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Análise dos movimentos de emancipação política ocorridos entre o fim do século XIX e a
primeira metade do século XX, nas Américas, na África e Ásia.
PROPÓSITO
Associar os processos conhecidos como descolonização que ocorreram nas Américas, na
África e Ásia nos séculos XIX e XX, observando semelhanças que nos permitam percebê-lo
como um movimento histórico.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
Apontar os processos de descolonização na Ásia
DESCOLONIZAÇÕES: A DISSOLUÇÃO DO
MUNDO COLONIAL EUROPEU
O termo descolonização evidencia a relação histórica de controle do continente europeu em
relação a países da América, África e Ásia, sinalizando para o momento de ruptura em relação
a esse domínio, mas também para as continuidades e marcas deixadas pelo colonialismo na
formação social desses países.
O termo descolonização sugere, assim, uma compreensão histórica mais ampla que une
países da América Hispânica, da África e da Ásia em torno de uma experiência comum de
colonização, tendo como desdobramento processos que reconfiguraram o ambiente político no
interior dos próprios projetos metropolitanos. Esse é o caso da Revolução Francesa, com
impacto direto para o processo de descolonização da América Hispânica no século XIX; e da
Guerra Fria, decisiva para os rumos da descolonização Asiática e Africana no século XX.
Em muitos casos, os Estados nacionais foram um passo importante rumo à soberania, mas
isso não anulou a condição de dependência de muitas regiões. É preciso realizar uma
observação mais cuidadosa da dinâmica interna das lutas de libertação dos povos hispano-
americanos, africanos e asiáticos frente ao colonialismo europeu; mas uma compreensão de
conjunto contribui de maneira decisiva para entendermos a dinâmica internacional do mundo
contemporâneo. Neste conteúdo, estudaremos essa tensão permanente entre rupturas
nacionais e continuidades da herança histórica colonial.
MÓDULO 1
Identificar as independências das Américas como um dos processos de rompimento
com o colonialismo histórico
Para Guerra (1992), a partir de 1808, o mundo hispânico iniciou sua passagem para a
modernidade política por um duplo caminho. De um lado, a ruptura com o Antigo Regime,
provocada pela abdicação do rei, permitiu experimentar e realizar novas formas de soberania e
representação política. De outro lado, a conjuntura de crise abriu um espaço para que novas e
inesperadas experiências fossem vivenciadas, permitindo aos homens daquele tempo construir
conceitos, palavras e projetos como respostas aos novos desafios. O conceito de nação dava
conta, em grande medida, a essa vontade de ruptura.
TRANSFORMAÇÕES NA METRÓPOLE:
REFORMAS E DISSOLUÇÃO DA DINASTIA
DE BOURBON
Durante a segunda metade do século XVIII, o mundo espanhol sofreu grandes transformações,
sob o governo da dinastia Bourbon. Os reinados de Carlos III e Carlos IV (1759-1808)
testemunharam o desenvolvimento de um pensamento político moderno ilustrado, baseado em
princípios liberais do Iluminismo – enfatizando a liberdade, a igualdade, os direitos civis, o
governo das leis, a representação constitucional e a adoção de medidas liberais na economia –
entre um pequeno, porém, significativo, número de espanhóis-peninsulares e espanhóis-
americanos.
ATENÇÃO
Ao enquadrar o mundo hispano-americano dentro de seus interesses, a Coroa ameaçava os
múltiplos interesses locais desenvolvidos durante os três séculos de colonização, seus
sentimentos de autonomia e de identidade.
Em 1808, o Rei Fernando VII foi forçado a abdicar do trono em função das pressões exercidas
pelas tropas de Napoleão Bonaparte, pois a invasão napoleônica da Península Ibérica ocorrera
em 1807, ocasionando a chamada acefalia do reino.
RESUMINDO
A luta pela autonomia americana foi expressa na apresentação de três reivindicações básicas:
Esse corpo reconhecia não apenas os direitos das províncias espanholas, mas também os dos
reinos americanos, e os referendava como partes integrantes e iguais da monarquia,
possuidores, nessa condição, do direito à representação no governo.
No entanto, os termos dessa participação foram vistos de formas distintas por europeus e
americanos. Pelos critérios propostos nesse momento, os americanos só teriam nove
representantes (um por cada vice-reino e capitania-geral) em um governo central com 36
espanhóis. Iniciava-se, assim, a luta pela paridade na representação e pela igualdade com a
antiga metrópole, e aumentavam-se os problemas referentes à autonomia americana.
A queda de Sevilha nos primeiros meses de 1810 e a dissolução da Junta Central – substituída
por um Conselho de Regência que convocaria pela primeira vez, em décadas, o parlamento
espanhol, as Cortes – abria uma nova e mais grave etapa na crise política que o Império
atravessava.
ATENÇÃO
A formação das juntas governativas locais, tanto na Espanha como na América, invocou o
princípio legal hispânico de que a soberania, na ausência do rei, reverteria para os povos. Esse
movimento foi central para despertar um desejo de autonomia na elite criolla hispano-
americana. Tratados de maneira politicamente desigual, aceleraram o processo de
independência.
A construção nas regiões leais como os vice-reinados do Peru e da Nova Espanha, de uma
monarquia constitucional – dotada de instituições representativas de governo e sem uma
ruptura total com o antigo pacto colonial.
Bolívar em Carabobo, local de uma das principais batalhas da Guerra de Independência da
Venezuela, por Arturo Michelena (1898).
A construção, nos territórios que eram contra a solução das Cortes de Cádiz – como Caracas,
Buenos Aires ou Santiago do Chile –, de sistemas autônomos de governo. Em alguns casos,
sob uma forma republicana; em todos eles, sob uma forma representativa.
Os brancos viviam uma contraditória situação: estavam no topo da sociedade colonial, mas
desempenhavam um papel secundário em relação aos espanhóis peninsulares em termos de
privilégios, acesso à riqueza, aos monopólios, à administração e às decisões políticas. Além
disso, sentiam-se ameaçados pelas maiorias não criollas de índios, negros e mestiços.
Criou um estado unitário com leis iguais para todas as partes da monarquia espanhola.
Conferiu o direito de voto a todos os homens, com exceção dos de ascendência africana,
sem requerer qualificações de renda ou exigir grau de alfabetização – o que significou a
superação dos demais governos representativos, como Grã-Bretanha, Estados Unidos e
França, em relação à extensão de direitos políticos para a vasta maioria da população
adulta masculina.
Monumento à Constituição de Cádis (Plaza de España, Cádiz).
Em que pese a ampliação sem paralelos da representação política, guerras civis irromperam
na América entre aqueles grupos que, insistindo na formação de juntas locais, recusavam-se a
aceitar o governo na Espanha, e aqueles outros que reconheciam a autoridade da Regência e
das Cortes, mantendo-se fiéis a elas. As divisões políticas entre os membros das elites
mesclavam-se às antipatias regionais e tensões sociais, na radicalização dos conflitos no Novo
Mundo.
A situação mudou drasticamente com a volta de Fernando VII ao trono, em 1814. Abolindo as
Cortes e a Constituição, restaurando o absolutismo e recorrendo à força para restaurar a
ordem régia na América, ele acelerou o processo de independência. Uma vez livre de
quaisquer restrições constitucionais, as autoridades régias no Novo Mundo perseguiram e
sufocaram a maioria dos movimentos que buscavam a autonomia. Isso desencadeou reações
mais decisivas por parte de uma parcela da população politicamente ativa que defendia a
independência.
Segundo Guerra (1992), essa sucessão de eventos criou as condições para vivências
definidoras de novos comportamentos e atitudes políticas que gestaram um sentimento comum
de independência em seu sentido plenamente processual. Dois novos fenômenos viabilizaram
essa mutação ideológica pelo continente americano:
A abundante proliferação de publicações, que tornava viável o acesso de uma boa parte
da população às novas ideias liberais que passaram a circular mais no ambiente colonial
hispano-americano.
Os novos espaços políticos permitiram aos homens compartilhar visões de mundo, sentimentos
e projetos, constituindo um novo vocabulário político, capaz de originar uma modernidade
política. A crise dinástica, bélica e constitucional de 1807-1808 afetou profundamente ambas as
monarquias ibéricas. Esse momento decisivo deu início a um período de instabilidade que se
prolongaria durante décadas, causando um processo encadeado de independências na
América Hispânica.
Agora, o professor Daniel Pinha dialoga sobre os processos de independência nas Américas.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 2
Reconhecer os processos de resistência e ruptura com o colonialismo na África
COLONIALISMO NA ÁFRICA
O Oriente oferecendo suas riquezas ao Império Britânico , por Roma Spiridone (1778).
Ainda que a África (o continente africano é uma definição genérica e serve como maneira
meramente didática aqui) fizesse parte desse mesmo movimento, sua organização e a
ocupação eram absolutamente diferentes:
Ruínas restauradas da cidade de Timbuktu, que pertenceu ao Império Songai.
PRIMEIRO EIXO
Possuía forte ocupação e relação com o mundo muçulmano ao norte; centros de comércio e
organização em eixos nas porções centro-sul; havia uma dinâmica na costa ocidental, com
grande presença de sociedades agrárias; a organização era marcada por comércios e disputas
nas regiões entre o sul do reino de Songai e o norte da região da África do Sul.
SEGUNDO EIXO
No eixo central, tinha as relações com o reino do Congo e suas zonas de influência desde o sul
do Saara até o norte da África do Sul.
As grandes cataratas Vitória, no Zimbábue.
TERCEIRO EIXO
Estava entre os reinos que faziam fronteira com o Zimbábue e a relação com as trocas do
Índico.
QUARTO EIXO
Reino africano herdeiro do império do Mali e uma das áreas mais importantes do noroeste
africano.
O movimento colonialista foi marcado por pequenas empresas e frentes de ocupação, a sua
grande maioria litorânea e muito mais vinculada ao comércio – principalmente de escravos –
mas também pedras preciosas, tabaco, armas e algodão. Os centros eram relativamente
pequenos, mas constituíram centros importantes como a dos bôeres holandeses na África do
Sul, Angola e Moçambique, pelos portugueses.
NEOCOLONIALISMO
Diferentemente dos primeiros processos de colonialismo, o século XIX apresentou uma
empresa muito mais arrojada. Fruto da inserção africana no comércio de escravos de modo
crescente no século XVIII, com a captura saindo do litoral, a organização de reinos e espaços
políticos sob a influência europeia no século XIX tornaram-se intensas.
O Colosso de Rodes , caricatura do colonialista britânico Cecil John Rhodes, publicada
depois que este anunciou planos para uma linha telegráfica e ferroviária que cruzaria a África,
da Cidade do Cabo ao Cairo (1892).
O grande poderio dos turcos, enfraquecidos ao longo do XIX, não é capaz de oferecer qualquer
tipo de proteção ou vinculação local. No mundo burguês e do capital, a África se torna, quase
completamente, um espaço de dominação. Os poderes locais existem, mas seus membros são
escolhidos e preparados pelas novas metrópoles.
Esse quadro de exploração chega ao seu auge durante as grandes guerras mundiais, em que
a África se tornou palco de conflitos épicos: muitos acordos de apoio para lutar eram a
promessa de autonomia de seus poderes e o fim da captura de seus governos. As vitórias
acontecem, mas as lutas ainda serão intensas até a descolonização.
DESCOLONIZAÇÃO
Após a Segunda Guerra Mundial, o equilíbrio de poder no sistema internacional se alterou de
forma substantiva. O mundo colonial sentiu essa mudança com extrema intensidade, em
particular na África.
O aspecto mais visível das novas condições políticas e econômicas do pós-guerra se revelou
no processo de formação dos estados nacionais africanos: mais de 40 países surgiram no
continente entre 1960 e 1980, estabelecendo uma situação, muitas vezes, conhecida como
processo descolonização.
Os historiadores vêm destacando, cada vez mais, o papel dos intelectuais, dos partidos e das
organizações político-militares nas independências dos países africanos. Assim como as
tensões religiosas e étnicas, incluem os problemas demográficos e de alimentação entre as
populações africanas para explicar o grande movimento da descolonização.
DESCOLONIZAÇÃO E A CONFERÊNCIA DE
BANDUNG
Junto ao espírito de independência política de Bandung, os africanos tinham como recurso seu
próprio vocabulário político, cujo grande eixo era o pensamento pan-africano. Os primeiros
defensores de uma África livre da dominação colonial foram os negros da diáspora surgida com
a escravidão africana nas Américas. Da tensão racial na América do Norte e no Caribe, no
início do século XIX, surgiram os primeiros pensadores políticos de uma África sem o
colonialismo europeu. O projeto se realizou em parte com a criação do Estado da Libéria,
fundado por negros americanos que retornavam para o continente.
AS DIVERSAS INDEPENDÊNCIAS
Na maior parte das vezes, especialmente na África ocidental, os processos de independência
não ocorreram por meio de revoluções, mas sim por reformas políticas. As independências
adotaram um modelo etapista, que garantia aos governos europeus o controle de uma parte da
condução do processo.
No entanto, isso não significou que em Gana, Nigéria, Gâmbia ou Senegal os caminhos para a
independência tenham passado por situações de mobilização social que combinaram
reivindicações econômicas, sociais e políticas, realizando ações de resistência à opressão
europeia.
ATENÇÃO
Esse tipo de processo de independência foi caracterizado por um gradativo alargamento das
liberdades políticas e pela construção de uma nova ordem pública, com uma negociação
conciliatória entre as diversas partes envolvidas.
O convívio entre as populações brancas e as populações locais nessas regiões foi estruturado
sob forma de uma rígida estratificação social e difíceis níveis de assimilação de parte a parte.
Mantendo o controle sobre a produção e a administração locais, os grupos europeus não
estiveram dispostos a negociar seus privilégios e propriedades. Assim, a independência esteve
relacionada a uma radicalização política que levou ao enfrentamento. O recurso à guerra de
guerrilhas foi uma das táticas mais comuns utilizadas no Congo e no Quênia, por exemplo.
Nesse contexto, o problema racial muitas vezes veio à tona e se tornou o principal foco da
Guerra de Libertação Nacional. Portanto, esses conflitos produziram situações de grande
sacrifício para a população local, banalizando a violência e a brutalidade.
ATENÇÃO
O caso da independência da Argélia é o mais típico exemplo da truculência das forças colônias
contra a população colonial. Longe de representar princípios revolucionários, esses casos
mostraram os limites e, também, o fracasso da negociação política entre europeus e africanos.
Desde o início da década de 1960, Angola, Moçambique e Guiné empreendiam uma guerra de
libertação nacional. Após quase 15 anos de conflito, as próprias forças armadas portuguesas
começaram a se aproximar dos grupos civis críticos ao regime. Vivendo uma crise econômica e
sem solução para o problema colonial, o Estado Novo português foi derrubado em abril de
1974. Com o fim do regime, as independências se tornaram possíveis e o longo império
colonial português foi destruído.
Em nenhum momento da história existiu uma África: suas fronteiras artificiais delimitavam
somente os recursos minerais e sua exploração; por isso, os países passaram rapidamente a
ser atormentados por disputas internas sobre quem deveria comandar os novos governos. O
resultado catastrófico pode ser medido em guerras civis, atribuídas no estrangeiro ao atraso –
marca do preconceito mundial – mas de fato eram dinâmicas provocadas pelo próprio
colonialismo presente na região.
Temos uma segunda e terrível soma sobre a substituição das práticas do colonialismo: a
Guerra Fria. Diante dos processos políticos marcados pela influência das potências Estados
Unidos e União Soviética, todas as disputas descoloniais foram marcadas pela resistência do
antigo colonizador; logo, se os grupos em disputa se aproximassem de tendências do
liberalismo norte-americano, como resposta, os grupos de resistência eram armados pelos
soviéticos. Com isso, o processo de construção de autonomia era cuidado e tutelado por novas
potências, levando ao poder minorias, ditadores, armando-os e mantendo o ambiente de
instabilidade.
A visão preconceituosa quer fazer ver que o problema é atraso e inaptidão, mas muito do que
vemos é fruto de uma continuidade de práticas coloniais, ressignificadas, mas tão exploradoras
e violentas como sempre.
Vamos saber um pouco mais sobre o assunto a partir de um bate papo com o professor Daniel
Pinha.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
MÓDULO 3
Apontar os processos de descolonização na Ásia
DESCOLONIZAÇÃO NA ÁSIA
Vamos conhecer algumas linhas gerais das condições que propiciaram as independências dos
Estados que compunham a região colonial do Sudeste da Ásia e, em particular, o caso indiano,
como exemplos do complexo ambiente asiático.
Atualmente, o Sudeste asiático é uma subárea da Ásia, formada por nove países
independentes:
Mapa da Indochina.
Arquipélago da Insulíndia.
A região tem uma área de aproximadamente 1,6 milhões de quilômetros quadrados, com uma
população de cerca de 600 milhões de pessoas. A influência ocidental começou no século XVI,
com a chegada de portugueses e espanhóis nas ilhas Molucas e nas Filipinas. Mais tarde, os
holandeses se estabeleceram na Indonésia; os franceses, na península da Indochina; e os
britânicos, na Malásia e em Cingapura. Até o século XIX, todos os países do Sudeste asiático
tinham sido colonizados, exceto a Tailândia.
EXPANSÃO JAPONESA
O que deu a esse espaço geopolítico alguma unidade na história do colonialismo e das
independências nacionais não foi apenas a presença longeva dos estados europeus na região,
mas também, e decisivamente, a atuação do imperialismo japonês.
Mesmo antes da Segunda Guerra Mundial, o Japão vinha empreendendo uma campanha de
expansão na área continental asiática. A conquista territorial por meios militares se tornou a
principal forma de alimentar a crescente necessidade japonesa por recursos minerais,
mercados, alimentos etc.
Na primeira década do século XX, os japoneses controlavam grande parte da península da
Coreia, o norte da China e todas as ilhas em um espaço de 100 quilômetros a sul e a leste do
país. Em 1911, as forças armadas japonesas ocuparam as primeiras ilhas do arquipélago das
Filipinas.
ATENÇÃO
A guerra de 1914, a guerra contra a China (iniciada em 1937) e a Segunda Guerra Mundial
envolveram a economia e a população japonesas em um período militarista que projetou os
interesses do país até o Sudeste da Ásia.
Em 1940, o Japão ocupou o Vietnã e firmou pactos com a Alemanha e a Itália. Essas ações
intensificaram o conflito com os Estados Unidos e a Inglaterra, que reagiram com um boicote
no abastecimento de petróleo. Isso fez com que o Japão capturasse as refinarias da Indonésia
e arriscasse entrar em uma guerra contra essas duas potências.
A partir de 1942, as forças Aliadas começaram a ganhar a guerra. Depois disso, os territórios
ocupados pelo Japão foram gradualmente tomados pelos norte-americanos.
Às vésperas da derrota, no entanto, os japoneses proclamaram as independências das antigas
colônias europeias. Por um breve tempo, governos nacionais controlados de longe pelo império
japonês se estabeleceram na região. Assim, quando os ingleses desembarcaram em Java e
em Sumatra, em 1945, os indonésios vivenciaram esse momento como uma nova ocupação.
O CASO DA INDONÉSIA
O nacionalismo indonésio e os movimentos de apoio à independência do colonialismo
holandês, como o Partido Nacional Indonésio (PNI), o Sarekat Islã e o Partido Comunista da
Indonésia (PKI), cresceram rapidamente na primeira metade do século XX. Alguns, como o
Sarekat Islã, perseguiram estratégias de cooperação com o domínio holandês, na esperança
de que fosse concedido um autogoverno à Indonésia.
Outros optaram por uma estratégia de não cooperação exigindo a liberdade de autogoverno.
Entre os que se destacaram nesse enfrentamento estavam os líderes nacionalistas Sukarno e
Mohammad Hatta.
Polícia militar holandesa com um soldado republicano sob custódia.
Sob ocupação alemã, a Holanda tinha poucas condições para defender sua colônia contra as
forças armadas japonesas. Em apenas três meses, os japoneses ocuparam as Índias Orientais
Holandesas. Com o Japão à beira de perder a guerra, os holandeses tentaram restabelecer
sua autoridade na Indonésia. No entanto, os japoneses eram a favor de ajudar os nacionalistas
indonésios a se preparar para o autogoverno.
Alguns líderes defendiam a ideia de libertação nacional como uma luta revolucionária a ser
liderada pela esquerda socialista. Entretanto, Sukarno e Hatta estavam mais interessados no
planejamento de um governo e de instituições para alcançar a independência por meio da
negociação e da diplomacia.
Até o final de agosto, um governo central republicano havia sido estabelecido em Jacarta e foi
aprovada uma constituição, redigida durante a ocupação japonesa. Temendo que os
holandeses tentassem restabelecer sua autoridade sobre a Indonésia, o novo governo e seus
líderes se moveram rapidamente para reforçar a administração.
O governo holandês, livre da ocupação alemã, acusou Sukarno e Hatta de colaborarem com os
japoneses, e denunciou a República como uma criação do fascismo japonês. Ao mesmo
tempo, a administração holandesa tinha recebido um empréstimo de 10 milhões de dólares dos
Estados Unidos para financiar seu retorno à Indonésia. Mesmo assim, o governo holandês não
voltou à região como uma força militar significativa até início de 1946.
Naquele ano, com a ajuda britânica, os holandeses desembarcaram suas forças em Jacarta e
em outras regiões importantes. Em muitos casos, as tropas holandesas foram acusadas de
tentar pacificar o país utilizando técnicas de terror. Em Java e Sumatra, os holandeses
encontraram o sucesso militar em cidades grandes, mas não foram capazes de subjugar as
aldeias e zonas rurais.
Frente ao impasse militar, foi estabelecido o Acordo de Linggadjati, mediado pelos britânicos.
Em novembro de 1946, a Holanda reconheceu a República como tendo autoridade de fato
sobre Java e Sumatra. Ambas as partes concordaram com a formação dos Estados Unidos da
Indonésia, um estado semiautônomo, como parte da monarquia holandesa.
A INDOCHINA FRANCESA
A região formada hoje pelos Estados do Vietnã, Camboja e Laos constituía uma possessão
colonial francesa que desde o fim do XIX era denominada de Indochina Francesa. Essa área
colonial era constituída por uma federação de três regiões vietnamitas: Tonkim (Norte), Annam
(Central) e Cochinchina (Sul), bem como o Camboja. Em 1893, o Laos foi incorporado à
colônia.
Após a guerra, a França tentou reafirmar-se na região, mas entrou em conflito com uma
coalizão local de comunistas e nacionalistas liderados por Ho Chi Minh. Em 2 de setembro de
1945, Ho Chi Minh declarou a independência da República Democrática do Vietnã, mas antes
do final do mês uma força britânica, francesa e indiana, restabeleceu o controle francês.
ATENÇÃO
O Capitão William Hodson captura o Rei de Delhi em 1857, durante a Primeira Guerra da
Independência da Índia.
Após 1876, a Índia foi transformada em vice-reino, sendo estabelecida uma nova configuração
política. Os primeiros passos em direção à autonomia na Índia britânica foram dados no fim do
século XIX, com a nomeação de conselheiros indianos para assessorar o vice-rei britânico e a
criação de conselhos provinciais dos quais participavam os indianos. A partir de 1892, a Coroa
britânica alargou a participação de hindus em conselhos legislativos.
No início do século XX, abordagens mais radicais surgiram no cenário político indiano, como o
movimento Swadeshi liderado por Lal Bal Pal e Sri Aurobindo, que defendia um boicote aos
produtos ingleses. O nacionalismo militante também surgiu nesse período.
Entre 1914 e 1917, uma série de conspirações foram concebidas por nacionalistas hindus
visando tornar a Índia independente do domínio britânico. Vale destacar a conspiração indo-
alemã, quando uma série de planos foram formulados para iniciar uma rebelião pan-indiana.
ATENÇÃO
A Primeira Guerra Mundial mostrou ser um divisor de águas no relacionamento entre a Grã-
Bretanha e a Índia. Milhares de soldados indianos e britânicos do Exército da Índia Britânica
tomaram parte na guerra e sua participação teve grande impacto sobre a sociedade colonial:
notícias de soldados indianos lutando e morrendo ao lado de soldados britânicos, canadenses
e australianos mostravam a integração do Raj ao Império.
Em 1920, com nome de Índias Britânicas, a região se tornou membro fundador da Liga das
Nações, alcançando um status inédito para uma região colonial. No final do ano de 1919, o
governo britânico aumentou os impostos, procurando sanar a situação de crise em sua
economia. No fim da guerra, o índice de preços na Índia praticamente dobrou. Veteranos de
guerra, principalmente no Punjab, retornaram para casa e encontraram uma situação endêmica
de desemprego e inflação. Escassez de alimentos em Bombaim, Madras, e nas províncias de
Bengala; o surto de gripe espanhola e os ecos da Revolução Bolchevique Russa criaram um
quadro de tensão social significativo.
Para enfrentar a crise foi aprovado, em 1919, o Ato de Governo da Índia. A nova lei (também
conhecida como Reforma Montagu-Chelmsford) ampliava as condições de autonomia para a
população hindu.
Em 1935, uma nova reforma foi negociada. Naquele ano, o parlamento britânico aprovou o
novo Ato de Governo da Índia, que autorizou a criação de assembleias legislativas
independentes em todas as províncias da Índia britânica, a criação de um governo central que
incorporava as províncias britânicas e os Estados principescos, bem como a proteção das
minorias muçulmanas. Nesse momento, também foi decidido que, em dois anos, a Birmânia
seria separada da Índia britânica.
A lei também previa um parlamento nacional bicameral e um poder executivo, sob a tutela do
governo britânico. Embora a federação nacional nunca tenha sido concretizada, as eleições
para as assembleias provinciais em todo o país foram realizadas em 1937. Apesar da
hesitação inicial, o Partido do Congresso participou das eleições e obteve vitórias em sete das
onze províncias da Índia Britânica.
Aos 19 anos, em 1888, Mohandas Karamchand Gandhi viajou para Londres, Inglaterra, para
estudar Direito na University College de Londres. Retornou à Índia em 1891, tentando se
estabelecer como advogado. Após algumas tentativas frustradas, ele aceitou um contrato de
um ano de duração na Dada Abdulla & Co., uma empresa indiana, para um cargo em Colônia
de Natal, na África do Sul.
Na África do Sul, Gandhi experimentou a discriminação dirigida aos hindus. Ele foi jogado de
um trem após se recusar a passar da primeira classe para um vagão de terceira classe; foi
espancado por um condutor por se recusar a viajar em pé para dar lugar a um passageiro
europeu; foi impedido de entrar em vários hotéis e foi ordenado a remover seu turbante por um
magistrado durante um julgamento na cidade de Durban.
Esses eventos foram decisivos para a mudança em sua vida, influenciando seu subsequente
ativismo social. Foi vivenciando diretamente o racismo e o preconceito que Gandhi começou a
questionar o estatuto de cidadania do Império britânico.
Gandhi estendeu seu período inicial de estadia na África do Sul para apoiar um projeto de lei
que negava o direito de voto aos hindus. Embora incapaz de impedir a aprovação da lei, sua
campanha foi bem-sucedida ao chamar a atenção para as queixas dos hindus no país.
Em 1906, o governo do Transvaal promulgou uma nova lei de registro da população hindu na
Colônia. Em uma reunião de protesto, realizada em Joanesburgo, em 11 de setembro daquele
ano, Gandhi adotou, pela primeira vez, a política do protesto não violento – Satyagraha,
pedindo que seus compatriotas indianos desafiassem a nova lei e sofressem as punições por
fazê-lo, em vez de resistir por meios violentos. A comunidade aprovou o plano, levando a uma
luta de sete anos em que milhares de hindus foram presos (incluindo Gandhi).
Gandhi e Sarojini Naidu, poeta e ativista política, durante a Marcha do Sal de 1930.
O clamor público decorrente dos métodos violentos empregados pelo governo sul-africano em
face da atitude pacífica dos manifestantes forçou uma negociação com os partidários de
Gandhi. O conceito de Satyagraha amadureceu durante essa luta.
Em 1915, Gandhi voltou da África do Sul para viver na Índia. Como líder da luta por defesa dos
direitos hindus na África, chegou ao país natal com certo capital político. O conceito de
Satyagraha, inspirado no líder hindu Baba Ram Singh, e o sucesso da política de não violência
tornou-o uma liderança a ser incorporada à política indiana. Mas Gandhi conhecia pouco da
dinâmica do colonialismo britânico na Índia.
Em 1922, Gandhi foi sentenciado a seis anos de prisão, mas foi liberado depois de cumprir
dois. Nesse período, surgiu uma nova geração de políticos dentro do Partido do Congresso,
incluindo J. Nehru, Vallabhbhai Patel, Subhas Chandra Bose (conhecido como Netaji) e outros,
que se tornariam as vozes proeminentes do movimento de independência da Índia.
Como parte da luta, Gandhi saiu de sua reclusão após a prisão para realizar sua campanha
mais conhecida, uma marcha de cerca de 400 quilômetros entre seu município, Ahmadabad,
para Dandi, na costa de Gujarat. A marcha é geralmente conhecida como a Marcha do Sal: em
Dandi, como protesto contra os impostos britânicos sobre o sal, ele e milhares de seguidores
violaram a lei ao fazer seu próprio sal da água do mar.
Em abril de 1930, houve violentos confrontos entre hindus e a polícia. Cerca de 100 mil
pessoas foram presas no decorrer do movimento de desobediência civil, inclusive Gandhi. Em
março de 1931, o governo concordou em libertar os presos políticos e, em contrapartida,
Gandhi concordou em interromper o movimento de desobediência civil.
Em 1939, o vice-rei da Índia declarou a entrada da Índia na Segunda Guerra Mundial sem
consultar os governos provinciais. Em protesto, o Partido do Congresso pediu a todos os seus
representantes eleitos que se demitissem do governo.
Com a guerra, o Partido do Congresso aprovou uma resolução de apoio à luta contra o
fascismo condicionada à concessão da independência do país. A proposta foi repelida pelo
governo britânico.
Após a Segunda Guerra Mundial, campanhas simultâneas de não cooperação e protesto não
violentos se intensificaram. Esses movimentos marcaram a última grande campanha em que
as forças do Partido do Congresso e da Liga Muçulmana estiveram alinhados. Em diversos
lugares, sargentos do exército indiano britânico começaram a ignorar as ordens dos superiores
britânicos. Em Madras e Pune, as guarnições britânicas tiveram que enfrentar revoltas de
soldados hindus.
Outra rebelião ocorreu em Jabalpur, durante a última semana de fevereiro de 1946, logo após a
rebelião da Marinha em Bombaim.
O verdadeiro julgamento das contribuições de cada um desses eventos para a independência
da Índia e o relativo sucesso ou fracasso de cada um permanece aberto para os historiadores.
Alguns afirmam que o movimento Quit Índia acabou por ser um fracasso e atribuem mais
importância às greves militares na desestabilização do poder britânico na Índia.
Entretanto, alguns historiadores indianos argumentam que o movimento Deixem a Índia foi o
que permitiu o enfraquecimento do poder britânico. Em apoio à última visão, uma população de
11 milhões de pessoas tinha sido motivada como nunca anteriormente a afirmar que a
independência era um objetivo inegociável.
A Segunda Guerra Mundial, porém, enfraqueceu ainda mais a Inglaterra, de modo que ao fim
do conflito era impossível manter o domínio sobre a Índia, cuja independência foi alcançada em
15 de agosto de 1947. O país ainda enfrentava forte tensão entre os grupos religiosos rivais e
se fragmentou em dois, a Índia propriamente dita e o Paquistão, sendo que este estava
geograficamente dividido em Oriental e Ocidental.
OS PROBLEMAS CONTINUAM
O fim do colonialismo na Ásia ajuda a explicar alguns aspectos da história da segunda metade
do século passado.
A retomada do colonialismo europeu tornou-se inviável, porque se constituíram forças
locais com articulação política suficiente para resistir, ou porque as próprias potências já
não tinham capacidade logística de sustentar um território colonial tão distante;
A ação de potências regionais (Japão, China, Índia, Austrália e mesmo a União Soviética)
tornou inviável a simples retomada da ordem anterior à guerra de 1939-1945;
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As descolonizações foram movimentos políticos que marcaram o término do auge do
colonialismo europeu e o início de um conjunto de rupturas que passou a ser uma realidade
entre o fim do século XIX e a primeira metade do século XX.
Anos de dominação, no entanto, não desaparecem de uma hora para outra. Nas Américas, a
tradição colonialista, rompida no contexto do século XIX, manteve na liderança política os
membros que representavam a antiga aristocracia colonial.
Na África, o movimento foi intensificado pela ideia de uma união entre os africanos; união que
era artificial. Então, serviu para luta e afastamento dos poderes colonialistas, deixou marcas
terríveis nas guerras internas, e seu papel como palco de atuação intensa na Guerra Fria.
A Ásia viu muitos processos, China, Japão, mundo árabe, sudoeste asiático, Índia, por isso,
optamos por exemplos que ofertassem sentido à movimentação da descolonização, à
marcação de suas identidades locais. Entretanto, como mesmo em espaços que teoricamente
tinham uma identidade consolidada, batalhas e disputas permaneceram intensas, como revela
o caso indiano.
A descolonização aqui apresentada foi política, um pequeno passo, mas que abriu debates que
ainda hoje são intensos.
PODCAST
Agora, o professor Rodrigo Rainha apresenta suas considerações sobre as principais questões
do processo de Descolonização.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
GUERRA, François-Xavier. Modernidad y Independencias: ensayos sobre las revoluciones
hispanicas. México: Editorial Mapfre/Fondo de Cultura Económica, 1992.
HERNANDES, Leila. A África na sala de aula. São Paulo: Selo Negro, 2008.
HOBSBAWM, Eric. A era dos extremos. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.
REIS FILHO, Daniel (Org.) O século XX. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000.
EXPLORE+
Para saber mais sobre os assuntos tratados neste tema, leia:
Assista:
CONTEUDISTA
Daniel Pinha
CURRÍCULO LATTES