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Quando falamos em cinema a primeira imagem que se forma é a dos filmes que
ocupam as grandes salas, esses cinemas elitizados, que foram e são dominados por
determinados grupos que nunca tiveram o mínimo interesse de dividir seus meios para
que outras narrativas fossem contadas. Ao olhar para a dita “história do cinema”
enxerga-se uma estrutura linear que só inclui e cataloga em si esse aparato branco,
cis-hétero e norte-americano, na medida que, não segrega, por que isso significaria
assumir a existência destes, mas apaga completamente as obras cinematográficas de
grupos marginalizados que vinham sendo construídas paralelamente.
Nessa conjuntura, o Cinema de Guerrilha nada mais é do que um grito de apropriação
da classe trabalhadora à produção cinematográfica, subvertendo completamente as
normas clássicas de cinema, uma vez que está pouco preocupada com estética,
distribuição em massa ou lucro, mas sim com andar alinhada com os anseios das
populações marginalizadas.
Trazendo para um viés brasileiro, o cinema de guerrilha passa a ganhar mais
voz entre as décadas de 60 e 70. Em meio as ditaduras enfrentadas na América Latina
e a ascensão do movimento Cinema Novo, nota-se a existência nos países
subdesenvolvidos de uma “Miséria Cultural”, entendida pelos pensadores da época
como a não criação de uma cultura própria, mas sim importada, completamente
desalinhada com as especificidades da população do próprio país, sendo assim um
prato cheio para as grandes potências capitalistas, uma vez que o cinema é uma
ferramenta, não pertencente, mas apropriada pelo imperialismo, para a manutenção de
uma submissão sócio-política inquestionada.
É nesse contexto que Glauber Rocha, cineasta baiano e um dos pioneiros do
Cinema Novo, viria a realizar alguns dos filmes de guerrilha mais relevantes quando se
fala na formação de um cinema verdadeiramente brasileiro.
“O cinema independente está diante de uma revolução
cultural. Esta revolução deve se conscientizar a partir da
própria técnica de produção. (...) O cinema americano deve
ser batido em seu próprio terreno. Os „cinemas de arte e
ensaio‟, fronts de luta do cinema independente, já começam
a ser contaminados pelo cinema americano. É necessário
que o maior número possível de produção independente,
com distribuição controlada pelos cineastas-produtores,
invadam as grandes salas. Uma batalha agressiva do
cinema independente provocará uma polêmica sem
antecedentes na história do cinema.” (ROCHA, 1981:70)