continente sul-
americano, procurou, ao longo do reinado do imperador Dom Pedro II, desempenhar agressiva política a fim de evitar o
fortalecimento de outras nações que ameaçassem sua posição hegemônica. Além disso, procurou expressar sua vontade de
assumir uma posição “autônoma” em relação à Inglaterra.

As relações Brasil – Inglaterra

Devido aos adiamentos da decisão do governo imperial, as autoridades britânicas resolveram


intervir: decretaram a lei Bill Aberdeen, dispositivo que permitia aos ingleses aprisionar
navios que estivessem transportando africanos para o Brasil, apreender a carga e julgar a
tripulação por crime. Algumas apreensões foram feitas, o que abalou as relações entre Brasil e
Inglaterra.

Outro episódio marcante no relacionamento entre os dois países foi a chamada Questão


Christie. Em 1861, um navio inglês, o Príncipe de Gales, naufragou nas costas do Rio Grande
do Sul e sua carga foi pilhada por brasileiros. 

Em 1865, porém, preocupada com a expansão paraguaia em território sul-americano, a


Inglaterra buscou uma reaproximação com o Brasil, e um representante inglês formalizou, em
nome do governo britânico, um pedido de desculpas a Dom Pedro II, reatando, assim, as
relações diplomáticas entre Brasil e Inglaterra.

A Guerra do Paraguai

A região platina é formada por três países (Argentina, Uruguai e Paraguai). Nessa região há importantes rios –

Paraná, Uruguai e Paraguai –, que, ao se juntar, formam um rio de interação comercial: o rio da Prata. Desde o

período colonial, esse rio foi alvo de disputas entre as potências ibéricas por servir de escoadouro para a prata que

vinha do Potosí e se dirigia à Europa.

No Período imperial, o controle sobre a foz do rio da Prata era vital para os interesses brasileiros, cuja navegação,

em época de péssimas condições de transporte e comunicações terrestres, facilitava o contato com as províncias do

centro-oeste e sudeste do país.

A ameaça de unificação política da região (como desejavam alguns grandes proprietários) e do surgimento de uma

grande potência platina atemorizava os interesses brasileiros. Portanto, a atitude de nosso governo imperial foi a de

afastar essa possibilidade, interferindo militarmente na região, sempre com o apoio britânico, que também não via

com bons olhos o desenvolvimento de uma rica nação que ameaçasse seus interesses econômicos.

Em 1850, houve a primeira intervenção brasileira na região. O Uruguai era um país independente desde 1828, quando

deixou de ser a província Cisplatina. Desde o seu nascimento, porém, o Uruguai era cobiçado pela Argentina, que

desejava incorporá-lo ao seu território. Contra isso, levantava-se o Brasil. Dentro do Uruguai, a elite estava dividida:

de um lado, o Partido Blanco, que, representando os interesses dos pecuaristas, apoiava a anexação à Argentina; de
outro, o Partido Colorado, expressão dos interesses dos comerciantes de Montevidéu, que preferia voltar a se unir ao

Brasil. Os choques entre membros de ambos os partidos eram frequentes. O líder do Partido Blanco, Manuel Oribe,

aliou-se ao governante argentino, João Manuel Rosas, que pretendia reconstituir o Vice-Reino do Prata. Para atingir

esse objetivo, organizou um bloqueio ao porto de Montevidéu, prejudicando os interesses comerciais ingleses e

brasileiros.

Em resposta, o líder colorado, Fructuoso Rivera, aliou-se ao principal opositor de Rosas na Argentina, o General

Urquiza, e aos brasileiros que lutaram na Guerra dos Farrapos. O governo imperial deslocou tropas para a região,

comandadas pelo Duque de Caxias. Os opositores de Oribe venceram os combates e apoiaram a instalação de um

governo colorado no Uruguai.

Em seguida, o Exército brasileiro deslocou-se pelo rio Paraná e entrou em choque com as forças argentina de Manuel

Rosas, derrotando-as com a ajuda dos ingleses, em 1852, na Batalha de Monte Caseros. Assim, a Argentina passou a

ser governada pelo  general Urquiza.

A participação britânica no episódio deveu-se ao seu desejo de reduzir a importância da indústria manufatureira

argentina, que vinha abocanhando importantes fatias do mercado sul-americano, prejudicando muito os interesses

ingleses.

Na década de 1860, o Brasil interviu novamente na região platina. A vitória militar sobre Oribe e Rosas não trouxe a

pacificação ao Uruguai. Ao contrário, contribuiu para intensificar as rivalidades existentes entre blancos e colorados. 

Em 1864, o presidente Aguirre se recusou a indenizar fazendeiros gaúchos que, segundo o governo
imperial, vinham tendo seu gado roubado por “bandidos” uruguaios. O presidente do Uruguai alegou que
também os gaúchos costumavam violar as fronteiras de seu país para roubar gado. Tal indisposição entre
os dois governos acabou ocasionando um novo conflito.
Chefiado pelo General Mena Barreto, o Exército brasileiro invadiu o Uruguai. As forças brasileiras foram
apoiadas pelos colorados, agora liderados por Venâncio Flores. O Almirante Tamandaré conseguiu
estabelecer um cerco à capital uruguaia, forçando a renúncia de Aguirre.
O principal evento militar envolvendo tropas brasileiras na região do Prata foi, no entanto, a Guerra do
Paraguai, ocorrida entre 1865 e 1870. Essa guerra foi consequência direta do conflito anteriormente
explicitado.
No início da década de 1860, governava o Paraguai, Francisco Solano López. Este manifestou sua
oposição ao intervencionismo brasileiro no Uruguai, que culminou com a deposição do presidente
Aguirre. Em 1864, transformando em ação seu descontentamento com o poderio do Brasil, ordenou a
apreensão do navio brasileiro “Marquês de Olinda”, atacou a cidade de Dourados no Mato Grosso e
ocupou parte do território da província. A reação brasileira veio em maio de 1865, com a formação
da Tríplice Aliança, reunindo Brasil, Argentina e Uruguai para lutar contra o Paraguai.
Na primeira fase da guerra, a Marinha brasileira conquistou importantes vitórias em batalhas navais, com
destaque para a Batalha do Riachuelo, em que as forças nacionais foram comandadas pelo almirante
Barroso. Em maio de 1866, ocorreu a mais significativa vitória do Brasil nessa fase da guerra: a Batalha
do Tuiuti.
Em 1869, tropas brasileiras tomaram a cidade de Assunção, capital do Paraguai, mas o presidente do país
conseguiu fugir. O genro do imperador, o Conde D’Eu, assumiu o comando das forças brasileiras e saiu
em perseguição ao presidente paraguaio, vencendo-o na batalha de Cerro Corá, na qual Solano López
morreu.
A vitória brasileira teve importante significado para o país, pois consolidou sua posição de potência no
continente sul-americano. Todavia, o preço dessa conquista foi o extermínio da população paraguaia
(cerca de 800 mil pessoas perderam a vida, restando no país mulheres, idosos e crianças) e da aniquilação
de sua promissora economia. Os outros países sul-americanos envolvidos no conflito (Argentina e
Uruguai), assim como o Brasil, acabaram por cair na esfera de dominação inglesa.

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