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Um pouco de história
A geração de cineastas do Cinema Novo cresceu em meio a um contexto histórico
conturbado e de muitos questionamentos, no Brasil e no mundo. Se, de um lado, os
jovens demonstravam uma vontade de romper com valores estabelecidos (questões
sociais, culturais e de gênero, por exemplo); de outro, o conservadorismo e a repressão a
esses movimentos ganhavam força.
A juventude que atuava no cinema acreditava que era necessário lutar contra o
empobrecimento intelectual que dominava a população brasileira, tendo como arma
uma arte com conteúdo, mais próxima do real e que pudesse ser feita com poucos
recursos. Embora esses ideais fundamentais tenham se mantido em todos os filmes do
movimento, historicamente o Cinema Novo é dividido em três fases, que se diferenciam
em atmosfera, estilo e conteúdo.
Na chamada Primeira Fase (1960 a 1964), antes que a ditadura militar se instaurasse no
país, o Centro Popular de Cultura (CPC), uma entidade associada à União Nacional de
Estudantes (UNE), lançou o filme Cinco Vezes Favela (1961), dirigido por Cacá
Diegues, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Miguel Borges e Marcos Farias.
O longa-metragem, dividido em cinco episódios, é considerado por muitos teóricos
como uma das primeiras produções do Cinema Novo.
Deus e o diabo na terra do sol (1964), uma das
obras-primas do cineasta baiano Glauber Rocha, serviu como inspiração para a escrita
do Manifesto Estética da Fome, marcando a Primeira Fase do Cinema Novo.
Glauber Rocha, que certamente está entre os mais influentes nomes do movimento, foi
também seu maior defensor e um dos responsáveis por sua existência. Ele queria fazer
filmes que educassem o público. Em 1964, lançou Deus e o Diabo na Terra do Sol no
Festival de Cannes, na França, e foi indicado à Palma de Ouro. Ainda hoje, o longa é
um marco do cinema brasileiro.
A Primeira Fase do Cinema Novo representa bem as motivações e os objetivos
primordiais do movimento, com temáticas sociais que retratavam as dificuldades do
povo: a fome, a violência, a alienação religiosa e a exploração econômica. Os filmes
queriam se afastar da imagem que o Brasil tinha no exterior: belos atores em paraísos
tropicais. Ou seja, mostravam a realidade nua e crua, em especial nas periferias e no
sertão. A seu modo, também criticavam a maneira pacífica como os brasileiros lidavam
com esses problemas, mas ainda apresentavam algum otimismo de que as coisas
poderiam mudar.
Segundo o cineasta Cacá Diegues, o foco dessa fase do Cinema Novo não estava na
edição e no enquadramento, por isso seu estilo era visualmente próximo do documental.
A intenção era, de fato, espalhar a filosofia do proletariado. “Os cineastas brasileiros
(principalmente no Rio, na Bahia e em São Paulo) levaram suas câmeras e saíram para
as ruas, o interior e as praias em busca do povo brasileiro, o camponês, o trabalhador, o
pescador, o morador das favelas”, afirmou.
Quando o presidente João Goulart foi deposto pelos militares, iniciou-se a Segunda Fase
do Cinema Novo (1964–1968). Foi nesse momento que os brasileiros perderam a fé nos
ideais do movimento, já que a promessa de proteção dos direitos civis e de luta contra a
opressão não se concretizou. Ou seja, os jovens e idealistas cineastas haviam falhado em
sua empreitada de manter a democracia, usando a arte como instrumento político.
Muitos acreditam que essa desconexão com o povo brasileiro se deva ao fato de que os
diretores do movimento passaram a tentar agradar mais aos críticos do que ao público.
A temática dos filmes passou a focar na angústia e na perplexidade de um país sob um
regime autoritário, como que aceitando o fracasso do Cinema Novo e da esquerda
intelectual.
“Terra em Transe” (1967), do
diretor Glauber Rocha, foi outro marco no Cinema Novo, e apesar de ter mais de 50
anos do seu lançamento, a temática continua, por mais lamentável, imensamente atual.
Para tentar reconquistar o público, alguns autores começaram a se afastar da “estética da
fome” em favor de um estilo cinematográfico um pouco mais sofisticado tecnicamente e
de temáticas que atraíssem o interesse das massas. Tanto que o primeiro filme do
Cinema Novo a ser filmado em cores e a retratar personagens da classe média foi
lançado nesse período: Garota de Ipanema, de Leon Hirszman (1968).
Glauber Rocha, no entanto, permanecia em sua luta por um cinema engajado, tendo
lançado em 1967, também em Cannes, o longa Terra em Transe. O filme fazia uma
clara alusão à situação política brasileira, sob o regime militar, retratando uma república
fictícia governada por um tecnocrata conservador, e foi proibido pela censura por ser
considerado subversivo.
A Terceira Fase do Cinema Novo (1968–1972) buscou sua inspiração no Tropicalismo,
um movimento que fazia sucesso no país. Sua estética remetia às cores da flora
brasileira, com influências da cultura pop e do concretismo, abusando do exagero. A
ideia era chocar e romper com a arte “bem comportada”.