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Macunaíma, a trajetória de um herói moderno 3
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4 Valter Aparecido Barcala
O folclore é uma constante, tanto no livro partir deste ponto no filme de Joaquim Pedro
de Mário de Andrade, quanto no filme homô- um distanciamento da obra literária, de Má-
nimo de Joaquim Pedro de Andrade. O nas- rio de Andrade, sem perder o ‘fantástico’, o
cimento, o encontro com o currupira, a luta folclórico original do livro.
com o gigante pela posse do muiraquitã, e a Ele vê sua chance quando da perseguição
morte quando de seu encontro com a Uiara. da guerrilheira conhecida por “Ci”. Ela per-
No filme, a morte da mãe é uma ruptura, seguida por policiais consegue eliminar al-
pois Macunaíma junto com seus irmãos par- guns, e se esconde em uma grande garagem,
tem para a cidade grande, em um determi- Macunaíma presencia a “cena” e quando in-
nado momento Macunaíma se depara com dagado por um policial sobre o rumo que a
uma fonte, e molhando-se em suas águas se guerrilheira tomou, ele informa um caminho
transforma em homem branco, temos aqui contrario e entra atrás dela, após uma luta,
uma crítica ao preconceito racial, a socie- Ci fica inconsciente e ele “brinca” com ela
dade é preconceituosa, o Brasil serve-se do e se apaixona. O que temos neste momento
trabalho escravo a mais de 500 anos. A ti- do filme é a inserção do momento histórico
vemos no Brasil Colônia (1500-1822), es- pelo qual passava o Brasil, representado pela
cravidão primeira dos nativos da terra e de- guerrilheira urbana.
pois do negro africano, a tivemos no Império A passagem da guerrilheira pela “história”
(1822-1889), onde a mão-de-obra e a econo- e rápida e humaniza a luta armada no Brasil,
mia girava exclusivamente sobre a escravi- demostrando o lado familiar desses que pe-
dão, e a temos na República. A promulgação garam em armas para lutar pela democracia.
de Leis emancipacionistas e principalmente Ci, a guerrilheira, morre a caminho de uma
da Lei Áurea, assinada pela Princesa Isabel, ação juntamente com o filho que teve em seu
então regente do Brasil em 1888, não aboliu relacionamento com Macunaíma. Foi uma
a escravidão, apenas a escondeu, não houve inserção ousada pois levou ao grande público
integração do negro na sociedade, ele foi co- a certeza de que algo não estava bem no re-
locado a sua margem, ele, o negro, o imi- gime imposto pelo golpe de 64.
grante, o analfabeto, são escravizados pela Após a morte de Ci, Macunaíma, se empe-
sociedade, vivem a margem dela, vivem nos nha para conseguir o muiraquitã, que esta em
morros, nos cortiços, nas malocas, nas fave- poder do ‘gigante’ Venceslau Pietro Pietra,
las. conhecido como Piaimã, o gigante comedor
Este “racismo velado” fica evidente na de gente. Em uma primeira tentativa se veste
obra cinematográfica, a exclusão social fica de mulher e tenta seduzi-lo. Não consegue e
evidente na cena do “pau de arara” trazendo foge, uma cena caricata e carnavalesca.
os migrantes para a cidade, e o motorista do Em uma segunda tentativa procura ajuda
caminhão manda todos descerem e avisa que em um terreiro de candomblé, e através de
a partir daquele ponto é cada um por si. um Exu que incorpora no “gigante”, lhe dá
A sobrevivência depende da adaptabili- uma surra. Mas não consegue seu intento.
dade, o poder de Macunaíma, e ele se adapta. Venceslau, o “gigante”, com o intento de
Na cidade, Macunaíma continua sua traje- derrotar e comer Macunaíma, o convida para
tória pela vida e pela sobrevivência. Temos a banquete onde será servida feijoada, feita na
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3 Conclusão Filmografia
Representação de uma nação em busca de MACUNAIMA; (1969). dir. Joaquim Pedro
seu próprio caminho, Macunaíma é uma sín- de Andrade.
tese do Brasil, de seus costumes, de seu fol-
clore, de sua natureza, de suas contradições.
Mostra o homem simples, que migra para as
metrópoles em busca de sua própria sobre-
vivência, mas que não esquece suas raízes.
Mostra as mazelas de um sistema político-
econômico que devora o próprio homem,
que o transforma em máquina, que o desu-
maniza.
Macunaíma é o Brasil.
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