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JOVENS
INFRATORES DE 14
A 16 ANOS
COMO LIDAR COM JOVENS
INFRATORES DE 14 A 16 ANOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 3
1- O MENOR INFRATOR E A SOCIEDADE 5
2- MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS 20
3- ASSISTÊNCIA A JOVENS INFRATORES 24
4- REINTEGRAÇÃO DO INFRATOR À SOCIEDADE 34
5- O ATO INFRACIONAL 37
6- ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 48
REFERÊNCIAS
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INTRODUÇÃO
Em tempos atuais, onde a palavra de ordem é punir, parece salutar um debate acerca
das questões que envolvem adolescentes infratores. É, pois, nesse intuito que busca –
se o cerne da questão, a fim de tentar elucidar alguns pontos desse assunto.
O problema da criminalidade juvenil tem se mostrado bem complexo não havendo por
ora soluções convincentes, razão pela qual, deve – se repensar não só as políticas
públicas, como as políticas sociais, e até mesmo, a percepção atual acerca da questão.
A fim de disciplinar a situação dos menores, foi instituído pela lei 8069/90, o ECA - O
Estatuto da Criança e do Adolescente. Prevê o referido diploma que, são crianças, as
pessoas com idade de até 12 anos incompletos e adolescentes, as pessoas de 12 anos
até 18 anos incompletos.
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Tem sido muito comum, o clamor pela repressão mais severa, por parte do Estado, nas
condutas dos adolescentes infratores. Tal endurecimento parece ser a saída mais
enfatizada pelos adeptos da tolerância zero. Contudo, a realidade tem demonstrado que
tal saída não tem sido a mais adequada, visto que não tem resolvido o problema do
aumento da criminalidade, em especial, a praticada por adolescentes.
Admitir, contudo, que através de leis cada vez mais rígidas não se consegue combater
a criminalidade, é admitir o fracasso do Estado, sobretudo em suas políticas sociais, as
quais são a razões do problema. Não há políticas de prevenção, somente atuando pela
repressão.
O Estado não conseguiu fazer com que o adolescente se subordinasse à sua autoridade
e agora quer puni-lo pelos próprios erros, ou seja, o Estado não cumpre seu papel,
educando e provendo condições de vida adequada aos jovens, que por sua vez, não se
subordinam a suas regras, sendo punidos pela prática de atos que ofendem a valores
que nunca conheceram.
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1. MENOR INFRATOR
É na adolescência que o adolescente se encontra numa fase desorientada
pelas diversas transformações sofridas, as quais ocasionarão consequências para o
mesmo. É neste contexto que ele desenvolverá a busca da sua identidade, princípios
éticos, por meio de influências familiares, sociais e econômicas, desenvolvendo sua
relação com o mundo.
Para que haja a apuração do ato infracional, é necessária, a atuação de vários
órgãos do Judiciário, Ministério Público, sendo imprescindível uma total integração entre
estes, com intuito de que os direitos e garantias do adolescente não sejam violados.
O adolescente autor da prática de qualquer “infração penal” (pois legalmente o
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ECA atribui esse termo jurídico para o jovem com menos de 18 anos que comete “crimes”
assim tipificados pelo código penal) é visto como um delinquente, um marginal, ou um
“anormal” conforme Michel Foucault, como àquele que se desvia da norma, que precisa
ser normalizado, controlado, disciplinado por este Biopoder, o qual sujeita os corpos a
um tipo de controle determinado pela norma, pela lei.
E para tanto, segundo Foucault, essa governamentalidade estigmatiza e coloca
estereótipos nesse jovem delinquente, com o discurso do indivíduo marginalizado
socialmente, que mora na favela, não alfabetizado, sem estrutura familiar, pobre, já
diagnosticado pelas ciências do saber humano, como um potencial problema a ser
corrigido.
1.2 O ATO INFRACIONAL
A fundamentação teórica é embasada na Lei n.º 8.069/9 Art. 103. Considera-
se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas
previstas nesta Lei. Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a
idade do adolescente à data do fato.
O ato Infracional pode ser conceituado sobre os aspectos material, formal e
analítico. O aspecto material é o que busca estabelecer a essência do conceito, ou seja,
o porquê de determinado fato ser considerado criminoso e outro não. Portanto, sob esta
ótica o crime pode ser definido como todo fato humano que, propositada ou
descuidadamente, lesa ou expõe a perigo bens jurídicos considerados fundamentais
para a existência da coletividade e da paz social.
Em seu aspecto formal, o conceito de crime resulta de mera adequação da
conduta ao tipo legal, logo, considera-se infração penal tudo aquilo que o legislador
descrever como tal. Vale ressaltar que para considerar a existência de um crime, deve-
se levar em conta a sua essência ou lesividade material, ao contrário estaria constituída
uma afronta ao princípio constitucional da dignidade humana.
O aspecto analítico é aquele que busca estabelecer elementos estruturais do
crime. A finalidade deste enfoque é propiciar a correta e mais justa decisão sobre a
infração penal e seu autor, fazendo com que o julgador ou intérprete desenvolva o seu
raciocínio em etapas. Sob esse ângulo, crime é todo fato típico e ilícito/antijurídico.
Primeiramente deve ser observada a tipicidade da conduta. Conforme Capez, fato típico
é
O fato material que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo
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previsto na lei penal” e constitui quatro elementos: conduta dolosa ou culposa; resultado;
nexo causal; tipicidade), caso a conduta seja típica, verifica-se se a mesma é ilícita ou
não. Sendo o fato típico e ilícito, tem-se uma infração penal. Depois há de ser apurado
se o autor foi ou não culpado pela sua prática, isto é, se o autor deve ou não sofrer um
juízo de reprovação pelo crime que cometeu.
2. MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
As medidas socioeducativas encontram-se no artigo 112 da Lei Federal 8.069, de
treze de julho de 1990, denominada Estatuto da Criança e do Adolescente, e são
aplicáveis aos menores que incidirem na prática de atos infracionais. Tal rol é taxativo,
sendo vedada aplicação de qualquer medida diversa daquelas enunciadas. O legislador
pátrio facultou ainda no inciso VII, do referido artigo, a aplicação, cumulativa ou não, de
qualquer uma das medidas protetivas previstas no artigo 101, inciso I a VI.
2.1 OS DIREITOS E GARANTIAS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
As medidas socioeducativas foram criadas com o objetivo educacional e
sancionatório quanto aos jovens que se envolvem em ato infracional, quando trata dos
cuidados essenciais que devem orientar a aplicação das medidas socioeducativas: em
que são estabelecidas regras próprias para o Poder Público lidar com esses jovens sem
desrespeitar os direitos legalmente garantidos, como à vida, educação, dignidade,
convivência familiar, tutelados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente e diretamente
relacionados com a Constituição Federal.
No ECA que se encontra na lei 8069-90 nos fala dos direitos da criança ECA,
junto da analise jurisprudencial, afim de verificar se Estatuto está em acordo com os
preceitos da Constituição Federal ou não. O método de procedimento foi o monográfico
e o de abordagem, o histórico sociológico, utilizando-se, para tanto, da pesquisa
bibliográfica e jurisprudencial.
Uns dos artigos mais importante nessa lei e na vida de uma criança e um
adolescente são os artigos 3 e 4 do ECA onde fala do convívio familiar que é a maior
garantia da criança e do adolescente e aborda um dos direitos fundamentais.
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O art. 5º, caput e inciso I, da CF e art. 100, par. único, incisos I e XII,
do ECA. Apesar de dizer aparentemente o óbvio, o presente
dispositivo traz uma importante inovação em relação à sistemática
anterior ao ECA, na medida em que reconhece a criança e o
adolescente como sujeitos de direitos, e não meros “objetos” da
intervenção estatal. Art. 5º, da CF 88, que ao conferir a todos a
igualdade em direitos e deveres individuais e coletivos, logicamente
também os estendeu a crianças e adolescentes.
Desta forma, seguido de outros artigos da Constituição Federal e das leis aqui
citadas resta comprovado que a revogação destes institutos do Estatuto da Criança e do
Adolescente seria uma medida de garantir ainda o princípio da proteção integral a todos
os adolescentes, visto que estes não podem estar à mercê do poder punitivo estatal, do
contrário, devem estar amparados de políticas públicas que possibilitem seu
desenvolvimento em sociedade.
2.3 AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA E SEUS EFEITOS PARA RESSOCIALIZAÇÃO
DO ADOLESCENTE.
As medidas socioeducativas são sanções aplicadas aos adolescentes que
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Nos tempos remotos, as práticas ilícitas do menor foram alvo de grandes discussões
em meio à sociedade, pois não haviam leis específicas para sua punição, sendo que
estes não poderiam ser punidos sem que tivessem atingido um certo grau de
desenvolvimento. Diante de tais acontecimentos, os menores eram castigados sem uma
punição específica, chegando por vezes a perderem sua própria vida, até que fosse
legalizada tal situação a fim de que se estabelecesse uma penalização compatível com
sua idade e o delito praticado.
A primeira legislação penal específica voltada para os menores, teve sua origem no
Direito Romano, onde nesta legislação fazia-se uma distinção entre menores púberes e
impúberes, sendo que no caso de menores impúberes o juiz deveria aplicar uma sanção
mais branda, em razão de sua idade ser inferior COLPANI, 2003
No ano de 1923, Mello de Mattos foi o criador do juizado de menores, tendo sido
também o primeiro juiz de menores da América Latina. O primeiro documento legal para
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O ano de 1979 foi considerado o ano internacional da criança, e foi neste mesmo
ano que foi promulgado a Lei n° 6.697, vindo ela a apenas a reformular o Código de
Menores já existentes, o chamado Código Mello Mattos.
A legislação atual que estabelece regras relativas aos menores é a chamada ECA
que foi promulgada em 13 de Julho de 1990, consolidando uma grande conquista da
sociedade brasileira na produção de um documento de direitos humanos em respeito
aos direitos da população infanto-juvenil, em seu art. 2, distingue a ‘criança’ (menor de
12 anos do ‘adolescentes’ entre 12 e 18 anos Somente para este ultimo é que prevê
‘garantias processuais’
Juventude da Comarca de Porto Velho. Este projeto teve como objetivo a divulgação
para a sociedade do funcionamento das medidas socioeducativas previstas no ECA para
a sociedade e promover a reflexão do adolescente que cumpre medida socioeducativa
em meio aberto de forma a incluir a família do socio educando e ele mesmo na
sociedade. O foco principal dessa divulgação foram entidades públicas, igrejas
associações, etc.
Quando o jovem entre doze e dezoito anos comete algum delito o termo utilizado
não é pena e sim medida socioeducativa, no qual ele tem diversos tipos de medidas a
serem adotadas, todas de acordo com a gravidade do ato infracional, isto é existe a
advertência, a obrigação de reparar o dano quando o jovem agride algum tipo de
patrimônio), prestação a serviço da comunidade medida alternativa à internação, onde o
jovem presta serviços gratuitamente à sociedade, a liberdade assistida o jovem é
supervisionado por uma autoridade, a semiliberdade reintegra o jovem à sociedade de
forma gradual, no qual ele trabalha e estuda durante o dia e à noite recolhe-se ao
estabelecimento de atendimento e a internação tem efeito punitivo e pedagógico,
principalmente nas medidas restritivas à liberdade.
Com base em todas as informações podemos verificar que o jovem passa por
diversas etapas antes de ter sua liberdade privada, inclusive muitos deles tem a
oportunidade de se redimir perante o ato cometido e de ter sua ressocialização. Porém
segundo Capani 2003, vai depender muitas vezes da gravidade da situação, o grau de
participação as circunstâncias em que ocorreu o ato; sua personalidade, a capacidade
física e psicológica para cumprir a medida e as oportunidades de reflexão sobre seu
comportamento. O que na prática em alguns casos acaba não ocorrendo, pois o jovem
não está aberto a integração social, ou muitas vezes não tem a contribuição da família e
da sociedade em que está inserido, acaba tendo até a carência por parte das políticas
públicas o que gera uma certa probabilidade de retorno a criminalidade de tal modo que
chega à última instância de punição. O objetivo das medidas socioeducativas acaba
perdendo o efeito se não tem esse amparo e existe uma grande lacuna a ser preenchida
no que se refere a ressocialização do jovem infrator.
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Cumpre destacar que como sistema integrado, o SINASE tem por objetivo
assegurar a real eficácia e efetividade na execução das medidas socioeducativas de
restrição e privação de liberdade impostas ao adolescente em conflito com a lei. Assim,
articula tal sistema em todo o território nacional políticas setoriais básicas para tanto,
alicerçado na natureza pedagógica da medida socioeducativa com fulcro na proteção
aos direitos humanos, priorizando, portanto, as medidas em meio aberto e não as de
semiliberdade ou internação, como será demonstrado ao longo deste estudo.
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produzidos por ilustres juristas, além de decisões proferidas pelos tribunais, foram meios
aplicados para propiciaram o desenvolvimento do presente estudo.
jovens que foram levados pelos caminhos tortuosos do crime, com a criação de projetos
que reeduquem esta clientela, através da prevenção e do acolhimento. Além disso, este
deveria ser o responsável por fornecer infraestrutura a todos os meios ressocializadores
citados, com o fornecimento de uma educação de qualidade, apoio às famílias, entre
outros.
Diante do exposto, observa-se que existem vários meios de mudar a trajetória
dos jovens infratores. A sociedade e a família devem se unir para acolher de maneira
digna o infrator, que mesmo diante de suas ações negativas, são seres em processo de
desenvolvimento e que necessitam de atenção, afeto e proteção. O Estado também deve
investir mais na área da educação, com a prevenção da prática de atos infracionais. Por
fim, se tem a inserção destes menores no mercado de trabalho, afastando esta clientela
do mundo do crime.
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2- MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS
Art. 27. Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos
às normas estabelecidas na legislação especial.
Medidas socioeducativas
Estão previstas nos arts. 103 a 128, e também na Seção V, do art. 171 ao
art. 190 do ECA. Além do ECA, a Lei 12.594 de 2012 veio instituir o Sinase, Sistema
Nacional de Atendimento Socioeducativo, a fim de regularizar o funcionamento das
unidades de internação.
A definição de ato infracional está prevista no art. 103 do Estatuto:
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
VIII - apuração da falta disciplinar por comissão composta por, no mínimo, 3 (três)
integrantes, sendo 1 (um), obrigatoriamente, oriundo da equipe técnica.
Art. 72. O regime disciplinar é independente da responsabilidade civil ou penal que
advenha do ato cometido.
Art. 73. Nenhum socioeducando poderá desempenhar função ou tarefa de apuração
disciplinar ou aplicação de sanção nas entidades de atendimento socioeducativo.
Art. 74. Não será aplicada sanção disciplinar sem expressa e anterior previsão legal ou
regulamentar e o devido processo administrativo.
Art. 75. Não será aplicada sanção disciplinar ao socioeducando que tenha praticado a
falta:
I - por coação irresistível ou por motivo de força maior;
II - em legítima defesa, própria ou de outrem.
Recentemente, foi notícia a decisão do STF de conceder Habeas Corpus coletivo aos
internos de uma unidade no Espírito Santo. Dada a superlotação de uma unidade, a
Defensoria Pública impetrou o Habeas Corpus coletivo, e a matéria chegou ao
Supremo, que fez história com a excelente decisão.
A leitura atenta do ECA mostra que o legislador não pretendia repetir os erros do
ultrapassado Código de Menores, no que diz respeito à punição de jovens infratores. A
realidade mostra que mudam as legislações e permanecem os mesmos erros.
As antigas Febens, sigla para Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor, foram
igualmente criadas a fim de dar um acolhimento institucional a crianças e jovens em
situação de rua. Na prática, eram verdadeiros presídios para crianças e jovens em
situação de miséria, com maus-tratos, violência física, psicológica e sexual entre os
internos. A realidade mostrou que não há muita diferença entre as antigas Febens e as
atuais unidades de internação para jovens infratores.
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Se, de um lado, é inquestionável que tais equipamentos não podem deixar de atender
crianças e adolescentes, inclusive aqueles acusados da prática de atos infracionais
(além, é claro, de suas respectivas famílias), é também evidente que este atendimento
não pode ser prestado nos mesmos moldes que o efetuado junto a outras demandas a
cargo de tais serviços, como é o caso de pessoas com deficiência, idosos, mulheres
vítimas de violência e outros munícipes que se encontram com seus direitos violados.
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Como resultado da aplicação de tal princípio, bem como do disposto no art. 259, par.
único, da Lei nº 8.069/90 (que impõe aos municípios a adequação de seus serviços e
programas aos princípios e diretrizes estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do
Adolescente), cabe ao CRAS/CREAS disponibilizar um
atendimento diferenciado e prioritário para crianças, adolescentes e suas respectivas
famílias, de modo que os exames, perícias e avaliações e que se fizerem necessárias
sejam realizados com o máximo de celeridade, por intermédio de uma equipe
interprofissional habilitada [nota 4], e que o tratamento recomendado seja iniciado de
imediato, com o acompanhamento devido, até a efetiva (e definitiva) solução do
problema respectivo (que, desnecessário dizer, é o objetivo precípuo da intervenção
realizada [nota 5]).
Os problemas enfrentados por crianças e adolescentes não podem esperar [nota 7],
devendo ser enfrentados e solucionados com o máximo de urgência possível, evitando
assim o agravamento da situação e dos prejuízos por aqueles suportados, sendo certo
que a omissão do Poder Público os coloca em grave situação de risco (cf. art. 98, inciso
I, da Lei nº 8.069/90), tornando o agente público responsável passível de punição (cf.
arts. 5º c/c 208 e 216, da Lei nº 8.069/90).
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Tais normas, no caso em exame, se aplicam com especial intensidade no que diz
respeito à preservação do direito ao respeito que, na forma do art. 17, da Lei nº 8.069/90,
compreende "...a inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do
adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, idéias e crenças, dos espaços e objetos pessoais".
Com efeito, não resta dúvida que, a título de exemplo, o atendimento de crianças e
adolescentes vítimas de violência sexual, ou de adolescentes acusados da prática de
ato infracional, no mesmo espaço destinado ao atendimento de idosos ou de outras
demandas envolvendo o público adulto acabaria por expô-los a uma situação vexatória
ou constrangedora, que seguramente serviria de desestímulo à continuidade do
tratamento que se fizesse necessário.
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Mais do que natural, portanto, que tais crianças e adolescentes apresentem alguma
"resistência" em se submeter ao tratamento que se faz necessário, o que somado à
omissão (ou falta de autoridade) de seus pais ou responsável, torna imprescindível que
os profissionais que os irão atender saibam como lidar com tal realidade (através da
mencionada qualificação técnica adequada), bem como desenvolvam "estratégias"
voltadas ao "resgate" dos recalcitrantes e à orientação de suas respectivas famílias, a
partir de uma análise individualizada e criteriosa de cada caso, que deve ser alvo de um
"plano de ação" específico [nota 8], elaborado preferencialmente sob a
ótica interdisciplinar (daí porque, especialmente nos casos mais complexos, a
"integração operacional" com profissionais que atuam em outros programas e serviços,
como os CAPs, é fundamental) e com respeito aos princípios relacionados no art.
100, caput e par. único, da Lei nº 8.069/90, que norteiam toda e qualquer intervenção
estatal junto a crianças, adolescentes e famílias.
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Assim sendo, deveras evidente que, se por um lado, o CRAS/CREAS tem o dever de
atender adolescentes acusados da prática de ato infracional e suas respectivas famílias
(atendimento este que deve ser prestado de forma espontânea, desde sempre, mediante
simples encaminhamento efetuado pela autoridade policial ou Conselho Tutelar, sem a
necessidade da "aplicação" de qualquer medida pela autoridade judiciária [nota 12]), não
é correto que "faça as vezes" e/ou "substitua" os programas socioeducativos
propriamente ditos, que devem ser mantidos - ou criados, caso ainda não existam
- independentemente da existência dos CRAS/ CREAS, embora com estes, como visto,
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Notas do texto:
1 Por intermédio, primeiramente, das Resoluções CNAS nºs 145, de 15/10/2004 (que
aprovou a nova Política Nacional de Assistência Social - PNAS); 130, de 15/07/2005 (que
aprovou a Norma Operacional Básica do Sistema Único de Assistência Social -
NOB/SUAS) e 269, de 13/12/2006 (que aprovou a Norma Operacional Básica de
Recursos Humanos do Sistema Único de Assistência Social - NOBRH/SUAS) e normas
posteriores.
3 Vale dizer que a Lei nº 8.742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social) também dispõe
sobre a matéria em seu art. 23, §2º, inciso I, onde consta de maneira expressa que, na
organização dos serviços da assistência social, serão criados programas de amparo às
crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, em cumprimento ao
disposto no art. 227 da Constituição Federal e na Lei nº 8.069/90.
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5 Valendo neste sentido observar o disposto nos arts. 1º, 6º e 100, par. único, inciso I,
da Lei nº 8.069/90.
8 Razão pela qual, a título de exemplo, o art. 101, §4º, da Lei nº 8.069/90 fala da
necessidade de elaboração de um "Plano Individual de Acolhimento" para as crianças e
adolescentes inseridas em programas de acolhimento institucional e o Sistema Nacional
Socioeducativo - SINASE, aprovado pela Resolução nº 119/2006, do CONANDA
também prevê a necessidade de elaboração de um "Plano Individual de Atendimento"
para adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas.
9 Mais uma vez com base nos citados arts. 4º, caput e par. único, alínea "b" e 259, par.
único, da Lei nº 8.069/90 e art. 23, §2º, inciso I, da Lei nº 8.742/93.
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13 Não dependendo assim da prática de ato infracional para ser prestado, bastando a
constatação da presença de alguma das situações relacionadas no art. 98, da Lei nº
8.069/90.
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As condições subumanas em que vivem grande parte das famílias brasileiras, tornam
o ambiente familiar desequilibrado, tendo o adolescente crescer meio as crises entre
os pais, alimentando dentro de si um sentimento de culpa, acreditando ser o
responsável por mudar a realidade familiar, deixando para trás sua adolescência, e
saindo em busca de trabalho para que possa trazer dinheiro para o seio familiar, não
conseguindo emprego formal, muitos optam por vender produtos nas ruas, em
semáforos, fator que muitas das vezes faz com que este adolescente, seja tratado
como chacota na escola, sendo essa discriminação o estopim para que ele opte pelo
afastamento do meio educacional.
Dito isso, o jovem criado meio ao caos, se sente deslocado socialmente, e precisa
encontrar um grupo que o aceite, dessa forma acaba por entrar em pequenos grupos
de infratores, que possivelmente, devido a falta de estrutura familiar, educacional,
social, também possuem desvio de conduta, por esse motivo, acabam por cometer atos
infracionais. Estando por definitivo às margens da sociedade, esfriando vínculos
familiares, escolares e com a comunidade em geral.
Devemos lembrar que estes adolescentes no seu cotidiano são vítimas de violência,
fato que os torna ainda mais truculentos em seus atos, sendo preocupante a sociedade,
pois já vivem uma violência, sejam eles como vítimas ou agentes.
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5- O ATO INFRACIONAL
A resposta é não. Mas calma, isso não significa que caso eles cometam algum fato
descrito como crime não haverá responsabilidade ao menor infrator.
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Isso porquê o nosso Código Penal adotou o critério biológico nesta situação específica,
que leva em conta apenas o desenvolvimento mental do agente independentemente
se tinha, ao tempo da conduta, capacidade de entendimento e autodeterminação. É
fato que, como regra, adotamos o critério biopsicológico como forma de auferir a
imputabilidade do agente, mas essa exceção é adotado na inimputabilidade em razão
da idade.
Contudo, isso não quer dizer que crianças e adolescentes poderão infringir a legislação
criminal e saírem ilesos. Na verdade, em que pese eles não cometerem crimes ou
contravenções propriamente ditos, eles cometem o que a legislação penal chama de
“ato infracional”, que passaremos a expor a seguir.
O ato infracional é uma definição simples e clara descrita junto ao artigo 103 do Estatuto
da Criança e do Adolescente (ECA):
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal.
Em outras palavras, um ato infracional nada mais é que uma conduta descrita na lei
como crime ou contravenção penal praticado por criança (até completar 12 anos) ou
adolescente (entre 12 anos completos e 18 anos incompletos). Sendo assim, na
prática, o ato infracional é o "crime" cometido por um menor de idade.
Se a lei ordinária diz que a ação é um crime para aquele que é imputável e um
adolescente, com 17 anos e 364 dias de idade comete tal, estará, na verdade, sendo
punido não por um crime, mas sim por um ato infracional.
art. 157 do Código Penal, mas por lhe faltar imputabilidade, não estará sujeito ao
procedimento comum previsto no Código de Processo Penal).
Neste nosso caso, a competência para o maior de idade será o Foro Criminal da
Comarca X. Já o julgamento do menor de idade se dará pela Vara da Infância e da
Juventude da mesma Comarca, e não por um juiz da Vara Comum.
Percebam, portanto, que é equivocado dizer que um menor de idade pode fazer o que
quiser e não será castigado, já que, conforme determinação expressa em nossa Lei
Maior, estará sujeito à legislação especial (no caso, o ECA).
4) O menor poderá ser preso por isso? Qual a consequência de uma condenação por
ato infracional?
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A título de curiosidade, destaca-se que tais aplicações não estão restritas somente ao
cometimento de atos infracionais, já que há mais duas possibilidades à aplicação:
Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente são aplicáveis sempre que
os direitos reconhecidos nesta Lei forem ameaçados ou violados:
I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
III - em razão de sua conduta.
Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar
ao adolescente as seguintes medidas:
I - advertência;
II - obrigação de reparar o dano;
III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
V - inserção em regime de semi-liberdade;
VI - internação em estabelecimento educacional;
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
Tais medidas são de natureza puramente pedagógica, contudo, observamos que estas
são as que mais se assemelham a uma sanção penal que temos no ECA. Merece
destaque também a possibilidade de aplicação das medidas protetivas de I a VI do
artigo 101 da legislação específica.
A aplicação desta será feita por um juiz competente após cumprida as formalidades,
levando em conta a gravidade da infração cometida, conforme preceitua o primeiro
parágrafo do referido artigo.
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A internação é a medida mais próxima da prisão que é aplicada aos adultos, contudo,
é necessário observar algumas regras previstas junto ao artigo 185 do ECA:
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser
cumprida em estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o
adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção
em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de
responsabilidade.
Há, porém, um único (e específico) caso ao qual poderá o adolescente ficar no mesmo
estabelecimento dos adultos: Na ausência de estabelecimento próprio na mesma
Comarca ou em proximidades, poderá este ser recolhido a um presídio “comum”,
contudo, pelo prazo máximo de cinco dias e separado dos adultos, conforme
estabelece o § 2º do referido artigo.
Art. 5º, XLV (CF/88)- nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a
obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da
lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do
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patrimônio transferido;
Portanto, a responsabilidade penal não pode ser atribuída a outra pessoa que não o
condenado criminalmente (no caso do menor, o ato infracional). Contudo, a reparação
do dano pode ser suportada por outrem, já que esta é responsabilidade de outra
natureza (cível).
Há uma única "exceção" ao caso: Caso os pais desse menor de algum modo criem
uma situação diante de uma ação imprudente, negligente ou imperita (elementos da
culpa), poderá responder pelos chamados crimes comissivos por omissão (ou
omissivos impróprios), previstos no artigo 13, § 2º, do Código Penal, sendo estes
processados pela Vara Criminal e o menor de idade pela Vara da Infância e da
Juventude. Um exemplo para isso é de um pai policial militar que empresta a sua arma,
com munição, para seu filho brincar, e este acaba atirando no vizinho, que acaba
falecendo (neste caso, com a eventual imputação da alínea c do parágrafo acima
referido). A situação é rara e extremamente específica, mas não impossível, em vista
que já tivemos situações semelhantes envolvendo tal circunstância.
O trâmite para a apuração do ato infracional está descrito a partir do artigo 171 do ECA.
Para melhor didática, separaremos em dois tópicos:
a) Caso a criança ou o adolescente não estejam em estado de flagrância (vide
Código de Processo Penal): Neste caso, a autoridade policial determinará o registro
do fato através de Boletim de Ocorrência (notitia criminis), colhendo a oitiva dos
presentes ali sobre os fatos, já que há a necessidade de indícios de participação do
adolescente na prática de ato infracional para prosseguir com as investigações.
Em eventual apresentação também do adolescente (raro são os casos em que é
apresentado este em estado de não-flagrância), este será liberando após também ser
ouvido, mediante termo de entrega aos pais ou responsável, ou, na ausência destes,
ao Conselho Tutelar ou Juiz.
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Fato é que, não sendo caso de liberação do adolescente, este será encaminhado pelo
Delegado ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
apreensão, sendo procedida sua imediata e informal oitiva e, sendo possível, dos seus
pais ou responsável, da vítima e de eventuais testemunhas (art. 179 do ECA).
Em seguida, deve o promotor tomar uma das três providências previstas no
artigo 180 do ECA, isto é, o arquivamento dos autos, a concessão de remissão (perdão)
ou representar (“denunciar”) o menor ao Juiz.
Nas duas primeiras hipóteses, conforme prevê o artigo 181, será feito por termo
fundamentado pelo Parquet, que conterá o resumo dos fatos, sendo os autos conclusos
à autoridade judiciária para homologação (ato discricionário, já que poderá remeter os
autos ao Procurador-Geral de Justiça caso discorde).
Caso ação tomada seja a representação, além do dever de observar-se todas as
garantias processuais conferidas ao adulto na persecução penal, o Promotor de Justiça
desde já irá representar por alguma das medidas socioeducativas que entender
aplicável, cabendo ao juiz, nos termos do artigo 184, designar audiência de
apresentação do adolescente, decidindo, ainda sobre eventual decretação ou
manutenção da internação (que antes da sentença não pode ultrapassar 45 dias).
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Conclusão
É equivocada a afirmação que menores infratores não estão sujeitos a qualquer tipo de
penalidade perante o nosso Poder Judiciário.
O que ocorre, na verdade, é que por não possuírem ainda a completa capacidade de
entender o caráter lícito ou ilícito de suas condutas, estarão sujeitas, por expressa
norma constitucional, às normas do Estatuto da Criança e do Adolescente, prezando,
acima de tudo, pelo melhor desenvolvimento possível destes.
O ECA é um marco de extrema importância em nosso ordenamento jurídico, ratificando
o objetivo do menor de idade deve ter, em regra, os mesmos direitos e obrigações
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como os demais cidadãos, mas com uma proteção especial, visando uma melhor
convivência perante a sociedade.
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A Lei nº 8.069, conhecida como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), foi criada
em 13 de julho de 1990. A norma que dispõe sobre a proteção integral à criança e ao
adolescente é bastante famosa no mundo inteiro, pela amplitude de seus preceitos e
pela forma como protege nossas crianças.
Na década de 70, surgiu o Código de Menores, uma lei de proteção aos menores — ao
menos em teoria. De acordo com seu primeiro artigo, ele dispunha sobre assistência,
proteção e vigilância a menores de até 18 anos em situação irregular.
Fruto de uma época autoritária, visto que estávamos em plena Ditadura Militar, não
demonstrava preocupação em compreender e atender à criança e ao adolescente. De
acordo com o entendimento da época, o “menor em situação irregular é aquele que se
encontrava abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral,
desassistido juridicamente, com desvio de conduta ou o autor da infração penal”.
Vê-se que não há diferenciação entre o menor infrator e o menor em situação de abuso,
o que uniformiza o afastamento deles da sociedade. Em outras palavras, o Código de
Menores objetivava apenas a punição dos menores infratores.
Constituição Cidadã
Portanto, veio para colocar a Constituição em prática. Essa prática, conforme nossa Lei
Maior, dá-se pelo Estado, por meio da promoção de programas de assistência integral
à saúde da criança, do adolescente e do jovem, sendo também admitida a participação
de entidades não governamentais, mediante políticas específicas.
Nesta mesma linha de raciocínio, vem também Damico (2011, p. 182) que nos lembra
que: “A norma no mesmo tempo que individualiza, remete ao conjunto dos indivíduos,
por isso, ela permite que esses indivíduos sejam comparados.”
Quando comparamos os adolescentes infratores, que são aqueles que o ECA atribui
um termo jurídico de delinquente classificando o jovem menor de 18 (dezoito) anos que
comete “crimes”, com todos os adolescentes desta mesma comunidade da sociedade,
tem-se a facilidade de excluir aquele indivíduo considerado diferente, não que seu
desvio de conduta seja considerado, pelos seus pares como algo merecedor de
repreensão, mas apenas porque ele passou do limite do aceitável.
Pelo entendimento de Souza e Espindula (2004, p. 02) que diz:
Tem se seguido este mesmo raciocínio, que o meio ambiente que o menor encontra na
sua trajetória de convivência, influi no seu comportamento avesso a regras de
comportamento, o que lhe permite ser credenciado para pertencer aos quadros de
delinquente.
Como motivo que exemplifica este pensamento, a família, o programa escolar falho e
vários outros fatores na vida deste menor terá grande influência sobre seu futuro, pelo
que diz Gomide (2000, p. 69) que:
Para atender, normalizar e resgatar esse quadro formador de opinião, que influenciará,
negativamente, todo seu circulo de convivência, que o ECA indica as chamadas
medidas socioeducativas, visando a trazer a socialização a esse infrator.
Essas medidas socioeducativas fazem parte de um programa orquestrado no sentido
de política pública que visa devolver e fazer, esse adolescente infrator, entender sua
responsabilidade social e comunitária e por extensão trazer a responsabilidade aos
adolescentes que fazem parte de seu circulo de convivência.
Quando por ocasião de uma infração a lei, cometida por um menor, o ECA oferece
várias formas de recuperação do objeto jurídico violado, e entre essas formas está
medida de proteção que entende quando a criança ou o adolescente está em área de
risco, seja como vítima ou como medida protetiva á pessoa, levando em conta o artigo
106 do E.C.A.
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Art. 106. ECA nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante
de ato infracional ou por ordem escrita de autoridade judiciária competente.
Parag. único.- o adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua
apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Foi diferenciada a norma e a forma de aplicação, pois a criança não cabe a medida
socioeducativa, pelo critério biológico que foi adotado no campo penal, e sim aceito a
aplicação de medida de proteção à criança, com indicação em lei que define o momento
e a condição de realização de sanção, pelo art. 105 do E.C.A., cujo verbete nos leva
ao art. 101 do mesmo instituto legal, que diz: ao ato infracional praticado por criança
corresponderão as medidas previstas no art. 101”.
Urge que para dar suporte a pacificação do tema, apresenta-se a jurisprudência que
vem de instância superior, que diz: “sendo criança, por definição legal, ao menor não
se aplicam os dispositivos que regem a pratica de atos por adolescentes”.
Incabível, segundo Ishida (2015, p. 268): “Cabe tão somente as medidas do art. 101
do Estatuto, concedendo a ordem de habeas corpus. Não cabe também a detenção ou
apreensão em flagrante da criança.”
Encoraja-se a consciência dos que entendem que é matéria difícil de aplicar a letra da
lei a um caso concreto, para ser solucionado os conflitos envolvendo menores e
adolescentes, que a realidade expõe em circunstâncias nuas e cruas, e por todos os
obstáculos que o aplicador da lei ultrapassa, pois fica sempre a experiência, que aliada
a técnica de melhor interpretar a norma, se traduz em testemunho para trazer à luz, a
justiça que todos anseiam.
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REFERÊNCIAS
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