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O Drama Paraguaio
“A identidade nacional paraguaia foi cristalizada na segunda década do século
XIX, a partir de vários fatores, entre eles a sua precária posição na bacia do
Prata, sua exposição permanente à instabilidade das províncias unidas argentinas
e seu isolamento em razão das rivalidades entre portenhos e brasileiros.
Finalmente, a composição étnica do povo paraguaio, a maior parte do qual
descendia da mestiçagem entre espanhóis e índios, e o uso massivo do guarani
como língua franca, facilitaram a percepção de sua identidade nacional como
distinta da identidade de Buenos Aires.” (p. 389).
“Uma consequência da forma como o Paraguai obteve sua independência foi a
interrupção dos contatos regulares com o exterior.” (p. 390).
“O excepcionalismo paraguaio não seria, portanto, fruto de um protos-
socialismo ou capitalismo de Estado, mas a consequência de um conjunto de
fatores locais que teriam levado a liderança daquele país a aprofundar práticas
protecionistas.” (p. 390).
“No que se refere às relações com o Brasil, os contatos foram sempre
inconstantes, marcados por aproximações e recuos [...] As alianças ocasionais,
entretanto, não aproximaram os governos de forma permanente, e os dois
vizinhos mantiveram-se divididos, tanto pelos contenciosos de fronteira, como
também em relação à navegação do rio Paraguai.” (p. 391).
As Causas da Guerra
“Durante a década de 1860 os paraguaios foram vítimas de ambos: mudanças na
estrutura política da região e transformações na formulação da política externa
guarani.” (p. 391).
“O principal foco de tensão para o Brasil na região era a situação uruguaia.” (p.
392).
“Com a ascensão do partido Blanco ao poder, em 1892, os conflitos entre
brasileiros e uruguaios tornaram-se mais intensos.” (p. 392).
“Em 1863 teve início outra guerra civil no Uruguai. Os partidos Blanco e
Colorado eram os grandes protagonistas [...]. Essa guerra civil, como sempre,
também envolvia interesses brasileiros e argentinos, só que, ao contrário do que
geralmente acontecia, os interesses dos dois países convergiram no apoio aos
colorados.” (p. 392).
“A ação brasileira e o apoio dado aos colorados no Uruguai irritaram o
governador paraguaio que se havia oferecido para mediar diplomaticamente a
situação. O desdém pela oferta paraguaia foi considerado uma afronta pelo
ditador López, que anteriormente havia mediado com sucesso a guerra civil
argentina.” (p. 393)
“A ascensão de Bartolomeu Mitre (1821 – 1906) como presidente da República
Argentina unificada permitiu a implementação de programa de modernização”.
(p. 393)
“Paralelamente, do outro lado da fronteira, a reintegração da província do Rio
Grande do Sul ao império (em 1845) restaurou a capacidade interventora
brasileira no rio da Prata.” (p. 393).
“Mesmo levando em conta que os processos de construção do Estado nacional
no Brasil e na Argentina estivessem ainda bem longe de completa integração,
ambos os países eram nações muito mais estáveis na metade da década de 1860
do que haviam sido até então.” (p. 393/394).
“O governo paraguaio preconizava o respeito ao equilíbrio de poder na bacia do
Prata. O desprezo brasileiro foi visto como afronta a esse equilíbrio, só passível
de ser respondida pela guerra. Nesse cálculo, o governo paraguaio contava com
o apoio de alguns caudilhos e também com o suporte de oligarquias dissidentes
que se opunham a Buenos Aires. [...] O problema com esses cálculos é que
estavam baseados na situação internacional anterior, não levando em
consideração as modificações ocorridas na região, que diminuíram as
possibilidades de apoio dos paraguaios em caso de guerra.” (p. 394).
Repercussões
“O regime ditatorial de López, sai economia dirigida de forma centralizada e a
composição racial predominantemente indígena daquele país eram contrastadas
à imagem do sistema político imperial (simbolizada pela monarquia
constitucional existente no império), a sua economia baseada na agricultura de
exportação e as suas potencialidades demográficas. Tal visão reforçava a missão
civilizatória do governo imperial” (p. 396/397).
“Nesse páthos enraizavam-se tanto a repulsa pela invasão sem declaração prévia
de guerra quanto o senso de pertencimento a um recorte territorial cuja
consolidação datava de apenas duas décadas.” (p. 397).
Recrutando Voluntários
“Mesmo considerando-se as exceções a essa perspectiva, parece correto dizer
que o recrutamento recaía sobre aqueles indivíduos que figuravam no grupo dos
pobres desprotegidos.” (p. 398).
“Durante a maior parte do século XIX o serviço militar era considerado
atividade brutal e perigosa, adequada apenas aos indivíduos vistos como
socialmente indesejáveis. Esse serviço possuía implicações penais, dado o
caráter disciplinar de sua ação sobre os indivíduos considerados
desclassificados, apartando-os do restante da sociedade por longos períodos.” (p.
398).
“Percebendo o clima propício criado pela invasão paraguaia, as autoridades
procuraram tirar proveito da situação, criando estruturas que facilitassem a
rápida ampliação do Exército.” (p. 399).
“Motivava-os também a promessa de terras, empregos públicos e pensões, feita
aos Voluntários da Pátria.” (p. 399).
“Por volta de junho de 1865 as condições operacionais eram precárias, pois os
soldados paraguaios encontravam-se pessimamente uniformizados, não havia
casacos, nem linhas regulares de suprimentos.” (p. 399).
A Invasão do Paraguai
Resistindo ao Recrutamento
“A campanha mostrava-se longa e difícil. [...] o aumento do número de
justificativas para as isenções e a diminuição do contingente voluntário.” (p.
401).
“O problema surgiu quando o governo imperial designou guardas de províncias
não fronteiriças para atuar fora do país por período dilatado.” (p. 403).
“Ao transferir corpos da Guarda para o front externo e subordiná-los ao
Exército, o governo imperial interferia diretamente na autoridade desses
homens” (p. 403).
“Se a intenção inicial era transformar o Exército, pelo voluntariado, em espaço
mais digno, a massificação operada pelo recrutamento teve efeito muito
diferente do esperado, denegrindo a posição dos trabalhadores pobres e livres,
que viam crescentemente seu status igualado ao dos demais recrutas,
considerados ralé.” (p. 404).
“Para aqueles obrigados a servir, uma primeira opção era a oferta de substitutos,
livres ou libertos. Logo um mercado de substitutos começou a operar em
diferentes províncias, recurso, porém, que só servia para quem pudesse pagar,
reforçando a visão da guerra do homem rico sustentada pela luta do homem
pobre.” (p. 405).
Caxias
“Com o afastamento de Bartolomeu Mitre, o comando das tropas da Tríplice
Aliança passaria para o marquês de Caxias (1803 – 1880).” (p. 408).
“Era um general político, capaz de coordenar as operações entre os três exércitos
da Aliança; mas era também um problema para o funcionamento do sistema
político do império, sendo adversário do gabinete no poder.” (p. 408).
“O que se pretendia era a reorganização do Exército como espaço apartado das
influências proporcionadas pelas lutas políticas da sociedade.” (p. 409).
Drenando Recursos
“A necessidade de ampliação dos gastos públicos comprometia a capacidade do
governo de planejar e controlar com adequação as despesas.” (p. 410).
“Fato é, no entanto, que a guerra não dinamizou a capacidade industrial do país
nem melhorou sua infraestrutura de transportes, adicionando muito pouco ao
desenvolvimento da economia.” (p. 410).
“Caxias utilizou-se de sua posição como comandante em período excepcional
para forçar a queda do gabinete progressista e a ascensão de um governo
conservador mais afinado com suas ideias e preferências.” (p. 411).
A Conquista do Paraguai
“O próprio Caxias propôs isso ao imperador, afirmando que seria perda de
tempo e de dinheiro insistir no que chamava de “uma guerra de postos”. O
imperador, entretanto, insistiu na tomada de Assunção e na deposição definitiva
do ditador.” (p. 412).
A Dezembrada
“Entre agosto e dezembro de 1868 o Exército brasileiro contornou as trincheiras
paraguaias pelo processo conhecido como “marcha de flanco”. [...] Esse
movimento permitiu que no final de 1868 um conjunto de batalhas fosse travado
perto de Assunção, desimpedindo o acesso por terra à capital paraguaia.” (p.
412).
“Apesar das derrotas, Solano López escapara dos brasileiros e continuava no
comando de tropas sobreviventes. Contrariando as expectativas do comando
aliado, o ditador paraguaio decidiu prosseguir a guerra, apesar de todas as
evidências de que sua causa estava perdida.” (p. 413).
Conclusões
“A partir de então, a memória do conflito seria manipulada de várias formas,
atendendo aos interesses imediatos de uma historiografia patriótica (que
prevaleceu até o final dos anos 1950), quanto a visões alternativas, construídas
por intelectuais críticos da forma como o poder político era exercido durante a
ditadura militar.” (p. 419).