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2. A Revolução de 1817
As ambiguidades da política joanina foram sentidas com particular intensidade no nordeste, onde os interesses colonialistas estavam
mais fortemente enraizados. Os comerciantes portugueses, instalados nos principais portos nordestinos, continuavam tão monopolistas como
antes. Tanto que os lucros produzidos nas áreas rurais continuaram a se transferir para os comerciantes.
Esse quadro se agravou por volta de 1817, com uma crise econômica que teve sua origem na queda do preço internacional do açúcar e
do algodão, principais produtos de exportação do nordeste.
Com isso, afloraram as tensões sociais. Contra os comerciantes portugueses protestavam os grandes senhores rurais e toda a massa
de homens livres não proprietários. Todos opunham-se ao domínio comercial, mas por motivos diferentes: enquanto para os grandes senhores a
questão era sobretudo política, uma vez que aspiravam à participação política e à liberdade econômica, para os homens livres não
proprietários era a própria sobrevivência que estava em jogo, pois o monopólio comercial português encarecia os gêneros de primeira
necessidade. Por isso, estes últimos tendiam a ser mais radicais e lutavam não só pelo fim do regime colonial, como também esperavam alterar a
própria ordem social da colônia em favor da maior igualdade entre seus membros.
3. A Elite Atuante
Constituiu-se por esse tempo uma elite atuante, formada no espírito do Areópago e disposta a colocar em prática as suas ideias. Entre as
figuras representativas, destacavam-se o padre João Ribeiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, ouvidor-mor de Olinda e irmão de José
Bonifácio, o erudito padre Miguelinho e o comerciante Domingos José Martins, que tramavam abertamente contra a opressão colonial. Participou
ainda Frei Caneca, que se tornaria célebre ao liderar, tempos depois, uma revolta contra D. Pedro I, a Confederação do Equador (1823-1 824).
4. A Eclosão da Revolta
Em 06 de março de 1817, depois de repetidas denúncias de conspiração, o governo resolveu agir, destacando o marechal José Roberto
para deter os civis envolvidos no movimento. O brigadeiro Barbosa de Castro e seu ajudante, tenente José Mariano de Albuquerque Cavalcanti,
encarregaram-se de reprimir o setor militar da revolta, mas foram mortos por um dos líderes da rebelião, o capitão José de Barros Lima, vulgo
Leão Coroado.
A ação do governo tinha a vantagem da surpresa, e por isso o movimento dos revoltosos poderia ter sido desmantelado. Contudo, a
inesperada resistência do setor militar da rebelião e a firme decisão de um de seus líderes rebeldes, o capitão Pedro Pedroso, fizeram o
movimento triunfar. O governador Caetano Montenegro, refugiado numa fortaleza, capitulou, assim como o marechal José Roberto, que teve a vida
poupada e regressou ao Rio de Janeiro.
4.3 A Propagação
A revolução pernambucana difundiu-se para outras regiões. Na Paraíba, em 16 de março, a revolução triunfou sob a liderança de Amaro
Gomes Coutinho. Em 28 de março, o senhor de engenho André de Albuquerque Maranhão venceu no Rio Grande do Norte. José Martiniano
de Alencar, pai do romancista José de Alencar, enviado como emissário para o Ceará, foi preso e conduzido a Salvador. O padre José Inácio
de Abreu e Lima, conhecido como padre Roma, chegou à Bahia como emissário, mas foi preso e fuzilado pelo governador D. Marcos Noronha
e Brito, conde dos Arcos.
Com a preocupação de obter apoio internacional, emissários foram enviados também para o exterior. Antônio Gonçalves da Cruz, vulgo
Cabugá e Domingos Pires Ferreira foram para os Estados Unidos pedir auxílio e oferecer aos comerciantes norte-americanos, por vinte anos,
os gêneros de Pernambuco, livres de direitos. Félix Tavares de Lima foi mandado para a Argentina e o negociante inglês Kesner foi mandado
para a Inglaterra a fim de conseguir a adesão de Hipólito José da Costa, do Correio Braziliense.
4.4 A Repressão
Na Bahia, tão logo se soube da rebelião, o governador, conde dos Arcos, montou a repressão por terra e por mar. D. João, por sua vez,
dirigiu pessoalmente os preparativos da tropa a ser comandada pelo coronel Luís do Rego Barreto, futuro governador de Pernambuco. A onda
repressora abrangeu Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba. Em Pernambuco, o bloqueio forçou a formação de um governo revolucionário de
caráter ditatorial, com plenos poderes conferidos a Domingos Teotônio Jorge, a fim de resistir à repressão. Contudo, no dia 19 de maio de 1817,
a resistência dos rebeldes foi suplantada.
4.5 As Punições
As punições foram rigorosas: Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e padre Miguelinho foram fuzilados em Salvador. No
Recife, a comissão militar presidida por Luís do Rego Barreto condenou à forca quatro rebeldes.
Em 1818, D. João ordenou o encerramento da devassa, libertando aqueles sem culpa formada. Os 117 prisioneiros restantes na Bahia foram
anistiados após a Revolução do Porto (1820).
6. O Brasil e as Cortes
A Revolução do Porto recebeu adesão imediata em todo o Brasil. Com o seu triunfo, porém, anulava-se a possibilidade de reunir uma
assembleia brasileira (Cortes) no Rio de Janeiro, como pretendia D. João VI, pois toda a competência legislativa retomava para Lisboa. Assim o
decreto régio de 07 de março de 1821 pelo qual o rei determinou seu próprio regresso a Portugal, estipulou também a eleição de deputados
brasileiros que seriam enviados às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da nação portuguesa.
As eleições foram realizadas e, em agosto de 1821, os primeiros deputados brasileiros começaram a chegar a Lisboa. Eram todos da camada
dominante e a eles não havia ocorrido ainda a ideia de separação do Brasil, embora permanecessem dispostos a defender as conquistas obtidas
durante o governo de D. João VI. O caráter constitucionalista da Revolução do Porto, deu à camada senhorial e aliados à ilusão de poder
consolidar definitivamente a liberdade de comércio e a autonomia administrativa, por meio de seus representantes nas Cortes de Lisboa.