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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciê ncias Humanas


Departamento de Histó ria
Prof. Dr. Rodrigo Goyena Soares
e-mail: rodrigo.goyenasoares@usp.br
1º semestre 2023 – FLH0341

HISTÓRIA DO BRASIL INDEPENDENTE I


HISTORY OF THE BRAZILIAN EMPIRE

Unidade II – A constituição da hegemonia conservadora

10. O deslocamento do eixo produtivo nacional para São Paulo: a formação do PRP (1870-
1885)
 GOYENA SOARES, Rodrigo. “Racionalidade econômica, transição para o
trabalho livre e economia política da abolição: a estratégia campineira”.
História São Paulo, n. 39, 2020.
 SLENES, Robert W. “Senhores e subalternos no Oeste Paulista ”. In:
ALENCASTRO, Luiz Felipe (org.). História da vida privada no Brasil. Império: a
corte e a modernidade nacional. Vol. 2. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.

 Seminário: “O regime do colonato”

I] A política externa saquarema

• E depois da Guerra contra Oribe e Rosas (1851-1852), quais foram as relaçõ es entre o
Império do Brasil e a Argentina?
– Argentina fraciona-se em dois Estados: o Estado de Buenos Aires e a Confederaçã o
Argentina (com capital em Paraná , Entre Rios).

• Neutralidade imperial no decurso dos conflitos entre Buenos Aires e Paraná .


– Embora o Império continuasse a financiar a nova Confederaçã o.
– Alguma proximidade entre o Império e a Confederaçã o:
• José Maria da Silva Paranhos assina acordo militar, pelo meio do qual a
Confederaçã o apoiaria o Brasil em caso de conflito lindeiro com o
Paraguai.
• Império volta a emprestar dinheiro à Confederaçã o.
• Ao mesmo tempo, Paranhos assina com Assunçã o acordo de livre
navegaçã o fluvial.
– Neutralidade imperfeita com a Confederaçã o Argentina termina quando o Império nã o
atendeu solicitaçã o de Paraná para colocar-se contra Buenos Aires.
• Urquiza afastou-se, em consequência, do Império e aproximou-se do Paraguai.
• Paraguai de Carlos Antonio Ló pez (1844-1862) buscava o
reconhecimento dos direitos paraguaios sobre seus rios ribeirinhos,
no marco de uma abertura das fronteiras paraguaias.
– Relaçã o de forças inverte-se radicalmente em setembro de 1861, apó s a
Batalha de Pavó n.
• Unitaristas portenhos de Mitre sufocam a Confederaçã o: surge a
Repú blica Argentina moderna.

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Relações com os Estados Unidos

• O interesse dos Estados Unidos pelo Amazonas.


– A França e a Inglaterra também tinham interesse na exploraçã o da porçã o
setentrional do Brasil.
• Mas foram os Estados Unidos que mais pressionaram o governo
imperial, para abrir o rio Amazonas à navegaçã o internacional.
• Em 1850, os estadunidenses lideraram expediçõ es científicas
na regiã o amazô nica, as quais nã o fizeram senã o destacar a
importâ ncia do rio para o desenvolvimento do comércio
meridional do continente americano.
• Chegou-se a entender o Amazonas como um novo
Texas, que aderira, na década de 1840, à uniã o dos
Estados Unidos apó s a declarar-se independente do
México.
– O Amazonas, como o Texas, passou a ser visto como porçã o inevitá vel do
Estados Unidos.
• Era essa também a visã o de Matthew Fontaine Maury, responsá vel
pelo Observató rio Nacional de Washington, e de William Trousdale,
representante dos Estados Unidos no Brasil.
• Vislumbravam no rio brasileiro “uma mera continuação do vale do
Mississipi”.

A Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai

I. As causas da guerra: balanço historiográfico

 Historiografia da primeira metade do século XX:


o Argentina, Brasil, Uruguai: enaltecimento dos feitos militares.
 Tasso Fragoso.
 Paulo de Queiroz Duarte.
o A principal causa da guerra é a invasã o paraguaia ao territó rio
brasileiro e argentino.
 Primeira Imagem de Kenneth Waltz: o Homem.
o Paraguai: vitimizaçã o.
 Solano Ló pez elevado à categoria de heró i nacional.
 Revisionismo historiográ fico de década de 1960-1970:
o Argentina, Brasil, Uruguai: genocídio americano.
 Influência inglesa no conflito.
 Havia realmente?
• A Questã o Christie, como ficou conhecido o incidente diplomá tico entre o
Brasil e a Inglaterra, foi um conjunto de desentendimentos que levaram a
ruptura das relaçõ es diplomá ticas entre o Brasil e a Inglaterra.
• Em 1861, o navio Prince of Walles da marinha britâ nica, ao
encalhar nas proximidades do Rio Grande de Sul, teve sua
carga roubada pelos locais. O incidente chamou
prontamente à atençã o de William Christie, embaixador
britâ nico no Brasil, que pediu imediata indenizaçã o à Dom
Pedro II pelos danos causadas à embarcaçã o inglesa. Para
desconforto do embaixador inglês, Dom Pedro II
respondeu negativamente.
• Um segundo incidente, ocorrido em 1862, reanimou o
cará ter prepotente e arrogante de William Christie.

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• Um par de marinheiros embriagados ter-se-iam
envolvidos em escaramuças com seus homó logos
brasileiros e foram detidos pela polícia local.
• Christie exigiu a aplicaçã o dos direitos
extraterritoriais dos caducos tratados de 1810, ao
que recebeu nova resposta negativa do Império do
Brasil.
• A questã o das indenizaçõ es foi levada à arbitragem do rei da
Bélgica, Leopoldo I.
• Paralelamente, o Brasil exigiu de Londres, além de pedidos de
desculpas, compensaçõ es pecuniá rias pelos navios apreendidos
durante o breve bloqueio naval instituído por William Christie.
• A rainha Vitó ria recusou, e não restou a Dom Pedro II senã o
romper as relaçõ es com a Inglaterra.
• Nas ruas, a atitude do Imperador era ovacionada pela
populaçã o do Rio de Janeiro.
• O Imperador quitou antecipadamente as dívidas que o
arbitramento de Leopoldo I, acreditava Dom Pedro II, lhe
obrigariam a pagar - o que nã o se revelou acertado, já que
a Bélgica deu ganho de causa ao Brasil -.
• Dom Pedro II afirmava que a questão Christie se tratava mais de
uma afronta à soberania nacional do que uma questã o pecuniá ria.
• As relaçõ es diplomá ticas com a Inglaterra somente foram reestabelecidas
por iniciativa da rainha Vitó ria em 1865, isto é, apó s o início da Guerra do
Paraguai.

 Paraguai era potência industrial.


 Paraguai desequilibrou a balança do poder platino apó s as
guerras do Império contra Oribe (Uruguai) e Rosas
(Argentina).
 José Jú lio Chiavenatto (Brasil) e Leó n Pomer
(Argentina).
 Visã o historiográ fica: problema é o Estado.
 Segunda imagem de Waltz.
 Paraguai: potência industrial tolhida pela Inglaterra.
 Historiografia atual:
o Argentina, Brasil, Uruguai: consolidaçã o dos Estados-Naçã o na bacia
do Prata.
 Argentina: Temor de um novo cená rio de uma Argentina
dual.
 Brasil: primeira vez que tropas dos quatros pontos cardinais
do Império lutam juntas.
 Uruguai: Derrota duradoura para blancos.
 Visã o historiográ fica: problema é o sistema das
relaçõ es internacionais na Bacia do Prata.
o Paraguai: consolidaçã o do Estado-Naçã o.

 1862-1868: Liberais e progressistas

o Final da década de 1850:


 Conservadores dissidentes filiam-se aos comandos de
Nabuco de Araú jo.
 Liberais moderados, com Zacarias de Gois e Vasconcellos e
Teó filo Ottoni.
o Formam bloco parlamentar que se
transforma um Liga Progressista.

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 Seria primeiro partido a compor
programa focado na
descentralizaçã o e na
responsabilidade dos ministros
pelos atos do Imperador.
 1862: Dom Pedro II nomeia Zacarias para a chefia do
gabinete.
o Renascer liberal!
 Mas contexto de grande
instabilidade política.
o Sucedem-se 6 gabinetes entre 1862 e 1868:
o Zacarias; Pedro Araú jo Lima; Zacarias; Furtado; Araú jo Lima;
Zacarias.
 Heterogeneidade base aliada.
 Presença saquarema na Câ mara.

O desenrolar dos acontecimentos no Prata

 Tensõ es políticas no Uruguai:


o 1860: Partido Blanco retoma o poder.
 Nacionalizaçã o das fronteiras.
 Taxaçã o sobre os brasileiros residentes no Uruguai.
 Controle do gado gaú cho.
 Controle dos escravos foragidos (nã o podem ser extraditados).
 1863: Estoura nova guerra civil no Uruguai.
o Líderes gaú chos pressionam as Ligas Progressistas para que apoiem uma rebeliã o
colorada contra Berro.
 Ê xito, pois temor de uma nova farroupilha.
o Intervençã o brasileira em 1864:
 Bloqueio do porto de Paissandu.
 Posiçã o paraguaia:
o Contra a posiçã o do Império.
 Haviam oferecido mediaçã o diplomá tica.
 Aproximaçã o com blancos era garantia de acesso livre ao Rio da Prata.
 Equilíbrio de forças entre paraguaios e blancos contra hegemonia
argentina e brasileira.
 1864: Aproximaçã o entre Ló pez e Aguirre.
 Posiçã o argentina:
o Presidência de Mitre (1861) assegura projeto modernizadora para a Argentina:
obtém adesã o – ainda que parcial - de elites do norte (Urquiza).
 Ainda em 1864, o Império envia a Missã o Saraiva para negociar reversã o das políticas de
Berro:
 Fracasso! Aguirre nã o aceita negociaçã o.
o Intervençã o brasileira redunda na tomada do poder por Venâ ncio
Flores (colorado).
 Ló pez envia ultimato contra o Brasil.
o Desconsiderado.
 Resposta: dezembro de 1864, governo paraguaio apreende
navio mercante imperial, nas proximidades de Corumbá , que
trazia a bordo o presidente da Província do Mato Grosso.
 Império rompe relaçõ es.
 Paraguai invade o Mato Grosso.
 Cá lculo militar de Solano Ló pez:
o Atravessar Missiones e Corrientes, para alcançar o Rio Grande do Sul,
cercá -lo, e assegurar a volta do partido blanco em Montevidéu.
o Urquiza (Entre Rios) se colocaria do lado paraguaio.

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o Argentina nã o interviria, pois nã o provocaria nova guerra civil.
o Superioridade militar paraguaia.
 Resposta de Mitre:
o Preservar o Estado Nacional!
 1865: Tratado da Tríplice Aliança.
 “em três dias nos quarteis, em três semanas no campo de batalha
e em três meses em Assunção”. Mitre, em 1865.

Fonte: THÉRY, Hervé e VELUT, Sébastien. Élisée Reclus e a Guerra do Paraguai. Terra Brasilis (Nova
Série), n.7, 2016.

A História Militar (e política) da Guerra da Tríplice Aliança contra o Paraguai

 Qual unidade partidá ria brasileira frente ao conflito no Prata?


o Zacarias de Goés e Vasconcellos vs. Caxias.
o Caxias vs. o Conde d’Eu.
o Abril de 1869, o Conde d’Eu assume o comando das tropas aliadas.
 Perspectivas para um Terceiro Reinado?
o Fraturas entre os liberais:
 1868: Centro Liberal.
 Além das tradicionais reivindicaçõ es dos liberais:
o Exige-se limitaçã o do poder de polícia.
o Reforma do Có digo de Processo Criminal.
o Reforma eleitoral (voto direto).
o Emancipaçã o gradual dos cativos (ventre livre).
 1869: Partido Liberal.
 Clube da Reforma x Clube Radical

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o Do Clube Radical surge o Manifesto Republicano de
1870.
 Fim da Guarda Nacional.
 Fim da vitaliciedade do Senado.
 Fim do Conselho de Estado.
 Fim do Poder Moderador.
 Eleiçã o dos Presidentes de Província.
 Sufrá gio universal direto (masculino).
 Aboliçã o imediata da escravidã o?
 Tensõ es com a Argentina

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Fonte: GÓES FILHO, Synésio Sampaio. Navegantes, bandeiras e diplomatas. Brasília: FUNAG, 2020.

Origem dos recursos destinados à Guerra do Paraguai em contos de réis, 1864-1870.



250000

200000

150000

100000

50000

0
Dívida externa Dívida interna Papel-moeda Receita ordinária
Dificuldades econô micas

Financiamento da Guerra do Paraguai II, 1864-1870

Fonte: Relatórios do Ministério da Fazenda (1864-1871); CARREIRA, Liberato de Castro. História financeira e
orçamentária do Império do Brasil. Rio de Janeiro: Fundação Casa de Rui Barbosa, 1980.

II] O reformismo do pós-guerra

– Gradualismo emancipatório: a Lei do Vente Livre

– 1871: Visconde do Rio Branco assume a chefia do gabinete.


– Projeto de lei de 1871:
» Dava ao senhor de escravos direito ora de manter sob sua
posse o ingênuo, usufruindo de seus serviços até que
completasse 21 anos, ora de o entregar ao governo após os
8 anos completos do ingênuo sob compensação pecuniária
financiado com títulos do Tesouro.
» Previa fundo provisório de emancipação: atender às
indenizações e à educação dos ingênuos.
» Manutenção dos laços de família.
» Formação de pecúlio.
» Matrícula oficial da população cativa.
– Oposição ao projeto:
• Senhores rurais do Sudeste: projeto estimularia rebeliões escravas.
• Seria um ditame unilateral de Rio Branco.
– Apoio ao projeto:
• Camadas médias que haviam lutada lado a lado com os libertos no Paraguai
• Província do Norte: escravidão em extinção e receberiam recursos com apoio
dado a Rio Branco (seca “setentinha”).
– 28 de setembro de 1871:
– Aprovação do projeto da Lei do Ventre Livre.

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• Efeitos:
– Escravidão torna-se questão de tempo.
– Número de escravos cai de 1,5 milhão, em 1872, para 723 mil, às
vésperas da abolição, em 1888.

– Demais reformas de Rio Branco


– Reformas econômicas:
• Reduziram-se os juros da carteira hipotecária rural do Banco do Brasil.
• Desonerou-se o produtor agrícola dos impostos regulamentados para
indústrias e profissões, assim como as máquinas e os insumos benéficos às
atividades rurais.
• Investimento na infraestrutura de comunicação: correios, estradas de
rodagem, tráfego de cabotagem, ferrovias e portos.
» Em 1871, o Império contava com 869 quilômetros de
ferrovias.
» Em 1875, eram 1801 quilômetros.
• Tentativa de aprovar uma lei de locação de serviços.
• Estabelece o Registro Geral das Terras Públicas.
• Instituição do sistema métrico decimal.

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