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A GUERRA DO PARAGUAI

FELIPE AZEVEDO E SOUZA


BRASIL II
PUC-RIO
14/6/23

IZECKSOHN, V. “A Guerra do Paraguai" in: GRINBERG,


K. e SALLES, R. Coleção Brasil Imperial, vol. 2, pp.
385-424.
CONFLITOS NA BACIA DO PRATA
Desagregação do vice-reino do Rio da
Prata;

Disputas entre federalistas e unitaristas


tonificaram os conflitos pós
independência;

A Guerra da Cisplatina prolongou-se até


1828 e foi desastrosa para ambos os
lados. No Brasil, o conflito afundou as já
combalidas finanças nacionais e contribuiu
para o desgaste político de d. Pedro 1, que
acabaria abdicando do trono em 1831. Na
Argentina, as negociações de paz
conduzidas pelo ministro do governo
Rivadávia acabaram levando à queda do
presidente em 1827; mais tarde, em 1828,
o fim da guerra externa trouxe consigo a
guerra civil na Argentina
A GUERRA DA CISPLATINA E A QUESTÃO DA NAVEGAÇÃO
A transformação da Província Cisplatina em Estado independente, uma espécie de "estado tampão" interposto entre o
Brasil e as Províncias Unidas. Pelo artigo da Convenção, os dois países se comprometiam a defender a independência
e a integridade do Uruguai, pelo tempo e pelo modo a serem ajustados em um tratado definitivo de paz; o artigo 1O
estabelecia que, se antes de jurada a Constituição do novo Estado e cinco anos depois a sua tranquilidade e
segurança fossem perturbadas por guerra civil, os países signatários prestariam ao governo legal o auxílio necessário
para o sustentar. Outro artigo importante era o 18, que dizia respeito à conflituosa relação entre o Brasil e as
Províncias Unidas: ficava proibida a renovação de hostilidades antes do prazo de cinco anos; mesmo depois de
decorrido esse prazo, as hostilidades não poderiam se romper sem a prévia notificação feita reciprocamente com seis
meses de antecedência, com conhecimento da potência mediadora. Esse artigo abria uma brecha para a ingerência
britânica nos conflitos platinos. Um artigo adicional, introduzido por insistência dos representantes do império,
estabelecia ainda que "ambas as partes contratantes se comprometem a empregar todos os meios que estejam ao seu
alcance, a fim de que a navegação do Rio da Prata e de todos os outros que deságuem nele se conserve livre para o
uso dos súditos de uma e outra nação, pelo tempo de quinze anos, na forma que será ajustada pelo tratado definitivo
de paz".

Os conflitos entre federalistas e unitários atravessavam a fronteira Argentina e se manifestava no Uruguai. Ao longo
da década de 1840, o governo Imperial fez alianças com os colorados em Montevidéu e com Justo José de Urquiza
em Entre-rios, buscava conter o expansionismo de Juan Manuel Rosas. Da mesma forma, procurou dar amparo à
independência do Paraguai, aproximando-se de Carlos Antonio Lopez.
A INSTABILIDADE URUGUAIA
O principal foco de tensão para o Brasil na região era a situação uruguaia. Naquele país, problemas da política interna do
Brasil confrontavam-se com questões internacionais, tornando particularmente delicada a posição do império. Os
estancieiros do Rio Grande do Sul relutavam em reconhecer a existência de uma fronteira entre os dois países, transferindo
gado, escravos e trabalhadores livres para aquela república e, consequentemente, imiscuindo-se nos conflitos políticos
locais. Na década de 1860, os cidadãos brasileiros controlavam cerca de 30% do território uruguaio. Nessa época os
brasileiros formavam o mais importante grupo de estrangeiros que ali viviam, representando entre 10% e 20% da
população.

Com a ascensão do partido Blanco ao poder, em 1862, os conflitos entre brasileiros e uruguaios tornaram-se mais
intensos. O partido adotou posição favorável à nacionalização das fronteiras, que implicava a taxação dos brasileiros ali
residentes e o controle de gado e escravos que circulavam entre os dois países. Tratava-se de proposta de governo que
pretendia forçar o poder político do interior sobre a capital.

Em 1863 teve início outra guerra civil no Uruguai. Os partidos Blanco e Colorado eram os grandes protagonistas de um
conflito que evidenciava a debilidade do processo de construção do Estado uruguaio sob as condições impostas pela paz
de 1828. Essa guerra civil, como sempre, também envolvia interesses brasileiros e argentinos, só que, ao contrário do que
geralmente acontecia, os interesses dos dois países convergiram no apoio aos colorados. Os líderes gaúchos pressionaram
o governo imperial para que apoiasse a rebelião colorada, que também agradava aos comerciantes buenairenses.
A INSTABILIDADE URUGUAIA
A intervenção brasileira ocorreu em agosto de 1864, com a invasão do
território uruguaio e o bloqueio naval do porto de Paissandu, efetivado
em águas pretensamente neutras do rio da Prata. A ação brasileira e o
apoio dado aos colorados no Uruguai irritaram o governo paraguaio
que se havia oferecido para mediar diplomaticamente a situação. O
desdém pela oferta paraguaia foi considerado uma afronta pelo
ditador López. O governo paraguaio preconizava o respeito ao
equilíbrio de poder na bacia do Prata. O desprezo brasileiro foi visto
como afronta a esse equilíbrio, só passível de ser respondida pela
guerra. Nesse cálculo, o governo paraguaio contava com o apoio de
alguns caudilhos e também com o suporte de oligarquias dissidentes
que se opunham a Buenos Aires. López contava sobretudo com a
cooperação do chefe político de Entre Rios, Justo José de Urquiza
(1801-1870), apoio que jamais se materializou, uma vez que Urquiza
gradualmente aceitou as novas regras e os procedimentos
estabelecidos na Argentina, postura seguida por outros líderes
regionais. Finalmente, o ditador paraguaio também esperava que a
presença de escravos e o separatismo gaúcho comprometessem a
capacidade operacional do Exército brasileiro.
Figura satírica do
presidente Don
Francisco Solano
López, representando
a ideia do equilíbrio
dos estados de prata,
proposta por ele.
PARAGUAI - ISOLAMENTO, DITADURA E MITOS
A identidade nacional paraguaia foi cristalizada na segunda década do século XIX, a partir de vários fatores, entre eles a sua
precária posição na bacia do Prata, sua exposição permanente à instabilidade das províncias unidas argentinas e seu
isolamento em razão das rivalidades entre portenhos e brasileiros. Finalmente, a composição étnica do povo paraguaio, a
maior parte do qual descendia da mestiçagem entre espanhóis e índios, e o uso massivo do guarani como língua franca,
facilitaram a percepção de sua identidade nacional como distinta da identidade de Buenos Aires. Parte dessa diferença
residia na oposição, estimulada pelas elites locais, entre a anarquia da Confederação Argentina e a tranquilidade do
Paraguai. Os paraguaios responsabilizavam a política centralista da capital do antigo vicereinado pela instabilidade, atitude
que persistiu durante o restante da primeira metade do século XIX. Uma consequência da forma como o Paraguai obteve
sua independência foi a interrupção dos contatos regulares com o exterior. As guerras civis nas províncias argentinas e o
longo bloqueio naval durante o governo de Juan Manuel de Rosas estancaram o comércio ao longo do rio Paraguai. A
limitação do comércio entre 1814 e 1852 isolou o Paraguai, contribuindo para o senso de excepcionalidade, que era muito
forte entre seus habitantes. O primeiro ditador do país, Jose Gaspar de Francia, el Supremo (1776-1840), implementou
políticas de expropriação de terras que acabaram por transferir os monopólios coloniais e oligárquicos para a alçada do
recém-criado estado nacional paraguaio. Esse é um dos pontos nos quais as análises históricas produzidas nas duas
últimas décadas contrastam com os trabalhos influenciados pela Teoria da dependência. O excepcionalismo paraguaio não
seria, portanto, fruto de um protos-socialismo ou capitalismo de Estado, mas a consequência de um conjunto de fatores
locais que teriam levado a liderança daquele país a aprofundar práticas protecionistas.
PARAGUAI - ISOLAMENTO, DITADURA E MITOS

Concentração de terras em posse do


Estado - cerca de 90%;
Perseguição a oposicionistas;
Ausência de imprensa e liberdade de
expressão;
Ausência de repartição de poderes;
Exaltação da liderança do presidente
(ver Catecismo de San Alberto)
PARAGUAI INVADE O MATO GROSSO
Em protesto contra a intervenção brasileira no Uruguai, o
governo paraguaio apreendeu o navio mercante brasileiro
Marquês de Olinda, que conduzia o presidente recém-
nomeado da província de Mato Grosso, levava também
documentos, alimentos e dinheiro para suprir as guarnições
de Mato Grosso. A carga do navio foi confiscada, e sua
tripulação, aprisionada. Em seguida, uma expedição fluvial
paraguaia desembarcou na cidade de Coimbra, atual Mato
Grosso do Sul, iniciando a invasão daquela província.
Rapidamente a maior parte do território oeste mato-grossense
caiu em mãos paraguaias, até porque não havia preparo
militar prévio para resistir a uma invasão em larga escala. As
populações do sul e do oeste da província fugiram para áreas
mais seguras, porém, como não havia plano de evacuação
nem expectativa de invasão iminente, muito menos meios de
transporte capazes de agilizar desocupação eficiente, essas
fugas foram marcadas pela fome e pela improvisação, levando
à destruição da infraestrutura produtiva e à perda de muitas
vidas por inanição e doenças.
PARAGUAI ROMPE COM A ARGENTINA

Com a invasão de Mato Grosso as forças paraguaias obtiveram munição e suprimentos essenciais ao prosseguimento da
campanha nos quatro anos seguintes. No entanto, o ataque custaria tempo precioso aos invasores, uma vez que os
aliados blancos encontravam-se isolados no Uruguai e necessitavam de reforços imediatos. Em abril de 1865, quatro
meses após o início das hostilidades, o governo paraguaio solicitou autorização ao governo argentino para cruzar a
província de Missiones na tentativa de alcançar o Uruguai a tempo de mudar o destino da guerra civil daquele país. O
presidente argentino, Bartolomeu Mitre, recusou essa permissão. Os unitários argentinos apoiavam os colorados e
pretendiam manter a neutralidade no conflito entre o Brasil e o Paraguai. Após a recusa argentina, os paraguaios
invadiram as províncias de Corrientes e alcançando o Rio Grande do Sul por volta de junho. A invasao custou caro aos
paraguaios que, rompendo com os argentinos, perderam importante fonte de suprimentos, especialmente de armas.

A assinatura do Tratado da Tríplice Aliança, em maio de 1865, praticamente selou a sorte do Paraguai na guerra. Pelo
tratado, os governos do Brasil, Argentina e Uruguai (agora efetivamente governado pelos colorados) comprometiam-se a
não depor armas até a queda do ditador. As cláusulas então secretas eram draconianas: as instalações militares do
Paraguai deveriam ser demolidas, seu exército desmobilizado, e os contenciosos territoriais resolvidos segundo os
interesses dos membros da Aliança.
Tropas aliadas reconquistando a província de Corrientes um ano após o início da Guerra da Tríplice Aliança, Candido Lopez
NO RIO GRANDE DO SUL

Enquanto as novas forças eram reunidas no Sul, o ímpeto da invasão paraguaia aos poucos arrefeceu. Por
volta de junho de 1865 as condições operacionais eram precárias, pois os soldados paraguaios encontravam-
se pessimamente uniformizados, não havia casacos, nem linhas regulares de suprimentos. Confiando demais
na rage militar de seus soldados e em suposta superioridade racial guarani, López não planejou
adequadamente o avanço pelo território correntino nem seguiu a opinião de seu principal comandante, o
general Wenceslao Robles, que recomendava avanço mais planejado. Robles, que criticou seguidamente a
imprevidência da invasão, acabaria sendo fuzilado por indisciplina. A vanguarda das tropas invasoras rendeu-
se sem resistência ao exército imperial em Uruguaiana, em setembro de 1865.

O Tratado, a derrota em Uruguaiana e a destruição da Marinha paraguaia na batalha fluvial do Riachuelo


isolaram os guaranis, tornando remotas as perspectivas de vitória militar. Dado o isolamento, seria natural
que os paraguaios se rendessem, mas assim não pensou López. Esperando que os aliados se
desentendessem no decorrer da campanha, o ditador ordenou o recuo de suas forças para o próprio território,
contando que os paraguaios oferecessem resistência encarniçada às tropas invasoras. A então ainda
inacabada fortaleza de Humaitá era considerada também barreira quase intransponível, bloqueando os
avanços da Marinha brasileira ao longo do rio Paraguai.
FORTALEZA DE HUMAITÁ
O local era uma curva acentuada em forma de ferradura no rio; praticamente todas as embarcações que desejassem entrar na
República do Paraguai - e de fato seguir adiante até a província brasileira de Mato Grosso - foram obrigadas a navegá-la. A
curva era comandada por uma linha de baterias de artilharia de 1,8 km (6 000 pés), no final da qual havia uma barreira de
corrente que, quando levantada, detinha o transporte sob os canhões. O canal navegável tinha apenas 200 metros de largura e
era facilmente acessível à artilharia.

A fortaleza era protegida de ataques em seu lado terrestre por pântano impenetrável ou, onde faltava, terraplenagens
defensivas que, em sua maior extensão, compreendiam um sistema de trincheiras estendendo-se por 13 km, tinha uma
guarnição de 18 000 homens e disparou 120 canhões. Uma tentativa de capturar uma de suas obras exteriores por ataque
frontal fracassou desastrosamente na Batalha de Curupaiti (22 de setembro de 1866).
Soldados paraguaios
voando no balão de
observação brasileiro.
Caricatura de
propaganda no jornal
do governo paraguaio
El Centinela, 8 de
agosto de 1867

'Torpedos'
paraguaios e
outras armas.
Ilustração de
1867
LONGA GUERRA E A DIFICULDADE EM RECRUTAR

Sem apoio naval efetivo, a invasão do Paraguai, que teve início em agosto de 1866, tornou-se campanha
penosa. Sem mapas, desconhecendo o terreno e sem oportunidades de reabastecimento a partir dos recursos
locais, as tropas tiveram praticamente que tatear a cada passo.

Aos poucos o estado de espírito foi mudando no império. A campanha mostrava-se longa e difícil. A
morosidade das operações, os sérios problemas de infraestrutura, o grande número de baixas por doenças, o
desamparo das famílias dos soldados e a necessidade de ampliação dos contingentes foram tornando o
recrutamento cada vez menos atraente.

Já no começo da guerra cerca de 30% dos contingentes recrutados não chegavam aos campos de batalha. O
prosseguimento da campanha em território estrangeiro, porém, deteriorou rapidamente a disposição inicial,
aumentando as taxas de deserção e isenção e comprometendo seriamente o esforço imperial. Até 1867, da
população estimada em 1.600.000 habitantes, somente 4.500 mineiros foram enviados ao front
LONGA GUERRA E A DIFICULDADE EM RECRUTAR
Desde o começo da campanha contra o Paraguai escravos e
libertos foram alistados no Exército e na Marinha. O alistamento
desses indivíduos ocorria pela força, por doações, por
substituições ou quando os escravos fugiam e se apresentavam
como homens livres. Com exército cuja composição era
multirracial, recrutada geralmente nas camadas mais desprotegias
da sociedade, era difícil distinguir entre livres e escravos. Nessas
ocasiões o uniforme funcionava como abrigo em relação à
condição prévia de cativo.

Apesar da necessidade de soldados, o governo imperial retornou


pelo menos 36 indivíduos a seus donos, quase todos descobertos
logo no início, o que demonstrava clara prioridade ao direito de
propriedade. 56% de todos os indivíduos emancipados vieram de
atividades relacionadas a doações imperiais tais como a casa
imperial e as fazendas do Estado. Metade das contribuições
privadas foram feitas por substituições. As doações privadas
representaram algo em torno de 2% do contingente total.
COMPASSO DE ESPERA - GUERRA DE POSIÇÕES
Durante 1867 o desejo governamental de racionalizar a
condução da guerra esbarrou na premissa irracional de
sua continuidade como "questão de honra" da monarquia
brasileira, contribuindo acentuadamente para o desgaste
do sistema político, dada a politização do serviço militar.
Para reorganizar o Exército Caxias necessitou de 17
meses de paralisação, situação muito criticada por seus
adversários políticos de dentro e de fora da instituição.
Esse período, todavia, foi essencial para a preparação e o
treinamento dos corpos, principalmente no que ser refere
à fusão de diferentes grupos, ao treinamento no uso de
armas de fogo e à escavação de trincheiras que
permitiram a ampliação do cerco à Fortaleza de Humaitá.
Em agosto de 1868 a frota brasileira finalmente
ultrapassou a Fortaleza 1 de Humaitá. Sitiados por terra e
pelo rio, os paraguaios ainda conseguiram evacuar a
Soldados uruguaios entrincheirados durante a batalha de Tuiuti
fortaleza antes de se renderem alguns dias mais tarde
GUERRA SEM FIM
Em janeiro de 1869 as tropas da aliança finalmente entraram em Assunção, que foi saqueada por cerca de dois
dias. Para Caxias, bem como para muitos oficiais e soldados brasileiros, a guerra estava acabada, pois
imaginavam que López deixaria o Paraguai após a incrível fuga diante das forças brasileiras. Contrariando as
expectativas do comando aliado, o ditador paraguaio decidiu prosseguir a guerra, apesar de todas as
evidências de que sua causa estava perdida. Cansado dos combates, Caxias abandonou o Paraguai em janeiro
de 1869, declarando terminada a guerra. A partida de Caxias e de seus principais assessores desanimou as
tropas de ocupação. O resultado imediato foi a multiplicação dos pedidos de dispensa de oficiais e voluntários.
Mais um ano de campanha ainda seria necessário para dar a guerra como terminada. Cansados de lutar,
muitos se preparavam para voltar a casa. A perspectiva de lidar com López e um exército de guerrilhas por
vários anos, porém, levou as lideranças políticas do império a optar pelo prosseguimento da campanha. A
Campanha da Cordilheira, que se iniciou em abril de 1869, foi longa e desgastante. Enquanto os exércitos da
Tríplice Aliança ainda permaneciam parados nas cercanias de Assunção, a presença de López nas montanhas
criava um problema para o império. Acreditava-se que daquela posição o ditador paraguaio poderia reorganizar
seu exército e voltar ao poder, forçando o império a negociar uma paz que àquela altura seria humilhante.
Capturá-lo tornou-se a obsessão do Imperador, que nomeou seu genro, o Conde d'Eu (1842-1922),
comandante-em-chefe.
CUSTOS DA GUERRA
O prolongamento da campanha exigia a ampliação da capacidade fiscal do Estado. A alta incidência das despesas
militares sobre o orçamento do império durante o período considerado não foi privilégio apenas das verbas do
Ministério da Guerra, mas também das outras pastas relacionadas à campanha, como os ministérios da Fazenda,
Justiça e Marinha. A necessidade de ampliação dos gastos públicos comprometia a capacidade do governo de
planejar e controlar com adequação as despesas. Assim, o déficit governamental, característico de praticamente
todos os orçamentos do período monárquico, manteve-se em patamares muito mais elevados durante os anos da
Guerra do Paraguai. Para fazer frente às despesas, o governo imperial recorria a créditos suplementares para
cobrir os débitos. Sendo esses créditos implementados fora do orçamento regular, foi preciso, recorrentemente,
governar a partir de decretos-leis. Por fim, no intuito de obter os recursos extraordinários para fazer frente às
despesas da guerra, foi inevitável emitir apólices, papel-moeda e obter empréstimos particulares do Tesouro e
mesmo ex- ternos. Esses expedientes afetavam de várias formas as finanças do país e dos proprietários não só
pelo aumento dos procedimentos de extração direta (taxas e impostos), como também através da inflação e da
baixa da taxa de câmbio frente à libra esterlina, que foi constante no período. A inflação afetava sobretudo a
população mais pobre, vítima da carestia e do encarecimento do custo de vida, principalmente nas cidades
maiores.

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