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INSTITUTO LATINO-AMERICANO DE ARTE CULTURA E

HISTÓRIA (ILAACH)

ARQUITETURA E URBANISMO-
HISTÓRIA DA FRONTEIRA TRINACIONAL

A GUERRA DA TRÍPLICE ALIANÇA E SUAS


CONSEQUÊNCIAS.

ALEXANDRO A. D. SIDOR

LEANE TESSARO DE ARAUJO

Foz do Iguaçu
2022
INTRODUÇÃO:

Na metade do século XIX, ocorreu entre os países Paraguai, Brasil, Argentina e


Uruguai a Guerra da Tríplice Aliança, que é considerada um dos maiores conflitos da
América do Sul e traz uma série de ressentimentos até os dias atuais, principalmente entre a
população paraguaia. No Paraguai, a Guerra é vista como um marco histórico-cultural
extremamente importante para o país, completamente o contrário do que ocorre no Brasil, já
que o período é ignorado pela população propriamente dita e também na didática escolar.
Enquanto no Paraguai a Guerra ganha papel de destaque, as escolas brasileiras
subordinam a história da Guerra à sua própria história, destacando o heroísmo dos militares
brasileiros nas vitórias em batalhas, como a Batalha Naval do Riachuelo (11 de junho de
1865) e retratam figuras como Duque de Caxias, General Osório e Almirante Barroso como
grandes figuras de exemplo patriótico. O Brasil é retratado como vítima do ditador Solano
López, que teria sido o responsável pelo início da Guerra, e a partir disso o país estaria em
conflito direto não contra a nação paraguaia, mas sim contra seu representante. Nesse
contexto de ódio, o Brasil assume também uma imagem de defensor do país vizinho, “(...)
tendo o exército imperial, em nome de D. Pedro II, “cumprido com sua missão” ao “libertar o
Paraguai do governo de um tirano”(...)” (SQUINELO, 2008).
Porém, durante o período ditatorial brasileiro surge uma vertente marxista que acaba
causando uma inversão de papéis, expondo o Paraguai como a verdadeira vítima da Guerra, e
condenando o Brasil por sua conduta durante o conflito. Essa nova historiografia ficou
conhecida como revisionista, que tinha como objetivo revisar o ocorrido no período da Guerra
da Tríplice Aliança e criticar o genocídio paraguaio feito pelos países que compunham a
aliança. A partir disso, o novo real culpado pela Guerra seria o cenário comercial
internacional e sua principal potência: a Inglaterra.
O país, sendo a principal base de economia mundial, possuía boas relações comerciais
com Brasil, Argentina e Uruguai, e ao deparar-se com a grande autosustentabilidade
paraguaia, sentiu-se ameaçada economicamente, pois temia que os demais países
Sul-Americanos usassem o desenvolvimento do Paraguai como exemplo e cortassem relações
com a Inglaterra, dessa forma, a única saída encontrada fora jogar tais países contra o país
guarani a fim de desestabilizar o mesmo.
AS CONSEQUÊNCIAS DE UMA GUERRA:

A partir dos conflito ocorrido após 1864, os paraguaios acabam criando um certo
ressentimento pelos fatos ocorridos durante a Guerra e também pela forma como o país foi
retratado por anos, criando assim um forte sentimento nacionalista responsavel por vários
conflitos entre o povo paraguaio e brasileiro até os dias de hoje. Vários acontecimentos que
ocorreram acabaram trazendo à tona esses ressentimentos como, por exemplo, o anúncio da
construção de uma ponte que ligaria a cidade brasileira de Foz do Iguaçu a cidade paraguaia
de Puerto Presidente Stroessner (atual Ciudad del Este), neste período os paraguaios
reivindicavam e defendiam o papel que seus governantes desempenharam na Guerra em
defesa de seus territórios e por isso viam com grande insatisfação a aproximação do atual
governo do Presidente Stroessner com o governo brasileiro sob o pretexto da amizade e do
progresso entre as duas nações.
Esse feito acabou aumentando o nível do patriotismo nos dois países de instauração da
ponte, fazendo com que a fronteira se tornasse um espaço de tensão e crescimento de
preconceitos, tais como a xenofobia. É comum ver brasileiros utilizando palavras guaranis de
forma pejorativa, na mesma medida em que os paraguaios ressignificam palavras de origem
brasileira de forma a ofender e humilhar. Ao mesmo tempo em que paraguaios taxam
brasileiros de invasores por se apropriarem de seus territórios, brasileiros se auto proclamam
superiores e espalham mentiras sobre a capacidade intelectual e trabalhista da população
paraguaia com o objetivo de manipulação do pensamento das massas em seu favor.
Os chamados “brasiguaios”, que são em sua maioria filhos de brasileiros que
migraram para o Paraguai em busca de territórios, se tornam assim um elemento fortalecedor
de nacionalismos, pois fomentam discursos políticos com narrativas e termos para diferenciar
e denominar "nós" e "outros". Também no contexto “brasiguaio”, entra em questão o
deslocamento de brasileiros para a região leste do Paraguai, que em nome da expansão
econômica, da modernização de setores capitalistas e ocupação demográfica dos chamados
"espaços livres", acaba entrando em conflito com as minorias excluídas dessa frente
expansionista, que são as comunidades campesinas e indígenas.
AS CONSEQUÊNCIAS DA GUERRA NO ENSINO BRASILEIRO:

Ao analisar o livro didático de história: "História 2: Capitalismo em marcha:


liberalismo, nacionalismo, imperialismo", pode-se observar claramente o exposto
anteriormente em relação a forma como a história da Guerra da trìplice Aliança é retratada e
ensinada nas escolas. O livro em questão trás apenas uma breve apresentação deste
acontecimento e de forma totalmente subordinada a história brasileira ao integrar o assunto no
capítulo 13: o colapso da monarquia brasileira, o livro destina um total de apenas cinco
páginas para contar um acontecimento que perdurou por 5 anos de batalhas.
A história é apresentada a partir de uma contextualização do cenário político vivido no
Uruguai naquele período, na sequência trazendo como estopim dos conflitos o
descumplrimento brasileiro a um ultimato dado pelo Paraguai ao império de que não
interviesse no Uruguai, após esse descumprimento então o Paraguai invade a província de
Mato Grosso e o livro então refere-se ao país como um país “disposto a se afirmar como
potência regional …”(VAINFAS; FARIA; FERREIRA; SANTOS, 2016) do outro lado o
Brasil é apresentado como “a principal contribuição para o esforço de guerra…” (VAINFAS;
FARIA; FERREIRA; SANTOS, 2016).
Dois pontos positivos que se destacam no livro analisado são os espaços destinados a
apresentar a participação das mulheres na Guerra do Paraguai (como é apresentado no livro) e
também um espaço intitulado “conversa de historiador” que trás um outro ponto de vista
sobre esse acontecimento histórico e indaga aos discentes sobre quais seriam os interesses da
Grã-Bretanha nesta Guerra. O livro também traz uma ilustração da obra de Pedro Américo
que representa a Batalha do Avaí, a obra encomendada pelo Império brasileiro retrata a
batalha trazendo no ponto de destaque da obra o Duque de Caxias representando o Estado
Imperial montado em seu cavalo vestindo sua farda apontando para o centro da tela onde se
concentra o conflito, tal qual como um grande herói.
Batalha do Avaí, Pedro Américo (1872-1879).
Fonte: Wikipédia.
REFERÊNCIAS:

ALBUQUERQUE, José Lindomar C. A dinâmica das fronteiras: deslocamento e


circulação dos “brasiguaios” entre os limites nacionais. Horizontes Antropológicos, Porto
Alegre, ano 15, n. 31, jan.-jun. 2009.

VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila de Castro; FERREIRA, Jorge; SANTOS, George Regina
dos. História 2: capitalismo em marcha: liberalismo, nacionalismo, imperialismo. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2016. 273 p. Disponível em:
https://api.plurall.net/media_viewer/documents/2597280. Acesso em: 24 nov. 2022.

GOES, Andrew Cesar de; SOUZA, Éder Cristiano de. A GUERRA DO PARAGUAI EM
MANUAIS DIDÁTICOS: fontes para análise da cultura escolar e da cultura histórica.. 2018.
18 f. Monografia (Especialização) - Curso de História - Licenciatura, Universidade Federal da
Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2018. Disponível em:
https://dspace.unila.edu.br/bitstream/handle/123456789/4187/78022.pdf?sequence=1&isAllo
wed=y. Acesso em: 25 nov. 2022.

SILVA, Paulo Renato da; DIAS JÚNIOR, Waldson de Almeida. O “PROGRESSO” E A


“FALTA”:: representações e relações brasil-paraguai no jornal o globo durante a construção
da ponte da amizade (1956-1965). Revista Territórios & Fronteiras, Cuiabá, v. 12, n. 2, p.
7-32, ago./dez. 2019. Semestral.

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