Você está na página 1de 10

A revolução e a crise do antigo sistema colonial

Quando tratamos da crise do antigo sistema colonial é preciso observar as suas origens históricas.
O seu contexto vai nos remeter ao século XVIII, considerado como o “século das luzes”, marcado
pelo surgimento do Iluminismo. 

Para que fique claro, o conceito de Iluminismo é definido como um movimento cultural pautado
no racionalismo europeu progressista, que buscou romper com o pensamento
preponderante até aquele momento.

É importante frisar que a França foi considerada o berço do Iluminismo, graças ao contingente de
intelectuais dispostos a colaborar com o pensamento europeu. Certamente, esse movimento
colaborou para que despontasse a Revolução Americana, por exemplo. As características do
Iluminismo podem ser visualizadas no Quadro 1:

O Iluminismo foi fundamental para que as teses de governo e da economia ganhassem novas
interpretações. Em cenários como este, a fisiocracia ganhou importância com o modelo econômico,
visto que as atividades econômicas eram provenientes das riquezas produzidas pela terra. Dentro
desse contexto, o Iluminismo acabou influenciando, por exemplo, a formação das monarquias
nacionais, que passaram a adotar princípios racionalistas.

Entretanto, um questionamento pode ser feito: qual a relação entre o Iluminismo e as crise dos
sistemas coloniais ocorridos ao redor do mundo? Bem, a inter-relação entre o pensamento iluminista
e o modelo colonial ocorreu no momento em que a dinâmica escravocrata praticada dentro das
colônias passou a não atender aos anseios capitalistas que estavam voltados para a Revolução
Industrial, ocorrida a partir do século XVIII.

As crises coloniais tiveram dois marcos históricos, que verificaremos com mais detalhes:
Independência dos Estados Unidos (1776)

Simbolizou a desvinculação dos Estados Unidos em relação à Inglaterra, fato ocorrido em 04 de


julho de 1776. De imediato, os Estados Unidos formaram um regime de confederação, atuando de
maneira descentralizada, em que cada estado atuava de forma soberana. Esse período ocorreu
entre 1776 e 1787, momento em que houve a promulgação da Constituição americana,
representada pela união dos territórios em um regime presidencialista republicano.

Certamente, as bases para a Independência dos Estados Unidos aconteceram após a Guerra
dos Sete Anos, entre 1756 e 1763, quando o parlamento inglês tomou a decisão de elevar as taxas
das colônias americanas com a justificativa de sanar os custos do conflito. A partir desse instante,
diversas leis tarifárias foram impostas ao povo americano, muitas delas consideradas ilegais. Isso
criou um clima de revolta e tensão entre a Inglaterra e os Estados Unidos, ao ponto de desencadear
uma guerra entre eles, que resultou na independência americana no ano de 1776.

Era das independências (1804 - 30)

O ideário iluminista foi o grande responsável pela onda de independências das colônias em
relação às suas metrópoles. Podemos destacar dois movimentos distintos, mas muito importantes
na formação do continente americano: a independência das colônias espanholas e as colônias
portuguesas, mais especificamente o Brasil.

As colônias espanholas, situadas na América, foram influenciadas por um conjunto de aspectos ao


longo do seu processo de independência. Sabemos que a Espanha era a principal detentora das
terras americanas localizadas entre o México e América do Sul. Nesse contexto, surgiu a figura dos
“criollos”, descendentes dos espanhóis nascidos nessas áreas, que passaram a contestar as
imposições realizadas pela metrópole espanhola, além de buscar sua emancipação. O
resultado dessa revolta foi a independência das áreas que pertenciam à Espanha localizadas no
território americano, que consequentemente se transformariam em uma diversidade de países ao
longo do século XIX.

O caso brasileiro foi diferente dos Estados Unidos e da América Espanhola, no sentido de que não
houve grandes guerras nem desfragmentação do território. De fato, foi um processo gradual de
mudanças políticas e econômicas no Brasil que o tornaram mais distante da metrópole
portuguesa, o que acabou culminando na sua independência, no ano de 1822.

É importante ressaltar que, durante o processo de mudança do sistema colonial para o modelo
imperial, certamente houve uma série de revoltas que simbolizaram a luta pela emancipação do
território brasileiro.

REFORMA POMBALINA
Ao longo do século XVIII, a Coroa Portuguesa passou a ser influenciada pelos princípios iluministas,
principalmente pela chegada de Sebastião José de Carvalho, o marquês de Pombal. Essa figura,
que foi importante na introdução do pensamento iluminista, teve como principal objetivo o
desenvolvimento e modernização da administração pública, além de elevar a lucratividade por conta
da exploração colonial. Isso representou uma tendência à inserção de reformas de cunho
administrativo e ao fortalecimento do Estado monárquico, denominado de despotismo esclarecido.

Dentro desse contexto, a presença do marquês de Pombal sinalizou uma série de problemas na
área econômica que Portugal enfrentou na época. É importante ressaltar que os portugueses se
encontravam sob o domínio econômico da Inglaterra, além das inúmeras perdas coloniais ocorridas
no período. Sendo assim, a ideia de Pombal era, dentre outros aspectos, ampliar a lucratividade
oriunda da exploração colonial realizada no Brasil. Para tanto, foram instituídas, por exemplo, a
cobrança anual em quilos de ouro, a retirada de algumas atribuições pertencentes ao
Conselho Ultramarino e a extinção das capitanias hereditárias.

Do ponto de vista interno, coube ao marquês de Pombal adotar outras medidas mais rígidas, o que
acabou desagradando inúmeras pessoas que se beneficiavam, por exemplo, das regalias
disponibilizadas pela Coroa Portuguesa. Um plano de controle de gastos denominado “ Régio”
tinha como principal objetivo a redução de gastos do corpo administrativo. Além disso, a
reforma pombalina adotava uma medida importante no sentido de criar condições para o
desenvolvimento da indústria nacional e, automaticamente, reduzir a dependência econômica que o
país apresentava em relação a outros países, principalmente em relação à Inglaterra.

Pombal se destacou também pelo fato de ter sido a pessoa que autorizou a expulsão dos jesuítas
das terras brasileiras. É sempre importante lembrar que houve intensos conflitos entre colonos e
jesuítas, por questões relacionadas à exploração da mão de obra indígena. Diante desse cenário,
Pombal decidiu então expulsar os jesuítas e dar fim à escravidão indígena, direcionando as terras
pertencentes às ordens religiosas para outros colonos e utilizando a força de trabalho indígena para
colonizar outras terras brasileiras.

Essa atitude teve relação direta com a principal contribuição da chamada reforma pombalina: a
educação. A Companhia de Jesus, que era gerida por jesuítas, foi a grande monopolizadora do
ensino em Portugal, até meados do século XVIII. As reformas pombalinas conseguiram expulsar a
Companhia de Portugal, e instituir, por exemplo, um sistema estatal e gratuito no país, a partir
daquele momento. O Quadro 2 traz um panorama dos principais cenários presentes na sociedade
portuguesa para a introdução da reforma pombalina direcionada à área educacional.

Como é possível notar no Quadro 2, as reformas pombalinas tiveram um papel importante na


mudança de paradigma educacional de Portugal, entretanto, ainda pautado na influência dos
interesses da Coroa Portuguesa. Após a morte de Dom José I, o marquês de Pombal acabou não
conseguindo se estabelecer no cargo por uma série de questões. Uma das principais alegações
para a não continuidade de Pombal se deu por conta da sua postura autoritária, segundo alegações
dos seus opositores. Com a sua saída da administração governamental, Portugal acabou
encerrando um ciclo de possíveis mudanças, que, no futuro, poderiam minimizar o seu aspecto
econômico defasado.
REVOLTAS COLONIAIS
Verificando o contexto histórico, podemos perceber que o Brasil começou a ser colonizado por
Portugal a partir de 1500, entretanto, o processo de exploração do território ocorreu anos mais tarde.
A partir do momento em que o processo de exploração do Brasil, no sentido de colonização, foi
introduzido, passou a ficar evidente que a produção no território brasileiro seria direcionada para a
metrópole portuguesa, ou seja, ela seria a responsável por usufruir da lucratividade final gerada pela
colônia. É importante deixar claro que essa relação comercial entre colônia e metrópole estava
pautada nas práticas mercantilistas do século XV, e assim permaneceu por alguns anos.

De fato, todo esse processo de exploração excessiva realizado pela metrópole transformou-se em
descontentamento dos colonos, a partir do século XVII. Nesse contexto, é possível verificar uma
série de movimentos (revoltas) com objetivos distintos entre si, contudo, visando à melhoria da
colônia. Basicamente, essas revoltas podem ser classificadas em: nativistas, que se
caracterizaram pelos conflitos entre os próprios colonos ou para atender aos interesses dos
membros pertencentes à elite colonial; e separatistas, que se caracterizavam pela busca da
independência da colônia em relação à metrópole portuguesa.

Os Quadros 3 e 4 trazem um rol das principais revoltas (nativistas e separatistas) desencadeadas no


Brasil e suas principais características.

O iluminismo pombalino foi responsável pela intervenção do Estado na educação que buscou
dar ênfase ao conhecimento enciclopédico maior em relação ao modelo baseado nos
costumes. A Real Mesa Censória simbolizou a saída do poder das mãos da igreja e a
presença do Estado no controle da censura e da educação. A Reforma da Universidade de
Coimbra, após a expulsão da Companhia de Jesus, simbolizou a inserção de uma nova
modalidade de ensino focado na razão e na ciência.

Desenvolvimento da economia cafeeira


Trata-se do momento em que a sua independência se consolidou efetivamente, lembrando que as
suas raízes foram oriundas da transferência da Corte portuguesa para o Brasil no ano de 1808. Baer
(2002, p. 37) evidencia que essa transferência ocorreu especificamente por conta da invasão de
Napoleão Bonaparte a Portugal, no ano de 1807.

É sempre importante ressaltar que a chegada da Corte portuguesa foi um marco no processo de
emancipação do Brasil. O autor cita, por exemplo, que no momento em que a Corte portuguesa se
instalou no Rio de Janeiro houve uma elevação significativa da quantidade de empregos na colônia,
fruto da ação governamental, principalmente nos setores de serviço, infraestrutura e manufatureiro.

Esse foi um período de inserção de várias ações liberais. Uma das medidas pioneiras foi a abertura
dos portos brasileiros para as chamadas nações amigas, por meio de uma carta régia, datada em 26
de janeiro de 1808. Isto simbolizou a extinção do pacto colonial e a condição de liberdade oferecida
ao Brasil para negociar com outros países. Essa medida desencadeou várias outras ações que
abriam concessões ao Brasil para desenvolver a sua economia. Todo esse processo levou,
posteriormente, à elevação do Brasil ao posto de Reino Unido, junto a Portugal e Algarves.

É importante ressaltar que a Inglaterra, de imediato, mostrou-se insatisfeita com algumas medidas
que foram tomadas, principalmente aquelas que limitavam a entrada dos seus produtos no território
brasileiro. Os Tratados de Comércio e Navegação, por exemplo, tinham como uma das cláusulas o
pagamento de 15% de ad valorem, pela Inglaterra, nos produtos que fossem desembarcados nos
portos brasileiros. Por sua vez, Portugal se submeteria ao pagamento de 16%, e as demais nações,
ao percentual de 24%. Isso simbolizou a busca dos britânicos em reafirmar o seu domínio comercial
em relação a Portugal e ao Brasil.

Perceba que essas cláusulas comerciais fizeram que uma nação acabasse sendo favorecida em
relação à outra. Barral (2007, p. 31) evidencia que esse Tratado de Comércio e Navegação entre
Inglaterra e Portugal foi estendido ao Brasil e serviu de base para estabelecer outros acordos
comerciais ao longo da história, sempre mantendo essa relação de dominância econômica de uma
nação em relação à outra.

Em meados do século XIX, as exportações brasileiras se encontravam em uma fase mais crítica: o
açúcar e o algodão, por exemplo, sofriam com a concorrência externa. Baer (2002, p. 35) ilustra
isso, de maneira mais específica, ao citar que a atividade exportadora de açúcar começou a
decrescer, a partir do século XVII, principalmente por conta da oferta desse produto oriundo das
colônias inglesas, holandesas e francesas, que acabavam oferecendo um acesso mais viável para
os mercados dos países colonizadores, mesmo com as melhorias tecnológicas oferecidas no Brasil.
Diante desse cenário, a lavoura cafeeira surgiu como uma espécie de salvadora das exportações
brasileiras e passou a exercer a responsabilidade pela acumulação capitalista, que será reinvestida
e direcionada posteriormente para o setor industrial. Observaremos com maior detalhamento como
se deu o ciclo do café no Brasil, a partir do século XVIII.

GÊNESE DA ECONOMIA CAFEEIRA


O café é um produto originário da região da Abissínia (Etiópia), e a sua chegada à América se deu a
partir do século XVIII. 

Inicialmente, o seu cultivo ocorreu no estado do Pará, expandindo-se, a partir do século XIX, para
outras regiões, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, por exemplo.
Segundo Baer (2002, p. 38), o café fora cultivado inicialmente como uma especialidade consumida
nas residências europeias. Com a melhoria dos padrões de vida na Europa e América do Norte,
houve uma intensificação do consumo desses produtos. O crescimento das exportações no século
XIX pode ser visualizado na Tabela 2, referente aos dados dessas exportações.

Como é possível notar, na década de 1820, a produção de café correspondeu a aproximadamente


19% do volume das exportações. No entanto, em 1891, houve um aumento significativo da
participação do café para patamares em torno de 63%.

Segundo Baer (2002, p. 38), até meados de 1880, boa parte do café brasileiro era cultivada nas
regiões Norte e Oeste do Rio de Janeiro, mais especificamente no Vale do Paraíba e na região do
Cantagalo. Era muito visível que as técnicas adotadas para a produção eram extremamente
rudimentares, pautadas em um modelo de trabalho escravista. É importante mencionar que,
antes da construção das estradas de ferro, todo o café era direcionado para o Porto do Rio de
Janeiro, por meio do transporte animal.

A partir do momento em que as terras consideradas férteis localizadas no Vale do Paraíba foram
ficando escassas, por volta do ano de 1890, houve uma mudança de localidade na produção do café
que, passou a ser direcionada para o Sul, São Paulo e o Oeste Paulista. O Quadro 5 apresenta
algumas diferenças com relação a essas regiões produtoras de café.

Na década de 1860, por meio do capital das técnicas inglesas de construção, a estrada de ferro foi,
enfim, introduzida. Essa ação provocou um crescimento na produção de café no estado de São
Paulo, entre as décadas de 1880 e 1890, quando o Porto de Santos passou a ser o centro
exportador mais importante do país.

É evidente que a expansão da lavoura cafeeira direcionada para o Oeste do estado de São Paulo
provocou uma onda crescente de desenvolvimento de diversas fazendas de café, ao mesmo tempo
em que se criavam monopólios econômicos e políticos nessa região. Nesse contexto, já começava a
ficar visível uma incidência maior de imigrantes europeus no cultivo da lavoura cafeeira, o que já
denotava a transição do trabalho escravocrata para o capitalista.

A origem e o uso do capital são os principais pontos discutíveis quando se trata de economia
cafeeira. Para Catani (1998, p. 63), os investimentos de capital, direcionados para as empresas
cafeeiras, originavam-se na acumulação capitalista interna gerada, por exemplo, pelo tráfico
negreiro. Diversos fatores foram fundamentais para a criação e desenvolvimento da economia
cafeeira, dos quais podemos frisar:

**A disponibilidade de terras;

**A oferta de mão de obra escrava.

Vamos analisar cada um deles. O Vale do Paraíba, como já mencionamos, era o símbolo inicial das
terras disponíveis para o cultivo de café, além da proximidade com os portos de embarque, o que
acabava barateando a produção. A mão de obra escrava era proveniente da região mineira, que se
caracterizava pelo abundante contingente humano.

Alguns estudiosos fazem um paralelo da economia cafeeira com a açucareira e deixam evidente que
as semelhanças existentes estão no modelo de trabalho escravo, ao menos nos primeiros anos de
desenvolvimento da economia cafeeira. Contudo, vale salientar que elas se diferenciavam por conta
do baixo nível de capitalização, ou seja, o café exigia o uso de equipamentos simples, enquanto o
açúcar demandava investimentos mais robustos.

Baer (2002, p. 39) cita que alguns importantes estudiosos da formação econômica do Brasil
conseguiram identificar de imediato o atraso do Brasil em relação à Europa e aos Estados Unidos.
Isso era fruto da posição privilegiada que a Inglaterra ocupou como fornecedora de bens
manufaturados ao território brasileiro e, principalmente, pela ausência de uma classe comercial
desenvolvida internamente capaz de fazer frente ao mercado europeu.

A expansão da lavoura cafeeira demandava a solução de uma série de questões. Vale ressaltar, por
exemplo, que no ano de 1844 foi instituída a tarifa Alves Branco, cuja finalidade era a de tributar
30% das mercadorias estrangeiras. Em forma de represália a essa tarifa, os britânicos instituíram o
Bill Aberdeen, que estabelecia a prisão de navios que traficassem negros escravos para o Brasil.
Tal medida impôs ao Brasil a instituição da Lei Eusébio de Queirós, em 1850, que proibia o tráfico
negreiro. Todo esse contexto interferiu na expansão cafeeira após 1850, já que ela demandava uma
mão de obra extensiva. Foi nesse cenário que surgiu a necessidade de transformar o trabalho
escravo em assalariado.

É preciso deixar claro que o Brasil, nessa época, dispunha de um número significante de mão de
obra livre, contudo, pobre, que poderia atender às demandas do setor cafeeiro, oriundas
principalmente da Região Nordeste. Entretanto não havia o interesse desses indivíduos em
promover a integração da economia cafeeira nacional, já que os mesmos possuíam a sua
subsistência assegurada por meio do cultivo direcionado para o próprio consumo.

Diante desse contexto é que a ideia de imigração passou a ganhar mais relevância para suprir a
falta de mão de obra, sendo que as primeiras experiências foram pautadas nas parcerias firmadas
entre os latifundiários e os colonos europeus. Entretanto, esse modelo fracassou, exatamente
por conta da mentalidade escravista imposta pelos fazendeiros, que impunham aos colonos uma
condição de vida degradante aliada a um sistema de semisservidão.

A partir do momento em que o Estado (1870) passou a assumir os custos referentes ao transporte
do imigrante, conjuntamente com os fazendeiros latifundiários é que o processo de migração passou
a ganhar mais relevância e intensidade. A ideia era de permitir a esse imigrante colono o cultivo de
produtos para sua própria subsistência além da lavoura cafeeira.

Você, caro leitor, visualizará que, a partir desse momento, o trabalho assalariado ganhou uma
relevância predominante, principalmente levando-se em consideração que o movimento abolicionista
ganhou força depois de 1870, até a libertação total dos escravos ocorrida em 1888, por meio da Lei
Áurea.

O desenvolvimento do capitalismo no Brasil teve uma grande influência da economia cafeeira,


sendo o surgimento do complexo cafeeiro, que gerou acumulação, fundamental para o
desenvolvimento industrial.

A emergência do trabalho assalariado


Segundo Mello (2009, p. 78), já é evidente o argumento de que a não competitividade da economia
escravista frente à economia capitalista não se justifica por conta da falta de proteção. O que se
observou, de fato, é que a industrialização capitalista estava impedida de se desenvolver pela falta
de uma população capaz de criar alternativas para a atividade industrial ou até mesmo de se
submeter a essas atividades.

É interessante verificar que havia homens disponíveis, mas não existia um mercado de trabalho
abundante para submetê-los ao capital, exatamente porque a maioria ainda se encontrava vinculada
ao modelo escravista. Havia uma carência muito significativa, por exemplo, de indivíduos detentores
dos meios de produção ou até mesmo de meios de subsistência.

Para ilustrar essa situação, Mello (2009, p. 79) cita que as grandes extensões de terra cuja atividade
econômica se dava pela exploração da agricultura mercantil-escravista geraram um cenário bem
definido: indivíduos destituídos dos meios produtivos, mas ao mesmo tempo detentores dessas
terras. Visto isso, a consequência observada foi a de que a concentração dos meios de produção
gerou uma sociedade com um conjunto de homens livres, mas expropriados, pois não conheciam os
rigores de um trabalho forçado.

O autor indica que a agricultura escravista, voltada para a exportação, alocava os homens livres à
margem da pobreza, exatamente porque não os deixava submissos ao capital, como um modelo
capaz de transformar trabalho em mercadoria. Como já discutimos, a quantidade abundante de
terras adotava o modelo escravista como uma forma de promover a acumulação primitiva para a
metrópole. Com esse cenário consolidado, a abundância de terras voltava a ser o fator principal para
evidenciar a emergência da produção capitalista.

Um ponto a ser observado é o fato de que, à medida que a economia mercantil-escravista se


expandia, era imposto aos homens livres e pobres a condição de ceder terrenos, muitas vezes se
deslocando para o interior ou em direção às faixas pouco aproveitadas pela produção mercantil. Isso
trazia um cenário cada vez mais notável de estagnação, já que esses trabalhadores mantinham a
sua produção de subsistência e pouco se afetavam com as crises cíclicas do capitalismo.

Como é possível verificar, o ponto central dessa questão estava nas condições de expropriação, que
revelava toda a oposição imposta ao latifundiário, a dispersão da economia de subsistência e a
complexidade dos transportes inter-regionais.

O mercado de trabalho não seria constituído, mesmo após a expropriação, se o nível de


concentração não fosse elevado. Diante de um cenário em que o trabalhador livre atuava em torno
da sua subsistência, Mello (2009, p. 81) sugere que o Estado seria o principal agente capaz de
submeter esses trabalhadores ao capital, certamente em uma condição em que os salários seriam
fixados por baixo, visando à formação do mercado de trabalho.
É importante ressaltar, caro leitor, que a industrialização capitalista só ocorreu no instante em
que a força de trabalho se transformou em mercadoria. No entanto, aliado a esse fator, outros
aspectos, como a capacidade de importação e a presença de uma indústria de bens de consumo,
foram fundamentais para a expansão desse modelo industrial.

Os caminhos para a industrialização estavam definidos, mas por que não foram implantados
imediatamente? Para Mello (2009, p. 81), a economia cafeeira ainda não encontrava condições de
apoiar-se no trabalho assalariado, principalmente por conta dos custos que isso representaria, além
da visão econômica imutável que pairava sobre os latifúndios cafeeiros naquele momento.

Certamente você, caro leitor, já começa a considerar que, diante desse impasse, a regressão da
economia cafeeira seria inevitável, entretanto, ocorreu o contrário. Ainda conforme o autor, o
processo de avanço e transição do modelo escravista para o capitalista se deu por conta da
introdução da estrada de ferro financiada pelo capital mercantil nacional e pelo capital inglês.

A figura do Estado passou a ser fundamental no momento em que concedeu garantias de juros
direcionados aos investimentos externos nas ferrovias, assegurando rentabilidade em longo prazo
desses investimentos.

EFEITOS DA INDÚSTRIA DE BENEFICIAMENTO


A indústria de beneficiamento provocou, de imediato, dois efeitos fundamentais: a redução da
exploração do trabalho escravo e, consequentemente, maior qualidade do produto, tornando-o
competitivo no mercado internacional. Toda essa indústria de beneficiamento, simbolizada pela
introdução das estradas de ferro, derrubou os obstáculos que impediram o desenvolvimento tanto do
ponto de vista da rentabilidade quanto da previsão dos lucros provenientes do investimento. Isso
indicava que a acumulação passaria a ter um planejamento ainda sob a égide do trabalho escravo,
levando em consideração os preços internacionais.

Segundo Mello (2009, p. 84), a quebra da safra brasileira e da América Central, aliada ao aumento
do consumo mundial de café, foi a grande responsável pelo aumento dos preços internacionais. É
possível notar, por exemplo, que em 1870 houve um crescimento relevante nos preços do
café devido a uma geada que assolou os cafeeiros brasileiros nesse período. 

A partir de 1870, o processo de beneficiamento do café por meio das máquinas, principalmente no
Oeste Paulista, contrastava com o do Vale do Paraíba, que se manteve estagnado, desencadeando
várias dificuldades financeiras.

É preciso compreender que o trabalho assalariado se concentrou em núcleos fundamentais, o que


acabou desencadeando problemas complexos. Devemos sempre observar que a transição do
escravismo para o capitalismo estimulou a acumulação, que, por sua vez, evidenciou a ausência de
mão de obra de maneira cada vez mais acentuada. Do ponto de vista econômico, o escravismo não
precisaria necessariamente se desintegrar como sistema, mas era notório que a sua permanência
fatalmente levaria ao impedimento da acumulação própria do capitalismo.

É importante lembrar que o modelo escravocrata, que durou quase quatro séculos, não seria abolido
de forma simples, até porque, para muitos latifundiários, a perspectiva da abolição era um símbolo
do último ativo financeiro que restasse, que eram os escravos. 

Além disso, o trabalho assalariado, de imediato, representava a introdução de novos custos


onerosos aos latifundiários no sentido de colonizar apenas para o capital, refutando a ideia de
povoamento, que também apresentava um grau de importância para o desenvolvimento do território
brasileiro.
Outra alternativa apresentada foi a parceria entre os latifúndios e os colonos estrangeiros, por meio
da qual estes eram contratados da Europa e direcionados para as fazendas cafeeiras. Toda viagem
era custeada pelo fazendeiro para posteriormente ser reposta com o trabalho do próprio colono. O
resultado alcançado foi um fracasso, pois as condições oferecidas em termos de trabalho e
habitação eram precárias e escravistas. Por outro lado, os fazendeiros questionavam a baixa
produtividade dos colonos.

Na verdade, os latifundiários almejavam transformar os colonos em proletários, e não em


concorrentes. Isso confrontava com os objetivos dos colonos que queriam se tornar donos da terra,
no futuro. Diante desse insucesso, a opção encontrada foi atrair os trabalhadores livres que se
encontravam na condição de pobreza para atuarem na empresa cafeeira, o que acabou sendo mais
vantajoso.

Perante esse cenário, a que conclusões podemos chegar? Segundo Mello (2009, p. 89), o trabalho
assalariado passou a ser dominante conforme a industrialização cafeeira se tornou mais
estabilizada. Além disso, foi possível verificar que o abolicionismo, que estava disseminado apenas
nas camadas urbanas, passou a ser difundido também na classe dominante da economia cafeeira. A
imigração e o processo abolicionista se tornaram concomitantes até a escravidão ser abolida, em
1888.

SINTETIZANDO
Esta unidade, ao tratar da crise econômica colonial brasileira, levou em consideração basicamente
dois aspectos: a formação dos Estados nacionais e o exclusivismo metropolitano, o que
simbolizou a mudança para a economia assalariada. Havia uma certa incerteza sobre quais rumos a
crise colonial brasileira iria seguir, mas o que se viu foi uma grande expansão da lavoura cafeeira e o
declínio, em médio e longo prazo, do modelo escravocrata mercantil.

Todas as crises, especialmente as que envolvem os modelos econômicos e políticos, têm como
base as suas origens históricas. Ao observarmos a crise do antigo sistema colonial, vamos entender
que existiu uma ligação direta com o surgimento do Iluminismo, que foi um movimento cultural
baseado no racionalismo progressista desenvolvido na Europa e que procurou romper os laços com
o pensamento medieval praticado até meados do século XVIII.

A França é considerada como um grande berço do Iluminismo, lembrando que as suas


características foram fundamentais para que uma onda de processos revolucionários em busca da
independência das colônias fosse cada vez mais frequente, como, por exemplo, as independências
do Brasil, dos Estados Unidos e das colônias espanholas. 

Dentro desse contexto, é importante mencionar que o desenvolvimento da economia cafeeira foi
fundamental para criar bases fortes, que desencadearam o processo de industrialização brasileira a
partir do século XX. A lavoura cafeeira encontrou no Sudeste brasileiro as condições fundamentais
para tornar o café o principal produto exportador, ao mesmo tempo em que promoveu a
interiorização no território brasileiro. 

É importante sempre mencionar que os demais produtos primários como o açúcar e o algodão, por
exemplo, ainda se mantiveram dentro da pauta de exportações brasileiras, contudo, com menor
relevância.

Todo esse cenário passou a ganhar condições de expansão no momento em que a emergência do
trabalho assalariado foi evidenciada, ou seja, no instante em que o modelo escravista de fato caiu
em desuso, dando espaço ao modelo em que a produtividade do trabalho assalariado se mostrava
maior. 

Você também pode gostar