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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHOHA E MUCURI

HISTORIA DA AMERICA III


PROFESSOR: CAIO PEDROSA DA SILVA
ATIVIDADE A DISTANCIA
WILLIAM GOMES DE FARIA RIBEIRO

QUESTÃO 1 –

Para começar a elaborar essa comparação devemos antes de tudo destacar que se
tratam de abordagens historiográficas amplamente distintas. Dessa forma, iremos
primeiro falar de cada uma delas separadamente para facilitar a compreensão de suas
especificidades e então partir para uma análise comparativa. Começando por Lynch,
usaremos como base o primeiro capítulo da obra: “Las Revoluciones
Hispanoamericanas 1808-1826” publicado em 1986.

John Lynch foi um historiador britânico considerado uma autoridade em História


da Espanha e principalmente nas independências da América Espanhola. Sua
abordagem traz uma visão mais tradicional da historiografia, apresenta uma análise
focada nas questões políticas e econômicas de escala maior. No texto que iremos nos
basear Lynch se propõem a explicar “As origens das nacionalidades Hispano-
americanas”.

Lynch procura defender a visão de que a formação da identidade nacional na


América Espanhola precede os processos de Independência, ele afirma que as
“revoluções pela Independência” nestes países são o resultado da tomada de consciência
dessa nacionalidade, somada a fatores políticos e econômicos que produziram um
momento de fragilidade da metrópole e propiciou a ação dos Americanos e sua vitória.

Sobre os citados fatores políticos e econômicos, o autor fala a respeito de


questões ligadas ao comércio ao comércio entre a América e as potencias europeias.
Segundo ele a exploração econômica imposta pela coroa gerava insatisfação entre os
americanos e este fator acabou contribuindo na formação da identidade nacional
ressaltando e acirrando as diferenças entre Americanos e Europeus e facilitando a
tomada de consciência e identificação nacional.
As invasões napoleônicas no começo do séc. XIX teriam fragilizado a Coroa
Espanhola e produzido o momento oportuno para o fortalecimento das elites Criollas e
consequentemente a culminação dos processos de Independência na América. Essa seria
a argumentação do autor John Lynch exposta de maneira drasticamente resumida.

“Las peticiones de cargos públicos y de seguridad expresaban uma


consciência mas profunda, um desarrollado sentido de laidentidad, una
convición de que los americanos no eran espanoles. Este presentimiento de
nacionalidade sólo podia encontrar satisfaccion em la independência. Al
mismo tempo que los americanos empezaban a negar la nacionalidade
espanola se sentían conscientes de as diferencias entre sí mismos.” (Lynch,
1976. P.35)

Iremos agora falar sobre o autor François-Xavier Guerra. Em seu texto “A nação
na América Espanhola: a questão das origens” publicado em 1999, o autor traz uma
espécie de revisão acerca das principais interpretações historiográficas sobre as origens
das nações na América Espanhola. Sua argumentação se aprofunda em diversos temas
ligados a questão, a identidade, cultura, nacionalidade, nacionalismo, etc.

Entretanto, o ponto central no texto de Guerra são os questionamentos dirigidos


as interpretações nas quais a independência na América Espanhola e a formação dos
Estados seriam consequência natural da formação preexistente de uma nação. Guerra
questiona a existência de uma identidade coletiva prévia e afirma que a formação dos
Estados-Nações são um ponto de partida para a construção das identidades nacionais e
dos nacionalismos e não uma consequência da preexistência deste em determinado
território político.

“O caráter teleológico desta interpretação é evidente; ele repousa sobre uma


confusão semântica entre um dos sentidos políticos do termo “nação”- ser um
Estado sobrano – e de um dos seus sentidos culturais – ser uma comunidade
humana dotada de uma identidade singular. Só a necessidade imperiosa de
consolidar países instáveis e de conforma-los ao modelo de Estado-Nação
que trinfava então na Europa explica que os autores de história pátria (a
história de cada uma das nações latino americanas) tenham se esforçado a
fazer da independência o coroamento, por assim dizer, natural e inelutável da
preexistência da nação. Tudo mostra, ao contrário, que esta não é um ponto
chegada, mas um ponto de partida. A independência precede tanto a nação
como o nacionalismo. ” (Guerra, 1999. P.01)

Para tecer uma comparação entre as duas interpretações devemos ter em mente
que o ponto central que difere as duas é a questão: A formação dos Estados-Nações na
América Espanhola é uma consequência da preexistência de uma identidade coletiva ou
é um ponto de partida para a construção dessa identidade?
Para Lynch, a resposta seria a primeira. O autor se esforça para encontrar no
período pré-independencia elementos que reforçam sua percepção de que essa
identidade coletiva já era presente entre os povos da América. Já o autor Guerra
considera que os valores ligados a nacionalidade no período pré independência não são
o suficiente para configurar uma unidade cultural que caracteriza uma nação.

Concluindo, é importante ressaltar que a interpretação exposta por François-


Xavier Guerra pode ser considerada mais atual, estando alinhada as interpretações que
hoje possuem maior fundamentação. A versão trazida por John Lynch é considerada
ultrapassada devido as inúmeras evidências que fortalecem a perspectiva alinhada as
ideias de Guerra.

Referência: GUERRA, François-Xavier. A nação na América espanhola: a


questão das origens. Revista Maracanan, v. 1, n. 1, p. 09-30, 1999.

LYNCH, John; ALFAYA, Javier; MACSHANE, Barbara. Las revoluciones


hispanoamericanas: 1808-1826. Ed. Ariel, 1976.

QUESTÃO 2 –

O documento escolhido para análise se trata do “Programa do Partido Liberal”.


Este apresenta o programa do partido liberal mexicano, produzido pela junta
organizadora do partido e publicado no ano de sua fundação (1906). Dentre os autores
se encontram alguns dos nomes mais celebres da revolução mexicana, como os irmãos
Flores Magón.

“Todo partido político que lucha por alcanzar influencia efectiva


em la dirección de los negócios públicos de su país esta obligado
a declarar ante el Pueblo, em forma clara y precisa, caules son
los ideales por que lucha y zuál el programa se propone llevar a
la prática, em caso de ser favorecido por la victoria” (p.63)
O texto busca sintetizar os princípios, interesses e aspirações do partido. Dessa
forma, os autores se preocuparam em expressar os princípios da ideologia liberal que
fundamenta o partido e principalmente divulgar seu posicionamento em relação ao
contexto no qual se encontravam neste período. De acordo com os estudiosos da
Revolução Mexicana, a primeira década do século XX foi marcada por crises que
agravaram os problemas sociais e econômicos existentes no México e assim se
fortaleceram os movimentos de oposição à ditadura de Porfírio Diaz. “El partido liberal
lucha contra el despotismo reinante hoy em nuestra pátria, y seguro como está de
triunfar al fin sobre la ditadura” ( p.64).

Neste contexto se encontra a fundação do Partido Liberal que se deu a partir da


reorganização de membros de antigas organizações liberais e/ou que se opunham ao
governo de Diaz. O documento expressa de forma explicita a oposição a Porfirio Diaz,
apontando a relação entre a forma com que ele governava e os problemas vividos pela
população em consequência da exploração e opressão impostas pela ditadura. Para os
liberais a maior parte desses problemas tinha como causa principal o sistema político
autoritário e o atraso perpetuado por este.

A solução então seria combater a ditadura e promover reformas de cunho liberal,


trazendo assim o chamado progresso e seus benefícios para os mexicanos. Dentre os
temas abordados no programa devemos citar como principais a forte desigualdade
socioeconômica e as questões relacionadas a liberdade e direitos individuais e políticos.
De acordo com os autores, no período que compreende o final do sec. XIX e início do
XX a desigualdade vinha se fortalecendo e as camadas populares estavam em grave
situação de pobreza, a miséria crescia e muitos trabalhadores não recebiam o suficiente
para as mínimas condições de sobrevivência.

“ Um gobierno que se preocupe por el bien efectivo de todo el


Pueblo nó puede permanecer indiferente ante la importantíssima
cuestión del trabajo. Gracias a la dictadura de Profirio Diaz, que
pone el poder al servicio de todos los exploradores del Pueblo,
el trabajador mexicano há sido reducido a la condición más
miserable; em dondequiera que presta sus servicios, es obligado
a desempeñar uma dura labor de muchas horas por un jornal de
unos cuantos centavos.” (. P. 71)
Os liberais acusam a ditadura de utilizar de formas de governo autoritárias para
privilegiar as classes dominantes, contribuindo para a extrema exploração dos
trabalhadores. Eles expõem algumas propostas para este problema, que consistem na
atuação do Estado e na elaboração de reformas que garantam condições melhores para
as classes menos abastadas. A principal proposta neste sentido consiste na questão da
terra e dos direitos dos trabalhadores do campo. Estes, sem o acesso direito a terra se
encontravam em situação de miséria, que era negado pelo governo Diaz, e por isso o
programa defende reformas que garantam esse acesso.
O programa apresenta também muitas críticas ao modelo autoritário de Diaz e
como este é usado na perpetuação de privilégios característicos dos regimes
“ultrapassados” e faz a defesa da democracia e de valores liberais, como a igualdade de
direitos políticos e a valorização da liberdade individual. Um dos pontos de destaque
neste sentido é a defesa da separação entre Estado e Igreja, os autores direcionam duras
críticas à forma como essas instituições se relacionavam até o momento e mostram
como o poder exercido pela igreja era prejudicial a sociedade, simbolizando o atraso.
Eles propõem, dentre outras coisas, a extinção das escolas eclesiásticas e sua
substituição por escolas laicas.

Contudo, podemos dizer que este documento possui características de um texto


“panfletário”, ou seja, feito para difundir os principais pontos formadores da ideologia
do Partido Liberal entre os grupos que participavam das discussões políticas do México.
Dentre estes pontos podemos ver a presença de princípios do Liberalismo, entretanto o
que mais chama a atenção é a forma com que estes princípios são adaptados ao contexto
mexicano. O programa de fundação do partido consiste em uma espécie de manifesto de
oposição a ditadura de Porfirio e Diaz e a formulação das propostas que o partido
pretendia colocar em prática caso alcançasse os espaços de poder. “ El programa, sin
duda, nos es perfecto: no hay obra humana que lo sea; pero es benéfico y, para las
circunstancias acuales de nuestro país, es salvador.” (P.87)

Referência: GARCIADIEGO, Javier et al. Textos de la revolución mexicana.


Biblioteca Ayacucho, 2010.

QUESTÃO 3 A –

A revolução de São de Domingos possui algumas especificidades que a distingue


das demais no mesmo período. Ela teve sua origem a partir da organização dos negros
escravizados, que mesmo sob forte repressão de seus senhores aproveitavam as
oportunidades de encontros para compartilhar informações e darem início a
conspiração. O objetivo era exterminar os brancos e tomar a colônia para si. (JAMES,
1938).
Nas demais revoluções do mesmo período, como por exemplo a Revolução
Francesa, as origens dos movimentos e ideários revolucionários surgem a partir da
influência de pensadores e intelectuais e da organização da camada burguesa. Estas
protagonizam todo o processo revolucionário, da formação inicial dos movimentos
revolucionários até a formulação das mudanças que se desejam pôr em pratica após o
processo de revolução. Ocupando as altas posições e os espaços de tomada de decisão,
limitando a participação das camadas mais baixas.

Além disso, houve também ampla participação de demais grupos das camadas
mais baixas, os mulatos e brancos pobres. Outros processos revolucionários contaram
também com a participação de diversos grupos de diferentes camadas sociais,
entretanto, no caso de São Domingos estes grupos participaram como parte das
principais forças envolvidas no processo. Outra questão importante é a forma como as
forças organizadas pelos negros e mulatos atuaram durante o processo.

Primeiro os negros se organizaram e atacaram os senhores e suas fazendas na


porção norte da ilha. Em seguida os confrontos se estenderam e as forças formadas
pelos negros e mulatos entraram em conflito direto com as forças oficiais. Ocorreram
confrontos e alianças formadas com forças enviadas da França, Espanha e Inglaterra. O
principal nome da Revolução, Toussaint L’Ouverture liderou as forças revolucionarias a
vitória sobre os contrarrevolucionários. A forma como os negros e demais grupos
bateram de frente com as forças oficiais e saíram vitoriosos pode ser considerada mais
uma especificidade.

“ A Revolução, diz Karl Marx, é a locomotiva da História. Eis aqui uma


locomotiva que havia trabalhado numa velocidade surpreendente, pois em
abril de 1792, nem bem passados três anos da queda da Bastilha, os patriotas
brancos de Porto Príncipe estavam sendo sitiados por um exército combinado
de comandantes realistas, fazendeiros brancos, mulatos de pele castanha e
escravos negros, todos voluntários e, por enquanto, livres e sócios
igualitários. Sem dúvida a maioria dos ricos estava apenas esperando o
restabelecimento da ordem para colocar os escravos de volta em seus devidos
lugares, mas o simples fato de haver uma associação revolucionária e uma
igualdade temporária significava que o velho sortilégio estava quebrado e as
nunca mais seriam as mesmas. ” (p. 112)

A Revolução de São Domingos não rompeu totalmente com as estruturas sociais


estabelecidas, porém alcançou profundas mudanças, a abolição da escravidão e a
conquista de direitos para os mestiços, que são questões significativas até os dias atuais.
As transformações produzidas a partir deste processo foram de grande impacto, tendo
transformado de maneira concreta o modelo de sociedade após a Revolução.
Referência: JAMES, C. L. R. Los jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture y la
Revolución de Haití. 2003.

QUESTÃO 3 B –

“Porque Luís, Maria Antonieta e a Corte não foram razoáveis com os


revolucionários moderados, antes de 10 de agosto? De fato, por quê? A
monarquia na frança tinha de ser arrancada pela raiz. Os que estão no poder
jamais cedem e admitem a derrota apenas para tramar e conspirar para
reconquistar seu poder e seus privilégios. Se, na França, a monarquia fosse
branca, os burgueses mestiços e as massas, negras, a Revolução Francesa
teria sido registrada na História como uma guerra de raças. Mas, embora na
França fossem todos brancos, lutaram do mesmo modo. A luta de classes
termina ou na reconstrução da sociedade ou na ruína comum das classes em
luta. A Revolução Francesa assentou as bases da França moderna. O país,
como um todo, era forte o suficiente para aguentar o choque e beneficiar-se
dele, mas a sociedade escravocrata de São Domingos era tão corrupta e podre
que não poderia aguentar nenhuma pressão e pereceu como merecia perecer.
” (JAMES, 1938. p. 128)

O autor C.L.R. James aborda a Revolução de São Domingos a partir de uma


perspectiva fortemente influenciada pela ideia de Luta de Classes. Ao longo do texto ele
demonstra esse pensamento em diversos momentos, o trecho escolhido sintetiza boa
parte da sua interpretação, trazendo alguns dos principais pontos expostos pelo autor.

James defende a ideia de que a Revolução deve ser entendida como uma
consequência natural da luta de classes. Como ele demonstra no trecho exposto, a
dominação e uma classe sobre a outra só pode ser vencida através da luta. Os
dominados então se organizam para enfrentar o poder exercido pelos dominadores. No
caso de São Domingos, os negros escravizados se organizaram e deram início ao levante
ao qual se juntaram outros grupos dominadas pela elite branca.

Ao longo do texto ele reforça essa visão, trazendo o processo revolucionário


como a luta entre oprimidos x opressores. James chama atenção para as condições de
vida dos escravizados, sendo este tratado como propriedade e sujeito as vontades de
seus senhores. Os castigos, humilhações e torturas que foram amplamente empregadas
durante o período da escravidão e a forma desumana e cruel com que os senhores
brancos tratavam os negros.

Ao falar sobre a violência empregada pelos revolucionários contra os senhores


brancos, o autor interpreta como uma forma de reação natural a violência que os
escravos haviam sofrido ao longo de todo o período da escravidão. Ele ainda chama
atenção para o fato de que mesmo durante o auge das ações violentas no processo
revolucionário, os negros não chegaram a usar da violência e do terror com a mesma
crueldade e desumanidade que os brancos praticavam.

Concluindo, os pontos centrais da argumentação de James estão relacionados ao


elemento da luta de classes como modelo interpretativo do processo de revolução e a
importância que o protagonismo dos negros, sendo esses a classe mais baixa daquela
estrutura social tem para a consolidação de uma Revolução.

Referência: JAMES, C. L. R. Los jacobinos negros: Toussaint L’Ouverture y la


Revolución de Haití. 2003.

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