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Ícaro QUEIROZ
Guilherme VIEIRA
Letícia ROLIM
Jonas COELHO
Pedro DANTAS
Centro Universitário Metropolitano de Manaus (Ceuni-Fametro), Manaus, AM
RESUMO
Clube da Luta é um filme de 1999 dirigido por David Fincher (A Rede Social e Seven),
baseado no livro homônimo escrito por Chuck Palahniuk. A obra é complexa e apresenta
várias camadas de críticas e reflexões sobre o mundo moderno e a vida cotidiana. A análise
partirá de uma perspectiva técnica, política, econômica, social e psicológica do filme. Sendo
atemporal, Clube da Luta continua sendo descoberto e redescoberto ao longo dos anos,
provando o quão real e próximas são as mensagens que carrega.
Clube da luta traz uma crítica severa a cultura do consumismo. Apresenta um cenário
onde em primeiro momento tudo parece superficial, mas acaba revelando-se mais profundo.
O protagonista representa alguém que qualquer pessoa consegue se identificar. Jack, vive
de uma forma comum, preso em uma rotina repetitiva e sofre de insônia. No trabalho ele se
sente uma mera engrenagem da máquina social, fazendo tudo de acordo com o seu comando.
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Está em seu emprego apenas para conseguir sanar seus desejos consumistas.
Para preencher seu vazio existencial, ele acaba por desenvolver uma compulsão por
compras e gasta todo seu dinheiro em móveis sofisticados e roupas de grife. Esse estilo de
vida leva Jack a repensar sobre o sentido da sua vida e os aspectos fundamentais de sua
existência. Em uma tentativa de acabar com sua insônia que afetava sua saúde mental, ele
busca grupos de apoio em que começa a interagir com pessoas com vários tipos de doenças
e assoladas pela desesperança. Em uma das reuniões, Jack consegue desabafar e se sente
acolhido pelos outros membros, o que leva ele a conseguir dormir melhor. Depois de um
tempo, percebeu que não havia sentido participar dos grupos de apoio e acabou por voltar
para sua rotina de insônia e se sentir sem propósito e sem perspectiva.
Na busca pelo sentido em sua vida, Jack cria uma segunda persona para si. Tyler
representa a idealização de tudo que Jack gostaria de ser. Ele é bonito, forte, descolado e
faz tudo o que Jack não tinha coragem de fazer. Além disso, Tyler não tem apegos a bens
materiais e não liga para status social, vive pela liberdade e não pelo luxo. Tyler morava
em uma casa abandonada, suja e mal conservada. Sua filosofia de vida pregava o desapego
quase total aos bens materiais, com frases fortes como “você não é seu emprego”, “as coisas
que você possui acabam possuindo você” e “somos uma geração sem peso na história. Sem
proposito ou lugar”.
O Sociólogo polonês Zygmunt Bauman discute a fundo sobre as principais
reflexões, filosofias e ideias do consumismo:
Além de sua clara crítica ao consumismo, Clube da Luta usa o marxismo por meio
do alter ego de Jack e antagonista do filme, Tyler Durden, para reforçar sua mensagem.
Jack, antes de conhecer Tyler, era um homem infeliz que precisava comprar muito
e não percebia o quanto era consumido por ser uma marionete do sistema, que exigia muito
dele e pouco oferecia, precisando esgotar-se no trabalho para comprar coisas que não
precisava até chegar ao ponto de preencher o seu vazio existencial.
Assim como Karl Marx no Manifesto Comunista de 1848, disse “Que as classes
dominantes tremam a revolução comunista. Os proletários nada tem a perder além de suas
correntes” Tyler usa de discursos semelhantes no Clube da Luta para também fazer uma
revolução “Você não é seu emprego. Nem quanto ganha. Nem o carro que dirige”. Essas
filosofias entram de maneira tão poderosa na mente de seus seguidores que o Clube se torna
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uma organização criminosa em que os seus seguidores trapaceiam, agridem e matam em
prol de um ideal.
Em certa cena, a frase “você não é seu emprego” é repetida pelo personagem de
Jared Leto com empolgação, sendo assim, percebemos o quão forte é a influência de Tyler
em seus seguidores, tornando-se uma espécie de presidente, líder ou até mesmo um ditador
mediante a comunidade que se formou no casebre do personagem Jack.
Os seguidores de Tyler precisam passar por um teste físico e psicológico, como se
estivessem se alistando no exército de seu país. Três dias plantados em frente à casa de Jack,
em busca de aceitação e passando por todo o tipo de humilhação até que enfim são
aprovados para o grupo. Já dentro da facção: eles comem, bebem e limpam o casebre como
uma forma de república e seguem as ordens do seu líder e salvador, Tyler Durden.
Essas pessoas não percebem que apenas deixaram suas correntes do sistema
capitalista para serem acorrentadas por outro sistema, de um líder altamente perigoso como
Tyler Durden que usa seu discurso para corromper mentes frágeis, fingindo que está os
libertando, porém está alienando mais ainda e corrompendo pessoas para os seus ideais e
pensamentos imprudentes.
Expressões como “isso é coisa de homem”, “homem não leva desaforo para casa” e
“homem não tem sentimentos”, favorecem o sistema da masculinidade tóxica que prejudica
a saúde física e mental do homem, que se cobra tanto para ter uma aparência e um
comportamento mais agressivo para que possa se enquadrar na posição de “homem macho”,
uma pessoa sem frescura, sem medo de nada.
Outro exemplo de masculinidade tóxica é aquele que ocorre no meio do esporte em
especial futebol, um dos esportes mais machistas que existem. Um esporte onde a mulher
demorou para ganhar espaço, principalmente como comentarista de um jogo só de homens,
onde até hoje há expressões como “futebol é coisa de macho”, “mulher não entende de
futebol”, “mulher tem que jogar vôlei”. As pessoas chegaram a denominar tipos de esportes
femininos e masculinos, sendo que todo esporte é livre para todos os gêneros
No final da década de 90 o assunto masculinidade já era um tema bastante
comentado e alvo de críticas. O empoderamento feminino começava a ficar maior, o tema
se fortalece e ganha legitimidade nos meios acadêmicos. No filme Clube Da Luta, acontece
algumas situações em que o protagonista do filme, Jack, sofre pelo próprio sistema de
masculinidade imposto pelo meio em que vive.
Em uma das cenas do filme, o apartamento de Jack pega fogo e acaba sendo
completamente destruído. Jack primeiramente liga para Marla, em busca de um lugar para
ficar, mas não conseguiu pedir a ela. Percebe-se que Jack não quis demonstrar um estado
de fraqueza para Marla, uma mulher, mas sentiu-se confortável em expor seu estado para
Tyler. O filme nos mostra que um homem dificilmente pede ajuda a uma mulher, tentando
manter aquela posição de força e superioridade em que a sociedade o coloca.
No decorrer do filme percebe-se que Jack vive uma outra personalidade de um
homem praticamente perfeito, um cara sem defeitos uma pessoa bonita e com um corpo
sarado, com um trabalho fácil, um cara que conseguia conquistar mulheres, resumindo tudo
aquilo que Jack almejava para si mesmo.
Quando Tyler e Jack dão início ao Clube da Luta, onde dois homens entram em uma
luta corporal, é o momento em que Jack parece ter encontrado o melhor grupo de apoio.
Onde Jack pensa que se livrou totalmente de Marla por estar em um grupo que só pertence
a homens. Onde não faziam questão de quem ia ganhar ou perder, só queriam descontar sua
raiva, os momentos que estavam passando de insatisfação com suas vidas e como são
incapazes de resolver os problemas de outra maneira, acabam resolvendo de forma bruta e
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violenta. Um resumo das relações masculinas.
Portanto o assunto masculinidade é algo que prejudica ambos os sexos, tentando
excluir mulheres de alguns afazeres e impondo como regra uma pessoa do sexo masculino
violenta, valorizando força física, alguém sem emoções, um modelo de homem perfeito a
ser seguido pela sociedade. Causando situações que podem privar um homem de fazer
aquilo que gosta, pensando que pode ser muito feminino e ter medo de ser julgado por outros
homens e pela sociedade.
REFERÊNCIAS
CHAGAS, Ricardo. Clube da Luta: muito mais do que uma crítica ao consumismo |
ANÁLISE PSICOLÓGICA e FINAL EXPLICADO. Minutos Psíquicos, 2021. 1 vídeo
(8:04min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=XxDWTCJUHV0.
Acesso em: 09 mai. 2022.
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IHU ONLINE. Clube da Luta: Um Olhar de Gênero. IHU ONLINE. 07 mai. 2012.
Disponível em: https://www.ihuonline.unisinos.br/artigo/4411-fernanda-azeredo-de-
moraes. Acesso em: 12 mai. 2022.
SCIELO. Futebol é "coisa para macho"?: Pequeno esboço para uma história das
mulheres no país do futebol. SCIELO. 17 mar. 2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rbh/a/nTrFPPWwPkMTKPMmBmtRwCc/?lang=pt. Acesso
em: 12 mai. 2022.