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Ensaio para a disciplina eletiva "Formação Política da América Latina" ministrada pelo Prof.
Dr. Marcial A. Garcia Suarez
Niterói
2022
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um Brasil monárquico, tendo a sua força expressa pela integridade territorial e a soberania
portuguesa. Assim, o regime republicano dos demais países da América Latina era consi-
derado uma “desordem” política e a própria separação dos antigos vice-reinos em países
distintos era algo extremamente mal-visto pelos intelectuais brasileiros do período. Essa
divergência política foi uma das justificativas para Dom João VI exercer uma campanha
expansionista na região da Cisplatina, disputada por Brasil e Argentina. Essa disputa conti-
nuou até o reinado de Dom Pedro I, tendo acabado com a derrota de ambos os países e
com o surgimento de uma nova nação, o Uruguai. Como demonstra Prado, esse conflito
evidenciou as críticas sobre os regimes políticos tanto na Argentina quanto no Brasil:
A guerra demonstrava que Buenos Aires continuava com suas aspirações de
formação da “Grande” Argentina. Um dos argumentos em defesa da guerra contra
o Brasil se baseava na associação entre a falta de respeito pelos direitos individuais
e o regime monárquico. O jornal de Buenos Aires, Nacional, caracterizava a
guerra como um conflito entre monarquia e república, anunciando para breve o
desmoronamento do império brasileiro. Associava a ideia de liberdade ao regime
republicano, indicando o “caráter” europeu e anti-americano do sistema político
brasileiro. Em oposição, a república significava o rompimento com a Europa e
marcava a dimensão de uma identidade americana presente em seu país.
As constantes referências depreciativas ao Imperador enfatizavam o fato de ele
ser europeu e consequentemente anti-americano (‘déspota luso-brasileiro’, ‘tirano
europeu’, ‘o Nero do Continente Americano’), sendo comparado a Fernando VII
como inimigo da América e ao execrado Agustín do México, ‘tirano’ e ‘usurpador’. A
guerra, então, se fazia contra o Imperador, e não contra o Brasil ou contra os Povos
do Brasil que, em sendo americanos, teriam a mesma causa que os republicanos.
(PRADO, 2001)
Com isso, como afirmado por Gehre, houve uma construção da identidade sul-
americana, o que culminou na defesa de uma integração social, política, econômica, cultural
e militar entre esses países, a criação do Mercado Comum do Sul (Mercosul) foi uma das
grandes representações desse contexto. Essa política de aproximação entre os países da
América do Sul teve iniciou no governo de Fernando Henrique Cardoso, tendo se fortalecido
a partir do governo de Luís Inácio Lula da Silva. Todavia, essa tentativa diplomática foi
marcada por muitas dificuldades, sendo uma das principais delas, a posição hegemônica
do Brasil enquanto “líder” dessa união aduaneira, o que gerou alguns conflitos entre esses
países.
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(PRADO, 2001)
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Referências
PRADO, M. L. O Brasil e a distante América do Sul. Revista de História, São Paulo, v. 15,
n. 145, p. 127 – 149, Janeiro/Junho 2001.