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BRASIL – SEGUNDO REINADO

Conflitos na região platina


Importantes acontecimentos marcaram as relações externas do Brasil durante o Segundo Reinado. Para preservar interesses
econômicos e políticos na região platina, o império marchou contra o Uruguai e a Argentina. Por fim, o Brasil envolveu-se no mais
longo e sangrento conflito já ocorrido na América do Sul: a Guerra do Paraguai.

Questão Platina
O Brasil tinha interesses econômicos e políticos na região platina, área de fronteira entre Brasil, Uruguai, Argentina e Paraguai.
Vejamos alguns desses interesses:

 Garantir o direito de navegação pelo rio da Prata, formado pela junção dos rios Paraná e Uruguai, que era o único acesso
para a província do Mato Grosso. Na época, não havia estradas da capital do país para o Mato Grosso.
 Impedir que vaqueiros uruguaios invadissem as fronteiras brasileiras e atacassem as fazendas gaúchas.
 Impedir que a Argentina anexasse o Uruguai, formando com ele um só pais.

Os interesses pela região platina levaram o Brasil a participar de três guerras:

 guerra contra Oribe e Rosas (do Uruguai e da Argentina).


 guerra contra Aguirre (do Uruguai).
 guerra contra Solano López (do Paraguai).

Intervenção contra Oribe e Rosas


Após a formação da República Oriental do Uruguai (1828), foram organizados nesse país dois partidos:

Partido Blanco - liderado por Manuel Oribe, representava os criadores de gado e era ligado aos argentinos.
Partido Colorado - liderado por Frutuoso Rivera, representava os comerciantes de Montevidéu e era ligado aos brasileiros.
As primeiras eleições uruguaias foram vencidas por Frutuoso Rivera, em 1828, que se tornou o primeiro presidente da República
do Uruguai.
O governo de Frutuoso Rivera não perturbou os brasileiros. Mas, em 1834, a situação política do Uruguai se inverteu. O líder dos
Blancos, Manuel Oribe, venceu as eleições e, ao assumir o poder, uniu-se ao presidente da Argentina, Juan Manuel Rosas, que
pretendia anexar o Uruguai ao território argentino.
A união entre Oribe e Rosas prejudicava os interesses brasileiros na região platina. Os brasileiros diziam que os Blancos desres-
peitavam as fronteiras do Rio Grande do Sul e provocavam conflitos com os fazendeiros gaúchos.
O Brasil resolveu intervir militarmente na região platina para garantir seus interesses econômicos e políticos. Aliou-se a Rivera
(Partido Colorado) e conseguiu derrubar Oribe do poder em 1851, pela luta armada. Então, o presidente argentino Rosas entrou
na guerra para apoiar Oribe. Era uma boa oportunidade para realizar seu plano de anexação do Uruguai, caso fosse vencedor.
No entanto, algum tempo depois, as províncias argentinas Entre-Rios e Corrientes organizaram uma revolta contra Rosas. Apro-
veitando-se da situação, o governo brasileiro apoiou a luta dessas províncias, comandada pelo general argentino Urquiza.

Consequências do conflito
A guerra contra Oribe e Rosas trouxe, em resumo, os seguintes resultados: Oribe, presidente do Uruguai, foi derrotado com a
ajuda das tropas brasileiras, comandadas por Caxias; na Argentina, Rosas também foi derrotado pelas tropas do general Urquiza,
apoiadas pelas forças brasileiras (1852). Depois da vitória, Urquiza assumiu o poder argentino.

A guerra contra Aguirre


Durante a década de 1850, o conflito político entre Blancos e Colorados continuou intenso no Uruguai. E os fazendeiros do Brasil
também continuaram brigando com os Blancos uruguaios. Os brasileiros acusavam os Blancos de invadir suas fazendas e roubar
gado.
Atendendo aos fazendeiros gaúchos, o governo brasileiro fez inúmeras reclamações ao governo do Uruguai.
Entretanto, o presidente do Uruguai, Atanásio Aguirre (que era do Partido Blanco), deu pouca atenção ao governo brasileiro. O
governo imperial brasileiro resolveu, então, declarar guerra ao Uruguai, E novamente aliou-se ao Partido Colorado que, nesse
momento, tinha como principal líder Venâncio Flores.
As tropas brasileiras atacaram o Uruguai por terra, sob o comando do general Mena Barreto, e por mar, sob o comando do almi-
rante Tamandaré.
Em 1865, com o auxilio das tropas brasileiras, Venâncio Flores derrotou Aguirre e assumiu o governo. Diante da derrota, Aguirre
pediu ajuda ao presidente do Paraguai Solano López, estabelecendo uma aliança político-militar. Era o início de uma longa e
sangrenta guerra.

GUERRA DO PARAGUAI
O Paraguai tornou-se uma república independente em 1811, separando-se do Vice-Reino do Prata. Seu território não tem saída
para o mar. O isolamento do Paraguai fez com que seus governantes passassem a se preocupar com o desenvolvimento do país,
independente dos outros, conduzindo a economia para torná-lo cada vez mais autossuficiente. Assim, no governo de Francisco
Solano López, que teve início em 1862, o Paraguai dependia pouco de outros países para satisfazer suas necessidades básicas:
produzia quase todos os alimentos de que precisava; tinha em Assunção uma fábrica de armas e de pólvora; e muitos latifúndios
improdutivos tinham sido transformados em fazendas estatais, a fim de dar trabalho à população.
Por outro lado, o Paraguai não podia viver isolado, pois precisava vender seus produtos. Por isso, era importante que tivesse uma
saída para o mar. O caminho possível era passar pelos rios Paraguai, Paraná e da Prata, até chegar ao oceano Atlântico. Mas o
rio Paraná situa-se na fronteira com o Brasil e passa pelo território argentino, e o rio da Prata localiza-se entre a Argentina e o
Uruguai. Essa situação poderia trazer problemas para o Paraguai, caso a Argentina e o Brasil fechassem sua passagem para o
mar. Por isso, o Paraguai tinha interesse em aumentar seu território, para ter uma saída direta para o Atlântico ou ao menos con-
trolar a navegação pelo rio Paraná.
O Brasil também tinha interesse em controlar a navegação pelo rio Paraná, pois era o caminho mais fácil para chegar com gran-
des cargas até o Mato Grosso (quase não havia estradas na época). A Argentina não aceitaria a expansão territorial do Paraguai.
A Inglaterra, que exercia grande influência sobre a economia do Brasil, da Argentina e do Uruguai, tinha, por sua vez, interesse
em abrir o mercado paraguaio aos seus produtos industrializados.

O descontentamento inglês
O desenvolvimento do Paraguai desagradava a Inglaterra, que tinha interesse em manter os países latino-americanos como for-
necedores de matérias-primas e consumidores dos seus produtos industrializados.
Como o Paraguai não se enquadrava no esquema do capitalismo industrial inglês, era considerado um "mau exemplo", que preci-
sava ser destruído. Então, a Inglaterra estimulou Brasil, Argentina e Uruguai, que formaram a Tríplice Aliança, na luta contra o
Paraguai. Teve início o mais longo e sangrento conflito armado já ocorrido na América do Sul.

Violência do conflito
O episódio que deu início à guerra foi o aprisionamento, pelo governo paraguaio, do navio brasileiro Marquês de Olinda, em no-
vembro de 1864. O navio brasileiro navegava pelo rio Paraguai, próximo a Assunção, com destino à província de Mato Grosso. O
aprisionamento do navio brasileiro foi uma reação do Paraguai contra a invasão brasileira ao Uruguai e a derrota do presidente
Aguirre (que era apoiado por Solano López). Em seguida, um destacamento militar paraguaio invadiu o Mato Grosso. Iniciada em
1865, a Guerra do Paraguai durou cinco anos, terminando em 1870.
Para se ter uma ideia da extrema crueldade que caracterizou a Guerra do Paraguai, basta dizer que, do lado brasileiro, morreram
aproximadamente 100 mil combatentes. Do lado paraguaio, muito mais vidas foram sacrificadas. Antes da guerra, a população
total do Paraguai era de 800 mil habitantes. Depois da guerra, essa população reduziu-se a 194 mil habitantes. Ou seja, aproxi-
madamente 76% dos paraguaios foram exterminados.
Morro com minha Pátria foram as últimas palavras de Solano López ao ser derrotado na batalha de Cerro Corá, em 1870. E nessa
frase não havia exagero. De país rico e próspero, o Paraguai foi transformado num grande cemitério. Agricultura, comércio e
indústria foram completamente arrasados. Da população masculina adulta sobreviveu apenas 0,5%.

Consequências da guerra
Terminada a guerra, o império brasileiro passou a sofrer as consequências do sangrento conflito: a economia ficou abalada em
virtude dos prejuízos da guerra, tornando-se extremamente dependente dos empréstimos efetuados junto à Inglaterra; o Exército
brasileiro passou a assumir posições contrárias à sociedade escravista brasileira e a demonstrar simpatia pela causa republica-
na. Isso se explica pelo fato de grande parte das tropas combatentes terem sido formadas por escravos negros e gente humilde
do povo.
Para o Paraguai, o conflito foi uma catástrofe. Antes da guerra, o país passava por um processo de modernização. Por iniciativa
do governo paraguaio, estradas de ferro e indústrias foram implantadas, uma marinha mercante começava a funcionar, transpor-
tando produtos paraguaios para o exterior.
Os estudiosos têm sido unânimes em reconhecer a miséria do Paraguai após a guerra. A jovem nação teve boa parte de suas
terras anexadas pelos vencedores, além de arcar com uma pesada dívida de guerra. Sua população foi reduzida a 1/5, a maioria
de mulheres, idosos, inválidos e crianças. O Paraguai tornou-se um dos países mais pobres da América Latina.
O Brasil não obteve grandes vantagens. Cerca de 100 mil soldados morreram em combate, e as dívidas contraídas com a guerra
foram pesadas, o que gerou o aumento da inflação. Como o Brasil assumia a maior parte das despesas do bloco dos aliados, o
governo de D. Pedro II, em várias ocasiões, teve de recorrer a empréstimos externos para custear o conflito. Politicamente, o
exército se fortaleceu como corporação. Vitorioso no conflito, voltou para o Brasil disposto a assumir um papel de destaque na
vida política nacional. Quanto aos soldados, a maior parte era constituída de escravos. Ao retornarem para o Brasil, sua condição
de cativos foi mantida, o que provocou fortes descontentamentos entre eles, crentes de que obteriam a liberdade após o fim da
guerra. Mesmo assim, a escravidão não conseguiria se manter por muito tempo.

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