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Ao final do artigo, os textos dos acordos estão anexados em sua íntegra. Sua
leitura permite a percepção de entrelinhas e nuances interessantes.
A análise parte desses acordos não para analisar o panorama político regional
em si, tarefa que demandaria um estudo mais extenso e complexo, mas tem por objetivo
contribuir para uma discussão historiográfica que estude o tema dos conflitos platinos
transcendendo os limites das histórias nacionais. Segundo o autor, “No esforço de
superar as práticas comuns das “histórias nacionais”, este artigo procurará enveredar por
temas transversais às fronteiras que existiram entre os Estados nacionais e “regiões-
províncias” que se formaram no espaço platino.” (pg 156).
Após a explicitação da proposta do artigo, o autor apresenta alguns aspectos das
relações de poder político nas províncias platinas no contexto das independências das
Províncias Unidas do Rio da Prata e do Império Brasileiro.
Sobre o Rio Grande do Sul, o autor aponta que toda essa relação com as
províncias platinas possibilitou a penetração de noções federalistas e aspirações à
autonomia política, que posteriormente serviram como argumento político para a
proclamação da República Rio-Grandense.
O autor também comenta algumas linhas historiográficas que abordam a história
do Rio Grande do Sul e a característica de ser um espaço de fronteira, começando pela
tradicional “matriz lusa” que interpreta o papel dos caudilhos riograndenses na
manutenção das fronteiras brasileiras como uma “adesão” à nação, numa clássica
interpretação nacionalista e patriótica da história.
A interpretação que o autor parece julgar como a mais avançada é a que propõe
a fronteira como um espaço manejável, de intersecção de relações de poder, na qual
existem atores políticos que atuam em ambos os lados da fronteira. Nessa lógica a
fronteira não seria aberta, mas tampouco é uma fronteira bem delineada, que mesmo
com a característica de ser um marco divisório, também é um espaço no qual circula de
tudo: ideias, pessoas e mercadorias. Nesse sentido, não há uma oposição em admitir o
Rio Grande do Sul tanto como uma província luso-brasileira como parte da esfera política
da região do Rio da Prata.
Chama atenção no texto deste tratado, anexado ao final do artigo (Anexo IV), a
referência à República Rio-Grandense como uma “nação”. Novamente colocando em
xeque a historiografia nacionalista ao demonstrar que a ideia de nação era algo ainda
indefinido e em disputa.
Esses tratados, apesar de limitados e por vezes sem efeito prático, e no fim das
contas nulos diante da posterior derrota de todos os envolvidos, mostram como os
projetos políticos de nação ainda estavam sendo disputados de forma intensa. Foram
articulações que poderiam ter ensejado a formação de Estados nacionais diferentes dos
quais conhecemos hoje e que alterariam completamente a paisagem geopolítica da
região.
Tais Estados que não se consolidaram, mas que foram ensaiados, tampouco
eram pré-existentes. Nas hipóteses de se consolidarem, também teriam de desenvolver
seus próprios mitos de fundação e identidades nacionais.
Referência Bibliográfica