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História para o Concurso de Admissão ao Curso de Formação de Sargentos do Exército (EsSa)

A Revolução de 1817 e a Revolução Liberal do Porto de 1820

1. Reações à política de D. João


Com a abertura dos portos, os proprietários brasileiros conquistaram a almejada liberdade econômica, e com a elevação à categoria
de Reino Unido, o Brasil deixava de ser formalmente, uma colônia. O que isso de fato representou para os diferentes segmentos sociais? Essas
medidas afetavam da mesma maneira as diferentes camadas sociais e as diferentes regiões?
Para o homem comum nada mudou. Em geral, sua situação era de fragilidade diante das autoridades e dos ricos senhores de terras.
Para os escravos, tudo continuou como antes. Quanto aos grandes proprietários escravistas, embora beneficiados pela abertura dos portos,
permaneciam tão afastados das decisões políticas como antes. Eles continuavam dependentes dos comerciantes portugueses, como sempre
haviam sido.
É necessário considerar ainda um outro ponto: com exceção do Rio de Janeiro, para as demais províncias do Brasil não havia muita
diferença em ser governadas de Lisboa ou do Rio de Janeiro. A vinda da família real não tinha alterado a situação. Ao contrário, para algumas
províncias a exploração parecia ter aumentado. Esses foram alguns dos fatores que desencadearam em 1817, no nordeste, uma revolução de
caráter anticolonial e separatista.
Três anos depois, em 1820, uma outra revolução eclodiria em Portugal, por razões inversas. Muito embora as medidas de D. João no
Brasil fossem consideradas insuficientes para os brasileiros, em Portugal elas foram consideradas excessivas, pois os comerciantes haviam perdido
a vantagem do “exclusivo” metropolitano.
Apesar de motivadas por razões opostas, as duas revoluções inspiravam-se no liberalismo: a do nordeste definiu-se predominantemente
como anticolonialista; e a de Portugal, como antiabsolutista e, ao mesmo tempo, recolonizadora.

2. A Revolução de 1817
As ambiguidades da política joanina foram sentidas com particular intensidade no nordeste, onde os interesses colonialistas estavam
mais fortemente enraizados. Os comerciantes portugueses, instalados nos principais portos nordestinos, continuavam tão monopolistas como
antes. Tanto que os lucros produzidos nas áreas rurais continuaram a se transferir para os comerciantes.
Esse quadro se agravou por volta de 1817, com uma crise econômica que teve sua origem na queda do preço internacional do açúcar e
do algodão, principais produtos de exportação do nordeste.
Com isso, afloraram as tensões sociais. Contra os comerciantes portugueses protestavam os grandes senhores rurais e toda a massa
de homens livres não proprietários. Todos opunham-se ao domínio comercial, mas por motivos diferentes: enquanto para os grandes senhores a
questão era sobretudo política, uma vez que aspiravam à participação política e à liberdade econômica, para os homens livres não
proprietários era a própria sobrevivência que estava em jogo, pois o monopólio comercial português encarecia os gêneros de primeira
necessidade. Por isso, estes últimos tendiam a ser mais radicais e lutavam não só pelo fim do regime colonial, como também esperavam alterar a
própria ordem social da colônia em favor da maior igualdade entre seus membros.

2.1 O Quadro Ideológico


A Revolução de 1817, apesar dos fatores específicos apontados, não foi um acontecimento isolado. Ela se inspirou na corrente do
pensamento iluminista e liberal, tal como acontecia, nesse mesmo período, com a luta pela independência na América espanhola e com as
revoluções burguesas contra o Antigo Regime na Europa.
Um importante propagador do pensamento iluminista em Pernambuco, no final do século XVIII, foi o padre Manuel de Arruda Câmara,
nascido em 1752 e formado em medicina em Montpeilier, na França. O padre João Ribeiro, que participaria da Revolução de 1817, era um de
seus principais discípulos.

2.2 O Aerópago de Itambé


Ao padre Arruda Câmara deveu-se, aparentemente a fundação de uma sociedade secreta, o Areópago de Itambé, em fins do século
XVIII, com às mesmas características das lojas maçônicas que apareceram posteriormente. O Areópago de Itambé foi um centro de propagação
de ideais anticolonialistas e, ao contrário da maçonaria, não admitia europeus em seus quadros.

2.3 O Seminário de Olinda


Outro importante foco de propagação dos ideais emancipacionistas foi o Seminário de Olinda, fundado pelo bispo D. José da Cunha
de Azevedo Coutinho em 16 de fevereiro de 1800. Um de seus membros, o padre Miguel Joaquim de Almeida Castro, conhecido como padre
Miguelinho, foi um dos participantes da Revolução de 1817. Isso demonstra que, se a Igreja era atrelada à Coroa, nem sempre o clero se
subordinava a essa situação.

2.4 A Conspiração dos Suassunas


Expressando os ideais liberais em Pernambuco, ocorreu em 1801 a conspiração dos Suassunas que, entre outras coisas, se identificava
com a França revolucionária, em especial a napoleônica. Encontravam-se aqui os germes da Revolução de 1817.
Os principais líderes da conspiração foram três irmãos, Francisco de Paula, Luís Francisco de Paula e José Francisco de Paula Cavalcanti e
Albuquerque, sendo o primeiro o dono do engenho Suassuna, nome pelo qual ficou conhecida a conspiração. Esse episódio é pouco conhecido
por não ter ultrapassado o plano das tramas e porque a devassa ocorreu sigilosamente, dada à importância dos implicados. Contudo, o fracasso
da conspiração trouxe consequências imediatas, como o fechamento do Areópago de Itambé em 1802. No entanto, ele ressurgiu em seguida com
o nome de Academia dos Suassunas, cuja sede era o próprio engenho dos antigos inconfidentes desde 1801.
Apesar da repressão, o espírito de contestação, difundido pelas sociedades secretas e pelo Seminário de Olinda, cresceu com novos e
numerosos adeptos.

3. A Elite Atuante
Constituiu-se por esse tempo uma elite atuante, formada no espírito do Areópago e disposta a colocar em prática as suas ideias. Entre as
figuras representativas, destacavam-se o padre João Ribeiro, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, ouvidor-mor de Olinda e irmão de José
Bonifácio, o erudito padre Miguelinho e o comerciante Domingos José Martins, que tramavam abertamente contra a opressão colonial. Participou
ainda Frei Caneca, que se tornaria célebre ao liderar, tempos depois, uma revolta contra D. Pedro I, a Confederação do Equador (1823-1 824).

4. A Eclosão da Revolta
Em 06 de março de 1817, depois de repetidas denúncias de conspiração, o governo resolveu agir, destacando o marechal José Roberto
para deter os civis envolvidos no movimento. O brigadeiro Barbosa de Castro e seu ajudante, tenente José Mariano de Albuquerque Cavalcanti,
encarregaram-se de reprimir o setor militar da revolta, mas foram mortos por um dos líderes da rebelião, o capitão José de Barros Lima, vulgo
Leão Coroado.
A ação do governo tinha a vantagem da surpresa, e por isso o movimento dos revoltosos poderia ter sido desmantelado. Contudo, a
inesperada resistência do setor militar da rebelião e a firme decisão de um de seus líderes rebeldes, o capitão Pedro Pedroso, fizeram o
movimento triunfar. O governador Caetano Montenegro, refugiado numa fortaleza, capitulou, assim como o marechal José Roberto, que teve a vida
poupada e regressou ao Rio de Janeiro.

4.1 O Governo Provisório


No dia 07 de março de 1817 (no dia seguinte à inesperada resistência militar) os rebeldes formaram o governo provisório, constituído
da seguinte maneira: Manoel Correia de Araújo como representante da agricultura; Domingos José Martins, do comércio; padre João Ribeiro,
do clero; José Luís de Mendonça, da magistratura; Domingos Teotônio Jorge, das Forças Armadas.
Esse primeiro governo, composto pela elite colonial dominante, era secretariado pelo padre Miguelinho e auxiliado por José Carlos
Mayrink da Silva Ferrão. Foi criado um Conselho de Estado, constituído pela elite intelectual pernambucana. Instalou-se um governo
republicano, adotou-se uma bandeira, substituiu-se o tratamento pessoal tradicional pelo de “patriota” e “vós”, numa consciente imitação da
Revolução Francesa, decretaram a extinção de impostos, liberdade de imprensa e de religião e a igualdade entre os cidadãos. E elaborou- se
uma Lei Orgânica, de maneira que legalizasse o novo governo.

4.2 A Lei Orgânica


As aspirações revolucionárias foram incorporadas à Lei Orgânica. Esse documento tratava dos seguintes itens, entre outros: liberdade de
consciência (proibido a todos os patriotas inquietar e perseguir alguém por motivo de consciência); liberdade de imprensa, ressalvando os
ataques à religião e à Constituição; tolerância religiosa, muito embora a religião católica fosse reconhecida como oficial e seu clero “assalariado
pelo Estado”; os estrangeiros aqui estabelecidos, que dessem provas de adesão, seriam considerados “patriotas”; e o governo provisório
duraria até a elaboração da Constituição do Estado por uma Assembleia Constituinte, a ser convocada dentro de um ano.
Além do que ficou estabelecido na Lei Orgânica, várias outras medidas de caráter popular foram tomadas, como abolição dos tributos que
oneravam os gêneros de primeira necessidade. Porém, a questão da escravidão não foi levada em conta, o que gerou lutas internas entre os
revoltosos, mostrando os limites do liberalismo no Brasil.
A Lei Orgânica, publicada pelo governo republicano como se fosse esboço da constituição, destacava a igualdade de direitos e também a
garantia da propriedade privada, inclusive de escravos, o que tranquilizava a elite local, mas descontentava alguns de seus líderes mais radicais
que defendiam o fim da escravidão.

4.3 A Propagação
A revolução pernambucana difundiu-se para outras regiões. Na Paraíba, em 16 de março, a revolução triunfou sob a liderança de Amaro
Gomes Coutinho. Em 28 de março, o senhor de engenho André de Albuquerque Maranhão venceu no Rio Grande do Norte. José Martiniano
de Alencar, pai do romancista José de Alencar, enviado como emissário para o Ceará, foi preso e conduzido a Salvador. O padre José Inácio
de Abreu e Lima, conhecido como padre Roma, chegou à Bahia como emissário, mas foi preso e fuzilado pelo governador D. Marcos Noronha
e Brito, conde dos Arcos.
Com a preocupação de obter apoio internacional, emissários foram enviados também para o exterior. Antônio Gonçalves da Cruz, vulgo
Cabugá e Domingos Pires Ferreira foram para os Estados Unidos pedir auxílio e oferecer aos comerciantes norte-americanos, por vinte anos,
os gêneros de Pernambuco, livres de direitos. Félix Tavares de Lima foi mandado para a Argentina e o negociante inglês Kesner foi mandado
para a Inglaterra a fim de conseguir a adesão de Hipólito José da Costa, do Correio Braziliense.

4.4 A Repressão
Na Bahia, tão logo se soube da rebelião, o governador, conde dos Arcos, montou a repressão por terra e por mar. D. João, por sua vez,
dirigiu pessoalmente os preparativos da tropa a ser comandada pelo coronel Luís do Rego Barreto, futuro governador de Pernambuco. A onda
repressora abrangeu Alagoas, Rio Grande do Norte e Paraíba. Em Pernambuco, o bloqueio forçou a formação de um governo revolucionário de
caráter ditatorial, com plenos poderes conferidos a Domingos Teotônio Jorge, a fim de resistir à repressão. Contudo, no dia 19 de maio de 1817,
a resistência dos rebeldes foi suplantada.

4.5 As Punições
As punições foram rigorosas: Domingos José Martins, José Luís de Mendonça e padre Miguelinho foram fuzilados em Salvador. No
Recife, a comissão militar presidida por Luís do Rego Barreto condenou à forca quatro rebeldes.
Em 1818, D. João ordenou o encerramento da devassa, libertando aqueles sem culpa formada. Os 117 prisioneiros restantes na Bahia foram
anistiados após a Revolução do Porto (1820).

5. A Revolução Liberal do Porto (1820)


Desde a transferência da Corte para o Brasil, Portugal vivia uma situação incômoda: em 1808, foi invadido pelo exército de Napoleão;
posteriormente, com a expulsão dos franceses, passou a viver diretamente sob a tutela inglesa. Até 1820, Portugal foi governado por lorde
Beresford.

5.1 Razões da Revolução


A ambiguidade política de D. João contribuía para manter aquela situação anormal, pois, mesmo após a libertação de Portugal do domínio
napoleônico, o soberano continuava no Brasil. Além disso, as medidas de D. João que deram ampla liberdade econômica ao Brasil estavam
causando sérios prejuízos ao comércio português, levando a economia a uma situação crítica. Esse quadro, em meio a um cenário europeu de
movimentos liberais, propiciou a eclosão do movimento.
Coube a Manuel Fernandes Tomás a liderança do movimento. Na cidade do Porto, em 1818, criou uma associação liberal, inspirada
no exemplo da Revolução Francesa, que contava com a participação de treze membros e recebeu o nome de Sinédrio. Em fins de 1820, além de
militares, reunia também membros do clero.
Em 24 de agosto de 1820, tendo já lançado um manifesto à nação, de autoria de Fernandes Tomás, os rebeldes formaram um governo:
a junta Provisional do Governo Supremo do Reino. A revolução, de início limitada ao Porto, chegou a Lisboa, tornando-se um movimento
nacional.

5.2 Repercussão do Movimento no Brasil


A notícia dos acontecimentos do Porto chegou ao Rio de Janeiro em outubro de 1820. No mês seguinte, D. João tomou conhecimento
da adesão de Lisboa. A revolta era mais grave do que se supunha. O rei e seus ministros discutiram o que fazer. D. João oscilava entre o que
pensavam dois dos seus principais conselheiros, Tomás Antônio de Vila Nova Portugal e Pedro de Sousa Holstein, conde de Palmela. O primeiro
opunha-se irredutivelmente às Cortes e defendia a partida do príncipe D. Pedro para Portugal, a fim de acalmar os ânimos. O segundo era
simpático às Cortes e defendia o retorno do próprio rei.
Enquanto nada era decidido, a revolução repercutia no Brasil. Em primeiro lugar, deu-se a adesão do Pará, aos gritos de “Viva a
Constituição!”. Depois, foi à vez da Bahia: “Abaixo o Absolutismo!”. Em Salvador, o entusiasmo chegou às ruas, destacando-se a atuação de
Cipriano Barata, com o seu jornal As Sentinelas. Formou-se assim, rapidamente, uma Junta Governativa e o governador da Bahia retirou-se para o
Rio de Janeiro. Entusiasticamente, a Junta jurou fidelidade à Constituição, que ainda seria elaborada em Lisboa. A futura Carta Constitucional
certamente colocaria limites aos poderes do monarca e, esperava-se, asseguraria maior representação política dos colonos.
Da Bahia, a agitação chegou ao Rio de Janeiro. D. João temeu perder o controle da situação e resolveu agir: por meio de um decreto,
datado de fevereiro de 1821, determinou que o príncipe real D. Pedro fosse enviado a Portugal, “para ouvir as representações e queixas dos
povos e para estabelecer as reformas, melhoramentos e leis que possam consolidar a Constituição portuguesa”. O mesmo decreto criou uma
comissão de vinte membros, quase todos brasileiros, para exprimir os interesses específicos do Brasil.
O decreto descontentou os colonialistas portugueses, que desejavam o retorno do próprio rei e recusavam a autonomia concedida por
D. João ao Brasil. A guarnição militar do Rio, fiel às Cortes, opôs- se ao decreto. A oposição ao rei cresceu do lado “português”, sob a iniciativa
de um padre, Marcelino José Alves Macamboa, que liderou uma manifestação pública de apoio às Cortes.
Na manhã de 26 de fevereiro de 1821, na praça do Rossio (hoje Tiradentes), civis e militares reuniram-se sob o comando do brigadeiro
Francisco Joaquim Carreti para exigir do rei o juramento à Constituição. D. Pedro compareceu à manifestação e tentou acalmar a situação, porém
Macamboa fez o príncipe real levar ao conhecimento do rei que o povo exigia o juramento à Constituição e a reforma do ministério, fazendo-o também
portador de uma lista de nomes. D. João, a conselho de Tomás Antônio, atendeu às exigências de Macamboa.

5.3 A Vitória Constitucionalista e o Retorno de D. João


Finalmente, sem outra alternativa, D. João VI cedeu às pressões das Cortes de Lisboa e partiu para Portugal em 26 de abril de 1821,
nomeando como regente do Brasil seu filho e herdeiro, D. Pedro.

6. O Brasil e as Cortes
A Revolução do Porto recebeu adesão imediata em todo o Brasil. Com o seu triunfo, porém, anulava-se a possibilidade de reunir uma
assembleia brasileira (Cortes) no Rio de Janeiro, como pretendia D. João VI, pois toda a competência legislativa retomava para Lisboa. Assim o
decreto régio de 07 de março de 1821 pelo qual o rei determinou seu próprio regresso a Portugal, estipulou também a eleição de deputados
brasileiros que seriam enviados às Cortes Gerais Extraordinárias e Constituintes da nação portuguesa.
As eleições foram realizadas e, em agosto de 1821, os primeiros deputados brasileiros começaram a chegar a Lisboa. Eram todos da camada
dominante e a eles não havia ocorrido ainda a ideia de separação do Brasil, embora permanecessem dispostos a defender as conquistas obtidas
durante o governo de D. João VI. O caráter constitucionalista da Revolução do Porto, deu à camada senhorial e aliados à ilusão de poder
consolidar definitivamente a liberdade de comércio e a autonomia administrativa, por meio de seus representantes nas Cortes de Lisboa.

6.1 A Tentativa Recolonizadora


As Cortes, no entanto, definiram aos poucos sua posição em relação ao Brasil, deixando claro que o objetivo era a recolonização. Dois
aspectos atraíram particularmente a atenção das Cortes: a penetração inglesa e a autonomia administrativa do Brasil.
A partir de junho de 1821, a orientação recolonizadora começou a ganhar força nas Cortes. Em relação à Inglaterra, tratou-se de
anular os privilégios concedidos em 1810. Em relação à autonomia administrativa, as Cortes declararam os governos provinciais independentes do
Rio de Janeiro, com a finalidade de subordiná-los diretamente. Também foi decidida a transferência para Lisboa do Desembargo do Paço, da Mesa
da Consciência e Ordens, do Conselho da Fazenda, da Junta do Comércio e da Casa de Suplicação, ou seja, de todo o aparato administrativo
que conferia ao Brasil a condição de sede do Reino.

6.2 O Partido Português


Em virtude da tentativa recolonizadora das Cortes, as posições políticas se dividiram no Brasil. Formou-se o “partido português”, integrado
por um setor da burocracia (altos funcionários públicos) apoiado pelas guarnições militares, que eram favoráveis à política das Cortes de
Lisboa. Os grandes comerciantes portugueses também integravam esse grupo, mas por razões diferentes.
Com a abertura dos portos, o comércio externo caíra nas mãos dos ingleses, forçando os comerciantes portugueses a optar pelo comércio
interno e limitar suas operações externas aos domínios do império português. Em razão disso, a recolonização proposta pelas Cortes não
chegava a ser atraente para esse grupo. Como a atividade comercial em quase todos os segmentos estava sob controle de portugueses, o choque de
interesses com os produtores rurais ou com os consumidores brasileiros era inevitável. Na venda de seus produtos para os comerciantes, por exemplo,
nem sempre os produtores rurais ficavam satisfeitos com o preço oferecido; como devedores de empréstimos feitos por financistas ou
comerciantes portugueses, eles se queixavam dos altos juros; e, como devedores de adiantamentos feitos pelos mesmos portugueses,
reclamavam dos preços ínfimos pagos pela produção futura. Além disso, os consumidores brasileiros não estavam satisfeitos com os preços
cobrados pelos lojistas portugueses, e assim por diante.
É ocorrência normal de mercado que produtores e comerciantes se dediquem, cada qual, a defender os próprios interesses, o mesmo
acontecendo entre comerciantes e consumidores. Porém, dado o momento excepcional que se vivia no Brasil, esse conflito meramente econômico
traduziu-se em oposição política entre portugueses e brasileiros.

6.3 O Partido Brasileiro


Em oposição ao partido português, constituiu-se o “partido brasileiro”, integrado principalmente pela aristocracia rural (grandes
proprietários escravistas). Seus membros defendiam a manutenção da liberdade econômica e da autonomia administrativa conquistadas
durante o período joanino. Assim, a separação de Portugal não fazia parte dos seus planos.

6.4 Divergências e Convergências


Apesar do nome, o partido português não era composto exclusivamente de portugueses, da mesma forma que o partido brasileiro
não era integrado somente por brasileiros. No partido brasileiro, havia também portugueses e até ingleses e franceses. Em essência, esses dois
partidos representavam correntes colonialistas (partido português) e anticolonialistas (partido brasileiro).
Existia, contudo, um ponto em que os dois partidos estavam de acordo: nenhum deles colocava em questão a estrutura escravista da
sociedade colonial, nem era favorável a um sistema político com participação popular. Em contraposição a ambos, surgiu uma outra corrente: a
dos liberais radicais, integrada pelas camadas urbanas, representadas pelos profissionais liberais, médicos, professores, jornalistas, pequenos
comerciantes, padres, entre outros. Com essa tendência, identificavam-se certas facções da aristocracia rural, particularmente da região nordestina,
que tinham perdido a liderança para os grandes proprietários do sudeste (Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo). Do ponto de vista geral, eram
essas as principais forças presentes no momento da ruptura colonial.

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