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Maçonaria: um espaço democrático para a prática da

Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

A eterna busca pelo Justo e Perfeito.

Cleber Tomás Vianna


LIBERDADE do ser humano no sentido individual ou coletivo sejam
instituições, raças ou nações, e em todos os seus aspectos, isto é, liberdade de
pensamento e movimento;

IGUALDADE de direitos e obrigações quer no aspecto individual quer no


coletivo sem distinção alguma, quer de religião, raça, posicionamento
sociopolítico ou nacionalidade;

FRATERNIDADE de todos os homens e de todos os povos e nações; porque


todos os seres humanos nascem livres e iguais em direitos, obrigações e em
dignidade. Um alto espírito de fraternidade inspira os atos da Maçonaria.
(Site GOSC)

..."A história dos Estados democráticos modernos confunde-se com a história


da própria maçonaria. No Brasil, a maçonaria esteve presente, com papéis de
protagonismo, nos principais acontecimentos que garantiram a formação e
manutenção da nossa nação, sempre se pautando nos nobres ideais da
Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Necessário, hoje, lembrarmos que,
enquanto membros da mesma nação, é nosso dever estender as mãos àqueles
que necessitam de nossa ajuda, dimensão importante das atividades
maçônicas. É Imperativo lembrarmos-nos da necessidade de ancorar nossas
discussões na ciência, no conhecimento concreto e na razão, dissipando a
construção de notícias falsas que nos aproximam do obscurantismo, tão
combatido pela maçonaria”...
(Valdir Moysés Simão)
No livro Rito Francês ou Moderno: Fundação, usos e costumes no
Brasil, o autor VIANNA, Cleber Tomás (2018), comenta que se denomina
como Rito Moderno tudo o que parte da primeira Grande Loja da Inglaterra,
que se diz fundada a partir de 1717 e, que segue a ritualística nos moldes da
publicação feita por Samuel Prichard em 1730, no famoso livro “A Maçonaria
Dissecada”. Alguns maçons simpatizantes do tradicionalismo antigo fundam em
1751 uma segunda Grande Loja, tida, então, como a dos Antigos. Em 1813 as
duas se fundem criando a Grande Loja Unida da Inglaterra.

Nascido do desejo de se criar uma unidade racional na diversidade de


correntes de pensamento vigentes à época, o Rito Moderno é filho e herdeiro
direto do pensamento iluminista. Embora criado sob moldes racionais, pautou
inicialmente suas regras na primitiva Constituição de Anderson, deísta e
tolerante no aspecto religioso. Após a Revolução Francesa, em 21 de maio de
1799, o GOdF (Grande Oriente da França) e a GLUI (Grande Loja Unida da
Inglaterra) redigem um tratado de união.

Entretanto, em 1815, a GLUI impõe a crença em um Ser Supremo


Revelada através das Regras de 08 pontos de reconhecimento, o que gera um
clima tenso entre o Grande Oriente e a mesma. Em 1877 vem a ruptura
definitiva entre as duas potências, quando o GOdF extingue a obrigatoriedade
da crença em Deus e na imortalidade da alma como reconhecimento de um
homem como maçom.

É oportuno dizer, conforme relata em seus profícuos estudos o


maçonólogo da Espanha, irmão Joaquim Villalta, que a Maçonaria Belga, uma
das maiores da Europa Continental, havia se antecipado ao GOdF e, já em
1782, se declarava de forma incontinenti, “Adogmática”, desobrigando-se e
aos seus afiliados, do uso do Dístico “Grande Arquiteto do Universo” (GADU).

Coerente com esta linha de pensamento, e, talvez por causa disso,


considerado o condutor da Maçonaria do 3º. Milênio, o Rito Moderno dá ao
maçom o direito de pensar com irrestrita liberdade, o dever de trabalhar para o
bem-estar social e econômico do cidadão, e a capacidade de defender os
direitos naturais e sociais do homem, seja de qualquer cultura ou
nacionalidade.

Dentro deste contexto e baseado nos fatos mencionados acima,


entendemos oportuno tratar de forma mais ampla o sentido da tríade advinda
da época da Revolução Francesa Liberdade, Igualdade e “Morte”, depois,
“Fraternidade”.

Encontramos no site da Embaixada da França no Brasil que, “Herança


do século das Luzes, o lema Liberdade, Igualdade, Fraternidade é invocado
pela primeira vez durante a Revolução Francesa”. Muitas vezes questionado,
ele acaba se impondo na IIIª República, está inscrito na constituição de 1958, e
hoje faz parte de nosso patrimônio nacional.

Associadas por Fénelon ao final do século XVII, as noções de liberdade,


igualdade e fraternidade são amplamente difundidas no século das Luzes.
Durante a Revolução Francesa, "Liberdade, Igualdade, Fraternidade" faz parte
dos inúmeros lemas invocados.

No discurso sobre a organização das guardas nacionais, Robespierre


preconiza, em dezembro de 1790, que as palavras "O Povo Francês" e
"Liberdade, Igualdade, Fraternidade" sejam inscritos nos uniformes e nas
bandeiras, porém seu projeto não é adotado.

A partir de 1793, os parisienses, rapidamente imitados pelos habitantes


das outras cidades, pintam nas fachadas de suas casas as seguintes palavras:
"unidade, indivisibilidade da República; liberdade, igualdade ou a morte". Mas
logo são convidados a apagar a última parte da fórmula, demasiadamente
associada ao "Terror".

Como muitos dos símbolos revolucionários, o lema cai em desuso


durante o Império. Ele ressurge durante a Revolução de 1848, marcado por
uma dimensão religiosa, quando os padres celebram o Cristo-Fraternidade e
abençoam as árvores da liberdade que são plantadas nessa ocasião. Quando
é redigida a constituição de 1848, o lema "Liberdade, Igualdade, Fraternidade",
é definido como um "princípio" da República.

Desprezado pelo Segundo Império, ele acaba se impondo na IIIª


República. Ainda são observadas, no entanto, algumas resistências, inclusive
entre os partidários da República: algumas vezes dá-se preferência à
solidariedade ao invés da igualdade, que pressupõe um nivelamento social, e a
conotação cristã de fraternidade não é aceita por unanimidade.

O lema volta a ser inscrito no alto das fachadas dos edifícios públicos
durante a celebração do evento de 14 de julho de 1880. Ele consta das
constituições de 1946 e de 1958 e hoje é parte integrante de nosso patrimônio
nacional.

Dando seguimento, encontramos na matéria “Os Anais da Maçonaria”


(Guy Chassagnard, Edições Alphee, 2009) traduzida por José Filardo, que a
Maçonaria (Francesa) teve historicamente por lema a tríade Liberdade,
Igualdade, Fraternidade, mas que fique bem entendido, ela não impôs esse
lema, o pediu emprestado à República.

Tradicionalmente, continua Guy, a Maçonaria não tem lema, mas


máximas e aclamações. No século XVIII, os documentos maçônicos oficiais e
as pranchas traçadas dos últimos trabalhos são, geralmente, precedidos pela
fórmula simples “Saúde, Força, União”.
A ideia de combinar a tríade Liberdade, Igualdade e Fraternidade se
origina, aparentemente, de um dos principais atores da revolução, Maximilien
de Robespierre (1758-1794), que propôs em 27 de abril de 1791 à Assembleia
Constituinte inscrever as três palavras na bandeira e botões das Guardas
nacionais, com o único propósito de prestar homenagem ao seu civismo e sua
coragem.

A proposta de Robespierre não foi aprovada, bem como foi em vão a


iniciativa tomada por Jean-Nicolas Pache, prefeito de Paris, em 21 de junho de
1793, de colocar de cartazes na cidade com a inscrição “Unidade e
indivisibilidade da República, Liberdade, Igualdade, Fraternidade ou a Morte”.

Também sem sucesso foi a inclusão das três palavras anteriormente


citadas pelo redator da ata dos trabalhos de retomada das atividades da
Grande Loja da França, em 24 de junho 1795, depois de um sono forçado de
vários anos.

Em julho de 1791 se observou em uma circular da Loja Mãe do Rito


Escocês filosófico, São João do Contrato Social, essa afirmação: ...“Muitos
séculos antes que Rousseau, Mably, Raynal tivessem escrito sobre os direitos
humanos e tivessem jogado na Europa a massa de Iluminismo que caracteriza
o seu trabalho, praticávamos em nossas Lojas todos os princípios de uma
verdadeira sociabilidade. A igualdade, a liberdade, a fraternidade eram para
nós os deveres mais fáceis de cumprir e assim, afastamos cuidadosamente
para longe os erros e preconceitos que, por tanto tempo, trouxeram a
infelicidade às nações”...

Foi apenas em 25 de fevereiro de 1848 que Louis Blanc (1811-1882),


então membro de um governo republicano provisório – e futuro maçom –
providenciou inscrever a tríade Liberdade, Igualdade, Fraternidade como divisa
nacional na Constituição da Segunda República, e só após o dia 10 de agosto
do ano seguinte, ou seja, 1849, que ele foi adotado como lema maçônico pelo
Grande Oriente, antes que todas as potências francesas viesse a reclamá-lo
por sua vez.

Supondo, no entanto, que se, oficialmente, os maçons não podem contar


com o fato de que eles foram os primeiros a fazer uso de um lema de renome
internacional, eles podem, mesmo assim, afirmar que o inspiraram para a
nação, lembrando-se, que 56 anos antes do advento da Segunda República,
um secretário de Loja, em Lille, no dia 07 de agosto de 1793, rubricou um
diploma “em nome e sob os auspícios da Liberdade, Igualdade e
Fraternidade”, sobre o qual ele havia apagado a menção maçônica impressa
“em nome e sob os auspícios do Sereníssimo Grão-Mestre”.

Fábio Régio Bento, em seu livro: “Maquiavel pré-sociólogo e outros


ensaios”, comenta que a partir da Revolução Francesa, três grandes
paradigmas condicionaram as relações entre sociedade e universidade: os
paradigmas da liberdade, da igualdade e da fraternidade. E sobre as relações
entre tais paradigmas e a universidade que trata o ensaio descritivo e
propositivo, se vê um pequeno manifesto pela demo-fraternidade, como segue:

A Dialética Positiva da Fraternidade

Os ideólogos da Revolução Francesa (1789) resumiram os anseios e


metas da humanidade com o tríptico paradigmático Liberdade, Igualdade e
Fraternidade.

Parece haver uma relação de continuidade entre liberdade, igualdade e


fraternidade na sociedade moderna, ou seja, começamos pela liberdade sem
igualdade nem fraternidade; passamos à liberdade com relativa igualdade, mas
sem fraternidade; e somos desafiados a valorizar o paradigma marginalizado
da fraternidade, etapa madura da realização dos ideais da Revolução
Francesa, ainda inacabada.

Liberdade, igualdade e fraternidade são as três etapas paradigmáticas


da realização histórica dos anseios e metas da humanidade que emergiram ao
período turbulento da Revolução Francesa.

Fenômenos coletivos de liberdade, igualdade e fraternidade sempre


existiram na história da humanidade, mas a busca pela sua realização se
intensificou na modernidade, e de forma gradual, por etapas: a primeira etapa,
da liberdade; a segunda etapa, da igualdade; e a terceira etapa, da
fraternidade. Não vivemos num mundo livre, igualitário e fraterno, mas estamos
descobrindo que a vocação da humanidade é viver com liberdade, igualdade e
fraternidade.

Continua Fábio: Se compararmos as três etapas do tríptico ético-


evolucionário liberal-igualitário da fraternidade ao materialismo histórico e
dialético de Karl Marx, poderemos afirmar que a etapa comunista da história
sócio-evolutiva da humanidade prevista por Marx corresponderia à etapa da
construção da fraternidade no tempo e no espaço. O comunismo de Marx
corresponderia ao que poderíamos chamar de fraternismo.

Mas há erros e intuições verdadeiras na dialética de Marx. Uma


constatação que consideramos correta na sua observação da história foi a
identificação de uma meta final caracterizada pela comum-unidade. Seus erros
principais foram a exclusão da burguesia e valores liberais da meta final
(exclusão do paradigma da liberdade) e a crença na violência como meio de
construção social. Ora, a violência destrói com muita competência, mas não
sabe o que colocar sobre as ruínas do que destruiu. Não é parteira da história.
Ao excluir a burguesia e suas conquistas liberais da nova sociedade,
Marx eliminou parte dos alicerces que deveriam sustentar a nova sociedade. A
dialética negativa, excludente, do marxismo, eliminou a tese que combatia, ao
invés de corrigi-la. Não criou uma nova síntese, mas a negação do projeto
social da modernidade e não um defeito dela.

Ao contrário, a dialética do paradigma da fraternidade é dialética


positiva: a igualdade não rejeita a liberdade burguesa, mas propõe a sua
correção de rumo pela contestação (antítese) de seus defeitos de
concretização. A conquista da igualdade sustenta-se na conquista da liberdade,
e não na sua negação, alargando a prática da liberdade para fora do âmbito do
monopólio burguês.

O paradigma da fraternidade, anseio e meta da modernidade, é a


terceira etapa histórica no empenho da humanidade pela construção da
fraternidade social no tempo e no espaço. Tal terceiro paradigma não exclui o
primeiro (da liberdade) nem o segundo (da igualdade), mas precisa deles para
a sua realização e os leva à maturidade. A dialética positiva de fraternidade
sustenta as etapas anteriores, da liberdade e da igualdade. E tal dialética
histórica positiva da fraternidade é de extrema relevância não somente para a
política e para a economia, mas também para os projetos pedagógicos e
administrativos das universidades modernas.

Primeira Etapa – Paradigma da Liberdade

Segundo a filosofia, liberdade é o conjunto de direitos de cada indivíduo,


seja ele considerado isoladamente ou em grupo, perante o governo do país em
que reside; é o poder que qualquer cidadão tem de exercer o seu vontade
dentro dos limites da lei.

A Revolução Francesa foi uma revolução burguesa, palavra que aqui


não é utilizada em sentido pejorativo, mas descritivo empreendedor. Os
burgueses foram elogiados por aquele que, depois, anunciará o seu fim: a
burguesia “criou maravilhas maiores que as pirâmides do Egito, os aquedutos
romanos, as catedrais góticas” (MARX, 1988, P.79).

A burguesia transformou a antiga sociedade monárquica, que era uma


sociedade de privilégios (de poucos), numa nova sociedade, de direitos
(teoricamente de todos).

A propriedade, transmitida como herança, deixa de ser privilégio da


aristocracia de sangue e passa a ser direito que se conquista por meio dos
méritos do trabalho.
A burguesia criou uma nova sociedade, capitalista, industrial, urbana,
desenvolvimentista. Ela transformou o antigo regime numa sociedade criada à
imagem e semelhança dela, com uma cultura burguesa; arte burguesa;
arquitetura burguesa; escola burguesa; direito burguês; moda burguesa;
literatura burguesa; universidade burguesa; educação burguesa.

O paradigma da liberdade foi, antes de tudo, um paradigma burguês,


porque a burguesia necessitava dele para viver. Porém, mesmo sendo
necessidade imediata da burguesia revolucionária, o paradigma da liberdade é
um paradigma em teoria universal.

A educação monárquica (vários professores para um aluno da nobreza


de sangue) servia para justificar a ordem social monárquica e preparar os
novos gestores do poder monárquico para a realização de suas tarefas
específicas.

Tal modelo de educação foi substituído pela educação burguesa (vários


professores para estudantes burgueses, nas escolas burguesas). A Revolução
Francesa afirmou que a educação não é privilégio (de poucos), mas direito (de
todos). Porém, na prática, apenas aos filhos da burguesia o acesso à educação
foi estendido. A educação burguesa servia para justificar a nova ordem social
burguesa e preparar os novos gestores do poder burguês para a realização de
suas tarefas específicas.

A burguesia conquistou a liberdade, mas manteve a sociedade desigual,


contra ela, que seria enterrada, segundo Marx, pelo proletariado, “coveiro” da
burguesia: ...“Estou tentando salvar esses burgueses burros e eles não
entenderam”, desabafou o reformador Getúlio Vargas, ao ser ameaçado pela
burguesia por propor mudanças nas relações entre ela e os operários mediante
legislação trabalhista (BANDEIRA, p.30).”...

A burguesia nasceu como classe revolucionária, mas logo se


transformou em classe conservadora, protegendo a nova ordem social
burguesa recém-criada – produção industrial, lucro, direito de propriedade
privada, economia de mercado, democracia representativa (assegurando o
direito à participação política somente à burguesia) – das “ameaças”
proletárias. Todavia, o proletariado, mais do que uma ameaça, representava a
continuação no tempo e no espaço da revolução inacabada.

Segunda Etapa – Paradigma da Igualdade

Se, de um lado, os burgueses foram os sujeitos principais da realização


do paradigma da liberdade na sociedade (política, economia, cultura, educação
formal), de outro, os movimentos sociais dos trabalhadores assalariados
operários da indústria, foram os principais protagonistas do paradigma da
igualdade no tempo e no espaço. As metas da revolução liberal iniciada pela
burguesia foram retomadas pelos movimentos sociais do proletariado.

O caminho rumo à liberdade e igualdade foi aberto pela burguesia aos


movimentos operários: se a sociedade continuasse sendo monárquica, sem a
hegemonia burguesa, os trabalhadores assalariados continuariam sendo
súditos da monarquia, servos dos senhores feudais.

A Revolução Francesa foi realizada em nome de direitos, universais,


mas na prática, os burgueses derrubaram a escada após chegarem ao poder,
deixando os antigos companheiros do terceiro estado na parte de baixo da
pirâmide social.

Todavia um importante precedente histórico, jurídico-político, havia sido


aberto: tudo aquilo que a burguesia conquistou, na prática, para si própria,
havia sido anunciado, em teoria, como direito de todos.

Os operários foram gradualmente – e heroicamente – recolhendo as


poucas forças que tinham para organizar seus movimentos sindicais e
partidários de luta pelos seus direitos sociais.

Tais movimentos de operários podem ser classificados em dois grandes


grupos: o dos revolucionários e o dos reformadores. A igualdade dos
revolucionários negava a liberdade da burguesia; e a igualdade dos
reformadores estendia a liberdade burguesa (sem negá-la, mas corrigindo seu
rumo) aos movimentos dos trabalhadores assalariados.

Os movimentos sociais revolucionários queriam o fim do sistema


burguês (democracia, economia e educação burguesa) e o fim da própria
burguesia. Tais movimentos estão à base das experiências conhecidas como
socialismo real, que crepuscularam no final da década de 1980.

Já os movimentos sociais operários reformadores não queriam o fim do


sistema burguês capitalista, mas a sua correção de rumo. Os reformadores
identificaram valores universais no capitalismo, na democracia e na educação
burgueses e, por isso, queriam alargar o âmbito de atuação de tais valores,
estendendo aos trabalhadores assalariados as conquistas das revoluções
liberais. O capitalismo, para os operários da igualdade reformadora, era como
uma galinha dos ovos de ouro: a solução não seria matar a galinha (como
queriam os operários da igualdade revolucionária), mas distribuir os ovos. Para
os reformadores, a democracia representativa é sistema político válido. Por
isso, não deveria ser eliminada, como se fosse apenas democracia burguesa,
mas estendida aos movimentos sociais e políticos de representação dos
trabalhadores assalariados.

Os movimentos operários da igualdade reformadora realizaram


importante tarefa na concretização do tríptico paradigmático da Revolução
Francesa por meio de suas ações reformadoras: legislação trabalhista, sufrágio
universal, representação sindical e partidária alargada, reformas salariais,
economia social de mercado, acesso à educação, turismo e lazer.

O italiano Carlo Rosselli (1899-1937), autor do clássico intitulado


Socialismo Liberal, afirmou que os movimentos operários são os “herdeiros da
função liberal” desenvolvida inicialmente pela burguesia (1977, p.133). São os
continuadores da revolução inacabada.

Os operários reformadores, ao contrário dos revolucionários, não


excluíram o paradigma da liberdade, mas o estenderam aos trabalhadores
assalariados; não excluíram a burguesia da sociedade, mas compreenderam o
papel empreendedor da burguesia como serviço do qual necessitam também
os próprios operários.

O paradigma da liberdade aplicado à educação gerou ações


pedagógicas liberal-conservadoras de formação exclusiva para a concorrência
individual no mercado de trabalho; de outro lado, gerou, também, ações
pedagógicas liberal-democratas de formação para a cidadania e qualidade da
vida pessoal e social.

A burguesia liberal-democrata, ao contrário da liberal-conservadora,


passou a valorizar ações típicas do paradigma da igualdade (reformadora)
aplicado à educação por razões de consciência, ou por razões de
sobrevivência econômica e física: trabalhadores assalariados melhor
remunerados gastam mais e ameaçam menos (segurança pública).

O paradigma da igualdade aplicado à educação gerou ações


pedagógicas (da igualdade revolucionária) contra o mercado, o lucro, a
propriedade privada, a burguesia, o capitalismo. Mas de outro lado, gerou,
também, ações pedagógicas críticas, mais integradoras (da igualdade
reformadora): inclusão por meio da educação, mudanças na estrutura da
sociedade por meio de reformas integradoras voltadas para a justa conciliação
entre as metas da produção, da justa distribuição e do desenvolvimento
sustentável.

O paradigma da igualdade aplicado à educação por meio de ações


reformadoras encontra pontos em comum com o paradigma da liberdade
aplicado à educação por meio de ações liberal-democratas. Eles têm em
comum a constatação da complementaridade entre burguesia e trabalho
assalariado; entre exigências da produção e da justa distribuição; entre
concorrência e solidariedade.

O paradigma da liberdade interpretado em sentido liberal-democrata não


excluiu de suas metas os trabalhadores assalariados, concebidos como
parceiros nos processos de desenvolvimento sustentável. Da mesma forma, o
paradigma da igualdade, interpretado em sentido crítico-reformador, não
excluiu de suas metas a burguesia liberal-democrata, concebida como parceira
empreendedora nos processos de desenvolvimento sustentável.

O paradigma da liberdade é coerente com o tríptico da Revolução


Francesa quando significa evolução para a liberal-democracia, diferente do
liberalismo arcaico, promotor do capitalismo effrenus (sem rumo ético-social).
Da mesma forma, o paradigma da igualdade é coerente com o tríptico da
Revolução Francesa quando significa evolução para a democracia social
reformadora, crítica e integradora, diferente das experiências promovidas pela
igualdade revolucionária.

Para cada possibilidade paradigmática da liberdade (conservadora ou


liberal-democrata) e da igualdade (reformadora ou revolucionária) corresponde
a um modelo paradigmático de educação, escola e universidade com seus
respectivos projetos pedagógico e de gestão.

Terceira Etapa – Paradigma da Fraternidade

O paradigma da fraternidade é o paradigma do vínculo, da ligação: o


cimento que está entre os tijolos que formam o muro.

Fraternidade é o vínculo de amor, de solidariedade que faz com que


pessoas diferentes se sintam ligadas em comum-unidade (comunidade), em
comum-união (comunhão).

O paradigma da fraternidade pode ser também chamado de paradigma


da unidade, onde a palavra unidade é compreendida não como uniformidade
(eliminação da liberdade e igualdade), mas como unidade que produz o
aperfeiçoamento da liberdade e da igualdade pelo vínculo da fraternidade:
unidade personalizante. A fraternidade supõe e aperfeiçoa a liberdade e a
igualdade (reformadora).

Fraternidade significa vínculo de fraternidade entre iguais, o que exclui


teorias e práticas subordinacionistas, assistencialistas segundo as quais alguns
seres humanos estariam condenados à subordinação social por meio da
assistência dos “mais favorecidos”. As diferenças sociais, ao contrário das
diferenças naturais, biológicas são diferenças culturais e, portanto, mutáveis.

A fraternidade horizontal, entre seres humanos livres e iguais, supera o


sentido assistencial da fraternidade vertical.

A sabedoria popular afirma que “todos somos farinha do mesmo saco”.


Aristóteles afirmou que o ser humano é um ser social. Ou seja, a sociabilidade
não faria parte do seu fazer, mas do seu ser: realidade ôntica.
A fraternidade é uma realidade concreta (não é metafísica, mas
intrafísica) que se refere ao ser humano e não ao fazer do ser humano.
Fraternidade é realidade ôntica coletiva que se refere ao ser social de cada ser
humano.

Os vínculos de fraternidade entre os seres humanos não são visíveis,


mas são tão reais quanto a sede e a fome. Tomemos como exemplo um ônibus
de linha e um de excursão, ambos viajando para o mesmo lugar e com o
mesmo número de pessoas. Diferença entre eles? Os vínculos de fraternidade
que fazem do ônibus de excursão uma comum-unidade, uma comum-união, ao
contrário da ausência de vínculos entre os que viajam num ônibus de linha.

Amigos unidos por vínculos de fraternidade experimentam tal vínculo


mesmo estando um no Brasil e o outro na Itália. Os vínculos de fraternidade
não são vistos, mas são tão reais que, quando rompidos, provocam danos nos
sujeitos. A tristeza pelo rompimento dos vínculos de amor é tão visível quanto a
alegria provocada pelo reencontro de amigos.

Os vínculos de fraternidade seriam vínculos dados, de sangue (naturais)


ou seriam vínculos construídos (culturais)? Os inúmeros conflitos entre irmãos
de sangue e o próprio arquétipo fratricida de Caim que mata seu irmão Abel
não permitem visões ingênuas sobre a fraternidade de sangue. Li, certa vez,
numa revista de avião, que “somente os filhos únicos sonham com uma
sociedade de irmãos”.

As palavras irmão e fraternidade podem remeter o pensamento a


vínculos impostos pelas circunstâncias biológicas. Tais vínculos, às vezes, são
desprovidos de amor, liberdade e igualdade. A palavra fraternidade, aqui
compreendida como fraternidade que supõe liberdade e a igualdade
(fraternidade horizontal), envia nosso pensamento para as amizades
escolhidas, caracterizadas pela gratuidade e reciprocidade (e não pelo
domínio), para as sociedades dos que se fazem irmãos, ou dos irmãos de
sangue que se fazem amigos. Para Tomás de Aquino, “qualquer amigo
verdadeiro quer para seu amigo: 1) que exista e viva; 2) todos os bens; 3)
fazer-lhe o bem; 4) deleitar-se com sua convivência; e 5) finalmente
compartilhar com ele suas alegrias e tristezas, vivendo com ele um só coração”
(Summa Theologiae, II-II, q.25, a.7). E ainda: “O amigo é melhor que a honra, e
o ser amado, é melhor que ser honrado” (Summa Theologiae, II-II, q.74, a.2).

A fraternidade à qual aqui nos referimos é, sobretudo, fraternidade que


se constrói no tempo e no espaço a partir da escolha da fraternidade como
paradigma vital para a comunidade humana.

A fraternidade é escolha humana mais do que condição natural.


Escolhe-se a ética da fraternidade, a cultura (e paradigma) da fraternidade
como estilo de vida público e doméstico.
Vínculos de fraternidade precisam ser reconstruídos a cada dia. O
realismo ético nos demonstra que é preciso muito trabalho para transformar
máquinas de conflitos banais (seres humanos) em agentes críticos e criativos
da fraternidade.

A natureza ferina do ser humano (Maquiavel), ou ferida pelo pecado


original (cristianismo), precisa da ascese do amor para o bom êxito da
fraternidade pública e doméstica.

O ser humano, porém, é também portador de amor. A fraternidade é


escolha, construção, mas é, também, natureza, condição, segundo a célebre
constatação de Aristóteles: o ser humano é ser social. Quando escolhemos a
fraternidade como estilo cultural de vida, realizamos nossa natureza sócio-
fraterna de seres humanos, pois há vínculos mais profundos entre os seres
humanos no andar abaixo dos vínculos de sangue: a humanidade já é uma só
coisa, uma só família (“farinha do mesmo saco”), mesmo sem saber
explicitamente disso. Somos uma só realidade, mesmo se nem sempre
vivemos segundo nossa identidade ôntica.

Na continuidade do tema central, vimos que Blanchier comenta em seu


Blog spot que, Rousseau iniciou a análise da alienação das pessoas, afirmando
ser praticamente impossível escapar da possibilidade de submeter-se à
vontade geral em detrimento da vontade individual. O cidadão, em nome da
aprovação social e da sobrevivência, castra sua vontade individual. Marx leva a
questão da alienação ao extremo quando assenta sua filosofia na
desumanização resultante do desenvolvimento capitalista, aonde o trabalho
aliena do homem até seu próprio corpo, bem como, de sua natureza externa,
mental e humana. Ao pensar sobre este tema o maçom acorda o que jaz
adormecido em si e se posiciona. Posicionamento exige debate, estudo, ação.
Posicionar-se significa perda de poder dos poderosos.

A Maçonaria preconiza a fundamentação filosófica que se use como


referência a natureza humana e que se estudem os limites e interesses
humanos. Para o maçom e Protágoras, o homem é a medida das coisas
quando reconhece suas limitações, e assim, dimensiona sua ação maçônica
dentro de sua capacidade. Os símbolos maçônicos falam ao erudito, como aos
sem erudição, num mesmo nível, respondendo cada um conforme seus
referenciais. Coloca-se o homem no centro da realidade e do saber quando se
propiciam oportunidades iguais para todos e se respeitam as limitações
individuais. Este laboratório recheado de símbolos existe em todos os ritos da
Maçonaria, é só viver o dia-a-dia de cada loja.

A ideologia do igualitarismo da Maçonaria e Aristóteles define que os


homens devem ser tratados da mesma maneira, mas que a retribuição deve
ser proporcional à contribuição individual usando como referência: mérito,
necessidade e solidariedade. Desta forma o maçom se humaniza sabendo da
necessidade de ação para obter mérito. Sem ação ele se torna peso para os
outros maçons. A Maçonaria não é sociedade de auxílio mútuo. Há
necessidade de trabalho e ação social. A ação social não está restrita a
benemerência que pode ser terceirizada, o objetivo é fazer cada maçom
posicionar-se na sociedade como multiplicador de novos pensamentos. Como
adquirirá novos pensamentos sem leitura, debate, estudo e escrita? É na auto-
realização, o último estágio das necessidades de Maslow, que o maçom se
motiva e continua perseverante em sua atividade obtida com ação maçônica
constante.

Diz o sábio maçom: "lugar de maçom é em loja".

Cleber Tomás Vianna, Mestre Instalado, Mestre Maçom da Marca, Membro da


A∴ R∴ L∴ S∴ Cavaleiros do Delta, 4544, Luís Correia/PI, federada ao Grande
Oriente do Brasil e Jurisdicionada ao Grande Oriente Estadual do Piauí, Grau
09 do Rito Moderno, Grau 33 do Rito Escocês Antigo Aceito (São Cristóvão) e
33 do Rito Adonhiramita (ECMA), Grande Benemérito do Grande Oriente do
Brasil e do Grande Oriente Estadual da Bahia, portador da Estrela de Distinção
Maçônica, Defensor Perpétuo do Rito Moderno, Membro da AMALBA -
Academia Maçônica de Artes e Letras da Bahia, autor do Livro: Rito Francês ou
Moderno: Fundação, Usos e Costumes no Brasil.

Créditos:
VIANNA, Cleber Tomás: Rito Francês ou Moderno: Fundação, Usos e
Costumes no Brasil;
https://www.gosc.org.br/lema-da-maconaria/;
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