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AS ELEIÇÕES DA ÚLTIMA DÉCADA NA BOLÍVIA

A ÁGUIA SUBJUGOU O CONDOR – INTERVENCIONISMO & INFLUÊNCIA NORTE-


AMERICANA NAS ELEIÇÕES LATINO-AMERICANAS
E NA BOLÍVIA, ENTRE 1997 & 2005

Neste capítulo pretendo demonstrar, além das estratégias e experiências que vivi na última década no
Bolívia, como a interferência norte-americana nos processos eleitorais sul-americanos pode ser desastrada. E
como o intervencionismo dos governos americanos tem favorecido a ascensão de líderes radicais,
nacionalistas e populistas ao poder nas América Latina.

Considero-me uma pessoa credenciada para falar sobre o tema, uma vez que tive o privilégio de protagonizar
a testemunhar os processos sucessórios bolivianos na última década. Espero que esta experiência e o meu
testemunho possam servir para candidatos, jornalistas, consultores e estudiosos que participem ou estudem
os processos eleitorais na América Latina, possam identificar os sinais do intervencionismo já em seus
primeiros sintomas, denunciando-os, banindo candidaturas a serviço de interesses externos e, assim, quem
sabe, impeçam que seus povos passem por experiências traumáticas. O intervencionismo subordina a
soberania e os interesses das nações e, geralmente resultam em soluções radicais, como ocorreu com nossa
vizinha Bolívia.

Entendo como legítimo e louvável os interesses e o direito dos Países e seus mandatários, de pugnarem pela
vitória e predominância dos interesses comerciais e econômicos que produzem internamente o bem estar e a
prosperidade de seus povos, usando para isto todos os meios, recursos e alianças estratégicas, inclusive
todas as formas de cooptação, sedução, pressão ou apoio a líderes aliados. Se um povo de uma Nação
estrangeira escolhe livremente um dirigente corrupto ou mau caráter, merece arcar com a conseqüência de
sua má escolha. Mas manipular um povo, comprar a voz de sua imprensa e intervir abertamente para
desequilibrar a correlação de forças políticas internas, como fazem alguns mandatários, ou incentivar e
acumpliciar-se à fraude para eleger o mau governante, em Países cujos povos vivem abaixo da linha da
miséria e, ainda, desestabilizar suas democracias, são práticas que, venham da direita ou da esquerda, são
inaceitáveis e deveriam ser banidas do planeta. Se a ONU realmente funcionasse e seus observadores
fossem realmente isentos, este seria o foro para levar casos desta natureza, condená-los e denunciá-los
publicamente.

A interferência estrangeira nos processos eleitorais é um componente que não pode ser ignorado por
qualquer candidato, pois produz efeitos e pode ser manobrado para influir nas vitórias ou derrotas eleitorais.
Como exemplo, trataremos de como a influência estrangeira afeta o tema eleições e como planos de
hegemonia geopolítica atingiram nossa vizinha Bolívia e, por tabela, o nosso País, trazendo conseqüências
graves, como a recente invasão sofrida nas instalações da Petrobrás pelas forças armadas bolivianas a mando
do recém eleito presidente Evo Morales.

Enquanto nosso presidente e o PT declaravam simpatia pela candidatura de Evo e lhe emprestavam mero
apoio político, os presidentes Chavez e Fidel investiram mais e ambos aportaram, além do apoio político, o
apoio financeiro, material e logístico, gerando lealdades e influência (dívida de gratidão) em níveis muito
mais sólidos. Nosso presidente e seu partido esqueceram das necessidades que tinham quando ainda eram
candidatos de oposição e o que realmente conta mais numa eleição, cedendo espaços a lideranças que,
embora aliadas, não têm os mesmos interesses geopolíticos que os do governo brasileiro e foram muito mais
pragmáticas.

Em 2005, mais de uma vez, eu procurei altos representantes do governo Lula e expus-lhes a minha análise
do que se passava na Bolívia (vide mais adiante) e os aconselhei a aportarem recursos e ampliarem sua
influência junto a Evo, brindando-lhe consultoria e informação, oferecendo-lhe o suporte estratégico de
brasileiros ao seu staff de campanha. Aconselhei ao governo colocar gente de sua confiança próxima de Evo
no comando da campanha, que, por extensão, ampliariam a proximidade do governo brasileiro ao seu
candidato predileto. Numa destas ocasiões, nosso interlocutor chegou a nos informar que proporia ao
presidente Chavez que fosse ele o financiador de nosso projeto de pesquisa para a campanha de Evo. Esta
ingenuidade, confiança depositada no líder venezuelano e a pretensão dos analistas do governo de que o
papel econômico do nosso país como cliente e investidor na Bolívia afinal contariam mais e seriam
determinantes, deram no que deram: Invasão da Petrobrás, redução da rentabilidade e maior risco a todos os
investimentos brasileiros naquele país.

Creio que a tese será do maior interesse dos leitores. Até para chamar a atenção de candidatos a eleições
presidenciais ou cargos majoritários tenham em mente que uma eleição daquela natureza não se limita à
tarefa de convencer eleitores: numa plataforma populista demais, alguns temas econômicos podem contrariar
a interesses mais poderosos do que o dos governantes de plantão, e acabar levando maciço apoio estrangeiro
ao colo de seus adversários. E não tenho dúvidas que todos os países e investidores estrangeiros investem em
candidatos que lhes pareçam confiáveis nos processos eleitorais dos países onde mantém investimentos ou
relações comerciais. Esta é a regra do jogo e acho que os americanos são apenas um pouco mais estabanados
e prepotentes que os demais países e, até certo ponto, considero que eles são mais transparentes e, em sua
arrogância, não disfarçam seus interesses como o fazem os outros países, que são infinitamente mais sutis,
discretos e, creio, mais eficazes em suas intervenções.

Em primeiro lugar, é preciso eliminar qualquer dúvida de que as intervenções estrangeiras nos processos
eleitorais internos dos países sul-americanos não é obra de ficção: ficção de fato, são as leis que tenham
impedir que elas se dêem, e apresento aos leitores os fatos que testemunhei, apresentando-os ao principal
gerente e leal guardião dos interesses norte-americanos no Hemisfério Sul. Assim, ao final, transcrevo
matéria de capa da prestigiosa revista Newsweek, que fala sobre o todo poderoso subsecretário do
Departamento de Estado Norte-Americano responsável pelos seus assuntos no Hemisfério Sul, Mr. Otto
Reich, que fornece o salvo conduto para o exercício do poder e que é o mais importante ponto de apoio aos
candidatos simpáticos aos Estados Unidos nas Américas Central, do Sul e Caribe: A matéria foi tema de capa
na Revista Newsweek em espanhol, em sua edição número 28, de 10 de julho de 2.002, assinada pelo
jornalista Joseph Contreras, sob a manchete: OTTO REICH: EL HOMBRE IDEAL PARA
LATINOAMÉRICA?

Posição do autor em relação aos Estados Unidos: Meu “Júris” “Esperneandus”

Pelas críticas que faço à intervenção americana nos processos eleitorais na América do Sul, e o leitor poderá
concluir, erroneamente, que elas são derivadas de posições ideológicas e históricos sentimentos antagônicos
em relação aos Estados Unidos. A verdade é que, até 2.002, eu era um defensor e admirador incondicional
daquele País.

Porém, depois de ser derrotado duas vezes na Bolívia, graças a duras intervenções norte-americanas contra
meus candidatos, que descrevo neste capítulo “A águia subjugou o Condor”, hoje eu confesso que minha
simpatia por aquele País ficou abalada, por duas razões pessoais, uma grande, e outra, minúscula:
 A deslealdade que o Departamento de Estado cometeu contra meu amigo Ivo Kuljis, patriota íntegro
que era amigo do embaixador Manuel Rocha e simpático aos Estados Unidos. A intervenção
americana no processo eleitoral e a suposta fraude que a ela se seguiu (suspeita que eu e mais de 68%
dos bolivianos compartilhamos), para eleger um presidente submisso aos interesses norte-
americanos, rejeitado pela maioria do povo e considerado truculento e corrupto, foi inaceitável. A
manipulação da eleição de 2002 foi responsável pela desestabilização da democracia boliviana. E foi
tão incompetente que seus artífices criaram o seu próprio anticorpo, o vírus que, ao final, escapou do
controle e derrubou o governo ilegítimo. Os ventos lá semeados produziram a tempestade que tragou,
em dezembro de 2005, seus principais autores: o caçador foi abatido pela caça e os interesses
americanos na Bolívia e na América Latina foram derrotados. Atrás de Evo Morales, venceram dois
arqui-rivais dos Estados Unidos: o presidente venezuelano Hugo Chavez, e o longevo, hábil e
discreto arquiteto mor, pai, herói, fomentador e inspirador das “novas esquerdas” na América Latina,
ícone mundial da resistência aos Estados Unidos: o presidente cubano, Fidel Castro, cujo prestígio,
poder e influência são alimentados e legitimados, inexplicável e paradoxalmente, pelo seu próprio
arquiinimigo.
 Outra deslealdade, desta vez pessoal, que repudio foi quando, apesar de eu já ter recepcionado vários
especialistas em campanhas norte-americanos, como Joseph e Molly Gailord (Partido Republicano) e
de já ter sido membro da Amcham (Câmara Americana de Comércio), o consulado norte-americano
de São Paulo, com a arrogância de praxe, negou à minha filha um visto para visitar o seu País;

Compartilho com o prêmio Nobel de economia, J.K. Galbraih, a idéia que o poder mais absoluto e eficaz é o
exercido de forma sutil. É genial, admirável, e todas as nações e povos do planeta se curvam diante deste
poder por sua livre escolha, como é o caso da exportação da sua cultura e valores através da arte, da música,
da literatura ou do “Big Brother” americano, o maior êxito militar da Força Aérea dos Estados Unidos,
conhecida pelo resto do mundo como “Internet”. Qualquer cidadão do mundo que já tenha brincado com as
toscas versões “betas” de programas assentados em ferramentas poderosas como o GPS ou o GIS, sabe que
nenhum ser humano neste planeta está mais sozinho e, se for tímido, fecha bem as suas janelas antes de
despir-se.

Quem detém a informação, detém o poder, e a admirável supremacia tecnológica americana é outra fonte de
poder pacífico que leva à terceira fonte, a supremacia econômica. Todo este poder é admirável, mas também
é inegavelmente meritório, exercido através da persuasão. Afinal a hegemonia econômica tem remédio e
pode ser rompida com a formação de novos blocos e alianças comerciais.

Repudio as ditaduras e ideologias políticas baseadas no ódio, preconceito ou radicalismo, que se imponham
pela força das armas, da tirania e do terrorismo. Mas também considero que a força bruta ou a hegemonia
militar exercida de forma unilateral e ilimitada é um mal, uma espada que humilha a soberania e pende
sobre os pescoços de todos os povos do planeta, e só seria aceitável se subordinada ao consenso ou se fosse
um patrimônio de todas as nações. Odeio pensar na volta do colonialismo.

OS ESTADOS UNIDOS ELEGEM MAL SEUS ALIADOS ESTRATÉGICOS

Sob o nobre pretexto de incentivar a consolidação da democracia no continente e a estabilidade de regimes


democráticos, os Estados Unidos têm cometido aqui os mesmos erros grosseiros na escolha de seus aliados
estratégicos no Oriente Médio (Xá Reza Pahlevi no Irã e Sadam Hussein no Iraque), apoiando líderes
manejáveis ou “simpáticos” aos Estados Unidos, sem se importar com o fato deles serem populistas,
autoritários ou corruptos. Visando apenas interesses a curto prazo e desprezando uma análise das
conseqüências de suas escolhas a médio e longo prazo, os governos norte-americanos vêm emprestando
apoio a governos incompetentes, autoritários e incapazes de dar resposta aos anseios e demandas de seus
povos, mas alinhados e subservientes aos interesses comerciais e estratégicos dos EUA no continente.

O problema é que os norte-americanos elegem seus aliados entre líderes que tenham às vezes, como único
pré-requisito, a disposição de acatar e defender os pontos de vista e os interesses dos Estados Unidos em
seus Países e na região.

Além da submissão ou alinhamento à política externa fixada pelos Estados Unidos, o Departamento de
Estado, leva em consideração os fatores conjunturais econômicos e políticos regionais, sem analisar as
realidades ou peculiaridades sócio-culturais de cada País, nem a competência ou o modo como os líderes que
apóiam exercerão o poder que os norte-americanos os ajudarão a conquistar e manter.

O problema desta postura é que, volta e meia, os norte-americanos se vêm às voltas com um sério problema-
comum: retirar seu apoio e ajudar a depor ou, preferencialmente, substituir os “monstrengos” políticos que
eles mesmos criam e fortalecem. Ou conviver com as conseqüências de suas más escolhas, sempre que estes
“filhotes” são depostos pelos seus próprios povos, elegendo novos governantes que naturalmente, terão
reservas ou serão hostis ao principal patrono e aliado externo dos adversários políticos recém derrotados em
casa.
O Caso de Fidel Castro e Cuba

Como Evo Morales na Bolívia, Fidel Castro foi outro mito criado e fortalecido pelos equívocos dos
posicionamentos norte-americanos: primeiro o transformaram num valente Davi, ao eleger o presidente de
uma ilha pobre como inimigo da maior superpotência do planeta (o gigante Golias); depois, presenteando-o
com a velada simpatia de várias nações do mundo ao transformá-lo em vítima e impor-lhe o mais longo
bloqueio da história da humanidade.

Não satisfeitos, como efeito colateral, as posições norte-americanas uniram o povo cubano em torno de seu
líder, convertido pelo poderoso inimigo num herói da resistência, legitimando um governo ditatorial e todos
os seus instrumentos, característicos de um regime de exceção, graças ao permanente estado de sítio que lhe
impõe. Os Estados Unidos fizeram de Fidel Castro e de Cuba o seu Vietnã na América Latina: cada novo dia
de existência e cada suspiro de Fidel Castro, tem o significado de mais uma derrota diária da superpotência,
que tem poderio militar avassalador, mas uma diplomacia externa deplorável.

Os casos que relato a seguir demonstrarão até que ponto a interferência norte-americana pode chegar para
eleger presidentes alinhados aos seus interesses nos países da América do Sul, fatos que tive o privilégio de
assistir em razão de ser um protagonista muito bem informado, das eleições presidenciais de 1.997, 2.002 e
2005 na Bolívia.

TESTEMUNHO PESSOAL DAS CONSEQÜÊNCIAS DA INTERFERÊNCIA NORTE-


AMERICANA NAS ELEIÇÕES NO CONTINENTE SUL AMERICANO:

PRÓLOGO: Algumas características da Bolívia e as eleições presidenciais de 1998

Meu primeiro contato com o País se deu em 1997, quando um diretor de criação da agência MCCan
Erickson na Bolívia, que tinha sido estagiário em nossa empresa, Roberto Ruiz indicou meu nome ao
candidato Jaime Paz Zamora, candidato à presidência da República pelo MIR – Movimiento Izquierda
Revolucionaria.

A Bolívia, na época, tinha três instituições acima do bem e do mal, contra as quais nenhuma liderança
política ousava contrapor-se e que tinham o mesmo poder de veto do que os cinco membros permanentes no
Conselho de segurança da ONU: A Igreja Católica; as Forças Armadas e os Estados Unidos. Goni já havia
privatizado tudo o que havia por lá, inclusive a Previdência Social; e a ENRON, multinacional norte-
americana que anos após se viu envolvida num escândalo por corrupção a governos estrangeiros era uma das
empresas mais ativas no País.

O sistema eleitoral boliviano

A Bolívia tem 9 estados e cada estado pode eleger 3 senadores. Todos os mandatos federais eram de 5 anos
sem direito a reeleição para os cargos executivos. Em 1997 e em 2.000, os governadores não eram eleitos
por voto direto e sim indicados pelo presidente da República. Não existem deputados estaduais e sim
Conselhos Departamentais, cujos membros são indicados pelo governo. Os senadores não recebem voto
direto e são eleitos da seguinte forma: o candidato a presidência que tiver mais votos num estado elege dois
senadores e o candidato que obtiver a segunda colocação elege com ele o terceiro senador.

O voto proporcional é regido pelo sistema distrital misto e o País é dividido em 68 distritos, chamados
circunscrições. Cada estado elege deputados por voto direto (plurinominais) eleitos proporcionalmente pela
quantidade total de votos dados aos candidatos ou legendas partidárias em cada estado (62 deputados). É
eleito mais um deputado (uninominal) por distrito, eleito diretamente por maioria dos votos em cada
circunscrição (68 deputados).
O cenário da disputa e os protagonistas

Ao longo deste capítulo, o leitor se deparará com as siglas partidárias e, para que não tenha que repetir
dezenas de vezes por extenso o que elas significam faço-o aqui. Como no Brasil, existem mais de dez
partidos na Bolívia, a maioria deles inexpressiva eleitoralmente. Mas os principais partidos políticos na
Bolívia, até as eleições de 2.002 eram os seguintes:
1- MIR – MOVIMIENTO DE IZQUIERDA REVOLUCIONÁRIA
Líder Maior: Jaime Paz Zamora;
2- MNR – MOVIMIENTO NACIONALISTA REVOLUCIONÁRIO
Líder Maior: Gonzalo Sanchez de Lozada “Goni”
3- ADN – ALIANZA DEMOCRATICA NACIONAL
Líder maior: General Hugo Banzer e, após a morte dele, Jorge “Tuto” Quiroga
4- UCS – UNIÓN CIVICA SOCIAL
Líder maior: Jhonny Fernandez
5- CONDEPA – CONSCIÊNCIA DE PATRIA
Líder maior: Carlos Palenque
6- MBL – MOVIMIENTO BOLIVIA LIVRE (O MIR nasceu desta legenda)
Líder maior: Miguel Urioste & Carlos Araníbar
7- MAS – MOVIMIENTO AL SOCIALISMO
Líder maior: Evo Morales

Em 1997, o presidente era o já impopular Gonzalo Sanches de Lozada, conhecido por Goni, do MNR –
Movimiento Nacionalista Revolucionário, um boliviano com forte sotaque inglês (e forte ligação com os
Estados Unidos). Além do uso das forças armadas para resolver conflitos internos contra camponeses, em
nome do combate ao plantio da coca, promovera em seu governo uma implacável perseguição política ao seu
adversário Jaime Paz Zamora e aos lideres de seu partido, o MIR. Esta perseguição foi a vingança de Goni
pelo fato de, nas eleições de 1989, apesar dele ter ganhado a eleição e Zamora ter sido o terceiro colocado, o
mirista ter sido eleito presidente, graças ao apoio que recebeu da ADN de Hugo Banzer, que foi o segundo
colocado, mas abriu mão da presidência em favor de Zamora.
Juan Carlos Duran, do MNR era um bom candidato, com base no segundo maior colégio eleitoral da Bolívia,
Santa Cruz de La Sierra. Deixou o ministério para disputar a presidência, mas não tinha espaço para crescer
em razão da enorme rejeição de Goni. O tema central da disputa foi a recente privatização e capitalização do
sistema de previdência social, e o discurso do candidato governista se apoiava em dois pontos:
 A expectativa da população em torno de sua promessa de colocar dinheiro no bolso dos bolivianos
idosos (dividendos ou distribuição dos lucros advindos da capitalização da previdência): o Bonosol;
 Distribuição de títulos de terra (reforma agrária)

O general Hugo Banzer já tinha ocupado a presidência no auge da ditadura militar e também tinha como seu
principal reduto o estado de Santa Cruz de la Sierra. Era duramente alvejado pelo MNR em razão de seu
papel repressivo durante a ditadura e se defendia esgrimindo a sua redenção e conversão democrática ao
oferecer ao partido mais reprimido durante os regimes militares (o MIR de Jaime Paz Zamora) a presidência
da República em 1989, apesar daquele ter chegado em 3º lugar na disputa.

Teria, assim, pago a sua dívida de sangue e feito a reconciliação com o ex-inimigo em nome da democracia.
Na ocasião, Banzer chegou a proferir uma frase que causou grande impacto, parecida com a do nosso Paulo
Maluf (estupra, mas não mata). Durante um debate, acossado por seu rival emenerrista Duran, que cobrava
de Banzer a dor das famílias que tiveram seus parentes torturados ou mortos pelos militares durante seu
governo, o general defendia-se expondo que naquela época, a situação era de guerra e que haviam mortos de
lado a lado; lembrava que os guerrilheiros não eram vítimas indefesas, mas gente que enfrentava o exército e
estavam armados, até que saiu-se com esta: “Se tiene que reconocer que ellos también no eran angelitos”,
afirmação infeliz que o levou a perder 3 pontos nas intenções de voto e reduziu a já pequena margem
dianteira que o general mantinha sobre o segundo colocado, Juan Carlos Duran. A situação difícil de seu
candidato à presidência levou seu chefe de campanha a iniciar as negociações com o MIR.

Na Bolívia os espaços na mídia são comprados e, ao invés de se alugarem bocas dentre os partidos nanicos
para atacar os adversários, a prática é mais simples: fundam-se ONGs ou usam-se sindicatos e associações
para assinar as anti-campanhas, do tipo “Mães de vítimas da Tortura”, etc., onde cidadãos expunham sua dor
e revolta pelas perdas sofridas durante o governo do general Banzer; que provocavam o aumento da rejeição
dele e afetavam, embora em escala menor, os eleitores que já tinham se decidido a votar no general.

Qualquer um dos dois franco-favoritos (Banzer ou Duran) era palatável aos norte-americanos, e esta
peculiaridade permitiu que o processo eleitoral seguisse dentro da mais absoluta normalidade, sem maior
interferência estrangeira.

MEU PRIMEIRO CONTATO COM A CONJUNTURA ELEITORAL DA BOLÍVIA

Quando cheguei à Bolívia, em 1996, o segundo líder na linha de comando do MIR, logo abaixo de Jaime Paz
Zamora e sua eminência parda e mais importante conselheiro (O Zé Dirceu de Jaime Paz), era Oscar Eid,
que estava preso, sob o pretexto de ter encoberto o narcotráfico durante o governo de Jaime Paz Zamora.
Mas a situação eleitoral do MIR não era ruim, e o partido disputava a segunda colocação na disputa com o
CONDEPA, partido que congregava as maiorias indígenas, fundado pelo líder populista e comunicador
Carlos Palenque. Fui contratado para fazer uma pesquisa e análise do quadro sucessório com relação à
disputa pela presidência da República. As principais lideranças miristas, tinham seu visto norte-americano
cassado.

Convidado pela direção do MIR eu fui recebido em La Paz, onde o coordenador da campanha Fufi Saavedra
me colocou a par do histórico eleitoral e dos partidos, situação política e das características de cada
protagonista (nos curtos períodos de lucidez deste autor, nos intervalos entre os enjôos, entre as inalações de
oxigênio e incontáveis aspirinas e mates de coca). Foi o meu primeiro ataque de zorochi (mal das alturas, por
falta de oxigênio) e minha estada em La Paz foi uma semana de muito aprendizado, sofrimento e expiação
de pecados. Mas também tive a oportunidade de conhecer o líder e candidato à presidência pelo CONDEPA,
Carlos Palenque, forte candidato e líder carismático da maioria indígena Aymara do altiplano, que também
era um Mariachi e cantar com ele, poucas semanas antes de sua morte gloriosa.

Pesquisa nacional que realizamos para o MIR, em setembro de 1.996, 10 meses antes da data das eleições,
avaliou o quadro, cobrindo as capitais dos 9 estados bolivianos, mostrando a seguinte situação:

ANÁLISE DO RELATÓRIO GERAL PONDERADO

1.1 - QUADRO ECONÔMICO GERAL

A pesquisa revela que a situação econômica é desfavorável para a maioria dos eleitores residentes nas
capitais de departamentos bolivianos, indicando a efetiva deterioração do poder aquisitivo e da qualidade de
vida do eleitorado.

Nos últimos 3 anos, 70,8% dos bolivianos compraram menos que antes; quase a metade deles não consegue
poupar nada e 1/3 poupa menos que há 3 anos atrás. No mesmo período o tempo livre e as férias são
menores para 37% dos bolivianos.

Como fato agravante, constatou-se que houve forte empobrecimento de pelo menos 31% dos eleitores, que
se declararam possuidores de menos bens agora do que há 3 anos.

1.2 - AVALIAÇÃO DO GOVERNO GONI

Apenas 17% dos eleitores bolivianos residentes nas capitais acreditam que o país está na direção correta
contra 3/4 dos que acham que a direção atual é equivocada.

Embora na média geral do País 6 em cada 10 eleitores (59%) acreditem que a situação se deteriorou nos
últimos 3 anos, somente 46,7% atribuem a responsabilidade e a culpa a Goni e apesar de 3 em cada 4
eleitores (72,3%) acreditarem que o modelo de governo empreendido por Goni falhou, apenas 40% atribuem
o fracasso à insensibilidade ou ao fato dos interesses pessoais do presidente serem dissociados do interesse
das massas.

A proporção dos que consideram que outro presidente teria mais êxito que Goni na condução das reformas é
ainda menor (37%) e 63% acreditam que nenhum outro líder teria mais sucesso ou não tem opinião formada
sobre o tema.

Embora 1/5 dos bolivianos acreditem que com Goni a situação está melhor do que era no governo Zamora,
quase 2/3 dos eleitores afirmaram que no governo de Jaime a situação geral do país e a de suas famílias era
melhor do que a que vivem sob o atual governo.

Apesar disto, apenas 41,5% dos eleitores discordam totalmente da afirmação de que o atual governo
melhorou o nível de vida dos bolivianos.

Quando o tema é a oportunidade de trabalho ou geração de empregos, 56,6% do eleitorado concorda pelo
menos em parte com a afirmação de que as possibilidades de emprego são melhores na atual gestão, contra
43,4% dos que discordam radicalmente daquela afirmativa.

Na questão afeta aos direitos humanos, 63,9% do eleitorado urbano concorda, pelo menos em parte, (contra
36,1% dos que discordam totalmente) com a afirmação de que o atual governo respeita plenamente os
direitos humanos.
Contudo, consultados sobre a quem apoiariam caso a eleição para presidente fosse hoje e tivessem que
escolher entre Jaime e Goni, os eleitores demonstram claramente seu desencanto e desaprovação à atual
gestão: Zamora derrotaria Lozada com a expressiva vantagem de 42% contra 18%, numa eleição onde 29%
dos eleitores anulariam seu voto e outros 10,5% não saberiam em quem votar.

A pesquisa revela ainda que imagem dos políticos bolivianos, está em baixa: perguntados sobre quem foram
os ganhadores ou maiores beneficiados pelos 12 anos de democracia na Bolívia, 72,0% do eleitorado
afirmou que foram os políticos, contra apenas 22,3% dos que acham que o povo foi o maior beneficiado.

INGERÊNCIA ESTRANGEIRA

A pesquisa constatou que 3 em cada 4 eleitores acreditam que, nos últimos 3 anos, a Bolívia foi mais dos
estrangeiros do que dos bolivianos e, com relação aos aspectos econômicos esta interferência estrangeira é
ainda maior: 85,3% dos entrevistados afirmaram que os estrangeiros mandam mais na política econômica do
que os bolivianos. Apenas 5,6% do eleitorado discorda totalmente da afirmação de que o governo americano
tem demasiada ingerência nos assuntos internos do País e mais da metade dos eleitores acreditam que as
relações bilaterais entre a Bolívia e os Estados Unidos tem favorecido apenas aos americanos, contra 10%
que crêem que a Bolívia seja a maior favorecida e 20% dos que vêem benefícios para ambos os Países.

PRISÃO DE OSCAR EID

A prisão de Oscar Eid foi uma decisão do governo americano para 43,7% dos eleitores, contra 23,7% dos
que acreditam que a decisão tenha sido do governo boliviano e apenas 15% dos que acham que a prisão se
deu por decisão soberana da justiça.

Para 63,5% do eleitorado Eid é um preso político, contra 20,4% dos que crêem que ele é um preso comum.
Todavia a maioria da sociedade boliviana acha que a prisão dele foi justa ou não tem opinião formada sobre
este tema totalizado 41,8% do colégio eleitoral das capitais de departamento bolivianas.

PERFIL DO CANDIDATO IDEAL

A honestidade é o primeiro requisito desejado por quase metade dos eleitores bolivianos no seu futuro
presidente. 1 em cada 4 eleitores querem um presidente ativo, trabalhador e 1 em cada 5 eleitores espera que
o futuro presidente seja alguém conhecedor dos problemas do país, igual proporção dos que esperam que ele
seja experiente.

Outros 1 em cada 7 afirmam que uma característica imprescindível para o futuro presidente é a eficiência,
enquanto para 1 em cada 8 eleitores as qualidades mais importantes são a inteligência e a proximidade entre
o presidente e o povo

CARACTERÍSTICA %
Honestidade 46,5
Trabalhador 24,2
Conhecedor dos problemas do País 19,2
Experiência 19,0
Eficiência 13,7
Inteligência 11,6
Cercano a la gente 11,6

43,5% dos bolivianos gostariam que o futuro presidente fosse casado (51,6% não se importam com o estado
civil). Outros 43% preferem eleger alguém maduro, contra 18% que preferem um jovem (37% não dão
importância à idade).
Na questão da participação pública da família do futuro presidente na política, o eleitorado está mais
dividido e, enquanto 36% apoiam, 20% preferem que a família do futuro presidente não se envolva nas
atividades políticas e 43% não tem opinião formada a respeito deste assunto.

Quanto ao posicionamento político ideológico do futuro presidente, 68% dos eleitores não dão importância a
esta particularidade e os 32% restantes se dividem entre os que preferem um candidato de direita (12%), de
centro (10%) e de esquerda (10%).

PERFIL DE JAIME PAZ ZAMORA (IMAGEM)

A pesquisa mostra que Jaime Paz Zamora é a personalidade política mais conhecida no País. Assim, embora
25% dos eleitores tenham declarado não ter opinião formada sobre ele, todos os entrevistados citaram uma
qualidade e um defeito no ex-presidente (vide quadros abaixo).

PRINCIPAIS QUALIDADES %
1-Afinidade com seu discurso 30,4
2-Simpatia 8,0
3-Honestidade/Passado limpo 8,0
4-Conhecimento dos problemas do País 7,0
5-Inteligência/Boas propostas 4,4
6-Experiência/Maturidade 4,0
7-Humidade 3,3
TOTAL 65,1

PRINCIPAIS DEFEITOS %
1-Classe social/situação financeira 28,5
2-Infidelidade 16,8
3-Pouco enérgico/Falta de autoridade 12,1
4-Dependente/Sem liderança 6,9
5-Imaturidade 6,3
6-Não tem passado limpo 3,9
TOTAL 65,1

Das 7 principais características que os eleitores gostariam de ver no futuro presidente, Jaime Paz Zamora só
não preenche o quesito relativo ao dinamismo ou ser trabalhador, qualidade altamente importante para 1 em
cada 4 eleitores.

Em compensação, o candidato prova ser carismático, pois sua simpatia é lembrada como sua maior
qualidade por 1 em cada 12 eleitores.

No “front” dos defeitos, do lado pessoal, o item infidelidade é lembrado como seu maior defeito por 1 em
cada 6 eleitores e sua condição financeira ou status é desaprovado por quase 1/3 dos eleitores.

Contudo, seu maior defeito enquanto político é a falta de autoridade, fator que se somado ao item
dependente/sem liderança é visto como seu mais grave defeito por 1 em cada 5 eleitores bolivianos.

O item “imaturidade”, lembrado como defeito por 1 em cada 16 eleitores, pode derivar tanto do defeito
pessoal “infidelidade” quanto do defeito político “falta de autoridade”, agravando aqueles deméritos que lhes
foram atribuídos pelos bolivianos.

IMAGEM (PERFIL) DOS PRINCIPAIS CANDIDATOS


A pesquisa revelou que Jaime Paz Zamora, Carlos Palenque e Hugo Banzer são os líderes mais conhecidos
pelo eleitorado boliviano.

Dos líderes avaliados na pesquisa, Jaime Paz Zamora é o campeão em popularidade: 4 em cada 10 eleitores
declararam gostar dele; outros 3 em cada 10 revelaram não gostar dele e 2 em cada 10 lhe são indiferentes.
Apenas 1,9% disseram não conhecê-lo.

O segundo lugar em popularidade foi obtido por Reyes Villa, que é querido por 27% e rejeitado por 23,1%
dos eleitores. Contudo, por ser praticamente desconhecido por 1 em cada 5 eleitores, no decorrer da
campanha, se Reyes tiver uma boa equipe de comunicação, ele poderá ampliar o seu respaldo popular com
mais facilidade que seus principais concorrentes.

Todos os demais candidatos tem uma rejeição maior que a sua aceitação, como pode ser visto no quadro abaixo:
SITUAÇÃO BANZER DURÁN PALENQUE JAIME ARANIBAR REYES OSCAR
VILLA EID
Gosta 37,2 14,8 28,3 40,7 16,5 27,0 16,3
Não gosta 39,2 34,7 44,8 30,9 34,3 23,1 35,3
Não tem opinião 20,7 22,7 23,6 26,5 27,8 21,8 31,6
Não conhece 2,9 27,8 3,3 1,9 21,4 28,1 16,8

O troféu da rejeição ficou com o candidato governista, cuja rejeição é duas vezes e meia maior do que a sua
aceitação popular, e embora desconhecido por 27,8% dos eleitores terá dificuldades para crescer por ser o
representante de um governo impopular (poderá chegar aos 15%).

O vice-campeão em rejeição é Oscar Eid, seguido de Carlos Palenque, Antonio Aranibar e de Hugo Banzer,
cujo número de simpatizantes é ligeiramente inferior ao dos que não gostam dele.

IMAGEM (PERFIL) DOS PRINCIPAIS CONCORRENTES

(Considerando a margem de erro de 2,5%)

JAIME PAZ ZAMORA, comparado aos seus principais concorrentes quanto à uma série de qualidades
obteve a primeira posição nos seguintes itens: Es eficiente (16,6%); Es sincero (14,8%) e Es carismático
(17,3%).

Obteve a segunda posição em todos os demais itens: Honesto(12,6%); Se preocupa com la gente (13,2%); Es
el mas capacitado para gobernar el País (19%); Cuenta com experiência para gobernar el País (22,2%); Es
más boliviano (15,5%); Se preocupa com los pobres (10,6%); Es cariñoso com la gente (15%) e Inspira
confianza (15,2%).
HUGO BANZER, obteve as seguintes primeiras colocações: Honesto (15,4%); É mais capacitado para
gobernar el País (13,6%); Es eficiente (23,6%); Es sincero (16,6%); Cuenta com experiência para gobernar
(30,1%) e Inspira confianza (19%).

Obteve a segunda posição nos seguintes itens: Se preocupa por la gente (13,6%); Es carismático (14,3%); Es
más boliviano (16%) e Se preocupa com los pobres (12,2%).

Obteve a terceira colocação no item “Es cariñoso com la gente (12,8%)”.

CARLOS PALENQUE, obteve primeiro lugar nas seguintes indicações: Honesto (16,7%), Se preocupa por
la gente (26,1%); Es eficiente; Es sincero (17,1%); Es carismático (18,8%); Es más boliviano (24%); Se
preocupa por los pobres (32,6%); Es cariñoso com la gente (26,4%) e Inspira confianza (19,4%).
Foi o terceiro mais cotado nos itens: Es mas capacitado para gobernar el País (15,7%) e Cuenta com
experiência para gobernar el País (13,1%).

MANFRED REYES VILLA, não obteve nenhuma primeira colocação, mas foi o segundo colocado nos
seguintes itens: Honesto (11,2%), Se preocupa por la gente (11,6%); Es eficiente (10,4%); Es sincero
(10,6%); Es carismático (13,9%) e Es cariñoso com la gente (13,7%).

Foi o terceiro colocado nos itens: Es más boliviano (7,3%), Se preocupa por los pobres (9%) e Inspira
confianza (12%).

Obteve a quarta colocação nos itens: Es más capacitado para gobernar el País (6,3%) e Cuenta com
experiência para gobernar el País (4,3%).

QUALIDADES NÃO BANZER DURÁN PALENQUE ZAMORA ARANIBAR REYES EID NENHU
SABE M
Honesto 15,3 15,4 5,3 16,7 12,6 3,3 11,2 10,1 20,0
Se preocupa com la gente 14,4 13,6 5,2 26,1 13,2 2,1 11,6 - 13,6
Mais capacitado para governar 13,1 23,6 5,9 15,7 19,0 3,7 6,3 - 12,1
Es eficiente 16,9 16,6 6,9 15,8 16,6 3,2 10,4 - 13,3
Es sincero 15,5 15,0 5,2 17,1 14,4 3,6 10,6 - 18,1
Cuenta com experiência para gobernar 11,2 30,1 4,7 13,1 22,2 3,1 4,3 - 10,0
Es carismático 19,7 14,3 4,2 18,8 17,3 2,7 13,9 - 8,7
Es más boliviano 16,2 16,0 4,2 24,0 15,5 3,1 7,3 - 8,2
Se preocupa por los pobres 13,9 12,2 4,9 32,6 10,6 1,9 9,0 - 14,7
Es cariñoso com la gente 12,8 12,8 4,6 26,4 15,0 2,6 13,7 - 10,9
Inspira confianza 11,9 19,0 6,0 19,4 15,2 2,8 12,0 0,1 13,0

POSIÇÃO FRENTE AOS PRINCIPAIS ADVERSÁRIOS

 ZAMORA x BANZER

Zamora vence Banzer apenas em carisma (17,3% x 14,3%) e cariño por la gente (15,0% x 12,8%) e é
vencido por Banzer em honestidade (15,4% x 12,6%); capacidade para gobernar (23,6% x 19%); experiência
para governar (30,1% x 22,2%) e “inspira confiança (19% x 15,2%).

 ZAMORA x PALENQUE

Zamora vence Palenque em capacidade para governar (19% x 15,7%) e experiência para governar (22,2% x
13,1%), mas é vencido por Palenque em Honestidade (16,7% x 12,6%); preocupação com la gente (26,1% x
13,2%); ser más boliviano (24% x 15,5%); preocupação com los pobres (32,6% x 10,6%); cariño com la
gente (26,4% x 15%) e confianza (19,4% x 15,2%).

MÁS CAPACIDADE PARA: NÃO BANZER DURÁN PALENQUE ZAMORA ARANIBAR REYES EID NINGUÉM
SABE
Solucionar la crise econômica 15,6 19,5 4,9 15,4 16,0 2,6 5,1 - 20,2
Traer tranquilidad al País 18,4 18,9 4,9 14,9 14,3 2,8 6,3 - 19,4
Criar empleos 18,6 20,4 4,8 16,0 14,9 2,8 6,3 - 15,3
Hacer crescer la economia 22,1 19,2 5,2 13,9 13,9 3,2 6,8 - 14,7
Solucionar la pobreza 20,8 16,4 4,1 18,8 12,5 2,2 5,0 - 19,3
Mejorar el sistema educat. 19,4 17,6 7,2 15,9 14,4 4,1 8,9 - 10,4
Solucionar el sistema de salud 20,4 17,9 6,8 16,1 13,8 3,6 8,0 - 11,0
Mejor equipo para gobernar 17,8 26,3 8,0 12,5 14,9 2,5 5,7 - 11,5

POSIÇÃO FRENTE AOS PRINCIPAIS ADVERSÁRIOS

 BANZER x PALENQUE

Quanto a capacidade dos candidatos para solucionar problemas diversos, a pesquisa revela o seguinte quadro
(vide acima), onde Hugo Banzer obtém a primeira colocação em todos os itens, dividindo a liderança com
Carlos Palenque nos itens salud (17,9% x 16,1%); educacion (17,6% x 15,9%) e pobreza (16,4% x 18,8%).

 JAIME x PALENQUE
Zamora não obteve nenhuma 1ª colocação nos itens avaliados, mas divide a segunda posição com Palenque
nos itens ou soluções: crise econômica (16% x 15,4%), trazer tranquilidad al País (14,3% x 14,9%); criar
empleos (14,9% x 16%); crescer la economia (13,9% x 13,9%); melhorar la educacion (14,4% x 15,9%) x
mejor equipo para gobernar (14,9% x 12,5%).

QUADRO PARTIDÁRIO

A pesquisa revela que o quadro político-partidário se alterou substancialmente desde as últimas eleições
gerais.

O MNR encolheu pelo menos 40% de lá para cá: seus eleitores e simpatizantes passaram de 17,4% para
10,6% no espaço de 3 anos (a redução real provável pode chegar a 50% ou 60%, pois o contigente de 10%
do eleitorado que declarou não lembrar-se em que partido votou na eleição passada provavelmente abriga
muitos eleitores “envergonhados”do MNR.

O MIR e a ADN, que concorreram coligados na eleição passada cresceram mais de 65% de lá para cá,
passando de 19,7% para 33,3% das intenções de voto caso reeditassem a aliança (MIR=13,5% e
ADN=19,8%) nesta eleição.

O CONDEPA cresceu 50% e passou de 9,9% para 14,8% das intenções de voto se as eleições ocorressem
agora.

A UCS perdeu 40% dos simpatizantes que tinha na eleição passada e teria hoje 4,6% das intenções de voto.
O MBL cresceu 35% e teria agora a simpatia de 4,3% dos eleitores.

PESO ELEITORAL DOS PARTIDOS

A ADN (12,5%); CONDEPA (10%), MIR (9,6%) e o MNR (7,6%) são os partidos mais populares da
Bolívia, concentrando 39,2% do eleitorado das capitais de Departamentos, enquanto 50,8% dos eleitores
declararam que não são membros, nem simpatizantes de nenhum partido político.

DIPUTADOS UNINOMINALES

O distanciamento da maioria do eleitorado das capitais das questões partidárias fica evidenciado por dois
fatos:
1) Apenas 41% dos eleitores estão cientes de que nesta eleição irão votar para diputados uninominales.
2) Apenas 29% dos eleitores não votariam num candidato uninominal caso ele pertencesse a partido que não
fosse o das suas preferências.

INTENÇÃO DE VOTO PARA PRESIDENTE

Se as eleições para presidente ocorressem agora, a pesquisa revela um resultado apertado, com ligeira
vantagem para Banzer que chegaria em primeiro lugar, com 20,1% dos votos.

Em segundo lugar, rigorosamente empatada estatisticamente, a disputa se daria entre Carlos Palenque e
Jaime Paz Zamora, o primeiro com 15,6% e o segundo com 15,3% dos votos.

Reyes Villa e Juan Carlos Durán, também empatados estatisticamente, o primeiro com 8,9% e o segundo
com 6,5% dos votos, disputariam o terceiro lugar e os indecisos totalizariam 17% dos eleitores.

Embora seja previsível que o candidato governista, qualquer seja ele, acabe alcançando um patamar
estimado entre 10% a 17% dos votos válidos, a pesquisa revela total indefinição do atual quadro eleitoral em
razão da inexistência de candidatos que possam ser considerados como franco favoritos da peleja.
Se os candidatos oficiais fossem Reyes Villa, Ronaldo Mac Lean, Miguel Urioste e Carlos Sanches Berzain,
o próximo presidente seria Reyes Villa, com 16,9% dos votos (o triplo da votação obtida pelo 2º candidato,
Mac Lean), mas nada menos do que 52,6% dos eleitores se absteria ou anularia o seu voto enquanto 17,3%
permaneceriam indecisos.

A pesquisa também ouviu os eleitores quanto à sua escolha de um dentre os 5 pré-candidatos do MNR e
Durán recebeu a metade das indicações (10,1%), seguido de Carlos Berzain e Rene Blattman, o primeiro
com 4,7% e o segundo com 4,3% das indicações. Os 2 Guilhermos juntos, alcançariam 2,5% das indicações.

Diante da questão direta (que procura dimensionar o potencial de crescimento de Jaime) ¿volveria usted a
votar por Jaime Paz Zamora? 45,6% dos eleitores responderam que não, contra 38,6% que responderam
afirmativamente e outros 15,8% que se disseram indecisos.

Consultados sobre qual candidato teria melhores condições de corrigir o rumo das coisas na Bolívia ( sem o
estímulo do disco - respostas espontâneas ), 1 em cada 4 eleitores não citaram nenhum nome como sendo o
mais capaz. Carlos Palenque foi o mais citado e obteve a indicação de 1 em cada 7 entrevistados (14%); 1
em cada 9 eleitores citou Banzer (11%) e 1 em cada 10 citou Jayme Paz Zamora como sendo o nome mais
indicado para colocar o País nos trilhos e outros 15% do eleitorado manifestou a opinião de que nenhum
líder seria capaz de dar rumo certo à Bolívia.

REJEIÇÃO A JAIME PAZ ZAMORA

Embora apenas uma fatia equivalente a 30,9% do eleitorado dos grandes centros urbanos tenha manifestado
seu desapreço ou rejeição ao nome de Jaime Paz, a pesquisa constatou que sua rejeição pode variar de
acordo com as circunstâncias ou situações, numa faixa que vai de 29% ( eleitores que não votariam em
ninguém caso a eleição se desse entre Jaime e Goni ) até 46% (eleitores que afirmaram que não voltariam a
votar nele)

RETIRADA DE “LA VISA” NORTE-AMERICANA & NARCOTRÁFICO

Apenas 37,6% dos eleitores faz distinção entre o caso do narcoavion y os chamados narcovínculos. Para a
metade do eleitorado ambos formam um só fato e outros 13% não tem conhecimento ou não tem opinião
formada sobre o assunto.

Para a maioria absoluta dos eleitores (57,2%), o fato de um candidato à presidência ter ou não visto norte-
americano em seu passaporte não faz a mínima diferença e nem influi na decisão que leva à escolha do seu
candidato.

A cassação do visto norte-americano de Jaime Paz Zamora foi uma atitude incorreta sob o ponto de vista de
55,7% do eleitorado boliviano e correta para 23,3%, enquanto 1 em cada 5 entrevistados (21%) não tem ou
não emitiu opinião sobre o assunto.

A encuesta apurou também que mais de 2/3 dos eleitores não deixariam de votar no seu candidato preferido
mesmo que o visto norte-americano lhe fosse tirado em plena campanha eleitoral, contra 18,5% dos que
mudariam seu voto caso este fato ocorresse.

SÍNTESE (POR SEGMENTO ELEITORAL)

PERFIL DO SEGMENTO CONSTITUÍDO PELOS ELEITORES DE JAIME PAZ ZAMORA


( QUESTÃO 20)

1.1- COMO VÊEM A SITUAÇÃO ECONÔMICA

Os que se revelaram eleitores de Paz Zamora foram mais marginalizados durante a gestão Goni do que a
média do eleitorado boliviano: 75,5% compram menos agora (média=70,8%); 41% tem menos bens que
antes (média=31%); 42,3% tem menos tempo livre (média=74%) e, naturalmente, os eleitores de Jaime Paz
estão mais aborrecidos do que a média geral com a gestão do atual governo: 84% crêem que as coisas no
País estão na direção errada (média =74%); 74% acham que a situação só tem piorado nos últimos 3 anos
(média=59%); 60% deles responsabilizam pessoalmente a Goni pela deterioração de sua qualidade de vida
(média =46,7%) e a maioria dos eleitores de Jaime Paz (51%) crê que as reformas empreendidas por Goni
teriam melhor resultado sob o comando de outro líder ( média=37% ).

1.2- DE QUEM GOSTAM E DE QUEM NÃO GOSTAM

Nada menos que 1/3 dos eleitores de Jaime gostam de Banzer, contra 37% que o desaprovam; ¼ gosta de
Palenque e ½ não gosta; 7,8% gosta de Durán e 42,7% não gosta; 19% gosta de Anaribar contra 31,4% que
não gosta dele; 21% simpatizam com Reyes Villa contra 18,7% que antipatizam com ele e Oscar Eid é
apreciado por 28,8% dos eleitores de Jaime e rechaçado por 20,5%.

Por sua vez, Jaime Paz Zamora tem ótima penetração junto aos eleitores que se definiram por Hugo Banzer,
onde conta com o apreço de 44,4% e desapreço de apenas 23,2% e entre os eleitores de Durán Jaime é
querido por 1/3 mas enfrenta uma rejeição de 40,5%.

Por parte dos eleitores de Reyes Villa, Jaime contabiliza a simpatia de 31,6% e tem a antipatia de 33,1%,
enquanto junto aos eleitores de Anaribar ele é benquisto por uma faixa de 22,9% e malquisto, em
contrapartida, por 35,5%

O pior resultado ou menor penetração eleitoral de Paz Zamora se dá entre os eleitores de Carlos Palenque,
onde é benquisto por 19,6% e malquisto por 44,9%

Embora a pesquisa evidencie afinidades, principalmente entre os eleitores de Zamora para com Banzer e dos
eleitores deste e de Reyes Villa para com Jaime Paz, o ponto mais positivo para o candidato do MIR deriva
da constatação de sua popularidade junto aos eleitores indecisos, onde conquista 41,3% das simpatias e sofre
a restrição de apenas 23,2%, fato que demonstra que a faixa dos eleitores indecisos é um terreno fértil onde
boas sementes podem render farta colheita eleitoral.

A IDENTIFICAÇÃO PARTIDÁRIA

Na pergunta que avalia a intenção espontânea de voto partidário, 76,1% dos eleitores de Jaime votaram no
MIR; 5,8% indicaram a ADN; 4,6% citaram o MBL; 3,7% optaram pelo MNR e 2,5% não votaram em
nenhum dos partidos.

A boa notícia para Paz Zamora é que os dados indicam que ele conseguiu conquistar (ou reconquistar
eleitores fora dos quadros partidários tradicionais do MIR: nas últimas eleições gerais apenas 42,5% dos
atuais eleitores de Jaime votaram na coligação “Acordo Patriótico”; 12,7% votaram no MNR; 8,2% na UCS;
4,3% no CONDEPA; 5,7% não se lembram em que partido votaram e 20,2% dos seus atuais eleitores não
votou nas eleições presidenciais passadas.

Embora a fidelidade partidária não seja um traço marcante no universo dos atuais eleitores de Zamora
(apenas 28% deles afirmaram que não votariam num candidato a deputado uninominal que não pertencesse
ao partido de sua preferencia), os concorrentes enfrentam situação semelhante e este número está dentro da
média geral de comportamento do eleitorado boliviano.

Em outra pergunta, questionados se eram membros ou simpatizantes de algum dos partidos políticos
bolivianos, 41,2% dos eleitores de Zamora se disseram simpatizantes do MIR; 48,2% informaram não ser
membros nem simpatizantes de nenhum partido político e 4% informaram ser simpatizantes ou membros da
ADN de Banzer.
Entre os eleitores indecisos, 84,2% declararam não ter afinidade com nenhuma agremiação político-
partidária; 6% se declararam simpatizantes ou membros da UCS; 2,4% simpatizantes do MNR e apenas 2%
dos eleitores indefinidos disseram ser simpatizantes do MIR.

1.4- O QUE PENSAM

Para os eleitores de Jaime Paz, os 2 problemas mais graves são a corrupção (54,7%) e o desemprego
(54,4%). Em terceiro vilão na preocupação de seus eleitores são os baixos salários e o quarto bandido
apontado é a má distribuição da riqueza.

Entre os eleitores indefinidos, o principal problema, apontado por 61,4% dos eleitores é o desemprego,
seguido pelos baixos salários (44,3%); a corrupção (39,5%) e a inflação, lembrada por 27,6% dos eleitores
indecisos.

Na série de questões que avaliam quais candidatos se enquadram melhor frente a várias qualidades
enunciadas, Paz Zamora foi considerado o mais honesto por 64% dos seus eleitores; o que mais se preocupa
com a gente por 57,1% (16,1% dos eleitores de Jaime atribuíram esta qualidade a Palenque); como o mais
capacitado para governar a Bolívia por 77,6% (9,2% dos seus eleitores indicaram Banzer) e como o mais
eficiente por 68,6% dos seus eleitores.
Jaime foi ainda indicado, pelos seus eleitores, como o mais sincero por 61,8%; como o que conta com a
melhor equipe para governar o País por 78,1% (seu melhor índice na pesquisa); como o mais carismático por
56,3%; o mais boliviano por 64,1%; como o que mais se preocupa com os pobres por 45,8% (Palenque foi
indicado neste item por 23,9% dos eleitores de Jaime); como o mais carinhoso com a gente por 62,6%
(Palenque foi citado por 12,7% dos eleitores de Jaime neste quesito) e, finalmente, como o candidato que
mais inspira confiança, por 63,3% dos seus eleitores.

Nesta bateria de questões, o melhor desempenho (fidelidade) foi evidenciado pelos eleitores de Palenque,
que chegou a obter índices superiores a 90% em vários quesitos e só obteve menos de 70% das indicações de
seus eleitores no item melhor equipe para governar o País, único ponto onde foi superado tanto por Jaime
como por Banzer.

Estes índices demonstram que a empatia ou afinidade entre eleitor e candidato é muito maior da parte dos
eleitores de Palenque do que com os eleitores de Jaime Paz e Hugo Banzer, fato que contribui para tornar
Palenque menos vulnerável e sua candidatura, mais sólida.

1.5- POSIÇÃO QUANTO À RETIRADA DO VISTO NORTE-AMERICANO

Mais de ¾ dos eleitores de Paz Zamora (78,4%) consideram que a retirado do visto americano foi uma
decisão incorreta, contra 10,4% dos que, mesmo o tendo escolhido como seu candidato à presidência, acham
que a decisão norte-americana foi correta.

Mesmo que a maioria de seus eleitores condenem a atitude norte-americana, Jaime ainda corre risco de
perder o apoio de 12,8% dos seus eleitores (percentual dos que declararam que não votariam num candidato
de quem fosse cancelado o visto) por conta de seu contencioso com os Estados Unidos, caso em que perderia
1,8% de suas intenções de voto atuais, caindo de 15,3% de preferência entre os eleitores para 13,5%.

Entre os eleitores indecisos a situação é ainda mais delicada, pois 1 em cada 4 cidadãos nesta situação
deixaria de votar num candidato a quem fosse cassado o visto norte-americano mesmo que aquele candidato
fosse o seu preferido.

1.6- POSIÇÃO EM RELAÇÃO À PRISÃO DE OSCAR EID

78% dos eleitores de Jaime Paz acreditam que Oscar Eid é um preso político, contra apenas 8,6% que o
consideram um preso comum, e para 51,5% deles a prisão de Eid foi decidida pelo governo americano.
Contudo, embora 62% do eleitorado de Paz Zamora considere que o procedimento judicial contra Eid é
injusto, praticamente 1 em cada 4 eleitores (24%) o consideram justo.

Na opinião deste analista, Oscar Eid soma o mesmo que pode subtrair à candidatura Zamora e o apoio firme,
mas discreto ao infortunado amigo parece ser o melhor caminho a ser seguido, principalmente porque entre
os eleitores indecisos as opiniões estão divididas entre os que consideram o procedimento judicial justo
(32,8%) e injusto (35,9%).

1.7- O PERFIL DO CANDIDATO IDEAL

44% dos eleitores de Jaime gostariam de votar num candidato casado e para 48% deles o candidato ideal é
um líder maduro, ideologicamente à esquerda (34,5%) e com um projeto político democrata (54,6%).

Exceto na questão ideológica, que não é importante para ¾ dos eleitores que se declararam indecisos, o
mesmo perfil descrito preenche o tipo que seria por eles considerado como candidato ideal.

1.8- COMPOSIÇÃO DOS ELEITORES


Dos entrevistados que escolheram Jaime Paz Zamora, 46,1% são homens e 53,9%, mulheres. Quanto ao grau
de instrução, o eleitorado de Zamora é composto por 22,9% de eleitores sem nenhuma instrução; 21,9% de
eleitores de nível médio; 19,1% por eleitores de nível básico; 16% com nível intermediário; 11,8% é
composto de técnicos e 8,1% tem grau de instrução superior.

Comparando com o índice médio geral ponderado da pesquisa, verifica-se que a candidatura Zamora tem
penetração acima da média nos segmentos sem nenhuma instrução e entre os eleitores de nível médio e
técnico. Em contrapartida, sua candidatura tem penetração abaixo da média (o que significa menor
aceitação) entre os eleitores com instrução básica e intermediária (vide tabela).

Quanto à ocupação profissional, sua candidatura entra acima da média no segmento representado pelos
estudantes e fica abaixo da média entre os jubilados e trabalhadores por conta própria.

Sob o ponto de vista da faixa etária, a candidatura Zamora tem força e penetração acima da média junto aos
eleitores na faixa dos 25 aos 34 anos e apresenta dificuldades de penetração junto à faixa etária situada entre
45 e 60 anos.

Quanto ao estado civil, talvez pela sua fama de infiel, o apoio a Jaime fica acima da média entre os solteiros
e viúvos e abaixo dela entre os eleitores casados.

A candidatura do MIR também tem adesão popular acima da média entre os eleitores que desfrutam de
serviço de esgoto, luz elétrica, telefone e possuidores de carro próprio, ficando abaixo dela entre os que não
usufruem daqueles bens e serviços.

REDUTOS ELEITORAIS - ASPECTOS GEOGRÁFICOS

Os principais redutos eleitorais de Jaime Paz Zamora são Santa Cruz de La Sierra (de onde provém 24,3%
das suas intenções de votos); Potosi (de onde vem mais 16% das intenções de voto) e Tarija (origem de
13,4% das intenções de voto). Em La Paz (onde Jaime contabiliza 18,2% de sua votação), Oruro (5% dos
seus votos) e Trinidad (que representa 1,7% do seu universo eleitoral) A candidatura Zamora obtém
resultados abaixo da média, fato que indica mais dificuldade de penetração naquelas capitais de
departamentos.

Os principais redutos de Palenque são La Paz (origem de 41% das intenções de votos contabilizadas por ele),
Oruro (de onde vem mais 17,9%) e Sucre (11,3%)

Os principais redutos de Banzer são La Paz e Santa Cruz de La Sierra e os de Reyes Villa são Cochabamba e
Potosi.

Aranibar obtém melhores resultados em Sucre e Cochabamba e Durán em Santa Cruz de La Sierra e Tarija.

Se a eleição fosse hoje, Palenque venceria em La Paz, Sucre e Oruro; obteria a segunda colocação em
Trinidad, a terceira colocação em Santa Cruz de La Sierra e Potosi; a quarta colocação em Tarija e Cobija e a
quinta colocação em Cochabamba.

Banzer venceria em Santa Cruz de La Sierra, em Trinidad e em Cobija; seria o 2º colocado em La Paz,
Cochabamba, Tarija e Oruro e obteria a quarta colocação em Potosi e Sucre.

Zamora venceria em Potosi e Tarija; seria o segundo colocado em Santa Cruz de La Sierra, Sucre, Cobija (e
talvez em Cochabamba, onde está empatado estatisticamente com Banzer) e seria o terceiro colocado em La
Paz, Oruro e talvez, Trinidad (onde está tecnicamente empatado com Durán).

Reyes Villa venceria em Cochabamba e seria o segundo colocado em Potosi. Aranibar seria o segundo ou
terceiro colocado em Sucre, onde está tecnicamente empatado com Banzer.
DE SETEMBRO DE 96 A ABRIL DE 1997: SITUAÇÃO DO MIR PIORA

Em março de 1997, a situação tinha mudado: O MIR perdera 5 pontos e o candidato do Governo subiu 9%.
Os dois favoritos na disputa presidencial eram o general Hugo Banzer da Acción Democrática Nacional,
ADN, com 25% e Juan Carlos Duran, candidato do presidente Goni e do MNR, que tinha 20% das intenções
de voto; seguidos por Jaime Paz, com 11%, empatado com a candidata indígena Remédios Loza, que
disputava no lugar do carismático líder Carlos Palenque, também conhecido como “El compadre”, pelo
CONDEPA, com 9% (Carlos Palenque faleceu em março de 1997, às vésperas do início da disputa eleitoral).

Abaixo de Zamora e Remédios Loza, em 5º lugar, com 6%, vinha a UCS – Unidad Civica Solidariedad do
prefeito de Santa Cruz, Jonny Fernandez, dono da cervejaria Paceña que, ao sentir-se sem perspectivas de
vitória, abrira mão de sua candidatura e indicara o empresário cruzenho Ivo Kuljis para disputar a eleição.

Meu segundo convite se deveu ao fato de o primeiro consultado, o criativo e competente especialista Egberto
Batista, ex-ministro de Collor, ter apresentado um orçamento que estava além das possibilidades financeiras
do MIR, que naquele momento amargava a disputa pelo 3º lugar nas intenções de voto e, dadas a
perseguição que sofria do governo Goni e o veto dos Estados Unidos à sua candidatura, nenhum grande
empresário ou financiador boliviano se atrevia a apostar, um dólar que fosse, nas chances eleitorais do
partido e de Jaime Paz.

Fui indicado pelo meu amigo Roberto Ruiz, diretor de criação da sucursal boliviana da Agência Mac Cann
Ericson, e apresentei uma proposta que envolvia a estruturação de uma central de informações, análise das
pesquisas e recomendações, que não envolviam trabalho em período integral: eu iria ao País a cada quinze
dias para analisar as pesquisas e fazer as recomendações aos dirigentes do partido. Como não havia dinheiro
para a central nem para pagar uma consultoria integral, o acordo acabou restrito a uma pesquisa mensal, com
uma amostragem convencional, de 1.500 entrevistas.

Saí de La Paz convencido de que o MIR passava por graves dificuldades financeiras e que dificilmente
pagaria o preço de mercado por uma consultoria plena, mas como soube que ele estava em conversações
com Egberto Batista, imaginei que a situação não podia estar tão precária assim... E, embora o MIR não
tivesse recursos para contratar uma pesquisa profissional, Fufi interessou-se muito ao saber como funcionava
a Rede Brasmarket no Brasil (terceirizada, sob coordenação de uma Central), confidenciou-me que o MIR
não tinha dinheiro, mas dispunha de grande capacidade de recrutamento e estrutura nacional, e apresentou-
me uma pesquisadora que poderia coordenar os trabalhos de campo. Pediu-me para orçar quanto custaria ao
partido a locação de nosso equipamento de coleta e a minha consultoria para elaborar questionário, treinar os
entrevistadores e coordenadores e analisar os resultados, fazendo o planejamento estratégico inicial da
campanha. Minha proposta foi aprovada e fui incumbido por Fufi de fazer um estudo e apresentasse um
projeto a partir de um diagnóstico preciso do quadro da disputa, conceitos, pontos fortes e vulnerabilidades
dos protagonistas daquela eleição, após o que, discutiríamos a possibilidade de minha contratação ou, ao
menos, da locação dos coletores e análise das pesquisas durante o período eleitoral.

O CANDIDATO A PRESIDÊNCIA PELA UCS, IVO KULJIS

Aqui eu devo abrir um parêntesis para narrar-lhes as circunstâncias em que conheci um dos presidenciáveis
daquela eleição, um dos mais proeminentes empresários do País, durante uma de minhas idas a Santa Cruz
de La Sierra. Naquela ocasião, era a minha primeira visita à cidade, onde fui treinar as equipes de
entrevistadores e coordenadores que fariam a nossa primeira pesquisa para o MIR. Estava em meu hotel
quando recebi uma ligação do secretário particular do empresário e candidato à presidência Ivo Kuljis, que
me convidava para jantar na residência dele. Intrigado, perguntei-lhe como tinha chegado ao conhecimento
deles que eu estava na cidade e o assessor me respondeu que não havia nada que ocorresse em Santa Cruz
que não fosse do conhecimento do “chefe” dele. A curiosidade foi maior do que o juízo e decidi aceitar ao
convite. Na hora marcada, vieram buscar-me e seu secretário, Bismark falou-me que Ivo era um admirador
meu e que possuía meus livros, que já tentara contatar-me sem sucesso no Brasil e que ficara muito satisfeito
ao saber de minha chegada. Aproveitei para especular sobre a biografia de meu anfitrião e Bismark falava-
me sobre os negócios dele quando chegamos ao destino.
Estranhei a movimentação na entrada da residência e, tão logo desci do carro, fui ofuscado pelos flashes e
fortes luzes de filmagem, enquanto meu anfitrião me abraçava sorridente em meio aos flashes insistentes.
Enquanto sorria, eu pensei: estou f...rito. Amanhã eu estarei nas manchetes de jornal e noticiários da TV,
abraçado a um concorrente de Jaime Paz Zamora e adeus contrato com o MIR... Como vou explicar este
episódio ao Fufi?

Mas eu tenho uma atitude mental que me auxilia muito nestes momentos: não chorar sobre leite derramado.
Eu entrego tudo nas mãos de Deus e penso: o que tiver que ser, será. E Ele nunca me decepcionou. Nascia ali
uma amizade que prevalece até hoje e conheci uma das melhores pessoas que já tive a oportunidade. Fui
bem acolhido, conheci sua maravilhosa família durante o lauto jantar e, após o Nescafé (os bolivianos não
tem o hábito de “passar” café como aqui), depois de mostrar-me seus álbuns de foto de família, passamos a
falar sobre eleições. Fiquei emocionado quando Ivo me pediu para autografar um de meus livros e eu pude
ver que ele estava todo rabiscado e não havia uma só borda sem anotações, enquanto ele elogiava a obra. Ivo
me falou sobre como ele via a disputa, sobre os candidatos que a disputavam e mostrou-me uma história em
quadrinhos da sua biografia e principal proposta (o caminho Bi-oceânico, que ligaria o Atlântico ao Pacífico
cortando a Bolívia). Em seguida, assisti ao spot de lançamento de sua campanha, e ele me pediu para falar
sobre minha estada em seu País e para opinar sobre a próxima eleição.

Como ainda não tinha nenhum compromisso firmado com o MIR nem informações privilegiadas da pesquisa
(que ainda não começara) e tomando o cuidado de não revelar nada do que me fora revelado por meu
anfitrião em La Paz, retribuí a hospitalidade de Ivo com toda sinceridade. Critiquei algumas passagens do
seu spot inicial, dizendo-lhe que estava muito longo e dei-lhe um conselho, baseado num palpite, que ele
seguiu à risca e que, afinal, mostrou-se muito acertado: previ que a disputa seria acirradíssima entre o
general Banzer e o candidato do presidente Goni, que ambos se desgastariam muito no processo e que a
melhor maneira de tirar partido da conjuntura seria ficar fora da briga dos cachorros grandes, fazendo uma
campanha conciliadora e “propositiva”. Também lhe falei sobre como poderia aproveitar a “capilarizada”
estrutura de distribuição da cervejaria Paceña, que pertencia ao presidente do partido e prefeito de Santa
Cruz, Jhonny Fernandez, para fazer chegar seu material de campanha a todo o País.

Antes de despedir-nos, já amigos, meu gentil e simpático anfitrião especulou sobre quanto eu cobraria para
assessorar o seu concorrente e eu pensei “é agora”... e já me senti como o coordenador da campanha do
Antonio Ermírio boliviano. Mas a esperança durou pouco, e eu descobri porque os ricos são tão ricos: eles
criam escorpiões nos seus bolsos e Ivo engoliu seco ao receber a informação que pedira. Mas ele não teve
coragem de pechinchar, nem eu de barganhar, e assim nos despedimos, quando aproveitei para pedir-lhe para
não dar publicidade ao nosso encontro, para não prejudicar meus entendimentos com o possível contratante.
Confesso que fiz o pedido sem nenhuma esperança de ser atendido, mas, para minha surpresa, descobri que
ele era um homem que honrava sua palavra. Se um dia Ivo resolver abrir um memorial, eu sei que vou
aparecer ao lado dele e de sua família, em alguma velha foto de 1997.

AVENTURA EM PANDO

Na ocasião, conheci o então candidato a senador do MIR pelo departamento de Pando, Andrés Guzman
Heredia, que também era o elo de ligação do MIR com os empresários no Brasil. Como ele vivia na ponte
aérea entre o Brasil e a Bolívia e tinha domicílio e família no Brasil, nasceu ali uma relação de amizade que
me levou a atender seu pedido para ajudá-lo a organizar sua campanha para o Senado no longínquo estado de
Pando. O estado que cedeu seu território (Acre) ao Brasil no século XIX, em troca da ferrovia Madeira-
Mamoré e alguns milhões de libras esterlinas.

Se o MIR nacional não tinha recursos nem para contratar assessoria profissional, imaginem os leitores se
Andrés teria como fazê-lo... Mas ele é bom de lábia, pagou a passagem e, pela amizade, por farra (já
confessei minha paixão pela área) por ser um estado amazônico (criei horror às alturas andinas) e pela
curiosidade em conhecer novos territórios e costumes, aceitei seu convite.
Chegando a Cobija, capital de Pando, eu só permaneci por lá porque o táxi que me levara ao melhor hotel da
cidade foi embora antes que eu conseguisse alcançá-lo, indignado e ofendido após conhecer a pocilga que
era o apartamento de luxo que me reservara Andrés.

O episódio foi hilariante: desci do táxi que me levara de Rio Branco e entrei no melhor hotel da capital do
estado. Apresentei-me na portaria e perguntei pela reserva em meu nome e, assim que vi o apartamento que
me estava reservado, agarrei minha bagagem e corri atrás do táxi que me levara até lá, mas ele já tinha ido
embora. Por não falar bem o idioma naquela época, eu entendi perfeitamente o significado da expressão
“mais perdido que cego em tiroteio”: resolvi esperar pelo meu amigo Andrés, que estava fora quando eu
cheguei.

Depois que Andrés chegou e se ofereceu para trocar o apartamento onde ele estava hospedado com sua
esposa pelo meu, pude ver que a única diferença entre eles era a cama de casal, a minha indignação se
esvaiu, e fui tomado pelo espírito de Indiana Jones, decidindo enfrentar o desafio e dar uma mão ao Andrés e
à sua corajosa esposa Débora e seu filho Luisinho, seus abnegados companheiros de luta e que literalmente,
amassavam o barro com ele.

Ao tomar conhecimento do quadro conjuntural de disputa, confesso que me senti desanimado e impotente: O
estado tinha todas as características do que conhecemos, aqui no Brasil, como “curral” eleitoral. A capitania
hereditária era dividida em dois territórios: um era controlado pelo poderoso “cacique-coronel” da ADN,
Leopoldo Fernandes e o outro, por outro cacique do grupo político do MNR, que controlava todos os
empregos e geria o monopólio do clientelismo da “máquina” e verba pública. Os votos eram abertamente
negociados, despudoradamente comprados e o maior colégio eleitoral do estado, sua capital Cobija, tinha por
volta de 8 mil eleitores, como milhares de pequenas cidades interioranas do Brasil, onde a propaganda de
massa tem pouco valor e prevaleçam as relações inter-pessoais.

O impasse: Candidatos ao Senado não são votados e se elegem na “carona” dos votos dados aos
candidatos à presidência

Chamei Andrés e expus-lhe a situação, alertando-o que suas chances de competir contra seus poderosos
rivais eram mínimas ponderei que não valia a pena sequer gastar o que ele já gastara, nem sacrificar a si
próprio e à sua família, a menos que a candidatura de Jaime Paz decolasse e ganhasse espaços, revertendo a
expectativa geral de que ele era um “cachorro morto”. Disse-lhe também que ele era um estrangeiro em sua
própria terra, sem vínculos familiares e sem amigos, e que os “chefes” locais e os candidatos a deputado do
seu partido estavam se aproveitando da generosidade e falta de experiência dele (aquela era sua primeira
eleição), para sugá-lo até o último centavo e ultima gota de sangue.

Como o candidato a senador não recebe voto direto, o cálculo era que, se Jaime Paz Zamora crescesse, seria
possível trabalhar a faixa de dissidência e recolher os mortos e feridos que caiam ao longo da luta esganiçada
e sem fronteira travada pela ADN e o MNR. Caso contrário ou até que a situação ideal se materializasse,
aconselhei-o a parar de gastar seu rico dinheirinho em camisetas, bonés, faixas, bandeiras e toda a
parafernália de campanha que servia aos candidatos no Brasil e que ele levara para Pando.

Desinteressadamente e sem nenhuma outra pretensão que não a de ajudar o amigo, também lhe expus
minhas idéias sobre o que Zamora e o MIR deveriam fazer para “virar” o jogo a seu favor. Falhei-lhe dos
erros que o partido cometia em sua campanha nacional e passei a ele todas as informações que tinha a partir
da pesquisa nacional que eu já tinha feito.

Convencido por minhas ponderações, ao invés de desanimar-se e desistir do intento, Andrés mostrou uma
determinação e fora do comum e arquitetou uma estratégia para infiltrar-me na cúpula de seu partido, sob o
meu compromisso de ajudá-lo até onde me fosse possível, caso ele conseguisse seu intento e eu fosse
contratado para assessorar seu partido na campanha presidencial.
Para atingir seu objetivo, Andrés pagou-me, de seu próprio bolso, o custo para que eu lhe fizesse uma
pesquisa nacional, que ele usaria para gerar um fato novo e “isca”, para chegar à cúpula partidária com um
trunfo nas mangas. Meu desafio era que a pesquisa fornecesse embasamento científico e comprovação cabal
da minha analise, comprovando as hipóteses e opiniões que eu emitira e sinalizassem os novos rumos que o
MIR deveria dar a sua campanha para ganhar os corações e mentes do eleitorado. Além disto, Andrés fez o
que podia para estreitar minhas relações com o fundador do MIR, Oscar Eid, brilhante e influente
estrategista do MIR e segundo líder na estrutura hierárquica do partido e que estava encarcerado em La Paz,
acusado de ter encoberto ações do narcotráfico quando foi ministro no Governo do MIR-ADN.

A partir daquela pesquisa as percepções se tornaram fatos e descobertas, e os palpites, valiosos conselhos. E
Andrés deu sua cartada final, buscando com empresas brasileiras os recursos para o “start” da campanha, que
incluía a minha contratação.

COMO O MIR DE VIABILIZOU ELEITORALMENTE

Tudo correu como o planejado e como o próprio Andrés era o fiador e encarregado de obter os recursos para
a campanha, meu projeto e consultoria plena foram aceitos e, apesar do meu sofrível “portunhol”, que
limitava minha capacidade de escrever roteiros e dirigir diretamente os programas de rádio e televisão, eu
passei a participar do núcleo estratégico da campanha. Fufi Saavedra foi o gentil anfitrião meu intérprete e
principal interlocutor naquela campanha, onde fiquei conhecido não só por meus conselhos, mas também
pela inusitada mascote que eu adotei e me acompanhava por todos os lados pelo menos a metade dos 40 dias
de minha estada em La Paz, e que eu apelidei de Totó: um tubo de oxigênio sobre rodas.

UM CANDIDATO A PRESIDENTE E DUAS CAMPANHAS PRESIDENCIAIS DISTINTAS: 1997 e 2002

Para que o leitor tenha uma idéia dos problemas que tinha Jaime Paz Zamora e o MIR naquela eleição, vou
narrar-lhes um episódio único, digno de menção para que os leitores não permitam que ele jamais se repita
nas suas campanhas: Já foi dito que o MIR atravessava uma fase difícil, sem dinheiro, perseguido pelo atual
governo, acossado pelos norte-americanos. O que faria qualquer candidato em circunstâncias semelhantes?
Isto mesmo, buscar um candidato a vice rico, prometendo-lhe apoiá-lo na próxima eleição caso ele ajude a
custear a atual campanha e ela seja vitoriosa. Assim, Jaime Paz Zamora convidou para seu vice um forte
empresário, Samuel Dória Medina, com negócios em várias áreas, sério, inteligente e bem conceituado, com
bom trânsito junto aos Estados Unidos e cuja presença na chapa de Jaime alimentava também a esperança de
que ele pudesse evitar o veto norte-americano a um eventual governo de Jaime, caso e MIR saísse vitorioso.

Quando retornei a La Paz, dsta vez integrado à coordenação da campanha, me chamou a atenção notar que
havia muito mais propaganda do candidato a vice, Samuel, cuja foto nem apareceria na célula eleitoral, do
que de Jaime, e comentei o fato com Fufi e com o senador Polilla. A publicidade do Vice era uma subversão
de qualquer princípio de marketing, pois invertia a ordem da chapa, onde a foto do vice, colorida e vistosa,
com seu nome impresso em caracteres garrafais, era secundada pela simples menção do nome de Jaime Paz
Zamora, sem foto e com seu nome e cargo que disputava em corpo de letra muito menor.

Fui então informado que Samuel tinha sua própria equipe de marketeiros, se não me engano, americanos da
sucursal venezuelana de um grande escritório de consultoria norte-americano. Tinha seus próprios sistemas
de informação, propaganda e distribuição. Expus minha opinião do prejuízo que aquela dispersão trazia para
Jaime e fui incumbido de “tratorar” os dissidentes, uma vez que eu era estrangeiro, tinha credenciais
profissionais e, portanto, não criaria nenhum constrangimento ao MIR caso contrariasse ou atraísse a ira do
vice. Como não fazia mesmo nenhum sentido a adoção de duas diretrizes, com dois diferentes objetivos,
para uma só campanha, tivemos uma dura reunião com a consultoria do vice e ali determinou-se que o
projeto presidencial de Samuel para 2002 deveria ser deixado para 2002 e que todos deveriam concentrar-se
na campanha presente, sem a qual não haveria futuro.

COMO O MIR SUPEROU O SEU INFERNO ASTRAL


Mesmo às voltas com enormes dificuldades financeiras e a colossal oposição que lhe fazia o presidente
Goni, MIR decolou e iniciou uma trajetória fortemente ascendente, em razão dos seguintes fatores básicos:
a) à adoção de uma linha emocional de campanha, que apresentava o rosto de Zamora, marcado pelo
incêndio que foi vítima após um suposto atentado contra sua vida, no qual o avião que ele utilizava teria sido
sabotado, o que provocou sua queda. O rosto de Zamora foi apresentado como sendo a cara da Bolívia e de
seu povo, perseguido e oprimido, marcado pela luta, todos sobreviventes que, contra tudo e contra os todo-
poderosos, nunca se dobraram nem fugiram às responsabilidades de resistir e lutar contra os opressores.
a) à força da imagem histórica e tradição do MIR, relembrada na peça principal da campanha;
b) ao imenso carisma de seu principal líder e candidato à presidência, Jaime Paz Zamora;
c) à competência e dinamismo do então chefe de Campanha, Carlos Fufi Saavedra Bruno;
d) ao apoio de empresas brasileiras, coordenado pelo candidato a senador por Pando, Andrés Guzmán;
e) à adoção da estratégia por mim sugerida, de monitorar a evolução da campanha em todo o País e, ao invés
de uma eleição nacional, fracioná-la em 68 eleições “distritais” (o sistema eleitoral boliviano é o distrital
misto), para assim otimizar a grande estrutura partidária mas escassos recursos disponíveis: nos distritos
onde estávamos bem, não era preciso investir muito; nos distritos onde estávamos mal, não investíamos nada
e onde haviam mais eleitores indecisos ou a disputa estava equilibrada, investíamos tudo, tempo, dinheiro e
presença física do candidato.
f) ao benefício de ter sido a vítima preferencial do “malvado vilão”, pela forte oposição que lhe fazia o já
então inimigo público número um do País, dono de uma rejeição espetacular de 80% do eleitorado: o
presidente Gonzalo “Goni” Sanchez de Losada.
g) Ao pacto de não agressão e aliança “branca” sacramentada entre Carlos Fufi Saavedra, chefe de campanha
do MIR e Kieffer, chefe da campanha da ADN e que ocupou, mais tarde, o Ministério da Defesa no governo
da Mega coalizão democrática de Hugo Banzer.

O pacto de não agressão com o MIR foi determinante para a vitória de Hugo Banzer, pois reduziu sua frente
de desgaste e permitiu-lhe centrar seu foco em seu principal adversário, Juan Carlos Duran, e repassou ao
MIR a tarefa (agradável, diga-se de passagem) de cerrar o ataque ao governo que tinha perseguido seu
partido por 5 anos.

O candidato do MNR, além do Bonosol (distribuição anual dos lucros resultantes dos investimentos
derivados da privatização da previdência aos idosos) e da Reforma Agrária (distribuição de títulos de terra),
teve que passar todo o resto do tempo tentando defender o governo mais impopular da história boliviana dos
ataques que lhes eram dirigidos pelo arqui-rival MIR, de Jaime Paz Zamora e das ONGs patrocinadas pela
ADN, que o obrigavam a defender seu governo dos ataques e protestos de vítimas de confrontos entre o
exército e os camponeses durante o governo de Goni, além de greves dos professores e das Centrais
Sindicais.

Também cresceu o candidato da UCS, o empresário de Santa Cruz de la Sierra Ivo Kuljis, que pautou sua
campanha em cima de propostas, sem desferir ataques a ninguém, beneficiando-se por isto mais que os
demais concorrentes da guerra sem fronteiras e dos desgastes mútuos que ela provocava nos dois favoritos, o
general Hugo Banzer o emenerrista Juan Carlos Duran.

Ao se darem conta do fato, os aliados MIR e a ADN promoveram reunião, onde Fufi e Kieffer decidiram
jogar algumas cascas de bananas e dirigir parte de seu fogo sobre o Ucesista Ivo Kuljis, freando a ascensão
do rival, tranqüila até então. A decisão de Ivo Kuljis, de absorver os ataques sem dar-lhes reposta à altura, foi
seu grande erro estratégico, determinante para impedi-lo de chegar entre os dois primeiros colocados,
situação que o deixaria em condições de chegar à presidência.

Na Bolívia, diferentemente do sistema que prevalece no Brasil, o 2º turno é disputado no Congresso, pelos
deputados e senadores eleitos no 1º turno. Depois de Jaime Paz ter chegado a presidência apesar de ser o
terceiro colocado na disputa, a legislação foi alterada, permitindo que apenas os dois primeiros colocados
pudessem disputar o 2º turno, onde se elege o candidato que conseguir compor alianças que lhe dêem a
maioria dos votos no senado e na câmara dos deputados.
Como não havia coligação possível entre o MNR com a ADN de Banzer nem com o MIR de Jaime Paz, a
única chance de o MNR conseguir fazer parte do futuro governo era a UCS de Ivo Kuljis. Se Ivo chegasse ao
segundo lugar e Banzer mantivesse o primeiro, as chances de Ivo ser o próximo presidente eram enormes,
pois não tinha inimizades pessoais com nenhuma das outras forças políticas e poderia formar maioria com
qualquer partido. Daí a importância do pacto da ADN com o MIR, que além de reduzir o desgaste do general
Banzer ainda serviu para criar a barragem que segurou o crescimento da UCS e inviabilizou, de vez,
qualquer esperança do MNR em fazer o sucessor de Goni.

A CHANTAGEM ELEITORAL FEITA PELO “PRESIDENTE PORTA-VOZ” AO POVO, EM


NOME DOS ESTADOS UNIDOS

Sentindo-se perdido, ao ver a chance de seu inimigo Jaime Paz Zamora desbancar seu candidato e chegar à
presidência, Goni abdicou de qualquer recato que se pressupõe em alguém que ocupe a presidência e partiu
para o confronto direto com Jaime Paz Zamora, que cresceu 2% em dois dias só por conta do confronto com
o presidente. Isto porque as respostas aos ataques do presidente o faziam vítima do poderoso e mal-amado
Goni e lhe abriam generosos espaços nos meios de comunicação.

Mas ao perceber que o confronto ajudava o adversário, Goni recebeu a ajuda de seu maior aliado estrangeiro:
numa intervenção frontal, inimaginável por aqui no Brasil, o próprio presidente se fez portador de um recado
da embaixada norte americana e declarou, publicamente, que Zamora era uma opção inaceitável para os
Estados Unidos. Afirmou que sua eleição faria aquele País rever as suas relações com a Bolívia e poderia
resultar no descredenciamento desta nos programas de apoio, ajuda humanitária, comércio exterior e no
tratamento tributário preferencial que os norte-americanos concediam ao País.

E não foi desmentido pela embaixada nem pelo departamento de estado norte-americano, num tácito apoio e
endosso às ameaças feitas ao País através de seu bi-presidente Goni (não sei bem se era dos bolivianos; dos
norte-americanos ou, mais provavelmente, se ele foi eleito por ambos). A imprensa boliviana encarregou-se
de fazer o resto do trabalho de profilaxia iniciado por Goni, amplificando o temos de quanto o País poderia
ser prejudicado com a medida, e conseguiu estancar o crescimento contínuo que poderia levar o MIR à
presidência.

O resultado daquela eleição foi apertadíssimo:


Hugo Banzer (ADN) 20,88%
Juan Carlos Durán *(MNR) 17,00%
Remedios Loza (CONDEPA) 16,00%
Jaime Paz Zamora (MIR) 15,17%
Ivo Kuljis (UCS) 15,10%

Contudo, graças à estratégia e o monitoramento contratado à Brasmarket, apesar de obter a 4ª colocação, o


MIR elegeu a segunda maior bancada de senadores e deputados, que só foi superada pela ADN. Embora
pudesse governar apenas com o MIR, Banzer foi inteligente e hábil na articulação: é melhor ser acionista
majoritário com 3 sócios minoritários, onde cada um deles tira a força dos demais, do que depender
exclusivamente de apenas um e ainda ter que aturar a oposição de mais dois adversários. Esta visão deu
origem ao que batizou de Mega-Coalizão, costurada com o MIR, a UCS e o CONDEPA, que assegurou
ampla e folgada maioria parlamentar ao seu governo.

O MIR conseguiu eleger um deputado, mas meu amigo Andrés Guzmán não foi eleito, por uma diferença de
apenas 2% das intenções de voto no estado de Pando, onde Jaime Paz obteve a terceira colocação, logo atrás
do governista MNR, que não poupou gastos nem estratagemas nada republicanos para segurar-se na segunda
posição. E apesar de:
 Tudo o que investiu de seu próprio bolso na campanha (ele quase foi à falência);
 Não ter poupado esforços para buscar a vitória de Zamora;
 Ter coordenado as contribuições vindas do Brasil;
 O MIR ter ocupado vários ministérios, cargos e indicado embaixadores, o meu amigo Andrés foi
abandonado pelos dirigentes de seu partido à própria sorte.

AS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2.002 - BOLÍVIA: a fraude que elegeu Goni presidente e


desestabilizou o País.

Desta vez fui convocado pelo meu já grande amigo Ivo Kuljis, que após a eleição presidencial de 1998 tinha
fundado seu partido o MUP – Movimiento Unidad y Progreso. Comecei a monitorar o País para ele desde
2000, quando ocorreram eleições municipais. O presidente Hugo Banzer teve muitos problemas para
administrar a sua Mega-Coalizão (vários escândalos), além de um câncer cerebral diagnosticado em
fevereiro de 2.002 e faleceu daquele mal em 5 de maio. Talvez em função da doença que o acometia, a
gestão de Banzer foi “frouxa”, sofreu forte desgaste e perdeu apoio popular. Porém, já na fase mais aguda da
doença, em março de 2.002, assumiu a presidência o seu jovem vice, Tuto Quiroga, que desfrutava de
excelente conceito popular e altos índices de aprovação social de sua gestão.

A popularidade de Tuto, ao contrário de Goni, fazia dele o maior eleitor do País e, se houvesse reeleição,
Tuto seria imbatível, mas ele estava impedido, pela legislação em vigor, de disputar a presidência. Estas
afirmações podem ser constatadas pelo comparativo da aprovação conferida ao Governo Banzer em maio de
2001 com os excelentes números de Tuto que nossas pesquisas captavam em maio 2002, depois de anunciar
uma reforma ministerial e em apenas três meses de sua gestão:

APROVAÇÃO DAS GESTÕES: Hugo Banzer Tuto Quiroga


Optimo................................ 0.9 ............. 23,8
Bueno................................. 6.9 ............. 36,5
Regular............................... 32.6 ............. 27,7
Malo.................................. 37.1 ............. 9,1
Pésimo................................ 20.9 ............. 1,9
Ns/Sr................................. 1.6 ............. 1,0

TUTO ASSUME O PODER E DÁ INÍCIO À METAMORFOSE DE EVO MORALES

Ao assumir a presidência, para escapar da tutela dos velhos e poderosos caciques da ADN, Tuto Quiroga
promoveu uma renovação total nos ministérios, e preferiu deixar que o partido lançasse um candidato da ala
“velha” da ADN que, uma vez derrotado, enterraria de vez os dinossauros e lhe daria o controle absoluto da
vanguarda adenista. Se não conseguisse o controle partidário da ADN, como alternativa, o presidente Tuto
também acalentava a idéia de criar seu próprio partido, para onde ambicionava atrair as melhores e mais
modernas lideranças do País.

Já presidente, Tuto cometeu o primeiro erro e, talvez mal aconselhado, tirou da obscuridade o rebelde líder
da região cocaleira (região conhecida como El Chapare, em Cochabamba, área de maior plantio da coca)
então deputado, barulhento, mas ainda débil embora com força para promover bloqueios que paralisavam o
País. Cassou então o mandato do atual presidente Evo Morales, na época deputado, transformando-o em
mártir ao decretar a prisão dele. Para fugir da prisão, Evo teve que refugiar-se na sua base e reduto, onde
passou a articular nacionalmente o seu então inexpressivo partido. Na época de sua cassação, e antes de virar
mártir, a Brasmarket detectou que a opinião do povo boliviano sobre o deputado era altamente negativa:

AHORA VOY CITAR EL NOMBRE DE ALGUNOS LIDERAZGOS BOLIVIANOS. DÍGAME POR FAVOR SI A UD.
LE GUSTA ESTA PERSONA, SI LE DISGUSTA, SI LA CONOCE PERO NO TIENE OPINIÓN NI POSITIVA
NI NEGATIVA ACERCA DE ESTA PERSONA O SI NO LA CONOCE

EVO MORALES (LIDERAZGO COCALERO - QUÉCHUA)


Ns/nr............................................................ 5.5
Le gusta......................................................... 13.0
Le disgusta...................................................... 58.9
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 18.9
No la conoce..................................................... 3.7
Evo Morales Ayma fue uno de los cuatro diputados uninominales que hace cinco años llevaron al Congreso
Nacional los campesinos cocaleros del Chapare, Departamento de Cochabamba, los cuales participaron
como partido Izquierda Unida, que alcanzó el 3.5 por ciento de la votación nacional. En febrero de 2002, Evo
Morales fue expulsado del Parlamento, acusado de ser el autor intelectual (junto con otros dirigentes
cocaleros) de la muerte de dos policías que participaron en la represión de una movilización de cocaleros en
el centro de acopio de hoja de coca de Sacaba, a 14 km de Cochabamba. En la precipitada expulsión del
diputado, fue decisiva la intervención del embajador norteamericano en Bolivia. Desaforado como diputado en
febrero, Evo volvió al Congreso en agosto avalado por un caudal de votos, como candidato de un pequeño partido de izquierda de
reciente creación (1998) y ajeno al sistema político tradicional, el Movimiento Al Socialismo (MAS-IPSP) Instrumento por la
Soberanía de los Pueblos.
Antes, la mayoría parlamentaria que respaldaba a Quiroga había desaforado al dirigente cocalero, para su juzgamiento por cargos
de asesinato y hasta narcotráfico, que se desmoronaron y no pudieron conseguir el objetivo de liquidarlo políticamente. Por el
contrario, catapultaron su primera candidatura presidencial.

Se Tuto fosse menos ambicioso, ou tivesse apoiado o candidato de seu partido ou se não tivesse se deixado
envolver pelos interesses norte-americanos e se mantido neutro naquela eleição, e a história da Bolívia teria
sido outra, o País não teria sofrido tantas crises; meu amigo teria sido vice-presidente e Quiroga teria grande
chance de ser eleito presidente, em 2007. Bastava que ele, ao invés de jogar para a platéia par provar a sua
autoridade e coragem, tomando para si a autoria da cassação, deixasse que ela fosse uma decisão impessoal
do poder Judiciário e uma questão de justiça. Seus dividendos pessoais seriam mais baixos, mas ele não teria
criado um inimigo tão poderoso.

O QUADRO SUCESSÓRIO BOLIVIANO, A 6 MESES DA ELEIÇÃO

Ivo Kuljis, que poderia sair vitorioso da eleição se tivesse reagido com mais veemência aos ataques
desferidos contra ele na reta final da disputa de 97, foi sondado e recebeu inúmeros convites, de todas as
forças políticas, para compor suas chapas como candidato à vice-presidência, mas sua real pretensão era
mesmo a de disputar a presidência. O eleitor boliviano queria eleger um presidente que fosse honesto,
independente e representasse o Câmbio (mudança). Este era o perfil da demanda eleitoral e o conceito dos
partidos e lideranças bolivianas:

PESQUISA NACIONAL – BOLÍVIA JANEIRO DE 2002

¿EN LAS PRÓXIMAS ELECCIONES, UD. CREE QUE ESTA MAS INCLINADO A VOTAR POR UNO
DE LOS CANDIDATOS DE LA ACTUAL COALICIÓN DEL GOBIERNO, POR UNO CANDIDATO DE
LOS PARTIDOS DE OPOSICIÓN O CREE QUE ES MEJOR APOYAR A UNO CANDIDATO CON
PROGRAMA Y PROPUESTAS INDEPENDIENTES, NI CONTRA NI A FAVOR DEL GOBIERNO?
Por la Situación................................................. 21.3
Por la Oposición................................................. 22.0
Por uno candidato independiente.................................. 47.8
Ns/nr............................................................ 8.9

¿Y A USTED LE GUSTARÍA MAS VOTAR POR CANDIDATO CON LARGA EXPERIENCIA


POLÍTICA EN GOBIERNOS ANTERIORES O CREE QUE LO MEJOR SERIA VOTAR POR LA
RENOVACIÓN, ELIGIENDO EL CANDIDATO POR SU CAPACIDAD, CARÁCTER Y PROPUESTAS,
MISMO QUE ELLO NO TENGA EJERCIDO CARGOS ELECTIVOS Y NI LARGA EXPERIENCIA EN
CARGOS EJECUTIVOS?

Experiencia...................................................... 30.9
Renovación....................................................... 62.3
N.s/ n.r......................................................... 6.8

¿SI LAS ELECCIONES PRESIDENCIALES FUERAN HOY POR QUÉ PARTIDO POLÍTICO
VOTARÍA USTED? (RESPUESTA ESPONTÁNEA - NO ESTIMULAR AL ENCUESTADO)
NS/NR............................................................ 17.6
ADN.............................................................. 5.5
MNR.............................................................. 17.7
CONDEPA.......................................................... 3.0
MIR.............................................................. 14.5
UCS.............................................................. 3.6
NFR.............................................................. 7.9
MBL.............................................................. 1.4
PDC.............................................................. 0.0
MAS.............................................................. 3.0
No votaría por ninguno de ellos.................................. 22.7
Citó otros partidos políticos.................................... 3.1

¿TIENE UD. SIMPATÍA POR ALGUNO CANDIDATO O YA HA DECIDIDO POR QUIENES VOTARÁ
PARA PRESIDENTE EN LAS ELECCIONES DE 2002? (SE HA DECIDIDO, PREGUNTAR)- POR
QUIEN VOTARA USTED? (RESPUESTA ESPONTÁNEA - NO ESTIMULAR)
No decidió aún/No sabe........................................... 31.3
Jaime Paz (MIR)........................................ 14.2
Ivo Kuljis (SIN PARTIDO)................................ 4.7
Goni (MNR)........................................ 16.1
Jonny Fernandez (UCS)........................................ 3.3
Manfred Reyes (NFR).................................... 8.6
Ronald Maclean (ADN)........................................ 2.0
Antonio Aranibar (MBL).................................... 0.6
Benjamín Miguel Harp (PDC).................................... 0.1
Alberto Costa Obregón (LIBERDAD Y JUSTICIA).................... 9.1
Felipe Quispe (Malku) (CAMPESINOS).............................. 1.4
Remedios Losa (CONDEPA)................................. 1.3
Mónica Palenque (CONDEPA)................................. 1.8
Evo Morales...................................................... 0.4
Alejandro Velis.................................................. 0.6
René Blatman..................................................... 1.2
Citó otros nombres............................................... 3.3

¿SI LAS ELECCIONES GENERALES FUERAN HOY E ESTOS LOS CANDIDATOS (ENTREGAR EL
DISCO 1 - SI EL ENCUESTADO FUERE ANALFABETO, LEER LOS NOMBRES, CON ARRANQUE
ALEATORIO) POR CUÁL DE ESTOS CANDIDATOS VOTARÍA USTED?
Aún no decidió todavia/No sabe - salta hasta la pregunta 44...... 16.1
Jonny Fernandez.................................................. 3.8
Antonio Aranibar................................................. 1.2
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 2.8
Jaime Paz Zamora................................................. 15.1
Manfred Reyes Villa (Bombón)..................................... 10.9
Ivo Kuljis....................................................... 5.0
Gonzalo Sanches de Lozada (Goni)................................. 16.1
Ronald Maclean................................................... 1.4
Benjamin Miguel Harp............................................. 0.8
Alberto Costa Obregon............................................ 9.3
René Blattman.................................................... 2.5
Evo Morales...................................................... 3.5
No votaría por ninguno de ellos - salta hasta la pregunta 46..... 11.6
¿SI EL CANDIDATO QUE ESCOGIÓ NO DISPUTASE TODAVÍA, POR CUAL DE LOS DEMÁS
USTED VOTARÍA?
No quis responder................................................ 11.3
Jonny Fernandez.................................................. 2.2
Antonio Aranibar................................................. 3.5
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 2.9
Jaime Paz Zamora................................................. 5.5
Manfred Reyes Villa (Bombón)..................................... 9.6
Ivo Kuljis....................................................... 5.6
Gonzalo Sanches de Lozada (Goni)................................. 2.2
Ronald Maclean................................................... 1.2
Benjamin Miguel Harp............................................. 0.7
Alberto Costa Obregon............................................ 6.4
René Blattman.................................................... 5.4
Evo Morales...................................................... 4.1
No votaría por ninguno de ellos - salta hasta la pregunta 46..... 25.0
Aún no decidió................................................... 14.4

¿SI LAS ELECCIONES GENERALES FUERAN EL PRÓXIMO DOMINGO POR CUÁL DE


ESTOS CANDIDATOS NO VOTARÍA USTED NUNCA? - PRESENTAR EL DISCO PIZZA 2 (O
LEER PARA LOS ANALFABETOS, CON ARRANQUE ALEATORIO)

No quis responder - salta hasta la pregunta 46................... 8.0


Jonny Fernandez.................................................. 19.4
Gonzalo Sánchez de Losada (Goni)................................. 15.9
Ronald Maclean................................................... 3.7
Jaime Paz Zamora................................................. 6.8
Manfred Reyes Villa.............................................. 1.1
Ivo Kuljis....................................................... 3.0
Alberto Costan Obregon........................................... 1.0
René Blattman.................................................... 1.2
Evo Morales...................................................... 15.1
No rechaza a ninguno - salta hasta la pregunta 46................ 2.4
No votaria por ninguno de ellos.................................. 14.1
Aún no decidió................................................... 8.3

¿HA MÁS ALGUNO EN QUIEN NO VOTARÍA DE JEITO NINGUNO?

Ns/nr -.......................................................... 13.3


Jonny Fernandez.................................................. 10.5
Gonzalo Sánchez de Losada (Goni)................................. 7.7
Ronald Maclean................................................... 6.3
Jaime Paz Zamora................................................. 7.3
Manfred Reyes Villa.............................................. 3.2
Ivo Kuljis....................................................... 4.1
Alberto Costa Obregon............................................ 2.1
René Blattaman................................................... 2.0
Evo Morales...................................................... 7.1
No rechaza mas ninguno........................................... 9.0
No votaria por ninguno de ellos.................................. 22.1
Aún no decidió................................................... 5.3
AHORA LE VOY A LEER ALGUNAS CUALIDADES Y DEFECTOS, Y A MI ME GUSTARÍA QUE
USTED DIGA A CUAL DE ESTOS POLÍTICOS DA LISTA AQUELLA CUALIDAD O DEFECTO SE
LES APLICA MEJOR:

ES EL MÁS HONESTO

Ronald Maclean................................................... 2.5


Jonny Fernandez.................................................. 2.0
Antonio Aranibar................................................. 4.0
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 2.7
Mônica Palenque.................................................. 3.6
Jaime Paz Zamora................................................. 6.6
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 5.2
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 7.6
Ivo Kuljis....................................................... 6.0
Albeto Costa Obregon............................................. 11.2
René Blattman.................................................... 6.1
Evo Morales...................................................... 7.2
Todos Ellos...................................................... 0.5
Ninguno de ellos................................................. 34.8

ES EL MAS SENCILLO Y SE PREOCUPA POR LA GENTE

Ronald Maclean................................................... 1.3


Jonny Fernandez.................................................. 6.3
Antonio Aranibar................................................. 1.4
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 5.9
Mônica Palenque.................................................. 7.7
Jaime Paz Zamora................................................. 7.9
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 5.3
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 12.9
Ivo Kuljis....................................................... 7.0
Albeto Costa Obregon............................................. 12.4
René Blattman.................................................... 3.0
Evo Morales...................................................... 9.1
Todos Ellos...................................................... 0.7
Ninguno de ellos................................................. 19.1

48-ES EL MÁS INTELIGENTE Y CAPACITADO PARA GOBERNAR EL PAÍS

Ronald Maclean................................................... 2.8


Jonny Fernandez.................................................. 2.0
Antonio Aranibar................................................. 2.0
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 1.6
Mônica Palenque.................................................. 2.3
Jaime Paz Zamora................................................. 15.4
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 19.7
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 6.2
Ivo Kuljis....................................................... 5.3
Albeto Costa Obregon............................................. 11.1
René Blattman.................................................... 3.2
Evo Morales...................................................... 3.3
Todos Ellos...................................................... 1.5
Ninguno de ellos................................................. 23.6
ES EL MAS SINCERO
Ronald Maclean................................................... 1.2
Jonny Fernandez.................................................. 1.8
Antonio Aranibar................................................. 2.2
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 3.5
Mônica Palenque.................................................. 3.6
Jaime Paz Zamora................................................. 7.7
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 5.6
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 8.4
Ivo Kuljis....................................................... 6.4
Albeto Costa Obregon............................................. 11.0
René Blattman.................................................... 3.9
Evo Morales...................................................... 10.3
Todos Ellos...................................................... 0.5
Ninguno de ellos................................................. 33.9

CUENTA CON EXPERIENCIA PARA GOBERNAR EL PAÍS


Ronald Maclean................................................... 2.3
Jonny Fernandez.................................................. 1.2
Antonio Aranibar................................................. 1.2
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 0.9
Mônica Palenque.................................................. 1.8
Jaime Paz Zamora................................................. 24.5
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 27.3
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 5.2
Ivo Kuljis....................................................... 3.2
Albeto Costa Obregon............................................. 2.8
René Blattman.................................................... 2.8
Evo Morales...................................................... 1.5
Todos Ellos...................................................... 1.8
Ninguno de ellos................................................. 23.5

51-ES LO MAS CARISMÁTICO


Ronald Maclean................................................... 2.0
Jonny Fernandez.................................................. 3.5
Antonio Aranibar................................................. 1.8
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 2.6
Mônica Palenque.................................................. 3.8
Jaime Paz Zamora................................................. 14.6
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 14.4
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 17.5
Ivo Kuljis....................................................... 4.5
Albeto Costa Obregon............................................. 5.4
René Blattman.................................................... 1.5
Evo Morales...................................................... 4.4
Todos Ellos...................................................... 1.9
Ninguno de ellos................................................. 22.1

52-ES LO QUE INSPIRA MAS CONFIANZA


Ronald Maclean................................................... 1.6
Jonny Fernandez.................................................. 3.2
Antonio Aranibar................................................. 1.2
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 3.3
Mônica Palenque.................................................. 2.8
Jaime Paz Zamora................................................. 13.1
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 12.7
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 10.5
Ivo Kuljis....................................................... 7.1
Albeto Costa Obregon............................................. 14.1
René Blattman.................................................... 3.9
Evo Morales...................................................... 7.4
Todos Ellos...................................................... 0.9
Ninguno de ellos................................................. 18.2

53-ES CORRUPTO
Ronald Maclean................................................... 4.5
Jonny Fernandez.................................................. 16.1
Antonio Aranibar................................................. 0.3
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 2.4
Mônica Palenque.................................................. 2.6
Jaime Paz Zamora................................................. 15.6
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 22.1
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 1.0
Ivo Kuljis....................................................... 1.2
Albeto Costa Obregon............................................. 0.7
René Blattman.................................................... 1.0
Evo Morales...................................................... 1.2
Todos Ellos...................................................... 26.8
Ninguno de ellos................................................. 4.5

54-ES POCO CONOCIDO Y NO TIENE EXPERIENCIA


Ronald Maclean................................................... 3.5
Jonny Fernandez.................................................. 5.6
Antonio Aranibar................................................. 5.8
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 15.1
Mônica Palenque.................................................. 8.1
Jaime Paz Zamora................................................. 1.1
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 2.0
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 3.2
Ivo Kuljis....................................................... 13.4
Albeto Costa Obregon............................................. 12.5
René Blattman.................................................... 13.9
Evo Morales...................................................... 12.8
Todos Ellos...................................................... 1.3
Ninguno de ellos................................................. 1.7

55-ES LO QUE MENOS INSPIRA CONFIANZA


Ronald Maclean................................................... 4.7
Jonny Fernandez.................................................. 19.3
Antonio Aranibar................................................. 1.5
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 11.2
Mônica Palenque.................................................. 5.5
Jaime Paz Zamora................................................. 12.1
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 21.2
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 1.1
Ivo Kuljis....................................................... 1.3
Albeto Costa Obregon............................................. 1.8
René Blattman.................................................... 1.4
Evo Morales...................................................... 15.5
Todos Ellos...................................................... 2.0
Ninguno de ellos................................................. 1.4
56-REPRESENTA EL ATRASO, ES UNO LEDERAZGO ULTRAPASADO

Ronald Maclean................................................... 2.0


Jonny Fernandez.................................................. 8.0
Antonio Aranibar................................................. 3.5
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 19.5
Mônica Palenque.................................................. 5.9
Jaime Paz Zamora................................................. 19.9
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 21.5
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 0.7
Ivo Kuljis....................................................... 1.1
Albeto Costa Obregon............................................. 0.4
René Blattman.................................................... 1.2
Evo Morales...................................................... 3.9
Todos Ellos...................................................... 5.9
Ninguno de ellos................................................. 6.5

57-ES POR DEMÁS RADICAL

Ronald Maclean................................................... 3.9


Jonny Fernandez.................................................. 4.4
Antonio Aranibar................................................. 2.5
Felipe Quispe (Mallku)........................................... 24.3
Mônica Palenque.................................................. 2.6
Jaime Paz Zamora................................................. 5.2
Gonzalo Sánchez de Lonzada - Goni................................ 15.9
Manfred Reyes Villa - Bombóm..................................... 1.3
Ivo Kuljis....................................................... 1.3
Albeto Costa Obregon............................................. 6.9
René Blattman.................................................... 2.2
Evo Morales...................................................... 22.1
Todos Ellos...................................................... 5.3
Ninguno de ellos................................................. 2.1

63-# EL ACTUAL GOBIERNO ES COMPUESTO POR UNA COALICIÓN ENTRE ADN, MIR, UCS Y
CONDEPA. POR LA COMPETENCIA Y CONDUCTA DE SU LIDERAZGOS, MINISTROS Y POR LO
PAPEL GENERAL QUE CADA UNO DE ESTOS PARTIDOS TIENE DESEMPEÑADO EN ESTE
GOBIERNO, CUAL SU AVALIACION PARA:

# La ADN

Aprueva.......................................................... 12.4
Desaprueva....................................................... 69.8
Regular.......................................................... 16.2
NS/SR............................................................ 1.6

64-El MIR

Aprueva.......................................................... 14.1
Desaprueva....................................................... 68.7
Regular.......................................................... 15.2
NS/SR............................................................ 2.0

65-La UCS

Aprueva.......................................................... 4.4
Desaprueva....................................................... 83.7
Regular.......................................................... 8.3
NS/SR............................................................ 3.6

66-El CONDEPA

Aprueva.......................................................... 3.2
Desaprueva....................................................... 89.2
Regular.......................................................... 3.0
NS/SR............................................................ 4.6

Jaime Paz Zamora, apesar de carismático e dispor de estrutura partidária sólida e, desta vez, com seu partido
na mega coalizão não lhe faltarem recursos para financiar a campanha, tinha imagem ligada à corrupção e
não representava a renovação. Seu potencial eleitoral era baixo.

JAIME PAZ ZAMORA (MIR)

Ns/nr............................................................ 3.9
Le gusta......................................................... 35.1
Le disgusta...................................................... 38.4
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 20.8
No la conoce..................................................... 1.8

Outro concorrente com estrutura partidária forte e dinheiro sobrando era o ex-presidente Goni, que tinha
uma rejeição colossal, que inviabilizava qualquer esperança dele conquistar a presidência (pelo menos, por
meios legítimos e democráticos). Esta era a situação de Gonzalo Sanchez de Lozada:

GONZALO SÁNCHEZ DE LOZADA (GONI) (MNR)

Ns/nr............................................................ 2.5
Le gusta......................................................... 27.7
Le disgusta...................................................... 51.7
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 15.8
No la conoce..................................................... 2.3

Afinal, em janeiro de 2.002, entre uma dezena de possíveis candidatos, só haviam 5 nomes realmente
capazes de encarnar as demandas sociais por mudança e honestidade: um juiz de La Paz, chamado Costa
Obregón, que, mais ou menos como o ocorrido no Rio de Janeiro com a juíza Denise Frossard, tinha ganho
notoriedade nacional ao condenar grandes empresários por corrupção, mas que não tinha estrutura partidária,
financeira e nem desfrutava da confiança das elites. Costa Obregón tinha potencial e sua situação era a
seguinte:

ALBERTO COSTA ABREGON

Ns/nr............................................................ 4.9
Le gusta......................................................... 36.8
Le disgusta...................................................... 13.4
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 23.5
No la conoce..................................................... 21.4

No outro extremo (se bem que na época sua candidatura sequer era muito levada a sério), estava o Evo
Morales, que igualmente não tinha estrutura partidária consolidada no País e muito menos, dinheiro para
financiar sua campanha. Na época, Evo era desconhecido fora de seu estado e tinha uma rejeição muito
maior que sua intenção de voto. Esta era o potencial dele:
EVO MORALES
Ns/nr............................................................ 5.5
Le gusta......................................................... 13.0
Le disgusta...................................................... 58.9
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 18.9
No la conoce..................................................... 3.7
Manfred Reyes Villa foi o grande fenômeno eleitoral da eleição de 2.002, o imprevisto que frustrou toda a
estratégia e cálculos de probabilísticos e obrigou o presidente e o candidato dos MNR e dos norte-
americanos a apelarem para a ignorância. E Goni levou a cabo a campanha mais agressiva que eu já tive a
oportunidade de presenciar, e afirmo que nenhum brasileiro também assistiu a nada igual, pois no Brasil, o
candidato que a fizesse assim teria seu registro cassado pela Justiça Eleitoral, além de algumas grandes
emissoras de rádio e televisão que seriam obrigadas a suspender seu sinal por determinação judicial.
Mas antes de tudo acontecer, em janeiro de 2.002 o cacife de Manfred era muito melhor do que o de seus
adversários: contava com a simpatia de mais de 1/3 da população e era relativamente desconhecido no resto
do País, uma vez que sua liderança era concentrada no estado de Cochabamba, terceiro colégio eleitoral da
Bolívia, onde Manfred contava com 68% das simpatias populares contra 21% das antipatias. Ivo Kuljis, que
aliou-se a Manfred e disputou a eleição como seu vice também tinha sua liderança mais concentrada ao
estado de Santa Cruz de la Sierra, segundo maior colégio eleitoral da Bolívia, onde contava com 55% das
simpatias e a antipatia de 18% da população. Ao analisar a possibilidade deles aliarem-se, minhas
recomendações a Ivo foram de que a aliança seria o melhor caminho para ambos romperem as fronteiras
regionais e, uma vez unidas, suas candidaturas teriam amplas perspectivas de ganharem projeção em todo o
território boliviano. A imagem nacional dos dois aliados era o seguinte:

MANFRED REYES VILLA (NFR)

Ns/nr............................................................ 5.2
Le gusta......................................................... 37.3
Le disgusta...................................................... 18.9
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 25.2
No la conoce..................................................... 13.4

IVO KULJIS (SIN PARTIDO)

Ns/nr............................................................ 6.4
Le gusta......................................................... 24.1
Le disgusta...................................................... 18.9
No tiene opinión acerca de esta persona.......................... 34.1
No la conoce..................................................... 16.5

O que ninguém podia imaginar à época, era que, ao longo da campanha e auxiliado pelos norte-americanos e
pelo presidente Tuto Quiroga, o MAS – Movimiento al Socialismo de Evo (da nação indígena Quéchua)
pudesse superar diferenças étnicas históricas e “canibalizar” o contingente eleitoral que perdeu o CONDEPA
partido que agregava a maioria indígena do altiplano (os Aimaras). Isto só foi possível porque Evo soube
aproveitar-se de o CONDEPA ter se “lambuzado” com o poder e liquefez-se, em razão dos vários escândalos
e envolvimento de seus líderes em corrupção e nepotismo declarado. (Qualquer semelhança com eventos e
fatos ocorridos em outros Países, é mera coincidência...)

OS PRINCIPAIS PROTAGONISTAS E VÍTIMAS DA FRAUDE MONUMENTAL:

Naquela ocasião, além dos candidatos dos grandes partidos (MNR; ADN; MIR e UCS), dos 5 nomes das
pequenas legendas (Ivo, Manfred, Costa Obregón, Malku e Evo Morales), somente 2 eram viáveis, pois
embora seus partidos fossem limitados às suas bases territoriais (Ivo Kuljis em Santa Cruz e Manfred Reyes
Villa em Cochabamba), ambos dispunham de recursos financeiros e poderiam viabilizar-se caso eles
conseguissem romper a barreira do regionalismo territorial.

Manfred Reyes Villa: formação militar, por várias vezes prefeito da capital Cochabamba, sempre desfrutou
de excelentes índices de popularidade e alta aprovação social de suas gestões. Jovem, extremamente
carismático (seu apelido é Bombom), corajoso e audaz, além de competente, ele é um bom articulador
político e exerce forte liderança sobre o partido que criou, o NFR – Nueva Fuerza Revolucionaria. Bem
articulado, pragmático, personalidade cativante.

Os maiores defeitos de Manfred eram seu provincianismo (toda a sua carreira foi feita nos limites territoriais
de seu estado) e os resquícios de sua formação militar (a disciplina, se boa pelo lado da determinação, leva,
às vezes, à teimosia); sua fidelidade à hierarquia: uma vez estabelecida a estrutura ele não a questiona mais;
e, o pior deles, comum a muitos políticos: não é cumpridor de sua palavra nem honra os compromissos que
assina.
Ivo Kuljis Mateo Fuchner: Um dos maiores empresários da Bolívia, com negócios que vão desde o agro
negócio, universidade, comércio, banco, indústria até o ramo das comunicações, entre elas uma rede de
televisão com alcance nacional, a Red Uno.

Seus maiores defeitos são predicados pessoais que podem prejudicar atitudes e ações de natureza política:
sua educação e seu respeito às pessoas que o leva às raias da timidez, sua paciência inesgotável (que às vezes
chega a ser irritante); uma incorrigível inclinação pelo diálogo e o consenso (em política, muitas vezes o uso
da autoridade traz resultados maiores e mais rápidos) e uma inesgotável (e às vezes irritante) compreensão e
capacidade de perdoar os que lhe fazem mal. Nunca tive coragem de lhe perguntar se ele acredita em
duendes, mas sei que confia e acredita nas pessoas mais do que deveria talvez por fidelidade aos seus
princípios éticos e formação moral (todos nós tendemos a julgar as pessoas e as intenções delas pela nossa
escala de valores e não a delas).

Estes “defeitos”, que seriam qualidades numa pessoa normal, são defeitos num líder político (pelo menos
enquanto ele ainda não chegou ao poder), pois o levam a perder muito tempo, adiar decisões, impedem ações
mais enérgicas e radicais e o expõem a manipulação de gente mal intencionada.

Com um nome e passado limpos e uma trajetória empresarial de reconhecido sucesso e conexões em todo o
País, Ivo já tinha disputado duas eleições nacionais: na primeira, disputou como candidato a vice-presidente
do maior líder populista boliviano, falecido em 1997, Carlos Palenque do CONDEPA, fator que lhe dava
uma inserção social junto às maiorias étnicas Aimaras, e a segunda, como candidato a presidência pela UCS,
que lhe deu visibilidade nacional onde teve excelente performance, vencendo a eleição no estado de Santa
Cruz e terminando a disputa numa situação que, estatisticamente, poderia ser considerada como de
quádruplo empate técnico.

Posso falar de Ivo Kuljis por conhecê-lo em sua intimidade, pois fui acolhido por ele e sua família, por
vários meses durante toda a campanha e das articulações partidárias que se sucederam a ela. Por ter
conhecido várias personalidades e candidatos em minha carreira profissional, considero-me qualificado a dar
meu testemunho pessoal sobre Ivo: além de todas as qualidades gerenciais e profissionais que possui e que
lhe permitiram chegar à posição de maior empregador e elevado prestígio em seu País, ele é um ser humano
excepcional, por seu caráter, bondade, compreensão, amor e dedicação à família, lealdade aos seus amigos e
aos princípios dele.

Além disto, Ivo é um verdadeiro patriota, com um amor inacreditável pelo seu País e uma genuína vontade
de servir o seu povo. Se ele for eleito um dia, estou certo que empregará toda a sua capacidade gerencial,
sensibilidade social, energia e honestidade ímpares, para conduzir seu País ao mesmo sucesso que conseguiu
imprimir aos seus empreendimentos pessoais. Quizera tivéssemos, em nosso País, a opção de escolher um
líder com as qualidades humanas, grandeza de caráter e os atributos profissionais que pude reconhecer nele
ao longo de meu convívio.

Talvez por ser um virginiano (não acredito nisto, mas de tanto ouvir... quem sabe?) eu sempre fui um
profissional extremamente dedicado aos empreendimentos eleitorais aos quais já me engajei. Também
detesto perder, o que me leva, sempre, ao limite de minha habilidade, criatividade e condições físicas para
buscar a vitória. Porém, jamais trabalhei com tanta satisfação e paz de espírito como na campanha deste
amigo, que só não chegou ao poder por uma conspiração criminosa; e que só não levou Manfred à
presidência porque este, a partir de um ponto da campanha, calçou o salto alto, distanciou-se de seu vice e
parou de ouvir-nos, deixando-se envolver e iludir por maus conselheiros. Achou que a disputa já estava
ganha: como Fernando Henrique na disputa pela prefeitura da Capital nos anos 80, Manfred Reyes Villa
sentou-se na cadeira do poder antes do tempo.

ASCENSÃO E QUEDA DE UMA CANDIDATURA QUE FOI FRANCO-FAVORITA

Vou dar a você, caro leitor, as informações sobre esta campanha que mudou a história de um povo, e você
terá, como eu tive, a oportunidade de aprender muito e a evitar os erros, tirando suas próprias conclusões.
Mas vou deixar de lado detalhes e relato mais minucioso para uma futura edição desta obra em espanhol (já
fazem muitos anos que eu tento convencer meu amigo Luis Alves a lançar uma edição desta obra para a
América Latina), narrando apenas acontecimentos e lances decisivos da campanha, para dar uma idéia
precisa dos “por quês” da sua ascensão e derrota.

Fase 1 – A aliança e o lançamento da candidatura:

A pesquisa acima e os dados conjunturais forneceram as bases às seguintes análises e conclusões:


 Quase 2/3 do eleitorado boliviano (62%) aspirava pela renovação, contra 31% que preferia eleger um
presidente experiente: Para cada um eleitor dos líderes tradicionais, haviam dois outros que ansiavam
por um líder que representasse a renovação.
 Além disto, 40% dos eleitores manifestaram que não votariam por nenhum dos partidos tradicionais e
os 60% restantes estavam pulverizados entre mais de uma dezena de legendas, onde a mais votada
mal alcançava os 18% (MNR).
 Quase metade dos eleitores (48%) queriam votar num candidato que nem apoiasse nem fizesse
oposição ao atual Governo, enquanto o resto estava rigorosamente dividido entre um candidato de
situação (21%) ou um de oposição (22%).
 Todos os líderes que poderiam se candidatar pelos principais partidos políticos registravam índices de
rejeição maiores do que seus índices de intenção de voto e, mais grave, nenhum deles representava a
renovação tão majoritariamente ansiada pela Nação.
 Ao lado do popular prefeito de Cochabamba, Manfred Reyes Villa, do NFR, o nome mais cotado na
posição de “independente” e “renovação”, era Alberto Costa Obregón, que tinha recém fundado um
movimento partidário chamado Liberdad Y Justícia. Como o juiz pacenho Costa Obregón era
considerado um inimigo pelas elites e não tinha um partido com estrutura nacional que o abrigasse,
embora tivesse um bom potencial eleitoral, ele não tinha máquina partidária nem dinheiro para
lançar-se candidato. Para agravar a sua coluna dos déficits eleitorais, Obregón não era palatável à
embaixada norte-americana, estando, portanto, fora do páreo.
 Se Ivo decidisse sair candidato, o melhor vice para ele teria que ser um daqueles dois candidatos.
Não só por causa dos votos que somariam, mas também pela concorrência que eles deixariam de
fazer caso todos disputassem a eleição. Alberto Obregon lhe daria maior inserção no maior colégio
eleitoral do País e o cochabambino Manfred no terceiro maior reduto. Goni (MNR) e Paz Zamora
(MIR) estavam empatados no patamar dos 15%. Somando-se os percentuais de intenção de voto de
Ivo Kuljis aos do juiz pacenho ou ao prefeito de Cochabamba, sua candidatura já sairia daquele
mesmo patamar, com a vantagem de nenhum dos três nomes terem índices significativos de rejeição
e de qualquer deles se encaixar no perfil de “renovação” que o eleitorado boliviano aspirava.
 Contudo, se escolhesse Costa Obregon, Ivo perderia parte de seu apoio junto ao empresariado, o
apoio norte-americano, além de ele ser obrigado a aportar todos os recursos e financiar sozinho toda
a campanha.
 Isto colocava Manfred como a opção ideal, pois ele dispunha de cacife eleitoral, de capital e de
fontes de financiamento de sua campanha, desfrutava do apoio (discreto, mas firme) das Forças
Armadas e, embora não tivesse relações estreitas com a embaixada americana, não era visto como
um inimigo dos interesses norte-americanos.
 Como Ivo mantinha excelentes relações pessoais com o embaixador e com o departamento de estado
norte-americano (relações que ele imaginava ter estreitado durante o curto período em que ele foi
ministro do governo da ADN), estava afastada a hipótese de veto caso Ivo fosse o “cabeça” da chapa
presidencial. Ivo também tinha tudo o que precisava para fazer uma campanha nacional: base
eleitoral no segundo maior colégio, dinheiro, um partido novinho em folha (UN- Unidad y Progreso),
uma rede nacional de Televisão que gozava de bons índices de audiência, apoio empresarial, etc.

O problema era que, caso não coligasse com Manfred, seria este e não os demais candidatos o seu maior
adversário, pois tinha mais carisma, era mais conhecido e também concorreria na mesma raia ou faixa dos
eleitores que queriam a renovação: Separados, tanto Manfred como Ivo teriam que encarar um panorama de
disputa com alto risco e também de elevado investimento. Como Manfred também tinha quase o dobro da
intenção de voto inicial da que tinha Ivo, já era de se esperar que seria uma missão impossível dissuadi-lo de
disputar a presidência para aceitar ser o candidato a vice de Ivo.
A ALIANÇA ENTRE IVO & MANFRED

Antes de qualquer iniciativa ou decisão quanto à possível coalizão de Ivo e Manfred, Ivo convidou seu
amigo e embaixador norte-americano na Bolívia, Manuel Rocha, para passar um fim de semana em sua casa,
ocasião em que eu estava encarregado de fazer a análise e projeções futuras dos possíveis cenários eleitorais
naquele ano. O embaixador, que meses mais tarde protagonizaria o episódio que criou as condições para a
conspiração que elegeu o ex-presidente Goni e promoveu o líder regionalista Evo numa liderança nacional e
líder máximo das oposições bolivianas, dando-lhe ainda uma projeção e prestígio internacional que ele não
tinha, pareceu-me, naquela ocasião, pessoa inteligente, séria e bem informada sobre o País. Mostrou-se
preocupado com o avanço da corrupção na América Latina; com a possibilidade do avanço das esquerdas
populistas no continente, sob influência e apoio financeiro do presidente venezuelano Hugo Chávez; falou-
nos da boa impressão causada e sobre a capacidade demonstrada do recém empossado presidente Jorge Tuto
Quiroga e interessou-se em saber sobre as perspectivas eleitorais de Lula e do candidato do PSDB no Brasil
para aquele ano.

Quando passamos a falar sobre as eleições na Bolívia, a princípio, ele tentou convencer Ivo a aceitar o
convite de Goni para ser ele o candidato à vice-presidência do MNR. Contudo, após considerar as análises
do perfil, imagem e rejeição pessoal de cada líder e candidato; das fortes tendências oposicionistas do
eleitorado; do grande risco que seria para os norte-americanos não terem nenhum candidato sério ou
confiável disputando na faixa majoritária dos eleitores que queriam mudanças e renovação, e ao ver que seu
amigo Ivo Kuljis estava determinado a candidatar-se, Manuel Rocha baixou sua resistência inicial à uma
candidatura alternativa.

Diante dos pedidos de conselhos e apoio que lhe fez Ivo para ser uma candidatura alternativa, incorruptível,
capaz e confiável para o caso de que a candidatura de Goni não se viabilizasse, o embaixador desaconselhou
a aliança com Obregón. Embora sem muito entusiasmo, ele deu a Ivo o que interpretamos como um sinal
verde, ao considerar que Manfred seria uma opção de aliança mais aceitável para o governo dos EUA caso
ele fosse o vice de Ivo.

A mesma analise reforçou o apoio que Ivo já tinha entre os empresários de Santa Cruz e ele deu sinal verde
para que um amigo que o assessorara quando disputou a vice-presidência pelo CONDEPA, Ricardo Paz,
promovesse seu primeiro encontro com Manfred Reyes Villa, que já tinha pedido ao mesmo intermediário
seus ofícios para agendar um encontro com Ivo.

E Ivo recebeu a Manfred e ao seu irmão Erick em sua vila em Santa Cruz. Ouvimos as análises e tomamos
conhecimento das pesquisas que Manfred tinha encomendado, e lhes mostramos a nossa pesquisa e pontos
de vista. Obviamente, cada lado queria o mesmo: que seu interlocutor aceitasse ser seu vice na disputa pela
presidência. Assim, além das análises, como os dois lados não tinham o que esconder um do outro, pois
ambos tinham pesquisas que não lhes permitiam gastar seu tempo com blefes, cada qual colocou sobre a
mesa de negociação as suas “fichas”, revelando qual era o seu cacife eleitoral inicial, seus apoios, sua
capacidade de financiamento, estrutura operacional e de comunicação, etc.

A conclusão era mais do que evidente: separados, apesar das deficiências aqui ou ali, tanto Ivo quanto
Manfred seriam candidatos viáveis, embora um fosse o maior entrave à candidatura do outro, correndo o
risco de anularem-se mutuamente. Mas somando seus trunfos, mais o potencial eleitoral do segundo e do
terceiro maiores colégios eleitorais da Bolívia, qualquer um deles seria uma candidatura quase imbatível.
Como nenhum deles tinha inimizades políticas intransponíveis e, se não cometessem nenhum erro, bastaria
chegar na segunda colocação para ocuparem a presidência. Mas se, por uma infelicidade ou infortúnio
qualquer, eles chegassem em terceiro lugar, seriam a força política determinante para viabilizar a
governabilidade de um dos dois primeiros colocados, de forma que o risco de não serem os eleitos ou o de
não fazerem parte do próximo governo era muito próximo de zero, para não dizer nenhum.

O problema estava em qual dos dois encabeçaria a chapa e, em princípio, ambos estavam irredutíveis. Como
Manfred estava na posição de quem procurara a Ivo, cabia a ele fazer sua proposta para a aliança, e ele
propôs uma sociedade a Ivo, na base da participação de 70% a 30% nos investimentos de campanha e
também nos resultados caso o binômio (presidente e vice-presidente) chegasse à presidência ou fizesse parte
de um governo por coalizão. A proposta de Manfred incluía entre outras disposições, os seguintes pontos
básicos:
 Compromisso de Manfred apoiar a candidatura de Ivo Kuljis para sucedê-lo na presidência da
república na próxima eleição;
 Após as composições com alianças com outras forças políticas, divisão de todos os espaços de poder
restantes, com base no orçamento das pastas e nomeações (ministérios, embaixadas e representações
diplomáticas, direção de autarquias, estatais, etc.);
 Caberia a Manfred a livre escolha nomeação do governador de seu estado (Cochabamba) e a Ivo a
livre escolha e nomeação do governador de Santa Cruz de La Sierra. Nos outros estados, a indicação
e escolha seriam igualitárias e consensuais entre ambos;
 Divisão do reembolso que a Corte Eleitoral faz aos partidos após as apurações, com base no
percentual de votos que cada um deles obteve nas eleições. OBS.: Na Bolívia, o financiamento
público de campanhas segue o modelo usado na Espanha, sem vetos ao acesso e ao reembolso pelos
pequenos partidos, como se propõe no Brasil.

Após analisarmos todos os prós e os contras e os cenários possíveis de uma disputa isolada ou conjunta, Ivo
resolveu superar o impasse e abrir mão de sua postulação para presidência em favor de Manfred. Acatando
meu aconselhamento e alerta de que erros graves, escândalos ligados à corrupção ou uma eventual má gestão
de Manfred condenaria ao fracasso e inviabilizaria qualquer possibilidade de Ivo eleger-se futuramente, meu
amigo convidou a Manfred para nova reunião e lhe disse que aceitaria compor sua chapa como candidato a
vice-presidência, desde que ele aceitasse sua contraproposta e firmasse um contrato que desse a Ivo:
 1) Participação no conselho estratégico da campanha (Manfred indicaria 3 assessores e Ivo, outros 2);
 2) A palavra final na condução da economia (com direito a veto de Manfred);
 3) A participação de Ivo em todas as decisões do governo (e seu direito a veto em caso de impasse);
 4) Ao invés de 70% a 30%, a divisão igualitária nos investimentos eleitorais, reembolso da Corte e de
todos os espaços no poder (50% a 50%).

Ivo Kuljis também tinha um projeto cuja concretização era muito importante para ele e que foi uma das
principais razões de sua decisão de entrar na política. Ivo considera esta como uma solução vital para a
integração econômica da Bolívia ao resto do continente e para o progresso e desenvolvimento de seu País e
já vinha acalentando este seu sonho há mais de dez anos, batizando-o de corredor bi-oceânico para ligar o
oceano Atlântico ao Pacífico através do território boliviano. Um projeto desta envergadura necessitava ser
encarado como prioridade por um governo para se viabilizar, pois além do alto investimento, requer
articulação com os Países vizinhos e Ivo tentou implantá-lo durante sua breve passagem como ministro do
governo Banzer, mas faltou-lhe a vontade política e, consequentemente a disponibilidade orçamentária para
que ele pudesse viabilizá-lo. Assim, Ivo abriu mão de outros projetos e aceitou apoiar propostas de Manfred,
desde que este se comprometesse a incluir o corredor bi-oceânico como proposta prioritária do futuro
governo e o seu apoio à este projeto foi uma pré-condição inegociável para a concretização da aliança entre
eles.

Nesta reunião histórica, Manfred aceitou firmar a aliança desde que Ivo aceitasse uma participação de 40% e
desse a ele, Manfred 60%, nos ônus despendidos e nos bônus conquistados por ambos. E foi selado o acordo,
num clima de profunda emoção, solidariedade, esperança e fé, com oração e o pedido de proteção divina. O
lançamento oficial da aliança entre Ivo Kuljis e de Manfred, sob o slogan que eu lhes sugeri “Manfred - Ivo:
El Cambio Positivo” foi feita em Santa Cruz e logo em seguida em Cochabamba, em clima de comunhão,
festa e ganhou ampla cobertura da imprensa.

Mais do que o slogan, ali também ficou decidida a importância de, no menor prazo possível, ampliar o arco
de alianças da nova força política nascida da união de Ivo e Manfred, agregando-lhe a força de novos
conceitos e somando lideranças que ampliassem a penetração geográfica da candidatura. O líder do estado
mineiro de Potosí, René Joaquino e o líder indígena cochabambino Alejo Veliz foram as alianças mais
importantes neste primeiro momento. Àquela aliança se procurou conferir quatro conceitos complementares,
que formaram o eixo de gravidade da campanha: Manfred era o líder político que representava a mudança,
Ivo, simbolizava o êxito, a capacidade gerencial e a aliança com os empresários; René o pacto com os
trabalhadores e Alejo, a aliança e integração com o interior e com os camponeses.

Em pouco menos de três semanas, Manfred e Ivo já estavam tecnicamente empatados com o emenerrista
Goni e o mirista Jaime Paz Zamora, crescendo uma média de 2% a cada 7 dias.

O primeiro indício de uma relação conflituosa

Em meio à euforia e à emoção dos primeiros momentos da campanha, o primeiro choque se deu na fusão do
segundo escalão da campanha na sua área mais vital e estratégica: a do marketing e comunicação. Como Ivo
deixara de ser o protagonista principal, eu também perdi meu status de principal conselheiro de candidato à
presidente para o de principal conselheiro do candidato a vice-presidente (quem conhece este ramo sabe o
precipício abismal que separa as duas funções). Afinal, eu erro um assessor de total confiança do candidato a
vice, o que já me assegurava algumas restrições na cúpula de confiança do candidato a presidente.

Já disse algum sábio que a vitória e o êxito têm muitos pais enquanto o fracasso e a derrota são órfãos. E
apesar de meu amigo Ivo ter assegurado a participação de dois assessores no conselho da campanha, firmada
a aliança e adotadas as recomendações e estratégias de posicionamento iniciais, o meu projeto de assessoria
de campanha e proposta de serviços de pesquisa foram preteridos pelos de outros profissionais que já
estavam na assessoria de Manfred.

A campanha já tinha decolado e seguia em trajetória ascendente. Como eu era um profissional e não tinha
como prestar serviços gratuitamente, apesar das recomendações e do empenho de Ivo para que eu fosse
contratado e integrado à direção estratégica da campanha, ele não foi bem sucedido e eu voltei a São Paulo.
Embora me sentisse feliz em ver que minha análise, recomendações e estratégias tinham levado meu amigo a
encabeçar um projeto eleitoral que reunia todas as condições para sair vitorioso, eu me sentia inconformado
e injustiçado, como o descobridor do mapa da mina que indicou o caminho e foi largado na beira da estrada,
enquanto todos se divertiam em explorá-la. Eu queria fazer parte daquela expedição, mesmo que fosse num
papel secundário e insisti com meu amigo sobre a importância e conveniência dele ter ao seu lado alguém
que pudesse contribuir, como um especialista que serve como uma segunda opinião. O rompimento da
parceria de quase dez anos com a revista Isto É tinha resultado em enorme prejuízo e as coisas não iam lá
muito bem por aqui. Assim, pedi a Ivo que encaminhasse uma nova proposta a Manfred, muito mais modesta
que a original, mas que me permitiria acompanhar a eleição de perto, analisando riscos, detectando
oportunidades e fazendo-lhe as minhas recomendações ao longo da disputa. E fiquei feliz quando recebi o
convite de Ivo para voltar à Bolívia para assessorá-lo, mesmo que tenha me aborrecido com Manfred ao
saber que era meu amigo e não ele o contratante de meus serviços: diante da recusa do comando da
campanha presidencial em contratar-me, Ivo decidiu pagar sozinho a minha consultoria.

Apenas uma semana após desembarcar na Bolívia, após procurar os membros do conselho para integrar-me à
coordenação e inteirar-me do estágio em que estava nosso projeto, das pesquisas que haviam sido realizadas
durante minha ausência, estratégias em curso e problemas a serem superados, à exceção do irmão de
Manfred, Erick, que presidia o conselho e sempre ouvia com interesse o que eu tinha a falar, pude me dar
conta de que era visto como um concorrente, um intruso, e teria grandes dificuldades para tratar com meus
“colegas”.

Afinal, tudo caminhava bem e nenhum deles via nenhuma razão para dividir a paternidade de tanto sucesso
comigo, a começar pelo consultor norte-americano que Manfred havia contratado para assessorá-lo. Até um
amigo comum de Ivo e Manfred, Vicente dela Piane, dono da produtora de rádio e TV que produzia os spots
da campanha e ocupava uma das duas vagas reservadas a Ivo na coordenação, se tinha bandeado para o lado
de lá, talvez por não se sentir nada satisfeito com meus questionamentos sobre os roteiros ou propaganda que
ele produzia. Meu concorrente na área de pesquisas, representante do Instituto Gallup na Bolívia, após
discutir comigo sobre suas metodologias e quais informações deveriam ser levantadas, fechou-se em copas:
eu só fui descobrir que ele fazia pesquisas de Tracking (amostras diárias) no final da campanha, quando Ivo
apoderou-se sem a permissão dele de um dos relatórios das pesquisas que ele fazia questão de mostrar só aos
outros membros da cúpula e à Manfred.

Para não acirrar o conflito nem criar pontos de atrito entre Manfred e Ivo, eu e meu amigo desconsideramos
estas atitudes e montamos um sistema de pesquisas e informações paralelo ao de Manfred, iniciativa que,
aliás, era indispensável para quem se propunha a dar a segunda opinião, fazer análises independentes e
auditar a evolução da campanha. No comando da campanha, Erick Reyes Villa, ao perceber a resistência que
eu sofria da parte dos demais conselheiros, decidiu apresentar-me a uma amiga sua, que tinha batido de
frente e cuja colaboração também fora rechaçada pelo segundo na linha de chefia da campanha, o ex-
condepista Ricardo Paz, que além de desdenhar seus conselhos ainda a insultara. Porém Erick e Manfred a
respeitavam e escutavam com freqüência, fora do comitê central. Mariola Materna já fora assessora do
presidente Hugo Banzer e era uma excepcional analista de cenários, dona de uma inteligência e percepção
igualmente extraordinária: ela era a segunda opinião ouvida por Erick e de Manfred, e eles tiveram a
brilhante idéia de apresentá-la e juntá-la a mim, o profissional que Ivo apresentara e recomendara para
também dar a segunda opinião e representá-lo no conselho.

RESUMO DA CAMPANHA DE GONI E DO MNR: A GUERRA SUJA

A verdade é que a campanha de Manfred ia tão bem que seus adversários logo perceberam que ele seria o
vitorioso caso não conseguissem abatê-lo em pleno vôo. Manfred e Ivo estavam muito próximos de encarnar
os sentimentos de renovação e mudança aspirados pela maioria do povo boliviano e, aí, não haveria mais
volta. Mas nada melhor para descrever a ferocidade da anti-campanha que empreendeu contra ele o já
descrito como truculento ex-presidente com sotaque gringo Goni, do que o próprio documentário que fez de
sua campanha o consultor de Marketing Político contratado por ele, James Carville, que ainda teve a
coragem de difundi-lo em toda a América Latina (exceto a Bolívia) pela rede HBO, para propagar os seus
“bons” ofícios. “Baixei” o conteúdo a seguir na Internet, e mantenho o texto original do autor do artigo. O
leitor perceberá na descrição da campanha feita pelo próprio consultor, o uso de várias técnicas e
componentes descritos em vários dos capítulos ao longo desta obra. Concluirá também que este autor está
certo quando recomenda a contratação de assessorias que priorizem a projeção de seus clientes e não a de
seus consultores. Para os leitores que tenham dificuldade de compreender o espanhol, a tradução para o
idioma português e a qualificação dos protagonistas citados está no CD que acompanha a obra.

Documentário de Goni: A suprema humilhação pública e internacional de um líder que,


afinal, revelou que ele não era tão líder assim.
Jesús (26/01/2006 15:08)

O Goni através de seu genro Mauricio Balcázar segue metendo-se no que nós Bolivianos temos que pensar ou deixar de pensar.
Por exemplo, conseguiu que o canal HBO não emita um Documentário, onde se demonstra que o Goni é um mentecapto a serviço
dos Estados Unidos e traidor da pátria.

Documentário revela situações internas da campanha de Sánchez de Lozada o 2002


Raúl Penharanda U.

Um Documentário norte-americano reflete como a empresa assessora de imagNamericana contratada por Sánchez de Lozada,
durante a campanha de 2002, tomou absolutamente todas as decisões estratégicas, estabeleceu qual deveria ser o slogam (“Sim
se pode”) e decidiu iniciar a guerra suja contra Manfred Reyes Villa, tomando como operador a Carlos Sánchez Berzaín, como a
única maneira de subir nas pesquisas.
O Documentário foi realizado por Rachel Boynton, que teve acesso a todas as reuniões de campanha do MNR em 2002, inclusive
aquelas de caráter privado em que se resolviam aspectos muito delicados. Boynton e seu camarógrafo tinham autorização
inclusive para filmar a Goni quando fazia a barba ou falava por telefone.
HBO anunciou que transmitiria o Documentário em dezembro passado mas não o fez para o público Boliviano. O próprio ocorreu
sexta-feira 20 de janeiro, e esta vez, na é pouca se contatou telefonicamente com Santiago e pelo menos nessa cidade Sim se
estava emitindo, enquanto na Bolívia se passava um filme de Britney Spears. Existem versões que assinalam que foi o próprio
Sánchez de Lozada quem pressionou a HBO para que tirasse do ar o Documentário. (este autor acha que quem tinha o
poder para mandar na programação da HBO vinha muito mais de cima, muito provavelmente, das ligações da
consultoria com o departamento de estado) .
Início do processo

Para a campanha de 2002, Sánchez de Lozada contratou à empresa Greenberg Carville Shrum (GCS), cujo centro de trabalho está
em Washington, especialista em pesquisas e campanhas eleitorais. Essa companhia havia trabalhado com anterioridade para
candidatos como Bill Clinton e outros muitos políticos da África, América Latina e Europa.
A empresa contatou a jovem documentarista Raquel Boynton para filmar todas as reuniões de trabalho, mesmo as de caráter
reservado, devido a que Greenburg Carville Shrum (GCS) considerava aquele como uma grande possibilidade de propaganda. O
Documentário intercala as reuniões com cenas de protestes sociais, imagens de campanha de outros candidatos e opiniões dos
grupos focais que se realizavam durante o processo eleitoral. O vídeo, que está em inglês, se inicia com os protestos e mortes de
fevereiro de 2003, que obrigaram Goni a renunciar e, em seguida, retrocede ao início da campanha.

“Estamos muito baixos”

Quando se inicia a campanha, se vê como Sánchez de Lozada, em sua casa, chama por telefone a Jeremy Rosner, estrategista
chefe e sócio de GCS, alojado no apartamento de um hotel de Santa Cruz. Goni está acompanhado de Hermam Antelo e de Freddy
Teodovic e explica a Jeremy que as pesquisas demonstram que a situação de MNR é dificílima.
A empresa produtora de Boynton, que tinha câmeras em Bolívia e Washington, segue a conversação desde ambos os lugares.
Rosner explica ao ex-presidente que se podem ter esperanças de ganhar as eleições.
Imediatamente depois a câmera grava as reuniões iniciais da campanha do MNR, estabelecendo primeiro as mensagens que
deveriam ser feitas, que spots tinham que ser veiculados, etc. Os executivos da empresa GCS (Jeremy Rosner e James Carville)
decidem todos os temas fundamentais da campanha, como por exemplo como responder à imprensa, que mensagens dar aos
meios de comunicação, como falar para os spots de TV, etc. As reuniões são em inglês e para os Bolivianos que não conhecem o
idioma existia um serviço de tradução simultânea através de pontos auriculares.
Segundo o Documentário, nenhuma das iniciativas da empresa norte-americana se realizava através de sugestões, e sim por
ordens. Tudo o que seus estrategistas decidiam era aceito sem resistência por Sánchez de Lozada e sua equipe de comunicação.
Entre essas mensagens importantes se resolve que havia que lutar contra a corrupção, devido a que esse tema saía muito
permanentemente nas pesquisas e grupos focais que a GCS ordenava fazer. Daí surge então o “poder irrevogável” dado por
Sánchez de Lozada ao então candidato à vice-presidência Carlos Mesa.

A “marca” da campanha

A empresa assessora estabeleceu que a “marca” da campanha de MNR devia ser a crise, como a “marca” da campanha do
principal rival de então, Manfred Reyes Villa, era a mudança. Tudo gira, portanto, em mostrar a Goni como a pessoa que poderia
enfrentar à crise, que tinha duas principais áreas: criar empregos, combater a corrupção e não deixar o país em mãos de um
inexperiente (Manfred Reyes Villa). Dali veio o título do Documentário “Our brand is crisis” (“Nossa marca é a crise”).
Os assessores se enfrentam então a tema de que Sánchez de Lozada não havia cumprido sua promessa de criar 500 mil empregos
em seu primeiro governo e que a cidadãos consideravam que ele, ao invés de ser a solução, era parte da crise econômica. É ali
onde a empresa norte-americana estabelece que devia associar-se a os empregos com atos concretos (“obras com empregos”) e
que Goni devia fazer o “mea culpa” e reconhecer que em seu primeiro Governo não cumpriu tudo o que havia prometido, mas que
já tinha a experiência necessária para fazê-lo melhor em uma segunda gestão. Os spots refletem exatamente essas idéias.
Noutra das reuniões de trabalho se vê a Carville dizendo a Goni, palavra por palavra, como devia explicar o tema de que se podia
aprender das experiências positivas e das negativas de su primeiro governo. Numa cena posterior mostra como a comunicadora
Sandra Taborga lhe faz a Goni uma pergunta aparentemente simples num canal de TV de Santa Cruz: se você pudesse voltar ao
passado, o que mudaria? Paradoxalmente, uma condutora de um programa familiar termina fazendo uma pergunta que Sánchez de
Lozada não pôde responder. Seguramente tratando de seguir as instruções de Carville, Goni começa dizendo que “Na vida se pode
aprender de aspectos positivos e negativos”, mas a comunicadora o interrumpe e lhe diz que a pergunta é o que ele mudaria de
seu passado. Talvez devido ao cansaço, Sánchez de Lozada se mostra distraído e distante e balbucia uma resposta ininteligível.
Taborga o salva do embaraçoso momento e muda de tema.

Guerra suja contra Manfred

Na casa de Sánchez de Lozada, localizada no bairro de Obrajes, se reuniram outros assessores da empresa com o candidato. A
câmera mostra a Sánchez de Lozada recebendo instruções de Tal Silberstein, consultor da GCS, que lhe indica que se vai a iniciar
a guerra suja contra Manfred Reyes Villa, como o único mecanismo de baixá-lo nas pesquisas. Expressa textualmente o seguinte:
“Quero falar-lhe de Manfred Reyes Villa porque temos que iniciar a campanha negativa (contra ele). Temos que fazê-lo passar de
um candidato limpo a um candidato sujo e essa é nossa tarefa. Tenho tido uma conversação muito pessoal com Carlos Sánchez
Berzaín. Ele tem uma equipe atrás de Reyes Villa, mas (A guerra suja) será feita através de terceiros, não através do MNR. Os
ataques não virão de diretamente de nós, pelo menos até que (Reyes Villa) comece a sentir a pressão. Eu disse (a Sánchez Berzaín)
que qualquer coisa que ele faça não pode relacionar-se com nossa campanha de nenhuma maneira. No momento o que estamos
fazendo é investigar qual é a melhor mensagem contra o NFR”. Goni, que fuma um puro, concorda com tudo. Posteriormente, na
campanha, foi Johnny Fernández que acusou a Manfred de corrupção em vários debates que participou. Parece demonstrar-se que
ele não passou de uma ficha de MNR.
Tal Silberstein também diz ao candidato: Todos os dias devemos ter um só evento importante, o que a empresa assessora chama
“A foto de dia”. Silberstein repreende a Sánchez de Lozada e lhe diz que “se você não começa a pensar assim, não ganharemos a
eleição”. O candidato aceita a bronca.

Críticas internas

Quando a guerra suja começa a receber muitas críticas por parte dos Bolivianos que participavam nas reuniões, porque se
acreditava que estava ajudando Manfred a subir mais ao invés de reduzir sua popularidade, Sánchez de Lozada e Mauricio Balcázar
chãoam a Rosner a EEUU de um telefone com o microfone aberto e lhe pedem que James Carville viaje à La Paz para atender o
assunto. Tratam de convencê-lo da necessidade de deter os ataques contra Manfred. Desde Washington, onde também há uma
câmera, Jeremy responde que considerará o assunto, mas que o importante é que a imprensa seja a que investigue, por sua conta,
os supostos atos de corrupção de Manfred. Balcázar toma a palavra ali para dizer que o MNR “está trabalhando muito fortemente
para que a imprensa assuma essas acusações” contra o candidato do NFR.
Noutra cena se vê a Tade Devine, outro assessor da empresa norte-americana, que ressalta a Balcázar que as pesquisas por fim
estão demostrando que Manfred havia estancado sua ascensão graças à guerra suja e que daí em diante era possível ganhar a
eleição.
Outro dos aspectos de campanha da GCS foi tratar de diluir “entre vários candidatos” o voto antisistêmico e antigonista, para
evitar que fosse concentrado por Reyes Villa. Também resolve insistir na realização de um debate entre Goni e Manfred, o que
finalmente conseguiu, e se menciona que se Evo Morales “segue subindo” (tinha 13 por cento o dia em que se produz o diálogo
filmado por Boynton) e também teria que se prever um debate com o candidato masista.

O governo
Uma vez no governo, o Documentário reflete a rápida descomposição da imagem de presidente Gonzalo Sánchez de Lozada. Em
uma das cenas depois da crise de fevereiro originada pela elevação dos impostos, a encarregada da tradução simultânea, Sonia
Cerruto, encara a Rosner e lhe pede uma explicação. Jeremy baixa a a cabeça e busca fugir da conversação, mas Cerruto insiste:
“vivo há muitos anos na Bolívia, tenho visto revoluções, golpes de Estado, mas nunca uma ocasião na qual não havia governo,
não havia polícia. Lembra-se quando nos grupos focais saía que não se podiam tomar medidas drásticas? Me pegunto se os
escutaram.
Jeremy Rosner por fim responde e diz que o “impostaço” não foi uma medida drástica. Cerruto volta à carga e lhe diz que para um
setor da população, 30 Bolivianos é muito dinheiro. “Mas o imposto é só para os que ganhão mais de 5.000 Bolivianos”, retruca o
norte-americano. “Não, Jeremy, é para os que ganhão mais de 880 Bolivianos”. “Esse é o problema”.

A solidão de Goni

Raquel Boynton, a Documentarista que realiza o trabalho, convenceu a Sánchez de Lozada de entrevistá-lo imediatamente depois
de ser deposto. Em Washington, sentado num banco solitario de parque onde está o Obelisco dessa cidade, se vê a Sánchez de
Lozada de costas, no frio inverno de heminhasferio norte, com um abrigo e cachecol. Ali, o já solitario ex-presidente diz que tem
um “sentimento de culpa” por não haver podido terminar seu mandato e que Carlos Mesa teria um “governo difícil” para tratar de
cumprir as promesas que havia feito no dia de sua posse.

¿Quem ganha quando as câmeras registram todo?

Ninguém pode aceitar que uma camarógrafo esteja apresente em todas as reuniões nas que se fala de assuntos tão delicados
como os de uma campanha eleitoral. Se o fez, foi por um interesse posterior. Uma vez observado o Documentário, fica claro que a
empresa norte-americana contratada por Sánchez de Lozada para fazer a estrategia, GCS, foi a que contatou à jornalista e
seguramente prometeu a Goni que o produto seria favorável a seus interesses. mas o Documentário deixa a sensação de fracaso
de Sánchez de Lozada e de êxito da empresa assessora, que efetivamente consegue a vitória de um candidato que três meses
antes das eleições estava no quinto lugar das pesquisas.
A intencionalidade de Boynton, que em linhas gerais faz um esplêndido trabalho, parece estar destinada a destacar o trabalho de
GCS e especificamente de Jeremy Rosner. Posso imaginar que ela aceitou qualquer condição a fazer seu Documentário contanto
que tivesse a autorização para usar as imagens e poder elaborar um Documentário explosivo, que obteve excelentes críticas nos
EEUU. Inclusive, em uma das cenas, se coloca Jeremy Rosner, o estrategista chefe e sócio da empresa, como se fizesse oposição
ao “impostaço” de fevereiro e que ele tinha sensibilidade social. Parece uma manipulação à mais, de uma empresa que vive disso:
de manipular o povo.
Todas as tomadas de Rosner efetuadas por Boynton são, desde o início (contraplano), uma técnica usada pelo general para
destacar a sua pessoa, fazê-lo mais forte e importante. E logo, as perguntas que lhe faz Boynton para matizar o Documentário são
sempre favorávels.
Prova de que Boyton atuou em combinação com Rosner é que este aparece em vários sites de internet nas apresentações do
Documentário, inclusive Nalguma ocasião respondendo perguntas do público. Não traz fotos onde aparecNos dois sonridentes. é a
aliança Boynton/Rosner contra Goni: a documentarista conseguiu produzir um excelente trabalho que lhes deu fama e Rosner
pôde demonstrar que sua empresa pode levar qualquer candidato à vitória. Goni, em troca, figura como um mentecapto a quem lhe
ditam o que dizer e quando, e como um Presidente absolutamente distanciado da sensibilidade de seu próprio país.
De todas as formas, Boynton não elude a crítica social e deixa entrever que a manipulação mediática, pelo só feito de fazer ganhar
uma eleição, não é aceitável.

HBO Olé de Venezuela censura programação para Bolívia

Para quarta-feira, dia 20 de janeiro, às 13:45h, hora Bolíviana, a HBO havia anunciado novamente a transmissão de Documentário
“Our brand is crisis”, que revela os bastidores da campanha eleitoral de Gonzalo Sánchez de Lozada de 2002. Como já ocorreu em
dezembro do ano passado, o programa não foi transmitido. Apesar disto, através de intitulados telefonicas efetuadas por “a
Época” se comprovou que foi o programa foi transmitido no sinal da HBO pelo menos em Santiago, no Chile.
Rodrigo Aliaga, executivo de Multivisão, descartou que sua empresa seja responsável pela mudança de programação. Explicou
que o sinal que recebem da HBO ou de qualquer outro canal internacional não pode ser substituído localmente. “Os sinais vêm
codificados e na Bolívia nós não podemos mudá-los”, explicou à Epoca.
Quarta-feira, às 13:45h, tanto as empresas do Supercanal como a Multivisão transmitiram o mesmo sinal, um programa com a
cantora Britney Spears, em vez do documentário.
Aliaga informou que a sede de HBO Ole para América Latina está na Venezuela e que ali se mudou a programação para Bolívia.
“Não sei qual é a Razão dessa mudança, mas o sinal da HBO tem, às vezes, diferenças segundo cada país”, disse.
Giovani Violeta, gerente do Supercanal, o outro operador de TV a cabo de La Paz, explicou que, pelos estritos contratos que
suscreve com as provedoras de sinais, seria impossível para sua empresa mudar a programação de um canal internacional. “Se
ocorreu esta mudança de sinal, isso se deve a que houve uma ordem da HBO desde suas sedes internacionais”, disse.
Esta é a terceira vez que HBO anuncia ao seu público latino-americano o documentário e é a terceira que não a transmite para o
público Boliviano, enquanto comprovadamente, emitiu o sinal e transmitiu o documentário para os EUA e para o resto da América
Latina. Portanto, aparentemente o canal HBO Ole está exercendo uma censura contra Bolívia, provavelmente pressionado pelos
interesses políticos, que não desejam que o documentário chegue e seja visto por lá.

Algumas frases captadas nas reuniões reservadas:

Tal Silberstein a Sánchez de Lozada: “Quero falar-lhe de Manfred Reyes Villa, porque temos que iniciar a campanha negativa
(contra ele). Temos que fazê-lo passar de um candidato limpo a um candidato sujo e essa é nossa tarefa”.

Tal Silberstein a Sánchez de Lozada: “Tive uma conversação muito pessoal com Carlos Sánchez Berzaín. Ele tem uma equipe atrás
de Reyes Villa, mas (A guerra suja) será feita através de terceiros, não através de MNR”.

Sánchez de Lozada a Jeremy Rosner: “Carlos Mesa e Carlos Morales estão como duas mulheres histéricas, queixando-se porque a
guerra suja não está dando resultados”.

Mauricio Balcázar a Jeremy Rosner: “Se não detemos esta merda agora (A guerra suja) Manfred vai ganhar com 40 por cento”.

Jeremy Rosner responde: “Manfred não vai ganhar com 40 por cento. Eu vou evitar”.
James Carville: “Nosso embaixador na Bolívia (Manuel Rocha) é um verdadeero idiota”.

Jeremy Rosner: “Decidimos trabalhar com Goni porque ele é um social-democrata progressista” (…).

Jeremy Rosner a Mauricio Balcázar (depois da crise de fevereiro): “Goni agora não é nem popular nem bom presidente”.

Polêmico Documentário sobre a ascenção e queda de Goni é censurado na HBO Bolívia


By Irene Roca Ortiz,
Postede on Fri Jam 27th, 2006 at 10:59:27 PM EST
Trata-se de “Our brand is crisis”, documentário de Raquel Boyton, sobre os bastidores da ascenssão e queda do
afinal impune ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada e a ingerência americana. A difussão de documentário,
prevista pela cadeia de TV a cabo HBO, foi minhasteriosamente anulada duas vezes (Em dezembro e janeiro). A
Época anunciou esta semana a minhasteriosa censura, atribuida a Gonzalo Sánchez Lozada.
A “estréia exclusiva” estava prevista na programação de HBO – Segundo Terra México, pois nos sites de HBO a
busca me reenviou à pagina de início - para 13 de dezembro às 20:30 (hora mexicana). A sinopse parece pouco
complacente:

“Engano, manipulação e espionagem são alguns dos fatores que regNas atuais campanhas eleitorais.
Este Documentário narra como um grupo de conselheiros americanos determinaram o auge e queda do
presidente de Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada”

Segundo o reporte da Epoca, outra difussão estava prevista para sexta-feira passada, 20 de janeiro, “e esta vez a
“Época” se contatou telefonicamente com Santiago e pelo menos nessa cidade se estava transmitindo o programa,
enquanto na Bolívia se passava um filme de Britney Spears. Existem versões que assinalam que foi o próprio
Sánchez de Lozada quem pressionou a HBO para que tirasse do ar o Documentário”.

Segundo o monitoramento de noticias televisivas do Governo (não apenas olhar a TV), “Cadeia A” transmitiu
ontem, em su edição do meio dia, "Fragmentos do Documentário emitido por HBO no exterior do País (Bolívia
ainda não pôde ver o trabalho) (…) [que] revelaram torpes detalhes do que significou a campanha de Gonzalo
Sánchez de Lozada em 2002; por exemplo, como se elaborou a guerra suja e se estabeleceu um equipe de
espionagem para seguir a Manfred Reyes Villa. O dirigente de NFR Erick Reyes Villa assegurou que a
verdadeera historia não é apenas a que reflete o Documentário, mas sim os outros detalhes que
existiram e que foram movidos desde os Estados Unidos e que tiveram repercussões na Corte Nacional
Eleitoral. Recordou que os dirigentes de NFR denunciaram várias fraudes em mesas que, poderiam ter
decidido outro rumo e outra sorte na eleição de 2002. O dirigente de MNR José Luis Harb sustentou a
campanha de Goni 2002 foi manejada apenas por um grupo reduzido do MNR."

ABRIL: Egos inflados e iniciam-se as cisões internas entre Manfred e Ivo

Afora os pequenos problemas de ciumeiras internas, normais em toda campanha bafejada pela ventura de
obter a preferência crescente dos eleitores, abril foi o mês em que Manfred mais cresceu, conseguindo uma
considerável vantagem sobre seus principais concorrentes, Evo Morales, o “fenômeno”, ainda não passava
de um débil candidato, embolado com os que disputavam a quarta colocação nas pesquisas, muito atrás de
Manfred, Goni e de Jaime Paz Zamora, que foi o maior prejudicado pela meteórica ascensão de Manfred e
caiu para a terceira colocação. Goni, como tinha o chamado por lá de voto “duro” (consolidado), não perdera
muitos eleitores, mas estava estagnado no patamar dos 15% a 16% nas diversas pesquisas.

Neste período, o poder parecia tão garantido que Manfred começou a arrepender-se de seu acordo com Ivo e
a achar que deveria ter oferecido muito menos a ele. Fofocas internas, incentivadas pelos aduladores de
sempre, davam a entender que os méritos deste crescimento se deviam exclusivamente ao carisma de
Manfred, à sua capacidade de articulação, sua inteligência, seu esforço e trabalho incansável, etc... Ao
mesmo tempo em que as bajulações ampliavam a estatura de Manfred, reduziam a de seu vice, com
insinuações veladas de que ele não se empenhava o suficiente, passava tempo demais em Santa Cruz ao
invés de percorrer o País, dele ser tímido demais, de não favorecer suficientemente à candidatura nos seus
meios de comunicação, de ser pão duro demais, e outras picuinhas do tipo.

Isto levava Manfred a distanciar-se progressivamente de Ivo, estratégia que era incentivada pelo seu
conselho de campanha, que a esta altura estava tratando de garantir seus espaços e ampliar a sua inserção
junto ao que consideravam como futuro presidente da Bolívia. Eu tomei conhecimento desta movimentação
através de sinais e recados sutis que me foram passados pela minha colega de trabalho e amiga Mariola,
interlocutora freqüente de Erick, e adverti a Ivo do que se passava, mas ele não quis tirar satisfações nem
cobrar mais lealdade de todos aos termos do compromisso firmado. Além do fato de confiar no caráter de
Manfred, Ivo era um conciliador e, se esta era uma excelente qualidade para o País, não lhe servia de nada
no comando da campanha que, afinal, também era a sua.

Seguro, Ivo também não quis forçar a barra intensificar sua presença nos eventos protagonizados por
Manfred, sob o sábio e irrefutável argumento de que confiava em Manfred e que, juntos, perderiam a
vantagem de multiplicar por dois os espaços ocupados e compromissos que poderiam vir a atender em prol
de suas candidaturas. O problema é que os traidores de Ivo (e também de Manfred, que também era induzido
a erro) aproveitavam a sua falta de disposição em exercer a sua autoridade, para envenenar a Manfred,
alimentando suspeitas de que as razões do distanciamento de Ivo poderiam ser outras: desinteresse, preguiça
ou que ele cuidava mais dos seus negócios pessoais do que dos interesses da campanha. Nunca mais falei
com Erick sobre isto, mas entendo que, do lado da equipe que cercava Manfred, ele foi o único leal nesta
história, pois enviou os recados através de sua consultora e não tiveram a resposta enquanto eram
insignificantes. Se tratados adequadamente, poderíamos ter evitado o posterior recrudescimento daquelas
situações.

MAIO: iniciam os ataques adversários e aprofundam-se as cisões internas entre Manfred e Ivo

Mas em maio, iniciaram os ataques do MNR e da sua preposta UCS (partido aliado, que já tinha participado
de governos passados do MNR), que emprestava a voz de seu candidato nanico para desferir ataques contra
Manfred. Tudo começou sob a forma de um desafio público que lhe lançou Goni para participar de debates e
confrontar as propostas de todos os candidatos. A estratégia de Goni foi clara e bem engendrada: ao convocar
o já franco favorito Manfred para debater com todos os candidatos, ele colocava todos a seu favor e contra o
favorito, que não podia submeter-se ao risco de ser o alvo preferencial de todos ao aceitar debater com quem
nada tinha a perder. A recusa de Manfred em debater no modelo proposto permitia que todos os concorrentes
passassem a desafiá-lo e a insinuar que ele seria covarde e presunçoso. Ao mesmo tempo, dava um pretexto
para que os veículos que estavam engajados em sua campanha o atacassem e colocava contra seu adversário
também os veículos de comunicação “neutros”, que eram estimulados a enviar convites e mais convites à
coordenação de campanha do NFR, que não eram confirmados.

A estratégia adotada pelo conselho nacional da campanha foi a de que Manfred aceitasse o desafio de
debater com Goni e os principais concorrentes, mas “empurrar” com a barriga a data de sua realização para a
segunda quinzena do mês de junho.

Goni veiculou então uma campanha para aprofundar o desgaste de Manfred, onde lançava suspeição sobre as
razões que levavam o adversário a “fugir” dos debates e encerrava com grosseiras e agressivas
interrogações: “Do que tens medo Manfred? Por que te escondes? Debate Manfred!” (a primeira o colocava
como covarde; a segunda, como quem tem algo a esconder e a terceira, mantinha o desafio). Da campanha
de Goni também se aproveitaram, espertamente, todos os demais concorrentes, uns mais outros menos
agressivamente, mas todos, em coro e por falta de outro argumento melhor para atingir o franco favorito,
usavam o que estava mais à mão.

O fato é que os ataques serviam mais para blindar os eleitores que já eram deles e dar-lhes um argumento
para não defenderem sua escolha e não aderirem ao favorito. Pesquisas que realizei no período mostravam
crescentes índices de eleitores dos adversários que justificavam sua rejeição a Manfred porque ele se
recusava a debater. Mas o preocupante era que esta argumentação já começava a influir como um dos fatores
que motivavam a indecisão, e isto já era um prenúncio de que teríamos mais dificuldade para continuar
crescendo no mesmo ritmo que o vínhamos fazendo até então.

Apesar de toda resistência que tive a princípio e contra os conselhos de seus assessores norte-americanos,
passei a defender que Manfred desse uma resposta firme ao desafio, mas estabelecesse suas próprias regras e
se propusesse a debater individualmente com Goni e com Jaime Paz. Meu argumento era de que ambos
tinham um telhado de vidro tão grande e sua rejeição tão consolidada, que era impossível perder um debate
para qualquer um deles, desde que não se permitisse aos rivais poderem juntar-se para atacá-lo. Debates com
os todos os candidatos seriam tolos e arriscados demais, pois Goni poderia valer-se de seus prepostos, que
nada tinham a perder, para fazer o trabalho sujo de atacar a Manfred por ele.

O hilariante debate dos vices

Na esteira dos desafios não respondidos por Manfred, os candidatos a vice-presidência do MIR, Fufi
Saavedra Bruno e do MNR, Carlos Meza, passaram a desafiar meu amigo Ivo a debater, para usar a mesma
tática de Goni e desacreditá-lo junto à opinião pública do segundo maior colégio eleitoral boliviano, o que
prejudicava Manfred, por tabela.

O conselho nacional da campanha decidiu que Ivo deveria seguir a estratégia de Manfred e não dar resposta
aos desafios que lhe lançavam os adversários. Mas eu fiquei sabendo, por meus próprios meios, que o
conselho de campanha considerava que Ivo, por seu temperamento brando e inexperiência na prática
política, seria incapaz de enfrentar os seus oponentes e se receava que ele poderia, mesmo
involuntariamente, causar prejuízos à sua imagem e à do seu companheiro à presidência.

Mas a persistente estratégia dos adversários era derrubar a Ivo em seu próprio ninho ou principal reduto,
Santa Cruz, minando a Manfred através dele: apenas alguns dias após Ivo não ter respondido ao desafio, a
Capital do seu estado amanheceu coalhada de cartazes insinuando que Ivo era tão covarde quanto Manfred, e
que ambos estariam fugindo ao debate. Conversamos muito, eu e Ivo, sobre os pontos que ele poderia
defender e como atingir os adversários em seus flancos mais vulneráveis, e concluímos que ele estava
suficientemente preparado, motivado e tinha plenas condições de enfrentar e derrotar a qualquer um dos
demais candidatos a vice.

Decisão tomada: mesmo contra a opinião do conselho e à revelia dele, Ivo enfrentaria seus desafiantes a
qualquer momento ou local onde isto fosse possível. E a oportunidade se deu logo, num episódio que
chegava a ser hilariante: estava a caminho do escritório de Ivo em Santa Cruz, quando sua secretária me
ligou e disse que Ivo tinha visto seu desafiante numa entrevista, ao vivo, no estúdio de uma emissora em
Santa Cruz falando sobre a falta de disposição dele em debater, e que ele saíra ao encontro do rival, disposto
a debater com ele ali e agora.

Saí atrás dele e, quando cheguei, Ivo estava acabando de ser anunciado como debatedor diante de um
surpreso, lívido e descorçoado Carlos Meza, que esperava por tudo menos por isto. Nem é preciso dizer que
a emissora adorou o imprevisto, que levantou os seus índices de audiência e lhe dava o título de ser a
primeira a transmitir um debate entre os vices. Ivo apresentou-se e desancou a iniciativa covarde de quem
quer que estivesse por trás dos cartazes apócrifos que emporcalhavam a cidade e alardeavam a mentira de
que ele teria medo de debater.

Neste momento, quando Ivo já falava sobre como combater a corrupção e gerar empregos, ele é
interrompido pela chegada, aos estúdios da TV, do esbaforido candidato à vice-presidência do MIR, Fufi
Saavedra, que adentra o cenário e é anunciado pela emissora como mais um dos vices dispostos a debater
suas propostas, tomando seu lugar em cena. Neste momento, o antes tão confiante candidato à vice-
presidente do MNR balbuciou qualquer coisa ininteligível sobre o fato de não aceitar debater sob pressão e
de improviso, batendo em retirada, sem sequer se despedir dos telespectadores. Tanto Fufi como Ivo,
criticaram a atitude antidemocrática de seu desafiante e o despreparo dele em debater e depois prosseguiram
civilizadamente o debate entre eles, cada qual falando das propostas e projetos de seus candidatos à
presidência. Ivo virou herói e o vice que o desafiara, nunca mais voltou a falar em debate.

Para que o leitor faça idéia do “estrelismo” e falta de visão de Manfred e seus principais assessores neste
período, basta dizer que, depois de aceitarem a oferta de Andrés Guzmán e encarregarem-no de agendar o
encontro, eles cancelaram o compromisso e desprezaram os benefícios que poderiam extrair ao serem
recebidos pelo presidente da república do Brasil, Fernando Henrique Cardoso. Em outra ocasião, recusaram
uma oferta de reunião com a FIESP e outra com importantes empresários (e potenciais financiadores), além
de uma forte agenda com a imprensa brasileira. Também acharam pouco importante reunir-se com o então
candidato Ignácio Lula da Silva, com receio de que um encontro com o candidato do PT pudesse prejudicar
suas relações futuras com a embaixada americana.

Até hoje não sei se as recusas se deram por razões estratégicas (falta de), se para fazer uma desfeita ao seu
vice, se foi um recado de que meus ofícios eram dispensáveis, ou só para não ficarem me devendo favores, já
que me propus a conseguir-lhes os encontros através de um amigo e fui quem lhes apresentou as propostas.
De qualquer forma, o fato é que, pelo menos no caso da agenda com Fernando Henrique, eles me causaram
forte constrangimento e embaraço para inventar uma desculpa suficientemente boa para explicar ao meu
amigo Andrés Guzmán uma razão válida para justificar tamanha deselegância e estupidez.

A propaganda agressiva do MNR

Outra peça publicitária provocativa e agressiva patrocinada pelo MNR era um spot onde se mostravam
imagens aéreas de Cochabamba, mostrando torneiras que não tinham água e falando dos problemas de
abastecimento da cidade que foi governada por 4 mandatos por Manfred. Aí, sobrevoavam a casa de
Manfred e mostravam a sua piscina, afirmando que a água que faltava aos pobres de Cochabamba, sobrava
na piscina de Manfred... (o spot vendia o conceito de que Manfred era rico e candidato da elite; que ele era
um mau gestor e foi incapaz de resolver o problema da água e, de quebra que ele era insensível e não ligava
para os pobres)

As duas campanhas causaram muita irritação internamente e trouxeram à tona as primeiras insatisfações,
cobranças e intrigas que quebraram a precária harmonia até então existente. Novamente, pesquisas
mostravam que o spot irritava mais os nossos eleitores e aos indecisos do que a nós mesmos, e serviam para
fornecer argumento e como mais um elemento de blindagem dos próprios eleitores de Goni. Parte da
imprensa também reagiu negativamente àquele spot, denunciando o início da guerra suja e tudo caminhava
para uma situação em que poderíamos usar a força e afoiteza do adversário contra ele mesmo,
transformando-nos em vítimas de sua agressividade e falta de escrúpulos.

A primeira conseqüência dos ataques foi o estancamento do crescimento até então constante da candidatura
de Manfred, que estabilizou-se num bom patamar intenção de votos, que lhe assegurava vantagem sobre
todos os concorrentes. Os números das pesquisas contratadas pelos jornais e emissoras de televisão variavam
muito de um meio para outro, mas nas nossas pesquisas internas, a diferença era de confortáveis 12%.
Transcrevo, abaixo, uma análise de jornalista Leopoldo Vegas, do jornal El Nuevo Dia, publicada em 2 de
junho, onde se analisavam os resultados de uma pesquisa realizada em maio de 2.002. (a tradução consta no
CD que acompanha esta edição)

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: o Novo Día, 2.6.2002
Santa Cruz da Sierra - Bolívia, Domingo 02, Junho de 2002

Manfred estancou e Evo subiu a quarto lugar

Pesquisas. O presidenciável pelo NFR está com 23% na intenção de voto em todo o país. O MNR não passa
dos 17%, enquanto o MIR baixou a 12%, mas segue no terceiro lugar. UCS cai

Leopoldo Vegas R.
O estancamento da candidatura presidencial de Manfred Reyes Villa (NFR) e a consolidação no quarto lugar nas
pesquisas do presidenciável pelo MAS, Evo Morales, são dois dos feitos que destacam a 28 dias das eleições gerais
no país. De acordo com a pesquisa elaborada entre os dias 15 e 25 de maio pela rede “Você Elege”, o eneferista se
mantém no primeiro lugar da preferência do eleitorado, ainda quando sua candidatura sofreu um “desmoronamento”
em Chuquisaca onde perdeu mais de 12 pontos em relação à medição que se fez de 3 a 7 de maio. Contudo e o
“resvalo” chuquisaquemho, Reyes Villa segue na primeira posição com 23% na intenção de voto. Esta cifra
representa um ponto a menos em relação à anterior medição quando o 24% dos consultados manifestou sua
intenção em sufragar o NFR. Apesar do estancamento de Reyes Villa, sua liderança agora não está ameaçada por
seus principais adversários MNR e MIR, respectivamente. Gonzalo Sánchez de Lozada se manteve com 17% na
intenção de votos, ao mesmo tempo em que o MIR experimentou uma queda de 14% a 12% em comparação às duas
últimas medições realizadas em todo o país. Em pouco menos de um mês, o postulante mirista perdeu quatro pontos
nas pesquisas. Em 3 de maio passado, estava com 16% e na última medição figura com 12%. As derrapadas dos três
primeiros colocados foi aproveitada por Evo Morales, quem em menos de 15 dias viu alentar seu eleitorado de 6% a
9%. O dirigente cocaleiro consolidou sua liderança em Cochabamba, onde deslocou o MNR do segundo lugar, e nas
regiões nas que existe forte influência das etnias quechua e aymara. Na outra direção se mobiliza Johnny Fernández,
que nos últimos 15 dias baixou de quarto a quinto colocado na preferência de eleitorado. Faz uma semana, o
presidenciável pela UCS declarou em Santa Cruz que a decisão da Corte Nacional Eleitoral de inabilitá-lo como
candidato à chefatura de Estado, o favoreceu com um crescimento superior a 9%. Apesar disto, esta pesquisa reflete
o contrário. O ucesista se manteve dentro de sua margem de votos. Outro partido praticamente estancado é ADN.
Apenas passou de 3% a 4%, a pesar dos adenistas tentarem capitalizar o voto póstumo pela morte de general Hugo
Banzer. Os 4% da ADN, é uma porcentagem idêntica a que mantém Felipe Quispe, líder de Movimento Indigenista
Pachackuti, partido sem experiência na maquinaria eleitoral dos adenistas. Enquanto isto, Alberto Costa Obregón se
“enclausurou” nos 2% da intenção de votos, com o que supera à “moribunda” Condepa, que está com o 1% em todo
o país. De sua parte, René Blattmann (MCC) e Rolando Morales (PS) não alcançam 1% dos votos.

A assessoria norte-americana contratada por Manfred procurou tranqüilizar seu cliente e qualificou como
inócua e indicativa do desespero, as estratégias de comunicação do principal adversário. Mas a pior
conseqüência dos ataques foi o (justo) agravamento do inconformismo de Manfred e seu irmão (estimulado
pelo seu conselho de campanha) quanto à isenção e eqüidistância adotadas pelo jornalismo da emissora de
Ivo, durante o período em que a candidatura deles esteve sob o fogo cerrado da propaganda adversária e dos
editoriais dos veículos que os apoiavam.

Desta vez, ao invés de mandar recado, o próprio Manfred ponderou com seu vice que era inadmissível que a
emissora convidasse o arqui-rival para amenas entrevistas enquanto éramos duramente atacados pela
publicidade dele, e cobrou de Ivo uma posição mais firme da emissora dele: seja na distribuição dos espaços
concedidos pelo jornalismo aos diversos candidatos, ampliando a participação deles e dos seus aliados, bem
como a adoção de uma postura mais crítica dos jornalistas em relação aos abusos e às agressões que os
adversários faziam contra o próprio dono da emissora. Como Goni era fortemente favorecido pela emissora
do seu vice Carlos Meza e outros poderosos veículos que lhe davam clara cobertura privilegiada, Manfred
tinha toda razão em esperar de Ivo um engajamento, se não ostensivo, pelo menos mais firme e menos
indiferente.

Ivo concordou com Manfred e tomou providências, responsabilizando o jornalista e braço direito dele, Oscar
Vargas, pela conduta do jornalismo local (Santa Cruz), além de convocar para uma reunião o diretor nacional
de jornalismo de sua emissora, que se comprometeu a observar de perto e prestar mais atenção na concessão
de espaços e dos espaços editoriais da emissora a nível nacional.

Esta atitude arrefeceu os ânimos num primeiro momento, mas a nível nacional o que foi acordado não foi
cumprido. Como ainda prevalecia a convicção de sua invencibilidade, Manfred e seus assessores mantinham
o salto alto e toda a boataria voltou com força, bem como o distanciamento de Manfred e Ivo na agenda dos
eventos e viagens pelo País.

JUNHO NEGRO

A desastrada, infantil, deselegante e prepotente resposta do titular da campanha (ou de sua assessoria) se fez
sentir muito cedo: apenas alguns dias depois, Manfred deixou se vice numa situação muito constrangedora.
Nem debate que tinha agendado numa poderosa identidade de empresários cruzenhos, sem nenhum aviso e
sem atender ao celular, Manfred faltou ao compromisso e deixou Ivo vendido e sem saber o que dizer para
os empresários que aguardavam seu companheiro de chapa. Além dos prejuízos à sua própria imagem e
campanha, a matéria reproduzida parcialmente abaixo dá uma idéia da saia justa que Manfred colocou em
seu vice:

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: HojeBolívia, 4.6.2002

Manfred Reyes Villa deixou os empresários irritados

O candidato pela Nova Força Republicana, Manfred Reyes Villa, deixou esta manhã os empresários irritados, ao não
comparecer ao debate organizado pela Câmara de Indústria e Comércio "propostas para o crecimento e o
desarrolho".

Segundo explicaram alguns dirigentes, o "Bombóm" se encontra no norte de país trabalhando em sua campanha
política, pelo que não pôde chegar a tempo. Por mais de uma hora foi postergada a inauguração do encontro, devido
ao fato de ninguém ter informado que Reyes Villa não compareceria.

Esta ausência, foi criticada pelos candidatos dos outros partidos políticos, que disseram que, uma vez mais, o povo
fica sem conhecer as propostas de todos os candidatos e em especial as de Reyes Villa, que até o momento não
ainda não deu a conhecer suas propostas publicamente…

O EXATO MOMENTO EM QUE MANFRED COMEÇOU A PERDER A DISPUTA

No dia seguinte ao de sua desfeita ao vice e aos empresários do segundo maior colégio eleitoral do País
(Santa Cruz), quarta feira, dia 5 de junho de 2002, Manfred compareceu a um debate na Câmara que reúne
os empresários do primeiro colégio eleitoral, La Paz, que contava com a cobertura maciça da imprensa. Foi
criticado por seus adversários pelo não comparecimento ao evento no dia anterior e pelo adiamento dos
debates, e duramente atacado pelo candidato Jhonny Fernandes da UCS (que tinha apenas 3% das intenções
de voto e fazia o jogo de seu aliado Goni e do MNR).

Mas seu pior momento foi quando, confuso e sem saber onde queria chegar o adversário com suas
indagações acerca da origem de sua fortuna e seus bens, Manfred titubeou e mentiu na resposta que deu ao
adversário. Manfred nunca confessou que mentira e sempre atribuiu sua resposta a um equívoco e
circunstancial lapso de memória, mas se eu fosse um assessor e gozasse de sua confiança e se seus
assessores tivessem me escutado quando lhes perguntei sobre os esqueletos que Manfred poderia ter
esquecido no seu armário, este lapso jamais teria ocorrido. Se ele tivesse dito que mentira, eu e Mariola, com
absoluta certeza, teríamos tempo de construir uma boa versão e preparar uma saída mais honrosa para ele.

As matérias que reproduzo abaixo (as traduções estão no CD) demonstram como o deslize de Manfred foi
explorado pelos seus adversários, e chamo a atenção para os leitores para o fato de que o ocorrido com
Manfred é o pior desastre que pode ocorrer a um candidato durante sua campanha: ser pego em fragrante
mentira. O ponto mais vital de qualquer candidatura é a credibilidade pessoal do próprio candidato e
Manfred foi atingido exatamente aí.

No mesmo ano, no Brasil, Ciro Gomes pagou alto preço eleitoral por um motivo mais fútil ainda do que o
que vitimou seu colega presidenciável Manfred: em entrevista na Rede Globo, Ciro foi questionado por uma
informação que dera sobre sua escolaridade e taxado frontalmente de mentiroso pela entrevistadora ao
confessar que cometera um engano ao divulgar seu currículo. Em outro momento, Ciro cometeu o mesmo
deslize de Maluf (o do estupra, mas não mata) ao tecer um comentário machista sobre o papel de sua mulher
na campanha dele. Tive dó de Ciro, pois ele me recordava em tudo o que ocorrera com Manfred: um bom
candidato, com uma péssima assessoria, comandada por um parente e amigos, tinha as melhores propostas,
não era o preferido dos norte-americanos, mas tinha o melhor posicionamento, representava a renovação e
era o mais sincero. Apesar de sua inteligência, ele falava com o coração, cometendo muitos pequenos erros
que foram usados com eficácia para destruí-lo. Em tempo: eu nem precisava dizer, mas em 2002, eu fui um
eleitor de Ciro, duas vezes.

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: a Razão, 7.6.2002

(07/06/2002)
UCS mostra provas contra Reyes Villa
Manfred havia dito que não tinha sócios em Marevi, mas dois testemunhos o ligam contratualmente ao alemão Rolf
Reinhold Hacker Bielefeldt. NFR nega as acusações e anuncia uma resposta oficial.

O sócio de Manfred não tinha o Registro Único Laboral de Estrangeiros. Há uma certificação obrigatória que,
descumprida, torna a sociedade irregular e ilegal.

Estas são as certificações apresentadas por UCS. Uma indica que o alemão não tinha regularizada sua situação e a
outra, se refere à constituição da empresa.

Tudo indica que o candidato de NFR, Manfred Reyes Villa, faltou com a verdadee quando Johnny Fernández lhe
perguntou — quarta-feira passada, durante o foro organizado pela Confederação de Empresarios— sobre sua
relação contratual com um cidadão alemão que não tinha registro legal no país.

“Tú dizes que quers uma revolução moral, tú dizes que quers transparência em teu governo, tú dizes que fizeste tua
fortuna legalmente, mas eu tenho em minhas mãos um testemunho que diz o contrário”, afirmou o reabilitado
candidato ucesista.

Dia 7 de maio, o director geral de Emprego, Salarios e Migração Laboral do Ministério do Trabalho e Microempresa,
Maximiliano Grillo, certificou que o “cidadão alemão Rolf Reinhold Hacker Bielefeldt não se encontra inscrito no
RULE (Registro Único Laboral de Estrangeiros)”. esse documento foi proporcionado ontem pelo escritório de
campanha da UCS. Ademais, o testemunho Nº 116/87 de 12 de fevereiro de 1987 do Distrito Judicial da Paz, fala de
uma "escritura pública de constituição de sociedade de responsabilidade limitada que girará sob a Razão Social de
Marevi Internacional SRL, subscrita entre os sócios: Manfred Reyes Villa e Rolf Reinhold Bielefeldt".

A cláusula segunda indica que a sociedade tem por objeto dedicar-se a consignações imobiliárias, compra-venda de
casas, terrenos, veículos, transações, peritagens e tudo o concernente ao ramo imobiliário. Na terceira ressalta que
"tem domicilio principal na cidade de La Paz, podendo estabelecer filiais, sucursais, agencias e representações no
interior e exterior do país".

Na cláusula quinta se manifesta: "O capital social, integralmente pago é de dois mil Bolivianos (Bs 2.000) divididos em
duzentas (200) quotas de capital de valor nominal de dez Bolivianos (Bs 10) cada uma”.

Do mesmo modo, o testemunho Nº 211/87 indica: "O poder geral e amplo de administração que conferNos senhores
Manfred Reyes Villa e Rolf Reinhold Hacker Bielefeldt, sócios de Marevi Internacional SRL, a favor de Rolf Reinhold
Hacker Bielefeldt, gerente administrativo". Consultado sobre este tema, o porta voz de NFR, Víctor Gutiérrez, disse
que é parte da “guerra suja” empreendida por alguns partidos, pelo que anunciou que esta sexta-feira dará uma
conferência de imprensa. “Não quero adiantar critérios”, afirmou.
A Razão e ANF.

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: a Razão, 11.6.2002

(11/06/2002) a campanha

Manfred esqueceu a seu sócio alemão, que era esposo de sua sogra
Reyes Villa recordou ontem quem era Rolf Reinhold Hacker Bielefeldt. A semana passada mentiu quando disse que
não teve sócios na Marevi. Johnny demonstrou o contrário.

Amnésia? Reyes Villa, até o final minimizou sua mentira, que qualificou de esquecimento atribuido ao tempo.
Manfred disse uma coisa no foro dos empresarios e outra quando a pressão lhe obrigou a dizer a verdade. O
candidato eneferista prometeu transparência em su governo e uma luta frontal contra a corrupção.

Apenas seis dias depois de realizado o foro político eleições 2002, Manfred Reyes Villa reconhece que não disse a
verdade. A desculpa esgrimida pelo candidato eneferista é que havia esquecido ter formado uma sociedade com o
cidadão alemão Rolf Reinhold Hacker Bielefeldt.
“Nem me recordava, foi há 16 anos”, disse Reyes Villa, que quarta-feira passada havia rejeitado taxativamente su
presumível relação contratual com quem resultou ser o marido de sua sogra, como o confirmou ele mesmo.

Erick Reyes Villa, irmão de Manfred, disse à noite que não houve sociedade, e sim uma relação acidental para os
trâmites da agencia de La Paz.

“Para conseguir a abertura de uma das agencias no país, que era propiamente a de La Paz, fizemos uma sociedade
de responsabilidade limitada com o esposo de minha sogra”, afirmou Manfred Reyes Villa, depois de reiterar que sua
empresa era “unipessoal”.

No foro dos empresários, o candidato ucesista Johnny Fernández perguntou a Manfred: “Tú formaste uma empresa
com um sócio alemão que não tinha registro legal. Como podes falar de revolução moral?”.

O candidato eneferista respondeu: “Marevi Internacional era uma empresa minha. Nunca tive sócios, menos
alemães”.
Documentos de UCS demonstram que Reyes Villa tinha mesmo uma relação contratual com o cidadão alemão,
situação que foi admitida ontem por ele. Para Reyes Villa, este tema não tem transcendência porque não se trata de
evasão de impostos nem de enriquecimento ilícito.

“São coisas banais, não é evasão de impostos ou não, é uma situação de um manejo contábil que não tem nada a
ver com a coisa pública. É um tema muito trivial”, disse. O testemunho Nº 116/87 de 12 de fevereiro de 1987 fala de
uma “escritura pública de constituição de sociedade de responsabilidade limitada que girará sob a Razão social de
Marevi Internacional SRL, subscrita entre os sócios: Manfred Reyes Villae Rolf Reinhold Hacker Bielefeldt”.

“O senhor é uma personalidade no país, um senhor que era o marido de minha sogra, mas eu nem recordava que
havíamos feito uma sociedade exclusivamente para a cidade de La Paz”, disse.

A reação dos estrategistas de Manfred à campanha orquestrada para atingir a credibilidade dele

Mais grave que o erro de Manfred além dele ter nos faltado com a verdade, foi a reação de sua assessoria e o
menosprezo que eles atribuíram ao que chamaram incidente menor, ou acidente de campanha. Foi somente aí
que eu descobri que havia um sofisticado sistema de informação à disposição de Manfred, que era sonegado
e estava inacessível ao assessor de Ivo Kuljis, inclusive um sistema de tracking nacional diário. O problema
é que o enorme volume de informações produzidas estava sendo mal interpretado e todos estávamos sendo
induzidos a errar pela deficiência analítica dos pseudo-especialistas encastelados no comando da campanha e
do prestador de serviços contratado para fazer as pesquisas.

Mais grave ainda e pior do que todos eles, a incapacidade, desleixo, irresponsabilidade ou motivo ainda pior
dado ao fato do experiente “marketeiro” norte-americano contratado por Manfred para assessorá-lo e que
recebia diariamente os resultados dos trackings diários, ignorar o que estava claramente expresso por detrás
dos grandes números aparentes, que poderiam ser detectados mediante simples cruzamento das informações
levantadas. Como o experiente consultor de Manfred nos brindava com sua presença quinzenalmente, eu
tinha muita pressa em dispor de dados para poder sustentar uma conversa séria e profissional com ele.

Muito preocupado com o incidente e o imobilismo do comando de campanha; e mais ainda pelo mordaz e
competente uso que fizeram dele seus opositores e veículos de comunicação ligados a Goni, agravados pela
suspeitosa “imparcial” cobertura que lhe dava sua própria rede nacional de televisão, após mendigar em vão
o acesso aos resultados das pesquisas, eu convenci Ivo a bancar uma pesquisa. E medimos o desgaste que a
mentira de Manfred lhe acarretara.

Estatísticas e números mal interpretados geram ilusões poderosas e letais

Para não desperdiçar papel e nem o esforço visual dos leitores, ao invés de anexar tabelas e mais tabelas vou
direto às principais descobertas que aquela pesquisa nos trouxe. Passados apenas 10 dias da ocorrência do
fato, pela leve oscilação de 1,4% (dentro da margem de erro) ocorrida nas intenções de voto atribuídas a
Manfred, era impossível afirmar que a alardeada “mentira” tenha causado forte abalo junto aos eleitores que
já tinham optado pela candidatura de Manfred.
A análise dos índices brutos de rejeição verificava-se que ela aumentara em 30 dias, passando de 15,5% (1
eleitor em cada 6) para 26% (1 eleitor em cada 4). Contudo, como parte desta rejeição poderia: a) ser um
reflexo da guerra suja iniciada contra Manfred no mês passado; 2) dar-se ao fato de que o aumento das
intenções de voto cristalizadas em favor dos concorrentes também levam a um natural aumento nos índices
de rejeição de todos (um eleitor decidido a votar por “a”, também está decidido a não votar por “b” nem
“c”); além disto, a rejeição atribuída aos seus principais concorrentes era muito maior, na faixa dos 40%.

No campo dos atributos e defeitos, embora os resultados apresentassem uma queda generalizada nas
percepções sociais das qualidades de Manfred e um leve aumento também generalizado na percepção de
seus defeitos, já eram perceptíveis os efeitos da guerra suja. Mas como todos os indicadores registravam
forte vantagem de Manfred em relação aos principais concorrentes dele, os indícios e pistas que os números
expressavam poderiam até passarem despercebidos pelos inexperientes e presunçosos “especialistas” que
comandavam a campanha, mas jamais deixariam de chamar a atenção de analistas experientes como eu, o
representante do Gallup ou o consultor norte-americano.

Manfred tinha caído em todos os indicadores ligados à sua credibilidade pessoal: No item Honestidade,
Manfred despencara 9 pontos; no quesito sensibilidade, manteve-se estável; no quesito inteligência e preparo
mantinha-se empatado com Goni; no item sinceridade, Manfred tinha caído de 10 pontos, embora se
mantivesse mais de 15% acima do seu adversário mais próximo; mantinha situação de empate técnico com
Goni e Zamora no quesito experiência; seguia líder absoluto quanto ao carisma; perdeu 6% como o
candidato que inspirava mais confiança. Na avaliação dos defeitos, os resultados foram semelhantes: embora
tenha crescido um pouco no quesito “é o mais corrupto”, as indicações do nome dele eram 1/3 das atribuídas
aos seus principais concorrentes; Seu desconhecimento era próximo de 0%, mas as indicações de que ele era
o candidato que inspirava menos confiança duplicou, ultrapassando pela primeira vez a barreira dos dois
dígitos.

Até aí, embora inspirassem um cuidado maior que aquele tomado pela coordenação de campanha nenhum
dos dados aparentes apontava para o fato de que já se iniciara um processo de erosão perigoso da imagem
pública de Manfred junto à sociedade e ao eleitor boliviano.

Fora este escritor, ninguém se dera ao trabalho de cruzar as opiniões dos eleitores indecisos com a percepção
das qualidades, defeitos e rejeição aos candidatos, sem falar no fato de que estes cruzamentos permitiam que
se verificasse a ausência de testes de consistência para consolidação dos dados. Enquanto eu fazia a minha
analise, nossos especialistas em comunicação, assessores, produtora, candidatos e chefes da campanha eram
iludidos com a idéia de que tudo estava sob controle, e se encantavam com as esdrúxulas propostas finais
idealizadas pelo “brilhante” especialista contratado por Manfred.

Prova disto é que, enquanto a credibilidade do candidato à presidência fora atingida de morte e se esvaía seu
apoio popular, o consultor esqueceu que estávamos na Bolívia e não no Texas, chegando ao delírio de
recomendar que os spots veiculados na reta final da campanha deveriam simbolizar a força, juventude e
virilidade dos candidatos. Para ele, estas qualidades seriam simbolizadas e evidenciadas em comerciais de
TV onde os dois cavalgariam imponentes corcéis, como se fossem cowboys da Malboro cavalgando pelo
Texas...

A decisão de salientar a juventude ao invés da credibilidade e honestidade

Informado de minhas descobertas e preocupação, Ivo convocou em sua casa uma reunião com toda a cúpula
da campanha, para apresentar a nossa pesquisa e submeter as conclusões a que eu chegara para todos,
incluindo o especialista americano. No dia seguinte, lá estavam todos, inclusive o nosso pesquisador que,
enfim fora autorizado a fazer uma exposição baseada nas pesquisas que ele vinha realizando. A maioria dos
resultados apresentados por ele batia com os nossos, mas a leitura deles, por falta dos cruzamentos mais
importantes, era totalmente falha e equivocada.
Recordo-me bem que iniciei minha exposição com a estória do viajante apressado que teve que matar o seu
cavalo porque não ordenou a colocação do cravo caído da ferradura, passando em seguida para a analogia
médica, do caso do pequeno ferimento que, mal cuidado poderia infeccionar-se e levar à morte. E
reapresentei a pesquisa deles chamando a atenção para detalhes que eles não tinham levado em conta.

Diante da recusa geral em dar maior atenção aos pontos de vista por mim expressos, passei a apresentar os
cruzamentos da pesquisa ordenada por meu amigo Ivo, que mostrava cabalmente que a nossa possibilidade
de crescimento já era quase nula, uma vez que a rejeição geral que ambas as pesquisas apontavam se
concentravam no segmento representados pelos eleitores indecisos. Exemplo: embora a rejeição a Manfred
estivesse no patamar dos 26%, entre os eleitores indecisos, ela era próxima da de Jaime Paz, atingindo 43%
junto aos indecisos. Demonstrei também que os índices negativos afetos à credibilidade de Manfred também
eram maiores entre os indecisos do que o resultado expresso no relatório geral. Em dado momento, irritado
com as constantes interrupções que me fazia o representante do Gallup perdi a paciência e critiquei o fato de
que ele sequer fazia os testes de consistência de seus dados nem os cruzamentos mais essenciais para a
tomada de decisões, ou já saberíamos todos qual seria o melhor caminha a tomar.

Após a documentada e inquestionável análise que eu lhe apresentara, sugeri alterarmos os spots e mensagens
destinadas à reta final da campanha, para evidenciar mais a credibilidade de Manfred e fortificar o atributo
honestidade através outras táticas. Propus o uso de slogans do tipo “Manfred cumpre”, ou uso dos avais
sociais e testemunhais de seu caráter e sinceridade, contra-atacando e defendendo as fortificações abaladas
de caráter e moral e estancando a hemorragia eleitoral que os ataques de Goni causavam a Manfred, ao invés
de centrar a campanha na mais que evidente juventude tanto de Manfred como de Ivo.

Confesso que, embora suspeitasse que aquele consultor e o nosso “chefe” de campanha não passassem de
dois agentes inimigos infiltrados por Goni na nossa campanha, o danado consultor era experiente e sabia
lidar com seus oponentes: ao invés de contestar minha análise, para minha contrariedade (mas extraordinária
e didática lição), a atitude do consultor norte-americano foi profissional e fria. Sem alterar-se, polemizar ou
tentar retificar a nenhuma de minhas considerações e sem tentar justificar nenhuma das recomendações dele,
ele simplesmente fez três considerações:
1ª) Respeitava pontos de vista divergentes;
2ª) Reafirmou que ele mantinha a sua avaliação e todas as recomendações que fizera;
3ª) Expressou seu reconhecimento de que os candidatos estavam no seu legítimo direito de escolher
qual de nós eles consideravam o mais credenciado ou merecedor de sua confiança.

E mais esta vez eu tive a prova de que o ser humano sempre tende a acreditar no que o beneficia ou reafirma
as suas crenças, esperanças e convicções: fui voto vencido no conselho da campanha e confesso que até eu
torci para que estivesse errado, pois tinha grandes planos de montar escritório em La Paz, de onde poderia
estender minha consultoria e pesquisas por toda a América Latina, recomendado pelo meu amigo, um vice-
presidente, além dos projetos que eu teria condições de “emplacar” num governo “amigo”.

Embora eu e Maríola sempre tenhamos sido votos vencidos no conselho de campanha, ambos tidos como os
profetas do apocalipse, nós éramos os únicos que alertávamos os candidatos para os erros que eram
cometidos e suas possíveis conseqüências, propondo iniciativas e correções de rumo para a campanha. Em
sua maioria, nossas recomendações eram vetadas pela consultoria americana e pelos conselheiros que Ivo e
Manfred mantinham no conselho, pois aceitá-los seria o reconhecimento da absurda hipótese de que eles, os
deuses da comunicação e o supra-sumo da inteligência política do País, os estrategistas e artífices que
produziram o maior fenômeno da eleição boliviana, pudessem, ora, cometer erros.

Cansamos de alertar Manfred e Ivo da conspiração que tramavam contra eles o presidente da República e a
embaixada americana em favor de Goni. Talvez, se nossos conselhos e alertas fossem ouvidos, eles
pudessem ter buscado melhores articulações com o presidente e com a embaixada americana, fortalecendo-
se como o plano “b” e poupando-se do furacão que se abateu sobre eles na última semana de campanha.

Enquanto a imagem de Manfred era desmantelada, eu e Mariola amargamos a nossa derrota no conselho e
apelamos à esperança enquanto assistíamos os nossos jovens líderes, cavalgando formosos cavalos na
telinha, enquanto torcíamos para que a data da eleição chegasse antes que a lenta, mas inexorável queda
diária deles lhes tirasse qualquer chance de vitória.

IVO PERDE O CONTROLE DE SUA EMISSORA, QUE O AMEAÇA COM UMA GREVE DE
PROTESTO

Como o boicote feito pelo jornalismo da emissora de Kuljis, era cada vez mais evidente e as determinações
feitas anteriormente por ele não foram cumpridas, agora mais do que nunca, a campanha precisava contar
com ela, para tentar reverter o desgaste que lhes era imposto pela cerrada campanha capitaneada pela
Emissora de TV do candidato a vice de Goni (Carlos Meza) e por outras poderosas emissoras.

Fortemente pressionado por seu companheiro de chapa e por todos os conselheiros (inclusive por mim), para
não ter que chegar ao extremo de substituir o diretor e os jornalistas responsáveis pela pauta e edição, Ivo
decidiu “sugerir fortemente” a contratação de uma jornalista respeitada, experiente e leal, indicada por
Mariola, para supervisionar da cobertura política e eleitoral feita pela emissora.

A reação contrária despertada por ela foi rápida e chegou às raias da chantagem: constrangido, seu diretor de
jornalismo convocou o dono da emissora (Ivo) para dizer-lhe que se ele insistisse em interferir na sua própria
emissora, os jornalistas estavam dispostos a iniciar uma greve que tiraria a emissora do ar e denunciariam à
nação que Manfred e Ivo estavam tentando usar a Rede dele para exercer a censura e manipular a eleição.
Mas prometiam manter a neutralidade do jornalismo e, naquela altura dos acontecimentos, Ivo e Manfred
teriam mais a perder do que a ganhar caso decidissem enfrentar os conspiradores à beira do motim.

Em minha opinião pessoal, suspeito que além de todos os atos de terrorismo eleitoral que foram abertamente
confessados pelos “marketeiros” que fizeram a campanha de Goni, está a inconfessa cooptação e infiltração
na emissora do concorrente, estratégia que só deu certo por causa da enervante paciência e tolerância de Ivo,
além de sua aversão a qualquer atitude radical, precipitada ou arbitrária.

No caso, as suas qualidades teriam sido covardemente usadas contra ele e eu tenho a absoluta certeza de que
se os seus diretores e jornalistas fossem só um pouco menos desleais, o resultado daquela eleição seria bem
diferente: com o prestígio e alcance de sua emissora, não lhes faltariam os suspeitos 706 votos que os
separaram de Evo e nem os poucos milhares de suspeitíssimos votos que colocaram Goni à frente do seu
empregador.

Assim, se existir algum fundamento nas minhas suspeitas, eu espero que os eventuais responsáveis pela
reprovável atitude naquela época, se é que lhes sobre alguma réstia de consciência, sintam-se envergonhados
e co-responsáveis pelos acontecimentos e pela crise política e sofrimentos que sua atitude desleal impôs ao
País. Manfred e Ivo teriam sido eleitos, mesmo com todas as suspeitas de fraude e de manipulação que
envolveu o processo de apuração, tudo fartamente denunciado pelas vítimas e solenemente ignorado pela
corte eleitoral.

Considero um tanto ingênua a decisão posterior da Corte de passar o “mico” ou responsabilidade pela
apuração da fraude para decisão do congresso, depois de já composta a maioria e de loteados todos os cargos
pelo presidente eleito. Seria no mínimo pouco provável que os parlamentares, tomados de um súbito e
incontrolável senso de dever cívico, atirassem contra seus pés dando provimento aos recursos interpostos
pela minoria NFR, que pede nada menos do que a recontagem dos votos que conduziram a maioria deles ao
poder.

O tão esperado debate entre Goni e Manfred

Depois que Ivo desmistificou a invencibilidade dos emenerristas em debates e na esperança de reverter o
desgaste que vinha sofrendo desde maio, chegou a data tão ardentemente desejada por seu desafiante, Goni.
A expectativa do eleitorado era enorme e os simpatizantes dos candidatos e analistas mais afoitos previam
um duelo decisivo, um embate do qual só sobreviveria eleitoralmente um dos contendores. Mas consciente
de que só teria a perder em revirar o passado, o desafiador Goni propôs e Manfred aceitou de pronto, uma
trégua que preservaria a ambos. O debate foi um fiasco geral, mas prejudicou mais a Goni do que a Manfred,
pois o emenerrista era o desafiante e insistiu tanto no debate que as expectativas eram exageradas. Para
compensar o fracasso, o MNR intensificou suas agressões, passando a cobrar acusações e reforçar os ataques
que antes eram feitos pelo Johnny Fernandez da UCS. Por falta de munição contra Manfred, Goni passaou a
tacaá-lo através do pai dele, que tinha servido a regimes ditatoriais (quando Manfred ainda era menino). Os
ataques e os resultados do debate foram tão decepcionantes como expressa a análise que transcrevo abaixo:

Manfred propôs não debater e Goni lhe aceitou ---- a IMPRENSA

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: a Imprensa, 18.6.2002
A Paz - Bolívia Edição de 18 JUm 2002

Decepção. Dirigentes sindicais e políticos, além de cidadãos, expressaram seu inconformismo nas sondagens das
emissoras de radio e televisão. Queríam debater? é a pergunta que ficou no ar.

Manfred propôs não debater e Goni aceitou

Juan Carlos Palacios Vargas

O MNR e a NFR se acusaram mutuamente de haver imposto condições que lhe tiraram agilidade e dinâmica do
debate eleitoral protagonizado no domingo pelos candidatos presidenciais Gonzalo Sánchez de Lozada e Manfred
Reyes Villa.
O chefe de MNR declarou que está consciente de que os meios de comunicação “exigem sangue, tem que ser como
o Coliseu Romano, tem que haver gladiadores”.
Ambos partidos declaram ganhadores a seus candidatos. Não se sabe de que.

O candidato vice-presidencial de MNR, Carlos Mesa, sustentou, sem ocultar certo desagrado, que a população
primeiro reclama e se descabela pela “guerra suja” e depois volta e descabelar-se e reclamar porque o debate foi
civilizado.
Sánchez de Lozada revelou, em conferência de imprensa, que o formato de debate foi “proposto e imposto” por
Reyes Villa.
“Os que definem estes debates são de NFR, tem medo de falar de seu passado e não querem falar sobre suas
propostas de futuro. Então eles demarcam o território, decidem que se vai a fazer e nós, submissos, sempre estamos
de acordo porque queremos que venham falar com o povo”, acrescentou.
Quase a título de consolo, Sánchez de Lozada explicou que conseguiu expor seu programa de governo, feito a partir
do qual espera mudanças importantes na tendência de voto.
Em Santa Cruz, o emenerrista e negociador de debate Freddy Teodovich disse a ANF que seu partido não pôde fazer
nada ”sobre o formato”, já que o interesse maior de MNR era que “Manfred estivesse lá, porque se não ele tirava seu
time de campo e ia embora”, disse.
Em contrapartida, os aludidos eneferistas, através de seu porta voz, Víctor Gutiérrez, qualificaram a afirmação de
Sánchez de Lozada como um ato de covardia, porque foram os movimientistas os que condicionaram o debate a que
só se fale de propostas e não “do passado”.
Gutiérrez frisou que como existe muito que dizer de passado de Sánchez de Lozada, o MNR não quis abordar temas
como os da capitalização, por exemplo.
“Essa é uma mais das quinhentas mil mentiras que disse o gonismo”, fustigou.
Rivais do MNR e NFR, representantes regionais e vários meios de comunicação qualificaram como uma “fraude
política” o insípido debate eleitoral mantido por Reyes Villa e Sánchez de Lozada o último domingo.
Vários meios de comunicação disputaram entre si a possibilidade de ser “sede” de encontro Reyes Villa-Sánchez de
Lozada. Simultaneamente, o aspirante eneferista lançava à incerteza ao não confirmar se participaria do debate.
Em meio desta “queda de braço”, o MNR concluía sua “guerra suja” na qual exigia a Reyes Villa que responda às
acusações sobre o origem de sua fortuna e as seis propriedades que presumivelmente tem em Miami, Estados
Unidos.
Logo, os movimientistas arremeteram com o passado de Reyes Villa, especificamente contra seu pai, Armando Reyes
Villa, na ditadura de Luis García Meza e na de Celso Torrelio.
Finalmente, a última estocada, proveniente de UCS, mas aproveitada pelo MNR, foi a denuncia sobre feitos
irregulares cometidos pelo esposo da sogra de “Bombón”, o alemão Rolf Hacker Bielefeldt, de quem Reyes Villa
negou ser sócio na empresa Marevi, apesar a existir um documento que confirmava isto.
O debate não refletiu em absoluto, as distâncias que haviam mostrado previamente os dois candidatos.

Manfred: É proibido mentir (mas nem toda verdade deve ser dita)
Depois deste debate histórico, e sem poder contar com o apoio decisivo da emissora de seu vice, Manfred
decidiu ocupar todos os espaços possíveis, aceitando o convite que lhe fizera outra emissora boliviana, que
tinha um programa de alta audiência de entrevistas, do tipo “Roda Viva” promovido pela TV Cultura no
Brasil, chamado “É proibido mentir”. Lá, os convidados eram “impiedosamente” sabatinados por dois
jornalistas. E graças a uma resposta machista sobre a opinião dele quanto à admissão de homossexuais pelas
Forças Armadas, ao invés de sair pela tangente e com receio de perder o apoio que tinha nas Forças
Armadas, Manfred decidiu dizer a verdade. E igualou o placar de Ivo Kuljis com a sua Rede Uno, marcando
um gol contra e perdendo alguns milhares de preciosos votos dos homossexuais.

O envolvimento de Manfred com a Seita do reverendo Moon

Embora Manfred fosse um perfeito cavalheiro e nunca tivesse se desentendido seriamente com Ivo, ele e sua
assessoria mais próxima nunca perdoaram Ivo por ele não ter se imposto desde o início e assim evitado o
impasse seguido da derrota final. A insegurança e profunda irritação gerada pelos cerrados e grosseiros
ataques dirigidos contra ele por Goni abriram profundas feridas e ressentimentos que, não fosse a rendição
do MIR à sedução de seu arqui-rival, poderiam ter transferido a sede do governo para o congresso nacional,
impondo vida curta ao governo emenerrista e convocando uma eleição extraordinária para reforma da
constituição boliviana.

Mas todas as pesquisas internas e externas indicavam que nossa candidatura já atravessara o pior, e que
ainda nos mantínhamos, embora por margem mais estreita, a frente dos adversários. Mas o fundo do poço é
um luxo intangível numa campanha eleitoral e seu perseverante adversário ainda guardava algumas cartas
em sua manga: desta vez o seu petardo visava indispor Manfred contra a poderosa e influente Igreja Católica
e Goni requentou uma notícia que já havia saído, sem muito estardalhaço, no início da campanha, apontando
a Manfred ou ao pai dele (não me recordo bem) como um dos responsáveis pelo ingresso da seita Moon na
Bolívia. O novo petardo obrigou Manfred e Ivo a fazerem uma verdadeira peregrinação pelas dioceses
bolivianas, numa romaria para tentar minimizar o estrago que esta notícia poderia acarretar caso não fosse
desarmada a tempo.

Manoel Rocha: o dedo do Tio Sam que sacudiu o País e desorganizou o processo em favor de
Goni

Uma breve retrospectiva: Ressalvo que as considerações que passo a fazer a partir daqui referem-se a
conclusões a que cheguei através da análise do comportamento dos líderes, conversas com jornalistas e
lideranças partidárias e da análise dos quadros conjunturais e noticiário da Imprensa. Não se constituem em
provas, pois são frutos de minha capacidade dedutiva, experiência e cálculo de probabilidades. Estas
premissas e ressalvas são importantes, pois o que passo a relatar é resultado de uma só opinião: a minha.

Já lhes narrei porque a Tuto Quiroga não interessava fortalecer o partido que não controlava, e o presidente
cruzou os braços e deu as costas ao partido pelo qual se elegeu: sem o apoio do presidente, o candidato da
ADN de Banzer não decolou e sequer conseguiu alcançar os dois dígitos, permitindo que Goni reinasse entre
os eleitores conservadores.

O candidato apoiado pelos norte-americanos era o ex-presidente Gonzalo Sanches de Losada do MNR, cuja
proximidade aos Estados Unidos é tamanha, que o espanhol dele tem forte sotaque inglês. Vimos que o ex-
presidente Goni tinha uma rejeição colossal. Além de uma oportuna e calculada “imparcialidade” que
embutia o velado apoio de Tuto, o emenerrista contava com ilimitados recursos financeiros e institucionais.

Para este autor, o pseudo distanciamento de Tuto foi estratégico e calculado para evitar que a direita
boliviana se dividisse. Esta seria a conseqüência normal caso a ADN e o MNR apresentassem candidatos
igualmente fortes, ou como seguramente ocorreria se o Presidente Tuto jogasse o peso de sua imagem e o
empenho da “máquina” federal em favor do candidato de seu partido. Em troca, imagino que Tuto seria
apoiado discretamente por Goni e pelos EUA em 2006, que lhe retribuiriam o favor que Tuto lhes fazia
agora.

Com as esquerdas divididas, Goni tinha plena condição de ser um dos dois primeiros colocados na eleição
direta e, na indireta, com o poder da caneta e a chave do cofre, sua eleição seria uma barbada. (A legislação
determina que tome posse aquele que estiver entre os dois primeiros colocados no primeiro turno e
conquistar a maioria congressual que lhe assegura a governabilidade).

Como na piadinha da estratégia de jogo que, para dar certo, tinha que ser também aprovada pelo time
adversário, todos ignoraram o quarto protagonista (o povo boliviano) e se esqueceram de combinar com ele a
jogada: nem os norte-americanos, nem Tuto e muito menos Goni consideraram viável a hipótese terem suas
previsões frustradas e que suas pretensões seriam seriamente ameaçadas por uma zebra, criada e conduzida
pelo desejo do povo boliviano em mudar e renovar.

No interesse da obra e para compreensão dos leitores, conto que a campanha de Manfred esteve sob cerrado
ataque do MNR de Goni, num nível tal que faria as chamadas baixarias eleitorais brasileiras parecerem
ingênuos contos de fada. Com tudo isto, em 20 de junho, há 10 dias da eleição, o quadro era o seguinte:
depois de uma forte queda e já estancada e estabilizada, Manfred do NFR tinha 26%, Goni do MNR estava
estagnado nos 19%, Jaime Paz Zamora, do MIR estagnado nos 14% e, numa forte trajetória ascendente
(dobrou sua votação em 30 dias), vinha Evo Morales, do MAS, com 11,5%.

35
Naquelas circunstâncias, caso Manfred fosse o 1º ou o 2º colocado, além dos vários partidos com votações
32 31,5
pouco
30 expressivas
30,7(ADN, UCS,
30,7 30,5 30 etc.) ele contaria com o apoio do MIR e até com o de EVO, que era
arquiinimigo de Goni.
MRV Goni28,7 28,2 27,8 28,1 27,2 26,5
JPZ Evo 26,5 27,4 27,5 26,7 26,3 26,4 25,8 26,126
25
Johnny Ronny
O GOLPE INTERVENCIONISTA
Costa
20
18,9 19,4 19,7 19,3 19,2 18,8 19,3 19,6 19,818,7 18,9 20,1 19,4
19,3
17,7 17,6 17,8 17,3 17,6
16,4 16,6
Sentindo-se
15 perdido, penso que os antecedentes sugerem que seria bem possível que o presidente Tuto
13 13,5 13,8 12,5
Quiroga12,4 12 13 12,9
re-inaugurasse um12,7
aeroporto 12,7 reunir
só para a imprensa
12,2 12,4 12,2 11,7e oferecer 12,5 12,7para13,4
12,5 12,1palanque 12,9
que o embaixador
12,4
10
norte-americano desse
7,4um duro recado e insolente advertência ao País: Fingindo-se 10
preocupado 10
com9,7a
6,8 7,3 7,3 7,3 6,8 7,1 7,8 7,8 8 7,9
ascensão 6,6 6,6 6,7
3,9de4,4
Evo Morales, como já era rotina, fez
6,1 6,5 5,6 5,1 6,5com6,4relação ao Evo a mesma ameaça que fora feita por seu
5 4,3 4,1 4,2 5,5 4,9 5 4 Paz5
3,9 4,1 5,2
3,9 4
5,1 4,9
3,9 4,1 4,7
4 4,6
3,9 4,2
4,1 4,2
4 4,5 4,9
3,9
4 4,9 5,2 5,7
antecessor (Goni) em3,6 3,7
1997
3,5 3,8
3,7
contra 4,1
Jaime Zamora, 3,8 3,6 3,7
atemorizando 3,7
as 3,6
classes 3,7
médias 3,8
3,2 e 3,6
trabalhadoras
2,9 3e
2,8 3,23,2
2,6 2,7 3,7
4,1
irritando
0 2,4 as esquerdas, intimidando a todos com a descertificação caso os bolivianos elegessem a Evo.
(descertificação:
T2 T3 T4 conjunto
T5 T6 deT7medidas
T8 T9 que T10
revogam privilégios,
T11 T12 T13 T14tirando
T15 T16o País
T17daT18listaT19
de T20
auxílio
T21norte-
T22
americano e cassando as verbas, programas de apoio ao desenvolvimento e benefícios fiscais das
exportações bolivianas aos Estados Unidos, etc.). Aliás, ameaçar os povos dos países sul-americanos é uma
prática tão comum que existem registro de sua utilização há, pelo menos, de 60 anos, como o leitor poderá
ver na matéria abaixo extraída do jornal argentino El Clarín:

TRIBUMA ABIERTA
O síndrome de embaixador Braden
Uma sucessão de gestos de Estados Unidos com relação aos países latino-americanos está gerando reações contraproducentes
para os interesses de Washington.
Fabián Bosoer. De la REDACCION DE EL CLARIN.
As eleições presidenciais de Bolívia, faltando poucos dias para seu esperado desenlace, pareceram reviver em uma fugaz seqüência a velha historia
de embaixador norte-americano na Argentina Sprulhie Braden, partícipe involuntário da campanha que levou à presidência a coronel Juan Domingo
Perón, em fevereiro de 1946. O argumento é conhecido: o Departamento de Estado dos Estados Unidos adverte sobre o perigo que
reapresenta a emergência de um candidato inesperado num país latino-americano, que arrasta um inadvertido ascendente em grupos
sociais até então excluídos, ignorados, enojados o desmotivados pela "velha" política.
Tanto levanta sua voz o embaixador em questão, que polariza a opinião cívica entre os que apóiam o candidato que mais temem os Estados Unidos
e o resto. Conseqüência: este candidato termina ressaltado com o inopinado “empurrão” oferecido pelo representante da potencia hemisférica e
mundial. Um típico caso de efeito não desejado?
O dirigente campesino, indígena e cocaleiro Evo Morales agradeceu a embaixador norte-americano na Paz, Manuel Rocha, a ajuda que este lhe
brindara a sua campanha. Morales conseguiu trepar até a cúpula política do altiplano e ficar com uma porção dos votos da esquerda, em parte
graças às advertências de Rocha.

Não faltou a visão conspirativa do ex-presidente e também candidato Jaime Paz Zamora, que viu uma mão de Washington destinada a prejudicar
as opções moderadas da esquerda fazendo crescer artificialmente à extrema esquerda para deste modo favorecer a candidato de centro-direita,
Gonzalo Sánchez de Lozada.

TUTO REFORÇA E ENDOSSA AS AMEAÇAS DO EMBAIXADOR AMERICANO E TRANSFORMAM


O QUARTO COLOCADO NO CENTRO DAS ATENÇÕES.

A matéria a seguir, para mim, deixa claro o endosso do então presidente Tuto Quiroga às declarações do
embaixador americano. Seu protesto foi débil, mas sua análise foi vigorosa e endossa o que diz o
embaixador e reforça o clima de terrorismo, que favorecia a Evo e a Goni.

Conheci pessoalmente o embaixador Manuel Rocha e posso atestar que de burro ele não tem nada, pelo
contrário, o embaixador é inteligente e totalmente engajado com os objetivos de seu País, os Estados Unidos,
que em nenhum momento tentava impedir Evo de chegar ao poder: o estratagema visava, ao contrário, levá-
lo ao segundo turno e, assim, fazer de Goni o presidente. Rocha era tão engajado e diligente que, apesar de
suas relações pessoais com meu amigo Ivo Kuljis, não deixou de cumprir a sua missão, nem mesmo quando,
depois de consumada a sua funesta intervenção e a derrota, ao invés de solidariedade, ele procurou dissuadi-
lo de contestar os resultados e exerceu todo o seu poder de pressão para levar Manfred e Ivo a apoiarem o
protegido “golden boy” dos Estados Unidos (Goni).

Não posso crer que um diplomata experiente, que já exerceu cargos em Países importantes e que, quando foi
chefe interino da embaixada em Buenos Aires - era apelidado em círculos políticos como "O
grande Irmão" (paralelo tomado do livro de George Orwell), possa dar qualquer declaração
precipitada.

Portanto, ao contrário do que pensam alguns analistas, descarto a hipótese de erro ou ingenuidade de um alto
funcionário de um governo, ainda mais um diplomata experiente, culto e perfeitamente alinhado com a
política regional do Departamento de Estado norte-americano. Convido os leitores a refletirem sobre os reais
motivos que poderiam levar um embaixador estrangeiro, respaldado pelo presidente do País, que também se
trata de um político experiente e brilhante intelecto, que não sejam: a) A preservação dos interesses
econômicos e energéticos dos Estados Unidos no gás e petróleo bolivianos e do porto de saída, dando
continuidade aos acordos e providências já tomadas pelo então presidente Tuto Quiroga e b) no interesse
estratégico e geopolítico daquele País, em contar com aliados que possam manter isolados os seus dois
arqui-rivais no continente Sul Americano: Chávez e Fidel.

O estratagema que eles usaram é milenar e muito “manjado”, mas sempre eficaz, e já foi narrado por vários
autores em livros que falam da arte da guerra, desde Sun Tsu. “O livro dos estratagemas” do pesquisador e
filósofo alemão Harro von Senger, que o inspirou no livro do chinês Jilin, intitulado “Os 36 estratagemas:
livro secreto das artes da guerra” o enumera como estratagema número 1, com registro de utilização no
século 6 (A.C. - Antes de Cristo): Enganar o Imperador e atravessar o mar, ou seja, erguer a bandeira que se
pretende combater, usando-a para encobrir suas intenções e, ao mesmo tempo, para que ela sirva como álibi.

Quando e porque Manfred perdeu o apoio de Tuto e da embaixada americana

Aliás, acredito que Manfred deixou de ser uma opção ou plano “b” de Tuto e dos norte-americanos, a partir
do exato momento em que, sem consultar o governo nem a embaixada, empolgou-se demais e anunciou que,
eleito, pretendia fazer uma consulta popular (plebiscito) sobre de qual País seria o porto escolhido para saída
das exportações do gás boliviano. Aí, o incauto candidato (posso afirmá-lo com segurança, pois testemunhei
que nenhum dos seus assessores pensou nas implicações políticas daquele discurso, visando apenas os seus
resultados e impacto eleitoral), sem perceber, ameaçou a interesses internacionais poderosos, já consolidados
e “amarrados” pelo então presidente Tuto, já com as bênçãos do Departamento de Estado para assuntos do
Hemisfério Sul.

Para mim está claro que cada palavra e desdobramento foram cuidadosamente calculados para chegarem,
exatamente, ao resultado premeditado: fazer do Goni o próximo presidente. Ambos sabiam perfeitamente
qual era o grau de repúdio dos Estados Unidos na Bolívia, até porque Ivo lhes mostrara as pesquisas que
fizemos, e eles deslocaram o eixo de polarização do sentimento ultranacionalista e anti-americano para EVO,
tirando eleitores de Manfred (que era a mudança tão ansiada por aquela faixa de eleitores) para tentar levá-lo
ao segundo turno contra Goni em assim, levarem todas as demais forças políticas a unirem-se contra um
inimigo que, afinal, eles mesmos escolheram, criaram e fortaleceram.

E, graças ao acerto deles, aliado a uma série de pequenos erros cometidos por Manfred, Manuel Rocha, Tuto
e Goni tiveram êxito. Subestimá-los seria um erro grotesco demais e inadmissível. E como Manfred ainda
iria para o segundo turno, a determinação dos três foi tão grande e o “santo” deles era tão forte, que houve
até uma “pane” (imprevista, providencial ou algo mais?) no sistema de apuração, consumando o que eu
suspeito que seja a maior tramóia que já tive notícia nos meus 30 anos de experiência. Só num país tão pobre
e marginalizado (sob um regime colonialista), seriam possíveis atitudes e fatos tão contundentes como os
que eu presenciei por lá.

Agora convido os leitores a analisarem outras matérias e repercussões do discurso do embaixador americano
Manuel Rocha na Bolívia:

EEUU adverte com retirada da ajuda e fechar seus mercados ... -- a RAZON 6/02

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: a Razão, 27.6.2002

(27/06/2002) o tema

EEUU adverte com retirar a ajuda e fechar seus mercados se Evo Morales for eleito

O embaixador deste país alertou sobre “As conseqüências” se os bolivianos chegassem a eleger dirigentes
vinculados ao “narcotráfico e o terrorismo”. Os políticos rechaçaram a posição de Rocha.

O diplomata disse que a comunidade internacional respaldará todas as decisões de seu país.

O presidente Jorge Quiroga escutou o embaixador de Estados Unidos, Manuel Rocha, que aproveitou o ato público
para referir-se, na última parte de seu discurso, às eleições em Bolívia.

Três dias antes das eleições, o embaixador de Estados Unidos, Manuel Rocha, causou um terremoto político a
advertir que estarão em perigo a ajuda financeira a Bolívia e a exportação de têxteis e gás, se as urnas favorecerem
candidatos supostamente vinculados a narcotráfico e a terrorismo.

O aludido, Evo Morales, candidato presidencial pelo MAS, reagiu sem temor e os três primeiros na intenção de voto
—MNR, NFR e MIR— brandiram as bandeiras de soberania. Se pronunciaram Gonzalo Sánchez de Lozada de MNR,
Manfred Reyes Villa de NFR e Hugo Carvajal de MIR.

O presidente Jorge Quiroga falou da liberdade para votar, enquanto o analista Roberto Laserna alertou que as
advertências de Rocha favorecerão ao MAS e gerarão “rebelião”.

O embaixador, num ato público no Chapare, aludiu a Morales, o vinculou sutilmente com Osama bin Laden e logo
suspirou e disse: “Quero recordar ao eleitorado boliviano que se elegerem os que querem que Bolívia volte a ser um
exportador de cocaína importante, que esse resultado colocará em perigo o futuro da ajuda dos Estados Unidos a
Bolívia. Uma Bolívia dirigida por gente que se beneficiou de narcotráfico não pode esperar que os mercados dos
Estados Unidos se mantenham abertos para as exportações tradicionais de têxteis”.

Acrescentou que “O mercado de gás de Califórnia está aberto a uma Bolívia que sai de circuito da coca-cocaína. não
é certo que esse mercado se vai a manter aberto a uma Bolívia cujos novos dirigentes queiram manter este país
dentro de mercado ilícito de narcotráfico”.

Alertou que a comunidade internacional respaldaria esta posição e que se deve tomar em conta as “conseqüências”
para o futuro de Bolívia, se elege a dirigentes vinculados “de uma e outra forma com o narcotráfico e o terrorismo”.
“Abram seus olhos”, disse e frisou que os cocaleiros de Chapare trabalhão para a droga.

As declarações de diplomata surgiram logo que Morales se situou no quarto lugar da preferência eleitoral (mesmo
diante da absurda hipótese de que ele chegasse à segunda posição nos menos de dez dias que faltam), segundo as
pesquisas. Uns pontos mais abaixo se encontra o candidato Felipe Quispe (MIP), que foi acusado de terrorismo.
Políticos que pediram reserva, admitiram que Rocha, mais rígido desde o 11 de setembro, deseja “isolar” o MAS para
evitar possíveis alianças pós-eleitorais.

Quiroga destaca a liberdade de eleger

O presidente Jorge Quiroga reagiu com cautela ante as declarações de Embaixador de Estados Unidos. Falou da
liberdade para votar, mas disse que a ajuda com relação um país depende de se aceitar ou não as condições de um
organismo de cooperação internacional.

Quiroga disse que os Bolivianos têm o direito de eleger a seus governantes. “Os Bolivianos elegemos livre e
soberanamente os nossos representantes. O processo eleitoral está determinado pelos Bolivianos, com os Bolivianos
e somente através de voto”, frisou o Mandatário.

O Primeiro Mandatário explicou que “Em qualquer país se constituem governos de acordo a o que diz a Constituição
e a vontade dos povos e se trabalha com organismos de acordo às políticas que apliquem. Se alguém quer aplicar
políticas que mereçam cooperação de organismos, a recebe. Mas se alguém quer aplicar políticas que forem contra
isso deixa de receber ajuda. Essa é uma decisão que se tem que tomar”, afirmou.

O Presidente foi enfático a salientar que a ajuda dos Estados Unidos é igual a de outros países: segue fluindo e se
continua recebendo porque se segue trabalhando para que assim seja, contudo, o próximo governo verá que políticas
aplica.

Os partidos pedem a Rocha respeito à soberania ... -- a RAZON 6/02

Autor: x imprensa e agencias


Publicado: a Razão, 27.6.2002

(27/06/2002)
Os partidos pedem Rocha respeito à soberania e repudiam suas pressões

Goni (si olvida que ele mesmo já fez isto na eleição passada de 97 contra Jaime Paz) diz que é intolerável.
Manfred salienta a soberania. Um dirigente de MIR se alinha com essas posições. Dizem que o MAS pode crescer
ainda mais.

“Ninguém pode dizer por quem devemos votar e toda pressão o ameaça para influenciar o voto é intolerável”, ressalta
Goni.

O binômio de MAS em seu encerramento de campanha na Paz. Esta Força é a quarta na preferência eleitoral,
Segundo as pesquisas. O Embaixador de Estados Unidos não quer que o povo vote por estes candidatos.

O embaixador de Estados Unidos em Bolívia, Manuel Rocha, foi o alvo das críticas dos candidatos à presidência de
MNR, NFR e dirigentes de MIR por haver advertido sobre as conseqüências negativas se o eleitorado optara pela
candidatura de Evo Morales.

O diplomata americano, que logo deixará a missão, alertou ao país a não esperar que os mercados dos Estados
Unidos se mantenham abertos para as exportações de têxteis e de gás se permite a dirigentes comprometidos com o
narcotráfico e o terrorismo a formar parte de novo governo. Rocha expressou essa posição num discurso pronunciado
ontem na localidade de Chimoré, Cochabamba, na ocasião da entrega de personalidade jurídica à União de
Associações de Produtores de Chapare.

Gonzalo Sánchez de Lozada, candidato presidencial e chefe de MNR, deplorou a declaração de embaixador Manuel
Rocha em Cochabamba, para onde viajou para fechar sua campanha.

“Ninguém pode dizer por quem devemos votar e toda pressão o ameaça para influenciar o voto é intolerável”,
afirmou.

Manfred Reyes Villa pediu respeito à soberania de país. “Eu respeito as declarações de todo o povo. eles não podem
invadir a soberania de um povo. Eu sou um convencido de que hoje mais que nunca necessitamos da unidade de
todos os Bolivianos para superar a situação em que vivemos”, disse.
Al ser consultado sobre uma possível aliança com Morales, o candidato de NFR frisou que se pode aliar “com todos
os que queiram um governo nacional a serviço de todos os Bolivianos”.

Entretanto, os dirigentes de MNR e o MIR também sintonizaram com o protesto geral.

O secretario executivo de MNR, Oscar Sandóval, disse que “nenhum embaixador nem governo estrangeiro pode
emitir opiniões que reflitam intervenções em nossos assuntos internos, e menos ainda no tema eleitoral, de estrita e
exclusiva responsabilidade dos Bolivianos”.

Desde a perspectiva de dirigente e candidato a segundo senador por Tarija, Hugo Carvajal, não é adequado que um
diplomata se refira à política interna de um país. Considera que o único que se consegue com este tipo de
declarações é alentar o voto em favor dos candidatos não sistêmicos e do próprio MAS. Carvajal ressalta que a
política anti-drogas de próximo governo não deve variar em seu combate ao narcotráfico.

O MAS demandará ao embaixador perante a ONU e a OEA

Evo Morales não teme represálias. Diz que o gás deve servir primeiro a Bolívia.

Evo Morales, candidato presidencial de MAS, anunciou que demandará ante a ONU e a OEA acusando a embaixador
de Estados Unidos, Manuel Rocha, de intromissão nos assuntos internos de Bolívia.

O apoio a Morales não é à cocaína, não passa de um sinal de repúdio ao modelo neoliberal. Bolívia pode sobreviver
sem ajuda de EEUU ou sem exportar têxteis. O gás deve ser “resgatado” para aproveitá-lo primeiro na Bolívia. Essa
foi a reação de líder cocaleiro em relação às palavras de embaixador Rocha.

“Não nos assustam suas ameaças (do embaixador Manuel Rocha), deve haver respeito mútuo. Ele viola a
Constituição a imiscuir-se nos assuntos internos, atenta contra a vida de Evo. O povo se levanta contra o sistema e o
modelo”, sustentou eufórico o candidato que ocupa o quarto lugar na intenção de voto.

Em seu critério, as declarações de diplomata americana favorecerem MAS “que agora sim ganhará as eleições”.
O dirigente depreciou a possibilidade de que as exportações estejam em risco. “Temos sobrevivido sem exportar
têxteis e seguiremos sobrevivendo”.
Morales tem uma posição radical sobre o gás: recuperá-lo para os Bolivianos.

Entretanto, Filemón Escóbar, (MAS), demandou o voto da dignidade em repúdio às declarações de Rocha. “Os que
votam por Evo o fazem também contra o poder dos EEUU, contra a opressão e a favor da soberania e dignidade”,
disse o candidato a senador.

Evo se fortalecerá e haverá reações de rebelião

Roberto Laserna
Analista.

O Embaixador (de EEUU) comete um erro a tratar de induzir o voto eleitoral em Bolívia. O eleitorado sabe bem as
conseqüências de suas decisões.
No há dados suficientes para poder antecipar qual poderia ser a política da coca no futuro.

Eu não creio que haverá uma mudança radical de políticas no futuro, qualquer que seja o resultado (de as eleições).
Há experiência acumulada.
Esta atitude (do embaixador Manuel Rocha), o que gerará são reações de repúdio e rebelião que podem canalizar e
reforçar mais ainda a candidatura de Evo Morales.

O embaixador conseguiria com esta declaração um efeito contrário a que quer conseguir.
Os Estados Unidos sempre hão condicionado sua ajuda porque se trata de seu dinheiro, é sua ajuda.
Nós simplesmente temos que eleger a nossos governantes.

Sobre a ajuda (americana) não há grande ajuda. O gás e os têxteis não passaram de meros discursos.

(No tema da coca) o aporte foi pequeno e reduzido e Bolívia tem dado muito mais do que podia dar. EEUU deu certa
cooperação.

Apesar a sacrifício de um país tão pequeno e pobre como Bolívia, o número de narcotraficantes (a nível mundial)
segue como antes. Bolívia quer ser posta como uma vitrina para que outros vejam o que se pode fazer (Na guerra
contra as drogas).

Agora a tendência (a partir das declarações de Rocha) tende a influenciar e fortalecer a Evo Morales.

A REAÇÃO DE EVO MORALES

Apesar de suas reações a princípio exageradas e fortemente condenatórias, logo Evo se deu conta da enorme
vantagem que lhe conferia o título de principal adversário dos Estados Unidos na Bolívia. A prepotência do
embaixador norte-americano o auxiliou a romper de uma vez todas as barreiras regionais e étnicas e lhe deu
instantânea ascendência nacional sobre qualquer boliviano que não tivesse simpatia pelo poderoso e
influente aliado de todos os governos da Bolívia nas últimas décadas.

Evo encerra e faz gozação com o Embaixador Rocha


Tema: os Tempos Fecha: 28/6/2002

As declarações de embaixador de Estados Unidos em Bolívia, Manuel Rocha, que exortavam a não votar pelo candidato à
Presidência pelo MAS, Evo Morales Ayma, não poderiam vir em melhor momento a líder cocaleiro, que aproveitou para fazer
ironia da situação.
(Evo Morales em seu encerramento de campanha)

O dirigente cocaleiro cerrou ontem sua campanha eleitoral na praça principal 14 de Setembro ante mais de 10.000 pessoas que
gritavam slogans "¡Evo sim, yanquis não!", em meio de bandeiras com as cores azul, alvo e negro.

Es que o encerramento de campanha em Cochabamba, onde Morales tem sua maior porcentagem de preferência eleitoral produto
de suas bases de campesinos produtores de coca, se deu num momento em que diversas instituições e organizações políticas e
sociais se pronunciaram censurando a conduta de diplomata norte-americano.

O rosário de oradores, entre candidatos uninominais e plurinominais, teve um de seus momentos mais quentes quando o candidato
a primeiro senador por Cochabamba, Filemón Escóbar, declarou a "guerra a morte a governo de Estados Unidos e a cabroncito de
seu Embaixador". "Cada voto que vocês dão ao MAS será uma patada no traseiro de Embaixador", disse o ex-dirigente minero
em sua habitual linguagem mordaz.

Mas Evo Morales optou pela ironia. "Não companheiros, não vaiemos o Embaixador, ele é nosso melhor chefe de campanha.
Devemos muito a ele. Por favor, companheiros, peço um forte voto de aplausos para o Embaixador", disse despertado uma ovação
general dos assistentes, que se dividiam entre risas e aplausos.

Morales tirou bom proveito da situação e desafiou a governo norte-americano a suspender a ajuda a Bolívia, que "no é outra coisa
que dinheiro para a repressão, a erradicação de coca e a corrupção dos políticos de turno". "Y a ameaça de fechar os mercados de
têxteis e gás em Estados Unidos não é mais que uma chantagem para intentar comprar a consciência dos Bolivianos", concluiu.

AS ELEIÇÕES EM SANTA CRUZ DE LA SIERRA

Embora o QG do nosso candidato à vice-presidência fosse Santa Cruz (eu estava hospedado na casa dele), a
partir do distanciamento entre ele e Manfred, tornado público no episódio em que o candidato à presidência,
sem nenhuma satisfação prévia, deixara a todos (inclusive o seu vice) esperando por ele no evento
organizado pelos empresários cruzenhos, foi prejudicial à campanha. Isto porque Manfred e seus
coordenadores passaram a financiar e alimentar uma disputa interna entre o grupo partidário ligado ao NFR
(Nova Força Republicana) e o grupo político ligado ao seu vice, a UP (Unidade e Progresso). Penso que a
Manfred passou a interessar mais, sob o ponto de vista político, que seu vice não saísse fortalecido demais
daquela eleição, pois esta força se refletiria na sua capacidade de barganha na composição de um governo
que ele já considerava como favas contadas. Na reta final da campanha, quando se sentiu ameaçado,
Manfred tentou reverter o estrago, mas já era tarde demais para recuperar tudo o que se perdeu.

O problema da campanha em Santa Cruz era a abundância de colaboradores e não a falta deles. E todos já
sabem da historio de que cachorro que tem muitos donos acaba morrendo de fome: eram muitos caciques
para muitos índios (colaboradores) e, embora fossem todos muito leais a Ivo, como todos acreditavam que a
vitória dele e de Manfred era certa, cada um pensava mais em si próprio: e surgiram muitos “feudos”.

O detalhe é a obra do capeta: A diferença entre o sucesso e o fracasso está em muitos detalhes
feitos um pouco melhor ou um pouco pior.

Confesso que, no início, tentei tomar a frente e assumir a chefia executiva da campanha de meu amigo, mas
logo vi que esta era uma missão impossível: todos os espaços estavam ocupados, sempre por amigos leais e,
sempre, muito diligentes e qualificados, que estavam com ele há 10, 20 ou mais anos. Outros espaços, como
a coordenação financeira, de eventos ou publicidade, por exemplo, eram ocupados por diretores do seu
banco, sócios ou por familiares.

Assim, logo vi que a disputa pela centralização da campanha sob um só comando seria uma guerra inglória,
que traria mais dores de cabeça do que benefícios para um candidato que tinha por estilo a conciliação e a
benevolência. E esta foi uma grande lição, a prova inquestionável de que a teoria de que não se mexe em
time que está ganhando está errada e não passa de uma falácia: não perseguir a perfeição ou aceitar o
razoável, desde que se esteja ganhando uma competição, é a principal razão da derrota de muitas grandes
equipes no futebol e também a do fracasso de bons candidatos que, num dado momento lideram a disputa,
mas acabam perdendo as eleições.

A decisão cômoda de evitar confrontos, aceitando desempenhos apenas regulares dos colaboradores, para
não criar pontos de atrito e desgaste, para mim e para meu amigo Ivo, não me valendo do irrestrito apoio que
a esposa Marilyn, a filha Jéssica e o filho mais velho, Ivito, me davam, foi o meu único e grande erro
naquela eleição. Ainda que eu acredite que um melhor performance da nossa equipe apenas serviria para
dificultar a eventual manipulação da apuração, tornando-a mais evidente e difícil. Em todo caso, numa
eleição perdida por ínfimos 700 votos, sem dúvida que a tolerância pelo razoável em detrimento do melhor
foi uma estupidez que custou-nos muito mais do que 700 votos.

Após choques iniciais com alguns colaboradores, por achar que, afinal aqueles pequenos erros ou falhas não
seriam determinantes no resultado final, achei que não valeria a pena perturbar o equilíbrio existente e ainda
assumir o risco de magoar e perder alguns colaboradores. Confesso que pesou um pouco minha insegurança
de ser eu a vítima da batalha interna com tanta gente íntima do candidato, e por desejar muito acompanhar
aquela eleição, eu me tornei conivente da indulgência de Ivo para com as pequenas falhas aqui e ali.

Ivo queria que todos se entrosassem sem a necessidade da imposição de uma autoridade formal e, quando
havia qualquer embate mais forte entre seus liderados, Ivo desautorizava as duas ou mais partes beligerantes,
dando meia razão a todos e, portanto, razão a nenhum. E, depois, consolava, em particular, um a um,
exortando-os a exercitarem a compreensão, superar diferenças e a trabalhar em harmonia com o litigante,
uma vez que todos eram pessoas de bem e tinham o mesmo objetivo, apesar de eventuais divergências. Este
é Ivo e, se for verdade o ditado inglês que diz que confiar em todos é o mesmo que não confiar em ninguém,
ele é o tipo mais desconfiado que eu já conheci.

Ivo era o único que, por sua autoridade moral, carisma pessoal, estilo de gestão e proximidade com todos,
podia coordenar sua campanha, e como ele só tinha amigos e jamais se recusava a receber quem quer que o
procurasse, todos saíam de suas reuniões satisfeitos. Nunca soube de um colaborador que tivesse levado dura
advertência ou fornecedor que fosse amigo dele e que tivesse saído de mãos abanando de sua sala: embora o
vice fosse um negociador muito hábil e criasse escorpiões em seus bolsos, todos recebiam pelo menos uma
encomenda de consolo. Ivo sempre me estimulou a envolver-me mais com seus liderados, mas nunca me
delegou autoridade para a coordenação de sua campanha.

Assim, depois de tentar manter contato e reuniões com as diversas coordenações de Ivo em Santa Cruz, de
falar com seus coordenadores financeiros e receber, de todos, a certeza de que tudo corria muito bem sem a
necessidade de qualquer supervisão; depois de escrever inúmeros roteiros de spots para a televisão e rádio e
ver que a maioria deles permanecia nas gavetas da produtora; de propor agenda com empresários,
autoridades e com a imprensa brasileira, aceita e depois cancelada pelos coordenadores de Manfred; de fazer
diversas recomendações que não eram implementadas pelas mais diversas razões, mesmo recebendo de
todos a mais polida cortesia e simpatia, percebi logo que meu amigo delegara autoridade e autonomia para
gente demais, e que era impossível impor um sistema centralizado e profissional de coordenação sem cassar
muitas delegações e produzir um enorme contingente de fiéis amigos magoados e aliados feridos.

Para se ter uma idéia de onde isto levava, as pesquisas que tínhamos até 10 dias das eleições eram, na
verdade, enquetes, onde os eleitores recebiam uma cédula eleitoral e diziam em quem votariam. Depois de
muita insistência, além do voto, consegui que constassem, além da intenção de voto, o sexo e a idade dos
eleitores. As pesquisas eram realizadas sob a supervisão direta do candidato a deputado e amigo de Ivo, Dom
Bismark. Embora não permitissem que nos situássemos exatamente em termos de quantos votos tínhamos na
verdade, as enquetes permitiam que nós captássemos a evolução dos quadros eleitorais em Santa Cruz, mas
não permitiam que se avaliasse mais nada, como, por exemplo, as razões das oscilações, ou como estava a
rejeição de cada postulante ou qual era o conceito sobre eles. Enquanto Manfred e Ivo estavam em trajetória
ascendente ou mantinham grande diferença sobre os seus adversários, não havia o menor problema, mas
depois, este tipo de informação já não servia mais, pois era impossível estabelecer estratégias de ação em
cima delas.

Decidi que a posição que restara e onde eu poderia ser mais útil a Kuljis era a de consultor, seu conselheiro
pessoal, e estabeleci alguns pontos de apoio entre poucas e qualificadas pessoas, dentre as quais destaco a de
Mariola Materna, a consultora pessoal de Manfred e Erick, a de Oscar Vargas e Bismark, ambos eram
candidatos e ambos foram eleitos. Durante toda a minha estada, também recebi todo o apoio da família de
Ivo e esta confiança e apoio foram uma ajuda inesperada e inestimável, pois ampliavam a minha influência
sobre o próprio candidato.

O melhor exemplo de como Ivo manejava sua campanha e conciliava tudo e todos: como ele viu que eu
questionava a competência, a lealdade e discordava totalmente das estratégias, premissas e da linha geral de
comando da campanha executada por Ricardo Paz, Ivo me escondeu, até o final, que o ex-condepista era
pessoa de sua confiança e dividia o comando da coordenação com o irmão de Manfred por indicação dele
mesmo, Ivo. E como ele é um homem correto, tende a julgar a todos pelo mesmo critério que julga a si
mesmo. Acredito que ele deve continuar achando que seu amigo errou, mas sem a intenção de fazê-lo. A
teoria da traição e da conspiração é inaceitável para ele. E ponto final.

Embora ele e sua esposa Marilyn me tivessem solicitado para apontar onde eles tinham errado naquela
campanha, eu nunca tive coragem de dizer pessoalmente a eles o que descrevo aqui: É impossível montar
uma estrutura profissional de campanha com base em colaboradores que, embora qualificados em suas áreas
e leais, não são experientes e competentes no exercício da atividade política e eleitoral e, embora alguns o
fossem, o comando da campanha era muito “frouxo” e tolerante, baseado numa teia de relações e confiança
estritamente pessoais.

Os fatos que dão base à suspeita de fraude nos resultados de Santa Cruz

Mas os problemas com Manfred e de coordenação não justificam o resultado das eleições em Santa Cruz de
la Sierra, onde a apuração situou a Manfred e Ivo num suspeitíssimo e incrível terceiro lugar. Preocupados
com a declaração do embaixador e com o rumo das eleições, como já não tínhamos mais nenhuma esperança
de influir no rumo da campanha a nível nacional, decidimos realizar uma ampla pesquisa no estado de Santa
Cruz. A pesquisa foi realizada sob o comando de Fábio Lúcio, que veio de São Paulo para nos ajudar a
monitorar com pesquisas profissionais a reta final da campanha. Fizemos uma logo após as declaração do
embaixador e os resultados, a apenas quatro dias da data das eleições, eram relativamente tranqüilizadoras e
nada permitia prever o resultado “apurado” pela Corte Eleitoral.

Uma virada pouco provável em apenas 4 dias

Pesquisa Santa Cruz


Data: 27/06/02
Entrevistas: 1.306

04-¿Usted ha decidido por quien votara para presidente en estas elecciones?

Sí 76,6
No 23,4

Quase ¼ dos eleitores não estavam decididos em quem votariam, mas a tendência dos indecisos era
francamente favorável à Manfred e Ivo Kuljis, que tinham larga vantagem sobre seus concorrentes mais
próximos. Evo, com todo o “ôba-ôba” provocado pela súbita notoriedade que lhe conferiram os norte-
americanos, tinha 1/3 dos votos de tinham Goni e Jaime Paz Zamora, rigorosamente empatados na segunda
colocação.

05-¿Si las elecciones para presidente fuesen hoy día, por cual de estos
candidatos usted votaría?
Manfred Reyes 28,6
Gonzalo Sanchez 19,3
Jaime Paz Zamora 19,1
Ninguno/ Anulara el voto 8,6
Johnny Fernandez 6,7
Evo Morales 6,1
Ronald Mac Clean 4,8
No sabe 4,6
Rene Blattman 0,9
Nicolas Valdivia 0,8
Rolando morales 0,3
Felipe Quispe 0,2
Alberto Costa 0,0

A pesquisa revelava que o atributo mais importante que a população esperava do futuro presidente era a
honestidade, para quase 2/3 dos eleitores cruzenhos, seguida da experiência, a principal demanda de pouco
mais da metade dos eleitores.

06-¿Por orden de importancia, cuales de estas cualidades soma


1a. 2a. 3a. qual
considera Usted que son las 3 más importantes que tenga el futuro
Qualidade Qualidade Qualidade
presidente de Bolivia?
Honestidad 28,1 21,9 12,6 62,6
Experiencia 28,9 15,2 9,8 53,9
Buenas propuestas para el País 11,8 10,8 21,9 44,5
Capacidad 8,7 18,4 16,4 43,5
No responde/ No sabe (pase a pregunta 9) 8,8 9,3 10,8 28,9
Juventud 5,8 8,6 7,0 21,4
Autoridad de mando 2,0 8,7 7,7 18,4
Sensibilidad Social 3,5 3,4 8,6 15,5
Propuestas para su persona 2,1 2,0 4,1 8,2
Ninguna de estas es la cualidad más importante 0,3 1,7 1,1 3,1
A percepção social que prevalecia era de que Manfred era o candidato que mais faria por Santa Cruz caso
fosse eleito, seguido de longe por Jaime Paz e por Goni, o que respaldava e dava maior consistência às
decisões de voto manifestas anteriormente.

09-¿Cual de los binomios es el que le parece ser el que más hará por Santa
Cruz?
Manfred Reyes 30,0
Jaime Paz Zamora 18,9
Gonzalo Sanchez 17,4
Johnny Fernandez 12,1
Ninguno/ Anulara el voto 6,7
No sabe 5,7
Ronald Mac Clean 3,5
Evo Morales 3,2
Nicolas Valdivia 0,9
Rene Blattman 0,9
Rolando morales 0,5
Felipe Quispe 0,2
Alberto Costa 0,0

Para mais da metade dos eleitores, o candidato a vice pesava pelo menos um pouco na decisão de voto ou
escolha do candidato, e o vice de Manfred, Ivo Kuljis, que vencera a eleição presidencial passada em Santa
Cruz tinha uma imagem melhor que a de qualquer um dos candidatos à presidência no quesito honestidade e
uma rejeição muito menor do que a dos cabeças de chapa. Isto se deve, primeiro, ao fato de que Ivo não tem
nenhum esqueleto escondido no armário; depois, a guerra suja focou Manfred, mas poupou Ivo e ele
preservou sua imagem de desgaste devido ao sepultamento prematuro que ele decretou ao desafio do vice de
Goni quanto à participação em debates. Também chamava a atenção a alta rejeição que tinham Goni e Evo
em Santa Cruz, acima dos 70%.

10-¿El candidato a vicepresidente influyó mucho, uno poco o nada en su elección de


votar por su candidato a la presidencia?
Mucho 34,5
Uno poco 20,8
Nada 37,5
Não sabe 7,2

MULTIPLA RESPUESTA Maiores Maiores Maiores Maio


Qualidades Qualidades Qualidades Qual
¿Cual considera que es la mayor cualidad de: Goni Jaime Manfred Evo
Honestidad/ Pasado limpio/ combate a la corrupción 12,2 18,2 20,2 10,2
Juventud 0,0 2,7 18,5 0,6
Tiene credibilidad/ Sinceridad/ Cumple sus promesas 5,5 11,3 12,9 5,8
Representa algo nuevo y distinto/ Renovación/ Cambio 0,9 2,3 10,4 2,2
Capacidad/ Saber el que hacer 11,5 11,1 10,3 4,0
Otras virtudes 10,6 11,3 9,3 9,0
Experiencia/ Hizo buen gobierno en el pasado/ Conocimiento de
los problemas del País
22,8 28,9 7,8 0,4

Buenas propuestas/ Plan de Gobierno 10,9 7,9 7,5 4,2


Autoridad de mando/ mano fuerte/ tiene liderazgo 8,1 5,4 7,3 12,0
Inteligencia 8,6 5,5 6,2 2,4
Sensibilidad social/ cercanía a los pobres/ sencillez 3,8 12,3 5,4 12,9
Dinamismo/ disposición de trabajo 2,7 3,0 4,2 1,8
Su entorno/ Equipe de gobierno/ el partido 1,2 3,2 3,5 1,6
Humildad/ simpatía/ concertador 1,4 6,9 2,9 4,8

Independencia/ Sin subordinación a países extranjeros 0,3 0,7 4,5 13,6


Afirmó que no tiene ninguna o más ninguna cualidad 74,5 36,8 32,1 70,4
No sabe/ no contestó 25,0 32,2 37,0 44,1

A pesquisa revelou que o desgaste pessoal de Manfred depois da dura campanha dirigida contra ele por Goni
multiplicara por dez o número de eleitores que o consideravam desonesto, mas o fato não era preocupante,
pois o índice dele era menor do que o de Goni e igual ao de Jaime. Além do mais, a pesquisa revelava que
Ivo podia compensar em parte o desgaste de Manfred no quesito honestidade, onde apenas 2% dos eleitores
questionavam a dele.

Maiores Maiores Maio


Maiores
¿Cual considera que es la mayor defecto de: Defeitos Goni
Defeitos Defeitos Defe
Jaime Manfred Evo
Deshonestidad/ Pasado sospechoso/ corrupto/no combate a la
corrupción
26,5 17,8 18,4 2,1

No tiene credibilidad/ Mentiroso/ No cumple sus promesas 18,8 9,3 12,4 2,5
No tiene experiencia/ no hizo buen gobierno/ No conoce los
problemas del País
1,8 1,7 10,7 8,1
Otros defectos 10,3 8,9 9,0 9,1
Malas propuestas/ Malo plan de gobierno 2,8 3,5 2,3 3,5
Representa un riesgo/ cambio peligroso/ Representa
incertidumbre
1,5 1,7 2,3 17,4
Incapacidad/ No saber el que hacer 2,0 3,1 2,0 4,9
Falta o exceso de autoridad de mando/ mano fuerte o débil / no
1,5 3,5 1,7 4,6
tiene liderazgo
Arrogancia/ antipatía 5,1 0,9 1,5 1,7
Su entorno/ Equipe de gobierno/ el partido 2,3 6,3 1,4 2,4
Es mas de lo mismo/ es la vuelta hasta al pasado 2,5 2,0 0,9 1,1
Falta de Inteligencia 1,4 1,1 0,8 3,5
Insensibilidad social/ lejos de los pobres/ in sencillez 2,0 1,7 0,3 1,1
Juventud/ Edad/ Es viejo 4,4 3,8 0,2 0,2
Afirmó que no tiene ninguno defecto 7,9 16,2 15,1 13,5
No sabe/ no contestó 9,2 18,5 21,0 24,3

Outra revelação da pesquisa foi que o desgaste que a guerra suja causara em Goni produzira efeito e levara
ao desgaste de Manfred: e o caso do sogro o atingiu mais forte, seguido pela sua pobre defesa e do desgaste
de não ter debatido. 33,8% de sua imagem negativa estava centrada nos golpes diretos que a propaganda
Gonista lhe dirigira, mas ele estava melhor junto aos eleitores de disseram não decepcionados com nenhuma
atitude dele do que Goni. A pesquisa mostrou também que a melhor maneira de tirar vantagem da guerra
entre dois candidatos é ficar fora dela: mais de 2/3 dos eleitores disseram que nem Zamora nem Evo tinham
tomado qualquer atitude que os tenha decepcionado.
15- ¿En esta campaña, ... ha dicho algo o tomó alguna actitud que
Goni Jaime Manfred Evo
lo ha disgustado o decepcionado? Si es así, Cuál?
Arrogancia/ Agresividad excesiva/ Guerra sucia/ Mala
Propaganda
33,8 5,2 5,5 1,5

Demostró debilidad/ no aclaró pasado/ no contesta las


acusaciones
2,5 3,2 7,7 3,1

Huyó de debatir/ No enfrenta a los retos/ No asistió al debate 0,2 1,1 6,6 1,1

Mintió/ No lo cree más/ falta le credibilidad 7,7 4,6 19,4 0,3


Supe de algo negativo sobre su pasado/ Tuvo participación en
2,3 2,9 2,8 4,5
escándalo
Hizo malas declaraciones a la prensa 0,9 0,9 2,1 1,3
No cree que dará atención a Santa Cruz/ Desaprecio a Santa
0,3 0,9 0,5 4,8
Cruz
No aclaró la origen de su fortuna/ 2,8 0,9 1,1 0,1
No cumple (o no cumplió en el pasado) sus compromisos/ palabra 3,4 2,6 0,2 0,3
Es demasiado radical 0,6 0,6 0,3 8,6
No aclaró su plan de gobierno/ no expuse sus propuestas 2,1 5,8 0,5 1,2
Otros factores 5,5 6,4 7,3 4,7
Nada de lo que dice o hizo hasta ahora lo ha decepcionado 23,4 46,8 30,1 52,4
No sabe/ no contestó 14,5 18,1 15,9 16,1

24-¿Cual es la cualidad que mas le falta a Manfred para ser un buen presidente?
Honestidad/ Pasado limpio/ combate a la corrupción 20,1
Experiencia/ Hizo buen gobierno en el pasado/ Conocimiento de
19,1
los problemas del País
No sabe/ no contestó 18,5
Capacidad/ Saber el que hacer 7,7
Credibilidad/ Sinceridad/ Cumplir con sus promesas 7,2
Otras virtudes 6,6
Afirmó que no tiene ninguna cualidad 5,9
Buenas propuestas/ Plan de Gobierno 3,4
Autoridad de mando/ mano fuerte/ tiene liderazgo 2,6
Humildad/ simpatía/ concertador 1,8
Su entorno/ Equipe de gobierno/ el partido 1,7
Dinamismo/ disposición de trabajo 1,5
Sensibilidad social/ cercanía a los pobres/ sencillez 1,4
Inteligencia 1,4
Representa algo nuevo y distinto/ Renovación/ Cambio 0,9
Juventud 0,2

Exceto na qualidade capacidade de mando, Manfred esteve à frente de seus adversários em todos os demais
quesitos. Em compensação, no conceito o mais desonesto, Goni ganhou disparado e foi apontado como tal
por quase a metade dos eleitores (44%), enquanto Manfred era considerado o mais desonesto por apenas
16% dos cruzenhos (há dez meses atrás, apenas 3% dos eleitores consideravam Manfred desonesto).
32-¿Cuál de los candidatos tiene la mejor propuesta para resolver directamente
a tus problemas y de tu familia?
Manfred Reyes 24,2
Gonzalo Sanchez 22,9
Jaime Paz Zamora 19,7
Ninguno de ellos 7,4
Johnny Fernandez 7,1
No sabe 5,8
Ronald Mac Clean 5,5
Evo Morales 5,0
Rene Blattman 0,9
Nicolas Valdivia 0,8
Felipe Quispe 0,3
Alberto Costa 0,3
Rolando Morales 0,2

33-¿En cual de los candidatos Usted cree más o considera como el más sincero?
Manfred Reyes 24,3
Jaime Paz Zamora 17,6
Gonzalo Sanchez 17,3
Ninguno de ellos 13,3
Johnny Fernandez 6,6
Evo Morales 6,6
No sabe 5,6
Ronald Mac Clean 5,2
Rene Blattman 1,7
Alberto Costa 0,8
Nicolas Valdivia 0,6
Felipe Quispe 0,2
Rolando Morales 0,2

34-¿Cuál de ellos es el más honesto?


Manfred Reyes 22,2
Jaime Paz Zamora 18,5
Gonzalo Sanchez 17,6
Ninguno de ellos 12,3
No sabe 7,7
Johnny Fernandez 7,0
Evo Morales 6,3
Ronald Mac Clean 5,2
Rene Blattman 1,8
Alberto Costa 0,8
Nicolas Valdivia 0,2
Felipe Quispe 0,2
Rolando Morales 0,2

35-¿Cuál de ellos es el mas deshonesto?


Gonzalo Sanchez 43,4
Manfred Reyes 15,5
Johnny Fernandez 10,6
No sabe 8,0
Ronald Mac Clean 6,7
Jaime Paz Zamora 5,0
Evo Morales 3,8
Ninguno de ellos 2,3
Rene Blattman 1,7
Felipe Quispe 1,2
Nicolas Valdivia 0,8
Alberto Costa 0,8
Rolando Morales 0,2

36-¿Cual de los candidatos tiene mejores propuestas para sacar el País de la


actual crisis?
Manfred Reyes 25,2
Gonzalo Sanchez 24,2
Jaime Paz Zamora 19,6
Johnny Fernandez 6,4
No sabe 6,2
Ninguno de ellos 5,8
Evo Morales 4,8
Ronald Mac Clean 4,6
Rene Blattman 1,1
Nicolas Valdivia 0,8
Felipe Quispe 0,5
Alberto Costa 0,5
Rolando Morales 0,3

37-¿Cual de los candidatos posee las mejores capacidades de mando?

Gonzalo Sanchez 27,3


Manfred Reyes 23,4
Jaime Paz Zamora 21,9
No sabe/ No contestó 6,4
Johnny Fernandez 5,1
Ninguno de ellos 4,6
Evo Morales 4,2
Ronald Mac Clean 4,0
Nicolas Valdivia 1,1
Felipe Quispe 0,8
Rene Blattman 0,5
Alberto Costa 0,5
Rolando morales 0,2

38-¿Durante esta campaña electoral, usted ha cambiado la decisión por quien


votaría?, Si este es el caso, mencione el nombre del candidato que lo(a) ha
decepcionado:
No se decepcionó con ninguno 30,1
No sabe/ No contestó 25,5
Manfred Reyes 10,6
Gonzalo Sanchez 9,5
Johnny Fernandez 7,4
Jaime Paz Zamora 6,6
Ronald Mac Clean 4,6
Rene Blattman 2,6
Nicolas Valdivia 1,2
Evo Morales 0,8
Felipe Quispe 0,6
Rolando Morales 0,3
Alberto Costa 0,2

39-LOCALIZACIÓN
Capital 55,9
Cotoca 4,3
Warnes 7,5
Montero 11,2
Guabirá 2,3
La Guarcia 6,6
Portachuelo 5,6
Buena Vista 6,6

Nada naquela pesquisa indicava que os resultados poderiam ser os “apurados oficialmente”, que colocaram
Manfred e Ivo em terceiro lugar. Nem mesmo a prática comum de compra de votos ou suborno de eleitores
poderia explicar uma virada de tais proporções, que alem de “justificar” o terceiro lugar na eleição nacional,
tirou de Ivo a vaga de senador a que teria direito caso seu partido chegasse numa das duas primeiras
colocações. Como ocorreu nas previsões nacionais, todas as pesquisas de boca de urna davam a Manfred e a
Ivo em primeiro ou segundo lugar e, como na apuração nacional, a Corte Eleitoral se recusou a recontar os
votos do estado de Santa Cruz de la Sierra.

Para legitimar qualquer grande fraude, é preciso isolar os prejudicados


A nossa estupefação só não foi maior do que a dos eleitores cruzenhos, apurada em pesquisa que realizamos
dois dias após a apuração: 68% deles apoiaram a tese e manifestaram sua suspeita com relação à ocorrência
de fraude eleitoral no departamento. Caso a fraude tenha mesmo ocorrido, ela revelou a extrema inteligência
dos seus patrocinadores, pois ela isolava a Manfred e Ivo das outras forças políticas: como os resultados só
desfavoreciam aos “estuprados” eleitoralmente, nenhuma das demais forças políticas questionou o resultado
das eleições de Santa Cruz, que legitimava o suspeito resultado nacional:
 Evo, porque estava deslumbrado com o “surpreendente” resultado que o levou à categoria de
fenômeno reconhecido internacionalmente;
 Goni, porque este resultado lhe dava a presidência;
 Johnny Fernandes, porque Goni presidente era sua meta original e o favorecia, como principal aliado;
 O MIR, de Jaime Paz Zamora, porque o resultado em Santa Cruz lhe dava um senador e mais alguns
deputados.
Assim, ninguém mais pressionou a Corte Eleitoral e ficou muito fácil, para todos os favorecidos, acusarem a
Manfred e Ivo de serem maus perdedores e ridicularizarem-nos como “chorões”.

O OBJETIVO DA TÁTICA DA CHANTAGEM NORTE-AMERICANA

Ao ignorar deliberadamente o fato de que o líder da disputa era Manfred, seguido de Goni, chamando a
atenção do povo boliviano para EVO, que disputava a terceira colocação com Jaime e não tinha nenhuma
possibilidade de ascender 6% a 7% em apenas três dias, a intenção real do embaixador era muito clara:
 Por um lado, levar as esquerdas, os nacionalistas e os eleitores com sentimentos anti-americanos a
somarem-se a Evo (tirando uma fatia destes eleitores que estavam alinhados às propostas de reforma
e renovação de Manfred);
 Por outro lado, dar um susto nos pequenos empresários, classes médias e eleitores mais moderados
da direita (que preferiam a candidatura de Manfred à de Goni, mas que temiam a vitória de Evo),
levando-os a buscar a segurança que o maior aliado dos norte-americanos (Goni) oferecia;
 Amedrontar as classes trabalhadoras, ameaçando-as com as possibilidades de perderem seus
empregos em meio a recessão em que mergulharia o País caso os Estados Unidos deixassem de
injetar dinheiro, ajuda e de importar produtos produzidos na Bolívia, levando os mais temerosos,
mesmo a contragosto, a apoiarem o candidato que contava com apoio ostensivo dos norte-
americanos.

Nos três casos, o alvo era um só: tentar inviabilizar a candidatura de Manfred e levar ao segundo turno um
candidato da estabilidade e um outro que representava o caos, a instabilidade econômica e a insegurança.

No dia da eleição, em suas homilias em cada cidadela da Bolívia, muitos padres lembravam aos seus fiéis o
risco de elegerem o candidato das forças do mal (Poucos dias antes, a imprensa “lembrou” que o pai de
Manfred teria sido o padrinho da Seita do reverendo Moon na Bolívia). Nossas pesquisas de boca de urna
apontavam a seguinte situação: Manfred 22,5%; Goni 20,3%; Evo 16,3% e Jaime Paz Zamora 15,1%. Note o
eleitor que três pesquisas, de três fontes diferentes, apontaram a mesma situação: empate técnico entre
Manfred e Goni e na disputa pela 3ª colocação e num patamar fora da margem de erro, outro empate técnico,
entre Jaime e Evo.

Segundo o Grupo Fides, um conglomerado de meios de comunicação dirigido pelo bem conceituado Padre
católico Perez, tradicionalmente o que contabiliza maior número de acertos em suas sondagens em eleições
passadas, Reyes Villa ganharia com 21,9 por cento dos votos, seguido por Sánchez de Lozada, com 20,8 por
cento. A pesquisa colocava em terceiro lugar Evo Morales, com 16,5 por cento, empatado com Jaime Paz
Zamora, que registrava 16,4 por cento.

Outra pesquisa de boca de urna, do Grupo Unitel, que integrava cinco dos principais jornais diários do país,
estabeleceu um virtual empate técnico, no primeiro lugar, entre Sánchez de Lozada y Reyes Villa, com 22,7
e 22,3 por cento, respectivamente. Segundo a Unitel, Zamora y Evo Morales, também empatados
tecnicamente, disputavam a terceira colocação com 15,7 e 15 por cento, respectivamente.
Fica evidente que este resultado não atende o interesse do triunvirato e coloca por terra a consecução do seu
objetivo central, ou seja, levar para o segundo turno Goni e Evo. Fora disto, todo e esforço e desgaste teriam
sido vãos.

Iniciou-se a apuração com Manfred à frente, depois, à medida que avançava o processo, Manfred e Goni
foram se alternando na liderança, o mesmo ocorrendo entre Zamora e Evo na terceira posição. De repente,
em razão de um suspeitíssimo “problema” de energia e do sistema de informática que registrava a evolução
da totalização dos votos, a apuração foi suspensa pela corte eleitoral e ficou “fora do ar” por 12 ou 18 horas.

E quando o sistema de apuração voltou a funcionar, Manfred já aparecia como o terceiro colocado, com Evo
em segundo e Goni em primeiro, mantendo-se esta situação até o encerramento dos trabalhos. Contrariando
todas as pesquisas de boca de urna, Manfred ficou fora do segundo turno, por apenas 720 votos, como
mostra o quadro abaixo.

Gonzalo Sanchez de Lozada MNR: 624.126 22,46%


Evo Morales MAS: 581.884 20,94%
Manfred Reyes Villa FNR: 581.163 – 20,914%

De nada adiantaram as provas apresentadas nem os pedidos de recontagem dos votos feitos pelo NFR. Veja a
repercussão e resultados:

AP-Efe La Paz

REUTERS
OFICIAL Lozada obteve 22,46 por cento
A Corte Nacional Eleitoral de Bolívia (CNE) declarou o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada vencedor das
eleições de 30 de junho, após apurar o 100% dos votos.

A CNE informou que Sánchez de Lozada, que governou Bolívia entre 1989 e 1993, obteve 624.126 votos (22,46 por
cento).

Em segundo lugar aparece o líder dos cultivadores de coca Evo Morales, do esquerdista Movimento a Socialismo
(MAS), com 581.884 (20,94 por cento), e em terceiro lugar o capitão reformado de Exército Reyes Villa, da populista
Nova Força Republicana (NFR) que somou 581.163 (20,914 por cento).

Como nenhum dos dois candidatos mais votados obteve a maioria absoluta nas urnas, a Constituição indica que
Sánchez de Lozada e Morales deverão passar ao segundo turno no Congresso bicameral, também eleito em 30 de
junho, onde o primeiro mandatário deve ser eleito entre ambos, pelos votos de 79 dos 157 legisladores (maioria
simples).

Denunciam manipulação

O partido populista Nova Força Republicana (NFR) denunciou uma presumível manipulação dos
resultados das eleições presidenciais e demandou que a Corte Nacional Eleitoral (CNE) faça uma
auditoria do sistema informático.

A denuncia foi lançada pelo deputado Erick Reyes Villa, irmão do chefe e candidato presidencial da
NFR, pouco depois de emitir-se o cômputo final das eleições em que seu partido ficou no terceiro
lugar.

Reyes Villa disse aos jornalistas que “se constatou que os votos dados a candidato presidencial
foram computados a aspirante a deputado uninominal e vice-versa, em uma clara violação da
vontade popular”.

Na Bolívia, a papeleta eleitoral recolhe o voto pelo candidato à Presidência e por cada um dos
legisladores das 68 circunscrições eleitorais de país, em forma separada, mas um é vinculado ao
outro.
O dirigente da NFR assegurou que o delito presumido foi verificado em muitas atas de escrutínio
de colégios eleitorais de La Paz, Cochabamba e Santa Cruz, os departamentos mais povoados da
Bolívia.

Acrescentou que a alteração “foi realizada na votação da NFR, mas também de outros, como o
Movimento a Socialismo e Liberdade e Justiça, o que prejudica a estas formações políticas”.

Quinta-feira, 11 de julho de 2002 - 10:28 GMT - BBC


Bolívia: negam revisão
O candidato de NFR, Manfred Reyes Villa denunciou fraude eleitoral.
A Corte Eleitoral de Bolívia repudiou na noite de quarta-feira um pedido de revisão de escrutínio por
parte do candidato pelo partido Nova Força Republicana, Manfred Reyes Villa, por presumível
manipulação informática dos votos.

O porta-voz de partido Nova Força Republicana, NFR, Víctor Gutiérrez, assegurou à BBC que seu partido tem bases para a
denuncia: "Temos encontrado numa simples amostragem na noite de ontem mais de 60 atas que têm alterações e modificações no
número de votos registrados por vários candidatos", frisou Gutiérrez.

O presidente da Corte Nacional Eleitoral, Luis Ramiro Beltrán, por sua parte comentou à BBC que se
estão investigando as possibilidades reais de que exista um erro na contagem.

"No há nenhum sinal, nenhum indicio, nenhuma atitude dolosa de nenhuma parte no sistema eleitoral. O que pode haver havido é
uma falha eletrônica que se está investigando e se houve a falha se tomarão as medidas de correção que correspondem", afirmou o
presidente de máximo órgão eleitoral.

A Corte Nacional Eleitoral da Bolívia tem previsto reunir-se durante a noite de quarta-feira para analisar a denuncia de partido
Nova Força Republicana, cuja porcentagem de 20,914 por cento o situa logo atrás do líder cocaleiro Evo Morales, do Movimento
al Socialismo, com o 20,94 por cento.

Assim, os Estados Unidos, o presidente Tuto e as elites bolivianas elegeram o seu escolhido, mas criaram e
fortaleceram, com seus artifícios, o seu algoz de alguns anos mais tarde libertaria o País dos que fraudaram a
vontade de seu povo para eleger um líder que tinha o repúdio majoritário de seu País. Pesquisa realizada pela
Brasmarket na Bolívia, apenas 10 dias depois da eleição mostra qual era a opinião dos bolivianos sobre os
resultados da disputa, e eu me somo a eles nesta suspeita:

O ELEITORADO BOLIVIANO MAJORITARIAMENTE, TAMBÉM ESTRANHOU OS RESULTADOS

A Brasmarket realizou, no dia seguinte ao da divulgação dos resultados da eleição, uma pesquisa nos quatro
maiores colégios eleitorais da Bolívia (La Paz, El Alto, Cochabamba e Santa Cruz de la Sierra). E constatou
que a surpresa no eleitorado boliviano era tão grande quanto a nossa e que os resultados, além de
contrariarem os meus candidatos e todas as pesquisas de boca de urna (a nossa e de mais duas fontes
independentes, feitas para dois grandes grupos de veículos de comunicação), também contrariaram
profundamente o eleitorado boliviano. Estavam satisfeitos apenas o grupo que representava o establishment:
o presidente, o governo, o clero, a corte eleitoral, os Estados Unidos, as elites empresariais e, obviamente, o
candidato do sistema e o que foi elevado tão surpreendentemente à categoria de maior fenômeno eleitoral da
América Latina, Evo, o novo objeto de estudos e orgulho dos antropólogos, sociólogos, socialistas e
esquerdas mundiais.

O mundo ficou satisfeito e Manfred, afinal uma cria, filhote da ditadura, não mereceu nem um minuto da
atenção, nem dentro, nem fora do País. E mereceu, porque durante toda sua campanha, Manfred e sua
pseudo-assessoria foram tão prepotentes e auto-suficientes, que ele me fez repetidas desfeitas, recusando-se
a encontrar-se com o presidente do Brasil (depois de eu ter agendado, através do meu amigo Andrés
Guzmán, o encontro) e com seu principal adversário, o futuro presidente Lula... Será que o prestígio de ter
sido recebido no Brasil e de mostrar-se tão bem relacionado aqui não poderia ter lhe assegurado uns 700
votinhos extras? Ou será que ele não teria mais espaço para defender-se caso tivesse estabelecido os contatos
que lhe oferecemos junto a instituições como a FIESP e a imprensa brasileira?

AMOSTRA: 1.200 ENTREVISTAS – 4 MAIORES COLÉGIOS ELEITORAIS

04-¿VOCÊ ACREDITA QUE O RESULTADO DAS ULTIMAS ELEIÇÕES FOI CORRECTO E EXPRESSOU A
VONTADE DOS BOLIVIANOS OU ACHA QUE O RESULTADO LHE SURPREENDEU E QUE PODE HAVER
OCORRIDO FRAUDE NA APURAÇÃO DOS VOTOS?
RESULTADO FOI CORRETO................................................ 18.2
RESULTADO lHE SORPREENDEU E PODE TER OCORRIDO FRAUDE................. 68.6
NÃO SABE/ NÃO TEM OPINIÃO FORMADA SOBRE O TEMA....................... 13.2

05-¿OUVIU FALAR OU TOMOU CONHECIMENTO DE DENUNCIAS DO NFR, E DO PARTIDO DE COSTA


OBREGÓN SOBRE A OCORRÊNCIA DE FRAUDES NESTAS ELEIÇÕES? SE DISSE QUE SIM: E VOCÊ
ACHA QUE AS DENUNCIAS PODEM SER VERDADEIRAS E DEVEM SER APURADAS OU ACHA QUE ELAS
SÃO INFUNDADAS?
PODEM SER VERDADEERAS................................................ 61.3
SÃO INFUNDADAS....................................................... 23.7
NÃO SABE............................................................. 15.0

06-A CORTE ELEITORAL,DEPOIS DE TER RECEBIDO AS DENUNCIAS E AS PROVAS QUE


LHE APRESENTOU O NFR, ALEGOU QUE OCURRERAM FRAUDES E SE NEGOU A RECONTAR
OS VOTOS.¿QUAL DESTAS LHE PARECE SER A MELHOR DECISÃO DE MANFRED A PARTIR
DESTA DECISÃO DA CORTE ELEITORAL? (LER as OPÇÕES 1 e 2):
ACEITAR A DECISÃO E DECIDIR QUAL RUMO TOMARÁ O NFR;(O)............. 28.1
APELAR DA DECISÃO DA CORTE ELEITORAL E LUTAR PELA
ACLARAÇÃO DA SITUAÇÃO JUNTO à CORTE CONSTITUCIONAL?................ 60.4
NÃO TEM OPINIÃO FORMADA SOBRE ESTE TEMA............................ 11.5

07-¿SOBRE A DENÚNCIA DE FRAUDES E O PEDIDO QUE FEZ O NFR PELA RECONTAGEM


DOS VOTOS, A VOCÊ LHE PARECE QUE MANFRED DEFENDE A TRANSPARÊNCIA DESTAS
ELEIÇÕES E O DIREITO DOS BOLIVIANOS A ACLARAÇÃO DOS FATOS OU LHE PARECE
MAIS QUE É UMA DEMOSTRAÇÃO DA DEBILIDADE DELE A NÃO ACEITAÇÃO DOS RESULTADOS
DA ELEIÇÃO?
DEFENDE A DEMOCRACIA............................................... 66.8
DEMONSTRAÇÃO DE DEBILIDADE E RECUSA A ACEITAR OS RESULTADOS........ 20.4
NÃO SABE........................................................... 12.8

08-¿SE NÃO HOUVER RECONTAGEM DOS VOTOS, PENSANDO NO MELHOR PARA O PAÍS, QUAL
DESTAS VOCÊ GOSTARÍA MAIS QUE FOSSE A DECISÃO DELE, OU QUAL LHE PARECE SER A
ATITUDE MAIS CORRECTA POR PARTE DE MANFRED: DEVE APÓIAR E FAZER PARTE DO
GOVERNO DE GONI E DO MNR; DEVE COMPOR GOVERNO COM O MAS DE EVO OU ACHA QUE
SERIA MELHOR QUE ELE NÃO APÓIASSE A NENHUM DELES E FICASE FORA DO FUTURO
GOVERNO, NA OPOSIÇÃO?
FAZER PARTE DO GOVERNO DE GONI E DO MNR........................ 22.3
FORMAR GOVERNO COM O MAS DE EVO................................ 8.9
NEM MNR NEM MAS. MANFRED DEVE FICAR NA OPOSIÇÃO................ 56.1
NÃO SABE....................................................... 12.7

OTTO REICH – SUBSECRETÁRIO DE ESTADO AMERICANO PARA ASSUNTOS DO


HEMISFÉRIO SUL (INCLUI AMÉRICA CENTRAL, CARIBE E AMÉRICA LATINA) – O GERENTE
DA FÁBRICA DE CRIATURAS POLÍTICAS

As duas reportagens abaixo nomeiam e descrevem o poderoso gerente dos Estados Unidos para os assuntos
daquele País na América Latina. Creio que este perfil poderá ser de utilidade, primeiro para acabar com
qualquer traço de ingenuidade dos leitores quanto à eficácia das leis que impedem donativos de governos e
empresas estrangeiras nas campanhas eleitorais, e depois, para lançar um pouco mais de luz sobre os riscos
que as intervenções estrangeiras, sejam elas norte-americanas, européias ou venezuelanas. Ao final, você
estará um pouco mais cínico, como eu, que não acredito em intervenções estrangeiras, pero que las hay, hay.

Edição Sábado 13.07.2002 o Clarin

PANORAMA INTERNACIONAL
Recomendações de Washington

Funcionários e porta vozes de governo norte-americano entraram ação simultânea para advertir sobre as preferências e os limites admissíveis na
América Latina

Oscar Raúl Cardoso. De la REDACCION DE EL CLARIN.

Se pode pensar que foi uma gentileza quase cândida, a de embaixador Otto Reich —principal autoridade de Departamento de
Estado para o hemisfério americano— salientar o quinta-feira passado as melhores características que, em seu entender e no de
seu Governo, deveriam identificar a próximo presidente dos argentinos. Se pode, mas nem no sonho mais plácido da boa vontade
resultaria crível.

Más preciso é entender o gesto desde a dupla perspectiva que hoje apresenta a política da administração de George W. Bush
para a região de Cone Sul: evitar que o discurso associado à irrefreável globalização econômica se desmorone por completo na fé
das sociedades —algo que vem ocorrendo sem pausa na última década— e, decerto, evitar que estas façam eleições políticas que
lhe compliquem a Washington as coisas num área de mundo que hoje não lhe causa maiores problemas de estabilidade.

Alguns críticos em Estados Unidos, há que apontar, dizem que intentar decifrar o desenho norte-americano para América do Sul é
como mirar fixo a vazio. Não há nada que discernir porque nem sequer existe uma política latino-americana, fora de um
renovado instinto por eliminar a regime socialista cubano e consolidar a favorável sociedade econômica com México, forjada no
Tratado de Livre Comercio que expande as fronteiras reais de Washington até América Central.

O "novo unilateralismo" internacional dos republicanos no poder é o que está hoje ocupando o lugar de políticas mais sofisticadas.
em sua formulação mais simples poderia ser assim: Estados Unidos faz o que crê que tem que fazer, sempre, em qualquer ponto
de globo terráqueo e se há consenso tanto melhor.

Mas esta visão leva ao complexo terreno da geopolítica, desnecessário aqui. O problema de lidar com este enfoque é prático, não
teórico: parece feito de ações individuais e pouco importam seus acertos, seus erros, ou ainda o repúdio que qualquer
pode sentir frente à compulsão.

Esse problema reside em que Estados Unidos pode, simplesmente, ser hoje compulsivo apoiado no s grados de poder relativo que
acumula. Dizer —como disse Reich— que o futuro ocupante da Casa Rosada deveria ser partidário irrestrito de livre mercado e
desacreditar das soluções econômicas "falsas" —presumível alusão a qualquer fórmula que incorpore políticas ativas de restauração
de tecido social— não soa a resultado de um desprevenido jogo livre da imaginação de um burocrata o a conselho bem
intencionado. Soa a o que é; uma demanda mal dissimulada.

A ingerência norte-americana nos assuntos domésticos dos países da região não é já, como era noutras épocas, um recurso
inevitável a que sempre devia deixar-se nas sombras. O "novo unilateralismo" não se envergonha disto, nem é razoável esperar
que o faça.

Depois de todo, Reich não fez outra coisa que o que o 26 de junho passado fez na Paz uno de seus subordinados, o embaixador
norte-americano Manuel Rocha, quando lhes disse aos Bolivianos que se prepararam a passarem mal se decidissem respaldar a
candidato presidencial de esquerdista Movimento a Socialismo (MAS), Evo Morales. Rocha, por sua vez, obteve os mesmos
resultados que havia obtido seu chefe, Reich, faz três meses quando sugeriu à oposição venezuelana que Washington poderia olhar
para o outro lado por um breve tempo se um golpe cívico-militar “despachava” a Hugo Chávez do Palácio de Miraflores e se
apresaria a restaurar ao menos alguma forma de democracia.

Chávez voltou à Presidência depois da chirinada e Morales, que estava terceiro nas pesquisas até que Rocha decidiu pisar sua
própria língua em público, obteve faz duas semanas um segundo posto nas eleições e ficou habilitado para buscar aprimeira
magistratura no Congresso que, na lei de Bolívia, se transforma em colegio eleitoral quando nenhum candidato consegue a
maioria absoluta (50% mais um voto).

¿Dos erros diplomatas os de Rocha em Bolívia e de Reich com Venezuela? Não necessariamente. Em ambos os casos a essência
destas ações foi o temor, um sentimento que o Governo de Bush usa hoje na formulação e sustentação de sua cruzada anti-
terrorista global, como o Papa usa sua voz no Catolicismo —literalmente— "urbi et orbi". em este enfoque a necessidade de
convencer se desvanece; só há que estabelecer o medo no centro dos processos de decisão coletiva. O que é bom para os norte-
americanos —O argumento se transpõe— é igualmente aconselhável na Ásia, Oriente Médio ou Cone Sul americano.
Para os norte-americanos o medo ajuda a justificar o avanço de poder de policia de Estado sobre suas liberdades, no
mundo e isolam as ações militares da superpotência —ainda quando estas terminem fazendo vítimas inocentes de invitados a um
casamento, como sucedeu recentemente no Afeganistão— e no Cone Sul, dá alento o repúdio dos que propõem, com Razão o
sem ela, cursos de ação alternativos a predomínio irrestrito de essas Forças às que conhecemos pelo eufemismo "mercado".

Recursos estratégicos

Que não haverá políticas de Washington para América latina não quer dizer que não deva dar respostas políticas: se sente
obrigado a dá-las em Bolívia —ainda que parece difícil que Morales chegue mais longe, esta vez a menos— no Brasil onde amarga
Luis Inácio Da Silva — Outro fantasma tão temido—, no Uruguai onde a Frente Ampla também desponta como alternativa a os
mais dóceis "alvos" e "colorados" e finalmente a Argentina que no atual estado de confusão aparente sugere imprevisibilidade
à hora de votar no primeiro trimestre de 2003.

Por certo é que este jogo é muito menos ideológico do que parece a primeira vista. Tem que ver com questões —entre outras—
tão concretas como o destino incerto da primeira economia da região —A brasileira—; com o futuro de gás natural Boliviano
(cujas reservas conhecidas se decuplicaram desde mediados da década passada e prometem ingressos de até 1.000 milhões de
dólares anuais com porto final de produto em uma Califórnia sedenta de energia) e de petróleo venezuelano; puxados pelos
interesses das empresas norte-americanas e européias em uma Argentina que parece incrivelmente madura para outra ronda de
acumulação transnacional e, em geral, com o imperativo de evitar o ressurgimento de certas formas políticas de contestação.
Na América Latina, não porque seja possível um "ressurgimento marxista" como sustenta certa cantilena que voltou à moda, o que
não se passa porque as decisões que nascem questionando um ordem estabelecido de coisas são sempre incomodas para os que
usufruem os benefícios desta ordem.

Um dado mais. Convém saber os que formulam os pleitos em nome de Washington porque seus porta vozes quase nunca são
personalidades neutras, sempre mostram o origem preciso que demandam os tempos. De Rocha, um norte-americano de
origem colombiana, não faz falta dizer muito aqui. nos anos 90 —quando foi chefe interino de missão em Buenos Aires— era
apelidado em círculos políticos como "O grande Irmão" (paralelo tomado do livro de George Orwell) pela influência que parecia ter
—y ele dizia ter, com pouca modéstia— sobre o presidente de então, Carlos Menem.

Enquanto a Reich a dimensão é outra, por certo. Reich serviu nos 80 na área latino-americana de Departamento de Estado e desde
ali conduziu uma escritório assim intitulado de Escritório de Diplomacia Pública que foi desmascarada logo porque sua tarefa real
era desinformar à opinião pública sobre a ação de Estados Unidos na América Central, sobre tudo contra a Nicarágua
que governavam então os sandinistas.

A propósito, faz um par de meses, Bush se viu obrigado a desistir de criar um organismo similar que devia conduzir o fluxo de
informação sobre sua guerra contra o terrorismo, esta vez em jurisdição o Pentágono, pela crítica política que despertou a
iniciativa.

No âmbito privado, Reich foi lobista para os interesses da Bacardí, firma que busca recuperar os interesses dos quais foi despojada
em Cuba pela revolução de 59 e para os da Lockheed, a multinacional com forte presença na produção de material bélico, entre
outras. Também encabeçou uma associação empresaria têxtil, a Worldwide que coordena programa mundial responsável de
indumentária, acusada de tratar de dissimular as condições deploráveis dos trabalhadores que as empresas associadas
contratam no terceiro mundo.

Assim as coisas não há que especular demasiado sobre o que guarda o horizonte político para o Cone Sul, a Argentina incluída por
certo.

Copyright Clarín, 2002.

REVISTA NEWSWEEK (VERSÃO EM ESPANHOL) – EDIÇÃO NÚMERO 28 – 10 DE JULHO DE 2.002

Manchete de capa: OTTO REICH: O HOMEM IDEAL PARA AMÉRICA LATINA?

Sub-título: REICH TODAVÍA CONSIDERA OS ASSUNTOS MUNDIAIS COMO UMA LUTA MANIQUEISTA ENTRE O
BEM E O MAL: Otto Reich, homem chave de EEUU para América Latina, tem opiniões fortes, mas sua posição é débil.

Por Joseph Contreras

Parece que ninguém é neutral quando se trata de Otto Reich. Para seus partidários republicanos e a comunidade de exilados
cubanoamericanos, o recém nomeado secretario adjunto de Estado para Assuntos de Hemisfério Ocidental traz um caudal de
experiência a seu novo posto. Criado no seio de uma família de classe media de Havana e educado na Universidade de
Georgetown, Reich se sente cômodo tanto na cultura de falar inglesa como na hispana.

Passou seis anos em Panamá e Venezuela, e esteve envolvido com América Latina no setor público e no privado desde 1976.
“Conhece o hemisfério muito bem e é a pessoa perfeita para América Latina”, diz o congressista cubano americano Lincom Díaz-
Balarte. Os críticos de Reich o vêem de outra maneira: um homem retrogrado da guerra fria que provocará mais fricções na região.
“Otto Reich não está qualificado para o posto”, escreveu o Senador americana Christopher Dodde em uma carta a The Walh Street
Journal. “O senhor Reich carece das habilidades administrativas, o juízo sólido e a sensibilidade apropriada para potenciais
conflitos, não tem a confiança dos governos da Região nem capacidade para salvar as diferenças partidaristas no Congresso”.

Para bem ou para mal, Reich, de 56 anos foi designado encarregado de governo americana para América Latina e tem um trabalho
difícil em suas mãos. Sob o presidente George W. Bush; se esperava que a região se convertiria em uma prioridade na política
exterior. Não foi assim. Depois de 11 de setembro, a América Latina apenas aparece no radar da Casa Branca. Como resultado,
Reich não teve a proeminência em Washington que seus críticos temiam.

Mas isso não significa que Reich, um acérrimo conservador, não tenha uma agenda enérgica. De fato, é um forte partidário de
presidente eleito de Colômbia, Alvaro Uribe Vélez, e se propõe ajudar a reorientar a ajuda americana e a luta deste País contra os
rebeldes esquerdistas. Reich se opôs a Fidel Castro e não é um fervente admirador de presidente venezuelano Hugo Chávez, outro
esquerdista cujo professado compromisso com a democracia questiona Reich. Mais geralmente, Reich culpa à corrupção e a
populismo político – não a os caprichos de mercado – pelos problemas econômicos que paralisaram a Argentina e obstaculizado o
desarrolho da região. “A maioria de estes problemas não são de origem recente” disse Reich em uma entrevista de mês passado.
“É que os governos da região tem se desentendido em relação aos problemas durante décadas”.

Filho de uma cubana e um judeu vienense que fugiu da Áustria controlada pelos nazistas, em 1938, Reich considera as relações
internacionais como uma luta maniqueísta entre o bem e o mal. A luta contra os déspotas e os terroristas – desde Adolfo Hitler até
Fidel Castro y, mais recentemente, Osama Bin Laden – tem sido uma das constantes de sua vida. Em declarações na cerimônia de
juramento no Departamento de Estado, em março, Reich elogiou a Estados Unidos como “Um país justo” cuja “luta contra a
tirania não terminou”. Alguns analistas veteranos da região chamaram a atenção sobre o feito de que Reich não mencionou um
acontecimento histórico na América Latina, que ocorreu na mesma data, quase 30 anos antes, e engendrou sua própria classe de
tirania: o sangrento golpe militar contra o presidente de Chile, Salvador Allende, que, presumivelmente, se levou a cabo com a
aprovação tácita de governo de Nixon.

Provavelmente, o acontecimento mais importante no continente durante seus primeiros seis meses no posto também teve que ver
com um golpe de estado, ainda que esta vez falho. Quarenta e oito horas depois de que uma camarilha de oficiais venezuelanos
derrocou a Chávez Nabril, o mandatário venezuelano regressou a poder – e surgiram interrogações sobre se o governo de Bush, e
Reich em particular, desempenhou um papel importante no assunto. Uma caravana de políticos, empresários e sindicalistas
opostos a Chávez desfilou pelo escritório de secretario adjunto nas semanas anteriores à toma de poder. Mas Reich insiste em que
EEUU não teve nada que ver com o golpe, e alega que deu a todos os seus visitantes a mesma mensagem: EEUU não respalda
golpes de estado.

Ninguém acusará nunca a Reich de ser um apaixonado da política econômica, e ultimamente tem dedicado mais tempo a
Colômbia. Durante o governo de Clinton, o país sul-americano, açoitado pela guerra, se converteu no principal destinatário da
ajuda americana fora de Oriente Meio. Apesar disto, o pacote de ajuda de 1.300 milhões de dólares foi dedicado a operações anti-
drogas e programas de ajuda. A militarista Casa Branca de Bush quer o visto bom de Congresso para redefinir o destino de grandes
somas dessa ajuda aos esforços de contra-insurgência. O velho conflito que tem enfrentado governos sucessivos em Bogotá contra
um movimento guerrilheiro esquerdista o converte num tema idôneo para o secretario adjunto. Uribe, o presidente eleito da
Colômbia, é um direitista de linha dura que já se reuniu duas vezes com Reich desde que obteve uma vitória consagradora nas
finais de maio. “Estamos de acordo em que temos que eliminar o terrorismo e outros perigos como o tráfico de drogas que
enfrentam ambos os países”, disse Reich a final da visita de Uribe à Casa Branca, o mês passado. “Vamos a ajudar a Colômbia em
tudo o que seja necessário para ganhar esta guerra”.

Reich não foi confirmado em seu posto pelo senado, principalmente por seu turbulento passado. Se enfrentou com os democratas
liberais no Capitólio na década de 1980, quando encabeçou um organismo de Departamento de Estado criado para promover o
respaldo de governo de Reagan a os guerrilheiros antisandinistas em Nicarágua. Durante seu mandato de 3 anos como chefe do
escritório de diplomacia pública para América Latina e o Caribe (OPD, por suas siglas em inglês), o organismo produziu um
grande numero de artigos de opinião e os enviou a os editores de jornais nacionais sem revelar onde haviam sido criados. Seu
trabalho na OPDE perseguiu a Reich muito depois de que deixou o cargo, em 1986, para converter-se em embaixador em
Venezuela. Uma investigação bipartidária do Congresso em torno a caso Irã-contras condenou as operações da OPDE
qualificando-as de “Uma nova atividade não tradicional” do governo americano que, presumivelmente, envolveu o uso ilegal de
dinheiro dos contribuintes para um exercício de relações públicas não autorizado. Em uma investigação separada, o controlador
general de Estados Unidos chegou à conclusão de que o organismo dirigido por Reich se havia envolvido em “atividades
encobertas de propaganda proibida desenhadas para influir na imprensa e o público”. Reich negou toda conduta imprópria esse
mesmo ano e descreveu a OPDE como “Uma das operações mais abertas” de Departamento de Estado. Voltou a chamar a atenção
outra vez no s círculos políticos de Washington na década de 1990, quando se converteu em lobista para clientes como British
Americam Tobacco, Lockheed Martin (a a que reapresentou na oferta de aviões F-16 a Chile) e Bacardi, a gigante destilaria
envolvida numa disputa com o regime de Castro sobre os direitos da marca Havana Club.

Em pessoa, Reich, de pele clara e olhos azules, guarda pouco parecido com um ideólogo combativo. Tem dos filhos (de um
matrimonio anterior) e, não hesita ao descrever-se como “adicto a trabalho”, usualmente está em seu escritório antes das 7:30h e
com freqüência fica até as 21:00 da noite. Com 35 países que supervisar, o outrora membro de equipe de luta livre da
Universidade de Carolina de Norte diz que encontra pouco tempo livre para fazer exercícios o recrear-se. Mas se conseguiu tirar
tempo em seu agitado programa o mês passado para casar-se pela segunda vez.

Noutros sentidos, sem embargo, Reich parece decidido a preservar sua reputação. Sus relações com o que denomina a “intitulado
imprensa de prestigio” hão sido tensas. “Um grupo disse que Eu não poderia manejar nossas ações com o hemisfério porque não
tenho o temperamento adequado por meus antecedentes éticos”, disse indignado depois de jurar a cargo. “É hora dos
cubanoamericanos deixarem de ser um grupo a quem a imprensa considere aceitável denegrir”.

O tema mais próximo do coração de Reich é sua nativa Cuba. Seu respaldo a embargo econômico americana contra Castro é
inflexível, a pesar de que é percebido em toda América Latina como uma política falida. Não na opinião de Reich, para quem
manter as sanções econômicas envia um sinal à Havana de que o regime totalitário nunca será aceito. “Somos um hemisfério
democrático com uma só exceção, e essa é Cuba”, disse Reich a Newsweek. “Todos os demais Países de hemisfério tem tido
eleições livres por mais de 20 anos. Por que Cuba deve ser uma exceção?” Nem sequer os contatos culturais o recreativos com
Cuba são permissíveis, a seu juízo. Numa ocasião, criticou os planes de levar a frente duas partidas de exibição: dos Oriles de
Baltimore e uma equipe de beisebol cubana. Na opinião de Reich, a série “trivializa” a situação em Cuba, e comparou as partidas
com “jogar futebol em Auschwitz”.

Os críticos de Reich dizem que sua nomeação como principal funcionário de Departamento de Estado para América Latina tem
mais que ver com a política interna que com os assuntos exteriores. O irmão menor do presidente, Jeb, vai postular a reeleição
como governador de Florida este outono, e fontes de Washington dizem que os dois congressistas cubanoamericanos de estado
insistiram na nomeação de Reich para garantir que seus distritos de votantes acudam massivamente às urnas em nome de Jeb em
novembro. Baboseiras, diz um dos legisladores. “Jeb vai bem na comunidade cubanoamericana”, diz uma membro da Câmera de
Representantes Ileana Ros-Lethinen, de Miami. “Ninguém vai dizer: vou votar por Jeb porque Otto esta no governo”.

O maior desafio de Reich poderia ser manter seu emprego. Dodde e numerosos senadores de alto nível se opõem à sua nomeação e
pediram à Casa Branca no verão passado buscar outra pessoa. Quando os funcionários de governo de Bush se opuseram, a
Comissão de Relações Exteriores de Senado se negou a conceder a Reich uma audiência de confirmação. O governo de Bush
respondeu concedendo a Reich uma “nomeação de recesso”. A pouco usual medida foi adotada depois que o Congresso encerrou
sua sessão antes das festividades de dezembro, e refletiu o reconhecimento de que o controvertido Reich tinha poucas
oportunidades de ser aprovado por um senado controlado pelos Democratas. Sua nomeação provisória expira a final da atual
sessão de Congresso, em janeiro, e só pode estender-se se consegue a “licença” formal da câmera alta. Isso poderia ocorrer se os
republicanos voltam a capturar o Senado nas eleições de novembro. Do contrário, dizem membros de Congresso, Reich poderia
estar preparado suas maletas este inverno. “É desafortunado que algumas pessoas no Senado tenham obstaculizado sua
confirmação”, diz Ros-Lehtinen, um dos principais defensores de Reich. Seja confirmado ou não, Reich seguirá trabalhando num
espinhoso quadro que requer toda a atenção que Washington lhe possa prestar.
EPÍLOGO DAS ELEIÇÕES DE 2.002: O CENÁRIO PÓS ELEITORAL

Concluídas as apurações, o foco de toda a mídia passou a ser a composição da maioria parlamentar que
conferisse governabilidade a Goni. A estratégia agressiva da sua campanha contra Manfred, a perseguição
cruel ele promoveu contra Jaime Paz e à cúpula do MIR durante o período que exerceu a presidência entre
92 e 97 e o antagonismo visceral do eleito e de seus padrinhos (Tuto e os norte-americanos) manifestos
contra Evo o incompatibilizaram com as principais forças políticas do País. Existiam fraturas expostas e
profundas diferenças, que pareciam intransponíveis, entre o MNR de Goni e o NFR, o MIR e o MAS.
Contudo, o fato de a única opção a Goni ser Evo, e este já declarara que não faria nenhuma concessão nem
daria participação em seu governo a nenhum partido em troca de apoio, estava criado o impasse. Qualquer
solução para uma equação intrincada e aparentemente insolúvel, seria a construção de “pontes” alternativas,
para que os arqui-rivais de ontem pudessem transpor as diferenças abissais que separavam Goni das únicas
forças políticas que poderiam lhe conferir a imprescindível governabilidade.

E a imprensa, Tuto e a embaixada americana deram a Goni o discurso e a ponte da conciliação, conclamando
as lideranças derrotadas a fazerem uso do seu patriotismo e grandeza de espírito para deixarem as
desavenças no passado e unirem-se para afastar do País o ameaçador fantasma da crise institucional que o
ameaçava. Foram largamente utilizadas as imagens da crise por que passavam os argentinos, para assustar o
povo e fazer com que a opinião pública pressionasse os líderes vencidos superarem diferenças pessoais e
apoiarem o vitorioso, em nome do seu amor e responsabilidade com os destinos do seu País.

Pay Back: O troco que Manfred deu a Goni pela Guerra Suja

A princípio, Manfred decidiu seguir o caminho que lhe fora indicado pela nossa pesquisa, feita logo após a
eleição, que revelava que 56% da população desejava que ele não se unisse nem a Goni nem a Evo, ficando
na oposição a ambos no congresso. Usando uma lógica e raciocínio exclusivamente político, um ressentido
Manfred conspirava com o MIR de Jaime Paz Zamora para constituírem um governo paralelo no congresso,
que abreviaria a agonia de Goni, dando-lhe sustentação apenas crítica e mínima imprescindível e
convocando, para o próximo ano, eleições para uma Assembléia Nacional Constituinte e, logo após, novas
eleições gerais e presidenciais.

A idéia de um governo paralelo a partir do congresso, agradava até ao MAS de Evo Morales, mas projetava
profundo receio e insegurança a todos os setores produtivos do País, que se uniram aos quatro poderes (A
imprensa, Goni, Tuto e Manuel Rocha) e também passaram a engrossar o rol dos que exerciam pressão sobre
os candidatos “derrotados” para levá-los a uma composição com Goni.

E o a quadro original da pesquisa mudou rapidamente: após 10 dias de maciça pressão da imprensa e dos
líderes setoriais em favor do acordo que garantisse a governabilidade do País, a situação já era outra:

08-¿SE NÃO HOUVER RECONTAGEM DOS VOTOS, PENSANDO NO MELHOR PARA O PAÍS, QUAL
DESTAS VOCÊ GOSTARÍA MAIS QUE FOSSE A DECISÃO DELE, OU QUAL LHE PARECE SER A
ATITUDE MAIS CORRECTA POR PARTE DE MANFRED: DEVE APÓIAR E FAZER PARTE DO
GOVERNO DE GONI E DO MNR; DEVE COMPOR GOVERNO COM O MAS DE EVO OU ACHA QUE
SERIA MELHOR QUE ELE NÃO APÓIASSE A NENHUM DELES E FICASE FORA DO FUTURO
GOVERNO, NA OPOSIÇÃO?
Em 3/07 Em 14/07
FAZER PARTE DO GOVERNO DE GONI E DO MNR........................ 22.3 34,9
FORMAR GOVERNO COM O MAS DE EVO................................ 8.9 15,7
NEM MNR NEM MAS. MANFRED DEVE FICAR NA OPOSIÇÃO................ 56.1 31,3
NÃO SABE....................................................... 12.7 18,1

Se a pressão social sobre os vencidos já era fortíssima, a pressão dos pares sobre Ivo Kuljis, que afinal era
um deles (banqueiros e empresários) e tinha negócios em diversos setores da economia, ficou insuportável,
ainda mais porque era legítima. O fato levou Ivo a cobrar de Manfred o respeito ao documento firmado por
ambos e o compromisso inicial que selou a aliança entre eles, que previa a participação no eventual governo
de uma terceira força política caso eles não chegassem entre as duas primeiras colocações.
Mas o ressentimento de Manfred produziu uma ira que o cegava e, como de praxe, ele esqueceu-se de todos
os seus erros e responsabilidades pelo fracasso do empreendimento eleitoral, mas nunca os de seu vice. E,
mais uma vez, Manfred desrespeitou não só a Ivo, mas também a todo o seu partido e aliados, que, à exceção
do líder indígena cochabambino Alejo Velis, que pregava a aliança com Evo, também queriam a composição
com o MNR, que lhes assegurasse uma fatia de poder no próximo governo e a possibilidade de estruturação
do partido a nível nacional.

Alegando para o público interno e para seus aliados que as suas posições públicas de resistência visavam
apenas conseguir uma posição mais vantajosa nas negociações com o MNR, Manfred fingia articular um
acordo e, para manter a todos sob seu comando, enganava-os com relatos de reuniões imaginárias e alegava
que as condições propostas por Goni eram humilhantes e desvantajosas. Suspeitando das reais intenções
dele, Ivo decidiu atender a um convite e foi até Goni, quando ficou inteirado de que a realidade era outra e
que as ofertas que o MNR propunha a Manfred eram muito mais vantajosas do que ele revelava ao seu grupo
político: o MNR oferecia ao NFR 1/3 do governo e poderia até chegar aos 40%, mas pleiteava que Manfred
deixasse de lado a sua condição de convocar a Assembléia Nacional Constituinte no ato da posse do governo
recém eleito, deixando esta convocação para o final do governo. E Goni alertou Ivo de que oferecia iguais
condições ao MIR de Zamora, uma vez que já contava com o apoio da UCS e outros eleitos por legendas
menores e a maioria estaria assegurada tanto com Manfred como com Jaime.

A reunião que marcou o início da ruptura da aliança entre Ivo e Manfred

Ivo usou de sua franqueza habitual e conversou com Manfred, revelando-lhe que estava ciente da real
situação e dos artifícios usados por ele para “melar” as negociações e impedir a coalizão de seu partido com
o MNR. Falou-lhe sobre a enorme oportunidade que representaria para ambos a possibilidade de romperem
as fronteiras estaduais e estruturarem nacionalmente seus partidos a partir das posições ocupadas no
governo. Mas afirmou que ele respeitava as posições políticas e o direito de Manfred em tomar a decisão que
lhe conviesse, mas lembrou-o que ele, Ivo, também tinha compromissos com os eleitores, classes
empresarias e setores produtivos do País. Finalizou respeitosamente a reunião deixando claro que, caso
Manfred persistisse irredutível naquela posição, em respeito aos eleitores que ele representava, seria
obrigado a abrir dissidência e declarar o apoio do seu grupo a Goni, exortando o companheiro a reavaliar o
quadro e colocar os interesses legítimos do País acima das suas legítimas mágoas pessoais. Mas Ivo atendeu
ao apelo de seu companheiro de chapa, que ficou de reavaliar suas posições e lhe pediu para que ele não
abrisse dissidência naquele momento, para não enfraquecer o poder de barganha de Manfred junto a Goni e a
Jaime Paz Zamora.

O fato é que Manfred estava obcecado com a idéia do governo paralelo, e contava com o apoio de Jaime e do
MIR para tornar seu sonho de poder viável. Mais uma vez, ignorou os apelos de seu vice, dos seus
companheiros de partido e também as análises e os conselhos que eu e Mariola lhe demos, baseado na nossa
certeza de que o MIR acabaria ocupando o espaço que Manfred desdenhava no governo de Goni: afinal, se o
MIR já tinha superado rios de sangue e morte perdoando a Banzer por massacrá-los e associando-se ao
governo dele em duas oportunidades, porque não haveria de fazê-lo agora, relevando os anos de masmorra a
que fora atirado seu companheiro e co-fundador (Oscar Eid) e apenas quatro anos de perseguição política
recentes? A resposta não se fez esperar e sepultou tosa a esperança que ainda restava a Manfred em relação
ao golpe “branco” de estado que planejava: às vésperas do prazo final das eleições congressuais do segundo
turno, o MIR declarou seu apoio a Goni e firmou documento que viabilizou a posse do novo governo.

Contudo, o ódio e a ingenuidade prevaleceram sobre o bom senso e Manfred apenas adiou seu ingresso ao
governo de Goni: ao invés de fazê-lo pela porta da frente, como salvador da Pátria e atendendo ao clamor da
nação, preferiu fazê-lo quase dois anos depois, pela porta dos fundos e sem nenhuma glória, aderindo ao
governo quando só havia desgaste a compartilhar.

Ivo, pelo contrário, um mês depois de passado o período que lhe pedira Manfred para não debilitá-lo nas
suas articulações, apesar das imensas restrições que fazia a Goni e das profundas diferenças que os
separavam no campo da moral e das práticas políticas, atendeu às suas responsabilidades com seu País e aos
apelos de seus aliados e eleitores: levou discretamente o apoio de seu pequeno grupo político ao governo
estabelecido, mas permanecendo fora dele e recusando-se a assumir a titularidade de ministérios que lhe
oferecia Goni em troca de seu apoio, mas pedindo em troca, o apoio do governo Goni ao seu sonho e projeto
mais caro, o do caminho bi-oceânico.
ELEIÇÕES DE 2.005: FORTALECIDA, A CRIATURA ENFRENTA E DERROTA SEUS CRIADORES

O vice-presidente de Goni, Carlo Meza, no curto período em que assumiu o governo após os movimentos
populares e bloqueios que levaram à renúncia do titular, destruiu a estrutura partidária do País, permitindo
que qualquer associação ou agrupamento cidadão pudesse lançar candidatos e concorrer às eleições. Imagino
que o objetivo mais provável de Meza seria destruir a correlação de forças existentes para, aproveitando-se
do poder que mantinha (a caneta das nomeações e a chave do cofre), além de ser dono de uma rede de
televisão, para rearticular uma nova maioria que desse sustentação ao governo dele. Embora não tenha tido
êxito nesta empreitada, pois também foi levado à renunciar antes de realizar o objetivo, ele acabou com os
principais partidos que e com as estruturas partidárias mais tradicionais do País.

DUDA MENDONÇA EMPRESTA SUA ARTE A AJUDA TUTO A FINDAR O PT DA DIREITA, O


PODEMOS – PODER DEMOCRÁTICO E SOCIAL.

Com isto, o ex-presidente Jorge Tuto Quiroga, que já tinha abandonado o candidato da sua então ADN à
mingua e favorecido o MNR de Goni, o maior rival do falecido fundador da ADN, o General Hugo Banzer,
saiu beneficiado, e ele fundou uma legenda que intitulou de PODEMOS – PODER DEMOCRÁTICO E
SOCIAL, que absorveu e colocou sob seu comando os melhores quadros da finada ADN e mais os
integrantes de seu próprio grupo político.

O fato pitoresco na fundação do partido de Tuto Quiroga é que, graças à assessoria do nosso Duda
Mendonça, o partido de ultra direita tem a mesma cara do PT brasileiro: as cores, a estrela e a logotipia toda.
Um brasileiro desavisado poderia até que está no país errado, não fora a diferença de idioma do outro lado da
fronteira. Não entendo nada de direito internacional, mas acho que se o PT entrasse com um processo contra
o PODEMOS por plágio, ganharia o direito a receber, ao menos, royalties pela pirataria explícita. Aliás,
Duda, além do visual dado ao partido, também iniciou o planejamento estratégico da campanha do
PODEMOS, toda a linha de posicionamento do seu candidato (Tuto). As pesquisas iniciais foram feitas com
o instituto brasileiro Ipsos-Opinion, de Orjan Olsen e Duda chegou a fazer até os spots iniciais da campanha,
mas teve que largar a assessoria pela metade, pois o candidato do MAS, Evo Morales, vinha ampliando a
liderança e o partido alegou não ter como pagar-lhe o que fora combinado.

COMO OS INTERESSES REGIONAIS DE JAIME PAZ ZAMORA QUASE EXTINGUIRAM O MIR,


UM PARTIDO COM MAIS DE 50 ANOS DE EXISTÊNCIA.

Assim, em 2.005, as forças políticas se reorganizaram e o MIR e a ADN coligaram. Na prática, por uma
decisão equivocada de seu dirigente máximo, que colocou o interesse pessoal e regional de Zamora acima
dos interesses nacionais e partidários, o MIR foi absorvido junto com o que restou da ADN do ex-presidente
Jorge Tuto Quiroga. Jaime Paz Zamora sacrificou a candidatura do companheiro de fundação do partido,
líder cruzenho e presidente do Senado, Hormando Vaca Díaz, em troca da retirada do candidato ao governo
que Tuto Quiroga tinha lançado no estado de Tarija, histórico reduto eleitoral do MIR e de seu líder máximo.
A decisão foi equivocada porque o candidato de Tuto era justamente o que dividia os eleitores que queriam
mudança e davam a Jaime a chance de ganhar a disputa aglutinando os miristas históricos e os eleitores
conservadores. Com a aliança, O MIR praticamente desapareceu, sem candidatos aos cargos majoritários e
Jaime Paz Zamora, além do partido, perdeu a eleição para o governo de Tarija, seu estado natal. O MIR,
como já vimos, foi absorvido ou neutralizado por TUTO.

COMO GONI E O MNR PAGARAM O FAVOR FEITO A ELE POR TUTO NAS ELEIÇÕES DE 2002

Já o MNR de Goni, pagou sua dívida da eleição de 2.002 com Tuto, lançando Nagatani, um candidato
obscuro e desconhecido, que funcionou para arregimentar os votos históricos daquela legenda (que depois
iriam se somar a Tuto caso o segundo turno daquela eleição fosse decidida no parlamento). Durante toda a
campanha, o candidato do MNR funcionou como linha auxiliar de Tuto, dividindo sua artilharia contra Evo
Morales e contra o candidato de outra nova Legenda, o empresário que tinha sido candidato a vice de Jaime
Paz Zamora em 1997, Samuel Dória Medina, que tinha o monopólio do cimento e fundou a UN – Unidad
Nacional, que dividia o voto conservador com Tuto e poderia inviabilizar a vitória do ex-presidente, que era
o candidato da vez dos norte-americanos.

A ANÁLISE DA CONJUNTURA

Logo depois da deposição de Goni, em toda Bolívia se iniciou um processo de discriminação racial, onde a
maioria indígena expressava publicamente o seu repúdio à minoria branca, que era a dominante. Ao cruzar
com um branco, muitos, além de virar seus rostos, ainda cuspiam no chão e, se o transeunte usasse gravata,
esta lhe era arrancada. A tensão social cresceu a níveis insuportáveis.

Começava o processo de reivindicação contra as distorções de representação regional ou estadual no


congresso, desrespeitadas, apesar das disposições constitucionais, que impunha a proporcionalidade mas, ao
mesmo tempo, impedia que se ampliassem o números de cadeiras, o que levaria a necessidade de alguns
estados abrirem mão de cadeiras em favor de outros. Exemplo: Santa Cruz de La Sierra era sub-representada
e a justiça reconhecia seu direito à ampliar sua representação parlamentar, mas outros estados com
representação acima do que seria justo e normal, obstruíam a votação e não existia maioria para propor
reforma constitucional que permitisse a ampliação de vagas para recompor a proporcionalidade.

Esta guerra pela representação levou a outra, pior, a da autonomia dos estados, cujos governadores, até
então, eram indicados pelo presidente e dependiam totalmente dos repasses do governo federal. Tanto Evo
Morales como outras lideranças indígenas mais radicais dos Aymaras, entre elas o eterno candidato Felipe
Quispe, da província de El Alto, vizinha de La Paz (cujo perfil já foi traçado anteriormente), faziam
declarações e mais declarações sobre a reforma agrária, que ameaçava os estados chamados cambas (Santa
Cruz, Pando, Beni e Tarija). Santa Cruz de la Sierra, que se equivale ao nosso estado de São Paulo, a
“locomotiva” da economia boliviana, passou a reivindicar a sua autonomia, e a reação acirrou-se até chegar
ao ponto de deixar o País à beira de uma guerra civil, quando Felipe Quispe propôs iniciar uma campanha de
alistamento para sufocar os rebelados cruzenhos. Relatos que ouvi quando lá estive me informaram que a
situação chegou ao ponto de não haver mais munição em nenhuma revenda oficial do estado e nem no
mercado negro, e que cada fazendeiro ou pequeno proprietário de terra, estava armado até os dentes...

Atendendo ao pedido de meu amigo Ivo Kuljis, que decidiu preservar-se e ficar fora desta disputa nacional,
apoiando o candidato (vitorioso) que pregava a autonomia do estado de Santa Cruz, fiz uma análise do
quadro sucessório e recomendações sobre o que poderia acontecer e como ele deveria conduzir sua
influência e emissora.

Depois, quando soube que Fufi Saavedra era o coordenador da campanha de Tuto Quiroga e estava em Santa
Cruz de la Sierra, apesar de achar que Evo Morales era a melhor opção para a Bolívia naquele momento,
achei que uns dólares a mais não me fariam mal nenhum e decidi ampliar a análise que fizera para Ivo e
tentar conquistar um contrato de consultoria e pesquisa na campanha do PODEMOS.

Minha idéia era que ele abrisse a porta para uma apresentação minha ao comando da campanha, contratando
meus serviços como uma consultoria independente, para dar uma segunda opinião nos assuntos ligados à
estratégia e comunicação. Foi aí que eu fiquei sabendo que eles tinham contratado o nosso marketeiro mor,
Duda Mendonça e que, inclusive estavam a ponto de perdê-lo, pois não tinham como pagar os serviços dele.
E lá fui eu, novamente, ao ponto de partida: Pando, que para fazer justiça, tinha progredido bastante nos
últimos dez anos e já tinha hotéis “habitáveis”. Um alerta: se algum dos leitores algum dia acabar por lá, não
se hospede no hotel Diana, onde tive meu telefone celular roubado dentro do apartamento e, quando fui
reclamar ao proprietário, ele teve a cara deslavada de me responder: aqui em meu hotel, só há funcionários
honestos... (por exclusão, os desonestos eram os clientes, né?) O fato é que eu deveria ter deixado pra lá,
pois ao fazer a queixa na polícia, tive que dar até o dinheiro do combustível para que eles pudessem ir ao
hotel e investigar o furto... E nunca consegui o Boletim de Ocorrência, o que permitiu à operadora Vivo não
honrar o seguro: acabei sem meu aparelho e com muita dor de cabeça, lesado lá e aqui. Sem telefone, mas
pagando contas daquela época por três ou quatro meses depois!

Aventuras à parte, o quadro sucessório na Bolívia no ano de 2.005 era o seguinte:


ANÁLISE DE CENÁRIOS

PONTOS FORTES & DEBILIDADES DOS CANDIDATOS À PRESIDÊNCIA NA BOLIVIA

JORGE TUTO QUIROGA


PONTOS FORTES

 Passado político (tradição e experiência);


 Juventude e carisma pessoal;
 Profundo conhecimento da economia;
 Reconhecimento geral de sua inteligência e capacidade de promover o progresso;
 Não tem restrições quanto a sua sencibilidade social
 Conexões Internacionais (alto conhecimento das instituições de fomento e desenvolvimento)
 Histórico internacional de luta contra a miséria (prova de sua sensibilidade social);
 Maior proximidade com os Estados Unidos (e forte apoio);
 Discurso Liberal (com apelo para agregar desde o Centro até a Direita);
 Modernidade e Inserção Global (globalização)
 Seu curto governo teve alta aprovação
 Tuto revelou capacidade de articulação ao libertar seu mandato da tutela da ADN (completar a
transição segura para a modernidade e a missão interrompida)

VULNERABILIDADES

 Sua suposta subordinação aos interesses norte-americanos;


 Proximidade norte-americana implica em proximidade com o Chile;
 Ausência do País no momento mais difícil (omissão);
 Distância da Venezuela (pode ser projetada como distância da América Latina);
 Os principais vizinhos tem governos e lideres de esquerda.
 Sua aparência pessoal (e da sua família - componente racial);
 A maior de suas vulnerabilidades:
 Diferenças intransponíveis por sua inimizade pessoal com EVO (Tuto expulsou Evo do
congresso quando era presidente e o povo boliviano tem certeza que Evo não o perdoará).
 Assim, ainda que ganhe a eleição, não haveria garantias que Tuto conseguirá estabilidade
política: sofrerá cerrada oposição e há grande incerteza de que seu governo consiga chegar até
o final.
 A suprema burrice das elites e seu desprezo pelas maiorias (que afirmam ser uma qualidade, a
de não fazerem concessões ao populismo!!!): das centenas de candidatos a deputados e
senadores do PODEMOS, só há dois candidatos de origem indígena!!! (num país onde eles são
a maioria absoluta!!!)

VIABILIDADE ELEITORAL DE TUTO: MEDIA


VIABILIDADE DE SEU GOVERNO: NENHUMA

EVO MORAIS

PONTOS FORTES
 Sua origem racial ou raiz étnica (maiorias indígenas);
 Capacidade de aglutinação dos outros povos indígenas e superação de diferenças tribais
históricas;
 Discurso Nacionalista;
 Tuto o transformou em vítima ao cassar-lhe o mandato e afastá-lo do congresso (2003);
 É o candidato que catalisa as esperanças dos pobres e desvalidos (maiorias);
 O 2º lugar que obteve em 2002 facilitou a composição política ao redor de Goñi, mas
transformou Evo num fenômeno internacional;
 É o candidato considerado como o mais autêntico, sensível e o que tem mais credibilidade;
 Tem a seu favor o momento histórico da América Latina e um quadro internacional
desfavorável aos Estados Unidos;
 Expectativas internas e externas de que ele será o candidato vitorioso;
 Tem apoio e suporte financeiro o simpatia de Chaves, Nestor Kirchner; Lula e Fidel (i de todas
as demais esquerdas de América Latina e da Europa); (se as transforma em apoios explícitos,
sacará altos benefícios eleitorais – e se posiciona como o frágil David contra o gigante Golias)
 Este apoio lhe garante a Evo que seu governo, ainda que entre em confronto com os norte-
americanos (que estão com péssima imagem junto à comunidade internacional) que si Evo tem
cautela em relação ao tema Coca, seu governo no será isolado internacionalmente.

 MAIORES ECHOS DE EVO:


 Sua ação resultou na ampliação dos impostos sobre os gás e derivados de petróleo e, assim, a
maior capacidade de investimento do estado;
 Pela terceira vez, devolveu à corte eleitoral os recursos públicos a que seu partido teria direito.

VULNERABILIDADEES
 Temperamento explosivo e incontinência verbal (facilidade de cometer erros);
 É bruto (grosseiro);
 Passado de intransigência e agitação; bloqueios, etc…
 Baixa formação escolar (ênfase da possibilidade de tornar-se um fantoche por sua dependência
e susceptibilidade a influências externas em temas econômicos)
 Joga por terra todos os sacrifícios e resultados até hoje obtidos em o combate à coca;
 Põe em risco a inserção internacional do País (por conta do tema coca);
 O tema da Coca pode isolar a Bolívia do apoio norte-americano e, logo, dos países europeus e
demais paises do mundo;
 Aprofunda as diferenças e potencializa novas divergências e conflitos com o Chile
 Subordinação da Bolívia aos interesses da Venezuela;
 Fora o vice e poucos aliados, Evo não tem quadros qualificados em seu partido para ocupar
altos cargos de governo:
 Alto risco de que venha a ocorrer o mesmo que resultou o governo do “Solidariedade, de
Lech Walesa” na Polônia com o PT no Brasil;
 Ameaça subversão da ordem pública, dos direitos de propriedade e a harmonia entre as
diferentes classes de bolivianos (na reta final, o MNR pode “satanizar” a Evo (como Collor fez
com o PT) com a idéia que ele vai socializar até a pequena e média propriedade);
 Alta Belicosidade (é vingativo e agressivo);
 É mau perdedor (práticas de ditador ou menino mimado): se perde no debate político e
legitimo, se valerá de chantagem política, da força bruta e da manipulação da desesperança
coletiva para impor seus propósitos (não respeita a democracia nem a ordem constituída);
 Terror que seu nome desperta entre os ricos; setores produtivos, a classe media e entre a gente
cruzenha e do Oriente em geral;

MAIORES METAS PARA EVO


 Domar seu temperamento e mostrar ao povo que ele é o Lula boliviano, com trajeto político
similar; a pseudo-ameaça que, baixo suspeitas infundadas, acusações de radicalismo e temores
de empresários e dos setores mais conservadores, pode surpreender a todos e conduzir a Bolívia
até o desenvolvimento e o progresso;
 Convencer ao eleitorado que Chaves pode oferecer mais vantagens e assumir o papel que hoje
exercem os norte-americanos.

VIABILIDADE ELEITORAL DE EVO: ALTA


 Segundo as pesquisas, ele é favorito e se chegar em 2º lugar tem também alta probabilidade de
compor maioria e ser empossado.
 Seu principal oponente, Tuto, já cometeu sério erro quando disse, publicamente, que reconhece
a vitória de Evo sem necessitar de 2º turno caso ele vença a disputa e chegue em 1º lugar em o
1º turno.

VIABILIDADE DE SEU GOVERNO: ALTA


 Se não cometer erros grosseiros demais (Exemplo: demasiada proximidade com os cartéis
colombianos) e for ao menos um pouco sutil e civilizado, Evo terá total apoio (inclusive
econômico) dos presidentes Lula, Kirschner e Chaves, sustentação internacional das esquerdas
européias (o novo mascote) e de todo o mundo, com ênfase especial de todo e qualquer regime
ou País hostil a os norte-americanos no planeta.

SAMUEL DÓRIA MEDINA


POTOS FORTES
Pode posicionar-se como o Fiel da balança, o meio termo entre os extremos: Não tem profundas
divergências com Evo nem com Tuto e pode compor governo com qualquer um deles;
Empresário exitoso, desmarcado do jogo político-partidário;
Tem fortuna pessoal;
Foi Ministro de Planejamento e tem conhecimentos na área econômica (experiência)
Construiu sua própria estrutura nacional de política (não fez acordos nem é uma colcha de
retalhos e partidos);
As pesquisas situam-no como primeiro colocado no 2º colégio eleitoral do País – Santa Cruz;
Tem discurso nacionalista moderado e independente (não tem vinculação ou clara
subordinação com nenhuma potencia estrangeira);
Tem boa articulação com a imprensa
Suas posições o situam no espaço político e redutos do centro (centro-esquerda e centro-direita:
classe média; empresários; profissionais liberais; professores; empregados registrados, etc.);
Até agora não exerceu papel de relevo político nem teve grande expressão no cenário nacional
(não tem responsabilidade muito evidente nos desmandes e erros políticos de gestões passadas);
Se calibra bem seu discurso político, pode transformar-se no candidato do consenso e da união
nacional (pode incluir a governabilidade em seu favor);
Como é visto como o maior eleitor no 2º turno, nem Evo nem Tuto podem atacá-lo muito forte,
sob o risco de perderem a presidência;

Se não for o 1º nem o 2º colocado, a menos que Evo ou Tuto consigam maioria já no primeiro
turno, Samuel é a única certeza no próximo governo de Bolívia:
– Amplia para o centro a inserção e suaviza a cara mais cruel de una gestão Evo e
– É essencial (a única possibilidade de governabilidade de um eventual governo de Tuto);
Assim, Samuel pode representar a segurança e seria a melhor aposta para os empresários e
governos que tenham interesses na Bolívia não fosse sua forte subordinação aos Estados
Unidos;
Como Tuto disse que reconhece a primeira maioria se Evo a conseguir, ele supervalorizou o
papel político do grupo de Samuel: Se ele decide afiançar Evo, tranqüiliza a classe media e
pode lhe dar a vitória absoluta em o 1º turno.

VULNERABILIDADEES
O que lhe falta em carisma, sobra em presunção;
Posicionou-se mal e prematuramente frente a um tema altamente polêmico: o Bonosol;
Sua empresa principal é um monopólio (cabeça de um Cartel);
Se diz independente, mas é sócio de empresa norte-americana em seu monopólio; e importa as
batatas que usa na sua rede Burguer King (a Bolívia é o País das batatas e tanto Nagatani como
Evo deitam e rolam explorando o fato).
É um grande empresário (amplia seu flanco de vulnerabilidades)
Seu passado em o MIR até 2003 (más sementes dão bons frutos?) Co-responsabilidade em
todos os erros e omissões com respeito a escândalos e suspeitas de corrupção passadas;
Se omitiu nos conflitos que levaram à deposição de Goni e Carlos Meza;
Foi ministro de um governo tido como corrupto;
Deu apoio ao governo MEZA

AS MAIORES VULNERABILIDADES:
Se posicionou contra o Bonosol
Fez seu carreira política em um partido com má imagem

MAIOR META PARA SAMUEL


Tanto Evo como Tuto, se chegam ao 2º turno, serão obrigados a compor a maioria com ele e,
assim, não podem atacá-lo diretamente. Mas Tuto o faz por intermédio do MNR e ele precisa
vincular o novo (Tuto) com o velho e rejeitado (Goni) para tomar a dianteira e tirar-lhe votos.
Se apresentar como o Gandi boliviano: Exemplos:
– É o único que tem dialogo com todos os segmentos da nação;
– Sob a concórdia, é o que pode trazer mudanças e progresso sem revolução nem
confronto social;
Se ele consegue isto, Samuel pode crescer e tirar votos de Tuto na reta final.

VIABILIDADE ELEITORAL DE SAMUEL: ALTA

VIABILIDADE DE SEU GOVERNO: ALTA (COM EVO) BAIXA (COM TUTO)

CONCLUSÕES
MAIOR PROBLEMA DE TUTO:
 Evo supera as disparidades regionais, raciais e monopoliza os votos no segmento da esquerda (e
entre os que não tenham já nada mais a perder, que compõem a maioria do povo);
 Já TUTO, concorre com outros dos candidatos na mesma faixa de eleitores – de centro-
esquerda até a direita.
 Samuel Dória Medina, que hoje, teria entre 13% a 17%. Adotou um discurso nacionalista e
independente quanto à influencia estrangeira em Bolívia, voltado ao eleitorado de centro e as
esquerdas e direitas mais moderadas; Segundo análise com base naquelas pesquisas, a maioria
dos votos de Samuel iriam para Tuto caso ele não fosse candidato.
 Samuel é a única certeza no futuro político de Bolívia e pode dar estabilidade e governabilidade
mais a Evo do que a Tuto (a menos que TUTO consiga, com boa margem, a 1º colocação).

Mishiaki Nagatani: (hoje teria entre 2% a 6%) ademais da aliança branca entre Tuto e Goni, e real
possibilidades de eleger alguns deputados e senadores nos poucos redutos restantes do MNR, como
Beni e Pando (que todavia pesarão na composição da maioria em o 2º turno congressual).
 Nagatani pode atrair votos da faixa “gonista” mais conservadora dos eleitores e, caso sua
candidatura chegue a lograr cerca de dois dígitos, mata a possibilidade de Tuto superar a Evo
no 1º turno, forçando o MNR a tirar seu candidato da disputa;
 Se os adversários conseguirem vincular Tuto a Goni, sua derrota eleitoral será certa.

2º MAIOR PROBLEMA DE TUTO:


 Somando os votos do centro e da direita: 29% de Tuto + 16% de Samuel + 5% de Nagatani =
50%. Supondo que Evo tenha 35% e outros 15% não votam hoje por ninguém ou ainda estão
indecisos, as possibilidades de seu crescimento estão esgotadas e ainda tem que cuidar para não
perder votos para Samuel nem Nagatani.
 Para ganhar de Evo, Tuto depende mais dos erros dele e de seus demais adversários do que
propriamente de seus acertos.
 Assim, o que resta a Tuto é:
 Evitar, a qualquer custo, cometer qualquer tipo de erro, enquanto espera para explorar os
erros de suas concorrentes;
 Consolidar sua posição, para não perder terreno para Samuel nem para Nagatani;
 Se seu espaço de crescimento pessoal é muito restrito no âmbito geral ou nacional, a melhor
estratégia é fazer com que seu grupo político cresça regionalmente ou, como diria Jack (o
“estripador”), teria que ir por partes, investindo no suporte aos candidatos a deputados
uninominais do seu e de outros partidos (que possam ser cooptados e agregados), ampliando
sua força congressual.

3º MAIOR PROBLEMA DE TUTO:


 À parte do voto de seu povo (indígenas) e dos votos de setores da esquerda, pelo menos a
metade dos 34% que votam por Evo não tem ideologia: são votos da população mais pobre.
 Este eleitor não decide só com base na razão: se ganha com carinho, propostas assistencialistas
e com tudo o mais que possa servir para alentar as suas esperanças.
 Se Tuto precisa tirar votos de Evo, tem que chegar até os eleitores dele e o atalho mais curto e
direto para chegar ao alvo, é o coração.
 Até agora a comunicação de Tuto foi racional e despida de emoção.
 Bem feita, mas fria. E, devido mais ao seu passado e carisma pessoal ele teve êxito, levando-o a
alcançar 28% da preferência popular. E aí, esgotou o manancial de votos e sua possibilidade de
crescimento.
 Ex.: seu foto oficial nos cartazes é una obra prima do marketing negativo:
 Mostra seus dentes mas ele não sorri (tem raiva?)
 A luz e direção de seus olhos estão muito boas, mas falta-lhe à sua expressão, serenidade.
(as rugas em sua testa podem expressar aborrecimento, preocupação, miopia, dor ou
coisa ainda pior).

Para fortificar as suas debilidades; ampliar seus pontos fortes e chegar à presidência, Tuto terá que
alcançar as seguintes metas:
 Mostrar que não está subordinado aos interesses norte-americanos;
 Vender melhor os benefícios que teria a Bolívia em manter os pactos e as relações com os
Estados Unidos nos níveis atuais;
 Vender os benefícios decorrentes de sua boa inserção na Europa;
 Além das vantagens de sua inserção internacional, ele tem que demonstrar, mais que seus
concorrentes (etnicamente sua família parece mais estrangeira que boliviana), que ele não se
afastou de suas raízes; que as suas relações e conexões se dão também a nível de continente
Latino Americano, sobretudo com os países e mercados vizinhos (integrantes do Pacto Andino e
do MERCOSUL);
 Isto implica em mostrar que, além de divergências ideológicas pessoais, pelo bem da Bolívia e
da integração da América Latina, é capaz de manter boas relações até com a Venezuela;
 Antes de todo, tem que provar que mantém bom dialogo com o Brasil
 Prestar contas e provar que sua ausência do País em os piores momentos de crise foi um serviço
prestado (missão e não omissão) e como suas razões patrióticas e sua experiência internacional
resultou no passado (ou resultarão no futuro) em ganho para Bolívia;
 De preferência sem atacar frontalmente a EVO, manejar o medo que ele desperta na população
que quer progresso e mudanças (usar Nagatani para morder, já que a agressividade é a marca
do MNR):
 Sem uma convulsão social nem guerra civil;
 Das conseqüências de um isolamento do País;
 Dos malefícios que advêm do radicalismo político e da troca do consenso pelo uso da
força;
 Dos riscos da inexperiência ou baixa qualificação de equipe de governo, etc…;
 (Assoprar a mordida de Nagatani) Estimular a esperança, com uma campanha com mais alto
astral (a atual está parecendo o prenúncio da hecatombe e as posições assumidas são agressivas
e soturnas);
 Manejar a Igreja e ressaltar as discrepâncias e dissonâncias das atitudes e prelações de Evo
com os ensinamentos do cristianismo;
 Propor um governo de conciliação nacional, estabilidade e progresso econômico;
 Pôr mais emoção em sua propaganda eleitoral e adotar um discurso mais emocional, voltado
para os pobres (o discurso ideológico já se esgotou e o candidato não disputa diretamente com
seu principal adversário);
 Tentar fomentar a discórdia entre as diversas etnias indígenas que hoje apóiam a Evo;
 Exemplos: Financiar (por empresas e vias indiretas) candidatos de etnias rivais (ex.:
Felipe Quispe dos Aymaras), para que possam investir mais em publicidade, decolem
dos 0% e tirem votos de Evo
 Explorar (através de uninominais de outras origens indígenas e de outros partidos) as
velhas rivalidades tribais e de raiz entre os povos;
 Dividir seus recursos e mudar a táctica de combate frontal pela de flanqueio:
 Controlar (mãos de ferro) as campanhas regionais, principalmente, dos que disputam
vagas uninominais e os candidatos a governador (para assegurar lealdade e maximizar a
transferência de seus votos);
 Reorientar as campanhas dos senadores com traços indígenas (só um – e candidato à
suplência!)
 Encher os espaços publicitários do partido e ao redor dos candidatos nos eventos com
aliados que tenham traços indígenas;
 Estabelecer contactos com candidatos a governador de outras forças políticas,
principalmente as que estão sob o comando de Samuel, para reduzir a influencia dele
nas coalizões do 2º turno;
 Monitoramento e controle de cada circunscrição eleitoral;
 Apresentar propostas de natureza mais paternalista ou populista, para poder seduzir os pobres
e os humildes, e assim passar a concorrer diretamente com Evo em o segmento dos mais
pobres;
 Listar e reavivar a memória de seu legado e suas realizações quando foi presidente;
 Articulação de alianças (discretos) com a Igreja e com os meios de comunicação;
 Convencer aos aliados norte-americanos que não será possível manter os dedos intactos
(ganhar as eleições) se não se entregam, à realidade circunstancial, alguns anéis.
 Exemplos:
 Liberdade para mudanças na área do gás e derivados de petróleo;
 Reavaliação ou revisão de contratos de privatizações e acordos suspeitosos feitos por
Goni com empresas norte-americanas como Enron, etc.

UMA ANALISE DO CENÁRIO POLÍTICO BOLIVIANO (EM NOVEMBRO DE 2.005)

O desejo do povo boliviano por profundas mudanças, já em 2002, levou aos 40% das intenções de voto uma
candidatura nascida da aliança de duas lideranças de expressão regional, e que só não chegaram à
presidência pelos eventos já narrados aqui. É óbvio que o sistema tradicional e os grupos políticos
tradicionais não conseguiram dar resposta aos anseios e espoliaram o País, condenando-o, apesar de seus
recursos naturais e energéticos, a ser o País mais pobre do continente e um dos mais pobres do mundo.

Governos complacentes, a corrupção, a injustiça e as desigualdades sociais só cresceram neste período,


chegando a níveis insuportáveis para a população, e imorais para a maioria que vive abaixo da linha de
pobreza. E a mudança que o povo boliviano sonha e anseia há tantos anos, refletem-se agora nos altos
índices de intenção de voto numa liderança que foi criada e fortalecida pela prepotência, inabilidade e
insensibilidade social dos poderosos de plantão. Evo não é o resultado de uma escolha democrática e sim
fruto de um estupro e chantagem sobre uma classe política que entregou poder e deu sustentação ao líder que
sabiam ser o mais odiado da Nação. Democrático ou não, o fato é que ele é considerado como o libertador, o
justiceiro, o revolucionário e representa a derradeira opção e esperança da tão ansiada mudança.

Neste panorama, independente do que possa representar Evo para as minorias, é preciso e sábio respeitar este
anseio da maioria e dar-lhe posse, para que o povo boliviano possa desencantar-se sozinho ou, queira Deus,
ele possa promover um progresso e bem estar social que as elites bolivianas e seus aliados no plano
internacional se mostraram incapazes de oferecer.

Até porque não empossá-lo, significa o recrudescimento da instabilidade, dos bloqueios e da derrocada
econômica, a abertura de uma crise social sem precedentes na história contemporânea do País. Ou dará lugar
a um regime de exceção que terá que reprimir duramente e à custa de derramamento de sangue e ações
arbitrárias os movimentos sociais de protesto que serão fomentados por Evo e seus correligionários.

As elites e lideranças sociais, empresários e dirigentes setoriais têm que optar se aceitam Evo agora, ou se
aceitam Evo logo depois, após um breve período de muita dor e atritos sociais, mas uma coisa é certa: terão
que aceitá-lo ou matá-lo, transformando-o num mártir e criando uma situação de guerra civil, pois a ele se
seguirão outros, talvez ainda mais radicais. O País será palco e a sociedade boliviana vítima de uma queda de
braço entre a Venezuela e os Estados Unidos. Ou se aprofundarão as diferenças e rivalidades étnicas, o ódio
e a discriminação racial, ou as rivalidades regionais, que já tiveram início há apenas poucos meses atrás e
que só refluíram com a convocação das eleições (que reacenderam a esperança e o sonho da mudança pela
via institucional).

Neste quadro, com uma disputa apertada e com Evo e Tuto num segundo turno, se Evo perde, a Bolívia
perde e a vitória de Tuto será uma vitória de Pirro, ou seja: a destruição será tão grande que nem ele nem o
país não tirarão proveito da vitória. A Bolívia está refém do herói e libertador que elegeu e, com Evo, ao
menos o País tem uma chance de se surpreender. Uma coisa é certa, a mudança que o povo quer, cedo ou
tarde, ocorrerá, e não importa o quão bom ou quão ruim possa ser o governo de Evo, o que vier depois dele
será melhor do que o que existiu antes dele.

SE EVO GANHA:

1- O MELHOR: AVANÇOS ECONÔMICOS, MORAIS E SOCIAIS, COM FORTE RETROCESSO


POLÍTICO.

 Evo recebe apoio político, logístico e técnico do Brasil, Argentina, Cuba e Venezuela para assessorar
os aliados de seu grupo nomeados por ele;
 Recebe apoio brasileiro para aumentar os impostos sobre o gás e derivados de petróleo e ajuda
financeira da Venezuela, interessada em afastar a Bolívia da esfera de influência dos Estados Unidos
e, para tal, procurará compensar, através de tratamento privilegiado nas transações com a Bolívia os
benefícios que serão retirados pelos EUA;
 A Bolívia entra para o Mercosul e incrementa o comércio exterior e as exportações do País;
 Evo aproveita a sua notoriedade e simpatia pelo inusitado fato de ser o primeiro indígena a presidir
um País latino-americano e também intensifica o comércio com a Europa e todos os países fora da
influência dos EUA, recebendo investimentos e continuando a ser beneficiado com a ajuda
humanitária e financiamento de projetos nas áreas da infra-estrutura, saúde e saneamento básico;
 Evo promoverá profundas mudanças na economia, penalizará algumas empresas, forçando-as a
venderem o controle acionário para outras empresas ou nacionalizando-as, mas, a exemplo de seu
colega Lula no Brasil, sela um pacto social com as classes médias e governa com o apoio dos líderes
dos setores produtivos, ingressando numa era de progresso, interiorização do desenvolvimento e
harmonia social;
 A Reforma agrária é inevitável, mas pode ser pactuada de forma a não interferir na produção e,
embora seja politicamente obrigado a fazer desapropriações para não perder apoio social, dirigirá sua
fúria legítima contra as propriedades controladas por estrangeiros e de adversários políticos;
 Como Evo conhece toda a mecânica de produção e comercialização da coca, tem mais condições que
qualquer outro de ampliar a área do plantio (inevitável dado esta ter sido a sua principal bandeira há
uma década), mas inibirá fortemente o narcotráfico, mantendo o seu compromisso eleitoral de
“cocaína zero”.
 Aproveita sua alta popularidade, convoca a Assembléia Nacional Constituinte e, obtendo a maioria,
monta mecanismos semelhantes ao do seu aliado venezuelano, Chavez, que permitam sua
recondução ao cargo, ampliem seu poder e privilégios e lhe assegure o direito a sucessivas reeleições;
 Evo moraliza a administração pública e reduz drasticamente a corrupção no País, investe na
interiorização do desenvolvimento e promove uma revolução educacional, reduz a mortalidade
infantil, etc.

1- O PIOR: CENÁRIO DO APOCALIPSE


a. Aparelhamento do estado com sua gente (sem preparo);
b. Assessoria, apoio financeiro e político internacional (Venezuela; esquerdas européias e latino-
americanas);
c. Como Chile é um vizinho que tem maior presença Norte-americana no continente, Evo elegerá o
Chile como inimigo externo para ganhar apoio interno e simpatia da Argentina, que também tem
problemas de disputa territorial com o Chile e do Peru, que será beneficiado caso o porto de saída
do gás boliviano via pacífico se dê através de seus portos;
d. Fortalecimento do aparato de comunicação oficial; (rádio e televisão, para difusão do discurso de
unidade, independência e autonomia Latino-americana)
e. Cooptação do aparato coercitivo (Justiça e Policia) contra a Imprensa ligada aos adversários
políticos e contra todos “inimigos” do regime;
f. Desacreditar os “inimigos” antes de deportá-los, com base nos dados da alfândega (empresas de
comércio exterior), devassas para apurar sonegação fiscal (pessoas jurídicas) e do Imposto de
Renda (pessoas físicas);
g. Nacionalização das empresas privatizadas pelo governo Goni;
h. Restrições à liberdade de imprensa (Coerção fiscal seguida de coerção judicial);
i. Cooptação das Forças Armadas (Se houver pressão da igreja e de setores organizados da
sociedade neste momento, haverá sério risco de um golpe militar – que não teria apoio
internacional e só retardaria o inevitável regime de esquerda);
j. Evo poderá aproveitar-se do movimento pró-autonomia de Santa Cruz para unir o resto do País à
sua volta contra os cruzenhos e, sob este pretexto, aprovar no Congresso leis de exceção que lhe
permitam concentrar ainda mais poder e facilitem seu plano de reforma agrária;
k. Reforma Agrária – Presente aos pobres (para fazer 98% felizes com a desgraça de 2%);
l. A reforma agrária seguirá o roteiro clássico: 1º, as terras em mãos de estrangeiros e depois,
alguns grandes bodes expiatórios (os ricos menos populares), que servirão de exemplo e, por fim,
como as maiores fazendas estarão profundamente desvalorizadas graças à incerteza geral, as
grandes propriedades serão vendidas a novos latifundiários ou a aliados do novo regime;
m. Aproveita sua alta popularidade, convoca a Assembléia Nacional Constituinte e, obtendo a
maioria, monta mecanismos semelhantes ao do seu aliado venezuelano, Chavez, que permitam
sua recondução ao cargo, amplie seu poder e privilégios e lhe assegure o direito a sucessivas
reeleições;
n. Elevação dos tributos (Multinacionais) para provocar protestos e facilitar, depois a busca da
nacionalização das multinacionais;
o. O Brasil será, até onde for possível e por intermédio de acordos bilaterais, preservado e terá
tratamento diferenciado, na justa medida em que der apoio ou, ao menos, não voltar-se contra o
Regime de Evo;
p. “Cocainização” e ampliação da área plantada da coca no País sob o slogan: “Coca sim, cocaina
não”;
q. Se a Bolívia tornar-se o eixo central do narcotráfico, num primeiro momento, receberá massivos
investimentos dos grandes cartéis colombianos, que estão sob marcação cerrada dos Estados
Unidos e do governo e tem custos elevadíssimos para financiar seu exército (manter as
guerrilhas) e garantir suas operações. Para eles, transferir os núcleos dirigentes dos cartéis, a
salvo e num País hostil e fora da influência norte-americana, protegidos pelas Forças Armadas
regulares será um excelente negócio (Colombialização boliviana). Como a Bolívia é
extremamente “barata” para os narcotraficantes, é previsível que estes comprem propriedades e
empresas para criar uma fachada legal para suas operações;
r. Aí, assim que a expansão da área plantada de coca ficar visível e for registrada pelos satélites, a
área plantada será convertida em toneladas de matéria prima e será assim “vendida” à imprensa
internacional, e a Bolívia perderá o apoio externo e será isolada internacionalmente. Torna-se
vulnerável a uma intervenção armada do Chile ou qualquer País disposto a encobrir a “mão”
norte-americana.

2- COMO REDUZIR O IMPACTO SOBRE O PATRIMÔNIO NO PIOR CENÁRIO:


a. FAZENDAS E PROPRIEDADES RURAIS DA FAMÍLIA: Defender suas propriedades rurais da
reforma agrária “Evista”, antecipando-se a ela e não permitindo que as incluam no conceito
(sempre subjetivo) de latifúndio ou como terras improdutivas, “socializando” e transformando-as
em cooperativas rurais, onde a família concentre o controle e crie um fundo acionário para dividir
os lucros com os empregados que lá trabalham;
b. REDE DE TELEVISÃO: Mantendo a absoluta imparcialidade na disputa eleitoral (que já é
histórica), e enviando recado a Evo que a Red UNO não fará parte da conspiração da qual Ivo já
foi vítima e que, a exemplo do passado, podem fazer alguns meios de comunicação contra Evo na
reta final. Penso que isto só ocorrerá se estes meios se sentirem encorajados por uma disputa
indefinida ou acreditarem que existem reais chances de vitória eleitoral de Tuto. Além da
cobertura isenta da eleição, é aconselhável a criação de “pontes” para o diálogo com lideranças
próximas de Evo e interlocutores confiáveis e menos radicais do staff de Evo (Exemplo: o seu
vice-presidente, Garcia Linera);
c. BANCOS E OUTROS EMPREENDIMENTOS: Se as pesquisas apontarem um inevitável
segundo turno, antes da data da eleição, em nome da agrupação UP - Unidade e Progresso (sigla
da agremiação de IVO) e também em nome da governabilidade (que particularmente interessa a
Evo no primeiro momento), recomendo a articulação de um pacto ou consenso dos grandes
empresários cruzenhos e, num segundo momento, do País, em torno de uma agenda mínima, que
garanta as condições básicas e essenciais para o exercício das atividades econômicas sob o
governo de Evo. Considero que somente depois de uma gestão dele a Bolívia se livrará do mito e
poderá seguir um caminho histórico menos conturbado e, como num segundo turno Evo ainda
terá dúvidas da real expressão de sua vitória, estará disposto a tudo pela maioria e pela
governabilidade: diante da possibilidade de obter os 50% mais um, ele estará propenso a fazer um
pacto social para garantir sua vitória.

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