UFMG - FALE

Ciclo de palestras – “Epidemias na literatura”

Professor: Georg Otte

Aluno: Oswald Stuart Nascimento Rabelo

Data: 09/10/2020

Resumo da palestra: O que o pós-apocalipse zumbi tem a nos dizer sobre o novo
normal? Por Valéria S. Pereira.

A palestrante começa definindo o que são zumbis afirmando que são seres destruidores.
Os zumbis aparecem geralmente em cenários apocalíptico. A origem da palavra zumbi é
da religião vodu. Na história dos filmes de zumbi, que começam desde 1932, os
preconceitos da sociedade são representados nos filmes. Por exemplo, no filme “King of
the Zombie”, os zumbis são negros e são representados de forma caricaturados, cômica
e são dominados pelo xamã branco. O xamã é um alemão branco que vai para Porto
Rico para aprender as magias e controlar os zumbis.

Outro filme importante é “A Noite dos Mortos Vivos” de Romero. A linha condutora do
filme deixa de ser um romance entre um casal, e passa a ser a invasão zumbi. Neste
filme, há estereótipos também, pois a mocinha do filme é histérica e só grita no filme
inteiro. A inovação desse filme é que os zumbis são independentes, fazem o que bem
entendem e comem carne humana e só morrem com golpe na cabeça ou queimados.

Olhando o panorama mais atual, a série americana “The Walking Dead”, apresentam
protagonista negros e são retratados como heróis e não vilões como eram nos primeiros
filmes de zumbis. Nesse filme, também é retratado a sociedade pós apocalipse, em que
poucos seres humanos são responsáveis por fundar uma nova sociedade humana, mas
não conseguem apesar da chance devido a destruição da sociedade anterior, pois o ser
humano continua com os mesmos vícios de antes. Por exemplo, é muito comum nos
filmes de zumbis ter um personagem contaminado, que no caso, foi mordido por um
zumbi e pegou a doença, mas ao invés de se sacrificar pelo grupo, tal pessoa se esconde
e não se sacrifica pelo grupo e põe todos os sobreviventes em risco.
A palestrante também fala que hoje com a pandemia do COVID-19, a humanidade ficou
um tempo em isolamento social e trancados dentro de casa. Isso permitiu que animais
pudesse sair pelas cidades como também a diminuição da poluição. Isso nos mostra que
uma lição que ao se destruir a humanidade, a natureza vai se recuperar e se expandir.

Valéria também argumenta que o vírus do COVID-19 atinge de forma diferente as

classes sociais. Quem é mais pobre e vive em bairros mais periféricos das cidades, tem
mais chance de contrair a doença. A doença tem um aspecto social, atingindo mais os
vulneráveis da sociedade. Valéria mostra também que na série “The Walking Dead”, há
um episódio que os protagonistas são enganados sobre uma possível cura para o vírus e
eles são feitos prisioneiros de militares. Lá as protagonistas se tornam escravas sexuais e
obrigadas a fazer trabalhos domésticos, mostrando claramente uma divisão de gêneros
conservadora mesmo num cenário pós apocalíptico e que teoricamente seria possível
construir uma nova sociedade sob novas bases.

Na palestra pude perceber que a temática de zumbis já tem uma certa tradição no
cinema. As obras cinematográficas possuem os vieses da sociedade, por exemplo, os
primeiros filmes de zumbis mostram os mortos-vivos como seres irracionais e que são
inspirados em algum poder mágicos que desencadeou a transformação desses seres em
animais canibais. Os primeiros filmes de zumbis carregavam preconceitos de cor e de
gênero, pois mostravam zumbis negros sendo subjugados pelos protagonistas brancos e
quando retratavam a reação de mulheres no filme frente aos zumbis, as mostravam com
sendo histéricas e emotivas. Nos filmes mais atuais, o apocalipse zumbi está mais
relacionado ao fim da humanidade depois de uma grande catástrofe ou vazamento de
algum vírus que contaminou toda humanidade.

A série “The Walking Dead” é particularmente revolucionária, pois tem protagonista

negras como principal personagem do seriado, além de desafiar os papéis de gênero
tradicional, quebra a barreira do preconceito racial. A mensagem que fica é que os seres
humanos estão destruindo o planeta e que um cenário onde a população humana seja
exterminada e reduzida a ínfimos grupos de sobreviventes assombra a humanidade, uma
vez que a destruição do planeta, dos ecossistemas e do crescimento econômico
desenfreado e a qualquer custo parece não ter saída nem alternativa para o
funcionamento da atual sociedade.
Por fim, os filmes de zumbis lembram um cenário de guerra em que as cidades são
devastadas e um sentimento de desconfiança e quebra das estruturas da sociedade se faz
permanente e, portanto, fazem muito sentido para o espectador atual. Desastres naturais
são cada vez mais frequente e divulgados na mídia, uma pandemia acabou de afetar a
humanidade em escala global e uma solução para uma sociedade sustentável ainda não
está no horizonte dos políticos nem em termos tecnológicos.

Portanto, os filmes de zumbis num cenário pós-apocalíptico revela que a humanidade

pode estar sob risco iminente de colapso caso uma mudança de mentalidade não ocorra
ou então que os seres humanos são muito dependente da tecnologia para conseguir se
manter vivo no planeta que está cada vez mais hostil ao estilo de vida contemporâneo.