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As independências

na América espanhola
Contexto da sociedade hispano-americana

• No contexto das independências americanas, a sociedade da América


espanhola era formada por nativos, escravizados, trabalhadores livres e uma
elite criolla.
• Muitos criollos temiam uma radicalização do movimento de independência, a
exemplo do que ocorreu no Haiti. Isso colocaria em risco sua posição de
prestígio, posses e seu domínio sobre a população nativa e sobre os
escravizados, além do risco de ampliar a participação popular nas decisões
políticas locais.
Os dois modelos e a influencia iluminista

• Desde o final do século XVIII, as ideias iluministas chegaram à América, alimentando o desejo de
independência nas colônias.
• Naquele momento, dois modelos de revolução se apresentavam: o norte-americano e o francês. Nos Estados
Unidos, as elites coloniais permaneceram no poder e mantiveram a escravidão, num processo de emancipação
sem mudanças radicais no âmbito interno. Na França, os revolucionários passaram por etapas mais radicais,
derrubaram a monarquia e fundaram um Estado sob controle da alta burguesia.
• Os grupos sociais menos favorecidos da América espanhola (povos nativos, escravizados de origem africana e
trabalhadores livres) identificavam-se com os ideais franceses de igualdade, fraternidade e autogoverno.
Muitos desses grupos propunham, além da separação entre colônia e metrópole europeia, a igualdade de direitos
entre os habitantes das terras americanas.
• Já os criollos (a elite) se dividiam: alguns queriam preservar as relações coloniais, outros desejavam autonomia
em relação à metrópole.
O caminho estadunidense

• Francisco de Miranda, líder criollo que atuou na independência da atual


Venezuela, expressou de forma clara o temor das elites em relação à
revolução:
“Temos dois grandes exemplos diante de nossos olhos: a Revolução Americana e
a Francesa. Imitemos discretamente a primeira e evitemos com muito cuidado os
efeitos da segunda. A Revolução Francesa é “como um monstro de democracia
extrema e de anarquia, que, se for admitida na América, destruirá o mundo de
privilégios […]”. WASSERMAN, Claudia. História da América Latina: cinco
séculos. Porto Alegre: UFRGS, 1996. p. 144.
O caráter da ruptura colonial

• Assim, quando as guerras de independência se iniciaram nas colônias


hispânicas, os criollos não se mobilizaram apenas contra o domínio
metropolitano, mas também contra as camadas populares, que desejavam
mudanças mais profundas na sociedade, e contra uma parcela da própria elite,
que desejava manter as estruturas da colonização e até mesmo preservar os
laços de subordinação colonial.
• Ou seja, embora a população tenha participado das mobilizações para a
independência, foi principalmente a elite criollas que conduziu
cuidadosamente esse processo, de acordo com seus interesses.
Criollo peruano em
cavalo de gala,
aquarela do século
XVIII extraída do
Códice Trujillo del
Peru, de Baltasar
Jaime Martínez
Compañón (1737-
1797).
Guerra civil e rompimento com a Espanha

• A invasão das tropas francesas na Espanha, em 1808, destituíram o rei Fernando VII, substituindo-o por José
Bonaparte, irmão de Napoleão. Esse evento teve repercussões diretas nas colônias hispano-americanas.
• A elite colonial da América espanhola, que não reconhecia José Bonaparte como soberano, transformou os cabildos
(câmaras municipais) em juntas governativas autônomas. Esses órgãos, até então controlados pelos chapetones
(espanhóis nomeados pela Coroa para administrar a colônia), foram assumidos, entre 1808 e 1810, por membros da
elite criolla, que começaram a impor seus interesses em prejuízo das antigas restrições metropolitanas.
Qual o caminho da independência ?

• Após assumir o governo, a elite criolla deparou com uma série de questões:
deveriam ou não romper com a metrópole? Atenderiam às reivindicações
populares mais radicais? Manteriam o sistema monárquico? Preservariam a
escravidão e o latifúndio? Dariam prioridade à cultura de subsistência ou à de
exportação?
• As divergências em relação a essas questões originaram um intenso confronto
entre os grupos sociais coloniais.
O papel Inglês nas independências

• A posição da Inglaterra oscilava em relação aos hispano-americanos, guiada por seus próprios interesses.
• Entre 1810 e 1814, em meio às revoltas, os colonos defensores da independência contaram com o apoio da Inglaterra, rival
de Bonaparte.
• Com a derrota de Napoleão na Europa, a Espanha reorganizou-se política e militarmente e buscou reprimir os movimentos
separatistas e recuperar o controle colonial. A Inglaterra, aliada da Espanha no Congresso de Viena, diminuiu seu apoio às
atividades pró-independência. Todavia, a partir de 1817, interessada em ampliar o mercado para os seus produtos
industrializados, restabeleceu e reforçou seu apoio aos criollos americanos.
O apoio estadunidense e a independência
“controlada”

• Pouco depois, os Estados Unidos também apoiaram os rebeldes na luta contra a


dominação espanhola.
• Esse apoio estrangeiro permitiu às elites criollas consolidar a independência e,
ao mesmo tempo, combater as agitações populares mais radicais, mantendo o
controle do processo.
A independência do México e da América
Central

• Logo após a deposição do monarca espanhol Fernando VII, autoridades metropolitanas e elites criollas do Vice-
Reinado de Nova Espanha desbancaram os poucos criollos que defendiam a imediata independência.
• Em 1810, entretanto, o padre criollo Miguel Hidalgo y Costilla liderou um movimento radical que pôs em
risco o domínio das elites. Leitor de obras iluministas e membro do baixo clero, ele combatia os tributos
cobrados dos indígenas, o tráfico de escravizados, a escravidão e os latifúndios.
• Com grande apoio popular e das milícias indígenas, o padre converteu-se em um poderoso general das tropas
rebeldes, que tomaram diversas cidades importantes da região, como Guadalajara. A reação das elites criollas e
da metrópole espanhola foi intensa, dizimando o exército rebelde em poucos meses. Hidalgo foi preso e
fuzilado, tornando-se conhecido como o “pai” e iniciador da independência mexicana.
• O padre mestiço José María Morelos y Pavón, indicado por Hidalgo para chefiar as tropas na região sul da
Nova Espanha, continuou a mobilizar camponeses indígenas e mestiços contra os ricos da região, fossem
criollos ou espanhóis.
• Ele liderou o movimento até 1815, quando também foi preso e executado. Os rebeldes permaneceram na luta
liderados por Vicente Guerrero e chegaram a realizar um congresso constituinte na cidade de Chilpancingo.
• A independência só foi alcançada quando o coronel Agustín de Iturbide, que lutava ao lado da Espanha contra
as forças emancipacionistas, converteu-se à causa da independência de Guerrero.
• Em 1821, na cidade de Iguala, ele estabeleceu um acordo com os rebeldes (o Plano de Iguala) que determinava
a libertação da Nova Espanha e a constituição de uma monarquia independente do México.
• Em 1822, Iturbide proclamou-se imperador do México, mas foi deposto no ano seguinte por um movimento
republicano.
Governos centro-americanos

• Após conquistar a independência, em 1821, a Capitania Geral da Guatemala foi anexada ao Império
Mexicano de Iturbide (com exceção do atual Panamá, que se uniu a Nova Granada). Em 1823, porém, voltou
a se separar, formando a Federação das Províncias Unidas da América Central. Esta sobreviveu até 1838,
quando se fragmentou em vários Estados republicanos.
• As ilhas da Capitania Geral de Cuba (atuais Cuba, República Dominicana e Porto Rico) permaneceram sob o
domínio colonial por mais algumas décadas.

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