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Clube da Luta, um clássico para os cinéfilos

mas que ainda é injustiçado


A busca por uma identidade pode ser mais profunda do que parece

O célebre filme, Clube da Luta, se trata de um longa bastante


complexo. Logo de início, somos levados ao final do filme, no qual este
puxa um gancho para a história com base na perspectiva do narrador. O
elóquio, juntamente com a sequência de cenas que trazem coerência à
obra, proporciona um olhar mais humano para a sociedade
contemporânea.
Por mais que seja um filme datado de 1999, Clube da Luta quebra as
expectativas de qualquer telespectador interessado, de primeira
impressão, em ação e combate, pois trata não somente de questões
sociais como consumismo e as frustrações cotidianas, mas de uma
masculinidade tóxica que assola o homem moderno a seguir um padrão
viril estabelecido pela sociedade.
É notório destacar, que não nos é apresentado o nome do
protagonista, a fim de mostrar que se trata de um ser comum, que
qualquer um se identifica pelo fato de ser só mais alguém. Ele sofre de
insônia e preenche seu tédio mundano com a compra de móveis
retirados de catálogos, uma crítica a cultura do consumismo e as falsas
promessas que o capitalismo nos faz. A fim de superar esse problema,
o personagem interpretado por Edward Norton segue a orientação de
seu psicólogo a achar grupos de autoajuda, onde dentre eles, havia o
de câncer no testiculo. Mesmo não tendo esse tipo de problema, o
narrador se sente castrado, metaforicamente, pois acha que sua
masculinidade não é suficiente no mundo que vive.
Ouvido e confortado pelos grupos de apoio, o narrador consegue
dormir, porém, a figura da personagem de Helena Bonham, denominada
no filme como Marla Singer, faz com que o ele não se sinta mais à
vontade de se abrir como antes, pois ela o faz lembrar de sua
desonestidade quanto as pessoas doentes ao seu redor. Mesmo sendo
tão parecidos, chegando a ter construções semelhantes baseados na
ideia de morte e autodestruição, ambos entram em desavenças e o
narrador volta a sua rotina padrão.
Em uma de suas viagens a negócio, é criado sua outra personalidade,
denominada Tyler Durden, que nos é apresentado ainda como um
indivíduo que futuramente irá ganhar destaque na obra. Ele seria a
imagem de tudo que o narrador queria ser: alguém forte, descolado,
bem vestido, bonito, livre e com conduta voltada ao oposto da dele. É
visto logo após, o choque que isso trás em sua vida, chegando a
explodir sua própria casa e a abandonando para morar na de Tyler
acreditando ser dele. É nesse momento, que é dito uma frase no qual
contrasta com o local onde vive, além de definir seu outro lado: “
Apenas quando você perde tudo, que você vai estar realmente livre ”,
que mais para frente, se torna de extrema importância para a
compressão do longa.
É a partir desse ponto que a insônia do narrador piora, chegando a
fazer serviços noturnos para acarretar uma renda extra, sendo lá que
surgiriam seus primeiros ideais anarquistas como os de urinar na sopa
que seria servida para pessoas de alto prestígio social e inserir
conteúdo pornografico em frames de filme familiares. Após sua luta com
Tyler, que na verdade seria uma luta consigo mesma, é fundado o Clube
da Luta, um local semelhante aos grupos de apoio, mas com intuito de
realizar pequenos embates para exaltar a liberdade, masculinidade e a
sensação de estar vivo de cada indivíduo. Assim como o narrador, as
pessoas que frequentavam se sentiam frágeis, e por meio daqueles
combates elas poderiam alcançar seus eus mais primitivos e tratar
sobre seus vazios e inseguranças.
Com base nisso, e na influência que Tyler tem sobre os integrantes,
somos acompanhados para a construção de uma seita anarquista
voltada à rebeldia contra o sistema. É nos mostrado, que as pessoas
que participavam do Clube da Luta se tornaram ovelhas cegas,
seguidoras de um novo sistema com objetivo de ruir a sociedade
moderna. É nesse momento que o narrador descobre sobre sua outra
personalidade e percebe que para gerar equilíbrio a sua vida, precisava
matar Tyler.
Clube da Luta, hoje, é um dos filmes mais aclamados pelo diretor
David Fincher nas últimas décadas, onde hoje entra na categoria de
filmes cults para a maioria dos cinéfilos por causa de sua vasta
profundidade nas temáticas tratadas pelos personagens. Cada um tem
sua personalidade abrangente tornando fácil distinguir quem é quem,
sem falar da atuação de cada ator, no qual contribui muito na
construção desse aspecto. Como vivemos numa sociedade que trata o
cinema apenas como arte voltada a uma indústria com propósito de
produzir mais e mais, a obra faz parte de um público menor que aprecia
e estuda cada aspecto tanto social, quanto psicológico a fim de revelar o
real objetivo dos longas-metragens: disseminar ideias e pensamentos
distintos.

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