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Aluno: Caio Brollo Fernandes

DRE: 118143156
Disciplina: América II
Docente: Juliana Beatriz
1) Analise os processos de independência das Treze Colônias Inglesas,
de São Domingos francês e da América Espanhola, utilizando o conceito de
revolução moderna. Em sua resposta, indique, baseando-se nas referências
bibliográficas, quais processos entende como revolucionário e as razões para
esse entendimento.

O conceito Revolução é um tema bastante discutido por diversos


historiadores e pesquisadores do campo social. Para Pasquino, por exemplo, a
revolução moderna se dá por meio da violência com propósito exclusivo de
modificar a esfera política de uma determinada região. Para o autor, não há
uma barreira geográfica quando se trata de ideais revolucionários. Os então
pertencentes da estrutura de poder em vigência vão usar além do exército,
armas políticas a todo vapor para desmantelar essa revolução e evitar o
desmembramento do status social a que nelas estão inseridas. A participação
popular é imprescindível para legitimar essa definição moderna e para dividir
em dois cenários que buscam o controle administrativo: Estado x Povo. O
Estado atacado luta pela manutenção do poder e o povo busca a derrubada
iminente desse poder. O quadro exposto pode durar anos ou dias dependendo
da força de cada lado. Sendo assim, a violência para Pasquino é essencial no
embate revolucionário pelo simples fato de ser o único jeito de destituir as
forças do Estado e implementar as profundas mudanças socioeconômicas,
jurídicas e políticas que almejam. Para Hannah Arendt, o uso da violência
também justifica o meio para o fim. A filósofa avalia a Revolução Americana
como um exemplo claro de que era necessário se permitir utilizar a violência
para se livrar de garras opressoras que suprimem o próprio povo e sua
liberdade.
Ao se tratar da Revolução Americana, é importante salientar a forte
identidade pró-metrópole que existia nas Trezes Colônias. A independência se
tornou um projeto não planejado inicialmente, pois de fato, não existia nada em
comum que pudesse ligar as colônias entre si para formar um Estado nacional
unificado. O autor destrincha que a luta dos colonos americanos era para
preservar a identidade britânica que eles se sentiam parte pois compartilhavam
a mesma religião, sistemas judiciários, a superioridade do comércio e a
liberdade. A intromissão política e o abuso fiscal realizado pela Inglaterra eram
vistos como um desrespeito e afastariam aos poucos essa identidade inglesa e
aproximaria a identidade provincial da colônia. Jack P. Greene discute que a
Revolução foi mesmo um produto da tentativa de preservação do resquício de
identidade britânica na qual eles ainda se sentiam pertencentes. Contudo, para
avaliar a Revolução Americana como projeto de revolução moderna basta
analisar as profundas mudanças em que nela ocorreu estruturalmente. A
gradual introdução do sistema judiciário, legislativo e executivo nas províncias,
a liberdade, desenvolvimento de uma Constituição e a abolição do controle
unilateral imperial metropolitano. Com base na violência oriunda do povo
insatisfeito com a estrutura anterior de poder, o Estados Unidos pode ser
considerado uma revolução moderna do século XVIII ao reformular seu
território social e político com participação da população.
Já a Revolução Haitiana, se mostrou mais sangrenta que as demais.
Perdurando por cerca de treze anos, os idealistas da ilha de São Domingos
foram fortemente influenciados pela Revolução Francesa e consequentemente
pelo Iluminismo. O historiador Eugene Genovese visualiza no primórdio da
revolta e nos movimentos quilombolas, uma busca restauracionista do modo
tradicional de vida africano. Na qual, os insurretos não almejavam de início
uma nova sociedade construída de uma revolução idealizadora com novas
funções e estruturas Estatais de formação hierárquicas públicas, e sim acabar
com a escravidão e a subjugação francesa. Logo nas primeiras semanas de
1791, se mobilizaram milhares de escravos na batalha violenta contra o
domínio francês. De acordo com a historiadora Carolyn Fick, os negros
escravizados influenciados pelos ideais iluministas lutavam pela sua liberdade
e os já libertos lutavam pela equiparação dos seus direitos com os dos
brancos. As pressões da Revolução Francesa e força do movimento haitiano
foram tão grandes que o governo francês foi obrigado a abolir a escravidão em
todas as suas colônias em 1794.Toussaint, principal nome do evento, liderou
massacres em direção aos franceses e suas propriedades na ilha em prol da
manutenção da luta pela independência e queda da estrutura política. Após sua
prisão, seu aliado Jean-Jacques Dessalines assume a liderança e consagra
Haiti um país independente em 1804. Assim, se tornando o primeiro país
independente a ser revolucionado por escravos na América. Portanto, a
Revolução Haitiana1 se encaixa perfeitamente na denominação de revolução
moderna, inclusive, sendo palco de uma luta incessante de caráter sangrento
pelo controle social e administrativo do país com participação efetiva da
população.
Por fim, a Revolução da América Espanhola. Segundo Mansilla, a
independência hispano-americana quebra os laços profundos que a América
tinha com a Espanha. Muito se deu pelo liberalismo que assolava a Espanha, o
crescimento de Napoleão, os iluministas e o sucesso da Revolução do Estados
Unidos. Os ideais de revoltas já estavam em seu estado inicial, quando
mestiços, índios e mulatos estavam insatisfeitos com as condições miseráveis
de trabalho. O autor salienta a importância da revolução, mesmo não
conseguindo fielmente, em querer desassociar completamente os ideais
antigos de poder da sociedade nova em formação. Assim, é apresentado pelo
autor que a transformação social foi de grande impacto devido aos novos
atores na política, principalmente para os indígenas que perderam seus
privilégios de propriedade e começaram a ser tributados. Os criollos, elite da
colônia espanhola, são os responsáveis pelo caminho liberal inicial da

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“Es, necesario por medio de un acto definitivo de autoridad nacional, asegurar para
siempre el imperio de la libertad en el país que nos vio nacer; es necesario arrancar al
gobierno inhumano que mantiene desde hace tanto tiempo a nuestros espíritus en el
letargo más humillante, toda esperanza de dominarnós; es necesario, en fin, vivir
independientes o morir.” (Acta de Independencia de Haiti y proclama, 1804, p.85)
independência espanhola na América em 1808. Os mesmos dissolvem a
estrutura antiga de poder, ou seja, a Coroa e seu corpo de funcionários são
destituídos. Já na obra de François Xavier Guerra, a abordagem se dá pelo
efeito que a revolução teve no âmbito social americano. O trajeto da
independência liderado por Simón Bolívar e José de San Martín trouxe consigo
poucas mudanças estruturais de caráter social e político já que a elite se
manteve no poder durante e depois do processo. Por mais que a
Independência da América Espanhola se diferencie das Revoluções do Haiti e
do Estados Unidos pelo fato da liderança revolucionária ser composta
exclusivamente pela elite na substituição do corpo político, essa revolução
ainda é considerada uma revolução moderna devido a participação popular no
processo revolucionário e também pela dissolução da anterior estrutura política
monárquica de poder que envolvia o pacto colonial da Coroa Espanhola sobre
a América.

BIBLIOGRAFIAS:
GUERRA, François-Xavier. Modernidad e independencias. Ensayos sobre las
revoluciones hispánicas. México: Fondo de Cultura Económica, 1993.
Introducción: Un proceso revolucionario único, p. 11 – 18; Dos años cruciales,
p. 115 – 148
MANSILLA, Ronald Escobedo. Cambio y continuidad en la sociedad
hispanoamericana del siglo XIX,1995. p.29-44.
PASQUINO, G. Revolução. In: BOBBIO, N., MATTEUCCI, N., PASQUINO, G.
(orgs.). Dicionário de política. 5a ed. Brasília/Edunb, 1993. v. 2, p. 1121 – 1131.
ARENDT, H. Da revolução. São Paulo: Ática, 1990. O significado da revolução,
p. 17 - 46.
GREENE, Jack P. Identidades dos estados e identidade nacional à época da
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Nacionalismo no Novo Mundo. SP/RJ: Ed. Record, 2008. p. 99 -125
THOMAS JEFFERSON: Uma Declaração dos Representantes dos Estados
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GENOVESE, E. Da rebelião à revolução. São Paulo: Graal, 1983. Momento
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FICK, Carolyn. Para uma (re)definição de liberdade: a Revolução no Haiti e os
paradigmas da Liberdade e Igualdade, Estudos Afro-Asiáticos, ano 26, n. 2,
2004, 355 – 380.
JEAN JACQUES DESSALINES: Acta de Independencia de Haiti y proclama,
1804, p.84-87.

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