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A INFLUÊNCIA DA MAÇONARIA

NA INDEPENDÊNCIA DO
BRASIL
 “A verdadeira Historia que não se vê nos livros de Historias, e em salas de
aulas, a maçonaria pujante, organizada e seus grandes lideres que
protagonizaram a mais bela pagina de nossa historia, e alguns de seus ilustres
“ atores” a começar pelo Ilustre irmão Jose Joaquim das Silva Xavier “
Tiradentes” com seus ideais de Liberdade, seguindo seus nobres irmãos os
Senhores, o Sr. Joaquim Gonçalves Ledo, Sr. Jose Bonifácio de Andrada e
Silva, Sr. Jose Joaquim da Rocha, e muitos outros”.
“Laços fora, soldados! Pelo meu sangue, pela minha honra, juro fazer a liberdade
do Brasil. Independência ou morte!”

 Esta proclamação – feita por Dom Pedro às margens do Ipiranga, às 16h30 de 7 de


setembro de 1822, em meio às espadas erguidas dos militares que o acompanhavam –
parece lembrar claramente um juramento maçônico. Na verdade, o que comemoramos a
cada 7 de setembro não é exatamente a independência do País, mas o compromisso solene
do príncipe Pedro com nosso povo. A independência política – destituída da ideia de
completa separação de Portugal – havia sido anunciada oficialmente um mês antes, em
agosto.
 A independência brasileira foi resultado direto da ação do movimento maçônico. As
organizações autônomas baseadas na tradição da maçonaria são fraternidades secretas ou semi-
secretas que realizam reuniões ritualísticas. Elas buscam o aperfeiçoamento do ser humano
através da vivência da fraternidade universal, da liberdade de consciência e da ruptura dos
dogmas religiosos. Mas, como todo movimento baseado na liberdade de pensamento, as
organizações maçônicas divergiam bastante umas das outras e deixavam à mostra as incoerências
humanas, vaidades pessoais e lutas de poder dos seus integrantes, entre os quais estavam alguns
do principais líderes das campanhas pela independência dos países latino-americanos e dos
Estados Unidos, e dirigentes de revoluções liberais da Europa desde o século 18.
 Para que se compreenda o processo da independência política do Brasil, é preciso ter claro –
como destaca o historiador Caio Prado Júnior – que as monarquias de Portugal e Espanha
estavam decadentes desde o século 17.
 No século 18, a Espanha foi buscar apoio na França, enquanto Portugal se amparava na
Inglaterra. A disputa entre Portugal e Espanha – grandes potências coloniais com economias
pré-industriais e atrasadas – era, na verdade, um reflexo da briga entre Inglaterra e França,
as grandes potências mundiais da época.
 A maçonaria, com sua diversidade natural, também expressava essas contradições políticas,
econômicas e estratégicas. Na Inglaterra, os maçons defendiam a monarquia constitucional e
serviam como uma ponta de lança da influência britânica sobre o mundo. Essa idéia de
monarquia acabou dominando os primeiros tempos da independência brasileira. Mas na
França, como nos Estados Unidos (que fizeram sua independência a partir de 1776), os
maçons defendiam o regime republicano, e divulgaram essa idéia por todo o mundo desde a
revolução começada em 1789 com a tomada da Bastilha. O ideário republicano dessas
correntes maçônicas teve conseqüências decisivas para os países da América espanhola.
 Um dos motivos pelos quais a ação dos maçons da Inglaterra era mais moderada no começo do
século 19 surgia do fato de que lá não havia sido necessária, no século 18, a violência da
Revolução Francesa. Desde os tempos de Francis Bacon, a influência rosacruz e maçônica era
bem maior e mais forte na Inglaterra, tornando a aceitação das idéias liberais algo natural. Já na
França, as elites se haviam negado a aceitar qualquer modernização, apesar dos esforços de
grandes maçons, e de sábios notáveis como Alessandro Cagliostro e o conde de Saint-Germain
na segunda metade do século 18. A influência dogmática do Vaticano, muito forte na França, era
pequena na Inglaterra. A irresponsabilidade cega das elites levou ao banho de sangue da
Revolução Francesa.
 Essa diferença entre as maçonarias francesa e inglesa explica, em grande parte, as lutas
entre José Bonifácio, maçom moderado e monarquista constitucional, e a maior parte do
movimento maçônico brasileiro, que era mais radical, principalmente no plano verbal, e tinha
forte tendência republicana.
 Até alguns anos atrás, Bonifácio era considerado traidor da causa da independência brasileira em meios
maçônicos. A partir dos anos 1980, historiadores como José Castellani passam a fazer justiça ao “Patriarca da
Independência”. Por outro lado, a historia oficial tem ignorado o papel fundamental do líder maçônico
Joaquim Gonçalves Ledo em nossa independência – porque Ledo, republicano e mais exaltado, era
adversário de Bonifácio. Hoje, as informações disponíveis já permitem uma posição equilibrada, capaz de
reconhecer tanto o valor de Gonçalves Ledo como o de José Bonifácio.
 Não há dúvida de que os maçons republicanos foram influentes desde o começo do Brasil. Na Inconfidência
Mineira, de inspiração claramente maçônica, Tiradentes e seus companheiros sonhavam com a República.
A bandeira do movimento era um triângulo, símbolo maçônico, com a inscrição “Liberdade Ainda que Tardia”.
Os iniciadores do movimento haviam sido admitidos pela maçonaria francesa e estavam entusiasmados pela
independência dos Estados Unidos. O movimento foi descoberto e seus integrantes passaram a ser presos a
partir de maio de 1789. Antes de morrer na forca e ter seu corpo esquartejado em 21 de abril de 1792,
Tiradentes declarou:
 “Se eu tivesse dez vidas, eu daria todas elas para que os meus companheiros não sofressem nada.”
 Na verdade, a Inconfidência Mineira não estava ligada diretamente à maçonaria, embora tenha sido
inspirada pelo ideal maçônico. A primeira associação maçônica no Brasil – que ainda não era uma loja
regular – foi fundada em Pernambuco pelo botânico Manoel de Arruda Câmara, em 1796, e ficou
conhecida como o “Aerópago de Itambé”.
 Foi devido à influência do Aerópago que eclodiu em 1817 a Revolução Pernambucana, liderada por
diversos maçons e cujo ideal era, também, republicano. O movimento depôs o governador e proclamou a
República em 6 de março de 1817, resistindo pouco menos de três meses até ser derrotado pelas tropas
imperiais. Seus principais líderes foram enforcados, com a exceção de Frei Caneca, também maçom, que
sobreviveu e iria mais tarde liderar com bravura a Confederação do Equador, em 1824.
 A revolução de 1817 inicia a contagem regressiva para a independência política. Em 30 de março de
1818, o rei português Dom João VI – que viera para o Brasil em 1808, com sua corte de dez mil pessoas,
fugindo das tropas de Napoleão – assinava documento proibindo o funcionamento de sociedades secretas:
 “Eu El-Rei faço saber (…) que se tendo verificado pelos acontecimentos que são bem notórios o excesso
de abuso a que têm chegado as sociedades secretas (…) sou servido declarar por criminosas e proibidas
todas e quaisquer sociedades secretas de qualquer denominação que sejam…”
 Mas o avanço das idéias liberais, estimulado no mundo inteiro pelas maçonarias inglesa e francesa, já era
inevitável. Os velhos regimes coloniais e as monarquias absolutistas estavam com os dias contados. Em
Portugal, a revolução liberal de 1820 alterou radicalmente a situação e as Cortes (parlamento)
portuguesas passaram a pressionar Dom João VI. Quando finalmente o rei deixou o Brasil e voltou para
Lisboa, em abril de 1821, as Cortes pretendiam fazer a sociedade brasileira voltar à situação de simples
colônia, depois de haver sido sede do Império, e isso acelerou a ruptura.
 O príncipe regente Dom Pedro fora aconselhado por seu pai a chefiar a independência caso esta fosse
inevitável. Em 9 de janeiro de 1822, ele cedeu a um movimento organizado por José Joaquim da
Rocha e outros maçons e desobedeceu os decretos 124 e 125 das Cortes portuguesas, que alteravam a
estrutura administrativa do Brasil e mandavam que o príncipe regente voltasse imediatamente a Portugal.
“Diga ao povo que fico”, anunciou Dom Pedro, firmando uma aliança com
os maçons.

 Em 13 de maio, a loja maçônica “Comércio e Artes” deu a Dom Pedro o título de


“Defensor Perpétuo do Brasil”. Crescia a influência de Joaquim Gonçalves Ledo. Poucos
dias depois, José Bonifácio assumiu o cargo de ministro do Interior e do Exterior.
 Nascido em Santos (SP) em 13 de junho de 1763, Bonifácio era um homem de cultura
extraordinária. Viajara por toda Europa e pertencia a diversas entidades científicas, tendo
descrito 12 novos minerais. Falava e escrevia francês, inglês, alemão, grego e latim.
Tinha uma percepção profundamente ética da vida. Defendia a reforma agrária, a
preservação do meio ambiente e a abolição gradual da escravatura, e isso lhe deu
numerosos inimigos, inclusive entre os maçons republicanos. Bonifácio tinha uma visão
de estadista. Olhava a longo prazo. Através da monarquia, pretendia preservar a unidade
cultural e política do Brasil, ao contrário do que acontecia na América espanhola, que era
republicana, mas que se esfacelava em pequenos países.
 Joaquim Gonçalves Ledo, nascido no Rio de Janeiro em 1781, estudou medicina em Coimbra, mas voltou ao Brasil
antes de terminar o curso, colocando-se em pouco tempo à frente da luta pela independência e fazendo da
maçonaria o centro das novas idéias. Em setembro de 1821 fundou o jornal Revérbero Constitucional Fluminense,
que teve grande influência no surgimento de uma consciência nacional brasileira. Em 1821, liderou uma revolta
republicana fracassada; no ano seguinte, estabeleceu aliança com Dom Pedro e José Bonifácio em torno de uma
independência com monarquia, embora houvesse um grande número de republicanos entre os maçons.
 Em 2 de junho de 1822, meses depois do Dia do Fico, Bonifácio criou o Apostolado, organização semelhante à
maçonaria, e nomeou Dom Pedro como seu chefe, com o título de “arconte-rei”. Meses antes do dia sete de
setembro, um dos lemas do “Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz” era, significativamente,
“Independência ou Morte”. Como parte do juramento prestado ao ingressar na ordem, cada novo membro do
apostolado dizia:
 “Juro promover, com todas as minhas forças e a custo da minha vida e riqueza materiais, a integridade, a
independência e a felicidade do Brasil, como império constitucional, opondo-me tanto ao despotismo que o altera
como à anarquia que o dissolve. Assim Deus me ajude.”
 As palavras do grito do Ipiranga, em 7 de setembro, seriam, mais tarde, praticamente uma
renovação desse compromisso por parte do futuro imperador. Gonçalves Ledo e os principais
líderes do movimento emancipador eram membros do “Apostolado”.
 A data da iniciação de Dom Pedro na maçonaria não parece estar bem estabelecida. Alguns autores
falam de maio de 1822. Outros indicam o dia 13 de julho. Segundo aquele que é talvez o principal
pesquisador maçônico da independência, José Castellani, Dom Pedro foi iniciado na maçonaria
apenas no dia 2 de agosto. De qualquer modo, em 17 de julho Ledo organizou as lojas maçônicas no
Grande Oriente do Brasil e ofereceu o cargo de grão-mestre a José Bonifácio, ficando com a
posição imediatamente inferior, de primeiro vigilante. Dois dias depois, uma carta de Dom Pedro a
seu pai deixava claro que a ruptura entre Brasil e Lisboa já era total:
 “O Brasil, senhor, ama a vossa majestade, reconhecendo-o e sempre reconheceu como seu rei; (mas
quanto àsCortes)… hoje não só as abomina e detesta, mas não lhes obedece, nem lhes obedecerá
mais, nem eu consentiria em tal…”
 Em obediência à estratégia traçada por José Bonifácio, principal conselheiro do príncipe,
em 1º de agosto, Dom Pedro assinou um “Manifesto aos Brasileiros”, redigido por
Gonçalves Ledo, e um decreto tomando providências para a defesa militar e a vigilância
dos portos brasileiros. Como proclamação da independência, o “Manifesto” é muito mais
claro e poderoso que o Grito do Ipiranga, de 7 de setembro., e tem valor legal e oficial,
que o evento do riacho não possui. O nome do autor do Manifesto está claramente
estabelecido. O Barão do Rio Branco escreveu:
 “Foi Ledo quem inspirou todas as grandes manifestações daqueles dois anos da nossa
capital, quem instigou o governo a convocar uma constituinte e quem redigiu alguns dos
principais documentos políticos, como o manifesto de 1º de agosto de 1822, dirigido por
Dom Pedro aos brasileiros.”
No “Manifesto de Sua Alteza Real aos Povos deste Reino”, o príncipe regente
proclama:

 “Está acabado o tempo de enganar os homens. Os governos que ainda querem fundar o
seu poder sobre a pretendida ignorância dos povos, ou sobre antigos erros e abusos, têm
de ver o colosso da sua grandeza tombar da frágil base sobre que se erguera outrora… eu
agora já vejo reunido todo o Brasil em torno de mim, pedindo-me a defesa dos seus
direitos e a manutenção da sua Liberdade e Independência.”

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