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Clube da Luta: Uma Análise Sobre a Sociedade Moderna

Ícaro QUEIROZ
Guilherme VIEIRA
Letícia ROLIM
Jonas COELHO
Pedro DANTAS
Centro Universitário Metropolitano de Manaus (Ceuni-Fametro), Manaus, AM

RESUMO

Clube da Luta é um filme de 1999 dirigido por David Fincher (A Rede Social e Seven),
baseado no livro homônimo escrito por Chuck Palahniuk. A obra é complexa e apresenta
várias camadas de críticas e reflexões sobre o mundo moderno e a vida cotidiana. A análise
partirá de uma perspectiva técnica, política, econômica, social e psicológica do filme. Sendo
atemporal, Clube da Luta continua sendo descoberto e redescoberto ao longo dos anos,
provando o quão real e próximas são as mensagens que carrega.

PALAVRAS-CHAVE: capitalismo; consumismo; psicologia; masculinidade.

1. Perspectiva Técnica da Produção

Em Clube da Luta conhecemos o protagonista, interpretado por Edward Norton. Um


homem sem nome que vive uma vida tomada pelo seu trabalho e seus impulsos consumistas
que servem para compensar sua falta de propósito. Esse homem, que também é o narrador
da história, conhece Tyler Durden (Brad Pitt), um inconsequente que é livre de todas as
amarras sociais que aprisionam o protagonista. Juntos, estes homens dão início ao Clube da
Luta. Ao fim do filme, descobrimos que Tyler, na verdade, é um alter ego do narrador.
Sendo parte dele, ou seja, um reflexo de tudo aquilo que o protagonista almejava ser.
Ao longo do filme, vemos o narrador encontrar diários deixados por um homem
misterioso com diversos escritos estranhos, como por exemplo: “Sou a medula oblonga de
Jack”. Como o filme não deixa claro o nome do narrador, aqui nos referiremos a ele como
o tal “Jack”.
Logo nas primeiras cenas, percebe-se que a montagem do filme é inconstante e
confusa para o telespectador, parece nem saber como quer contar a história. Começando
com um flashfoward (recurso narrativo usado para mostrar acontecimentos futuros na
cronologia) que intriga o telespectador sobre suas condições, retornando para um flashback
(recurso narrativo para mostrar acontecimentos passados na cronologia) confuso devido sua
incoerência com a cena anterior. Por fim, o filme encontra-se em um momento presente tão
mórbido e sem perspectivas que nem mesmo o protagonista se vê como um elemento
importante, ignorando até a apresentação de seu nome, mesmo sendo ele o narrador da
história que está sendo contada. Dessa forma a direção nos conta que o protagonista nem ao
menos se vê como uma pessoa. Ele se vê como uma ferramenta, uma engrenagem na
máquina do sistema capitalista que o induz a entrar num ciclo vicioso e corrosivo de
trabalhar, obter, gastar e repetir, mas sem jamais conquistar algo.
Outro ponto que mostra essa monótona fase do protagonista são as cores frias e
sórdidas, moribundas e depressivas que se mostram em roupas, cenários e objetos até a
chegada de Tyler Durden. A partir da introdução de Tyler, objetos mais claros passam a
surgir em cena, a fotografia passa a ficar mais intensa e brilhante.
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Até no modo que o os dois personagens abordam o mesmo tema é completamente
diferente. Durante cerca de trinta minutos, Jack tenta explicar sobre o consumismo de modo
sútil, através de suas ações e descrevendo seu dia-a-dia, apenas para surgir o Tyler e em
questão de segundos falar “As coisas que você possui acabam possuindo você”. Ele é direto,
curto e grosso e resume algo que o protagonista tentou explicar na última meia hora.
Fazendo isso, o roteiro te permite perceber a prolixidade de Jack, acostumado com
ambientes corporativos e tomado por convenções sociais. Em contraste com Tyler que é
prático, direto e não se importa em ser mal interpretado.
A direção é inteligente e faz diversos trocadilhos sutis como, logo após o
apartamento de Jack explodir, ele começa a narrar o relatório dos bombeiros sobre como o
incêndio aconteceu, enquanto ele se dirige a uma cabine telefônica para ligar para Marla.
Ela atende justamente no momento da explosão. Mais tarde descobrimos que foi Jack que
explodiu o próprio apartamento enquanto alucinava, mostrando que o protagonista tinha
conhecimento de como explosivos funcionavam e podia criá-los ou desarma-los, logo, é por
isso Tyler também tem tanto conhecimento sobre químicos e explosivos.
Outro jogo inteligente do diretor é quando Tyler termina seu monólogo sobre
consumismo no bar dizendo “Eu digo para nunca ser completo, pare de querer ser perfeito,
deixe a maré levar você” e uma bola é encaçapada na mesa de sinuca dos fundos mostrando
como a ideia entrou na mente do narrador de modo preciso.
Quando Jack começa a falar sobre os trabalhos de Tyler, um deles é trocar rolos de
filme em salas de cinema. Nesse trabalho Tyler coloca takes de cenas impróprias em filmes
para família (como cenas de filmes pornô, por exemplo). Ao longo do filme, antes de
conhecermos Tyler, vemos diversos flashes de sua presença na visão de Jack, fazendo um
paralelo com o trabalho do personagem no cinema. Seu nascimento veio apenas mais tarde
durante a viagem de avião do protagonista. A primeira vez que vemos Tyler, o diretor faz
um jogo de câmera mostrando uma perspectiva panorâmica e avançando em volta do
protagonista, revelando Tyler passando ao seu lado, mas pelo ponto de vista da lente era
como se ele saísse de dentro de Jack, sendo exatamente o que significa.
Outras pistas sobre Tyler ser a segunda persona de Jack foram sendo colocadas ao
longo do filme. Por exemplo, quando o protagonista espanca a si mesmo na sala de seu
chefe e ele narra que “estranhamente aquilo me lembrou da minha primeira luta com o
Tyler”, justamente porque não houve luta, foi apenas ele batendo em si mesmo. Outro
exemplo é o fato de que Marla, Tyler e Jack nunca estavam no mesmo ambiente juntos.
Quando Tyler estava com Marla, Jack não estava, as duas personas nunca estavam juntas
para ela. Por fim, antes da cena do acidente de carro, tanto Tyler quanto Jack entram pelo
mesmo lado, mas quem dirige o carro é Tyler, porque Jack entende que quem está no
controle é ele.
A adaptação do livro de Chuck Palahniuk é feita com um brilhantismo ímpar de
David Fincher, que consegue acrescentar ainda mais camadas a obra com os recursos do
audiovisual. Carregando como uma de suas mensagens os limites da liberdade. O filme
fecha o arco dos personagens de maneira brilhante, resolvendo os conflitos e deixando em
aberto, para interpretação do telespectador, quais consequências resultarão de todo os atos
de Jack.

2. Enquanto Crítica ao Consumismo Capitalista

Clube da luta traz uma crítica severa a cultura do consumismo. Apresenta um cenário
onde em primeiro momento tudo parece superficial, mas acaba revelando-se mais profundo.
O protagonista representa alguém que qualquer pessoa consegue se identificar. Jack, vive
de uma forma comum, preso em uma rotina repetitiva e sofre de insônia. No trabalho ele se
sente uma mera engrenagem da máquina social, fazendo tudo de acordo com o seu comando.
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Está em seu emprego apenas para conseguir sanar seus desejos consumistas.
Para preencher seu vazio existencial, ele acaba por desenvolver uma compulsão por
compras e gasta todo seu dinheiro em móveis sofisticados e roupas de grife. Esse estilo de
vida leva Jack a repensar sobre o sentido da sua vida e os aspectos fundamentais de sua
existência. Em uma tentativa de acabar com sua insônia que afetava sua saúde mental, ele
busca grupos de apoio em que começa a interagir com pessoas com vários tipos de doenças
e assoladas pela desesperança. Em uma das reuniões, Jack consegue desabafar e se sente
acolhido pelos outros membros, o que leva ele a conseguir dormir melhor. Depois de um
tempo, percebeu que não havia sentido participar dos grupos de apoio e acabou por voltar
para sua rotina de insônia e se sentir sem propósito e sem perspectiva.
Na busca pelo sentido em sua vida, Jack cria uma segunda persona para si. Tyler
representa a idealização de tudo que Jack gostaria de ser. Ele é bonito, forte, descolado e
faz tudo o que Jack não tinha coragem de fazer. Além disso, Tyler não tem apegos a bens
materiais e não liga para status social, vive pela liberdade e não pelo luxo. Tyler morava
em uma casa abandonada, suja e mal conservada. Sua filosofia de vida pregava o desapego
quase total aos bens materiais, com frases fortes como “você não é seu emprego”, “as coisas
que você possui acabam possuindo você” e “somos uma geração sem peso na história. Sem
proposito ou lugar”.
O Sociólogo polonês Zygmunt Bauman discute a fundo sobre as principais
reflexões, filosofias e ideias do consumismo:

“Numa sociedade marcada pela agitação, pela ansiedade e acima de


tudo pela incapacidade de obter uma experiência profunda de
felicidade e bem-estar, a disposição consumista desponta como uma
forma compensatória do indivíduo vir a obter um razoável nível de
prazer em sua vida cotidiana.”. (BAUMAN. 2007)

Segundo Bauman, a felicidade hoje está idealizada no propósito de consumo, com


pessoas alimentando suas emoções através de mercadorias. No entanto, os bens materiais
não suprem a necessidade humana por relações emocionais genuínas e a consequência disso
é uma sociedade com altíssimos índices de depressão e transtornos psicológicos, como
representado no filme.
Em Vida Para Consumo, Bauman nos lembra de que a busca da felicidade baseada
em preceitos materialistas, é infinita. Assim como o consumo também nunca terá um fim.
Já que a felicidade nunca é alcançada e os padrões de satisfação são sempre maiores do que
podemos atingir, damos ao mercado o papel de ser responsável pela nossa felicidade.

3. A Visão Política Apresentada Dentro do Clube

Além de sua clara crítica ao consumismo, Clube da Luta usa o marxismo por meio
do alter ego de Jack e antagonista do filme, Tyler Durden, para reforçar sua mensagem.
Jack, antes de conhecer Tyler, era um homem infeliz que precisava comprar muito
e não percebia o quanto era consumido por ser uma marionete do sistema, que exigia muito
dele e pouco oferecia, precisando esgotar-se no trabalho para comprar coisas que não
precisava até chegar ao ponto de preencher o seu vazio existencial.
Assim como Karl Marx no Manifesto Comunista de 1848, disse “Que as classes
dominantes tremam a revolução comunista. Os proletários nada tem a perder além de suas
correntes” Tyler usa de discursos semelhantes no Clube da Luta para também fazer uma
revolução “Você não é seu emprego. Nem quanto ganha. Nem o carro que dirige”. Essas
filosofias entram de maneira tão poderosa na mente de seus seguidores que o Clube se torna
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uma organização criminosa em que os seus seguidores trapaceiam, agridem e matam em
prol de um ideal.
Em certa cena, a frase “você não é seu emprego” é repetida pelo personagem de
Jared Leto com empolgação, sendo assim, percebemos o quão forte é a influência de Tyler
em seus seguidores, tornando-se uma espécie de presidente, líder ou até mesmo um ditador
mediante a comunidade que se formou no casebre do personagem Jack.
Os seguidores de Tyler precisam passar por um teste físico e psicológico, como se
estivessem se alistando no exército de seu país. Três dias plantados em frente à casa de Jack,
em busca de aceitação e passando por todo o tipo de humilhação até que enfim são
aprovados para o grupo. Já dentro da facção: eles comem, bebem e limpam o casebre como
uma forma de república e seguem as ordens do seu líder e salvador, Tyler Durden.
Essas pessoas não percebem que apenas deixaram suas correntes do sistema
capitalista para serem acorrentadas por outro sistema, de um líder altamente perigoso como
Tyler Durden que usa seu discurso para corromper mentes frágeis, fingindo que está os
libertando, porém está alienando mais ainda e corrompendo pessoas para os seus ideais e
pensamentos imprudentes.

4. Crítica a Masculinidade Tóxica na Sociedade Moderna

Expressões como “isso é coisa de homem”, “homem não leva desaforo para casa” e
“homem não tem sentimentos”, favorecem o sistema da masculinidade tóxica que prejudica
a saúde física e mental do homem, que se cobra tanto para ter uma aparência e um
comportamento mais agressivo para que possa se enquadrar na posição de “homem macho”,
uma pessoa sem frescura, sem medo de nada.
Outro exemplo de masculinidade tóxica é aquele que ocorre no meio do esporte em
especial futebol, um dos esportes mais machistas que existem. Um esporte onde a mulher
demorou para ganhar espaço, principalmente como comentarista de um jogo só de homens,
onde até hoje há expressões como “futebol é coisa de macho”, “mulher não entende de
futebol”, “mulher tem que jogar vôlei”. As pessoas chegaram a denominar tipos de esportes
femininos e masculinos, sendo que todo esporte é livre para todos os gêneros
No final da década de 90 o assunto masculinidade já era um tema bastante
comentado e alvo de críticas. O empoderamento feminino começava a ficar maior, o tema
se fortalece e ganha legitimidade nos meios acadêmicos. No filme Clube Da Luta, acontece
algumas situações em que o protagonista do filme, Jack, sofre pelo próprio sistema de
masculinidade imposto pelo meio em que vive.
Em uma das cenas do filme, o apartamento de Jack pega fogo e acaba sendo
completamente destruído. Jack primeiramente liga para Marla, em busca de um lugar para
ficar, mas não conseguiu pedir a ela. Percebe-se que Jack não quis demonstrar um estado
de fraqueza para Marla, uma mulher, mas sentiu-se confortável em expor seu estado para
Tyler. O filme nos mostra que um homem dificilmente pede ajuda a uma mulher, tentando
manter aquela posição de força e superioridade em que a sociedade o coloca.
No decorrer do filme percebe-se que Jack vive uma outra personalidade de um
homem praticamente perfeito, um cara sem defeitos uma pessoa bonita e com um corpo
sarado, com um trabalho fácil, um cara que conseguia conquistar mulheres, resumindo tudo
aquilo que Jack almejava para si mesmo.
Quando Tyler e Jack dão início ao Clube da Luta, onde dois homens entram em uma
luta corporal, é o momento em que Jack parece ter encontrado o melhor grupo de apoio.
Onde Jack pensa que se livrou totalmente de Marla por estar em um grupo que só pertence
a homens. Onde não faziam questão de quem ia ganhar ou perder, só queriam descontar sua
raiva, os momentos que estavam passando de insatisfação com suas vidas e como são
incapazes de resolver os problemas de outra maneira, acabam resolvendo de forma bruta e
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violenta. Um resumo das relações masculinas.
Portanto o assunto masculinidade é algo que prejudica ambos os sexos, tentando
excluir mulheres de alguns afazeres e impondo como regra uma pessoa do sexo masculino
violenta, valorizando força física, alguém sem emoções, um modelo de homem perfeito a
ser seguido pela sociedade. Causando situações que podem privar um homem de fazer
aquilo que gosta, pensando que pode ser muito feminino e ter medo de ser julgado por outros
homens e pela sociedade.

5. Uma Visão Freudiana Sobre Obra

Sigmund Freud, criador da psicanálise e um dos maiores estudiosos da mente


humana de todos os tempos, dividiu a personalidade humana em três partes: Id, Ego e
Superego. O psicanalista estabeleceu uma relação dinâmica onde os três interligam-se,
criando assim o mecanismo da psique humana. Em Clube da Luta, vemos algo que é quase
uma demonstração prática de como funciona esse mecanismo.
Essas três partes da consciência humana estão em três “áreas” do ser: o consciente,
o inconsciente e o pré-consciente. A primeira lida com todas as informações que o indivíduo
é capaz de absorver e o qual tem ciência. Também estabelece relações entre informações
novas e informações já obtidas anteriormente e agrega informação às ações que o indivíduo
realiza de maneira intencional. Já a segunda, o inconsciente, assegura-se de manter seguros
processos mentais que nunca serão acessados pelo consciente (a não ser em situações
excepcionais), como lembranças traumáticas, por exemplo. Todo tipo de pensamento,
sensação e memória reprimida, habita no inconsciente. Já o pré-consciente, é onde estão
informações inconscientes, mas que são voláteis e podem facilmente ser acessadas pelo
consciente. Por exemplo o nome de um amigo de infância, o que você jantou ontem e o que
aprendeu de geografia quando estava na escola.
O Id, Ego e Superego, habitam entre o consciente, inconsciente e pré-consciente para
formar a base da personalidade humana e o que conhecemos como indivíduo. Agindo entre
eles estão as pulsões, que nada mais são do que elementos não acessíveis ao consciente.
Esses elementos são instintivos, impulsos da natureza humana que enviam necessidades ao
indivíduo e o direcionam a um determinado fim.
Freud dividiu as pulsões em dois grandes grupos: pulsões de vida e pulsões de morte.
As pulsões de vida têm por finalidade a busca por prazer, criar e realizar projetos e manter
o ser humano ativo. A fonte de energia dessa pulsão, como se refere Freud, é a libido, ou
seja, o desejo. Já a pulsão de morte nos leva ao isolamento, estagnação e atos de destruição
e morte. Ela também tem uma fonte de energia específica, mas Freud não nomeou essa
fonte. Em Clube da Luta vemos toda essa relação sendo desenhada para nós.
O Id é a estrutura original da personalidade. O ser em sua forma primal, selvagem.
É caótico, desorganizado, sem forma. Essa parte da consciência traz consigo desejos
contraditórios, sendo conduzido tanto por pulsões de vida, quanto por pulsões de morte. A
lógica, valores e ética não significam nada para o Id. No filme quem representa essa parte é
Tyler Durden.
Tyler é impulsivo, egoísta, inconsequente, sem empatia e infantil. A personificação
do Id. Tyler a todo momento leva Jack, o protagonista (que aqui representa o Ego), a se
entregar a seus desejos, sem se importar com seus medos ou com valores sociais. O Ego, a
todo o momento fica entre atender ou negar as exigências do Id. Jack a todo o momento
tenta limitar as ações inconsequentes de Tyler, mas acaba rendendo-se a elas.
Jack, enquanto Ego, busca preservar a saúde, segurança e sanidade de si mesmo,
enquanto indivíduo. Tyler quer sanar todos os seus desejos sem se preocupar com nada disso
e insiste, a todo momento, para que Jack também o faça sem pensar. Conforme a relação de
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ambos aprofunda-se, observamos o indivíduo que ambos coabitam rendendo-se a todas as
insanidades que o Id demanda, chegando a cometer crimes, causar mortes e outros atos
hediondos.
Quanto ao Superego, o filme não deixa claro quem desempenha esse papel. Hora
vemos o protagonista agindo como tal, hora podemos ver Marla Singer o fazendo. O
Superego é responsável por fazer juízo de valor a partir das ações do Id e do Ego. Ele guarda
todos os códigos de conduta social aprendidos no convívio humano, assim como as
ambições e os ideais do ser. O Superego é um limitador, que age livre das pressões do Id
por satisfação e livre das pressões do Ego em atendê-lo.
Especialmente na parte final do filme, podemos ver Marla dizendo o quanto
Jack/Tyler é louco, o quanto seu humor extremista e ações em desacordo são um problema.
Ela aponta inclusive que ele deve buscar ajuda profissional. Apesar de não fazer parte da
mente de Jack, podemos ver Marla como parte do todo, já que essa visão que ela apresenta
para o protagonista seria papel do Superego em autoanalisar-se. Pode-se compreender que
é justamente essa falta do Superego que permite uma relação tão agressiva entre Id e Ego,
Jack e Tyler.
Ao lembrarmos da primeira aparição de Marla, é possível notar que Jack ficou
incomodado com a presença dela nos grupos de apoio. Nas palavras do próprio: “A mentira
dela reflete a minha”. Indicando justamente a pressão que o Superego exerce no Ego para
que sinta remorso, culpa, orgulho ou amor próprio. Neste caso, culpa.
No fim de Clube da Luta, Tyler Durden ordena que seus seguidores se livrem de
Marla, matando-a, justificando que “ela sabe demais”. Marla já percebeu sobre a dupla
personalidade do protagonista, já indicou a ele sobre os problemas que isso gera e é por isso
que Tyler quer se livrar de Marla. O Id quer exterminar o Superego pois teme que ele
coloque ordem sobre o Ego.
A cena final do filme nos mostra Jack atirando em si mesmo, aparentemente na
cabeça. Matando apenas Tyler, o seu Id, colocando-o sob controle. Ao que se dirige a Marla,
que o ajuda a se recompor e se levantar. O Ego, segurando as mãos do Superego, aceitando-
o de volta, enquanto observam toda a destruição deixada pelo Id.

REFERÊNCIAS

CHAGAS, Ricardo. Clube da Luta: muito mais do que uma crítica ao consumismo |
ANÁLISE PSICOLÓGICA e FINAL EXPLICADO. Minutos Psíquicos, 2021. 1 vídeo
(8:04min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XxDWTCJUHV0.
Acesso em: 09 mai. 2022.

DIDATICS. FREUD (01) – PULSÃO DE VIDA, PULSÃO DE MORTE E


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https://www.youtube.com/watch?v=XxDP90soZJk&list=PLYb8MujOHWhCUwK
DcjjeaBxsGXFe--YNK. Acesso em: 09 mai. 2022.

DIDATICS. FREUD (02) – ESTRUTURA DA PERSONALIDADE (ID, EGO,


SUPEREGO). didatics, 2017. 1 vídeo (11:26min). Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=MZxykE_YihI. Acesso em: 09 mai. 2022.

EUROPROFEM. Revistas Masculinas e Pluralização da Masculinidade.


EUROPROFEM, 2022. Disponível em:
http://www.europrofem.org/contri/2_05_es/es-masc/37es_mas.htm. Acesso em: 12
mai. 2022.

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IHU ONLINE. Clube da Luta: Um Olhar de Gênero. IHU ONLINE. 07 mai. 2012.
Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/4411-fernanda-azeredo-de-
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MARX, Karl; ENGELS, Friederich. Manifesto Comunista. 2. ed. Lisboa: Avante,


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MUNDO EDUCAÇÃO. Sociologia: MUNDO EDUCAÇÃO, 2022. Disponível em:
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14 mai. 2022.

SCIELO. Futebol é "coisa para macho"?: Pequeno esboço para uma história das
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em: 12 mai. 2022.

SUPER INTERESSANTE. O que são Id, Ego e Superego?. SUPER


INTERESSANTE, 13 ago. 2012. Disponível em:
https://super.abril.com.br/especiais/id-ego-e-superego-deus-e-o-diabo-na-terra-do-
eu/. Acesso em: 09 mai. 2022.

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